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Tempo psicanalitico

Print version ISSN 0101-4838On-line version ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.52 no.1 Rio de Janeiro Jan./June 2020

 

ARTIGOS

 

Famílias por adoção na visão das crianças e de seus pais

 

Families by adoption in the view of children and their parents

 

Familias por adopción en la visión de los niños y sus padres

 

 

Jéssika Rodrigues AlvesI*; Martha Franco Diniz HuebII**

IUniversidade de São Paulo - USP - Brasil
IIUniversidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo de caso coletivo teve por objetivo investigar a representação familiar de crianças que vivenciaram o processo de adoção a partir do olhar da própria criança, além de avaliar o amadurecimento emocional destas e compreender também a visão dos pais sobre a adoção. Participaram do estudo duas famílias com duas filhas por adoção cada, totalizando quatro crianças participantes com idade entre cinco e doze anos incompletos e seus respectivos pais/mães por adoção. Para a coleta de dados com as crianças, utilizou-se uma Sessão Lúdica, do Procedimento de Desenhos de Família com Estórias (DF-E) e uma sessão para maior investigação/intervenção sobre os desenhos realizados, além de uma entrevista semiestruturada com o casal parental. Os dados obtidos foram analisados e interpretados segundo método da livre inspeção do material a partir do processo compreensivo, sustentados no referencial psicanalítico winnicottiano. Os resultados mostraram que o pertencimento à família é construído ao longo da convivência, passando por diferentes fases. Também se constatou que algumas das dificuldades identificadas nas crianças encontravam-se ligadas ao universo da adoção e não à forma como o casal se constituía, sendo que, independente da configuração de família, a representação familiar estava ligada à forma como as crianças vivenciavam a família e o papel de cada membro dentro desta. O estudo remete à importância de as crianças encontrarem na família por adoção um ambiente seguro e acolhedor, que sobreviva aos seus ataques e seja espaço potencial onde sua história de vida seja respeitada.

Palavras-chave: adoção, crianças, família.


ABSTRACT

This collective case of study aimed to investigate the family representation of children experienced the adoption process from the child's own perspective as well as to evaluate their emotional development and also understand the parents view about the adoption. Two families with two daughters each, totaling four children aged from five to twelve incomplete years old and their respective parents participated in the study. In order to collect data with the child, three different procedures were carried out: a Play Session, the Family Drawings Procedure with Stories (DF-E) and a session of more investigation/intervention on the drawings, besides a semi-structured interview with the parental couple. The data obtained were analyzed and interpreted according to the method of free inspection of the material from the comprehensive process based on the Winnicottian psychoanalytical framework. The results showed that the feeling of belonging to the family is built along the coexistence of the child, going through different phases. It was also found that some of the difficulties identified with the children were related to the universe of adoption and not to the way the couple who led the family constituted themselves, and regardless of the family configuration, the family representation was linked to the way the children experienced the family and the role of each member in the family. The study points to the importance of the children finding in the family by adoption a safe and welcoming environment that will survive their attacks and provide a space where their life story is respected.

Keywords: adoption, children, family.


RESUMEN

Este estudio de caso colectivo tuvo por objetivo investigar la representación familiar de niños que vivenciaron el proceso de adopción, así como de evaluarles la madurez emocional y comprender la opinión de los padres sobre la adopción. Participaron del estudio dos familias con dos hijas por adopción cada una, un total de cuatro niños con edad entre cinco y doce años incompletos y sus respectivos padres/madres por adopción. Para la recolección de datos con el niño, se utilizó una Sesión Lúdica, el Procedimiento de Dibujos de Familia con Estorias (DF-E) y de una sesión para mayor investigación/intervención sobre los dibujos realizados, además de una entrevista semiestructurada con la pareja. Los datos obtenidos fueron analizados e interpretados según método de la libre inspección del material a partir del proceso comprensivo, sostenidos en el referencial psicoanalítico winnicottiano. Los resultados mostraron que la pertenencia a la familia se construye a lo largo de la convivencia, pasando por diferentes fases. También se constató que algunas de las dificultades identificadas con los niños se encontraban ligadas al universo de la adopción y no a la forma como la pareja se constituía, siendo que, independientemente de la configuración de familia, la representación familiar estaba ligada a como los niños vivían la familia y el papel de cada miembro dentro de la familia. El estudio remite a la importancia de los niños para encontrar en la familia por adopción un ambiente seguro y acogedor que sobreviva a sus ataques y sea espacio potencial donde su historia de vida sea respetada.

