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Tempo psicanalitico

Print version ISSN 0101-4838On-line version ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.51 no.2 Rio de Janeiro July/Dec. 2019

 

ARTIGOS

 

A crise dos sentidos: uma perspectiva ferencziana

 

The crisis of the senses: a Ferenczian perspective

 

La crise des sens: une perspective ferenczienne

 

 

Stephanie Brum*

Pontifícia Universidade Ctólica do Rio de Janeiro - PUC-Rio - Brasil
Grupo de Estudos e Pesquisa Nebulosa Marginal - Brasil
Rede Florescer - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A clínica contemporânea tem se apresentado como um campo no qual se enunciam inúmeros desafios. Nesse panorama nos deparamos com sintomas que parecem desatrelados -ou frouxamente vinculados - de uma representação capaz de localizá-los fantasmaticamente ou no próprio tecido desejante daquele sujeito em particular. Tal ponto nos leva a pensar nesses sintomas como não referidos a um sentido passível de interpretação. A fim de promover um estudo sobre essa problemática, buscaremos na obra de Sandor Ferenczi formas de entender a escassez de sentido à qual o aparelho psíquico também pode estar sujeito. Partiremos assim de um estudo sobre a problemática do trauma, na qual se daria uma impossibilidade de introjeção do ocorrido para, então, discutirmos o que chamamos de "crise dos sentidos".

Palavras-chave: sentido, representação, interpretação, trauma, introjeção.


ABSTRACT

The clinic of the contemporaneity has been presented as a field in which innumerable challenges are presented. In this panorama we are faced with symptoms that looks like unattached - or loosely bound - from a representation capable of locating it phantasmatically or in the very desire tissue of that particular subject. Such a point leads us to think of these symptoms as not referred to a meaningable sense. In order to shed light on this problem, we will seek in Sandor Ferenczi's work ways of understanding the scarcity of meaning to which the psychic apparatus may also be subject. We will start our studies in the trauma's problem, in which it would be impossible the introjection process, and then we will discuss what we have call the "crisis of the senses".

Keywords: sense, representation, interpretation, trauma, introjection.


RÉSUMÉ

La clinique contemporaine a été présentée comme un domaine dans lequel d'innombrables défis sont présentés. Dans ce panorama, nous sommes confrontés à des symptômes qui semblent indépendants - ou vaguement liés - à une représentation capable de les localiser de façon fantasmatique ou dans le tissu même du désir de ce sujet particulier. Tel point nous amène à penser que ces symptômes ne sont pas référés à un sens qui peut être interprété. Afin de promouvoir une étude sur ce problème, nous chercherons dans le travail de Sandor Ferenczi les moyens de comprendre la pénurie de sens à laquelle l'appareil psychique peut aussi être soumis. Nous partirons donc d'une étude sur le problème du traumatisme, dans lequel il serait impossible d'introjecter ce qui s'est passé, puis de discuter de ce que nous appelons la "crise des sens".

Mots-clés: sense, représentation, interprétation, trauma, introjection.


 

 

Introdução

O presente tema de pesquisa surgiu em decorrência de inquietações referentes às novas formas de subjetividade observadas na clínica contemporânea. O paciente contemporâneo chega ao consultório assolado por uma dor que, diferente do observado nos casos de Freud, parece não levar a um mundo de fantasias inconscientes. Nesse panorama, reconhecemos que o que parece estar em questão é antes da ordem de uma dor (referida ao irrepresentável) do que de um sofrimento (pautado em um conflito psíquico propriamente dito).

Visto isso, Birman (2014) afirma que, na clínica da contemporaneidade, encontramos de forma cada vez mais frequente uma impossibilidade de produção de sentido a partir da qual a subjetivação da dor fosse possível. Ou seja, o que antes era vivido como um sofrimento, fruto de um processo de simbolização, agora surge como dor de um indizível. Como consequência dessa nova forma de expressão subjetiva - na qual o conflito psíquico não parece estar presente - nos deparamos com sintomas que se apresentam como uma forma de sofrimento psíquico esvaziada de significado, se enunciando não mais sob a forma de um sofrer neurótico dotado de um sentido - tecido por uma voluptuosa teia fantasmática -, mas como uma dor do indizível (Birman, 2012). Desse modo, Birman (2012, p. 65) considera que "o mal-estar se evidencia agora como dor, inscrevendo-se nos registros do corpo, da ação, e das intensidades". O que nos faz atentar para casos nos quais o registro do corpo é requisitado como forma de expressão - aparentemente desprovida de um sentido - que não foi capaz de alcançar uma via pautada na representação, mas sim na própria esfera corporal. Tal problemática nos leva a cogitar que os sujeitos inseridos nessa dinâmica apresentem um baixo índice de interiorização (Birman, 2014), assim como uma falha na mediação psíquica que seria capaz de dotá-la de um colorido capaz de enquadrá-la na categoria de sofrimento.

