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Tempo psicanalitico

versión impresa ISSN 0101-4838versión On-line ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.49 no.2 Rio de Janeiro dic. 2017

 

ARTIGOS

 

Muros do vazio: Narciso revisitado

 

Walls of emptiness: Narcissus revisited

 

 

Maicon Pereira da CunhaI*; Joel BirmanI**

IUniversidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A intenção deste artigo é refletir sobre o narcisismo na atualidade. Considerando que esse conceito deva ser entendido mais além da sua característica de ser um elemento central na construção de subjetividades, delinearemos a ideia de um narcisismo pautado na noção de autodestruição. Além de pensar sobre seus aspectos mortíferos, ressaltamos que esse narcisismo revela uma condição que aponta para a fragilidade do laço social. Nesse sentido, algumas facetas da violência na atualidade serão evidenciadas, sublinhando os aspectos narcísicos em questão a partir da lógica do condomínio, em que a relação alteritária está posta em xeque, na medida em que se instala um a-partamento de si em relação aos outros.

Palavras-chave: narcisismo, contemporaneidade, violência.


ABSTRACT

The aim of this article is to think about the narcissism today. Considering that this concept must be understood beyond its characteristic of being a central element in the construction of subjectivities, we outline the idea of ​​narcissism founded on the notion of self-destruction. Besides thinking on the death aspects, we emphasize that this narcissism reveals a condition that points to the fragility of the social bond. In this sense, some facets of violence today will be highlighted, underlining the narcissistic aspects in question from the condominium logic, where the social relationship is questioned, in that it settles a self a-partment in relation to others.

Keywords: narcissism, contemporaneity, violence.


 

 

Introdução

Uma das facetas mais adjetivas da atualidade se inscreve na leitura das relações intersubjetivas pautada pela espacialização em contraposição à categoria de tempo. O espaço assume uma prevalência cada vez mais intensa na constituição da experiência subjetiva. Birman (2012) sustenta que os sujeitos vivem sob a égide da sensação de um eterno presente, de maneira que a inscrição da espacialização da experiência psíquica comporta um quadro que delineia as formas pelas quais a dor exerce uma dominância sobre as subjetividades atuais, em detrimento do sofrimento. Isso porque o sofrimento pressupõe um apelo em direção ao outro, enquanto a dimensão da dor evidencia uma posição solipsista do sujeito na medida em que este se fecha ao outro.

É nesse contexto que afirmamos a pertinência da problemática da violência, enunciando uma discussão ampliada em sua configuração atual, que necessita de um urgente esforço para pautar um delineamento das formas pelas quais discursos sobre o fenômeno da violência são produzidos. Isso porque presenciamos um silenciamento sintomático no tocante a esse tema, enquanto aumentam vertiginosamente as demandas por penalizações mais duras. Alia-se a isso uma avalanche discursiva rumo à prevalência da judicialização da vida como forma privilegiada nos conflitos e impasses sociais. Essa composição está remetida a um incremento da violência e da crueldade como formas de manifestação de algo que se encontra num conjunto maior de elementos, entre os quais poderíamos caracterizar algumas das formas do mal-estar na atualidade.

Esse silenciamento comporta uma dimensão de blindagem da discussão acerca da complexidade social e individualiza a problemática, em lugar de descortinar os fios que fornecem a tessitura da rede simbólica à qual está referido. No bojo disso se encontra uma possível solução que se inscreve no registro do desejo de maior proteção contra o ato violento1. A violência urbana, cada vez mais marcada pela dimensão da crueldade, tende a ser interpretada como problema individualizado. As manifestações de violência aumentam e com elas há um incremento da necessidade de punição ou de isolamento individual (ou grupal, nos casos relacionados à xenofobia) como forma principal do ideal de solução.

Assim, a extrapolação para o campo da delinquência encontra fundamentação a partir de atores contingenciais que não costumam ser levados em consideração nas discussões midiáticas mais amplas, e que, portanto, surgem como ato na cena social. Um ato violento pode ser compreendido como um protesto contra algo que não tem possibilidade de ser elaborado enquanto palavra na sua potência simbólica de doação de novos sentidos. Nesse campo, a contribuição de Winnicott (1987) no que se refere à delinquência é um importante vetor que elucida um componente relacional nessa trama. O autor disserta sobre a delinquência afirmando que esta seria uma condição advinda a partir de um quadro de privação emocional.

A criança, por meio do roubo, busca não somente o objeto, mas também a capacidade para procurá-lo criativamente. Pela sua conduta antissocial destrutiva, ela também procura o controle ambiental para reconquistar sua segurança e resolver sua ansiedade: " A criança antissocial está simplesmente olhando um pouco mais longe, recorrendo à sociedade em vez de recorrer à família ou à escola para lhe fornecer a estabilidade de que necessita a fim de transpor os primeiros e essenciais estágios de seu crescimento emocional" (Winnicott, 1987, p. 122).

