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Tempo psicanalitico

Print version ISSN 0101-4838On-line version ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.49 no.1 Rio de Janeiro June 2017

 

ARTIGOS

 

Uma via indireta para a abordagem do afeto: libido, gozo, pulsão escópica

 

An indirect pathway towards the affect approach: libido, jouissance, scopic drive

 

 

Tiago RavanelloI, II*; Christian Ingo Lenz DunkerII**; Waldir BeividasII***

IUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS - Brasil
IIUniversidade de São Paulo - USP - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O artigo visa o exame de determinadas passagens da obra lacaniana nas quais, mesmo que por vias indiretas, é possível derivar pontos de auxílio para a questão de uma abordagem discursiva do afeto. Para tanto, destacamos como procedimento a discussão dos conceitos de pulsão, objeto a, libido e gozo no campo lacaniano como importantes operadores conceituais para a estruturação de um ponto de vista econômico em psicanálise não mais submetido a referenciais biológicos ou a sua possibilidade de redução a uma materialidade referencial. A análise de pontos cruciais da obra lacaniana para a delimitação desses conceitos tem por resultado que a recusa pela substancialização da libido, a desmontagem da pulsão numa dimensão de circuito e pelos modelos da pulsão escópica e invocante, o caráter negativo da concepção de objeto a e a articulação entre os conceitos de gozo e de significante com a noção saussureana de valor delimitam o caminho da semiotização do corpo através da discursivização da noção de afeto.

Palavras-chave: psicanálise, afeto, linguagem.


ABSTRACT

The article seeks to examine certain passages of Lacan's work from which, even by indirect means, it's possible to derive points of aid for the issue of a discursive approach of affection. For this, we highlight as procedure the discussion about drive, object a, libido and enjoyment concepts in the Lacanian field as important conceptual operators for structuring an economic viewpoint in psychoanalysis no longer subjected to biological references or its possibility of reducing into a referential materiality. The analysis of crucial points of the Lacanian work for the demarcation of these concepts has resulted in the refusal by the substantialisation of libido, the drive dismantling in a circuit dimension and by the models of the scopic and invoking drive, the negative character of object a conception and the articulation between the concepts of enjoyment and signifier with the Saussurean notion of value delimit the path of the of the body semiotization through the discursive approach of the affection notion.

Keywords: psychoanalysis, affection, language.


 

 

Mesmo sem referências explícitas ao conceito de afeto, porém, de maneira indireta, exercendo influência na compreensão deste, a forma como Lacan delimita uma série de conceitos permite a distinção de elementos fundamentais para uma abordagem discursivizada do âmbito econômico. É o que ocorre com temas tais como os referentes a pulsão, angústia, objeto a, libido e gozo. Com eles, poderíamos dizer que Lacan opera uma tentativa de recobertura do campo antes restrito ao ponto de vista econômico, buscando para tanto referências alternativas ao substancialismo tal como poderia ser pressuposto à leitura energética. Recobertura de campo no sentido de viabilizar o tratamento de questões relacionadas à noção de intensidade sem, contudo, recorrer ao aspecto quantitativo nem em sua forma de essência biológica, nem em sua suposta operatividade metafórica (na qual se abordaria os conceitos como paralelos ou sinônimos de saberes provenientes de outros campos, como a biologia e a física). Trata-se novamente, portanto, de alargar o território de linguagem, maneira semelhante à qual Freud procedeu ao fundar o método psicanalítico baseado nos meios da fala e da escuta.

No presente artigo, não examinaremos cada um desses conceitos separadamente, mas, sim, daremos prioridade à análise de determinadas passagens da obra de Lacan em que, mesmo que por vias indiretas, seja possível derivar pontos de auxílio para a questão de uma abordagem discursiva do afeto. Tal nos parece ser o caso do conceito de libido e o modo heurístico a partir do qual Lacan envolveu-se com o tema. Desde muito cedo em sua obra, Lacan buscou apresentar uma leitura quanto à temática em outras linhas. Vejamos na citação seguinte como ele trata a questão, já em seu segundo seminário, intitulado O eu+1 na teoria de Freud e na técnica da psicanálise:

Para falar do desejo, uma noção se impôs em primeiro plano, a libido. Será que esta noção, o que ela implica, é adequada para o nível onde se estabelece a ação de vocês, isto é, o da fala? A libido permite falar do desejo em termos que comportam uma objetivação relativa. É, por assim dizer, uma unidade de medida quantitativa. Quantidade que vocês não sabem medir, que não sabem o que é, mas que sempre supõem como estando aí. Esta noção quantitativa permite a vocês unificar as variações dos efeitos qualitativos e dar coerência à sua sucessão. (Lacan, 1954-1955/1985, p. 279).

Tendo a fala como referência ou, melhor dito, como esteio da prática clínica, Lacan aborda a questão de modo a apontar que o conceito de libido responderia, sobretudo, a uma operação metafórica. Tal forma de encaminhamento de temas próprios ao ponto de vista econômico, embora possibilitada por certos textos freudianos, além de ter um estatuto epistemológico exacerbadamente frágil apresenta-se também como um impasse ao tratamento de uma abordagem propriamente discursiva do afeto. A "objetivação relativa" que a libido permite deixa transparecer por todos os seus poros a impossibilidade radical da abordagem de sua própria natureza. E Lacan rapidamente o dirá, pois, segundo ele, "o mundo freudiano não é um mundo das coisas, não é um mundo do ser, é um mundo do desejo como tal" (Lacan, 1954-1955/1985, p. 280). Nesse sentido, de fato convém ressaltar a impossibilidade de mensuração de uma quantidade apenas suposta e que, em última instância, é concernente somente ao trato, à ordenação lógica dos "efeitos qualitativos", estes sim, por sua vez, determinantes no estrato de considerações aos qual a psicanálise se dedica.

Como bem aponta Sédat (2007), o intuito freudiano não é nunca o de prosseguir através da "pura especulação" no sentido de constituir um projeto filosófico final que abarque o real como um todo - e a discussão desenvolvida por Freud no texto sobre "A questão de uma Weltanschauung" (1933/1996) bem o testemunha. Essa atitude, definida como um "caráter laborioso", para ser encaminhada necessita de apoio justamente nas observações clínicas (Sédat , 2007, p. 18). Se seguirmos passo a passo a argumentação que Lacan (1954-1955/1985) nos oferece no texto em questão, veremos que é precisamente a condição de tais observações enquanto veiculadas e exercidas na fala que se apresenta como empecilho à determinação de suas hipotéticas bases substanciais. Ou seja, é na definição de quantidades subjacentes ou de operações metafóricas que o salto epistemológico, para além do que a prática clínica oferece, é dado. Segundo David-Ménard (2000, p. 40), faz parte do estatuto epistemológico da psicanálise proceder, assim como toda ciência, pela definição de seu objeto "como uma relação, e não como um dado natural [...]"2. É nesse sentido que localizamos o modo pelo qual o conceito de libido, assim como outros de ordem econômica, são abordados no campo lacaniano. Faz-se necessário, portanto, retirar-lhes o aspecto e o - suposto - fundamento natural com o intuito de precisar o conjunto de relações exercidas enquanto objetos epistemológicos.