A partir dessas considerações somos levados a questionar se esses pacientes se encontrariam presos em uma incapacidade de elaboração, configurando o que Freud designa como trauma (Freud, 1920/2010). Outrossim, essa dor contínua que limita o agir desses sujeitos no mundo, propiciando o caos e gerando angústia - algo não familiar, um indizível que nos assola no âmbito corporal -, o inscreve em uma relação distinta com seu sintoma. Logo, a formação sintomática que antes era tida como fruto da história particular de cada sujeito - se apresentando como um intruso tão visceral quanto o próprio desejo que move o aparelho psíquico - agora parece solto em um oceano de atos, movimentos e sensações não vinculadas - ou frouxamente ligados - a uma teia fantasmática de base, capaz de relacionar esses sintomas a um conflito da ordem do sexual. Nesse panorama nos deparamos com uma falta que, diferente da neurose, parece antevir o próprio desejo, uma falta de sentido.

É a partir dessa problemática e visando estudar a modalidade de sintoma que parece desatrelado - ou frouxamente vinculado - com uma cadeia representacional capaz de lhe conferir um sentido que nos voltamos para as considerações de Ferenczi. Este autor, discípulo de Freud e conhecido como o analista dos casos difíceis, nos apresenta todo um pensamento inovador que tem nos ajudado na compreensão, estudo e problematização de diversas questões suscitadas pela clínica da contemporaneidade. Desse modo, partiremos de uma delimitação sobre o próprio conceito de sintoma - que por vezes é deveras atrelado a uma dinâmica conflitual e ao mecanismo psíquico do recalque - para em seguida nos direcionar propriamente à relação entre sintoma e representação tendo em vista as considerações de Ferenczi sobre o trauma.

 

O sintoma para além do recalque

Percebemos que no início da obra freudiana os sintomas eram tomados como uma forma de defesa do psiquismo, o que leva a histeria a ser associada à neurose traumática como forma de justificar a falta de correlação entre seus sintomas conversivos e possíveis traumas físicos que poderiam ter gerado tais reações (Breuer, & Freud, 1983-1985/2016). Tal consideração garante aos sintomas histéricos um sentido, derivado da história de vida do paciente, além de se tornarem fruto de um movimento defensivo que teria por objetivo manter afastado da consciência o evento traumático (Breuer, & Freud, 1983-1985/2016). Desse modo, podemos sempre relacionar a formação sintomática a uma formação defensiva, que em "A interpretação dos sonhos" (Freud, 1900/2006), a partir da proposição de um drama edípico, se torna equivalente a um movimento defensivo diante de um conflito psíquico inconsciente de ordem sexual, sendo assim aproximado da ideia de recalque de uma vez por todas. No entanto, em "Inibição, sintoma e angústia" (Freud, 1926/2014), são trazidos à tona novamente os problemas inerentes às formações sintomáticas a partir da proposição de que a própria neurose obsessiva - uma das neuroses de transferência freudianas - não estaria tão remetida ao modelo do recalque quanto a histeria e, sim, muito mais a um mecanismo regressivo. Esse ponto nos leva a considerar a importância do movimento de regressão não apenas na neurose obsessiva, mas enquanto uma possibilidade própria da lógica neurótica como um todo. Nesse contexto, o autor aponta:

Mas deixemos de lado, como matéria para a reflexão futura, a possibilidade de que repressão seja um processo que tem relação especial com a organização genital da libido, de que o Eu recorra a outros métodos de defesa quando tem de se defender da libido em outros estágios de organização (Freud, 1926/2014, p. 64).

Outro ponto importante que merece nossa consideração nessa problemática está presente em "Introdução ao narcisismo" (Freud, 1914/2010), texto no qual Freud nos apresenta pela primeira vez suas considerações sobre o narcisismo. Nesse trabalho, além de formular esse estádio como o responsável pela formação do sentimento de si do sujeito a partir dos investimentos parentais, também é conferida uma função narcísica aos sintomas. Podemos identificar tal relação entre sintoma e narcisismo ao nos depararmos com as considerações sobre a dor de dente enquanto sintoma físico, localizável, ao qual o sujeito confere a mais cara importância. Nesse caso, Freud nos informa que, ao conferir a essa parte de si lesada por uma enfermidade um privilégio no que tange a seus investimentos narcísicos, o sujeito se torna então, de certa forma, aquele dente (Freud, 1914/2010). Tal consideração, que também se aplicaria aos sintomas hipocondríacos - mesmo que nesse caso o órgão não se encontre de fato doente -, nos faz questionar a função do sintoma: prezar pela integridade do sujeito. Tais considerações nos levam a afirmar que a integridade física não é a única que pode vir a sofrer ameaças, consideramos que esses esforços do psiquismo também se encontram relacionados à manutenção de uma integridade psíquica, sentimento de si ou narcisismo do sujeito1. Desse modo, acreditamos poder encontrar neste texto subsídios para afirmar o sintoma não apenas como restrito a formações de compromisso advindas de um conflito psíquico tal como nas neuroses clássicas, mas também um sintoma cuja principal função seja justamente zelar pela integridade narcísica do sujeito.