Portanto, entender a complexidade e as necessidades que uma pessoa tem para se tornar minimamente saudável, amando e trabalhando, ajuda na compreensão de determinados nós sociais. Vale ressaltar que a problemática da delinquência encontra sua equivalência nos quadros de xenofobia e na eleição de muros físicos ou simbólicos entre as pessoas, tão destacados em algumas narrativas do mundo contemporâneo.

Nesse sentido, a ideia deste artigo é apresentar algumas considerações acerca do processo de constituição subjetiva, bem como as falhas que podem instaurar rupturas e fragmentações nesse processo, privilegiando a ideia de narcisismo. Além disso, pretende-se elencar algumas considerações acerca do individualismo na atualidade no que se refere às relações interpessoais. Apresentaremos também as mutações no interior do que se entende por narcisismo, seja no âmbito da clínica, seja no que Lasch (1983) chama de cultura no narcisismo. Seguimos a hipótese de que a metáfora da lógica do condomínio (Dunker, 2015) oferece subsídios para a reflexão sobre um movimento de fechamentos condominiais como tentativas de proteção que, por usa vez, inserem a problemática do fechamento de si na relação com os outros.

 

O narcisismo na atualidade

Para localizar o narcisismo na atualidade é preciso enunciar do que se trata nesse conceito que exerce uma importância axial na teoria psicanalítica. Essa importância se refere, sobretudo, ao fato de o narcisismo apontar para a questão da constituição do eu. É preciso ressaltar que Freud retoma em seu texto "Sobre o narcisismo: uma introdução" (Freud, 1914/2006, p. 81) o termo narcisismo, que já estava presente nas descrições clínicas no século XIX como forma de "denotar a atitude de uma pessoa que trata seu próprio corpo da mesma forma pela qual o corpo de um objeto sexual é comumente tratado - que o contempla, vale dizer, o afaga e o acaricia até obter satisfação completa". A atitude narcisista estaria presente na homossexualidade, por exemplo, na medida em que o sujeito toma a si próprio como objeto de amor.

Além disso, o narcisismo poderia ser visto nos casos que Freud chama de parafrenia (demência precoce, em Kraepelin; esquizofrenia, em Bleuler). Na concepção freudiana a esse respeito, haveria uma retração da libido para o mundo interno em direção ao eu, como se percebe na megalomania. A partir disso, Freud problematiza toda a questão do desenvolvimento da libido que ora investe nos objetos, ora investe no eu e, nesse sentido, surge na psicanálise uma sistematização das formulações teóricas (muitas delas apenas desenvolvidas por psicanalistas pós-freudianos) sobre a constituição do sujeito. É importante lembrar que Freud retira do narcisismo sua carga de negatividade, de perversão, e pensa um narcisismo como necessidade na formação das subjetividades. É nesse sentido que Herzog e Pacheco-Ferreira (2014a, p. 9-10) afirmam que "o narcisismo instaura a possibilidade de um novo caminho de exploração psicanalítica através do estudo do Eu e de suas produções sintomáticas específicas".

Freud afirma, antes mesmo de desenvolver a noção do narcisismo necessário para a estruturação do sujeito, que o choro é a fonte de todos os motivos morais (Freud, 1950 [1895]/2006), sendo, portanto, o aspecto relacional com a mãe que carreia as excitabilidades do bebê, inserindo-o no registro simbólico, na medida em que os sons emitidos pelo bebê, seus desconfortos e seus sinais são apreendidos pela mãe, que lhe oferta um objeto para apaziguar a tensão do desprazer. As excitabilidades precisam achar um caminho, um destino, por assim dizer, e este somente é possibilitado pela oferta do outro, dada a precariedade do organismo biológico:

O organismo humano é, a princípio, incapaz de promover essa ação específica. Ela se efetua por ajuda alheia, quando a atenção de uma pessoa experiente é voltada para um estado infantil por descarga através da via de alteração interna. Essa via de descarga adquire, assim, a importantíssima função secundária da comunicação, e o desamparo inicial dos seres humanos é a fonte primordial de todos os motivos morais (Freud, 1950 [1895]/2006, p. 370; grifos do original).

Se há falha nesses momentos iniciais do desenvolvimento é o abismo do desamparo que está lançado como um gap estrutural sob o qual se fundam as formas de subjetividades2. A contemporaneidade se debruça bastante, do ponto de vista da clínica, nos quadros fronteiriços, nos quais alterações significativas no processo de constituição subjetiva são observadas.