Assim, o delineamento dado à libido corresponde uma vez mais à renúncia do autor a fundamentar suas concepções em recursos naturalistas e biologizantes. Essa atitude perpassará toda sua obra, sendo possível destacar citações de teor ainda mais contundentes. É o caso, por exemplo, da forma como mais tarde, no seminário sobre A relação de objeto (Lacan, 1956-1957/1995), relacionará a libido com a noção de "energia", na física, sendo ambas "inteiramente abstratas" e, mais ainda, no caso da primeira, recolhida na teoria freudiana como mera "petição de princípio" a fim de permitir determinadas formas de conceitualização. Segundo o autor: "ela [a noção de libido] permite unicamente expor - e ainda assim de forma virtual - uma equivalência, a existência de uma medida comum, entre manifestações que se apresentam como qualitativamente muito distintas" (Lacan,1956-1957/1995, p. 44).

Somos levados, portanto, a concluir, a respeito da modificação de abordagem proposta por Lacan ao deslocar o enfoque teórico da base energetista para a consideração das diferenças qualitativas, o que só foi possível a partir da abertura dada ao exame mais aprofundado de teses diretamente vinculadas ao campo da linguagem. É dessa forma que Lacan infere, a respeito do embasamento substancial do conceito em questão, que "a referência a um suporte químico é, estritamente falando, sem importância alguma em se tratando da libido" (Lacan, 1956-1957/1995, p. 44, itálicos nossos).

O ponto nodal da abordagem lacaniana da libido fora dos limites do biológico deve ser localizado justamente em seu seminário sobre os quatro conceitos fundamentais (Lacan, 1964/1998). Nele, o autor ressalta o deslocamento de posição que acima citamos da seguinte forma: "a libido é a presença efetiva, como tal, do desejo. É o que resta agora a apontar do desejo - que não é substância, que aí está ao nível do processo primário, e que comanda o modo mesmo de nossa abordagem." (Lacan, 1964/1998, p. 146). O texto em questão torna-se fundamental no sentido de (re)situar o enfoque dado à sexualidade em função da linguagem, de modo geral, e do significante, mais especificamente. Em certo sentido, Lacan está aqui seguindo o mesmo passo de Freud no tratamento da questão do quantitativo: o tema da sexualidade, enquanto mote privilegiado da clínica psicanalítica, trabalha no sentido de relativizar o peso das hipóteses energéticas e aproximá-lo gradualmente de concepções permeadas pelo discurso. A libido definida enquanto "presença do desejo" e, consequentemente, alheia às reduções a bases objetivantes, reafirma a direção epistemológica a ser tomada em relação aos conceitos fundamentais do campo psicanalítico ao se adotar a via lacaniana.

Desse modo, o seminário de 1964 pode ser compreendido como um rigoroso e efetivo reposicionamento das bases teóricas, sendo necessário, portanto, revisitar os conceitos capitais da psicanálise para reforçar sua possibilidade de discussão em termos de linguagem. O processo primário deve ser assim revisado, à luz do conceito - sem substância - de desejo, que é definido por Lacan, como o "lugar de junção do campo da demanda, onde se presentificam as síncopes do inconsciente, com a realidade sexual. Tudo isto depende de uma linha que chamaremos desejo, ligada à demanda, e pela qual se presentifica na experiência a incidência sexual" ( 1964/1998, p. 149).

A sexualidade igualmente deverá haver-se com as requisições do significante para a constituição, acima de tudo, de uma concepção atravessada em sua essência pelo discurso. A libido, em sua relação com as zonas erógenas, servirá de indicação para o caráter de artifício linguageiro dos modos de relação possíveis quanto ao prazer e à apreensão do corpo próprio (Lacan, 1964/1998, p. 188). Destituir o ponto de vista econômico - se entendido como o estudo das bases energéticas fundadas no aporte biológico - do centro predominante na análise desses temas faz parte da contribuição lacaniana ao estudo tanto dos conceitos principais para a teoria psicanalítica quanto dos próprios fenômenos de linguagem, sendo o seminário 11 (Lacan, 1964) seguramente um ponto de cristalização de tal postura epistemológica.

 

Pulsão e regime semiótico

Podemos seguir tal posição na maneira como Lacan aborda um dos conceitos por ele então descritos como um dos quatro principais da teoria psicanalítica: o de pulsão. Para sintetizar e estabelecer um critério metodológico para nossa abordagem quanto ao tema, vamos restringir nosso exame a dois aspectos que, indiretamente, poderão ser de estima para o tratamento discursivo do afeto que vimos perseguindo. Em primeiro lugar, devemos demarcar em quais termos Lacan opera - digamos, para parafraseá-lo - o que viria a ser uma "desmontagem da pulsão". Em detrimento de concepções que visam reduzir a essência do fenômeno pulsional aos estímulos e excitações de cunho orgânico, Lacan privilegia a sua delimitação enquanto percurso, circuito, ou ainda, traçado do ato (Lacan, 1964/1998, p. 161). É dessa forma que o caráter de pressão constante será retomado para além de seu aspecto naturalizante, pois, como vimos anteriormente, não há função biológica alguma capaz de lhe servir de modelo já que é inerente à forma dessas funções possuírem um ritmo oscilante (Lacan, 1964/1998, p. 157). Trata-se de uma questão a ser abordada, como diz o autor, em outra referência. Para tanto, Lacan lança mão de uma fina tessitura estrutural com o objetivo de dar conta dos mecanismos pelos quais a pulsão contorna seu objeto de satisfação. Notadamente, a expressão em português perde consideravelmente seu poder semântico. No original, é proposta a fórmula na qual "La pulsion en fait le tour" e, logo após, apresentadas duas maneiras de compreender o que a língua francesa então permite a essa frase: fazer o contorno, a curva, cobrir o objeto, mas também, dar a volta, escamotear, encobrir o objeto (Lacan, 1964/1998, p. 189). Do jogo pulsional vai interessar a Lacan o seu circuito, o que, em outras palavras, nada mais quer dizer do que a forma como o econômico morde, trilha, se insere, e mesmo forma a relação do psíquico com os seus objetos de prazer. É nesse sentido que o conceito de objeto a adquire sua importância na teoria, uma vez que destaca como móbil da pulsão, ao invés de sua estimulação biológica, o desejo em sua relação com o outro. E Lacan foi, de fato, sensível à questão do contato com o outro na formação do psíquico. Seja na postulação de seu estádio do espelho, desde o escrito "O estádio do espelho como formador da função do eu" (Lacan, 1949/1998) e seu primeiro seminário (Lacan,1953-1954/1986), ou ainda na formulação do grafo do desejo, no seminário sobre As formações do inconsciente (Lacan, 1957-1958/1999), ou a instância do outro resgatada do "Projeto para uma psicologia científica" de Freud (1895/1996) a partir da importância dada então à noção de próximo semelhante enquanto imprescindível no que concerne à constituição do psiquismo.

