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Tempo psicanalitico

versión impresa ISSN 0101-4838versión On-line ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.51 no.1 Rio de Janeiro enero/jun. 2019

 

ARTIGOS

 

Perspectivas da relação entre psicanálise e ciência em Lacan

 

Perspectives of the relationship between psychoanalysis and science in Lacan

 

Perspectivas de la relación entre el psicoanálisis y la ciencia en Lacan

 

 

Vinicius Anciães Darriba*

Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O artigo examina duas perspectivas pelas quais é abordada a relação entre psicanálise e ciência em Lacan. Não implicando uma oposição, a primeira enfoca o nexo lógico segundo o qual a emergência da psicanálise depende do que resulta da operação da ciência, ao passo que a segunda interroga, a partir do discurso analítico, os efeitos da presença da ciência no mundo. Na primeira perspectiva, destaca-se que a relação da psicanálise com a ciência tem por referência a impossibilidade a que esta última conduz. Na segunda perspectiva, ressalta-se a indicação da ampliação dos processos de segregação como consequência da universalização introduzida pela ciência. A confluência dessas duas perspectivas convoca ao exame, no ensino de Lacan, da articulação relativa à copulação entre ciência e capitalismo. Nesta se evidencia, por um lado, que se pode reportar à universalização associada à expansão da ciência a afinidade que o capitalismo encontraria com ela, e, por outro lado, que se trata, com este último, de um discurso que rejeita a falha que estaria na base dos discursos, em particular no que concerne ao limite que a ciência, como situada desde o discurso analítico, engendraria.

Palavras-chave: psicanálise, ciência, Lacan, segregação, capitalismo.


ABSTRACT

The article examines two perspectives through which are addressed the relationship between psychoanalysis and science in Lacan. They do not imply an opposition. The first focuses on the logical connection whereby the emergence of psychoanalysis depends on the resulting science operation, whereas the second interrogates, from the analytic discourse, the effects of the presence of science in the world. In the first perspective, it is stressed that the relationship between psychoanalysis and science has reference to the impossibility that science leads. In the second perspective, we emphasize the indication of the expansion of the segregation process as a consequence of universalization introduced by science. The confluence of these two perspectives requires the examination, in Lacan's teaching, of the analysis on the copulation between science and capitalism. In this analysis it is clear, on one hand, that the affinity capitalism meet with science may be reported to the universalization associated with its expansion, and, on the other hand, that capitalism is a discourse rejecting rift that would be the basis of discourses, particularly as regards the limit that science, as conceived from the analytic discourse, engender.

Keywords: psychoanalysis, science, Lacan, segregation, capitalism.


RESUMEN

El artículo examina dos puntos de vista a través del cual se abordan la relación entre el psicoanálisis y la ciencia en Lacan. No implican una oposición. La primera se centra en la conexión lógica según la cual la aparición del psicoanálisis depende de lo que resulta de la operación de la ciencia, mientras que el segundo interroga, desde el discurso analítico, los efectos de la presencia de la ciencia en el mundo. En la primera perspectiva, se enfatiza que la relación entre el psicoanálisis y la ciencia tiene referencia a la imposibilidad de que la ciencia conduce. En la segunda perspectiva, destacamos la indicación de la expansión del proceso de segregación como una consecuencia de la universalización introducido por la ciencia. La confluencia de estas dos perspectivas requiere el examen, en la enseñanza de Lacan, de la articulación relativa de la cópula entre la ciencia y el capitalismo. En esta articulación es evidente, por un lado, que el capitalismo encuentra afinidad con la ciencia por la universalización asociado con su expansión, y, por otro lado, que el capitalismo es un discurso que rechaza la falla que sería la base de discursos, sobre todo en lo que respecta al límite que la ciencia, situada en el discurso analítico, engendra.

Palabras clave: psicoanálisis, ciencia, Lacan, segregación, capitalismo.


 

 

Serão examinadas, neste artigo, duas perspectivas através das quais é captada a relação entre ciência e psicanálise no ensino de Lacan. Não se trata de vias traçadas em substituição uma à outra, mas sim de uma diferença de perspectiva, estabelecendo o discernimento do que condicionaria tal relação em um e outro caso. Em linhas gerais, poderíamos designar a primeira perspectiva como doutrinal, no sentido empregado por Jean-Claude Milner (1996, p. 31), concernente ao plano das proposições de Lacan sobre a ciência, segundo as quais "ela estrutura de maneira interna a própria matéria de seu objeto", referido este aí à operação analítica.

Para traçar a via assim aberta, tomaremos a relação entre a ciência e a psicanálise desde o ângulo, portanto, segundo o qual Lacan (1971-1972/2012, p. 136) afirma que "o discurso analítico não é um discurso científico, mas um discurso cujo material a ciência nos fornece, o que é bem diferente". É uma via que remonta ao estabelecido em "A ciência e a verdade" (Lacan, 1966/1998), onde introduz o nexo lógico entre a ciência e a psicanálise, através do qual a emergência da segunda depende do que se efetivou com o advento da primeira. Advento daquilo que definiria uma ciência moderna, segundo a leitura de Alexandre Koyré, que Lacan (1966/1998, p. 870) tomou por nosso guia nesse momento.

Se o que configura a primeira perspectiva encontra-se apoiado na interpretação de Koyré (1966/1991) do que distinguiria a ciência moderna, a segunda refere-se aos efeitos que impõe a expansão de sua presença no mundo, expansão esta que já seria um de seus aspectos distintivos. Desta vez, é o próprio Lacan quem busca responder quais seriam esses efeitos no laço social, efeitos que se dão a ver em nossa época. Segundo essa perspectiva, encontraremos a relação com a psicanálise, com a ação do analista, novamente invocada, mas sob outro prisma. Ela converge para um fenômeno definido, na "Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola" (Lacan, 1968a/2003), como uma das coordenadas geográficas que o horizonte da psicanálise em extensão traça para a psicanálise em intensão.

Trata-se da universalização, que figura como injunção da presença progressiva da ciência, e que, estando associada a um profundo remanejamento das hierarquias sociais, teria por efeito a intensificação dos processos de segregação. Essa coordenada, a não ser desconhecida pelo analista em sua ação, resulta do modo como a ciência passou a intervir em nosso mundo a partir do que Lacan situou, em diferentes passagens (Lacan, 1966/1998, p. 871; Lacan, 1967, inédito), como uma ruptura datada. No desdobramento de seu ensino, contudo, ela vem a ser articulada em termos discursivos; com o que Lacan depura, segundo Milner (1996, p. 48), suas proposições acerca da ciência de uma leitura excessivamente historicizante.