Tendo em vista esses pontos, consideramos plausível nos referir a essas formas de expressão que não se encontram remetidas tão intensamente a uma teia fantasmática ou um tecido desejante de base a partir da categoria de sintoma - mesmo que nosso argumento central se paute na possibilidade de uma não vinculação entre estes e uma cadeia representacional que possibilite a expressão de um conflito psíquico.

Dando continuidade a essa linha de pensamento, nos remetemos à questão dos tiques, Ferenczi (1921/2011) ressalta o lugar dos tiques enquanto sintomas psíquicos2, sendo assim dotados de sentido. Nesse panorama, o autor remete o tique ao traumático, afirmando que esses movimentos, aparentemente involuntários, remontariam à posição defensiva do corpo do sujeito diante de um trauma experienciado no passado. Além disso, ressalta também a importância narcísica desses movimentos que, ao serem realizados, garantem ao sujeito sua existência e integridade narcísicas - que teriam sido ameaçadas em decorrência do traumatismo sofrido.

Dessa forma, seguindo ainda o apresentado por Ferenczi (1921/2011), teríamos que: para que algo seja inserido na cadeia representacional um processo deve se dar. Com isso Ferenczi postula que nada se encontra automaticamente inserido nessa cadeia, necessitando de um processo específico para a inclusão de novos conteúdos no aparelho psíquico. Logo, temos que o tique se encontra relativamente desvinculado da cadeia representacional, atuando ao mesmo tempo como sistema de defesa do Eu diante de alguma ameaça à integridade narcísica do sujeito. Nesse sentido, o tique nos apresenta um sintoma que busca no corpo uma forma de expressão direta do traumático - remetemo-nos à concepção de trauma como um incidente capaz de afetar o movimento de aquisição de sentidos de uma experiência, conforme veremos mais adiante.

Dentro desse panorama, a proposição de uma teoria ferencziana do trauma (1932/2011), se configura como um ponto importante em meio à problemática da relação entre sintomas e representações. A partir de sua teoria do trauma, Ferenczi nos faz retornar à questão da certeza de si, ao papel do outro enquanto mediador do mundo, assim como ao lugar fundamental da introjeção no que tange à constituição psíquica e relação do sujeito com o mundo. Visto isso, buscamos, a partir do modelo do trauma, obter os subsídios necessários para pensar a emergência de sintomas que parecem desarticulados de uma cadeia representacional que lhes dê suporte. Tal questão apresenta sua grande importância na medida em que: enquanto Freud baseou sua teoria na consideração de que os sintomas psíquicos também seriam dotados de sentido, essa relação entre sintoma e sentido parece cada vez mais relativa nas formações sintomáticas atuais.

 

O trauma ferencziano

Desde o início da obra ferencziana nos deparamos com a importância das influências externas sofridas pelo sujeito em sua constituição e dinâmica psíquicas. Dito de outra maneira, o mundo externo representa para Ferenczi a matéria-prima sobre a qual o psiquismo irá não apenas se fundar, mas também se sofisticar. Enquanto no pensamento freudiano a força que move o sujeito e o impulsiona ao longo de seu desenvolvimento é a pulsão (Freud, 1915/2010), para Ferenczi o aparelho psíquico se modifica e se sofistica em decorrência das influências do mundo a partir dos traumas sofridos ao longo da vida (Ferenczi, 1924/2011). É claro que com isso não estamos negando a dimensão intersubjetiva à qual a pulsão é remetida por Freud desde o "Projeto para uma psicologia científica" (Freud, 1895), tampouco a relação que a experiência pulsional passa a possuir com o traumático (Birman, 2003). Ao invés disso, ao apontarmos a importância das catástrofes na constituição subjetiva ferencziana estamos reafirmando e positivando o movimento de quebra e reconstrução que elas demandam do aparelho psíquico; modificando-o, complexificando-o e sofisticando-o.

Seguindo-se a proposta ferencziana, o aparelho psíquico seria proveniente de um jogo inicial de projeções e introjeções no qual, tendo como base o outro, o mundo externo seria, de certa forma, absorvido (Ferenczi, 1909/2011). É nesse jogo de introjeções e projeções que Ferenczi irá localizar a dimensão pulsional do processo de constituição psíquica, lançando luz sobre toda a importância que os fatores ambientais possuem nessa dinâmica, ressaltando desse modo a faceta intersubjetiva do processo de estruturação do psiquismo. Esses conteúdos, introjetados a partir de uma relação de troca inicial com o mundo, garantem a matéria-prima necessária para a construção do jogo representacional próprio do psiquismo - ponto que explicitaremos mais adiante.

Desde "Thalassa: ensaio sobre a teoria da genitalidade" (Ferenczi, 1924/2011), Ferenczi propõe que o psiquismo se formaria em decorrência das catástrofes, uma vez que cada catástrofe obrigaria o aparelho psíquico a se desenvolver e se adaptar à nova situação - concepção sempre remetida a um pensamento lamarckista. Desse modo, os traumas que o indivíduo sofre ao longo do desenvolvimento gerariam um desejo de retorno ao estado anterior a esse ocorrido, nos levando a entender o desejo para Ferenczi como proveniente desses movimentos de quebra - o que por sua vez, ao mesmo tempo, limita esse sujeito na medida em que também acaba por produzir barreiras3.