Lasch (1983) desenvolve a ideia da sociedade americana pós anos 1970 como uma cultura do narcisismo. Ele chama a atenção para a massificação do narcisismo envolto numa atmosfera que se formula em sua amplitude social a partir de um movimento de depreensão da clínica rumo a uma compreensão mais ampla e global da ideia de autovalorização e autocentramento. Do ponto de vista da fenomenologia clínica, o autor sustenta que o paciente da atualidade não chega mais com uma queixa tipicamente histérica ou de neurose obsessiva. A repressão de outrora, que facilmente sugeria a histeria de conversão, cede espaço a uma queixa da ordem de sua própria existência. As queixas são vagas. No lugar de um quadro fóbico, geralmente o paciente relata a dor de existir:

Ele [o paciente] não sofre de fixações ou fobias debilitantes, ou de conversão de energia sexual reprimida em moléstias nervosas; ao invés, ele se queixa de "insatisfação difusa, vaga, com a vida", e sente que sua existência é fútil e sem finalidade. Ele descreve "sentimentos de vazio sutilmente experimentados, embora penetrantes, e de depressão", "oscilações violentas de autoestima" e "uma incapacidade geral de progredir" (Lasch, 1983, p. 62).

As formas de sofrimento contemporâneo se identificam como perturbações da ordem do narcisismo. Seja nos quadros de depressões, toxicomanias, pânicos, anorexia ou nas doenças psicossomáticas, a questão nevrálgica se fundamenta em um outro modo de relação com o investimento narcísico necessário para a constituição subjetiva. Isso seria resultado, fundamentalmente, de mudanças sociais significativas, dentre as quais podemos citar: as novas relações de trabalho arquitetadas segundo o modelo neoliberal, a desestruturação do modelo de família nuclear burguesa, e o advento da pílula anticoncepcional (Sennett, 1999; Birman, 2007).

Dentro da perspectiva da identificação das novas formas de sofrimento psíquico atrelado às perturbações narcísicas, o ponto de vista sustentado por Lasch (1983) é que há uma ampliação do conceito do narcisismo de forma a enunciar a caracterização do próprio sujeito contemporâneo. Este sujeito é marcado por um autocentramento no eu, todavia de forma superficial. O narcisismo atual faz predominar um tipo de relação na qual o outro é retido enquanto serve para o próprio usufruto do sujeito, sendo dispensado ao menor indício de essa experiência relacional trazer desprazer ou conflito (Birman, 2014). Assim, as relações intersubjetivas se localizam no registro da efemeridade.

O narcisismo enquanto metáfora da condição pós-moderna cria possibilidade de extrair consequências do modo de ação do sujeito atual frente à sua realidade: " proporciona-nos ele [o conceito de narcisismo], em outras palavras, um retrato toleravelmente agudo da personalidade ‘liberada’ de nossos dias [...] sua superficialidade protetora, sua evitação da dependência, sua incapacidade de sentir, pesar, seu horror à velhice e à morte" (Lasch, 1983, p. 76).

Em uma outra perspectiva teórica, podemos sublinhar que o conjunto de características que, de uma forma ampla, permite apontar o modus operandi do sujeito atual se encontra no delineamento da chamada pós-modernidade. Em seu livro O mal-estar da pós-modernidade, Bauman (1998, p. 156) sustenta que "os mal-estares, aflições e ansiedades típicas do mundo pós-moderno resultam do gênero de sociedade que oferece cada vez mais liberdade individual ao preço de cada vez menos segurança". O indivíduo pós-moderno tem uma chance de romper com tudo o que, por um lado, traz segurança, mas, por outro, o aprisiona. Ele agora tem a liberdade de escolha e isso tem relação com sua identidade. Ele deixa de lado a solidez de uma identidade marcada por princípios fortemente consolidados e passa a adotar um ideal de flexibilização de sua identidade:

atualmente, o problema da identidade resulta principalmente da dificuldade de se manter fiel a qualquer identidade por muito tempo, da virtual impossibilidade de achar uma forma de expressão da identidade que tenha boa probabilidade de reconhecimento vitalício, e a resultante necessidade de não adotar nenhuma identidade com excessiva firmeza, a fim de poder abandoná-la de uma hora para outra, se for preciso (Bauman, 1998, p. 155).

O ponto a ser ressaltado nessa leitura é que, na impossibilidade de viver o sofrimento, o indivíduo pós-moderno acaba por se lançar à busca pelo novo, pelo arriscado. Atualmente, vive-se intensamente o risco em detrimento da rotina, que outrora trazia a estabilidade. O movimento contemporâneo é pela busca do novo. Com isso, tudo se torna efêmero, momentâneo. Aquilo que ontem era uma grande novidade hoje já corre o risco de ser atrasado. O tempo parece passar mais rápido e o resultado disso é uma pobreza no processo de elaboração psíquica3.

 

A lógica do condomínio

Em um estudo extremamente meticuloso e denso, Dunker (2015) propõe uma análise que se baseia no diagnóstico das modalidades de relações intersubjetivas atuais. Essa análise está referida à realidade brasileira, mas pode perfeitamente ser extrapolada para uma análise em nível global (pelo menos nas sociedades de economia mais desenvolvidas, baseadas no neoliberalismo). Dentre outros fenômenos profundamente analisados, talvez o que o autor denomina de uma lógica do condomínio nos ajude a pensar acerca de algumas condições que refletem ressonâncias do narcisismo da atualidade.

