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Tempo psicanalitico

versão impressa ISSN 0101-4838versão On-line ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.51 no.2 Rio de Janeiro jul./dez. 2019

 

ARTIGOS

 

Entre as amizades perfeitas e virtuais, o sujeito adolescente

 

Among the perfect and virtuous friendships, or adolescent subject

 

Parmi les amitiés parfaites et vertueuses, ou sujet adolescent

 

 

Samara Sousa Diniz Soares*;Márcia StengelI**

IPontifícia Uiversidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Sustentado na articulação contemporânea entre amizade e virtualidade, evidenciada por meio da apropriação pelo Facebook do termo amigo para se referir ao usuário que possui uma conta em seu website, este artigo tem como objetivo apresentar algumas mudanças ocorridas na forma de iniciar, manter e romper relações de amizade criadas ou potencializadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação (TIC), bem como demonstrar o papel basilar da figura adolescente propriamente dita e/ou de seus ideais na introdução e propagação dessas transformações na medida em que ele se torna o representante do sujeito contemporâneo às voltas com o laço social. A Netnografia foi utilizada como ferramenta metodológica para chegar às comunidades do Facebook que fizeram parte do corpus empírico e que foram analisadas com o suporte teórico da Psicanálise e das Ciências Sociais e Humanas. Esse percurso teórico-empírico revelou que as relações amicais atuais estão passando por processos de mudança na medida em que os laços sociais sob o discurso da perfeição estão perdendo espaço para as amizades virtualizadas calcadas na liberdade, representada de forma máxima na figura adolescente. Tais mudanças são vivenciadas pelo "sujeito adolescente contemporâneo", mesmo que cronologicamente não pertença a essa faixa etária.

Palavras-chave: amizade, laço social, virtualidade, Facebook, adolescentes.


ABSTRACT

Sustained on the contemporary articulation among friendship and virtuality, evidenced through the appropriation of Facebook of the term friend referring to the user who has an account in its website, this article aims to present some of the changes that occurred in the shape of initiating, maintaining and breaking up friendship relations created or potentialized by the new information and communication technologies (ICT), as well as showing the foundation role of the actual figure of the adolescent and/or his ideals on the introduction and propagation of these transformations as far as he becomes the individual's representative in the return to the social bond. Netnography was used as Methodological tool to get to fakebook's communities which have been part of the Psychoanalysis and Social and Human Sciences. This theoretical and empirical path revealed that the current friendship relations are experiencing a changing process as the social bounds under the perfection speech, are losing their space to the virtualized friendships based on liberty, represented in a maximal way on the adolescent figure. Such changes are experienced by the "contemporary adolescent individual", even not chronologically belonging to this age range.

Keywords: friendship, social bond, virtuality, Facebook, adolescents.


RÉSUMÉ

Soutenu dans l'articulation de relation contemporaine entre l'amitié et la virtualité, comme en témoigne l'appropriation par Facebook, le terme "ami", pour se référer à l'utilisateur qui possède un compte sur leur site web, cet article vise à présenter quelques changements dans la façon de démarrer, maintenir et rompre les relations qui sont créés ou potentialisées par de nouvelles technologies de l'information et de la communication (TIC), ainsi que de démontrer le rôle fondamental de la figure d'adolescent elle-même et / ou ses idéaux dans l'introduction et la propagation de ces changements, dans la mesure où ce rôle devient le représentant du sujet contemporain, en rapport avec le lien social. La Netnographie a été utilisé comme un outil méthodologique pour atteindre les communautés Facebook qui faisaient partie du corpus empirique, et qui ont été analysées, avec le soutien théorique de la Psychanalyse et les Sciences Humaines. Ce parcours théorique et empirique a révélé que les relations amicales actuelles sont en train de passer par un processus de changement, dans la mesure où les liens sociaux, sous le discours de la perfection, sont en train de perdre du terrain par rapport aux amitiés virtualisés, basées sur la liberté, représentées au maximum, par la figure des adolescents. Tels changements sont expérimentés par "le sujet adolescent contemporain" même si chronologiquement il n'appartient pas à ce groupe d'âge.

Mots-clés: amitié, lien social, virtualité, Facebook, adolescents.


 

 

A proteiformidade das relações de amizade

A articulação contemporânea entre amizade e virtualidade aparece como o motor para a escrita deste texto e a realização da pesquisa que o antecedeu; junção que pode ser vista de forma máxima com a apropriação pelo Facebook, maior site de rede social atual, do conceito de amizade ao nomear o usuário que possui um perfil em seu website como amigo; articulação que ratifica o status da amizade como um construto psicossocial especialmente sensível às modificações do contexto em que é exercitada, tendência que a análise histórica (Ortega, 2002) e atual (Mizoguchi, 2013; Primo, 2014, 2016; Soares, 2018) de sua vivência muito bem evidencia. Desde a philia grega (Aristóteles, 2012), passando pela amicittia romana (Cícero, 2006), pela ágape cristã (Ortega, 2002), pela amizade moderna (Montaigne, 1980; Nietzsche, 2009; Vicent-Buffault, 1996) até os dias de hoje, as relações amicais enquanto discurso e prática têm se modificado.

Por ser historicamente demarcada e, portanto, não natural nem imutável, a proteiformidade da amizade pode ser contemplada ao longo do tempo em virtude das multiplicidades sócio-histórico-cultural-subjetivas. Como muito bem pontua Mizoguchi (2013), mais do que compreender a amizade através do mundo, são as amizades encontradas que proporcionam entender o mundo. Por ser fruto de construção social, ela se transforma ao longo do tempo, incorporando e refletindo práticas sociais vigentes, o que faz dela uma poderosa ferramenta para compreensão da sociedade de determinada época (Rezende, 2002). Dessa forma, estudar o ser humano em suas relações amicais se configura como mais uma possibilidade de obter compreensão de sua vida subjetiva e social, conhecimento imprescindível para aqueles cujo foco de estudo e intervenção é o próprio sujeito, como é o caso dos profissionais de Psicologia e Psicanálise.

Devido a essa particular abertura à realidade social e subjetiva da época em que se apresenta, a amizade contemporânea tem sido drasticamente modificada com o aparecimento da tela como recurso mediador de seu exercício. Assim, tomando como referência a realidade social atual, este artigo tem como objetivo apresentar algumas mudanças ocorridas na forma de iniciar, manter e romper relações de amizade criadas e/ou potencializadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação (TIC), bem como demonstrar o papel fundamental da figura adolescente propriamente dita e/ou de seus ideais na introdução e propagação dessas transformações na medida em que eles se tornam o representante do sujeito contemporâneo às voltas com o laço social1.