Um ponto importante apresentado pelo autor (Ferenczi, 1924/2011) é a relação entre as catástrofes da espécie e as catástrofes próprias ao desenvolvimento do ser humano. É justamente esse paralelo - assim como o anseio pelo retorno a esse oceano thalássico - que traz à tona a ideia de que o psiquismo estaria sempre repetindo. "O estabelecimento dessa relação, ou seja, de uma ontogênese que nada mais faz do que repetir o desenvolvimento filogenético, equivale a dizer que todo desenvolvimento é uma repetição, ou seja, cada conquista é na verdade repetição de uma catástrofe já ultrapassada" (Pinheiro, 2016, p. 83).

Nesse panorama, a proposição de uma constituição psíquica que se dá em decorrência de catástrofes se torna fundamental para compreendermos o modelo do trauma apresentado por Ferenczi. Segundo este autor, a história do sujeito seria composta por traumas estruturantes e traumas desestruturantes (Ferenczi, 1924/2011). Os traumas estruturantes seriam aqueles como efeito dos quais uma estruturação psíquica se dá4. A partir desse tipo de traumatismo, é exigida uma reorganização psíquica, processo recorrente durante o desenvolvimento. Já o trauma desestruturante seria o trauma patogênico, em decorrência do qual uma defesa para além do modelo dominante do recalque se abate sobre o Eu: a cisão. Ou seja, o trauma desestruturante demanda do psiquismo uma defesa patogênica diante do mundo externo. Tal defesa, dentro do modelo do trauma, faz surgir um sujeito cindido, cuja veracidade da própria realidade deve ser confirmada pelo outro, pois sua percepção já não é mais uma garantia.

Partindo do modelo do trauma desestruturante proposto por Ferenczi (1932/2011), nos deparamos com o mito do adulto abusador trazido no texto "Confusão de línguas entre os adultos e a criança" (Ferenczi, 1932/2011). Nesse escrito é apresentada uma situação de abuso real sofrido pelo infante por um adulto próximo e de confiança. Teríamos então: 1) uma criança que, inserida na linguagem da ternura, vivencia a sexualidade infantil de forma lúdica, não visando à união genital; 2) um adulto, inserido na linguagem da paixão, na qual a sexualidade já é experienciada a partir da união genital. Esse adulto seria então seduzido pela criança, todavia não responderia a essa sedução na linguagem da ternura como é o esperado, e então se daria o abuso sexual. O adulto abusador já está ciente dos limites que tal relação deve respeitar, o que leva a um sentimento de culpa - sentido pelo agressor - após o abuso sexual. Esse é para Ferenczi o primeiro tempo do trauma.

O segundo tempo se dá quando a criança, sem entender o ocorrido, busca um outro adulto de confiança para contar o que aconteceu, na tentativa de que esse outro a ajude a compreender o ocorrido. Esse segundo adulto nega o evento, dando-se assim o desmentido - que seria uma negação, por parte desse adulto de confiança, da vivência infantil, impossibilitando que a criança dê sentido àquela experiência. Sobre isso, Lejarraga (2008) considera que não é apenas a violência sofrida que torna o trauma patogênico, e sim a impossibilidade de a criança dar sentido à experiência, ou seja, o desmentido. É importante notarmos que este não se dá apenas com a negação do ocorrido, mas com "o silêncio, a negação do abuso ou a desautorização das impressões infantis" (Lejarraga, 2008, p. 120).

Através do desmentido a realidade do ocorrido é negada e a criança passa a se ver não apenas desacreditada pelo adulto, pois perde a certeza em sua própria vivência da realidade. É esse segundo momento que torna o trauma ferencziano desestruturante em si, não apenas por sua impossibilidade de significação, mas por distorcer a relação de certeza que a criança mantinha com sua percepção do mundo. Pinheiro (2012) afirma que o desmentido impede o processo de introjeção, e como seria unicamente através deste que o sentido se tornaria passível de ser apropriado, o desmentido impede a inscrição psíquica de todo o evento traumático. Nesse sentido, Verztman (2002, p. 65) afirma que: "a clivagem é o selo de uma introjeção impossível". Mais adiante, o mesmo autor completa reafirmando o potencial devastador do desmentido para além da situação do abuso sexual. Ou seja, o que está em questão nessa dinâmica é antes de tudo o curto-circuito na construção de sentido, em decorrência da impossibilidade de introjeção da experiência - que, ao invés de encontrar um outro no mundo que a sustente, encontra sua negação. E assim, para além da experiência, o que é negado é o próprio sujeito. Visto isso, a fim de seguirmos adiante em nossas considerações, devemos nos direcionar agora ao conceito de introjeção, assim como à impossibilidade desse processo perante o advento do traumático.