Na mesma direção, David-Ménard aponta, a partir de análises de casos de histeria - diga-se de passagem, o mesmo ponto de início do questionamento freudiano - que estes revelam justamente a relação entre o objeto da pulsão e a alteridade, em termos gerais. Segundo ela: "[...] a histérica, precisamente, mostra o vínculo entre a erogeneidade e o apelo ao outro... e o apelo a algo do corpo do outro, quer esse corpo seja sua voz, seu olhar, tanto quanto seu sexo ou tal de seus gestos. Trata-se, em todo caso, de ‘captar' algo do outro." (David-Ménard, 1989, p. 82). Entretanto, o que poderia ser destacado e repetidamente tem escapado às leituras psicanalíticas é precisamente que os modos de interação com o outro não são necessariamente homogêneos. O toque, a fala, o olhar, a presença - e estes são somente alguns exemplos - criam regimes semióticos específicos e diferenciados, sendo que o afetivo não é de modo algum particularidade de apenas um ou outro. Ao contrário, faz parte do repertório humano a pluralidade de meios de expressão e constituição do afeto.

Se há algo a ser tomado de empréstimo pela psicanálise do chamado campo linguístico - e destacamos aqui as teorias de Hjelmslev (1961/2003) e Greimas (1966/1976, 1970/1975, Greimas, & Fontanille, 1991/1993), - o principal seria a capacidade da linguagem de formar objetos sincréticos3, ou seja, compostos por diferentes elementos do plano da expressão e também por variadas linhas discursivas - isotopias - como meios de interação e constituição tanto dos objetos, como do próprio psiquismo. A maneira como Lacan "desmonta" a pulsão tem como objetivo central precisar o regime linguageiro em que o psiquismo se apropria do corpo, destituindo-o da ordem estrita das determinações naturais e fazendo dele um corpo erógeno, ou ainda, semiotizado, posto que atravessado por estruturas discursivas. Pois, se há um estrato de fenômenos em que o discurso mostra o quanto os objetos do mundo somente são apropriados pelo psíquico através de uma reconstituição feita pela linguagem, este é justamente o da sexualidade humana.

Como destacamos anteriormente, duas características da maneira em que a pulsão é exposta no seminário 11 (Lacan, 1964/1998), a nosso ver, podem ser de valia para tal abordagem. Se a primeira dizia respeito ao caráter discursivizado e dependente da alteridade em que a pulsão se insere no quadro geral de exame da sexualidade, o segundo ponto a ser enfatizado é a proposta de novos modelos categoriais presentes em sua análise, em especial os da pulsão escópica e da pulsão invocante.

Embora esses conceitos tenham tido uma repercussão tímida em relação a outras propostas teóricas de Lacan, tais formas de concepção da pulsão podem ser compreendidas como hipóteses concretas de uma leitura não-energética desse conceito central à economia freudiana. Em resumo, o que elas ressaltam é a pertinência das estruturas da alteridade, seja em sua aparição material e individualizada - a relação do sujeito para com o seu semelhante, seu próximo, seu outro -, quanto em sua superestrutura de base - a condição inconsciente da relação para com os objetos e fatos de linguagem, seu Outro - na construção do aparelho psíquico próprio. Ao lado da pulsão invocante, a pulsão escópica atua como agente organizador do regime psíquico através da inclusão de estruturas de linguagem adquiridas no contato com o outro que o cerca, ressaltando, como bem aponta Miller (2005), a importância do imaginário no que diz respeito ao gozo. É nesse sentido que Lacan diz que "no nível escópico, não estamos mais no nível do pedido, mas do desejo, do desejo do Outro. É o mesmo no nível da pulsão invocadora, que é a mais próxima da experiência do inconsciente" (Lacan, 1964/1998, p. 102). Dito em outras palavras, os fenômenos abarcados por uma concepção não-quantitativa da pulsão - a invocante - é o mais próximo que podemos chegar do que seria uma experiência no nível inconsciente, o que somente reforça a tese central lacaniana de sua estruturação enquanto linguagem. Porém, a retomada de tais categorias do sensível - o ver/ser visto e o falar/escutar -, embora auxilie no que seria uma abordagem semiotizada do regime pulsional, não foi suficientemente trabalhada a ponto de nos levar a um conhecimento radical da linguagem e de seus modos de estruturação do inconsciente. Talvez possa ser assim compreendida a posição de Miller (2005) segundo a qual a primazia da fala no simbólico e a inicial predominância do imaginário na teoria de Lacan vão progressivamente testemunhando a perda do papel de centralidade reservado ao campo da linguagem, sendo o "Relatório de Roma" o ponto crucial de ruptura entre as duas leituras (Miller, 2005, p. 305).

O que a pulsão estruturada no nível escópico revela é justamente a constituição do desejo em sua relação com o Outro em detrimento da força imputada aos influxos corporais. E não há aqui, de maneira alguma, qualquer espécie de negação dos fatos orgânicos, apenas a aposta epistemológica de que eles são repertoriados no registro humano através do trabalho de recomposição que se dá em termos de discurso. A pulsão, se assim compreendida, não é o requisito do biológico em sua aparição no âmbito mental, mas sim o processo de constante atualização discursiva dos objetos do sensível. Englobados, emaranhados, tomados, os objetos tornam-se pulsionais na justa medida em que são estruturados em seu universo de discurso, sendo que o objeto a pode então ser visto desse modo como o testemunho fiel da impossibilidade de aquisição natural e integral dos objetos no nível da linguagem. E Lacan certamente não poupou palavras ao se posicionar ao lado da tradição epistemológica crítica, que se estendeu desde Kant, considerando que o contato direto e absoluto com os objetos reais era perdido e mesmo, de certo modo, impossibilitado pela linguagem. Entretanto, essa não é uma tese oposta ao imanentismo da linguagem, pois seu objetivo não é o de defini-la como obstáculo. Ao contrário, a intenção é antes de tudo a de posicionar-se contrariamente a realismos de toda sorte, principalmente no que concerne à crença implícita na possibilidade de abordar e manejar o real sem qualquer forma de mediação.

Desse modo, Tricot (2008) defende que a abertura ao precioso bem contido no uso da palavra, em tudo o que sua utilização comporta de humanizante e civilizatório, somente nos é dado mediante o prejuízo irreparável de uma perda de gozo inerente a esta mesma entrada no universo da linguagem. Entretanto, se essa "civilização da pulsão" acoberta uma perda, por outro lado ela simultaneamente instrumentaliza o pulsional para o usufruto do gozo e do prazer em outros regimes como uma ampliação de seu território por sobre os limites do sensível. Somente assim o humano faz do barulho, música, do borrão, arte gráfica, do odor, perfume, do toque, sensualidade e, de um pouco de tudo, arte. Freud era inequivocamente atento para o que esta poderia contribuir para o conhecimento dos mecanismos da pulsão e do prazer, como bem aponta em seu estudo sobre os ganhos envolvidos no processo criativo em sua relação com a memória e a fantasia (Freud, 1908/1996, p. 141), ou ainda, no que diz respeito ao exame da estética não somente como estudo da beleza, mas, sobretudo, enquanto "teoria das qualidades do sentir" (Freud , 1919/1996, p. 237).