 

A ciência fornece o material de que a psicanálise se constitui

Quando Milner (1996, p. 36) se refere a um doutrinal de ciência em Lacan, designa "a conjunção de proposições sobre a ciência e de proposições sobre o sujeito", na medida em que a hipótese de Lacan (1966/1998, p. 878) é de que a práxis da psicanálise "não implica outro sujeito senão o da ciência". Essa hipótese, assim formulada em "A ciência e a verdade", baseia-se em que o sujeito aí em questão, ligado à ciência, revela-se dela "um correlato antinômico, já que a ciência mostra-se definida pela impossibilidade do esforço de suturá-lo" (1966/1998, p. 875). Tem-se aí, portanto, algo que define a ciência segundo Lacan: a ciência se define pela impossibilidade de suturar o sujeito, impossibilidade a que conduz o esforço em fazê-lo. Tal delineamento da ciência - ou a ciência de Lacan, como poderíamos dizer - é aquele em que se assenta a relação com a psicanálise. A questão tange a que o sujeito sobre o qual a psicanálise opera é esse sujeito da ciência, fato distinto, como é notório ter Lacan (1966/1998, p. 878) demarcado, "da questão de saber se a psicanálise é uma ciência".

Partindo de Platão e Aristóteles, Koyré (1961/1991), que guia Lacan aqui, assinalou que a realidade a que o pensamento racional tinha acesso não era a do mundo em que nos movemos, mas a de um mundo à parte em que as ideias ou as essências eram as entidades conformes à razão. Na medida em que tais entidades só se realizavam imperfeitamente no mundo em que vivemos, a razão não encontrava nele a precisão, a regularidade que a definia. A realidade física dizia respeito ao domínio do impreciso, e sendo a matemática o retrato mais fiel da precisão, da regularidade, não se aplicava a uma física. Foi nestes termos que Koyré buscou retroceder às origens da atitude filosófica que precisou sofrer uma mutação para que a ciência moderna nascesse, nos moldes de uma física matemática.

O abismo que era percebido entre a matemática e a realidade física não foi superado, no entanto, pela descoberta de uma harmonia escondida entre as mesmas. Isso suporia um acordo prévio da realidade física com o necessário e o eterno representado pela matemática oriunda da herança grega. Tratou-se antes de determinar uma estrutura matemática para tal realidade, através da matematização, segundo a qual a "teoria matemática determina a própria estrutura da pesquisa" (Koyré, 1966/1991, p.74). Com isso, substitui-se "o mundo do mais ou menos, que é o da nossa vida quotidiana, por um Universo de medida e precisão" (Koyré, 1966/1991, p. 272). O advento da física matemática não postula, assim, a pré-existência de uma realidade matematizável, mas a constrói ao persegui-la. Esse marco estabelecido por Koyré para condicionar a chegada da ciência moderna implica o que Lacan (1966/1998, p. 869) designou, em "A ciência e a verdade", por "uma radical mudança de estilo no tempo de seu progresso, pela forma galopante de sua imisção em nosso mundo". Segue-se na argumentação lacaniana a indicação de que isso implica uma modificação radical em nossa posição de sujeito, inaugurada e reforçada cada vez mais pelo que aí opera.

Trata-se do sujeito de que a psicanálise se ocupará em sua práxis, e que surge, por seu lado, do próprio modo de funcionamento então estabelecido pela ciência, o qual acarreta o permanente progresso da expansão do Universo por ela constituído. O sujeito da psicanálise associa-se ao sujeito da ciência que surge como efeito da sutura que ela promove, na medida em que se "exclui automaticamente do Universo tudo o que não pode ser submetido à medida exata" (Koyré, 1966/1991, p. 273). Por outro lado, a definição da ciência pela impossibilidade do esforço de suturar o sujeito aponta para algo que excede a hipótese do sujeito, embora neste ínterim se apresente a ela vinculada: a relação da psicanálise com a ciência tem por referência a impossibilidade a que esta última conduz. Já na passagem em que atesta a impossibilidade da ciência em suturar seu sujeito, o que vem a afirmá-lo como o que resulta de tal fracasso, Lacan (1966/1998, p. 875) indica onde encontrará o suporte para o que desenvolverá nesse sentido: na lógica matemática. Se, em "A ciência e a verdade", ele postula ser a lógica moderna, "de modo inconteste, a consequência estritamente determinada de uma tentativa de suturar o sujeito da ciência" (Lacan, 1966/1998, p. 875), no Seminário livro 16: de um Outro ao outro, seguirá ponderando: "Que encontramos na experiência dessa lógica matemática senão, justamente, o resíduo em que se designa a presença do sujeito?" (Lacan, 1968-1969/2008, p. 97).

Nesse Seminário, contudo, tal referência desdobra-se na direção de verificar a inconsistência do Outro. A presença do sujeito estará, então, ligada ao fato de não haver a possibilidade, no campo do Outro, de uma consistência completa do discurso, o que Lacan (1968-1969/2008, p. 82) se esforça em evidenciar ser o que a lógica matemática demonstra: " O campo matemático, com efeito, consiste justamente em operar de forma desesperada para que o campo do Outro se sustente como tal - é a melhor maneira de demonstrar que ele não se sustenta, que não é consistente, como se diz em linguagem técnica".

A lógica matemática escreve a equivalência entre a impossibilidade a que a ciência conduz e a atestação de que o Outro não é consistente. Tanto em "A ciência e a verdade" (Lacan, 1966/1998, p. 875) quanto no Seminário livro 16 (Lacan, 1968-1969/2008, p. 83), o exemplo de Gödel é assinalado, na medida em que o teorema que leva seu nome impõe a conclusão de que a consistência de um sistema matemático é obtida ao preço de sua incompletude, ou, nos termos em que o problema é enunciado, de produzir indecidíveis, afirmações que o sistema não será capaz de julgar se verdadeiras ou falsas. A inconsistência, a incompletude, o indecidível interessam a Lacan por seu valor de escritura, na lógica matemática, da impossibilidade que, para ele, distingue a ciência. No Seminário livro 18: de um discurso que não fosse semblante, ainda em outro contexto de seu ensino, encontramos reiterado que "o discurso científico [...] só tem como referência a impossibilidade a que conduzem suas deduções" (Lacan, 1971/2009, p. 27).

Em sua crítica ao positivismo, Koyré (1966/1991, p.73) denuncia que o preconizado "tratamento puramente formal dos dados da observação" impunha como preço, à possibilidade de fazer predições válidas, o divórcio entre a teoria matemática e a realidade subjacente. Todo positivismo recusaria, assim, o conhecimento do real, preservando a operação no nível dos fenômenos. A crítica de Koyré (1966/1991, p. 72) ao positivismo acusa-o de ser "filho do fracasso e da renúncia". A associação da ciência ao conhecimento do real, em oposição à perspectiva positivista, não implicaria, como vimos, na crença em um vínculo prévio. O problema, para Koyré (1961/1991, p. 212), não é que se considere aparentemente inútil ou impossível o objetivo de conhecer o real. O problema é renunciar a tal objetivo. O espírito humano, segundo ele, contrariamente à renúncia positivista, acaba se pondo "outro vez a procurar a solução inaproveitável, ou impossível de problemas considerados como desprovidos de sentido".