 

A Netnografia e o Facebook enquanto método e local de pesquisa

A netnografia (nethnography = net + ethnography) foi utilizada como ferramenta metodológica para chegar às comunidades do Facebook que fizeram parte do corpus empírico deste trabalho e que foram analisadas com o suporte teórico de pesquisadores da Psicanálise e das Ciências Sociais e Humanas.

O neologismo "netnografia" foi cunhado por Robert Kozinets para designar um novo método de pesquisa qualitativa que surgiu no campo da antropologia e se espalhou para as Ciências Humanas e Sociais e que, apesar de se sustentar na etnografia tradicional, difere dela em vários aspectos. Sua primeira e grande diferença trata do local em que é realizada a pesquisa. Se, na etnografia tradicional, o pesquisador se dirigia fisicamente à comunidade alvo de seu interesse, na netnografia o cientista não faz esse deslocamento físico. Nela, ele troca o off-line pelo on-line, embora na realidade os dois ambientes estejam intimamente interligados perante a imersão e o engajamento intermitente do pesquisador e dos pesquisados no próprio meio.

A segunda e também ampla diferença da etnografia tradicional para a etnografia virtual é a postura ou o grau de inserção do pesquisador na comunidade estudada. Se, na etnografia tradicional, o pesquisador precisava necessariamente se apresentar aos pesquisados, na etnografia on-line isso não precisa acontecer obrigatoriamente, pois o pesquisador pode observar silenciosamente a comunidade, sem interferir em seu cotidiano, postura adotada neste trabalho. O pesquisador que adota essa postura não intrusiva, prática relacionada ao ato de "ficar à espreita" (Braga, 2006), é chamado por Fragoso, Recuero e Amaral (2011) de "lurker". Essa possibilidade de participar, observar e descrever sem interferir nas atividades realizadas pelo grupo demonstra outra querela entre a etnografia tradicional e a emergente, pois a netnografia se funda primordialmente na observação do discurso textual ou imagético, uma diferença importante da etnografia tradicional, visto que há um equilíbrio entre o discurso e o comportamento observado, pois a análise não se concentra na pessoa, e sim no comportamento ou ato.

Apesar de fazer uso das comunicações mediadas por computador como fonte de dados para chegar à compreensão e à representação etnográfica de um fenômeno cultural, a netnografia é caracterizada por cinco grandes etapas, assim como toda pesquisa empírica tradicional. São elas: a definição das questões de pesquisa; a identificação e seleção da parcela da internet que será estudada; a entrada no campo, que é marcada pela observação participante ou não, com a finalidade de coleta de dados; a análise e interpretação dos dados produzidos; e, por fim, a redação e o relato dos resultados de pesquisa, articulando-os à teoria (Kozinets, 2014).

Com o objetivo de identificar os discursos de amizade propagados pelo Facebook e seus imbricamentos com a forma atual de iniciar, manter e romper relações de amizade, a construção do material empírico analisado neste trabalho foi definida mediante sucessivos recortes baseados em critérios pré-definidos, com vistas a responder aos problemas levantados. A esse tipo de construção de amostra Fragoso, Recuero e Amaral (2011) chamam de amostras intencionais.

O primeiro recorte realizado esteve relacionado à escala da internet, pois o Facebook se configura como uma parcela reduzida (mesmo que ainda ampla) e específica da internet. Dentre os inúmeros sites de redes sociais existentes atualmente, o Facebook foi privilegiado por ser o maior representante do segmento, ao possuir o maior número de contas, e pelo fato de nomear de amigo o usuário que possui um perfil em sua plataforma. Ao utilizar descritores como "amizade" e seu plural "amizades" para a identificação das comunidades, foi definido o segundo recorte, que é temático. A entrada no campo se deu por meio da conta pessoal da pesquisadora no referido site.

Como resultado da pesquisa, foi possível encontrar um número relevante (para não dizer gigantesco) de comunidades, 4.104 especificamente (Tabela 1), que foram agrupadas sob 14 categorias. Chegou-se a esse número após a saturação dos dados diagnosticada por meio da redundância ou repetição de dados.

Tabela 1 - Resultados da pesquisa segundo categorias e quantidades

Categorias

Páginas encontradas - 1ª e 2ª buscas

1

Amor/amizade

504

2

Cantinho/recanto

53

3

Distância

52

4

Eterna(s)

965

5

Falsa(s)

61

6

Favorita

1

7

Linda(s)

50

8

Louca(s)

108

9

Nova(s

191

10

Sem limites

25

11

Sincera (s)

104

12

Tudo

764

13

Verdadeira(s)

1.119

14

Virtual(is)

107

Total

4.104

Fonte: Dados da pesquisa

Como principal suporte para a produção de dados, foi utilizado o método netnográfico, bem como seu instrumento fundamental, o diário de campo. Assim, todos os achados e impressões auferidas foram anotadas, assim como as informações observadas foram salvas de maneira sistemática no programa Excel. Mas, por ser uma prática assimilativa de vários outros métodos, foi combinada à Netnografia a análise de conteúdo sob o viés qualitativo (Bardin, 2011) para contribuir com a análise do material produzido.

A sistematização e análise qualitativa e categorial das 4.104 comunidades2 juntamente com o suporte teórico demonstraram que as 14 categorias encontradas convergiam tão somente para dois ideais e, consequentemente, duas práticas amicais: uma pautada na veracidade, que, no limite, remete à perfeição; e outra na novidade, que se esgarça na virtualidade. São achados que sustentam transformações ocorridas na forma de ser amigo ao longo do tempo, que está saindo do escopo da perfeição para o da virtualização.

 

Da perfeição à virtualização das relações amicais

Conforme defendido por Soares (2018), coexistem atualmente dois discursos de amizade: um sustentado na veracidade, que faz fronteira com a perfeição; e outro na novidade, que se esgarça na virtualidade. De um lado, ouvem-se as alocuções repetitivas dos defensores das amizades verdadeiras que nunca podem morrer; por outro, os discursos daqueles que acreditam na fluidez e na renovação das amizades novas. Discursos contrários claramente evidenciados pela discrepância na forma como o modo, o espaço e o tempo dos vínculos são encarados em cada modalidade relacional.