Como temos apontado nas páginas precedentes, o direcionamento operado por Lacan em relação à pulsão, principalmente se tomada a partir dos registros escópico e invocante tal como é proposto no seminário 11 (Lacan, 1964/1998), permite situá-la para além da regulação biológica pressuposta às hipóteses de cunho energético. O modelo não-quantitativo então proposto recupera, tal como fora assumido por Freud no texto sobre as pulsões e seus destinos (1915), o papel crucial desempenhado pela alteridade no traçado dos rumos que dão forma ao campo pulsional. É desse modo que Lacan se refere à estrutura da pulsão em relação à visão, tomando o exibicionismo como mote na seguinte passagem de seu seminário sobre os quatro conceitos fundamentais:

O que se olha é aquilo que não se pode ver. Se, graças à introdução do outro, a estrutura da pulsão aparece, ela só se completa verdadeiramente em sua forma invertida, em sua forma de retorno, que é a verdadeira pulsão ativa. No exibicionismo, o que é visado pelo sujeito é o que se realiza no outro. A visada verdadeira do desejo, é o outro, enquanto que forçado, para além de sua implicação em cena (Lacan , 1964/1998, p. 173).

Nesse sentido, o traçado que a pulsão demarca ao redor de seu objeto só é possível de ser concebido em função das relações exercidas quanto ao outro. A estrutura, ou ainda, a estruturação da pulsão é inerente aos modos de interação com o outro, sendo a linguagem o seu meio de propagação. Nada muito diferente da forma como determinados temas desde muito cedo despertaram a atenção de Freud no que concerne às manifestações iniciais da sexualidade infantil, dentre eles os cuidados maternais e a consequente sobreposição de uma esfera de prazer por sobre tais procedimentos (de higiene, alimentação, etc...). O que é assim revelado é justamente uma constituição não-individualizada do psiquismo e do enquadre dos fenômenos pulsionais. Ao ser definida no interior do jogo de influência mútua regido pelo sujeito em relação especular com o outro, o conceito de pulsão não poderá mais ser ajustado a quaisquer modelos de redução quantitativa. Isso porque o padrão epistemológico essencial em tal perspectiva, uma vez que determinado por condições de âmbito regulatório estruturado a cada contexto, não permite uma visada mais ampla sobre o conjunto de fatores que compõem os elementos discursivos, posto que alheios às variações de ordem orgânica. O modelo não-energético característico às pulsões escópica e invocante, segundo o ponto de vista lacaniano no seminário 11 (Lacan, 1964/1998), transpõe a base dos fatos pulsionais do estrato das estimulações biológicas - tal como ocorre nas proposições neurocientíficas - para o embasamento em termos de linguagem.

É assim que Miller (1999) destaca que se há alguma possibilidade de designar ao ser humano alguma noção de "meio-ambiente", este deve ser invariavelmente um "universo de linguagem". Tal constituição epistemológica ou, melhor dito, o sistema de determinações então implicado pode ser descrito a partir do modo como as palavras incidem sobre o corpo. Segundo o autor: "certamente existem palavras que se introduzem nos corpos e que neles permanecem, enquanto que outras se dissipam. É isso que, no mínimo, a experiência analítica demonstra: houve falas determinantes cujos efeitos marcaram profundamente o funcionamento do corpo." (Miller, 1999, p. 57). Trata-se aqui, certamente, de um processo de semiotização: uma vez que o funcionamento do corpo é intimamente marcado pelo discurso, estamos nos deslocando por entre uma concepção de linguagem que nos permite a delimitação de estruturas determinantes na apreensão do corpo próprio.

Porém, visando igualmente outros processos fundamentais, defendemos a hipótese de que o significante lacaniano, em seu polimorfismo intrínseco, permite que sejam abordados também diferentes elementos de incidência sobre o corpo - tanto no interior da fala como além dela. Se mantivermos no tratamento da questão do afeto semelhante abertura, nos será possível igualmente considerar tanto isotopias diversas quanto defini-lo em seu sincretismo. Nesse caso, por exemplo, devemos levar em conta a participação de novas linhas de caracterização, tais como as da imagem, presença, toque, ou seja, um novo abarcamento do sensível na consideração do afetivo. Mesmo no que se refere à via proeminente da fala, ainda não foram explorados satisfatoriamente os efeitos de boa parte de suas características constitucionais, tais como tonalidade, tempo, ritmo, intensidade, dentre outras4. Como bem nos indica Caruth (2000), Lacan destaca a respeito do então chamado "sonho-modelo" que o que está em jogo, o que há para ser transmitido, não se resume apenas ao sentido, mas também à performance ocorrida na repetição e no intervalo (Caruth, 2000, p. 135).

 

Gozo: do campo energético e quantitativo ao campo da linguagem

Devemos nos ater a mais um conceito que atrai sobre si importantes considerações de Lacan sobre o ponto de vista econômico freudiano: trata-se do conceito de gozo. É assim que Dunker (2002, p. 29) apresenta essa noção como aquela que, na teoria lacaniana, "[...] vem a ocupar, parcialmente, o campo energético e quantitativo denotado por Freud". Ao mesmo tempo, e de forma semelhante ao encaminhamento que temos dado no presente texto, o autor conclui que "há nesta passagem uma recusa metodológica em substancializar a noção de libido" (Dunker, 2002, p. 29). Sua análise caminha na direção de apontar que a abordagem lacaniana do ponto de vista econômico vai além da simples proposição de novas metáforas com o objetivo de amenizar o teor fisicalista das teses quantitativas. Devemos ressaltar que esse modo de concepção da libido não pode ser visto como livre de críticas, embora não estejamos de acordo com elas. Com efeito, semelhantemente ao modo como Green (1982) aponta a suposta "recusa" do afeto da parte de Lacan, Simanke (2002, p. 501) defende que o procedimento lacaniano quanto ao tema consistiria na redução do conceito de libido "de energia sexual psíquica a um fator puramente formal, a um operador teórico e convencional [...]". De certo modo, a estratégia de Simanke é a de apresentar como metafóricas as abordagens não-naturalistas dos conceitos econômicos para, por fim, reforçar o viés de pesquisa do naturalismo. Mas, de modo diametralmente oposto, a proposta de Lacan - seguindo a leitura de Dunker (2000) - é justamente a de firmar uma "teoria dos valores psíquicos" como uma alternativa consistente ao reducionismo energético. O gozo, nessa perspectiva, não pode ser apreendido como mais uma alegoria da quantidade e de seus supostos percursos, mas sim como uma concepção significativa presente no pensamento lacaniano em diversas matrizes epistemológicas. Trata-se, portanto, da retomada do ponto de vista econômico em outro plano, com outras referências de base, o que havia sido repetidamente anunciado por Lacan em sua obra.