 

A impossibilidade de introjeção

O primeiro passo rumo ao estudo do conceito de introjeção - apresentado em "Transferência e introjeção" (Ferenczi, 1909/2011) - é ter em vista que o sujeito ferencziano é um sujeito voltado para o mundo. É em decorrência dessa potencialidade de contato com o outro que esse sujeito é capaz de se apropriar de si mesmo e do mundo à sua volta. Contudo, devemos ter em mente que, no pensamento ferencziano, a diferenciação entre o indivíduo e o mundo não está dada a princípio, sendo assim nos deparamos com duas perspectivas, monista e dualista, referidas ao reconhecimento ou não de uma separação entre Eu e outro, dentro e fora. Logo, tendo em vista esse direcionamento do sujeito para o outro desde o princípio, podemos afirmar a introjeção como algo inaugural.

Visto isso, para a formação de um Eu seria preciso um esforço de agregação inicial seguido por um movimento de expulsão do que escapa a esse movimento, se mantendo desagregado5. Entretanto, chegará o momento em que uma parte maior ou menor de desprazer não se deixará expulsar tão facilmente, e o Eu se renderá a esse desafio, introjetando essa parcela desagradável do mundo (Ferenczi, 1909/2011) e afirmando-a enquanto uma fração de desprazer necessária ao aparelho, ou ao menos à qual esse não pode se esquivar (Ferenczi, 1926/2011). A partir desse segundo momento de introjeção- que podemos considerar como um processo do aparelho psíquico - o sujeito passa a se relacionar com os objetos do mundo, e como fruto desse movimento emerge gradativamente o que chamaremos de aparelho psíquico6. Além disso, também é por esse meio que o sujeito será capaz de adquirir material que poderá fornecer riqueza e suporte a sua teia fantasmática assim como às formações inconscientes.

Devemos ter em mente, contudo, que quando nos referimos a esse processo, no qual, tendo passado por um processo inicial de introjeção dos elementos do mundo, seguido de um processo de projeção e posteriormente por um novo processo de introjeção, o que é introjetado não é o objeto em si, mas as características, os traços, os sentidos a ele atribuídos. Pinheiro (2016, p. 32) aponta que o processo de introjeção que retira as características, traços dos objetos "está por trás daquilo que o psiquismo é capaz de produzir: a capacidade de dar sentido ou de se apropriar do sentido, a capacidade de fantasiar e de fazer identificações". Nesse ponto, somos levamos a perceber que esse segundo momento da introjeção, além de trazer à tona a faceta dualista suscitada pelo confronto com a diferença desencadeada pelo encontro com o outro, e a faceta erótica que esse encontro possui, também destaca o caráter autoral próprio desse processo.

Logo, temos que a introjeção se dá a partir de um movimento de apropriação. Afinal, o sujeito se encontra inserido em um mundo do outro, no qual as fantasias, sentidos e tudo mais seriam fornecidos por esse outro. Destarte, para que o sujeito seja capaz de se apropriar do mundo que lhe é fornecido, ele deve tê-lo também como parte de si; dito de outra forma, para que essa apropriação possa ocorrer, deve-se dar a interpretação do mundo e seus eventos por parte do sujeito, o que então possibilita a criação de novos sentidos. Nessa lógica, Birman (2012, p. 44) afirma: "usar uma fantasia e alugar uma fantasia não é a mesma coisa de tê-la incorporada a seu ser, isto é, de ser por ela habitado". Essa capacidade de criar novos sentidos a partir da interpretação seria justamente a supracitada faceta autoral desse processo que deve ser visto como algo dinâmico e interminável. Ao mesmo tempo, essa concepção nos direciona ao entendimento do aparelho psíquico como um aparelho de linguagem, visto que somente a partir da introjeção e do movimento de interpretação a ela inerente seria possível se apropriar dos sentidos que o objeto contém. "Na obra ferencziana, a introjeção é a própria forma de funcionamento do aparelho psíquico, aquilo que o psiquismo pode e sabe fazer, mas sobretudo traz embutida em si uma noção de produtos tais como representar, produzir fantasmas e identificações" (Pinheiro, 1995, p. 45).

Tendo em vista a ideia já mencionada de um psiquismo voltado para o mundo externo, a figura do adulto ganha um lugar de destaque na obra ferencziana (Pinheiro, 1995). É a partir da relação com o adulto que a criança pode ter acesso ao mundo e constituir a si mesma. Esse outro atuaria como mediador entre a criança e o mundo, apresentando à criança os múltiplos sentidos dos objetos e das experiências. O dar sentido seria então a capacidade de simbolizar e organizar a experiência de modo que ela possa ter lugar na cadeia psíquica, ser interpretada, deslocada, condensada ou recalcada.

A introjeção visa incluir na esfera psíquica o universo simbólico do qual o objeto é portador. O fator primordial desse conceito, para Ferenczi, será o fato de a introjeção dizer respeito à linguagem, ao mundo de representações do objeto, à ordem de valores, ao investimento e ao sentido (Pinheiro, 2016, p. 33).

Retomando, embora possamos entender a introjeção como o processo a partir do qual o aparelho psíquico pode se apropriar do sentido que lhe falta (Pinheiro, 2016), Ferenczi (1932/2011) aponta que, no trauma, esse processo não ocorreria.

