SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.51 número1Puede la transexualidad operar como anudamiento del sujeto?Desarraigo y radicalización en la juventud contemporánea índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Tempo psicanalitico

versión impresa ISSN 0101-4838versión On-line ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.51 no.1 Rio de Janeiro enero/jun. 2019

 

ARTIGOS

 

Ter duas mães: dinâmica da triangulação em filhos de casais de lésbicas

 

Having two mothers: the triangulation dynamics of children in lesbian led families

 

Avoir deux mères: dynamique de la triangulation chez des enfants de couples de lesbiennes

 

 

Francis Anne CarneiroI*; Ângela Vila-RealI, II**

IInstituto Universitário - Brasil
IISociedade Portuguesa de Psicanálise - SPP - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

As autoras fazem uma reflexão teórica centrada em duas questões fundamentais equacionadas pela psicanálise: a triangulação edipiana e a identificação. O objetivo é o de problematizar a dinâmica destes dois processos em crianças vivendo com duas mães, o que anula a oposição básica binária e obriga a construção de novos posicionamentos sobre a diferenciação e a organização interna frente a esse novo cenário familiar. Com isso, são discutidas novas possibilidades de arranjo triangular, identificatório e de diferenciação frente à ausência de uma polarização anatômica, quer se trate dos meninos, quer das meninas de uma família constituída por duas mães.

Palavras-chave: homoparentalidade, triangulação edipiana, identificação.


ABSTRACT

The authors are reflecting about two fundamental questions considered by psychoanalysis: Oedipus triangulation and identification. The main purpose is to problematize the dynamic of these two processes in children from families with two mothers. These modern families invalidate the basic gender binary concept and forces the development of new theoretical positions about internal differentiation and organization. Therefore, new possible arrangements of triangulation, identification and differentiation are discussed due to the absence of an anatomic polarization, both for boys and girls from lesbian-led families.

Keywords: homoparenting, Oedipus triangulation, identification.


RÉSUMÉ

Les auteurs font une réflexion théorique centrée sur deux questions fondamentales posées par la psychanalyse: la triangulation œdipienne et l'identification. Le but est celui de problématiser la dynamique de ces deux processus chez des enfants qui vivent avec deux mères, ce qui annule l'opposition binaire de base et force la construction de nouveaux positionnements sur la différentiation et l'organisation interne face à ce nouveau scénario familial. On discute les nouvelles possibilités de compositions triangulaires, identificatoires et de différentiation face à l'absence de polarisation anatomique, qu'il s'agisse des garçons et des filles dans une famille composée par deux mères.

Mots-clés: homoparentalité, triangulation œdipienne, identification.


 

 

Nossa reflexão incide sobre os problemas teóricos levantados pelas famílias homoparentais referentes ao mundo interno infantil. Questionamos como se desenvolverão essas crianças do ponto de vista psicodinâmico e como se configura o seu psiquismo. A análise é feita a partir da situação do menino e da menina que se desenvolvem em uma família homoparental lésbica. Nosso objetivo é compreender de que maneira se constituem a organização edipiana e os movimentos de identificação.

O complexo de Édipo ocupa uma posição de destaque na teoria psicanalítica. Existem uma forma positiva e outra negativa, mas, na maioria das vezes, assiste-se a uma oscilação da criança entre essas duas atitudes (Freud, 1898/1962), o que remete para a forma completa do complexo de Édipo (1923/1961). Nessa conceptualização, o órgão genital masculino tem um papel dominante. Os meninos explicam a diferença anatômica pela castração resultante de um castigo imposto às mulheres e às meninas (Freud, 1924b), o que, por conseguinte, os meninos temem para si. A realização do desejo sexual infantil confronta-se com a ameaça da castração. Surge, portanto, um conflito entre os interesses narcísicos do rapaz relativos a essa parte do corpo e a catexia libidinal em seus objetos parentais. A possibilidade de perder o pênis torna-se inaceitável (Freud, 1924/1961, 1924a, 1924b) e a criança renuncia aos desejos edipianos (Freud, 1924/1961) justamente para evitar se confrontar com essa situação. O sexo feminino desenvolve, igualmente, um complexo de Édipo, porém, ao comparar-se com o rapaz, a menina se sente colocada em um patamar de inferioridade e surge a inveja do pénis.

Também a identificação sofre transformações. O menino idealizava o pai e desejava identificar-se com ele. Paralelamente a esta identificação, o investimento libidinal direcionado à mãe desenvolve-se. O menino percebe que o pai está no seu caminho e a identificação fica tingida por sentimentos hostis (Freud, 1922/1955). A menina, por sua vez, dirige ao pai os impulsos sexuais e identifica-se com a mãe colocando-se no lugar desta em sua relação com o seu pai (Freud, 1922/1955). Consequentemente, a mãe é colocada no lugar de rival dessa menina. A origem da sua hostilidade parece estar associada a momentos precoces do desenvolvimento da menina em que a mãe (o seu objeto de amor) lhe recusou o leite. A insatisfação provocada pela falta da mãe torna o pai o objeto de amor e ocorre, então, a entrada no complexo de Édipo (Freud, 1932/1964). Freud é, assim, levado a estabelecer uma diferenciação entre a identificação e a escolha objetal considerando-as mutuamente exclusivas vivenciadas de formas distintas para os meninos e as meninas.