Assim, ressaltamos que o exame empreendido por Dunker (2000) para o conceito de gozo toca no ponto fundamental para a retomada do diálogo com as teorias da linguagem na constituição de uma abordagem discursivizada dos aspectos econômicos, justamente a noção de valor. Para tanto, o autor irá evidenciar nas variações de rumo no interior da obra lacaniana as diferentes matrizes de pensamento nas quais gozo e valor podem ser depurados, dentre elas as matrizes linguística, ético-jurídica, econômico-política e lógico-formal (Dunker, 2002). Segundo o recorte que buscamos delimitar, deslocaremos nossa atenção dos aspectos históricos e epistemológicos da criação, desenvolvimento e manejo do conceito para a delimitação dos pontos de apoio que consideramos necessários ao diálogo entre psicanálise e teorias da linguagem.

O principal aspecto que o texto ora em questão nos revela é, de fato, a possibilidade de reposicionar a discussão sobre o econômico em Lacan ao traçar pontos de ligação entre a concepção de valor em Saussure (1916/1985, 1916/2003) e o conceito de significante em Lacan, sendo o conceito de gozo compreendido enquanto resultado primeiro de tal interlocução. Assim, o gozo deve ser encarado como um dos conceitos mais próprios à definição da nova tessitura do quantitativo, proposta por Lacan, tendo a linguagem como esteio. Por razões metodológicas, vamos circunscrever nossa apreciação especialmente a duas passagens da teoria lacaniana: os seminários 17 e 20 (Lacan, 1969-1970/1992 e 1972-1973/1992, respectivamente). Não que a concepção de gozo não esteja igualmente presente em outras passagens da obra do psicanalista francês, como acontece de forma evidente no seminário sobre a angústia (Lacan, 1962-1963/2005), por exemplo5. Da mesma forma, os dois seminários acima citados já nos dão subsídios suficientes para que seja colocada em evidência a relação entre valor e gozo, e, como o recorte torna-se necessário em nome da concisão, fazemos a opção pelo exame mais rigoroso e voltado para a construção de nossas hipóteses de trabalho em detrimento de uma análise mais geral do conceito e suas transformações ao longo da teoria.

Primeiramente, vemos que, de forma muito direta, Lacan toma o enlace entre as concepções de valor e gozo como fio condutor para a avaliação de aspectos epistemológicos da psicanálise. Segundo ele:

De quando em quando, meto o bedelho em um bocado de autores que são economistas. E vemos a que ponto isto nos interessa, a nós, analistas, porque se há algo a ser feito na análise é a instituição desse outro campo energético, que necessitaria outras estruturas que não as da física, que é o campo do gozo (Lacan, 1969-1970/1992, p. 77).

O campo do gozo aponta, talvez como nenhum outro conceito, a intenção de prover uma nova ordem de análise para o econômico em psicanálise. Muito embora a análise feita nesse trecho do seminário esteja situada entre a isotopia da física - a das explicações referentes a estruturas energéticas, as mesmas a serem destituídas do posto de referência no arcabouço teórico da psicanálise - e a isotopia do econômico - derivada da abordagem lacaniana de autores como Marx e Smith, com o intuito de derivar de teorias diretamente implicadas no nascimento da noção de valor a questão do gozo -, é nos processos vinculados à linguagem que Lacan faz a amarração entre esses conceitos e o de afeto. De fato, o exame das referências econômicas, sobretudo a consideração da mais-valia de Marx como "espoliação do gozo" (Lacan, 1969-1970/1992, p. 76), ressalta com eficácia o aspecto de união entre o corpo e a circulação do valor pela cultura.

Novamente, vemos a teoria lacaniana destacando-se notadamente como uma abertura no modo de consideração do psiquismo à questão da alteridade, ao contrário de determinadas leituras do freudismo que visam imprimir a este um cunho excessivamente naturalista e organicista ao identificar no aparelho psíquico a possibilidade de traçar um desenvolvimento absolutamente individualizado de capacidades asseguradas por seu suporte quantitativo e biológico. De certo modo, estamos aqui reafirmando a oposição de Lacan, em sua teoria atravessada pela relação entre sujeito e alteridade, à forma monástica de leitura que, em especial, a vertente americana da psicanálise inferiu ao edifício teórico freudiano. Dentre elas destacamos como exemplos desse contraponto ao lacanismo, a teoria psicossocial de Erik Erikson, em sua tendência à sobrevalorização da aquisição de aptidões características as diversas fases de maturação, à "resolução de estágios", tendências estas reunidas no princípio epigenético (Kaplan, Sadock, & Greeb, 2003, p. 252), e a Ego Psychology, principalmente nos trabalhos de Heinz Hartmann, fortemente propensos a uma visão centralizada do ego, constantemente atacado e em conflito no interior mesmo do psiquismo6.

A nova energética pretendida nessa abordagem do campo do gozo visa extrair deste os fundamentos para se pensar o ponto de vista econômico atrelado aos processos de linguagem, sendo as noções de valor e afeto essenciais para sua compreensão. É assim que Lacan nos diz que "estava evocando esse afeto pelo qual o ser falante de um discurso se encontra determinado como objeto. O que é preciso dizer é que tal objeto não é nomeável. Se tento nomeá-lo como mais-de-gozar, isto é apenas aparato de nomenclatura." (Lacan, 1969-1970/1992, p. 143, itálicos nossos). Dois aspectos saltam aos olhos nessa passagem - principalmente àqueles atentos para a questão do afeto no campo lacaniano -, a saber, a forma como são tratadas as concepções de afeto e mais-de-gozar. Esta última, como simples nomenclatura, denota o aspecto de "convenção" concedido ao termo. Por outro lado, sua formulação é necessária para designar o processo em que o afeto, este sim, entra na lógica de interação inerente ao discurso. É na esfera peculiar dos atos de linguagem na qual estamos aqui nos deslocando. O campo do gozo, se assim considerado, demarca a forma como a economia psíquica no lacanismo é subentendida aos efeitos de interação e engajamento no discurso, tendo como consequência direta a possibilidade de uma abordagem heurística dos fenômenos afetivos.

Não devemos esquecer, no entanto, que o seminário em questão trata do lançamento de uma hipótese de pesquisa importante para a história subsequente da teoria lacaniana: a dos quatro discursos, notadamente os do analista, da histérica, do mestre e do universitário. Tal proposição vai igualmente assumir coerência, no que diz respeito a esse enquadre econômico, pelo modo em que revela os efeitos de engajamento inerente ao âmbito discursivo. Neles, o fato de qualquer indivíduo assumir o lugar de fala numa dessas modalidades implica invariavelmente tanto na criação de um lugar característico de agente quanto na própria regulação dos meios em que o outro é apreendido. Ao mesmo tempo, o discurso é considerado mediador igualmente das relações aí implicadas com a verdade e a produção. Assim, o discurso enquanto linguagem em ato faz do afeto e do gozo resultantes de seu procedimento. Somente assim é permitido a Lacan falar do afeto, conforme destacado acima em itálico, enquanto forma de processo de determinação do ser falante no discurso, ou seja, seu engajamento como objeto tomado no universo da linguagem.