Perfeita enquanto modo de ser exercitada, eterna enquanto duração e vivida majoritariamente na presencialidade dos corpos, as amizades verdadeiras fazem fronteira com a perfeição, pois "Amizade real não se definha com o tempo, distância e espaço, mas se fortalece pelos laços eternos da verdadeira confiança"3. Toda amizade verdadeira deve ser eterna, ou seja, para além do tempo; deve ter um modo de ser executada e vivenciada: não deve ser falsa; deve ser favorita, linda, louca, sem limites, sincera, revelando-se como um tipo de amor.

Por comportar tantos atributos, esse tipo de amizade se torna tudo na vida dos seus praticantes e, embora se revele como um sentimento capaz de resistir e superar a distância e a separação física, a prática dessa amizade eterna e perfeita parece estar preponderantemente circunscrita a um espaço. Pelo fato de estar para além do tempo e resistir à separação imposta pela espacialidade, circunstâncias que geralmente deterioram as relações, e seu modo de ser exercitado ter uma tendência a sentimentos e vivências positivas (apenas uma categoria é negativa: falsa), esse tipo de amizade se refere, no limite, aos ideais de perfeição, caráter impregnado nas relações de amizade desde a Antiguidade (Fluxograma 1).

 

 

Fluxograma 1 - Estruturação das amizades perfeitas em relação ao tempo, ao modo e ao espaço
Fonte: Dados da pesquisa

Entretanto, essa amizade perfeita e concreta vem perdendo espaço (pelo menos na prática) para as amizades novas e fluidas que, ao contrário da vertente anterior, idealiza e cria práticas amicais para serem exercitadas de forma virtual e/ou presencial, mas sempre de maneira instantânea e passageira, visto que os relacionamentos são encarados como fonte de jocosidade. Se as amizades perfeitas, que não comportam falhas, são sustentadas no tempo, pela eternidade, e no espaço, pois resistem à distância, as amizades novas não possuem tal pretensão. Jocosas enquanto modo de se apresentar, instantâneas e fluidas no tempo e misturando a presencialidade e a virtualidade dos corpos mediante um exercício calcado na ambiguidade da mobilidade e pontualidade do espaço, as amizades novas também carregam consigo as marcas da virtualidade mediante um convite insistente: "Novas amizades estão aguardando você em cada canto do mundo"4, então, "Borafazernovasamizades"5 (Fluxograma 2).

 

 

Fluxograma 2 - Estruturação das amizades virtuais em relação ao tempo, ao modo e ao espaço
Fonte: Dados da pesquisa

 

Por delinear relações de amizade totalmente mercantilizadas e notadamente atravessadas pela "zoação", "pegação" e curtição, com fotos mais sensualizadas nos perfis e capas, com mulheres seminuas e casais em posições mais erotizadas, tal discurso-prática, completamente oposto ao paradigma anteriormente apresentado, pode ser caracterizado como amizades tipicamente facebookianas. Extremamente atuais, as amizades novas acabam sendo mais reais enquanto cotidiano do que as amizades perfeitas, que, embora muito desejadas por todos, são vividas mais no campo do ideal que na realidade; são amizades diferenciadas: de curto prazo, orientadas para um projeto, mas voltada para o indivíduo; relações que se encontram sempre em processo, altamente dinâmicas e multidimensionais no tempo.

Por tratarem de um novo modelo relacional que aponta para uma concepção de amizade processual e diferenciada historicamente, as amizades sustentadas pela novidade e virtualidade se recusam a ser analisadas segundo padrões perfeitos. Alijadas da pergunta sobre a verdadeira amizade boa em si mesma, que no limite acabava excluindo a dimensão sociopolítica, as amizades novas não se permitem ser analisadas pela leitura filosófica tradicional sobre o tema (Ortega, 1999). Conforme ratifica Primo (2016, p. 63), "o debate sobre a amizade não pode mais aceitar padrões de perfeição, que narram e sonham com uma forma relacional que jamais poderia se manter em situações reais". E ele acrescenta: "olhar o presente com as lentes do passado é enxergar uma imagem turva". Com a emergência desse novo discurso e prática relacional, evidencia-se a obsolescência dos cânones tradicionais da amizade, bem como a criação e a proposição de outra maneira de estabelecer, manter e romper vínculos.

As transformações sociais atuais profundamente marcadas pela descontinuidade, incerteza e liquefação impingem aos vínculos sociais, esgarçados e derretidos, a necessidade de novos significados e sentidos. Nessa nova aura relacional, é a novidade, a instantaneidade, a fugacidade, a fluidez, a quantidade, a recreatividade, a comicidade, a superação espaço-temporal, a sobrepujação e a fractalização de antinomias, marcas do funcionamento virtual e do mercado, que dão o tom às amizades que se travam hoje, e, por isso, a problematização da articulação entre amizade e virtualidade torna-se vital para aqueles que desejam compreender as mudanças instauradas nos laços sociais com o aparecimento da tela.

A observação cotidiana revela - e pesquisas como a de Primo, Valiati, Barros, & Lupinacci (2017) ratificam - que o Facebook é o site de rede social mais utilizado na atualidade. Seu potencial de ampliar as possibilidades de vivências relacionais e sua clara capacidade de inovação estética e tecnológica lhe garantem o lugar que hoje ocupa entre os diversos serviços on-line. Sua multifuncionalidade e interatividade propiciam o enodamento entre os espaços on-line e off-line, potencializando o laço social. Utilizado como lugar "de afirmação subjetiva e social, de construção de identidade, de validação da experiência, de socialização" (Lima, 2017, p. 84), o Facebook desempenha um papel fundamental na vida social e subjetiva dos sujeitos atualmente.

Contudo, esse site de rede social não assume essa posição de destaque exclusivamente pela evidente ampliação de possibilidades de vivência, de experimentação e de identificação que oferece, mas também pelas infinitas armadilhas que traz consigo mediante o manifesto processo de industrialização que submeteu a amizade. Esse processo foi mencionado por Primo (2014, p. 126):

Trata-se de um conjunto de estratégias de racionalização de afetos, de interações linguageiras e da explicitação de endossos (curtidas e compartilhamentos), cujo tratamento estatístico e geração de padrões de comportamentos de consumo podem ser comercializados para subsidiar futuras estratégias mercadológicas, como criação de campanhas promocionais, análise de tendências, planejamento de novos produtos segmentados etc.