Palabras clave: adopción, niños, familia.


 

 

Introdução

Décadas atrás, as relações familiares e conjugais eram pensadas socialmente por meio do casamento legal e indissolúvel de um casal composto por um homem e uma mulher. Esse modelo, considerado tradicional, sofreu modificações ao longo dos últimos anos, gerando grande impacto na forma de se compreender a família (Amorim, & Stengel, 2014).

As relações entre os membros familiares foram gradualmente tornando-se diversificadas, sendo que o conceito de família necessitou ser expandido para abranger a remodelação e o espectro dos padrões relacionais e domésticos. Na atualidade, as imagens da antes considerada família típica - família nuclear que surgiu na era industrial - tornaram-se ultrapassadas pelas realidades sociais emergentes, em que as pessoas criam novos e variados padrões de relacionamentos familiares (Walsh, 2016), o que demonstra a multiplicidade presente no referido conceito (Amorim, & Stengel, 2014). Inclusive Vitorello (2011, p. 13) afirma que "as novas e múltiplas configurações da família ocidental evidenciam as mudanças nos papéis sociais do homem e da mulher, assim como a nova realidade nas relações entre os sexos", salientando que, com a inserção da mulher no mercado de trabalho, entre outras mudanças ocorridas, as normas dos relacionamentos atuais são muito distintas das encontradas nas famílias burguesas. Nesse sentido, Amorim e Stengel (2014) destacam, na atualidade, a ideia de customização dos casais, segundo a qual cada casal se relaciona de um modo singular e adaptativo.

Tendo em vista uma linha histórica da constituição familiar ao longo dos séculos, reflete-se que, durante a Idade Média, não havia diferenciações entre adultos e crianças (Vitorello, 2011). Porém hoje as crianças ocupam um lugar afetivo na família, sendo esta considerada a fonte principal de proteção e cuidados. Dessa forma, a família possui um importante papel na vida da criança, e a representação familiar desta está intrinsicamente ligada aos moldes conhecidos e experienciados por ela, mas também se faz importante levar em conta as influências dos constructos sociais e da mídia nessas representações (Lauz, & Borges, 2013).

Nesse sentido, recorre-se a Winnicott, estudioso que desenvolveu a teoria do processo de amadurecimento pessoal do indivíduo, por meio da qual o autor apresenta a ideia de que todo indivíduo nasce com uma tendência inata ao amadurecimento, ou seja, à integração. Destaca-se, porém, que essa tendência somente se realiza a contento na presença de um ambiente facilitador que forneça os cuidados necessários para o amadurecimento da criança (Dias, 2008). Logo, o ser humano, para existir, necessita da atenção e do cuidado de outro ser humano. Para o autor, " o ser humano é uma amostra-no-tempo da natureza humana" (Winnicott, 1988/1990, p. 11), ou seja, o ser humano vive entre dois nadas - o nada antes do nascimento e o nada depois da morte. Dessa maneira, o que está em jogo na concepção winnicottiana é a continuidade de ser como pessoa (Santos, 2007), e em cada estágio da vida há tarefas e dificuldades inerentes ao indivíduo, de modo que a resolução satisfatória das tarefas de cada estágio depende do sucesso nas tarefas dos estágios anteriores. Ser de maneira contínua, desde o nascimento, é o que garante a saúde de um indivíduo, e a quebra dessa continuidade, isto é, o fracasso na resolução da tarefa de uma etapa, principalmente no início da vida, faz o processo de amadurecimento pessoal se atrasar ou mesmo se paralisar, levando o ser humano a uma existência difícil, o que pode gerar distúrbios emocionais graves (Santos, 2007; Dias, 2008).