Temos, com Lacan, a ciência abordada, no que concerne à relação com a psicanálise, a partir da impossibilidade que demarca, e a isso se soma a afirmação retomada a cada ocasião (Lacan, 1968-1969/2008, p. 319; 1971/2009, p. 27; 1971-1972/2012, p. 40) de que o impossível é o real. No momento em que Lacan define a ciência em função de um impossível que lhe seria correlato, é porque coube ao discurso analítico atestá-lo. A ciência fornece o material à psicanálise, como citamos acima, sem saber. É a psicanálise que o afirma ao autenticar a impossibilidade a que ela conduz, quando estabelece uma práxis que não tem outro sujeito que o que a ciência provê ao fracassar em sua tentativa de suturá-lo. Mas também por trazer o impossível para o âmbito de suas articulações, respondendo com sua orientação ao real à disjunção entre simbólico e imaginário promovida pela ciência. Tal disjunção é tomada no sentido de uma redução à literalidade que situa o modo de apropriação da articulação da ciência à matematização. No advento da física matemática, conforme formula Milner (1991), não se trata mais do Número em sua associação com o necessário e o eterno herdada dos gregos, mas da letra matemática, que fixa o empírico por sua própria operação.

A emergência do discurso analítico justamente requereu tal disjunção entre simbólico e imaginário consentânea com uma ciência que passou a ter por divisa a matematização: "Só a matematização atinge um real - e é nisso que ela é compatível com nosso discurso, o discurso analítico - um real que nada tem a ver com o que o conhecimento tradicional suportou" (Lacan, 1972-1973/1985, p. 178). Lacan denota por conhecimento tradicional aquele que propriamente ignorava tal disjunção consequente à matematização empreendida pela ciência. "Essa coisa com que se sonhara no passado, e que era chamada de conhecimento" (Lacan, 1971/2009, p. 49, p. 153), remetia à totalização, à complementaridade entre o cognoscente e o cognoscível, que Lacan (1971-1972/2011) fará equivaler a uma metáfora sexual, à fantasia de inscrição da relação sexual. A ciência, com a matematização, des-totaliza, conduz à impossibilidade, como é sustentado demonstrar a lógica matemática.

Por essa via, a subversão do conhecimento efetuada pela ciência pode ser lida, como o foi por Lacan (1971-1972/2011, p. 62), nos termos da inexistência da relação sexual. Se o impossível é o real, este se define agora por uma fórmula que não se escreve, a da relação sexual. Isso concerne ao que Lacan situava nos impasses da formalização matemática, a ciência deparando-se com o impossível ao tentar promover a elisão, com a escritura de uma fórmula no real. O passo dado pela psicanálise consistiria, à luz da leitura lacaniana, em não se evadir desse ponto em que se chega a que uma fórmula falta no real, em fazer da relação sexual que não se escreve seu ponto de partida. Desde aí, o real com que lidamos só poderá ser situado a partir da contingência (Miller, 1994-1995/2005, p. 333). Quanto a isso, ao dizer no Seminário livro 20: mais, ainda que o que a psicanálise encontra, encontra-o por vias essencialmente contingentes, Lacan (1972-1973/1985, p. 159) professa que "o truque analítico não será matemático. É mesmo por isso que o discurso da análise se distingue do discurso científico".

 

Os efeitos da ciência em nossa época configuram uma coordenada geográfica para a psicanálise

Como vimos, a pergunta sobre o que define a ciência moderna, que interessou a Koyré, interessa também à psicanálise com Lacan. No caso deste, importa ainda a pergunta sobre seus efeitos, concernentes à expansão de sua presença no mundo, condição que já é intrínseca ao que a distingue. A leitura de tais efeitos no laço social é invocada por Lacan no contexto mesmo de sua transmissão da experiência analítica. Encontramos passagens reiteradas (Lacan, 1959-1960/1991, p. 389; Lacan, 1966/2001, p. 11) em que ele endereça a seus ouvintes a questão relativa ao horizonte da escalada da ciência, tendo em conta a introdução de um elemento não regulável, com o puro manejo das letras matemáticas. Ao valorizar essa interrogação, é importante ao mesmo tempo, para Lacan (1969-1970/1992, p. 99), precaver-se do mal-entendido "de que minhas palavras poderiam implicar que se devesse frear essa ciência", o que seria contraditório com a própria concepção que tem da mesma. Ali onde não há uma militância reativa, contudo, também "não existe a menor ideia de progresso, no sentido de que esse termo implicaria uma solução feliz" (Lacan, 1969-1970/1992, p. 99).

Se, para além da oposição ou da adesão, Lacan afirma o interesse da psicanálise nos efeitos reportáveis à presença da ciência no mundo, há um período de seu ensino em que delimita com maior precisão um deles, ao qual não poderia ficar indiferente o analista. Trata-se, assim, de um fenômeno engendrado pela ciência, mas que se configuraria como uma coordenada para a ação do analista. Em uma sequência de intervenções iniciada com a "Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola" (Lacan, 1968a/2003) e seguida pela "Alocução sobre as psicoses da criança" (Lacan, 1968b/2003) e por um "Breve discurso aos psiquiatras" (Lacan, 1967, inédito), Lacan faz referência por três vezes, em um intervalo de trinta e dois dias, à ampliação dos processos de segregação como consequência da universalização introduzida pela ciência. Retomaremos aqui as três intervenções, de modo a verificar como a questão é articulada dentro do contexto de cada uma e, principalmente, segundo a orientação de que se trata sobretudo de situar, nesses termos, uma coordenada a não ser desconsiderada pelo analista.

Na "Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola", que trata da questão da garantia da formação do analista, resguardado o princípio de que o analista só se autoriza de si mesmo, Lacan (1968a/2003, p. 261) observa ser "no próprio horizonte da psicanálise em extensão que se ata o círculo interior que traçamos como hiância da psicanálise em intensão". Ele se refere à topologia do plano projetivo, na qual, diferente das retas paralelas comuns, que são infinitas, concebe-se o espaço não realizável em que as retas se encontram em um ponto no infinito, tornando-se homeomorfas ao círculo. É nessa perspectiva que o horizonte da psicanálise em extensão encontra-se implicado na discussão sobre o tema fulcral da psicanálise em intensão. Lacan centra-o, assim, em três pontos de fuga, os quais associa a cada um dos registros: simbólico, imaginário e real, seguindo a ordem em que os apresenta. Interessa-nos aqui o terceiro deles, exatamente o fenômeno a que fazemos referência.