A metáfora da lógica do condomínio põe à luz uma configuração bastante conhecida nos grandes centros urbanos, que é a face da privatização das relações, balizadas por muros que são erigidos: "Um lugar fortemente delimitado (muros), no qual a representação é substituída pela administração funcional (síndico) que cria uma rígida lei própria (regulamentos) conferindo suplemento de identidade moral a seus habitantes" (Dunker, 2015, p. 58). Os muros evocam, do ponto de vista material, a representação de defesas que se constroem na delimitação de um espaço, de onde se instauram as relações do dentro e do fora e as caracterizações peculiares oriundas dessa determinação espacial.

Entendido como uma estrutura de defesa, o muro é eleito como elemento discursivo que condensa a caracterização da equivalência das estruturas social e psíquica. O lugar do muro como eixo central surge na formulação dos condomínios e passa a ser o signo central do planejamento e construção de novas formas de vida4. Nesse estilo de funcionamento tão disseminado na contemporaneidade a ideia da almejada segurança tem uma função estratégica, pois, numa perspectiva militar, há uma facilitação da observação do outro (inimigo) e a sensação de proteção ofertada pelo levantamento dos muros.

Os muros materializam de maneira radical a segregação, operando um corte entre os que podem lá estar, por uma evidente distinção econômica, e os que não podem. Aliás, estes até podem - mas de uma maneira muito bem conformada, que pode ser exemplificada pela distinção entre o elevador social e o de serviço: "a segregação surge do fracasso em articular a diferença e a divisão" (Dunker, 2015, p. 55). Na medida mesmo em que se radicaliza a proposta de a-partamento num plano que se institui no interior da vida contemporânea sob a égide do neoliberalismo e do individualismo, a segregação se articula intimamente com a indiferença em relação ao outro e suas particularidades - o que resulta em um modelo muito próprio de relações de poder.

O ressentimento é um produto dessa trama, e é também combustível na reação para os que se encontram fora do condomínio. A violência da eleição dos muros como tentativa de proteção promove violência como resposta sintomática do outro, pois o registro da comunicação e interação se estabelece como um tecido puído dominado pelo medo e pela da raiva: "o muro é uma estrutura de defesa contra a falta (pedido), uma mensagem de indiferença contra o outro (recusa), uma alegoria de felicidade interna (oferecimento) e uma negação indeterminada de reconhecimento" (Dunker, 2015, p. 63). Nesse sentido, as narrativas que compõem a lógica do condomínio levam Dunker a postular as quatro figuras da patologia do social de nossa época:

1. O ressentimento, derivado da soberania imaginária do Outro e da obstrução da faculdade do pedir. O ressentimento é um efeito estrutural da soberania excessiva do Outro, da consolidação fantasmática de sua onipotência, por identificação redutiva a uma alteridade encarnada e positiva. É fácil perceber como o ressentimento prospera naqueles que se sentem excluídos pelos muros do condomínio;
2. O cinismo, que procede da instrumentalização do sentido e da fixação na posição da recusa. Cinismo é, antes de tudo, uma patologia da crítica, uma patologia da possibilidade de dizer não de forma determinada ou indeterminada. O cínico recusa aceitando e aceita recusando, neutralizando assim a função de resistência e de detenção da demanda;
3. A degradação do sentimento de respeito, associada ao declínio de determinada gramática de autoridade, decorrente da exclusão ou do fracasso do oferecimento de meios de participação no universo da produção, do consumo e da reprodução cultural. A autoridade é principalmente um efeito de recusa ao exercício direto de poder. Ela envolve um processo gradual de substituição simbólica do exercício do poder pela suposição de que este pode ser exercido à distância, por meio de indeterminações ou representantes. A autoridade é principalmente um efeito de crença de que seu agente tem os meios para exercer o poder, mas, ainda assim, não o faz (recusa);
4. O sentimento de exílio e isolamento, que instaura a inadequação generalizada a qualquer espaço de pertencimento. "Não é isso" torna-se uma legenda para a impossibilidade de pertencimento. Sua origem é naturalmente o ponto genético do desejo, seu apaziguamento pela interpolação do objeto ou, ainda, a formação de equivalentes de angústia (a falta da falta). (Dunker, 2015, p. 66).

Para além das interessantes problematizações acerca das relações intersubjetivas do ponto de vista antropológico, a metáfora condominial fornece elementos que condensam a ilustração da própria constituição dos sujeitos, na medida em que o eu se forma através da necessária delimitação gradual que organiza a dimensão de um interior e um exterior a partir da diferenciação em relação ao outro. Cabe ressaltar, todavia, que essa constituição se forja na relação matricial com o outro. Esta particularidade aponta para a complexidade que é a relação alteritária.