Para Balsam (2010), o complexo de Édipo, mais do que um imperativo de natureza sexual, é uma fase de desenvolvimento em que a triangulação internalizada dos objetos se torna possível. O indivíduo cresce para além do quadro interno das preferências diádicas, ficando a criança mais atenta ao seu próprio corpo sexual e desenvolvendo fantasias mais complexas. O Édipo reflete uma nova capacidade para integrar ambas as figuras parentais. Para que o processo de diferenciação ocorra, é fundamental que o desejo e a identificação estejam presentes dentro da resolução edipiana. Nos casos tradicionais, ambos os gêneros têm a mãe como primeiro objeto de amor e desejam o pênis. Enquanto o menino apenas tem de encontrar outra mulher, a menina tem de orientar o seu desejo para um homem. Além disso, a menina, de acordo com a teoria clássica, tem de transformar o objetivo libidinal de ativo em passivo. Seguindo a via heterossexual, o rapaz resolve a sua ansiedade de castração através da identificação com o masculino e do desejo pelo feminino. A rapariga, no entanto, resolve o seu complexo de castração através do desejo pelo masculino e uma re-identificação com a mãe. A não resolução do Édipo resultará na fixação em um estádio infantil e na impossibilidade de passar da relação diádica para a triádica. Não obstante, as teorias da sexualidade e identidade de gênero necessitam de novas considerações (Barden, 2011).

A visão de Balsam (2010) corrobora a visão freudiana no que tange à ausência de coincidência entre o objeto de identificação e o objeto de desejo. Freud apercebeu-se da bissexualidade psíquica de todos os indivíduos (Freud, 1905/1953), porém, somente em Klein encontrámos a fundamentação desenvolvimental desse conceito no complexo de Édipo primitivo. Na fase sádico-oral do desenvolvimento psicossexual (Klein, 1923; 1945/1989) e, mais precisamente, na posição depressiva, o bebê começa a conceber a mãe como objeto total e o vínculo libidinal entre pai e mãe é reconhecido (Klein, 1952). Ocorrem as flutuações entre o édipo invertido e o édipo positivo (Klein, 1945) em que, para ambos os sexos, o primeiro objeto é o seio da mãe e o pai, que é o objeto rival, será também um objeto de desejo e de identificação alternativo (Klein, 1927, 1928, 1945). Tanto a incorporação do pênis, como a do seio podem constituir-se como movimentos homo ou heterossexuais, dado que, de modo oscilante, podem ser tomados tanto como objetos de desejo como de identificação (Klein, 1932/1989; Segal, 1979/2002).

O impacto que o movimento feminista teve na psicanálise (Barden, 2011) alterou a visão da dinâmica feminina. Na década de 70, Nancy Chodorow (2002) socióloga e psicanalista feminista de renome, concebeu a mulher sem a contrastar com o homem. No seu entender, a pluralização das conceções de gênero e de sexualidade conduzem a uma compreensão psicanalítica mais complexa do feminino. Para a autora o complexo de Édipo na rapariga é tanto uma problemática mãe-filha, como uma problemática pai-filha e está mais ligado à estrutura e composição do ego relacional feminino do que à gênese da escolha do objeto sexual. A relação entre a filha e o pai construída durante o período edipiano é vista como uma forma de manutenção da relação com a mãe. As crianças têm que se libertar da onipotência materna e adquirir um sentido de completude, enquanto o menino adquire essa libertação através da sua masculinidade e posse de um pênis, a menina reage ou através do desenvolvimento da inveja ou do desejo pelo pênis, uma vez que uma menina (sem pênis) não tem como opor-se à mãe (Chodorow, 1978).

Desse modo, em uma família tradicional, a menina tende a virar-se para o pai como símbolo da liberdade, o que é independente do gênero ou da orientação sexual (Chodorow, 1978). Não é o ódio que está por trás da mudança do objeto, mas o amor que ela tem pela mãe e o seu desejo de liberdade. Em um dado momento, a menina percebe que o seu arranjo genital não lhe traz vantagem na ligação à mãe, pois descobre a "preferência" (Chodorow, 1978, p. 150) desta por pessoas como o pai ou o irmão que têm pênis. Surge, então, o desejo de ter um pênis para conquistar o amor materno. Portanto, a escolha do pai em detrimento da mãe não significa o término da relação afetiva com a mãe. Pelo contrário, o mundo dual mãe-criança (interno e externo) torna-se triádico e a menina passa a manter os dois pais como objetos de amor e rivais durante o período edipiano (Chodorow, 1978). O édipo da menina alterna entre a atração positiva pelo pai, como forma de fugir à mãe, e a procura da mãe como segurança e refúgio familiar contra os aspetos frustrantes e assustadores da figura masculina que o pai representa (Chodorow, 1978).