Seguindo-se o já mencionado modelo do trauma ferencziano, a criança desacreditada pelo adulto de sua confiança que assim falha em seu papel de mediador, não auxiliando o infante na introjeção desse evento que lhe é incompreensível, se vê diante da impossibilidade de introjetar o evento, atribuíndo-lhe um sentido. Concomitantemente, "Mas esse medo, quando atinge seu ponto culminante, obriga-as [as crianças] a submeter-se automaticamente à vontade do agressor, a adivinhar o menor de seus desejos, a obedecer esquecendo-se de si mesmas e a identificar-se totalmente com o agressor" (Ferenczi, 1932/2011, p. 117, grifos do autor). Mais adiante o autor afirma que a reação ao trauma nesses casos se dá não pela defesa, mas por uma introjeção do agressor, que passa então a fazer parte não mais do mundo externo, mas do próprio mundo interno da criança. Dito de outro modo, a incidência do evento traumático - ao qual o sujeito não pode se esquivar - leva-o à realização de uma modificação no mundo ou em si mesmo. Diante da impossibilidade de modificar o mundo, é realizada uma defesa autoplástica (voltada para si) - na qual uma parte do próprio sujeito - a parte referida à experiência traumática - é amputada. Desse modo, diante da falha do adulto enquanto mediador do mundo e do processo de incorporação do agressor, a introjeção não é realizada, sendo assim introjetada a figura do agressor de forma total, e não apenas traços, na tentativa de suprir a falha ocorrida no processo de aquisição de sentido. A isso Ferenczi nomeia de identificação com o agressor.

Uma das relações que acreditamos contribuir para o enriquecimento de nossa discussão se dá entre o modelo da clivagem e a lógica melancólica, embora devamos destacar que a ideia de clivagem para Ferenczi não se resuma a esta. Nesse paralelo, seguindo a ideia proposta por Freud em "Luto e melancolia" (1917[1915]/2010) - em que a sombra do objeto recai sobre o Eu não sendo possível identificar o que foi perdido -, na teoria do trauma ferencziana, a figura do agressor se torna posseira do Eu7. Pinheiro (1993) propõe que, partindo do texto freudiano, no que tange à metapsicologia da melancolia, a identificação8 presente nesses casos seria diferente da identificação histérica.

Na histeria, a identificação se daria por traços, enquanto na melancolia esta se daria com o objeto como um todo - o que impediria a circulação dos traços, e consequentemente a criação de novos sentidos. "Como se a identificação perdesse a própria possibilidade de se apropriar do objeto subjetivamente, e só pudesse fazê-lo objetivamente" (Pinheiro, 1993, p. 53). Assim, a autora considera que a identificação com o agressor presente na teoria do trauma de Ferenczi (1932/2011) é da mesma ordem da observada na melancolia, se tratando então de uma falha no mecanismo de introjeção proposto por Ferenczi em 1909. Tendo em vista essas considerações, a identificação com o agressor seria na verdade uma incorporação do objeto como uma forma de defesa, configurando-se como uma das várias consequências possíveis diante da ocorrência de um traumatismo. Assim, percebemos que a aproximação com a lógica melancólica nos coloca diante de uma falha no processo de introjeção e consequentemente na produção de novos sentidos sobre a experiência, o que nos dá subsídios para nossa presente reflexão.

No que tange a nosso presente objetivo, buscaremos então pensar em uma ligação não tão estreita entre sintoma e representação como a encontrada nas neuroses. Dessa forma, tendo em vista que o processo de introjeção possibilita ao aparelho psíquico se apropriar do que lhe é faltoso - no caso, o sentido - tornando possível, através do movimento interpretativo, o povoamento desse aparelho pelas mais diversas representações, vemos as representações como produto da introjeção - assim como sua associação na produção de fantasias que garantem o colorido típico da neurose a partir das formações inconscientes. Desse modo, será que podemos pensar em uma falha no processo de introjeção tal qual observado no modelo do trauma como responsável pela ocorrência de sintomas aparentemente desvinculados de um tecido fantasmático ou uma teia desejante?

 

Relação entre sintoma e representação

Deparamo-nos frequentemente na clínica com sujeitos cuja queixa gira em torno de uma dor do indizível e não de um sofrimento referido a um conflito de ordem sexual. Esses sintomas se inscrevem na vida dos sujeitos aparentemente desatrelados de um sentido ou de uma cadeia representacional que possibilite o trabalho associativo. Nesse quadro, nosso principal questionamento é: podemos de fato associar a crise dos sentidos9 ao surgimento de sintomas desvinculados de uma cadeia representacional?