Nesse campo, o narcisismo entendido como um elemento fundamental na constituição das subjetividades a partir de um necessário investimento libidinal do outro é crucial na compreensão da dinâmica das ditas patologias narcísicas atuais. É nesse quadro da atualidade que se evidenciam as consequências de um modelo de relação em que predomina o modo narcísico de subjetividade em lugar dos quadros tipicamente neuróticos.

 

Narcisismo e falhas constitucionais

Em uma analogia interessante, Herzog e Pacheco-Ferreira (2014b, p. 24) afirmam que a produção psicanalítica contemporânea verifica um deslocamento que vai de Édipo a Narciso e que "conduz, no âmbito da clínica, a um arrefecimento das famosas psiconeuroses dos tempos de Freud e a um aumento significativo das chamadas patologias narcísico-identitárias". O conjunto que reúne as caracterizações clínicas do que tem sido designado como sofrimento narcísico não seria um eixo pelo qual poderíamos nos referir a uma entidade psicopatológica definida, mas antes é um indicativo das formas pelas quais se buscam alternativas teórico-clínicas para o sofrimento na atualidade (Gondar, 2014).

De acordo com Monteiro e Cardoso (2014) não há uma uniformidade no meio psicanalítico para a denominação desses estados clínicos. Entretanto, as autoras apontam duas grandes correntes nas quais as patologias narcísicas estão circunscritas: uma corrente dominante na escola inglesa e uma outra entre autores franceses. A primeira utiliza o termo borderline, que surgiu para dar lugar a certos pacientes que não se encaixavam na classificação psicanalítica clássica, mas que poderiam justificar uma proposta de modalidade singular de tratamento, pois estariam em uma estrutura própria. Nessa corrente dominante, portanto, existiria uma etiologia específica, enquanto na corrente difundida pelos autores franceses essas patologias não configurariam uma estrutura determinada. Os autores franceses se referem a esse campo como estados ou situações-limite, o que sinalizaria para algo de transitório.

Apesar das diferentes concepções a respeito das patologias-limite, existe uma similaridade nas caracterizações dessas patologias, que poderíamos resumir na questão da instabilidade, flutuações, mudanças bruscas. Essas mudanças condicionariam um padrão oscilatório dos afetos no qual uma característica marcante seria a ocorrência de um problema no processo de construção e investimento pulsional das fronteiras externas e internas do eu (Figueiredo, & Cintra, 2004).

Green (1988b, p. 88) postula que, no que concerne ao funcionamento mental do paciente fronteiriço, pode-se observar um modo paradoxal de elaboração. Isso porque nesse paciente "não existe uma divisão nítida entre pensamentos, representações e afetos e não podem [os processos de pensamento] ser destacados dos instintos salvo através de uma intensa divisão, às vezes acompanhada de crenças mágicas e de uma onipotência investida narcisicamente". Esses quadros revelam uma configuração que permite apontar uma certa fragmentação do sujeito.

Conforme sustentam Lazzarini e Viana (2010), muitos autores atuais que pensam essa problemática admite a hipótese de que pode haver uma falha básica na constituição do eu narcísico ou mesmo nas instâncias ideais desses sujeitos. O que estaria em jogo, fundamentalmente, seria uma falha no recalcamento primário atribuída a uma espécie de insuficiência dos cuidados maternos na primeira infância. Nessa perspectiva, a escolha objetal se daria "com base na eleição narcísica na qual ocorre a identificação. Na impossibilidade de escolha do objeto externo elege-se o objeto a partir da imagem e semelhança do próprio eu transformado em seu próprio ideal" (Lazzarini, & Viana, p. 269). A dimensão da alteridade se encontra prejudicada, apontando para patologias que afetam crucialmente o sentido e o valor do eu5.

As autoras fundamentam, sobretudo à luz do pensamento de André Green, a análise das ressonâncias do narcisismo na clínica psicanalítica contemporânea, de forma a apontar o desamparo como um eixo fundamental sobre o qual se organizam esses sujeitos. Isso porque, na referência a uma subjetividade narcísica, está em jogo um sentimento de si mesmo que necessita do investimento libidinal do outro, e é nesse processo mesmo que há uma falha. Portanto, a falha instaura um desamparo que revela a fragmentação subjetiva nesses casos. O desamparo leva a experiências de busca por encontrar objetos que possam recompor o espaço simbólico fissurado.

No entanto, essa busca se revela complexa, pois os objetos entram no curto-circuito da repetição do que é narcisicamente conhecido, estando a dimensão da relação com o outro precariamente estabelecida. Nesse sentido, a busca por uma completude tem seu registro no campo da inflação egoica, via ego ideal.