A assimilação da amizade como mercadoria é própria do discurso capitalista (Lacan, 1969-1970/1992), que de tudo se apropria para transformar em objeto de consumo. Para Lesourd (2012), é o discurso capitalista que organiza o laço social contemporâneo e, por conseguinte, as relações de amizade. Nesse discurso, o sujeito controla a produção de novos objetos de desejo e o consumo deles, porém passa a ser por esse comandado. "O próprio sujeito parece ser, ele mesmo, capturado, agenciado, consumido como um gadget qualquer" (Cardoso, Souza & Calazans, 2017, p. 149, grifo dos autores). Nesse contexto, sob a lógica capitalista que faz de seus próprios usuários mercadoria a ser vendida a grandes empresas, o Facebook evidencia de forma exemplar as potencialidades e os perigos da articulação entre amizade e virtualidade, ambivalência que exige diariamente do sujeito contemporâneo adoção de posições críticas em relação a si, aos outros, aos relacionamentos que constrói e a tudo aquilo que sugere perspicazmente como modo de vida. E é justamente em meio a esse cenário movediço, mas potente, que a figura adolescente e seus ideais aparecem como representantes do sujeito contemporâneo às voltas consigo mesmo e com seus laços sociais.

 

O adolescente como figura paradigmática do sujeito contemporâneo

É a análise das comunidades que se referem às amizades novas virtualizadas, paradigma relacional ora em construção em contraposição às amizades perfeitas, que até então vigoravam, que permite identificar como a figura adolescente propriamente dita ou seus ideais de estilo de vida é que dão o tom ao modo de funcionamento, à estética e aos assuntos que são abordados em tais comunidades e, consequentemente, ao modo de fazer amigo hoje. Se é verdade que os adolescentes estão abandonando o Facebook e migrando para outros serviços on-line em busca de maior privacidade, na medida em que cresce o uso desse software social por seus pais ou responsáveis, conforme mencionam Primo et al. (2017), ao citar os estudos de Jivanda (2013) e Tate (2013), a cultura adolescente, contudo, não saiu dele. O Jogo do Add, o público-alvo e o modo de funcionamento das comunidades analisadas provam isso.

O Jogo do Add é o mecanismo utilizado pelos internautas para angariar novas curtidas, amigos e seguidores. Lima (2015, p. 89) comenta que a lógica ou a mágica desse jogo é muito simples: "o perfil do jogo faz um post, um usuário comenta, os outros curtem seus comentários, o primeiro adiciona todos aqueles que curtiram". A figura 1, reproduzida abaixo, encontrada na capa da comunidade nomeada "Jogo de novas amizades"6, exemplifica muito bem a dinâmica e o objetivo do jogo, pois o que vale são as inúmeras solicitações de amizade e notificações. A quantidade é supervalorizada em detrimento da qualidade. A sensação e a efetiva realidade de ter inúmeras solicitações de amizade e de notificações dão ao usuário a impressão de popularidade e importância, capitais sociais notadamente gerados e valorizados pelo Facebook e sua dinâmica. A conversa, ou seja, a troca efetiva, representada pelos dois balões centrais, fica em segundo plano, o que importa é receber convites de amizade, acumular amigos em detrimento do aprofundamento da relação com os já existentes ou com os novos.

 

 

Figura 1 - Foto encontrada na capa da comunidade "Jogo de novas amizades"
Fonte: Facebook, 2017

Apesar de o foco dos idealizadores e praticantes das amizades novas ser angariar exaustivamente novos likes, amigos e seguidores, é possível identificar nessa categoria uma contradição: nela estão as páginas com menor número de curtidas e seguidores (a que tem mais não chega a 31.000 nas datas pesquisadas7), em franca diferença com as demais categorias que possuem comunidades com mais de um milhão de curtidas e seguidores. Além disso, há pobreza de sentido na medida em que aparecem poucas frases que remetem à amizade ou que tentem significá-la. Tal realidade faz ressonância com o fenômeno chamado por Le Breton (2017a) de comunicação "fática", cujo objetivo é insistir no contato, sendo o conteúdo da mensagem um acessório.

Nesse tipo de comunicação, importa, antes de tudo, o simples ato da conversa, a manifestação da continuidade do mundo e da existência de ouvintes e interlocutores, e não o que se produz ou diz dessa troca. O autor ainda acrescenta que o estilo desse tipo de comunicação, com a desestruturação de linguagem e consequente dimensão regressiva que ela abriga, contribui para o fechamento em si, realidade comprovada pelo número razoavelmente significativo de páginas (191) e pela prática constante do Jogo do Add em contraste com a pobreza simbólica. Longe de excluir qualquer possibilidade de troca, tais páginas e, consequentemente, o discurso e a prática que elas abrigam não se mostram como um território fértil ou facilitador para o estabelecimento de laços sociais efetivos nem de coconstrução de si, mas acabam por exigir, cada vez mais, um posicionamento do sujeito errante contemporâneo em sua tarefa de transmissão e constituição de laços.

Por outro lado, essa mesma prática aparentemente pobre de sentido é indicativo de um movimento constante em direção ao outro para constituição de si e de laços, bem como para o fortalecimento dos vínculos, ainda que de maneira pontual e efêmera. A própria ação de se colocar na rede, ainda que não tenha nada específico para dizer, já diz de um movimento do sujeito de buscar uma marca nesse universo, uma troca, pois "no ciberespaço o silêncio equivale à exclusão" (Lima, 2014, p. 233). Ainda que a circulação seja mais importante que a mensagem e que a introspecção seja substituída pela interação frenética e frívola, a mensagem repetida que esses usuários comunicam é simplesmente: "Tô na rede" (Lima, 2014, p. 233), o que por si só já indica um desejo de contato.

Ionta (2010), com essa mesma percepção sobre a comunicação em rede, acrescenta que os comentários dos posts em sites de rede social, independentemente de qual seja, contêm uma lógica própria marcada pela brevidade, generalidade e redundância, mas que, paradoxalmente, são capazes de criar uma sensação de enlace social.