Seguindo nossa linha argumentativa, devemos ter em mente que, segundo Ferenczi, diante do advento do traumático o ocorrido não se perde por completo. Para justificar tal ponto, o autor considera que as lembranças sensoriais que não são capazes de encontrar expressão pela via da simbolização se inscrevem no corpo do sujeito, de forma inacessível, porém presente: "na falta da conclusão do processo de introjeção, o corpo registra o que o psiquismo não pôde registrar" (Pinheiro, 2012, p. 32). Dessa forma, considerando que o traumático se inscreve enquanto tal diante da incapacidade do psiquismo em realizar a introjeção do ocorrido - possibilitando a simbolização, interpretação e aquisição de representantes que poderão conferir um colorido pessoal ao aparelho psíquico -, nos questionamos se poderíamos atribuir a não vinculação entre sintoma e representação - ou uma frágil vinculação destes - a uma falha nesse processo.

Outro ponto importante a nos voltarmos é justamente a cisão enquanto defesa ao trauma. A reação ao trauma seria a comoção psíquica, uma dor - não simbolizada - tão extrema que faria com que a criança se distanciasse de uma parte de si mesma a fim de conseguir sobreviver. Ferenczi (1934/2011) afirma que nunca se está preparado para a comoção psíquica, e que esta deve ser precedida pelo sentimento de estar seguro de si. A comoção psíquica se daria então a partir da decepção do sujeito de que antes do ocorrido teria um excesso de confiança em si e no mundo a sua volta. O autor afirma que a confiança que antecede o trauma aqui foi superestimada, inserindo o sujeito em um mundo ilusório em que isso nunca poderia acontecer a ele. Nesse ponto devemos atentar tanto para a faceta relacional que emerge da garantia do outro como um mediador confiável do mundo, como para o caráter inesperado que o trauma adquire.

Assim, passada a experiência traumática, o sujeito tem de lidar com seus efeitos: "A consequência imediata de cada traumatismo é a angústia" (Ferenczi, 1934/2011, p. 127). Em um momento posterior nos deparamos com os dois tipos de defesa possíveis: 1) uma modificação do mundo externo; 2) uma modificação do mundo interno. Como não é possível para essa criança modificar o mundo externo no qual está inserida, e o desprazer continua a se alastrar exigindo uma saída viável, ela modifica a si mesma, cortando fora uma parte de si (Ferenczi, 1932/2011). Lejarraga (2008) afirma que a cisão decorrente do trauma não é apenas uma separação do Eu em dois fragmentos até então indissociáveis, mas uma total mutação destes. Ferenczi (1934/2011) propõe que, seguindo o modelo do recalque, o fragmento egoico destroçado que foi cindido é mantido afastado - aos moldes da censura. Como o trauma não se inscreveu, nem mesmo no inconsciente, o sujeito é assolado por uma dor completamente inacessível pela memória. "O paciente sem consciência é afetivamente, em seu transe, como uma criança que não é mais sensível ao raciocínio, mas, no máximo, à benevolência (Freundlichkeit) materna" (Ferenczi, 1932/2011, p. 115).

Tendo em vista as considerações presentes na teoria do trauma ferenziano, nos parece importante a relação entre trauma e certeza de si, ou seja, o quanto a impossibilidade de introjeção dos sentidos de uma experiência também pode acarretar uma perda da certeza de si do sujeito. Tal ponto se justifica uma vez que, diante do desmentido, não é apenas o evento que será negado, mas o sentimento de confiança do sujeito em suas experiências. Todo esse processo acarretará um curto-circuito na trama dos sentidos, afinal as vivências introjetadas anteriormente não são confiáveis, assim como o sujeito se torna incapaz de nutrir tal sensação por vivências posteriores. Dito de outra forma, podemos pensar que um traumatismo sofrido - nos desprendendo aqui do modelo do abuso sexual para algo de uma maior amplitude10 - acarreta uma desconfiança diante de suas próprias percepções, o que desencadeia uma impossibilidade de processos de introjeção posteriores.

Tal efeito lesiona o narcisismo do sujeito, o que nos faz retornar à questão dos tiques e ao que tange a sua função narcísica (Ferenczi, 1921/2011). Desse modo, não sendo capaz de simbolizar a experiência traumática pela via da representação, essas formas de expressão buscam diretamente no corpo as palavras às quais o psiquismo não consegue ter acesso, garantindo também pela via corporal, que remete às experiências primitivas, a constatação de existência que teria sido perdida com o advento do traumático. Tais considerações nos possibilitam pensar no corpo como uma forma de expressão direta de conteúdos que não puderam ser mediados pelo psiquismo.

 

Considerações finais

Tendo em vista todos os pontos abordados no presente artigo, consideramos que a teoria do trauma ferencziano possui diretrizes enriquecedoras para que possamos problematizar os próprios mecanismos de vinculação entre sintoma e cadeia representacional. Nesse sentido, embora reafirmemos o lugar do sintoma como fruto da história particular de um sujeito , reconhecemos também que este pode apresentar funções para além de uma dinâmica atrelada à formação de compromisso ou ao modelo do recalque como defesa (Freud, 1926/2014). Utilizar a teoria do trauma (Ferenczi, 1932/2011) reconhecendo mecanismos de defesa como a cisão e a incorporação nos permite lançar luz sobre um panorama ampliado, no qual a questão central estaria remetida à própria constituição subjetiva.