No tocante à identificação com figura parental do mesmo sexo, Chodorow (1978) considera-a um fenômeno aprendido e não constituído somente no decurso do complexo de Édipo. As crianças aprendem o seu gênero, depois identificam-se e são encorajadas fazer as identificações apropriadas (Chodorow, 1978).

Na perspetiva de Britton (1992), posição depressiva e complexo de Édipo são indissociáveis, já que um não pode resolver-se sem o outro. A posição depressiva surge como consequência das capacidades desenvolvimentais da criança (percecionar, reconhecer, relembrar, localizar e antecipar a experiência). O mundo psíquico infantil sofre uma disrupção porque as experiências contrastantes (e.g. bom versus mau) passam a corresponder a uma única fonte. A mãe que ama e alimenta passa a ser também percecionada como a mãe sexual (e parceira sexual do pai), o que conduz ao Édipo. O reconhecimento da relação sexual parental leva à renúncia da ideia da possessão da mãe, o que, por sua vez, conduz ao sentimento de perda. O complexo de Édipo envolverá o reconhecimento da diferença entre a relação dos pais (relação genital) e a relação entre os pais e a criança. Para além do sentimento de perda, surge a inveja e a rivalidade com um dos pais pelo outro. A rivalidade é resolvida com a desistência da reivindicação de um elo sexual com os pais a par da aceitação da realidade da relação sexual dos pais. A rivalidade edipiana permite trabalhar a posição depressiva. Um dos pais, independentemente do seu sexo, é objeto de desejo e o outro é o rival. A configuração é retida, mas os sentimentos se modificam em relação a cada pai: a figura parental, objeto de desejo em uma versão, é a figura parental odiada na outra (Britton, 1989).

O reconhecimento da relação exclusiva dos pais origina o espaço triangular que é constituído por três figuras edipianas, assim como por suas potenciais relações. A criança adquire a capacidade de se ver a si própria em interação com os outros e de considerar outros pontos de vista enquanto mantém o seu, sendo capaz de refletir acerca de si sem deixar de ser quem é. Os conflitos em torno do objeto de amor só podem ocorrer quando o objeto deixa de ser um objeto narcísico. O casal tem de ser visto como um verdadeiro casal, separado da criança, para que surja o espaço necessário à fase edipiana com o conflito acerca do objeto de amor (Britton et al., 2006).

Heineman (2004) adota o termo "Complexo Parental" por estar menos carregado de sentido e, assim, representar os desejos sexuais conflituais e os sentimentos de rivalidade da criança direcionados ao casal. A capacidade de pensar liberta a criança do concreto, permitindo-lhe considerar os seus próprios pensamentos como pensamentos e as suas ideias e perspetivas como diferentes das dos outros (Fonagy & Target, 1996). A criança torna-se gradualmente sensível às diferenças existentes no mundo interno daqueles que ama e à consciência das relações íntimas que a excluem. Descobre também a excitação da sexualidade e a possibilidade de ter relacionamentos fora do seu núcleo familiar (Heineman, 2004).

Tal como Chodorow (1992, 1994), Kulish e Holtzman (2010) constroem um modelo de compreensão da dinâmica desenvolvimental feminina que pretendem diferenciar claramente do Édipo clássico e da organização masculina chamando-o complexo de Perséfone. Nessa conceção, a entrada na fase triádica não se deve à inveja do pênis, desvalorização ou hostilidade dirigidas à mãe. Ao invés disso, as autoras consideram seis fatores que agem conjuntamente para a entrada na situação triádica: a cena primitiva que abre caminho ao reconhecimento da triangulação, as pressões biológicas para a triangulação que se manifestam através do corpo da menina permitindo o surgimento de fantasias de gravidez e frequentemente de penetração pelo pai, a bissexualidade física e psíquica, a evolução cognitiva que permite a fantasia da cena primária, o papel de terceiro e separador que o pai desempenha para ambos os gêneros, o papel de objeto de identificação consciente e inconsciente desempenhado pela mãe relativa às atitudes sexuais (Kulish & Holtzman, 2010).

As autoras sublinham a diferença entre o papel materno e o paterno na dinâmica identificatória. Mas o complexo de Perséfone, de acordo com o mito, sugere que a menina nunca se separará completamente da mãe, o que apoia as conceções da bissexualidade e sobretudo a firmeza da identidade de gênero feminina e a dependência. As meninas não mudam o objeto de amor, como antes era concebido. Apenas acrescentam ao objeto primário um novo objeto que cria a triangulação. Por isso, a situação se torna tão assustadora. A agressividade que surge na triangulação vem acompanhada de impulsos homoeróticos, misturando-se culpa, raiva e ciúme, principalmente perante a descoberta de que a mãe prefere o pai ou os irmãos. A agressividade em relação à mãe torna-se portanto uma fonte de perigo de perda. A atenção e o interesse sexual da menina oscilam entre ambos os pais, formando padrões que podem ser repetidos durante o desenvolvimento. A característica predominante dessa fase é o balanceamento da lealdade entre os objetos (Kulish, & Holtzman, 2010) e com isso também das identificações.