É dessa forma que André (1994), focando um aspecto ainda mais amplo, nos fala da linguagem como "acesso e barreira" ao corpo, uma vez que é situada como interposição entre este e o sujeito, mas também como sua única via de acesso. Para ele:

O ser corporal do animal humano torna-se assim inacessível, ou pelo menos fora do alcance de um acesso direto, não mediatizado. Não temos idéia do "gozar-se" do corpo, sendo indiretamente, pelo imaginário que projetamos sobre os animais ou as plantas, ou por dedução lógica, a partir da linguagem. Não compreendemos o que é um corpo senão na medida em que o recortamos e organizamos com o significante - mecanismo que a conversão histérica leva até a caricatura (André, 1994, p. 235).

Mais do que o manejo da concepção de significante como se fosse uma (re)inserção do substancialismo na teoria lacaniana - seja ele integral ou metafórico -, André (1994) destaca do texto de Lacan elementos cruciais para a fundação de uma abordagem semiotizada do gozo. Importante destacar essa posição quanto à obra lacaniana na justa medida em que ela é oposta e correlacionada a outra, também possível de ser depreendida, como veremos a respeito do artigo de Delbray (2008). No seminário 20, mais especificamente na sessão dedicada a Jakobson, Lacan propõe o quadro geral em que o Outro simboliza o corpo a fim de fazer-lhe operar a função de uma "outra forma de substância, a substância gozante" (Lacan, 1972-1973/1992, p. 35), no nível da qual irá localizar o seu significante.

Em nosso encaminhamento temos que, se cotejarmos os dois textos antes indicados - o de Delbray e de André - a respeito do terceiro - de Lacan -, veremos no primeiro a alternativa para o estudo do corpo naturalizado empreendido pelas neurociências ser dada numa versão metaforizada, pela qual "o gozar se corporiza de maneira significante" (Delbray, 2008, p. 43), até alcançar a concepção de "um corpo de outra natureza" (Delbray, 2008, p. 46). Diferente do "corpo de desejo" para o qual Freud abriu caminho (Delbray, 2008, p. 43), a hipotética substância fundamental do gozo esgarça os limites da metáfora, fazendo com que ela recaia no mesmo ponto de origem: o recurso ao natural como base na abordagem do corpo.

Vemos aqui, portanto, uma forma de levar a hipótese lacaniana enquanto metáfora a limites muito além da proposição inicial, pois a busca dessa "nova forma de substância" (Delbray, 2008, p. 41) é então tomada como mote para dela fazer derivar uma suposta base ontológica enquanto re-naturalização e, por consequência, garantia epistemológica da psicanálise lacaniana. Por outro lado, ao situar a linguagem não como uma "superestrutura que viria se depositar sobre o ser", mas sim como o "utensílio que modela e determina este ser", ou seja, ao reconhecer a linguagem no cerne da estruturação do sujeito e de sua relação com o corpo - mesmo no que lhe acomete enquanto economia psíquica -, André (1994, p. 212) o autor (re)endereça a questão para o que aqui propomos ser lido na teoria lacaniana como bases semióticas do econômico. Além disso, ao retornarmos à questão do gozo no seminário 20 (Lacan, 1972-1973/1992), sustentamos a hipótese de que tal retrocesso em relação ao substancialismo - metafórico ou não - deve ser relativizado em função do maior peso de outras formulações a ele contraditórias.

Em relação ao último trecho citado na íntegra, de André (1994), devemos acrescentar o que talvez seja o ponto nodal de tais bases semióticas: que tanto o imaginário projetado quanto a linguagem derivada logicamente - ou simbolicamente - não são externos à experiência do gozo e do afeto. Falar em bases semióticas para o ponto de vista econômico é, antes de tudo, reconhecê-las como constitucionais na experiência dos fatos psíquicos. Não há necessidade de mediação ou tradução em termos de linguagem se a considerarmos intrínseca, como diria o autor, à modelação e determinação do ser. De certo modo, é o mesmo conteúdo de crítica feito à abordagem naturalista do psiquismo: nela, é suposto que os fenômenos orgânicos são anteriores à apreensão que o mental dela faz e, assim, tratar-se-ia de uma transcrição do orgânico para o discurso. Igualmente, os efeitos da linguagem sobre o humano deveriam antes passar pela captação biológica dos estímulos, por um prévio tratamento neuronal das informações para, somente então, ser re-atuado em termos de linguagem. Ora, o que a psicanálise indica, principalmente a partir de Lacan, é justamente que tal disjunção não se aplica, uma vez que toda estrutura já é uma organização própria ao campo da linguagem. Para tanto, o modelo primeiramente assumido é o da sexualidade. Como diz o autor em questão, "[...] é com efeito o significante que introduz a dimensão do sexual no ser humano [...]" (André, 1994, p. 212). Nesse enquadre, até mesmo a satisfação das necessidades mais primárias devem ser enfocadas no universo discursivo, sendo o exemplo citado o da fome "subvertida pelo gozo de comer do significante" (André, 1994, p. 228).

A hipótese de bases semióticas para o econômico implica que conceitos como os de gozo e afeto sejam repensados numa matriz não-substancialista, na qual a linguagem participa não somente como meio de propagação, mas também como forma de constituição. É desse modo que lemos a seguinte passagem do seminário de Lacan sobre O avesso da psicanálise, que ora analisamos, a respeito do gozo:

O que a histérica quer que se saiba é, indo a um extremo, que a linguagem derrapa na amplidão daquilo que ela, como mulher, pode abrir para o gozo. Mas não é isto que importa à histérica. O que lhe importa é que o outro chamado homem saiba que objeto precioso ela se torna nesse contexto de discurso (Lacan, 1969-1970/1992, p. 32).

Novamente, é na esfera do discurso que a função de valor é delineada. Mesmo que se objete que o termo "discurso" então citado não corresponderia à maneira como tem sido por nós empregada, ou seja, que os quatro discursos designados por Lacan seriam conceitos específicos e bem delimitados que não deveriam ser confundidos com a linguagem (ou mesmo "externos" às determinações desta), devemos ressaltar que nossa aposta é justamente a de que a escolha pela expressão "discurso" não foi despropositada. Isso porque Lacan está precisamente se referindo ao enlace que os atos de linguagem acarretam. O discurso da histérica comporta astúcias linguageiras que servem, principalmente, para o engajamento do outro num determinado modo. Ao se colocar como sujeito dividido, a histérica responde a uma só vez a formas predispostas pela linguagem para gozar, fazer gozar, afetar, ter afeto, ser afetada e, acima de tudo, constituir seu discurso próprio. É assim que lemos os quatro discursos definidos por Lacan: como uma fina tessitura a respeito da afetação da linguagem em ato, sobre o sujeito e sua relação com o outro. É nesse sentido que o tornar-se um objeto precioso ou, melhor dito, um objeto de valor, toma aspecto de estrutura de linguagem no contexto do discurso da histérica. Igualmente, o gozo entra na lógica discursiva na disposição dos mecanismos estruturais inerentes aos diferentes discursos, seja como moeda de troca entre sujeito e outro, seja no atravessamento da linguagem na constituição do objeto e nos meios de interação com ele.