Retomando a ideia da lógica condominial, o funcionamento desses sujeitos pode ser remetido à comparação dos muros construídos na defesa da frágil delimitação de si, relegando ao limbo o outro na sua legitimidade. Talvez um parêntese tenha que ser aberto, pois um interlocutor poderia afirmar que não existe uma consciência de apartamento do outro nesses sujeitos, sendo a dimensão do encontro o que eles buscam em suas tentativas. Entretanto, podemos observar que essa busca se revela caducante. Um exemplo seria a disseminação vertiginosa de redes sociais e aplicativos de celulares que promovem encontros entre as pessoas. Ao mesmo tempo que há a busca do outro, paradoxalmente os encontros se revelam cada vez mais fugazes, ou, em outras palavras, líquidos (Bauman, 2004)

Em que pese a intensa busca pelo outro, a descartabilidade imperiosa nas relações atuais incrementa o vazio que permanece de maneira cortante, haja vista o número de pessoas depressivas na contemporaneidade. Em outras palavras, existe algo de mortífero nesse recrudescimento de si, pois, na presente leitura de um individualismo performático, o que estaria em questão seria a falta de representantes narcísicos primários que permitam ao indivíduo recorrer a eles nos momentos de desespero, hipótese sustentada por Cabral e Tibúrcio (2016).

 

Narcisismo (d)e morte

André (2014) promove uma problematização da ideia de narcisismo, ressaltando um ângulo interessante, de que este tem peculiaridades que levam não apenas à construção de vida, na medida em que há necessidade de investimento narcísico para que a vida aconteça, mas que podemos inseri-lo também numa perspectiva mortífera. O texto de André começa com uma alusão a um fatídico momento histórico para trabalhar as ambiguidades do narcisismo6. No nazismo, a onipotência narcísica de Hitler leva, em última instância, à autodestruição da Alemanha. Isso porque, nas palavras de André, o retrato nazista nos anuncia "a face mais escura no narcisismo, aquela do fechamento do amor de si por si mesmo até a idealização, a sua própria destruição, a sua extinção" (André, 2014, p. 61; tradução nossa). O aspecto dualista, conflitante, presente no pensamento freudiano não passa despercebido na discussão trazida pelo autor.

O idealizado aspecto narcísico de unidade é posto em xeque durante todo o desenvolvimento do pensamento de Freud, seja do lado do sujeito, seja da própria construção da metapsicologia freudiana. O dualismo sempre presente em Freud sugere, em um primeiro momento, uma polarização que indica um conflito entre pulsão de autoconservação e pulsão sexual desde 1910, com o texto "Concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão" (Freud, 1910/2006). Nessa oposição, uma energia libidinal seria o motor da pulsão sexual, enquanto na pulsão de autoconservação o equivalente seria algo da ordem de uma necessidade. Com o advento do conceito de narcisismo se verificou a tomada do eu como um objeto investido libidinalmente. Onde estaria, portanto, o aspecto do conflito, se só restaria então pulsão sexual?

Essa pergunta impõe uma questão controversa em psicanálise, qual seja, o modo pelo qual Freud migrou de sua primeira para sua segunda tópica. Não entraremos especificamente nesse terreno, todavia, no que tange a nosso interesse, lembramos que as pulsões de autoconservação, também chamadas de pulsões do eu, abrigavam a estruturação do eu protegido, visando, assim, à autoconservação do indivíduo; e que, com o conceito de narcisismo, o eu passa a ser concebido de maneira erogeneizada; portanto, inserido no registro das pulsões sexuais.

Esse quadro impôs, segundo Birman (1997), a necessidade de iniciar uma revisão da metapsicologia, que mais tarde culminaria com a elaboração da segunda tópica, com o texto "O ego e o id", de Freud (1923/2006). Essa revisão foi impulsionada pela necessidade de esclarecimento dos fatos concernentes às neuroses de guerra e aos sonhos traumáticos e com a postulação da pulsão de morte em "Além do princípio de prazer" (Freud, 1920/2006), instaurando a partir de então, o conflito entre pulsão de morte, de um lado, e as pulsões de autoconservação e as pulsões sexuais agrupadas na chamada pulsão de vida. A pulsão de morte se descortinou, retomando a ideia do conflito.

André (2014) afirma que o conceito de narcisismo não figurou com densidade a partir da segunda tópica freudiana, senão com a ideia de narcisismo das pequenas diferenças no texto "O mal-estar na civilização" (Freud, 1930/2006), e neste contexto carregado pelo tom de destrutividade. André ainda afirma que o narcisismo precisou ser reinserido no arcabouço teórico da psicanálise por outros autores pós-freudianos para explorar a necessidade de distinguir um narcisismo libidinal de um narcisismo destrutivo: " A ideia da morte, senão a morte ela mesma, que é um possível que jamais a vida realiza, é precisamente a ferida narcísica por excelência" (André, 2014, p. 63; tradução nossa). Em outras palavras, o eixo conectivo da ideia de plenitude, ou de vida eterna (ausência de conflito) seria a face delirante do fantasma de Narciso.