 

O Complexo de Édipo e as famílias homoparentais

Os pressupostos psicanalíticos têm sido confrontados com as transformações ocorridas nas diversas configurações familiares. O acima dito justifica o interesse pelo estudo das famílias homoparentais. Não se trata apenas de mais uma questão de ordem psicológica, mas de uma questão maior que se pode reanalisar como uma outra configuração familiar. Várias são as posições assumidas. Tort (2000), entre outros, assume-se categoricamente contra essa configuração familiar alertando para os perigos psíquicos inerentes à inexistência da diferença anatômica dos pais, tais como as dificuldades no processo de subjetivação, ou melhor, no acesso ao simbólico, à lei e às normas sociais. Outros autores acrescentam ainda que o casal homossexual estaria preso numa relação especular narcísica, não refletindo à criança a imagem da diferença entre os dois sexos (Langouet, 1998; Gross, 2000; cit. por Ceccarelli, 2002). A situação edipiana e a triangulação, imprescindíveis ao desenvolvimento, exigiriam a presença do contraste entre os dois sexos, sem o qual seria difícil a diferenciação psíquica e as identificações. Isto é, ainda de acordo com esses autores, sem a desigualdade anatômica não poderia configurar-se uma triangulação sem a qual não se realizaria um completo desenvolvimento psíquico. Segundo Ceccarelli (2002), os autores que se opõem à homoparentalidade seguem o imperativo da presença de pais de sexos diferentes para que surja a situação edipiana. Essa visão seria uma repetição das críticas outrora feitas às famílias monoparentais em que as crianças, por terem apenas uma imagem, teriam uma organização psíquica infantil deficitária. É importante frisar que as crianças dessas famílias têm o direito a teorias de desenvolvimento edipiano saudável que as incluam e que não sejam teorias baseadas nos pais heterossexuais (Heineman, 2004).Relativamente ao argumento da relação especular, esta pode estar presente quer na família heteroparental quer na família homoparental (Ceccarelli, 2002).

Quer Ceccarelli (2002), quer Heineman (2004) referem como elemento essencial à triangulação a constatação que a criança faz da diferença imutável entre as gerações que traz consigo a exclusão da relação sexual adulta. A triangulação permite à criança a consciência acerca do seu self sexual na relação com os seus pais e a sua sexualidade (Heineman, 2004). Dá-se a passagem da relação narcísica para a objetal, que só é possível devido à função do Outro primário que apresenta o mundo simbólico à criança (Ceccarelli, 2002). As relações triádicas requerem um aumento do espaço psíquico para a inclusão de um terceiro elemento e para a criação de novas e especiais trocas diádicas (Heineman, 2004). Dá-se a renúncia ao narcisismo primário a favor dos valores culturalmente aceitos e o surgimento de diversos processos de perdas e do estabelecimento de limites acompanhados de movimentos pulsionais e identificatórios (Ceccarelli, 2001). Os processos de identificação são complexos e envolvem não só desejos incestuosos, como identificações com aspetos de ambos os pais. Os pais, independentemente da sua orientação sexual, desejam que os seus filhos se identifiquem com eles e estes, naturalmente, estarão predispostos a essa identificação. Mães homossexuais podem oferecer uma multiplicidade de identificações quanto à escolha do objeto sexual, resultantes das modificações desenvolvimentais nas relações pais-filho que não têm de estar confinadas às crianças e pais de famílias tradicionais (Heineman, 2004). Todas as crianças têm de realizar processos de identificação e escolhas objetais. A construção da capacidade de subjetivação depende não de uma configuração anatômica, mas da organização psíquica dos cuidadores e do modo como estes se posicionam em relação à sua própria sexualidade, incluindo a fantasia do que é ser pai e/ou mãe. Em suma, tudo dependerá do lugar que a criança assume no mundo interno dos seus pais (Ceccarelli, 2002) em vez do visível contraste anatômico.

O menino com duas mães . Dentro de uma visão clássica, em uma família de mães lésbicas, o menino está perante duas dificuldades: a inexistência de um terceiro anatomicamente identificado que potencie a separação relativamente ao objeto primário; e a ausência de um objeto de identificação. Porém, de acordo com Heineman (2004), quando o menino altera a sua ligação possessiva e narcísica à mãe para reconhecê-la como objeto dos seus desejos sexuais (Heineman, 2004), apercebe-se também de que as suas mães não só têm uma relação com ele como também têm uma relação especial entre si que lhe é interdita. As suas mães vivem num mundo adulto e de sexualidade genital que lhe é vedado pela sua imaturidade física, sexual e emocional. Na mente da criança, ela não é desejada sexualmente, o que constitui um golpe em sua autoestima e marca a imutabilidade das gerações, isto é, o fato de que ela sempre ocupará o lugar de uma criança em relação às mães.