Além disso, ao trazer à tona a problemática dos tiques também somos levados a considerar o lugar do corpo - considerado principalmente a partir de sintomas que se enunciam como expressões corporais sem um sentido representacional - na afirmação do próprio narcisismo do sujeito, permitindo-nos afirmar o lugar da vivência corporal como uma tentativa de recuperar - ou mesmo alcançar - integridade e consistência psíquicas das quais o sujeito não dispõe. Nesse ponto, trazemos à tona a consideração freudiana segundo a qual o Eu se pautaria inicialmente em uma matriz corporal (Freud, 1923/2011), possibilitando o reconhecimento desses sintomas não como inferiores às muitas vezes extremamente arquitetadas tramas neuróticas, mas como potencialidades, expressão positiva de um sujeito ferido e destroçado em seu próprio narcisismo. Além disso, essas estratégias de sobrevivência alcançadas por indivíduos traumatizados apresentam grande complexidade e sofisticação, que se tornam perceptíveis diante da sobrevivência do aparelho psíquico mesmo diante de defesas que amputam e afastam uma parte do próprio sujeito. Dessa forma, não vemos esses sujeitos a partir de uma lógica negativa em relação à teatralidade ou complexidade da teia fantasmática neurótica, mas como uma forma distinta e igualmente complexa - marcada por grande grau de sofisticação - de manter a integridade do aparelho mesmo diante do trauma. Reconhecemos essas modalidades sintomatológicas como a expressão potencial de uma vida que persiste apesar das intempéries sofridas, que se expressa e fala mesmo que as palavras lhes faltem.

 

 

Referências

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Artigo recebido em: 05/02/2018
Aprovado para publicação em: 14/05 /2019

Endereço para correspondência
Stephanie Brum
E-mail: stephanie-brum@hotmail.com

 

 

*Psicóloga, formada com honras pela UFRJ. Mestre em Teoria Psicanalítica pelo Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da UFRJ. Doutoranda em Psicologia Clínica na PUC-Rio. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Nebulosa Marginal. Coordenadora da Rede Florescer. Atende em Consultório Particular no Rio de Janeiro.
1Podemos também pensar que os próprios sintomas inerentes a um conflito psíquico apresentam uma defesa referida ao narcisismo do sujeito, na medida em que impedem a emergência de forma direta de um desejo que poderia ir contra uma certa formação ideal.
2Vale destacar que os tiques também podem advir de causas orgânicas, temática na qual não entraremos no presente artigo.
3Como grande exemplo de uma catástrofe estruturante temos o Complexo de Édipo, que seria responsável pela proibição - barreira - ao incesto. Ou seja, as barreiras produzidas em decorrência de uma catástrofe não apenas constituem o sujeito mas também limitam seu desejo.
4Um exemplo de trauma estruturante seria a castração, na qual, a partir do limite imposto ao objeto de amor, o infante introjeta as figuras parentais e uma nova instância psíquica advém: o superego.
5Nesse ponto percebemos que o pensamento ferencziano não se desprende das considerações freudianas, nas quais, em um momento precoce, tudo que é desprazeroso é expulso enquanto que o que é prazeroso é mantido (Freud, 1915/2010).
6Pinheiro (1995) considera que a dualidade prazer-desprazer é a responsável pela instauração da ordem psíquica sob o reinado do princípio do prazer, e para que possa ocorrer a inclusão desse referencial na esfera psíquica é necessário que a primeira introjeção se dê. Afinal, seguindo a consideração freudiana na qual o que é prazeroso é introjetado e o desprazeroso projetado, o primeiro objeto introjetado inaugura o sentido de prazer no aparelho. "Se é o processo de introjeção que possibilita a inscrição do diferencial prazer/desprazer no aparelho psíquico, é ele que funda esse aparelho" (Pinheiro, 1995, p. 46)
7É claro que devemos ter em mente que a própria ideia de trauma é algo extremamente amplo e complexo no pensamento ferencziano, no presente artigo tomamos como modelo a cena proposta pela teoria do trauma de Ferenczi, mas, nos movimentos de clivagem que podem se dar no aparelho, pode advir de traumatismos das mais distintas ordens, nas quais a lógica melancólica e suas implicações podem não surgir.
8"obedecendo a norma principal do narcisismo de tornar semelhantes as diferenças. Assim, as inscrições psíquicas teriam por possibilidade a circulação libidinal, sob a égide do princípio do prazer, regida pelo narcisismo onde o processo de identificação é a própria condição" (Pinheiro, 1993, p. 53). Tal proposição aproxima esse conceito de identificação ao proposto por Ferenczi (1909) como processo de introjeção. Afinal, os sentidos - traços - de que o objeto é dotado seriam introjetados e não o objeto em si.
9Por crise dos sentidos nos referimos à impossibilidade de aquisição de novos sentidos desencadeada por uma falha no processo de introjeção, tal qual tratado na sessão anterior deste mesmo trabalho.
10Nota de rodapé10Podemos pensar como um traumatismo da contemporaneidade a ausência do tempo necessário para que o processo de introjeção se dê diante da enxurrada de informações fornecidas ao sujeito a todo momento.

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