Como se pode observar, eles [os comentários] são feitos por homens e mulheres, via de regra, caracterizam-se pela brevidade, e sua narrativa pode ser irônica, de rejeição e/ou elogio. Vêm associados à exposição de crenças pessoais e frequentemente estão colados a lugares-comuns, a generalidades e redundâncias. Não é dito nada de novo, ou melhor, quase nada de novo nos comentários, uma vez que eles são muito mais opinativos do que informativos e fazem parte de uma escrita cotidiana. Porém eles criam uma conversação rápida, uma copresença, a constituição imediata de um clima de intimidade, transparência e proximidade entre escreventes e leitores (Ionta, 2010, p. 8).

Essa sensação de proximidade e pobreza de sentido, característica das amizades preconizadas pela novidade, parece estar relacionada à própria missão de tais páginas e ao seu modo de funcionamento estruturado especificamente sobre dois pilares: a conquista de novos relacionamentos por meio de curtidas, amigos, seguidores, parceiros amorosos e paqueras, bem como ofertar jocosidade e entretenimento aos seus fãs usuários. Esse modo de funcionamento baseado em relacionamentos como fonte de jocosidade e entretenimento parece inaugurar uma forma de relação iniciada, mantida e rompida de maneira mais fácil, rápida e sem sofrimento.

A esse tipo de amizade, baseada na facilidade de se conectar e desconectar, Bauman (2013) chamou de "amizade de Facebook". Para chegar ao entendimento de que tipo de amizade seria essa, o sociólogo começa sua explicação diferenciando comunidade de rede. A primeira precede o sujeito, ao passo que a segunda é construída por ele mediante dois mecanismos fundamentais: conectar e desconectar; e é justamente a facilidade que esses dois mecanismos, especialmente o último, imprimem nos modos de relações amicais do tipo Facebook que dá o tom de atratividade. Baseado na rede enquanto infraestrutura tecnológica que propicia relacionamentos virtuais e semivirtuais, esse tipo de relação extrapola o ambiente virtual e se presentifica no modo de estabelecer relações, impondo, assim, um modo de relacionamento mais fluido. Bauman (2004) complementa que, atualmente, as pessoas priorizam os relacionamentos em "rede", os quais podem ser tecidos e desmanchados com igual facilidade e sem, necessariamente, implicar um contato presencial. Primo et al. (2017) acrescentam que a adoção de terminologia informática na qual "conexão" e "conectar-se" substituem "relacionamentos" e "relacionar-se" é reveladora de como a tecnologia intervém significativamente nos processos relacionais, impingindo a eles suas características.

Realidades sociais tão atuais como essas revelam, de forma magistral, tanto o poder emancipador quanto assujeitador da rede e das relações de amizade mediadas por ela. Demonstram como o ciberespaço tanto amplia de forma quase ilimitada as possibilidades de comunicação e de circulação social, configurando-se como uma verdadeira rede de socialização, quanto apaga os sujeitos com seus excessos. Expondo de forma intensa toda a ambivalência da dimensão temporal em todas as suas facetas, inclusive nas formas de iniciar, manter e romper relações, o ciberespaço e suas práticas marcadas pela rapidez, pela velocidade tecnológica, pelo imediatismo e pelo fluido convocam o sujeito a fazer uma apreensão imediata do excesso (Lima, 2014). Contudo, a limitação própria do sujeito impõe igualmente suas exigências, pois, nesse universo quase infinito de informações e imagens, o que passa a valer para o sujeito é a quantidade, não a qualidade. A rapidez exigida no tratamento das informações e das relações impõe o tom de superficialidade que marca as relações amicais atuais, modificando diretamente a forma como os laços sociais são hoje estabelecidos.

Ainda que o Jogo do Add não seja utilizado somente por adolescentes, pois é "feito pras pessoas que gostam de ter novas amizades"8, e isso independe da faixa etária do jogador, as publicações realizadas nessas comunidades abarcam temas essencialmente relacionados ao universo adolescente, pois remetem-se aos seus dilemas, origens, preferências, sexo e escola. E a maioria dos posts segue uma estrutura básica: trata-se de uma pergunta seguida do termo "quem curtir voce add ou segue". As duas opções oferecidas pelo jogo, curtir ou seguir, estão alinhadas às possibilidades que os usuários possuem, pois, caso já tenham extrapolado 5.000 amigos, número máximo permitido pelo Facebook para cada perfil, o jogador não poderá mais adicionar, mas poderá ainda seguir, não ficando, assim, fora da brincadeira. Alguns exemplos de posts:

Uma qualidade sua? Quem curtir voce add ou segue."; "Voce estuda de: 1-manhã, 2-tarde, 3-noite, 4- não estuda mais. Quem curtir voce add ou segue"; "Vc e virgem? (Sim ou nao) Quem curtir vc add"; "Vc gosta de tomar banho? (Sim ou nao) Quem curtir vc add", "Voce ja fumou? (Sim ou nao) Quem curtir voce add" (Lima, 2015, p. 90).

Além da preponderância de "assuntos adolescentes", o público-alvo dessas comunidades parece ser essencialmente dessa faixa etária, conforme afirma o criador de uma delas: "pagina em que os adolescentes podem conhecer novas amizades"9. E, além de serem destinadas aos adolescentes, as comunidades do Facebook também são criadas e administradas por eles, pois mencionam coisas referentes à escola e role10, atividades típicas dessa fase no campo "sobre", local destinado à explicitação de características relacionadas à comunidade, que é preenchido pelo administrador/criador da página.

O que se conclui é que, mesmo que nem todas as páginas sejam criadas, administradas ou frequentadas por adolescentes, a forma de funcionamento e a estética apresentada nas fotos de perfil e capa, bem como nas frases e publicações, estão intimamente relacionadas ao universo e à lógica de tal época da vida. Tais páginas carregam em si a marca dos dias atuais, em que tudo se torna rapidamente obsoleto, ultrapassado, descartável. Também a história se torna descartável ao perder o sentido, assim como o sujeito, que precisa conservar-se sempre jovem, dinâmico e belo para não correr o risco de também ser descartado (Lima, 2014). "Constata-se um desejo de perpétua renovação do eu, do presente e da vivência do tempo, de revivificar essa experiência por meio de novidades que se oferecem como simulacros de aventura. [...] A prioridade é a eternização da juventude" (Viola, 2017, p. 114). Nessa corrida contra tudo aquilo que remete ao antiquado e ao velho, o sujeito contemporâneo aposta na jovialidade para se manter e manter seus laços (Figuras 2, 3 e 4).