Apesar de existir uma multiplicidade de fatores que influenciam a passagem da díade para a tríade, esta é mais facilmente impulsionada quando a figura parental primária está notoriamente designada (Heineman, 2004), ou seja, quando há uma clara triangulação. No caso de a criança não conseguir fazer a distinção entre a "mãe" e a "outra", possivelmente a posição de "não mãe" vai ser alternada entre as duas mães, constituindo uma triangulação. O menino pode ter sentimentos amorosos e sedutores para com uma mãe e rejeitar ferozmente a outra e no dia seguinte fazer o reverso (Heineman, 2004). Poderá dar-se a situação de o comportamento sedutor do menino ser direcionado para ambas as mães simultaneamente, alternando com rejeição agressiva em relação a ambas. Nesse caso põe-se um problema de indiferenciação já que as mães correspondem a um único objeto representacional (objeto de desejo e objeto rival). Não existe, portanto, uma figura parental disponível para ajudar a gerir a excitação sexual, a fúria por ser excluído ou os medos de ser seduzido.

Sobre a identificação que classicamente exigiria o contraste anatômico, Heineman (2004) também a relaciona com o desejo e com a angústia de castração. A autora menciona um conjunto de fantasias relacionadas com o desejo pela mãe ou pelas mães: o menino imagina que o seu órgão é insuficiente, os órgãos genitais maternos podem engoli-lo, quando crescer pode casar com a mãe primária ou até satisfazer as duas ou então as mães nunca o desejarão. Nessas fantasias não aparece a ideia do rival que seria, na teoria clássica, o autor ou a causa da castração, o terceiro elemento que imporia a diferenciação mãe/criança e reduziria o narcisismo. A fantasia de que as mães não o desejarão nunca constitui uma defesa contra o incesto, sem a necessidade de um rival para contrariar os desejos incestuosos. Assim, a presença do rival não seria uma condição fundamental ao desenvolvimento do menino.

As fantasias relativas à/às mãe(s) não diferem das que encontramos em crianças de casais heterossexuais. Também nos filhos de mães lésbicas essas fantasias conduzem à identificação. Mas, nesse caso, a identificação que é feita com a mãe ou com as mães também é uma medida defensiva contra a castração, já que a identificação com a mãe é também a identificação com o poder feminino. O menino, tal como em um casal heterossexual, pode identificar-se com um ou ambos os elementos do par parental. A identificação com a mãe primária na sua relação com o seu objeto de amor abre a via ao desenvolvimento do amor homossexual pelo "outro". Porém a identificação com o outro que não a "mãe" possibilita uma relação com a mãe como mulher e, portanto, o desejo heterossexual (Heineman, 2004).

Existe a hipótese de, perante o medo de rejeição, o menino desenvolver a fantasia de casar com a mãe primária quando crescer. Todavia, se o menino persistir nessa fantasia poderá criar a ilusão de que as suas mães se tornaram parceiras sexuais simplesmente por ainda não terem encontrado o homem certo. Isto é, o menino pode manter-se com a crença de que por enquanto o seu órgão sexual é muito pequeno, mas que, um dia, poderá satisfazer não apenas uma, como as duas mães (Heineman, 2004). O menino pode, igualmente, acreditar que, apesar da admiração materna no que tange a sua masculinidade, não irão desejar o seu pênis para gratificação sexual nem agora nem no futuro. Isso pode oferecer-lhe alguma proteção adicional contra o Tabu do incesto, uma vez que sem o sentimento de desejo (sexual) da mãe por ele e sem imaginar uma sedução direcionada a esta, o menino pode não ter necessidade de fantasiar um rival poderoso para contrariar os seus desejos incestuosos.

Nesse sentido, provavelmente, o orgulho na sua masculinidade e a admiração das suas mães, face à sua sexualidade, podem ser mais facilmente geridos sem o medo e a culpa associados aos desejos agressivos contra a figura parental que amam (Heineman, 2004). É importante referir que o fato de não haver uma figura masculina no seio familiar não significa que não haja um rival edipiano no mundo interno do menino. A maior dificuldade com que a criança se depara na triangulação é o reconhecimento e a aceitação da imutabilidade das diferenças geracionais e a desilusão por perceber que o pênis não fez parte do processo de reprodução, podendo levar a alguma confusão acerca da sua origem (Heineman, 2004).