Conjugar, pois, dentro de um mesmo registro, as faces tanto de investimento e ligação libidinal, necessários para a subjetivação, quanto o próprio caráter mortífero do narcisismo é ampliar a perspectiva sobre esse conceito importante. E, no bojo dessa consideração, sublinhamos que o narcisismo, levado às últimas consequências, e fechado em si mesmo, realiza a epifania, de maneira visceral, do núcleo mortífero que circunda e perpetua a morte, rasgando o véu do desamparo que acossa sempre o sujeito. A experiência do desamparo revela a sombra do terror do vazio, do qual se tenta constantemente fugir, e que, na contemporaneidade, impele à ação e à performatividade. Nessa medida, a fantasia de onipotência narcísica é o norteador basilar que regula as interações entre os sujeitos.

Este cenário reflete um solipsimo que descortina uma superficial proteção narcísica, ao mesmo tempo que denota uma atividade egoica mortífera, pois desamparada. Assim, do ponto de vista de uma visão clínica a esse respeito, Green (1988a) nos ajuda a refletir, a partir da categoria de um narcisismo negativo, ou um narcisismo de morte. Para o autor, os estados fronteiriços de analisabilidade, que constituem a clínica do vazio, são caracterizados pelo prejuízo na constituição dos limites intrapsíquicos, o que significa tanto uma permeabilidade nas fronteiras entre id, ego e superego, como também uma fragilização das fronteiras entre o eu e o outro.

Essas frágeis limitações situadas nos limites e fronteiras atingem a capacidade representacional e o investimento afetivo, o que impõe uma dupla angústia de intrusão e separação, denotando uma baixa intensidade vinculatória, que dificulta a construção de recursos simbólicos na proteção frente à angústia. Em outras palavras, o excesso pulsional fragilmente contornável radicaliza o desamparo. A camada protetora do psiquismo se constitui de forma frágil e o aparelho psíquico fica mais vulnerável às invasões das intensidades. Diante disso, o sujeito tenta se defender com defesas primitivas, como a clivagem e o desinvestimento pulsional.

Portanto, podemos inferir que no movimento de fechamento em si mesmo é a busca por um estado de proteção narcísica que se almeja, lugar central da localização da fantasia e do ideal da ausência de conflitos, no qual o medo da fragmentação tem como resultante o apartamento da relação com o mundo externo. Essa trama exacerbadamente narcísica não é senão a metáfora social do correlato individualista que perpetram os nossos tempos. O vazio que se vive dentro de si mesmo e/ou dentro dos condomínios e/ou dentro dos carros com vidros sempre suspensos é o vazio da experiência de alteridade, de vínculos intersubjetivos, fundamentalmente. Esse é um narcisismo que não vincula, que faz perder a vida dentro do caráter mortífero que é a busca desenfreada por si mesmo, sem o outro.

 

Narcisismo e violência

Retomando a noção da lógica do condomínio sintetizamos uma reflexão sobre a violência. Atualmente, uma especificidade que merece ser evidenciada é a dimensão da crueldade, e uma possível compreensão sobre esse fenômeno a que assistimos cada vez mais intensamente pode ser localizada no modo como se privilegiam os meios pelos quais são organizadas as relações intersubjetivas. Na lógica do condomínio, o afeto do medo é o eixo articulador principal, motor da ação do distanciamento em relação ao outro. Disso deriva uma espécie de indiferença nas relações, precisamente o que Efken e Cardoso (2016, p. 1) situam como a fonte da crueldade. Para os autores, "o agir cruel implica a negação da existência do objeto como recurso para a afirmação de si, recurso de caráter extremamente precário". A recusa da diferença seria o eixo interpretativo da formulação condominial tanto em nível psíquico quanto social. Do ponto de vista da crueldade em ato, a aposta dos autores é de que o apelo à crueldade se fundamenta no contato do sujeito com a alteridade num encontro inicial caracterizado pela indiferença do outro materno:

Utilizamos aqui o termo indiferença em seu sentido estrito, ou seja, de negação da diferença. Trata-se de um "outro", que não afeta psiquicamente a criança de modo a lhe oferecer recursos para o seu trabalho de ligação das experiências de prazer, mas, muito pelo contrário, o sujeito é deixado em uma situação de desamparo e vigência de intensidades (Efken, & Cardoso, 2016, p. 1).

Assim, os atos violentos ganham contornos de requinte de crueldade, que é uma característica da violência nos grandes centros urbanos na atualidade, em que muito além da ambição pelo objeto roubado está em jogo um aniquilamento do outro, chegando à própria morte sem piedade, e sem um aparente prazer, sem culpa. A indiferença funciona em uma espécie de via de mão dupla, pois quem comete o ato cruel estaria já operando numa lógica na qual teria sido refém das suas próprias excitabilidades com um investimento libidinal precário.