Conforme o que nomeia como facticidades, no que qualifica como uma designação técnica (Lacan, 1968a/2003, p. 261), relativa ao núcleo da experiência analítica, a terceira delas, facticidade real 1, é indicada por Lacan ser "o que torna dizível o termo campo de concentração" (Lacan, 1968a/2003, p. 263). Afirma, em seguida, que o que vimos emergir dos campos de concentração "representou a reação de precursores em relação ao que irá se desenvolvendo como consequência do remanejamento dos grupos sociais pela ciência, e, nominalmente, da universalização que ela ali introduz" (Lacan, 1968a/2003, p. 263). As transformações por que passa a conformação social, tema para o qual atentou Lacan (1938/2003) desde o início, encontram-se aqui reportadas às injunções da ciência, mais especificamente à universalização por ela engendrada. Além disso, o fato dos campos de concentração é associado de modo exemplar ao que se desenvolve como consequência. A frase seguinte apresenta a conexão: "Nosso futuro de mercados comuns encontrará seu equilíbrio numa ampliação cada vez mais dura dos processos de segregação" (Lacan, 1968a/2003, p. 263).

Lacan relaciona à universalização promovida pela ciência a ampliação dos processos de segregação, a que responderia de modo precursor a ocorrência dos campos de concentração. O que há de precursor no campo de concentração com respeito à relação estabelecida por Lacan? Como citamos, ele toma o que vimos emergir dos campos de concentração como reação ao que advém do remanejamento dos grupos sociais consequente à universalização promovida pela ciência. Esse fator do questionamento de todas as estruturas sociais (Lacan, 1968b/2003, p. 359), do borramento das fronteiras (Lacan, 1967/inédito) será retomado nas intervenções seguintes, indicando a conexão entre a universalização da ciência e a segregação aqui em jogo. Quanto a esse ponto, podemos nos servir do que Lacan, em seguida ao que acaba de asseverar, interroga na posição de Freud. Ele questiona, afirmando não ser impensável, se "caberia atribuir a Freud ter querido, considerando sua introdução de nascença no modelo secular desse processo, assegurar a seu grupo o privilégio da insubmersibilidade universal de que gozam as duas instituições antes denominadas" (Lacan, 1968a/2003, p. 263). As duas instituições a que Lacan fizera referência antes no texto (Lacan, 1968a/2003, p. 262) são a Igreja e o Exército, modelos do que Freud concebeu como estrutura de grupo, reproduzidos na sociedade de psicanálise.

A estrutura de grupo aqui referida é aquela do elemento de exceção ocupando o lugar de ideal que, por ser comum a um número de indivíduos, possibilita o laço entre eles constituindo o grupo (Freud, 1921/1976). Ela encarna a lógica do ideal (associado a um elemento de exceção) que garante a consistência do laço entre os indivíduos. Não designaria esta última a lógica concernente ao que, nas intervenções de Lacan, situa a ordem social que veio a ser remanejada, questionada, borrada pela universalização da ciência? Ainda mais na medida em que ele interroga Freud quanto à pretensão de garantir a não dissolução do movimento psicanalítico pela adoção de um modelo cuja operatividade já se encontraria abalada por um processo no qual ele e a psicanálise estariam introduzidos de nascença. A universalização promovida pela ciência incidiria nas estruturas sociais, estabelecendo consequências que se tornam visíveis através do campo de concentração, precursor assim de um efeito de segregação que não se reporta à segregação estrutural que o grupo encarna. O que Lacan (1968b/2013, p. 361) precisa, no texto que analisaremos a seguir, ao retomar a relação entre o progresso da ciência e a segregação, dizendo se tratar agora, na época planetária em que enveredamos, da questão: "como fazer para que massas humanas, fadadas ao mesmo espaço [...] se mantenham separadas"?

Voltando à cogitação de Lacan sobre Freud, introduzido de nascença no processo que se encontrava em marcha, trata-se de ele ter tido a intenção de que seu grupo se mantivesse imune ao mesmo, permanecesse insubmerso. Vale registrar o comentário de Lacan de que, "como quer que seja, esse recurso [ao grupo] não torna mais cômodo para o desejo do psicanalista situar-se nessa conjuntura" (Lacan, 1968a/2003, p. 263). Como sabemos, Lacan rejeita a estrutura de grupo como suporte à sustentação do movimento psicanalítico, alertando, antes, que a coexistência "não nos faça esquecer um fenômeno que é uma de nossas coordenadas geográficas" (Lacan, 1968a/2003, p. 263). Ou seja, mais do que uma pretensa imunidade, ao analista, que não está fora do mundo, não é dado desconhecer os efeitos dos discursos que definem o laço social. O fato que se colocaria como incontornável, estabelecendo-se como uma coordenada geográfica para sua ação, é, lembremos mais uma vez, segundo Lacan, o aumento da segregação como consequência da universalização engendrada pela ciência, no qual os analistas também se encontrariam imersos.

Cabe destacar finalmente que, ainda nas articulações de Lacan, a referência à universalização da ciência é permutada por uma alusão ao capital, com a menção ao nosso futuro de mercados comuns. O futuro de mercados comuns, que veio a ser designado como globalização, eixo da ampliação dos espaços de acumulação do capital, encontra seu equilíbrio em um processo de segregação que tem como precursor o campo de concentração. Este último, ao mesmo tempo, teve notoriamente revelado o fundamento científico de sua operação (Agamben, 2010). No desdobramento de nossa discussão, interessará interrogar essa conjunção entre ciência e capitalismo a partir do que Lacan desenvolve em outros contextos.

Em "Alocução sobre as psicoses da criança", Lacan (1968b/2003, p. 359) volta ao tema, treze dias depois, agora em um contexto no qual se conjugavam "as questões referentes à criança, à psicose e à instituição". Em associação a elas, sua fala interroga o tema da liberdade, que naquele momento figurava sob o prisma da ideologia, "atualmente, a única de que o homem da civilização se arma" (1968b/2003, p. 360), em particular no âmbito do movimento da antipsiquiatria. Faz referência, assim, aos "amigos e colegas ingleses" que, no campo da psicose, vêm "a instaurar modas, métodos em que o sujeito é convidado a se proferir naquilo que eles entendem como manifestação de sua liberdade" (Lacan, 1968b/2003, p. 360). Em uma menção a Cooper, iniciador da antipsiquiatria inglesa, Lacan considera pertinente a ideia de produção da loucura, no sentido em que, por exemplo, "para obter uma criança psicótica, é preciso ao menos o trabalho de duas gerações, sendo ela seu fruto na terceira" (Lacan, 1968b/2003, p. 360). No âmbito das leis que estariam aí implicadas, no entanto, leis referentes às relações sociais, supunha-se que a superação das relações doentias, próprias à sociedade em que se vivia, tiraria o indivíduo da condição de doente, realizando-o em sua liberdade (Cooper, & Laing citados por Duarte Junior, 1983).