As fantasias referentes à origem precisam certamente ser estudadas. Elas serão um dos mais importantes organizadores do self, na medida em que lhe conferem plausibilidade. A teoria da bissexualidade psíquica (Klein, 1928, 1952; Britton, 1989, 1992; Britton et al., 2006; Chodorow, 1978, 1992, 1994; Kulish & Holtzman, 2010) mostra como o menino pode identificar-se com aspetos múltiplos de cada uma das mães alternadamente, assim como desejar as mães de forma revezada. Segundo Britton (1992), durante a posição depressiva ocorre uma oscilação entre o objeto rival e o objeto de desejo em relação às figuras parentais, o que promove a entrada na fase edipiana. Os processos de identificação são complexos e envolvem não só desejos incestuosos, como identificações com aspetos de ambos os pais. Outros membros significativos do contexto relacional das mães também contribuem para os processos de identificação. Bleichmar (2010) defende que as representações conscientes e inconscientes do masculino provêm de várias figuras (tios, irmãos, avós e amigos) sendo integradas com as suas modalidades de interação e contribuindo para o aspeto intersubjetivo da masculinidade ao longo do desenvolvimento. Tais figuras significativas poderão assumir quer o papel de objeto de identificação, quer o papel de objeto de desejo no mundo interno do menino.

A menina com duas mães . Na menina colocar-se-ia com mais agudeza, para além da triangulação, a questão da diferenciação já que não existe o terceiro anatomicamente diferente para separá-la da mãe primária. Também na menina, a entrada na posição depressiva leva à integração das experiências contrastantes (Britton, 1992), e a mãe que ama e alimenta passa a ser percebida como a mãe sexual. O reconhecimento da relação sexual parental leva à renúncia à possessão permanente e única da mãe. Essa abdicação porá fim à ligação narcísica à mãe e impulsionará a triangulação, que será facilitada se a figura primária estiver claramente definida. Se assim for, facilmente se configura um "outro" como terceiro elemento sem que haja uma diferença anatômica. Heineman (2004) refere também a possibilidade de a menina alternar entre as duas mães a posição de "não mãe", dinâmica triangular inerente à posição depressiva. A multidimensionalidade da passagem à triangulação sugere que a inveja do pênis não é uma necessidade (Kulish & Holtzman, 2010) inquestionável.

A menina oscilará entre as duas mães, identificando-se com aspetos múltiplos de cada uma delas tal como aconteceria num casal heterossexual. Salientamos que a feminilidade primária é construída na relação precoce sem a influência da diferença anatômica entre as figuras cuidadoras e só posteriormente é ligada aos significados sociais do gênero (Elise, 1997). Como refere Stoller (1976), a capacidade progressiva de fantasiar e sentir a feminilidade ou masculinidade depende das atitudes dos pais (ou/e das mães) na relação com o bebê. A menina não pode ter razões para duvidar da sua pertença ao sexo feminino até ter a informação sobre a diferença anatômica entre meninos e meninas. Ao longo do tempo, numa família de mães lésbicas, a feminilidade passará a ser elaborada com as duas mães que se oferecerão como figuras de identificação. A construção da feminilidade ocorre a partir de variadas e múltiplas representações (Bleichmar, 2010), podendo a mãe representacional ser constituída por diversas características das duas mães. No que se refere à identificação, uma menina com duas mães não terá dificuldade de firmar uma identidade feminina. Do mesmo modo, as mães poderão também em alternância ser alvo de desejo sexual. Segundo Britton (1992), a alternância do desejo e da identificação com o objecto correspondem à posição depressiva em consonância com a configuração edipiana. Numa família tradicional, a atenção e o interesse sexual oscilam entre ambos, pai e mãe, não havendo mudança completa de objeto de amor nesse desenvolvimento, mas sim o acréscimo de um objeto erótico para criar o espaço triangular (Kulish & Holtzman, 2010). Chodorow (1978) também defendia que a menina mantinha as duas figuras parentais como objetos de amor e rivais durante o período edipiano. Por vezes, procurando o pai como forma de fugir à mãe, e outras, procurando a mãe como segurança e refúgio familiar contra os aspectos frustrantes e assustadores do pai. Outros membros significativos da família poderão também contribuir para os processos de identificação e, temporariamente, serem objetos de desejo sexual da menina. No caso de uma família de mães lésbicas, não existe uma diferença anatômica mas, fora dos casos das relações narcísicas, a menina perceberá a diferença entre as duas mães. Esta é estabelecida com base noutros indicadores de ordem relacional que não a concretude da configuração anatômica. Segundo Bleichmar (2010), as representações conscientes e inconscientes do feminino e do masculino, adquiridas a partir das várias figuras significativas, são integradas nas suas modalidades de interação e contribuem para o aspeto intersubjetivo da feminilidade.

 

Considerações finais

O pressuposto de base foi, durante muito tempo, o de que a organização familiar, e consequentemente a organização psíquica, eram suportadas nas diferenças anatômicas. Estas desencadeariam todo o desenvolvimento e a própria matriz familiar na qual necessariamente teriam de existir condições para a identificação e a diferenciação. As diferenças anatômicas têm pois desempenhado um papel de destaque na conceptualização sobre o modo como se constitui e organiza o mundo interno e relacional. Isso acontece mesmo quando, ou sobretudo quando esse pressuposto se mantém a um nível latente.