Portanto, associamos a problemática tanto aos que estão do lado de dentro, quanto os que estão do lado de fora dos muros condominiais. Em outras palavras, o outro lhe teria sido também indiferente do ponto de vista da maternagem. Não pretendemos evocar uma culpa às mães/cuidadoras, mas sim instaurar uma reflexão mais ampla do papel do cuidado do outro na atualidade. Sublinhamos que esse cenário que estamos esboçando é um plano de fundo maior, no qual a relação com o(s) outro(s) é profundamente marcada pela precariedade e pela indiferença.

Com efeito, é nessa seara que a lógica do condomínio foi trazida enquanto metáfora social do que acontece como forma privilegiada de relacionamentos na nossa atualidade e os efeitos desse frágil laço social, marcado por um autocentramento narcísico. Esse autocentramento leva a uma ética do desamparo, caracterizando esse narcisismo por um forte traço de autodestruição. E um efeito importante é o exercício da violência e da crueldade como marcas da necessidade de redução do objeto a um nada, na tentativa da afirmação de si. Paradoxalmente, o agir cruel só faz matar e morrer. É assim que esse paradoxo precisa ser pautado nas discussões sobre a violência na atualidade.

 

Considerações finais

As conformações citadas necessitariam de um olhar mais rigoroso, pois não pretendemos ofertar uma resposta simples a uma problemática complexa que é a violência na sua relação com a sociedade e os sujeitos. No entanto, entendemos que, num plano mais metafórico/hipotético, algumas considerações expostas neste trabalho podem contribuir para o aprofundamento das questões que estão na ordem do dia das nossas discussões coletivas. O tema da violência ganha contornos e nuances cada vez mais carentes de luz a respeito desse tema, que é uma das facetas mais evidentes do nosso mal-estar na civilização na atualidade.

A busca pela ordem e segurança dentro dos espaços condominiais como tentativa de abolição da indeterminação e do risco, tão em voga na atualidade, cede espaço para uma forma de vida que cristaliza uma separação e propicia aversão e medo do outro. Se no mundo interno se intenta a todo custo alcançar a funcionalidade, a limpeza e a segurança, do lado de fora o império é o do ethos da indiferença. A lógica dos condomínios atual se destaca pela ausência de sentido de comunidade, o que se encaixa perfeitamente com a perspectiva das sociedades do individualismo.

No movimento de amor de si, então, é preciso o reconhecimento do outro, para, em última instância, não adoecer. Eis uma dificuldade grande dos tempos atuais. Em um belo poema de Oscar Wilde chamado "Os discípulos" (2000), destaca-se o choro do lago porque perdera os olhos de Narciso. O lago perdeu a si mesmo quando perdeu o olhar do outro. Ele se via no ato de ver. Narciso apaixonara-se pela própria imagem, que acreditava estar no fundo do lago. Portanto, ambos existiam na medida do olhar do outro.

A indicação da noção de espelhamento revela a fundamental importância da constituição subjetiva no encontro relacional. É por isso que o conceito de narcisismo deve ser enfatizado na atualidade. Um narcisismo positivo potencializa a busca de relações criativas com o objeto. Contudo, pretendemos sublinhar os aspectos mortíferos de um narcisismo negativo, no qual reina o desligamento, a desobjetalização, o ataque aos vínculos: é nessa medida que o fenômeno da violência ganha contornos sutis no tocante ao aspecto do gesto relacional.

 

 

Referências

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Artigo recebido em: 03/02/2017
Aprovado para publicação em: 15/08/2017

Endereço para correspondência
Maicon Pereira da Cunha
E-mail: mpcrj1@gmail.com
Joel Birman
E-mail: joelbirman@uol.com.br

 

 

*Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto de Psicologia - Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
**Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto de Psicologia - Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
1Nesse sentido, se aposta cada vez mais na lógica de um Estado Penal em detrimento de um Estado Social (Wacquant, 2001).
2Winnicott (1982) ressalta a importância fundamental da relação mãe-bebê como fundante do processo de subjetivação, bem como as falhas constitutivas que podem advir a partir daí.
3É nesse campo que o estatuto do trauma ganha notoriedade, uma vez que a dimensão do tempo necessário para a metabolização no psiquismo se encontraria comprometido (Maia, 2005).
4Os pomposos condomínios que surgiram principalmente em São Paulo, com Alphaville, expandiram a lógica da vida condominial para outros centros urbanos.
5Nesse contexto surge a questão de como escapar da demanda intensa, na sociedade atual, pela perfeição, desde o corpo, passando pela dimensão do trabalho e das relações afetivas. Uma resposta é a tentativa de banir os afetos humanos básicos, como a angústia e a tristeza do luto, procurando dispositivos para sedá-los. Nessa condição, as drogas lícitas e ilícitas ganham espaço.
6O texto se inicia com uma frase contundente do diretor Lars von Trier no Festival de Cannes, a respeito do filme Melancolia, quando o diretor diz: "I understand Hitler" (Eu compreendo Hitler).

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