Conforme indicamos anteriormente, o segundo momento da teoria lacaniana no qual abordaremos a questão do gozo é o seminário Mais, ainda (Lacan, 1972-1973/1993). Nele, a exemplo do que ocorre no seminário De um Outro ao outro (Lacan, 1968-1969/2008), o conceito de gozo vai ocupar um local de destaque central no ordenamento da trama de conceitos. Logo de partida, o conceito é definido através de uma instância declaradamente negativa, na medida em que o gozo denota "aquilo que não serve para nada" (Lacan, 1968-1969/2008, p. 11). Ora, o sentido de tal definição é exatamente o de apontar o caráter de artifício não naturalizado do gozo. Diferentemente da instância das necessidades biológicas (tais como fome, sede, sono), o gozo se apresenta numa ordem complementar e regulada pelos fenômenos de linguagem que, propriamente, fundam a esfera do humano. É dessa forma que Dunker (2002) ressalta o aspecto de valor de uso, de consumo ou de abuso representados pelo gozo, mesmo que em disparidade com o valor de troca, este referente à matriz linguística.

 

Considerações finais

Assim, nosso desafio ao buscar a retomada de elementos do ponto de vista econômico - dentre eles, principalmente, o afeto - na interface psicanálise e teorias internas à matriz linguística, consiste no redirecionamento mesmo da concepção de valor. É nesse sentido que a semiótica - e em especial a vertente da semiótica tensiva - tem sido constituída precisamente na substituição do fundamento epistemológico de oposições categoriais, e de estruturas estanques, para a pesquisa de formas mais contínuas e fluídas de abordagem dos fenômenos de linguagem, fazendo com que as paixões e a intensidade tenham seu lugar restituído na consideração teórica (Fontanille & Zilberberg, 1998/2001, Zilberberg, 2006, 2011).

Ao mesmo tempo, apostamos na necessidade de reposicionamento da teoria psicanalítica quanto ao ponto de vista econômico, no que diz respeito ao processo de substituição das referências energéticas - processo este implícito no projeto epistemológico lacaniano - se levadas seriamente em consideração as teses de natureza discursiva presentes na teoria de Lacan. É o caso, notoriamente, da relação entre o gozo e o significante. Se Freud desferiu um corte intenso no narcisismo da humanidade ao dizer que o eu não é senhor em sua morada, podemos concluir que Lacan aprofunda o golpe ao submeter os processos econômicos ao significante e, portanto, ao âmbito do Outro. Trata-se, desse modo, de uma forma de destituição da supremacia dada à individualidade, cerne inconteste de projetos enaltecedores do homem e de suas capacidades desenvolvimentistas e adaptativas, cujo melhor exemplo é a transformação da técnica analítica em formas de fortalecimento egoico.

Vejamos, nas palavras de Lacan, como ele se posiciona frente ao tema do significante e do gozo:

O significante é a causa do gozo. Sem o significante, como mesmo abordar aquela parte do corpo? Como, sem o significante, centrar esse algo que, do gozo, é a causa material? Por mais desmanchado, por mais confuso que isso seja, é uma parte que, do corpo, é significada nesse depósito (Lacan , 1972-1973/1992, p. 36).

O depósito citado é nada menos do que a "substância gozante", a mesma referência que antes citamos na retomada de Delbray (2008) quanto ao tema. Pois bem, convém perguntar: trata-se aqui da suposição de um novo estrato substancial atuando como garantia realista, como o objeto referente dos fenômenos econômicos, ou, contrariamente, da atitude epistemológica de dar dignidade à linguagem na constituição desses mesmos fatos? O que Lacan nos parece ressaltar é que fora da alçada do significante não há possibilidade alguma de acesso ao corpo, nem enquanto abordagem técnica, nem mesmo como experiência sensível. Trata-se, pois, de uma postura fortemente imanentista e semiotizada frente ao ponto de vista econômico já que, ao invés de supor uma reconstituição no psiquismo das excitações endógenas, Lacan aposta na intervenção do significante e, logo, da linguagem na formação de nossa sensibilidade.

O mesmo ocorre no que diz respeito à formulação do circuito pulsional. Com maior pertinência nos seminários sobre A angústia (Lacan, 1962-1963/2005), Os quatro conceitos fundamentais (Lacan, 1964) e no seminário 20 (Lacan, 1972-1973/2005), que ora abordamos, a concepção de circuito pulsional porta em si, assim como o conceito de gozo, as marcas da remodelação operada por Lacan a partir das noções de significante e objeto a quanto ao ponto de vista econômico. Como bem resume David-Ménard, "Lacan teve sobre esse ponto uma formulação muito interessante: o circuito da pulsão gira em torno do objeto, escreve ele, e de lá ele retorna sobre o corpo lhe tornando erógena a fonte de onde partiu." (David-Ménard, 2000, p. 102). De certo modo, podemos ver nesse modo de compreensão do pulsional o mesmo caráter maleável que Freud atribui às zonas erógenas em função da sinuosidade própria, respectivamente, ao autoerotismo e à perversão polimorfa. A sexualidade humana, sob o prisma legado por Freud, possui a estranha capacidade - e característica mais fundamental - de ser esculpida pelos caminhos e descaminhos do pulsional. Assim, esse movimento duplo - de ida e vinda - ou então "circular" da pulsão, consiste ao mesmo tempo no processo de investimento e também de semiotização de seu objeto.

Além disso, devemos ressaltar que tal movimento somente tem seu sentido e sua condição de possibilidade nos jogos de interação discursiva entre o sujeito e a alteridade. Pois, como temos defendido, a dimensão na qual o econômico é tratado na teoria lacaniana, uma vez que lhe é retirado o substrato energético, é diretamente submetida à linguagem e seu vínculo com o campo do Outro. É assim que Miller nos reapresenta a questão tomando como ponto central o seminário de Lacan sobre os quatro conceitos:

Na dissimetria da pulsão operada por Lacan, o decisivo é o fato de que o Outro em questão não é meu duplo, mas sim o Outro como tal. Parece-me que isso é o que há de inacreditável no que Lacan diz a esse respeito: o sujeito alcança a dimensão do Outro no movimento circular da pulsão. Não sei se vocês captam a grandiosidade da coisa, pois trata-se verdadeiramente de estabelecer, fundar o laço, a interseção entre o campo pulsional e o campo do Outro. Portanto, a contribuição essencial de o Seminário 11 é mostrar que não é no nível do espelho que se alcança o Outro, mas sim no próprio nível da pulsão, ainda que não haja pulsão genital (Miller, 2000, p. 183).