No geral, os autores consideram a importância da triangulação e, portanto, da existência de um terceiro que impulsione a diferenciação quer para os meninos, quer para as meninas. O papel simbólico do terceiro tem de ser representado por um Outro diferente do objeto primário. Porém a diferença, para resultar em triangulação, não precisa ser estabelecida pela anatomia. Isso porque as características da personalidade, os comportamentos, ou a posição assumida dentro do casal, configuram um terceiro e o seu papel simbólico. Assim, quer para os meninos, quer para as meninas, pondo de parte o elemento anatômico como imprescindível, a diferenciação relativamente ao objeto primário sempre se realizará, a menos que uma ligação narcísica se imponha. Nesse caso, a tarefa está tão dificultada para meninas como para meninos.

A dissemelhança entre o universo masculino e o feminino é inegável, mas o contraste dos gêneros pode não ser uma condição necessária para que ocorra a diferenciação psíquica. Dentro da lógica que temos vindo a desenvolver, a diferenciação em relação ao objeto primário pode ser feita através da diferença entre características individuais de ordem psicológica.

No que respeita à identificação que é precocemente feita por todas as crianças, também ela era concebida com ligação à diferenciação anatômica. É certo que costuma ligar-se a definição de uma identidade de gênero à identificação com figuras que têm a sua identidade de gênero definida de acordo com os papéis tradicionais. Nesse aspecto a menina teria a tarefa simplificada, uma vez que facilmente adquire uma identidade gênero consonante com a das suas mães. Todavia, feminino e masculino são atualmente referências polarizadas com muitas variações intermediárias. Para além disso as identificações fazem-se ao longo de todo o desenvolvimento com as aspetos multifacetados de ambas as mães. Vimos já como as identificações às mães podem ser feitas independentemente de os traços serem mais ou menos femininos ou mais ou menos masculinos. As representações do feminino e do masculino estarão certamente em parte integradas de modo diferente em cada mãe. Isso significa que, de acordo com a teoria da bissexualidade psíquica, a criança pode identificar-se com aspetos da masculinidade ou/e da feminilidade nas duas mães, mas também que as funções parentais não necessitariam obrigatoriamente de um homem e de uma mulher, ainda que precisem de um terceiro. A capacidade de subjetivação de uma criança tem de ser perspetivada independentemente da anatomia dos seus cuidadores. Somente desse modo poderemos melhor compreender os processos que resultam na organização de um género e de um ser humano com a sua subjetividade.

 

 

Referências

Balsam, R. (2010). Where has Oedipus gone? A turn of the century contemplation. Psychoanalytic Inquiry, 30, 511-519.         [ Links ]

Barden, N. (2011). Disrupting Oedipus: the legacy of the Sphinx. Psychoanalytic Psychotherapy, 25, 324-345.         [ Links ]

Bleichmar, E. (2010). The psychoanalyst's implicit theories of gender. In L. Fiorini & G. Rose, (Eds.), On Freud's "Femininity" (p. 177-197). London: Karnac Books.         [ Links ]

Britton, R. (1989). The missing link: parental sexuality in the Oedipus. In R. Britton, M. Feldman, M., & E. O'Shaugnessy (Eds.), The Oedipus Complex today - Clinical implications (p. 83-102). London: Karnac Books.         [ Links ]

Britton, R. (1992). The Oedipus situation and the depressive position. In R. Anderson (Ed.), Clinical lectures on Klein and Bion. New library of psychoanalysis. New York: Tavistock/Routledge.         [ Links ]

Britton, R., Chused, J., Ellman, S., Likierman, M., Ellman, C., & Gould, L. (2006). Panel II: The Oedipus Complex, the Primal Scene, and the Superego. Journal of Infant, Child and Adolescent Psychotherapy, 5, 282-307.         [ Links ]

Ceccarelli, P. (2001). A sedução do pai. Publicação Anual do Instituto de Estudos Psicanalíticos, 18, 91-97. Belo Horizonte: IEPSI.         [ Links ]

Ceccarelli, P. (2002). Configurações edipicas da contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação. Pulsional Revista de Psicanálise, 161, 88-98.         [ Links ]

Chodorow, N. (1978). Mothering, object-relations and the female oedipal configuration. Feminist Studies, 4, 137-158.         [ Links ]

Chodorow, N. (1992). Heterosexuality as a compromise formation: reflections on the psychoanalytic theory of sexual development. Psychoanalysis & Contemporary Thought, 15, 267-304.         [ Links ]

Chodorow, N. (1994). Rethinking Freud on women. In N. Chodorow [Author], Femininities, masculinities, sexualities: Freud and beyond. Kentucky: The University Press of Kentucky.         [ Links ]

Chodorow, N. (2002). Response and afterword. Feminism & Psychology, 12, 49-53.         [ Links ]