 

 

Figura 2 - Foto de perfil da comunidade "Amizade Verdadeira"11
Fonte: Facebook, 2017

 

 

Figura 3 - Foto da capa da comunidade "Amizade Verdadeira"
Fonte: Facebook, 2017

 

 

Figura 4 - Foto da capa da comunidade "Amizade é Tudo"12
Fonte: Facebook, 2017

Essa realidade revela ou denuncia o que Calligaris (2000) e Kehl (2004) descreveram em seus textos: a adolescência tornou-se, a partir da Modernidade, um ideal e sintoma cultural. Se, até a primeira metade do século XX, os jovens desejavam, cada vez mais depressa, se parecer em todos os sentidos com os adultos, tal realidade se modificou depois de 1950, momento em que a adolescência passou a ser vista como um estado de espírito, um jeito de corpo, um sinal de saúde e disposição, um perfil do consumidor, uma fatia do mercado em que todos querem se incluir.

Essa mudança tem suas bases na forma como os adolescentes buscavam o reconhecimento dos adultos e a transformação desse jeito de ser adolescente em mercadoria a ser vendida não só para eles próprios, mas também para os adultos, crianças e até idosos. Calligaris (2000) pontua que, na busca incessante de serem reconhecidos pelo mundo adulto como um par, especialmente por meio da rebeldia, os adolescentes acabaram encarnando o maior sonho da cultura ocidental moderna adulta: a liberdade, tornando-se, assim, um modelo identificatório e objeto de imitação dos adultos, processo ao qual Kehl (2004) nomeia de teenaginazação da cultura ocidental. Ao ser vampirizada pelo capitalismo, a adolescência, que era vista como um momento marcado pela crise, como significante para tudo o que até então era vivido nos porões da civilização, saiu desse lugar para se tornar uma nova fatia do mercado, virar consumidor em potencial. A partir disso, ser adolescente virou slogan, virou clichê publicitário, virou imperativo categórico - condição para se pertencer a certa elite atualizada e vitoriosa. E, como ocupante da posição central no discurso, o adolescente contemporâneo "representa o instante fugaz da juventude, da beleza e da urgência dos prazeres" (Viola, 2017, p. 115).

Entretanto, a ascensão da adolescência dos porões da vida ideal e sintoma social não é sem consequência. Os laços sociais que na Modernidade eram sustentados pelos ideais da Revolução Francesa, na qual igualdade e fraternidade eram primordiais, perderam espaço para a liberdade, representada de forma máxima na figura adolescente, conforme situa Coutinho (2009). O ideal-sintoma encarnado pela adolescência evidencia a incapacidade de dar consistência ao laço social e de assegurar a sua transmissão mediante a falta de representantes sociais com os quais possam se identificar, favorecendo a emergência de um ideal narcísico totalizante e sem falhas preso ao presente em detrimento de um ideal de eu que aponte para projetos futuros e que permita um espaço para a falta e para o conflito, motores para o desejo.

Mediante a constante mudança de figuras do Outro ou até mesmo seu declínio ou inexistência, há uma crise do simbólico, realidade que impacta diretamente a concepção de ideais que, para Freud (1921/1996), está na origem do laço social. Diante da inexistência de ficções compartilhadas, o sujeito contemporâneo, tendo a si mesmo como referência, aparece sozinho e errante nessa complexa tarefa de transmissão e apropriação do laço social que pressupõe a saída dos Outros parentais para os Outros do laço social.

Coutinho (2009, p. 62) acrescenta que "nas sociedades urbanas, organizadas em grandes círculos sociais, o indivíduo busca cada vez mais em si próprio um ponto de referência, fixo e não ambíguo, na medida em que não pode mais encontrá-lo em nenhum ponto exterior a ele". Para a autora, essa perda de referências tradicionais e a busca em si por um ponto fixo no qual possa ancorar o seu eu são determinantes para o surgimento da adolescência. É uma adolescência, portanto, sem referências, que não pode mais recorrer à tradição nem ao significante para tamponar a angústia, mas que, em contrapartida, lança mão de objetos e relações descartáveis mediante "a centralização do objeto a e do gozo" (Viola, 2017, p. 107).

Com o enfraquecimento das figuras de autoridade e o aparecimento de ideais cada vez mais desgastados e provisórios, o que prevalece são "modalidades virtuais de acesso ao conhecimento, de forma desordenada e desregulada, em meio a um universo virtual no qual a informação não tem limites" (Viola, 2017, p. 116). Essa realidade é exemplificada nesta pesquisa na medida em que o acúmulo de amigos é avidamente procurado e valorizado, bem como marcado por um comportamento orientado por pouquíssimas ou nenhuma regra, modo de funcionamento que suplanta a qualidade e a solidez dos laços outrora buscados. São sujeitos que consomem relações como se fossem objetos de consumo, para tão logo serem descartadas e substituídas.

Para Lacan (1969/1970/1992), os discursos são, em sua releitura da teoria freudiana de civilização, formas de absorver o gozo e relacioná-lo à linguagem. O convívio social só se fez possível quando todos colaboraram com o sacrifício da renúncia pulsional em nome da civilização.

O discurso como laço social é um modo de aparelhar o gozo com a linguagem na medida em que o processo civilizatório, para permitir o estabelecimento das relações entre as pessoas, implica a renúncia da tendência pulsional em tratar o outro como um objeto a ser consumido [...] A civilização exige do sujeito uma renúncia pulsional. Todo laço social implica um enquadramento da pulsão, resultando em uma perda real de gozo. Todo discurso é, portanto, um aparelho: aparelho de gozo (Quinet, 2006, p. 17)

Porém a renúncia de satisfação pulsional implica a produção de mal-estar. O adolescente, nesse sentido, sinaliza o sofrimento, a culpa e a hostilidade entre as pessoas, que foram suprimidas para a fundação da civilização. Ele revela índices de gozo escondido pelo sintoma, representa o que se produz e o que não vai bem no campo do real. "Ele encarna, no laço social, o quinhão do gozo que resiste ao rolo compressor da cultura " (Viola, 2017, p. 95). As relações amicais buscadas avidamente por meio do Jogo do Add aparecem, portanto, como objetos que prometem tamponar o vazio deixado pela renúncia pulsional. Esse resto, que implica mal-estar e que não pode ser eliminado totalmente, persiste por meio da busca constante de novos amigos, curtidas e seguidores numa rota infinita, na tentativa de alcançar a felicidade plena, forma de gozo autossuficiente que, muitas vezes, em vez de potencializar, impede o laço social.