A ponderação que faz Lacan (1968b/2003, p. 360), no que concerne à relação entre loucura e liberdade, é a seguinte: "não será essa uma perspectiva meio estreita, quer dizer, será que essa liberdade, suscitada, sugerida por uma certa prática dirigida a esses sujeitos, não traz em si seu limite e seu engodo"? Ele não pretende dar a palavra final sobre a questão, mas sim situar a referência sem a qual ficaríamos presos nesse engodo. É justamente a partir da relação entre a universalização da ciência e a segregação que Lacan pensa poder articular o limite não assimilado à proposição de seus colegas ingleses. Aqui, qualifica-a como "o problema mais intenso de nossa época, na medida em que ela foi a primeira a sentir o novo questionamento de todas as estruturas sociais pelo progresso da ciência" (Lacan, 1968b/2003, p. 360). Novamente reporta-se ao remanejamento das estruturas sociais pela incidência da ciência, a partir do que "teremos que lidar, e sempre de maneira mais premente, com a segregação" (Lacan, 1968b/2003, p. 360). Indica ainda, mais uma vez, que a questão concerne ao que se formula desde o interior da experiência analítica. Reitera, portanto, ser uma questão quanto à qual "se trata de saber como responderemos, nós, os psicanalistas: a segregação trazida à ordem do dia por uma subversão sem precedentes" (Lacan, 1968b/2003, p. 361).

Referindo-se, então, à resposta do psicanalista à subversão promovida pela ciência, Lacan comenta não ter sido casual haver dedicado um seminário à ética da psicanálise (Lacan, 1959-1960/1991), na medida em que "parece que corríamos o risco de esquecer, no campo de nossa função, que há uma ética na base dele" (Lacan, 1968b/2003, p. 362). Com relação a esta, afirma que "Freud repôs o gozo em seu lugar", lembrando que "toda formação humana tem, por essência, e não por acaso, de refrear o gozo" (Lacan, 1968b/2003, p. 362). Ao analista, portanto, não é dado esquecer que o laço social se funda em um deslocamento do gozo, o que oferece contornos mais precisos para o chamado de Lacan aos analistas quanto à sua interpelação pela universalização empreendida pela ciência e ao que está em jogo na segregação aí engendrada. Igualmente situa-se o campo, campo do gozo, onde se equaciona aquilo de que não escapa a antipsiquiatria na questão relativa ao limite de suas proposições.

Ao final da intervenção, o problema é retomado com a introdução do termo "criança generalizada" (Lacan, 1968b/2003, p. 367). Por um lado, Lacan articula este termo à consequência da ignorância mantida quanto ao lugar do gozo pelo sujeito da ciência. Por outro lado, faz referência a uma passagem do livro Antimemórias (1968), de André Malraux, publicado naquele mesmo ano: "o autor as abre com a confidência, de estranha ressonância, com que dele se despediu um religioso: 'Acabei acreditando, veja só, neste declínio de minha vida', disse-lhe ele, 'que não existe gente grande'" (Lacan, 1968b/2003, p. 367). Complementa a citação com a conclusão: "Eis o que assinala a entrada de um mundo inteiro no caminho da segregação" (Lacan, 1968b/2003, p. 367). Parece reforçar-se nessa conjunção a ideia de que a ampliação da segregação, a entrada de um mundo inteiro no caminho da segregação aponta para a elisão da relação com o gozo implicada no enquadramento generalizado requerido pelo sujeito da ciência. Estariam associadas a tal elisão a menção à criança generalizada e a paráfrase do não existe gente grande de Malraux. Finalmente, na conclusão, uma derradeira invocação aos analistas: "Não é por ser preciso responder a isso que agora entrevemos por que, provavelmente, Freud sentiu que era seu dever reintroduzir nossa medida na ética através do gozo" (Lacan, 1968b/2003, p. 367)?

Ainda em uma terceira ocasião, endereçando-se a psiquiatras no Hospital Sainte-Anne, dezenove dias depois, Lacan (1967/inédito) volta à argumentação. É o caso de adentrá-la no ponto que antecede sua abordagem da questão que aqui tratamos. Nesse "Breve discurso aos psiquiatras" referia-se, então, à relação destes com o louco, comentando que outras barreiras foram colocadas em lugar de isolá-lo. Já não era preciso asilar o louco para torná-lo dócil, o que agora se obtinha ao tomá-lo como objeto de estudo da ciência. Acrescenta Lacan que a psiquiatria reencontrou seu propósito de se equivaler ao que compõe o quadro de uma medicina geral, na medida em que uma e outra entraram inteiramente no dinamismo farmacêutico. Com a substituição da experiência clínica com o louco por sua apreensão como objeto de estudo e de experimentação da psicofarmacologia, o que produz barreira é da ordem de uma posição hierárquica, desde a qual o psiquiatra responde à existência do louco por outra coisa que não por uma angústia que seria coextensiva a essa experiência. A relação do sujeito com um objeto estranho, parasitário, própria da loucura, revelada especialmente ao nível da voz, deixa de se colocar como ponto de interrogação.

A angústia foi, portanto, associada à experiência da loucura no plano da relação com o objeto, ponto de apoio também para o que Lacan (1967/inédito) retoma da conexão entre o que define o sujeito e o que constituiu a ciência, em termos de uma ruptura, no século XVII. Essa retomada se vincula à discussão em andamento, uma vez indicada a correlação entre a emergência da ciência e o isolamento de um sujeito puro. Lacan observa que esse sujeito só existe como sujeito do saber científico, mas, sobretudo, indica tratar-se do sujeito no qual se encontra velada justamente a parte tocante à relação com o objeto. Ele irá, a partir daí, aludir novamente às profundas reelaborações das hierarquias sociais que caracterizam nosso tempo, dessa vez em associação com a expansão do que está designando como sujeito puro da ciência, que tem por condição o velamento da relação com o objeto. Igualmente aparece reiterado o que define o preço que se paga por essa universalização do sujeito - sujeito puro, que exclui a relação com o objeto - e pelo remanejamento a que ela compele: a ampliação da segregação.

Nessa retomada da articulação por Lacan, diferente das outras intervenções, ele estabelece diálogo com a associação freudiana entre o mal-estar e o processo civilizatório (Freud, 1930/1976). Quanto ao que resulta dos progressos da civilização, destaca-se o posicionamento da segregação não em equivalência com o mal-estar, reportável ao laço social, mas em um mais-além do que Freud situou a seu tempo. Nessa via, renova a posição de que o que se passou no contexto do nazismo teria respondido de modo precursor à universalização que resulta do progresso do sujeito da ciência, ao que acrescenta, dessa vez, o que se reproduziu em seguida um pouco mais ao Leste, no que concerne a concentrar pessoas.

Em função do que disse antes, Lacan supõe que, no futuro, o historiador poderá perguntar por que o psiquiatra, que se encontrava em posição de compreender as mudanças que se passavam em nível planetário, no que tange a esse efeito de segregação, encontrava-se adormecido. Volta aí, para concluir, à ideia de que tal limitação na posição do psiquiatra está associada a não poder ter visto claramente do que se trata na sua relação com a loucura. E não terão visto, acrescenta agora Lacan, porque tinham o meio para vê-lo: a psicanálise estava ali, mas preferiram fazer dela um meio de ascensão social, de manutenção de certa ordem. Retomando o que ele havia indicado ficar de fora, podemos inferir que a visada que a psicanálise incluiria é a da relação com o objeto, assim como há poucos dias (Lacan, 1968b/2003) sublinhara ser ela, com Freud, quem restituiu o gozo a seu lugar. Isso, que orienta a elucidação da questão dos efeitos de segregação com que passamos a lidar, não faculta ao analista, como temos verificado, uma posição de alheamento; antes convoca-o, ao mesmo tempo que o habilita, a articular os discursos que se encontram em jogo.