Elise, D. (1997). Primary femininity, bisexuality, and the female ego ideal: a re-examination of female development theory. Psychoanalytic Quarterly, 66, 489-517.         [ Links ]

Fonagy, P., & Target, M. (1996). Playing with reality: I. Theory of mind and the normal development of psychic reality. International Journal of Psychoanalysis, 77, 217-233.         [ Links ]

Freud, S. (1924a). The passing of the Oedipus Complex. International Journal of Psycho-Analysis, 5, 419-424.         [ Links ]

Freud, S. (1924b). The infantile genital organization of the libido: a supplement to the theory of sexuality. The International Journal of Psychoanalysis, 5, 5125-5129.         [ Links ]

Freud, S. (1953). Three essays on the theory of sexuality - Infantile sexuality (II). In S. Freud [Author], J. Stratchey (Ed.), The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud: A case of hysteria, Three essays on the theory of sexuality and other works, v. VII. London: The Hogarth Press and The Institute of Psycho-Analysis. (Original published in 1905)        [ Links ]

Freud, S. (1955). Identification. In S. Freud [Author], J. Stratchey (Ed.), The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud: Beyond the pleasure principle, group psychology and other works, v. XVIII. London: The Hogarth Press and The Institute of Psycho-Analysis. (Original published in 1922)        [ Links ]

Freud, S. (1961). The Dissolution of the Oedipus Complex. In Freud, S. [Author], Stratchey, J. (Ed.), Freud, S. (1955). Identification. In S. Freud [Author], Stratchey, J. (Ed.), The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud: beyond the pleasure principle, group psychology and other works, v. XVIII. London: The Hogarth Press and The Institute of Psycho-Analysis. (Original published in 1922)        [ Links ]

Freud, S. (1961). The ego and the superego (ego ideal). In S. Freud [Author], J. Stratchey (Ed.), The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud:The Ego and the Id and other works, v. XIX. London: The Hogarth Press and the Institute of Psycho-Analysis. (Original published in 1923)        [ Links ]

Freud, S. (1962). Sexuality in the etiology of the neuroses. In S. Freud. [Author], J. Stratchey (Ed.), The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud: Early psycho-analytic publications, v. III. London: The Hogarth Press and The Institute of Psycho-Analysis. (Original published in 1898)        [ Links ]

Freud, S. (1964). Lecture XXXIII - Femininity. In S. Freud [Author], J., Stratchey (Ed.), The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud: New introductory lectures on psycho-Analysis, v. XXII. London: The Hogarth Press and The Institute of Psycho-Analysis. (Original published in 1932)        [ Links ]

Heineman, T. (2004). A boy and two mothers: new variations on an old theme or a new story of triangulation? Beginning thoughts on the psychosexual development of children in nontraditional families. Psychoanalytic Psychology, 21, 99-115.         [ Links ]

Klein, M. (1923). The development of a child. The International Journal of Psycho-Analysis, 4, 419-474.         [ Links ]

Klein, M. (1927). The psychological principles of infant analysis. International Journal of Psycho-Analysis, 8, 25-37.         [ Links ]

Klein, M. (1928). Early stages of the Oedipus conflict. International Journal of Psycho-Analysis, 9, 167-180.         [ Links ]

Klein, M. (1945). The Oedipus complex in the light of early anxieties. The International Journal of Psychoanalysis, 26, 11-33.         [ Links ]

Klein, M. (1952). The origins of transference. The International Journal of Psychoanalysis, 33, 433-438.         [ Links ]

Klein, M. (1989). Part II: The effects of early anxiety-situations on the sexual development of the girl. In M. Klein [Author], A. Strachey (Ed.), The psycho-Analysis of children. London: The Hogarth Press and The Institute of Psycho-analysis. (Original published in 1932)        [ Links ]

Kulish, N., & Holtzman, D. (2010). Femininity and the Oedipus complex. In L. Fiorini, & G. Rose (Eds.), On Freud's "Femininity" (p. 35-55). London: Karnac Books.         [ Links ]

Segal, H. (2002). Psychoanalysis of children. Klein . London: Karnac Books and The Institute of Psycho-Analysis. (Original published in 1979)        [ Links ]

Stoller, R. (1976). Primary femininity. Journal of The American Psychoanalytic Association, 24, 59-78.         [ Links ]

Tort, M. (2000). Quelques conséquences de la différence "psychanalytique" des sexes. Les Temps Modernes, pp. 176-215.         [ Links ]

 

Artigo recebido em: 08/01/2018
Aprovado para publicação em: 27/09/2018

Endereço para correspondência
Francis Anne Carneiro
E-mail: fran_teplitzky@hotmail.com
Ângela Vila-Real
E-mail: angelavila-real@sapo.pt

 

 

*Psicóloga Clínica e candidata a doutoramento no ISPA - Instituto Universitário.
**Psicanalista. Membro Associado da Sociedade Portuguesa de Psicanálise (SPP) e Professora Auxiliar do ISPA – Instituto Universitário.

Creative Commons License