Se antes de se tornarem um ideal para todas as idades em nível global, os adolescentes, por meio do intenso trabalho de interpretação dos desejos recalcados dos adultos, tentavam o reconhecimento destes como par, eles descobrem que, na verdade, os adultos gostariam de ser como eles: "os adolescentes pedem reconhecimento e encontram no âmago dos adultos um espelho para se contemplar", pontua Calligaris (2000, p. 74). Crescer e se tornar adulto, portanto, não significa mais nenhuma promoção, visto que significa abandonar o lugar tão desejado pelos adultos. Entretanto, a abdicação dos adultos deixando vazio esse lugar em nossa sociedade também não é sem consequências: a falta de modelos identificatórios para além de si mesmos deixa adolescentes confusos e à deriva, cabendo a cada um, de forma totalmente solitária, encontrar saídas para seus impasses. A imposição do narcisismo, citada por Kehl (2004) como outra consequência dessa retirada do adulto de seu lugar e papel social, gera pânico nos adolescentes, pois, mesmo diante de tantos dilemas, conflitos, inseguranças e dificuldades enfrentadas em tal época, eles têm que responder ao imperativo de ser sempre feliz, que lhes foi imputado pela cultura, visto que vivem uma "maneira de ser adulto quanto aos prazeres, mas sem as obrigações relativas" (Calligaris, 2000, p. 74).

Imposição de felicidade que dificulta a percepção do sofrimento que assola os adolescentes, pois, para além de ser a idade favorita, a adolescência também é sintoma social. Como ocupantes da posição de resto, de vazio, análoga ao objeto a , que está no zênite do social, os sujeitos adolescentes contemporâneos representam, portanto, os paradoxos atuais.

O adolescente é, ao mesmo tempo, objeto-agalma, como aquele que representa todas as aspirações da sociedade atual, uma "fênix emocional", e objeto-falta, a quem se destina uma profusão de objetos descartáveis produzidos pelo mercado, incapazes de tamponar o vazio proveniente da não inscrição desses sujeitos no Outro (Viola, 2017, p. 117, grifos da autora)

Frente à perda de um sentido de identidade, ligada à experiência de errância subjetiva ocasionada pela pulverização das referências identificatórias oferecidas pela cultura, o tribalismo (Maffesoli, 1998) se apresenta como uma tentativa de demarcação e sustentação identitária, ainda que os critérios de pertencimento a cada uma das tribos, assim como as condições identificatórias que elas promovem sejam, muitas vezes, frágeis e descartáveis, pois se engajam e desengajam incessantemente. Por isso, o nomadismo, a instabilidade e a mobilidade, características centrais do individualismo, são a base da concepção identitária contemporânea (Coutinho, 2009).

A adolescência em nossa sociedade ocupa, portanto, o mais alto patamar na escala da importância dos ciclos etários, realidade demonstrada nas páginas encontradas: de um lado, estão os adultos e idosos que querem retroceder no tempo, abandonando seus respectivos lugares e papéis sociais para se tornarem "adultescentes" (Le Breton, 2017b, p. 84), isto é, eternos adolescentes; de outro, estão as crianças, que, cada vez mais, são chamadas a decidir por elas mesmas, com uma autonomia crescente, deixando, assim, de serem totalmente crianças e ingressando no mundo adulto, que, na verdade, quer ser adolescente. Realidades sociais como essas são facilmente percebidas nas páginas do Facebook, mediante a fusão de posturas e imagens geralmente atreladas às crianças e aos adultos com aquelas que são em geral percebidas em adolescentes (Figuras 5, 6 e 7).

Figura 5 - Foto da capa da comunidade "Amizade é tudo S2"13
Fonte: Facebook, 2017

Figura 6 - Foto da capa da comunidade "Amizade É Tudo"14
Fonte: Facebook, 2017

Figura 7 - Foto do perfil da comunidade "Amizade Verdadeira"15
Fonte: Facebook, 2017

A infantilidade misturada com ideais adolescentes e adultos, que facilmente é percebida nas páginas do Facebook, também pode ser explicada. Calligaris (2000) comenta que a adolescência é uma espécie de infância prolongada no corpo de um adulto, pois o adolescente precisa ser feliz como as crianças são e, ao mesmo tempo, ter condições físicas e psíquicas para realizar os prazeres mais alinhados com os dos adultos. As crianças, que no início da Modernidade deram suporte aos adultos como fonte de continuidade dos sonhos interrompidos pela morte, com a criação do conceito de adolescência foram relegadas ao segundo plano.

Assim, os adultos carregam em si ideais e estilos de vida adolescentes, que, por sua vez, são uma extensão da infância com algumas regalias de adultos. Tal realidade, entretanto, incide diretamente na constituição dos laços sociais contemporâneos. Ocupando o lugar de ideal e sintoma da cultura, a adolescência se torna paradigmática ao representar a condição de todo sujeito na contemporaneidade, isto é, errante ante a falta de suportes coletivos representativos de uma busca ou promessa de satisfação futura que possam fundamentar a constituição do ideal do eu como marca do desejo a ser satisfeito. O que se vê, por seu turno, é a busca da satisfação imediata, que não pressupõe mediação de um terceiro nem admite concessões, de modo que a referência ideal principal não se situa na alteridade, mas no próprio eu.

Nesse cenário, o adolescente errante faz da mobilidade própria do tribalismo defendido por Maffesoli (1998) uma tentativa de demarcação e sustentação identitária e formação de laços, ainda que sempre mutáveis. Essas fratrias órfãs (Kehl, 2008) que tentam elaborar novos modelos de sustentação social e novas referências, uma vez que não contam com a presença de figuras capazes de encarnar os ideais de uma maneira mais estável e global, são pequenos grupos construídos mediante afinidade dos membros. "'Pequenas franco-maçonarias', e sua eficácia se apoia, essencialmente, no fato de que a proximidade de seus membros cria laços profundos, o que provoca uma verdadeira sinergia das convicções de cada um" (Maffesoli, 1998, p. 117), aumentando o sentimento de pertença.