O nível da pulsão, desse modo, serviria fundamentalmente para dar conta da intersecção entre o sujeito e o campo do Outro, sendo o movimento circular dessa um meio de criar laço com o último. E, para tanto, linguagem e gozo se fazem imprescindíveis. Se retomarmos o seminário 20 (Lacan, 1972-1973/1992), veremos que Lacan operacionaliza nossa relação para com a realidade através do gozo e, imediatamente, o vincula à linguagem. Segundo ele: "a realidade é abordada com os aparelhos do gozo. Aí está mais uma fórmula que lhes proponho, se é que podemos convir que, aparelho, não há outro senão a linguagem. É assim que, no ser falante, o gozo é aparelhado." (Lacan , 1972-1973/1992, p. 75, itálicos do autor). Assim, o circuito pulsional institui seu objeto ao lhe dar contornos no campo do Outro, ao mesmo tempo que o gozo se funda enquanto um aparelho de linguagem, o mesmo que será necessário para a abordagem da realidade. Nossa conclusão é a de que Lacan estaria, desse modo, reiterando o papel da linguagem num projeto de reestruturação metapsicológica da economia. Isso porque, tanto fazer do circuito pulsional um modelo de constituição de formas de interação no campo do Outro quanto colocar o gozo enquanto aparelho de linguagem imprescindível para a composição do tratamento dado à realidade, em ambos os casos as teses então compreendidas como econômicas em psicanálise tornam-se atravessadas pelo desempenho das funções discursivas que, igualmente, lhe dão forma. Novamente, insistimos na posição de independência ao regime naturalista presente na psicanálise pretendida por Lacan, o que se reflete diretamente na sua concepção de gozo mesmo quando pensado em matrizes diferentes da linguística. É o caso, para citar um exemplo, do que acontece em seu exame do assunto no seminário De um Outro ao outro (Lacan, 1968-1969/2008). Vejamos um breve trecho: "o que acontece com o gozo não é de modo algum redutível a um naturalismo. O que há de naturalista na psicanálise é, simplesmente, o nativismo dos aparelhos chamados pulsões, e esse nativismo é condicionado pelo fato de que o homem nasce num banho de significantes" (Lacan , 1968-1969/2008, p. 208). E ainda conclui que "Não há nenhuma razão para lhe dar qualquer continuidade no sentido do naturismo" (Lacan , 1968-1969/2008, p. 208). Ora, o nativismo então citado em nada se compara a projetos de localização e redução dos fenômenos clínicos aos ditames de substâncias ou quantidades energéticas na esfera do biológico. Tão simplesmente, Lacan ressalta na origem do ser falante a sua subordinação à ordem do Outro, então definido como "campo da verdade", "lugar em que o discurso do sujeito ganharia consistência" (Lacan, 1968-1969/2008, p. 24). Semelhantemente, corpo e fala aparecem no seminário 20 (Lacan, 1972-1973/1992), por repetidas vezes, fortemente associados no que se refere ao gozo e à esfera do econômico. Até mesmo a concepção de inconsciente é abarcada nessa leitura, como podemos observar no presente segmento de texto: "[...] o inconsciente, é que o ser, falando, goze e, acrescento, não queira saber de mais nada. Acrescento que isto quer dizer - não saber de coisa alguma" (Lacan , 1972-1973/1992, p. 143). Nesse mesmo sentido, Lacan dirá ainda que:

Essa hiância inscrita no estatuto mesmo do gozo enquanto diz-mansão do corpo, no ser falante, aí está o que torna a brotar com Freud por esse teste - não preciso dizer mais nada - que é a existência da fala. Aonde isso fala, isso goza. E isto não quer dizer que isso saiba de coisa alguma, porque, mesmo assim, até nova ordem, o inconsciente nada nos revelou sobre a fisiologia do sistema nervoso, nem sobre o funcionamento da ereção, nem sobre a ejaculação precoce (Lacan , 1972-1973/1992, p. 156, itálicos nossos).

Onde isso fala, isso goza . Mesmo que nada seja desvelado, graças a essa característica, a respeito do funcionamento do substrato biológico (então representado pelos suportes fisiológico e do aparelho sexual), a disjunção entre saber e gozo em nada depõe contra a predominância da linguagem (aqui designada pela função da fala). O elo entre o campo da linguagem e ponto de vista econômico, no que este se apresenta recoberto pelo conceito de gozo, é então designado pelo próprio autor como "osso de seu ensino": a função da fala, para além do saber, deve ter seu lugar restabelecido na base de sua abordagem do sujeito e, consequentemente, de sua economia.

 

 

Referências

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Artigo recebido em: 07/05/2017
Aprovado para publicação em: 13/06/2017

Endereço para correspondência
Tiago Ravanello
E-mail: tiagoravanello@yahoo.com.br
Christian Ingo Lenz Dunker
E-mail: chrisdunker@usp.br
Waldir Beividas
E-mail: waldirbeividas@gmail.com

 

 

*Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Mestre e Doutor em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Pós-Doutorando em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo.
**Psicanalista, Professor Titular do Instituto de Psicologia (graduação) e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo (USP), Livre Docente em Psicologia Clínica e Pós-Doutor pela Manchester Metropolitan University.
***Professor Livre-Docente no Departamento de Linguística (Graduação) da Universidade de São Paulo - USP - e do Programa de Pós-Graduação em Semiótica e Linguística Geral. Pós-Doutor pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris-França).
1Moi no original. Devemos lembrar que Lacan diferenciava os termos Je e Moi como sujeitos da enunciação e do enunciado, respectivamente. Tal distinção marca, precisamente, a forma como o exercício da linguagem exerce seu papel na constituição do psiquismo.
2Interessante notar que o fio condutor do texto em questão é abordar o "prazer" em tudo o que o fenômeno designado pelo conceito comporta de excessivo sem, contudo, dar-lhe ares de irracionalidade, posto que inerente à determinação das singularidades humanas.
3Um objeto é considerado sincrético na teoria semiótica quando é constituído por mais de uma linguagem (tomada em seu sentido estrito). Por exemplo, o cinema é certamente um objeto sincrético, pois nele a linguagem visual é uma das constituintes, assim como a musical, dentre outras.
4Um andamento semelhante a este tem sido feito no campo da semiótica, sobretudo nos trabalhos de Fontanille e Zilberberg (1998) e Zilberberg (2006, 2011).
5Optamos pelo aprofundamento nas leituras dos seminários 17 e 20, mais interessante a nossa temática do que um recenseamento geral do conceito.
6Além de Hartmann, podemos citar Rudolph Loewenstein, Ernst Kriss, David Rapapport e até mesmo Erik Erikson contribuíram para o desenrolar da vertente teórica Ego Psychology.

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