 

O que está na base dos discursos - o impossível - e o que neles se lê: ciência e capitalismo

Em uma das intervenções de Lacan (1968b/2003) que examinamos, como viemos de mencionar, a indicação concernente à expansão da segregação, a qual se encontra associada à universalização promovida pela ciência, introduz a pergunta se não se encontraria aí uma razão para a psicanálise reintroduzir o gozo no caminho da ética. Em outra das intervenções (Lacan, 1967/inédito), conforme também verificamos, diante de tal expansão da segregação, o que é afirmado não poder ser desconsiderado, a partir do que a psicanálise permite ver, é a relação com o objeto que se exclui no âmbito do sujeito puro da universalização da ciência. Desde aí, partamos do ponto em que, no ano seguinte a tais intervenções, ao formular a proposta de seu Seminário livro 16: de um Outro ao outro, Lacan (1968-1969/2008, p. 16) introduz a ideia do mais-de-gozar a fim de situar "a função essencial do objeto a" 2. Identificamos, assim, na conjunção da função do objeto com a problemática do gozo, a trilha traçada na abordagem do tema da segregação, confluindo aqui para uma perspectiva estrutural.

Com o mais-de-gozar localizando o gozo na estrutura, estabelecem-se os termos em que Lacan (1968-1969/2008, p. 17) formula a noção de discurso com que irá trabalhar nos anos seguintes, a qual apoia, de saída, a pergunta sobre um discurso analítico. Para tal, ele precisou estabelecer que não se trata, no que entende como discurso, de dar a forma de um conteúdo: " Se alguém quiser explicar o discurso de outra maneira, como expressão ou como relação com um conteúdo para o qual se inventa a forma, fique à vontade. Mas observo então que é impensável, nessa situação, que vocês inscrevam nele, seja a que título for, a prática da psicanálise" (Lacan, 1968-1969/2008, p. 31).

Ou, como formulou no ano seguinte, o discurso não concerne à abstração de qualquer realidade que ele daria a conhecer, referindo-se antes ao "discurso que já está no mundo e que o sustenta" (Lacan, 1969-1970/1992, p. 12). Remetendo ao que situamos como divisa da ciência moderna, ainda em outro momento, Lacan (1971/2009, p. 49) indicou que, no que tange ao discurso analítico e ao que ele articula, se encontra subvertida "essa coisa com que se sonhara no passado, e que era chamada de conhecimento". Já no discurso sem fala anunciado no Seminário livro 16 (Lacan, 1968-1969/2008, p. 11), através do qual buscou formalizar um discurso analítico, são as letras que compõem uma estrutura designada por matema. Assim como, no Seminário seguinte, o que vem a compor, com o discurso analítico, os quatro discursos 3 se baseia no remanejamento dessas letras entre os lugares da estrutura. Trata-se, assim, como dissemos, não do que esse aparelho descreve, mas do que o manejo dos termos na estrutura torna formulável em cada uma de suas posições e na relação entre elas. Há aí, portanto, uma operação consequente à matematização que funda a ciência, nos termos em que vimos Lacan a conjugar, subvertendo a cópula entre o cognoscente e o cognoscível. Com o matema, visa a uma transmissão para além disso que se encontra subvertido pela matematização.

O discurso analítico foi introduzido, contudo, em distinção ao discurso matemático, quanto ao qual é dito "que cada uma de suas operações é feita para tamponar, elidir, recoser, suturar a todo instante a questão do desejo" (Lacan, 1968-1969/2008, p. 47). É o que se encontra em jogo na concepção de que estaríamos, com a psicanálise, diante da emergência de um novo discurso: "no discurso analítico, ao contrário, trata-se de dar plena presença à função do sujeito, invertendo o movimento de redução que habita o discurso lógico, para nos centrarmos perpetuamente no que é falha" (Lacan, 1968-1969/2008, p. 47). Se, como desde o início do artigo mostramos Lacan formular, o discurso que ele aqui chama de matemático chega à falha através do esforço mesmo de suturá-la, o discurso analítico contrapor-se-ia por estar perpetuamente centrado nessa falha.

Essa falha indica, assim, para a psicanálise, um impossível, a que Lacan (1971-1972/2011, p. 61) atribui o privilégio desse discurso em articular os demais, no que configura o matema constituído pelos discursos do mestre, universitário, do analista e da histérica: "se há uma coisa certa é que só pude articular esses três discursos numa espécie de matema porque surgiu o discurso analítico". Conforme o apontamento de que o impossível é o real, e delimitando que "esses quatro discursos constituem de maneira tangível algo de real" (Lacan, 1971-1972/2011, p. 61), tal prerrogativa é reportada a que, para situar o real, "não há outro caminho senão o último discurso surgido dos quatro, aquele que defino como discurso analítico" (Lacan, 1971-1972/2011, p. 64). Nessa articulação dos discursos, condicionada à emergência daquele que veio a situar o que se encontra na base dos mesmos, interessa-nos ler o que nela se conjuga de uma copulação entre capitalismo e ciência (Lacan,1969-1970/1992, p. 103).

Embora não coincidam com nenhum dos quatro discursos designados por Lacan no matema que foi originalmente proposto no Seminário livro 17: o avesso da psicanálise (1969-1970/1992), a ciência e o capitalismo constam de modo importante no âmbito de tal articulação, seja no contexto efetivo de tal Seminário, seja na teorização que o antecede e o sucede. É possível constatar que figuram inclusive como pano de fundo para a emergência do que o autor nomeia como discurso analítico (Lacan, 1971-1972/2011, p. 88), o que remete ao que já foi visto aqui, especificamente com relação ao laço constitutivo entre psicanálise e ciência. Desde aí, as questões que guiam nossa leitura são: Do que Lacan fala quando fala da copulação do capitalismo com a ciência? Por que esta coordenada precisou ser articulada por um ensino que se apoia no discurso analítico? E, finalmente, que implicações derivam da ideia de tal copulação para o vínculo entre psicanálise e ciência desde antes asseverado por Lacan?

Previamente à articulação entre capitalismo e ciência, é preciso indicar que, embora não haja a efetiva formalização, no âmbito dos discursos, de um discurso da ciência, esta última consta associada a outros discursos, em diferentes momentos. No contexto do Seminário livro 17, é o discurso universitário "que mostra onde o discurso da ciência se alicerça" (Lacan, 1969-1970/1992, p. 97). O que é visado nessa vinculação é a problemática do saber, revelando o que Marx não teria se dado conta: que no próprio saber está o segredo do que ele denuncia como espoliação. O giro do discurso do mestre ao discurso universitário instaura, "no lugar do senhor, uma articulação eminentemente nova do saber" (Lacan, 1969-1970/1992, p. 76), a qual exploraremos, adiante, por se referir, nesse Seminário, também à designação do capitalista como mestre moderno.