Desapegadas de projetos a longo prazo, ou seja, de relações que devam durar para sempre, conforme defendido no discurso-prática da amizade perfeita, as amizades novas, muito bem representadas pelas tribos maffesolinianas, se arquitetam sob a insígnia do presente ou do presenteísmo, para usar o termo do autor. Como corolário, as relações amicais são pontuais: "conforme os interesses do momento, conforme gostos e ocorrências o investimento passional irá conduzir para tal ou qual grupo, para tal ou qual atividade" (Maffesoli, 1998, p. 176). São relações instantâneas que se movem segundo as pegadas do desejo, porém intensas, visando unicamente o ato de estar junto à toa.

Nesse novo modelo relacional, é a liberdade, encarnada de forma máxima pelo adolescente, que dá o norte para o iniciar, o manter e o romper as relações amistosas. E, como os desejos sempre mudam, a mobilidade e a intensidade são as marcas dessa nova maneira de estar junto. Liberdade que, ao ser apropriada pelo discurso capitalista, eleva o sujeito à posição de mestre que tem o poder de comandar sua vida e relações, mas que também o apaga, pois o que causa seu desejo é um objeto do qual ele não tem controle (Lima, 2014). Ambiguidade que, para Maffesolli (1998), demonstra não somente a versatilidade das relações, mas também a crueldade dessa nova forma de socialidade, pois são aldeias urbanas que podem, paradoxal e concomitantemente, mostrar relações densas e cruéis, que podem contribuir tanto para a efetivação do laço social quanto para o aprofundamento do hiperindividualismo. Nesse cenário, as novas tecnologias potencializam tanto o aparecimento de rede de tribos, ou seja, vários pequenos grupos que compartilham o mesmo território da virtualidade: "'multidão de aldeias' que se entrecruzam, se opõem, se entreajudam, ao mesmo tempo que permanecem elas mesmas" (Maffesoli, 1998, p. 194), quanto a solidão em rede defendida por Turkle (2011).

Esse discurso e prática amical, amparado na mobilidade e fluidez, pode ser usado em toda a sua beleza, mas também em seu vasto perigo, na medida em que pode ser uma saída para a atomização e apagamento do individualismo moderno ou pode esbarrar na solidão em rede (Turkle, 2011). Podem ser laços prazerosos, lúdicos e divertidos, marcados pelos traços da virtualidade, mas a conexão permanente também pode ser estressante, opressiva, causar ansiedade, mal-entendidos. Ou seja, são laços que têm potencial massificador ou instrumentalizador. O sujeito pode utilizá-los tanto para seu apagamento e assujeitamento quanto para a criação de saídas inventivas e singulares na construção de si e dos seus laços sociais.

 

Considerações finais

As relações amicais atuais estão passando por um processo de mudança de paradigma na medida em que os ideais da amizade perfeita, que vigoravam até então, não condizem mais (pelo menos na prática) com uma sociedade intensamente atravessada e marcada pela virtualidade. Os laços sociais sob o discurso da perfeição, que na Modernidade eram sustentados pelos ideais da Revolução Francesa, estão perdendo espaço para a liberdade, representada de forma máxima na figura adolescente. Tais mudanças criadas e/ou potencializadas pela rede são vivenciadas pelo "sujeito adolescente contemporâneo", mesmo que cronologicamente não pertença a essa faixa etária.

Esse ideal-sintoma encarnado pela adolescência, tal qual a virtualidade, é ambíguo. Esse mesmo adolescente que é marcado pelo individualismo e conduzido essencialmente pelo desejo e que, por isso, tem impasses com a alteridade, pode fazer da própria vida uma obra de arte a ser esculpida por si mesmo mediante a busca de saídas criativas e singulares diante da realidade social a partir do seu desejo, quanto pode ser totalmente assolado por esse contexto. Tanto as tribos de Maffesoli (1998) quanto as amizades novas de Soares (2018) podem ser apropriadas como motores do hiperindividualismo ou como reações coletivas, holísticas a um mal-estar subjetivo generalizado de apropriação e renovação do laço social. O que sobra, portanto, é a posição que cada sujeito assumirá, movido pelo desejo frente à realidade social.

 

 

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Artigo recebido em: 30/08/2018
Aprovado para publicação em: 02/07/2019

Endereço para correspondência
Samara Sousa Diniz Soares
E-mail: samarasousadiniz@gmail.com
Márcia Stengel
E-mail: marciastengel@gmail.com

 

 

*Mestre em Psicologia e Psicóloga pela PUC Minas. Professora universitária e de curso profissionalizante.
**Professora da Faculdade de Psicologia e do Programa de Pós-graduação de Psicologia da PUC Minas, Psicóloga, doutora em Ciências Sociais pela UERJ, Pós-doutora em Educação pela UFMG, Mestre em Psicologia Social pela UFMG. Membro do Conselho de Ética em Pesquisa da PUC Minas e do Conselho Editorial da Editora PUC Minas.
1Neste trabalho, o termo laço social será utilizado não somente em seu sentido lacaniano, mas também como referente à amizade por entendê-la como uma das formas possíveis de manifestação do laço social.
2Todos os textos, poemas e frases encontrados nas comunidades são citados literalmente, respeitando, inclusive, os erros em relação às regras da língua portuguesa.
3Frase da capa. Disponível em: <https://www.facebook.com/AmigosDistantes/?ref=br_rs>
4Frase da capa: Disponível em: <https://www.facebook.com/Vamos-fazer-novas-amizades-1400309020216027/?ref=br_rs>
5Frase encontrada no campo "sobre": Disponível em: <https://www.facebook.com/Borafazernovasamizades/?ref=br_rs>
6Foto da capa: Disponível em: <https://www.facebook.com/jogonovasamizades1/?ref=br_rs>
7Disponível em: <https://www.facebook.com/RocigOficial/?ref=br_rs>
8Frase encontrada no campo "sobre" da comunidade. Disponível em: <https://www.facebook.com/Jogo-Do-Add-ou-Segue-Novas-Amizades- 641211085930302/?ref=br_rs>
9Frase encontrada no campo "sobre" da comunidade. Disponível em: <https://www.facebook.com/conhecaamizadesnovas/?ref=br_rs>
10Frase encontrada no campo "sobre" da comunidade. Disponível em: <https://www.facebook.com/Querendo-Nova-Amizades-2015-686789024768059/?ref=br_rs>
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