Antes disso, cabe mencionar que Lacan (1970/2003) também inscreveu a ciência no registro do discurso histérico. É o contrário, ele diz, do giro que conduz ao discurso universitário, como se vê no matema dos quatro discursos. Tomando o discurso universitário como um aumento da dominação, por tratar-se do discurso do mestre reforçado por seu obscurantismo, na outra via "a ciência ganha impulso a partir do discurso da histérica" (Lacan (Lacan, 1970/2003, p. 436). Na passagem do discurso do mestre ao discurso da histérica, a pretensão totalizante do primeiro é confrontada ao sujeito dividido no lugar de agente. Trata-se do sujeito correlato, como vimos em "A ciência e a verdade" (1966/1998), à emergência da ciência moderna. É por referência a esse instante, em que se põe contra a parede um saber de mestre, que é possível afirmar que "o discurso científico e o discurso histérico têm quase a mesma estrutura" (Lacan, 1974/2003, p. 522, grifo do autor). Com o saber no lugar de agente no discurso universitário, retoma-se, contudo, um mestre totalitário.

No Seminário livro 17, Lacan (1969-1970/1992, p. 76) se refere ao "ideal de uma formalização onde tudo é conta", perguntando se não é por aí que se estabelece a articulação eminentemente nova do saber a que nos reportamos. No mesmo Seminário afirma:

Alguma coisa mudou no discurso do mestre a partir de certo momento da história. Não vamos esquentar a cabeça para saber se foi por causa de Lutero, ou de Calvino, ou de não sei que tráfico de navios em torno de Gênova, ou no Mar Mediterrâneo, ou alhures, pois o importante é que, a partir de certo dia, o mais-de-gozar se conta, se contabiliza, se totaliza. Aí começa o que se chama de acumulação de capital (Lacan, 1969-1970/1992, p. 169).

Quando se passa a contar o mais-de-gozar, tem início a acumulação do capital. No ano anterior, Lacan (1968-1969/2008, p. 37) já indicara que a mais-valia aparece no discurso à condição de que a lógica de mercado tenha se absolutizado: "foi necessária a absolutização do mercado, chegando a ponto de englobar o próprio trabalho, para que a mais-valia se definisse como se segue", para que viesse a ser formalizada por Marx. O que importa nessas indicações é o fato de Lacan ter estendido a mesma lógica ao domínio do saber. Nos discursos, trata-se da relação entre saber e gozo. A emergência do discurso analítico se inscreve aí, situando a mais-valia sob a ótica do mais-de-gozar.

Quanto ao ponto que aqui visamos, Lacan (1968-1969/2008, p. 38) observa, no contexto dessa articulação, "que a realidade capitalista não tem relações muito ruins com a ciência". Justamente porque também se encontra em jogo, ao mesmo tempo, "o próprio processo pelo qual a ciência se unifica", no qual ela "reduz todos os saberes a um único mercado" (Lacan, 1968-1969/2008, p. 40). Concomitante à absolutização do mercado condicionada à lógica capitalista, conforme formalizada por Marx, Lacan assinala igualmente a homogeneização dos saberes em um mercado da ciência, através do que o capitalismo encontraria a mencionada afinidade com esta última. Vejamos em que termos ele se avizinhou dessa interligação em outras passagens de seu ensino.

Quando situou a ciência em seu sentido moderno, em "A ciência e a verdade" (1966/1998), Lacan associou-o a uma aceleração da presença da ciência em nosso mundo Segundo Koyré (1966/1991), referência para esse assinalamento lacaniano, como vimos, tal aceleração se encontraria conjugada a uma perspectiva em que, mais do que conhecer a realidade, se trataria de operar a introdução nela de uma estrutura adequada a uma ciência matematizada. O modo de presença da ciência em nosso mundo se esclareceria, assim, por razões da própria matematização por ela requerida. Menos de três meses após proferir a aula cuja estenografia deu origem à publicação de "A ciência e a verdade", contudo, Lacan introduz outro elemento na discussão.

Referimo-nos à conferência em que se endereçou a médicos, intitulada "O lugar da psicanálise na medicina" (Lacan, 1966/2001, p. 9); onde indica, dentre outras coisas, que o condicionamento à ciência, no caso da medicina, é subvencionado por créditos sem limites, os meios lhe sendo fornecidos do exterior de sua função, "especialmente da organização industrial". Encontramos aí a suposta cientificização da atividade médica associada às razões do capital, o que se repete na conferência quando, por exemplo, Lacan observa que a produção industrial de agentes terapêuticos químicos ou biológicos demanda do médico que se converta em agente distribuidor (Lacan, 1966/2001, p. 10). A lógica capitalista é o elemento novo que se encontra relacionado à aceleração da presença da ciência no mundo, para além do que designaria estritamente seu modo de operar. A assim nomeada copulação do capitalismo com a ciência condiz com a evidência de que "o capitalismo reina porque está estreitamente ligado à ascensão da função da ciência" (Lacan, 1968-1969/2008, p. 233).

No Seminário livro 17, Lacan (1969-1970/1992, p. 140) avançou na especificação, quanto à ascensão da ciência, de que se trata de "um mundo onde emergiu, de maneira que existe de fato, sendo uma presença no mundo, não o pensamento da ciência, mas a ciência de algum modo objetivada". Refere-se às "coisas inteiramente forjadas pela ciência", os gadgets. Em seguida, fala da "proliferação desses objetos feitos para causar o desejo de vocês, na medida em que agora é a ciência que o governa", tomando-os por pequenos objetos a que encontramos "no pavimento de todas as esquinas, atrás de todas as vitrines" (Lacan, 1969-1970/1992, p. 153). Em um dos textos que destacamos antes, o do "Breve discurso aos psiquiatras" (Lacan, 1967/inédito), ele já havia se referido, como um dos frutos mais tangíveis da transformação da ciência, à incidência dos objetos a, que agora correm por toda parte, sempre prontos a nos capturar a cada esquina. Tal efeito do desenvolvimento do sujeito puro da ciência é dito, na mesma conferência, encontrar sua contrapartida na expansão da prática da segregação, por nós enfocada acima.

Na conferência proferida posteriormente em Milão, Lacan (1973/inédito) observou que a exploração do desejo, chegando a sua industrialização, figura como a grande invenção do discurso capitalista. Na medida em que antes afirmara que é a ciência que produz esses objetos feitos para causar o desejo, evidencia-se aí, também nessa direção, a conjunção do capitalismo com a ciência. Quanto a essa aproximação, interessa-nos destacar que ela se faz, segundo o que vemos propor Lacan, na medida em que se pode encontrar, no domínio da ciência, a absolutização, a homogeneização a um único mercado que distinguem o discurso capitalista. Nesse sentido, podemos considerar que a universalização que vimos ser por ele indicada a ciência promover, tendo por efeito a ampliação dos processos de segregação, não estaria alheia às determinações do discurso capitalista. Não por acaso, a formalização deste último 4, na mesma conferência, assinala o rechaço do que, no matema, atestava a hiância desde a qual se faz concebível a aquiescência dos discursos com a dimensão da impossibilidade e se estabelece uma lógica de passagem de um discurso a outro. Na apresentação do discurso capitalista por Lacan, a disposição das setas atesta uma circularidade a suprimir o que, nos discursos antes formalizados, assegurava a hiância.

Ao longo de seu ensino, a caracterização do discurso capitalista por Lacan, nas passagens em que o menciona, já se centrava no repúdio ao que está na base de uma articulação dos discursos que os situa em torno à impossibilidade de totalização. São suas palavras: "o que distingue o discurso do capitalismo é isto: a Verwerfung, a rejeição para fora de todos os campos do simbólico, com as consequências de que já falei - rejeição de quê? Da castração" (Lacan, 1971-1972/2011, p. 88). Para Alemán (2012), essa abolição da externalidade, esse cancelamento do limite que o próprio discurso engendra, traduzir-se-ia, no âmbito da ciência, por um empuxo à técnica, por sua conversão em campo de manobra técnica por injunção do discurso capitalista. Nesse sentido, entendemos que se encontra interpelada a relação entre a psicanálise e a ciência, na via em que Lacan a fundamentou pelo que delimita uma exclusão interna à operação da ciência - o sujeito como seu correlato antinômico.

É o sujeito puro promovido pela universalização da ciência, e não o sujeito dividido que a psicanálise posiciona no limite do discurso da ciência, que suporta esses objetos forjados, gadgets, que encarnam a junção do discurso da ciência com o discurso do capitalismo. Na formulação do discurso do capitalista por Lacan (1973/inédito), além da subversão do que implicava a disposição descontínua das setas nos discursos, encontra-se a inversão, por referência ao discurso do mestre, da posição do S1 com a do sujeito. Isso poderia articular a colusão entre o objeto mercadoria e o sujeito puro da ciência, pretendendo revogar a barreira que, no discurso do mestre, situava a hiância entre o sujeito dividido e o objeto a, estabelecendo o caminho da fantasia.

A revogação do limite pretendida pelo discurso capitalista configura, segundo suas diferentes inserções, uma questão nos termos em que Lacan define a ciência fornecer o material de que o discurso analítico se constitui, na medida em que nessa relação se encontraria implicada justamente a impossibilidade a que aquela conduz. Desse modo, ao articular o discurso capitalista, Lacan (1971/2009, p. 36) estabelece as coordenadas segundo as quais ele determina um problema: "Trata-se em suma de pôr uma coisa à prova: se a chave dos diversos problemas que se proporão a nós não está em nos colocarmos no nível do efeito da articulação capitalista".

Retomando a citação na qual o discurso capitalista é distinguido por rejeitar a castração, Lacan (1971-1972/2011, p. 88) afirma, em sua sequência, ter sido justamente por isso que, "dois séculos depois desse deslizamento - vamos chamá-lo de calvinista, por que não? -, a castração fez, enfim, sua entrada irruptiva sob a forma do discurso analítico". A emergência do discurso analítico encontra-se associada, assim, àquilo que o discurso capitalista pretenderia excluir: a própria exclusão interna ao modo pelo qual um discurso opera. Entendemos que é isso que torna, segundo Lacan (1972b/inédito), o discurso capitalista insustentável, o que pleiteia em uma intervenção na qual declara ser essa a razão pela qual ele provocou a necessidade do discurso analítico. Este último vem a situar, em face do que se pretendia suprimir, a impossibilidade.

O que é dito consistir em algo astucioso no discurso capitalista (Lacan, 1972a/ inédito), por comparação ao que definia o discurso do mestre e os demais, coloca, ao mesmo tempo, o problema de seu estatuto enquanto discurso, estando fadado ao esgotamento por falta justamente de um ponto de frenagem. Nos termos em que é proposto, trata-se de um discurso insustentável, contrário ao que enseja a própria articulação dos discursos por Lacan. Se seus parâmetros corrompem a lógica discursiva presente na formalização consequente à efetivação do discurso analítico, ele estaria ali, então, justamente para situar o discurso que não se sustentaria, para fixar um limite à concepção do discurso que suportaria o laço social (Lacan, 1971-1972/2012, p. 146).

Buscamos indicar que, se Lacan vincula os efeitos da expansão da ciência ao que nela designa como universalização, efeitos de ampliação dos processos de segregação, é no mesmo sentido de uma homogeneização, de uma absolutização, que ele enxerga o capitalismo se ligar à ascensão da ciência. Vemos ao longo de seu ensino que, enquanto a relação entre a ciência e a psicanálise é localizada estruturalmente naquilo que a primeira engendra como falha, quanto ao discurso capitalista, ele tornaria necessária a entrada em cena do discurso analítico justamente pelo rechaço ao que é da ordem da falha no discurso. De um lado, um discurso que se funda na falha que resulta do esforço em suturar da ciência, definindo assim a ciência com a qual a psicanálise guarda uma relação pela qual, como vimos Lacan afirmar, a primeira forneceria a ela seu material. De outro lado, um discurso que rejeita a falha que concerne à tessitura dos discursos, em particular quanto ao limite que a ciência, como situada desde o discurso analítico, comportaria. Reitera-se, assim, que o modo como é sustentada a relação entre psicanálise e ciência por Lacan convoca à interrogação do discurso capitalista.

 

 

Referências

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Artigo recebido em: 22/09/2017
Aprovado para publicação em: 25/10/2018

Endereço para correspondência
Vinicius Anciães Darriba
E-mail: viniciusdarriba@gmail.com

 

 

*Professor Associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - Instituto de Psicologia - Programa de Pós-Graduação em Psicanálise; Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Bolsista de Produtividade em Pesquisa (PQ2) do CNPq; Bolsista Prociência da UERJ.
1A facticidade em Heidegger (Heidegger, 1923/2012) refere-se às condições do homem lançado ao mundo sobre as quais não se tem escolha, das quais não participa sua vontade. Quanto às outras duas facticidades: "no simbólico", Lacan diz, "temos o mito edipiano" (Lacan, 1968a/2003, p. 261) e, no imaginário, refere-se à unidade promovida pela estrutura de grupo cujo modelo Freud concebe a partir das identificações imaginárias.
2O mais-de-gozar situa a função do objeto a na medida em que "o sujeito, seja qual for a forma em que se produza sua presença, não pode reunir-se em seu representante de significante sem que se produza, na identidade, uma perda" (Lacan, 1968-1969/2008, p. 21) . O objeto a, mais-de-gozar, localiza essa perda de gozo da qual se extrai ao mesmo tempo um suplemento.
3Os quatro discursos.

 


 

Os lugares:
Os termos: S1: significante mestre; S2: saber; : sujeito; a: objeto mais-de-gozar.
4Discurso do mestre e discurso do capitalista.

 


 

 

 

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