Apesar de toda pessoa nascer com um potencial inato para se desenvolver e crescer, isso não garante que o amadurecimento realmente vá ocorrer, como mencionado. Será, então, necessário um ambiente que lhe forneça cuidados suficientemente bons (Winnicott, 1986/1999; Loparic, 1999). Ressalta-se também que, no início da vida, um ambiente facilitador que consiga oferecer as condições necessárias para o amadurecimento se resume a uma pessoa capaz de identificar-se com o bebê e oferecer-lhe os cuidados necessários, sendo que o ideal é que essa pessoa seja aquela que o gerou. Entretanto, quando, por algum motivo, a mãe não é capaz de oferecer esses cuidados, eles podem ser fornecidos por outra pessoa que se identifique com o bebê e consiga suprir suas necessidades (Winnicott, 1986/1999; 1988/1990).

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990) frisa como funções da família, do Estado e da sociedade assegurar à criança/adolescente o direito à vida, à saúde, à educação, à alimentação, ao lazer, à cultura, à dignidade, à profissionalização, à liberdade e ao respeito. Contudo, algumas famílias apresentam dificuldades em proporcionar esses direitos à criança, podendo oferecer-lhes riscos, levando-as, assim, ao acolhimento institucional (Lauz, & Borges, 2013). Nesse contexto, a Lei 13.509 (Brasil, 2017) alterou a legislação anterior visando diminuir o tempo de permanência da criança em uma instituição de acolhimento, favorecendo, assim, seu desenvolvimento em uma nova família. Com essa alteração, a destituição da criança do convívio familiar e a inserção em programas de adoção devem ser decididas dentro do prazo máximo de um ano e meio pelo Judiciário, ou seja, a permanência da criança e/ou do adolescente em programa de acolhimento institucional não poderá se prolongar por mais de 18 meses, salvo exceções que atendam o melhor interesse do acolhido.

Há de se destacar que a adoção por um longo período foi uma prática marginalizada, porém, nos dias atuais, esse cenário é bem diferente, pois se verifica uma releitura na sociedade contemporânea do parentesco consanguíneo, sendo atualmente valorizados os vínculos afetivos, construídos por meio da afeição mútua, em detrimento dos vínculos biológicos (Machin, 2016). E, com as mudanças nas configurações familiares, tornam-se múltiplas as possibilidades de adoção sob diferentes formas e contextos, além de que casais jovens com problemas de fertilidade, casais de meia-idade, casais com filhos consanguíneos, casais do mesmo sexo e pessoas solteiras também vêm apresentando interesse na adoção (Schettini, Amazonas, & Dias, 2006).

São diversos os estudos encontrados sobre a adoção e suas repercussões (Speck, Queiroz, & Martin-Mattera, 2018; Valério, & Lyra, 2016; Veloso, Zamora, & Rocha-Coutinho, 2016), assim como os estudos relacionados às diferentes formas de adoção (Meletti, & Scorsolini-Comin, 2015; Machin, 2016; Rosa, Melo, Boris, & Santos, 2016). Contudo, ainda são escassos os estudos que consideram a criança como participante de fato e oferecem espaço para que estas possam expressar suas experiências sobre a adoção. Dessa forma, a realização deste estudo se justifica pela importância da atenção que a criança exige nesse momento, e também pela relevância de compreender mais profundamente seu olhar acerca da adoção.

Ademais, destaca-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990) estabelece que a criança deve ser reconhecida como sujeito de direitos, de modo que é necessário valorizar a criança como fonte fidedigna de informações sobre si mesma. Nesse sentido, é importante considerar que ela tem a necessidade e o direito de ser ouvida, e que seu envolvimento ativo em pesquisas pode contribuir para sua participação na sociedade como um indivíduo de fato (Rossetti-Ferreira, Serrano, & Almeida, 2011).

O desenvolvimento de uma criança está embasado em uma família que ofereça conforto, afeto e amor, e a adoção destaca-se como um direito de todo indivíduo a ter uma expectativa de futuro em família (Gondim et al., 2008). Quando são adotadas, todas as crianças são inseridas em uma nova família e incluídas no convívio desta. Logo, o presente estudo mostra-se importante também porque teve como objetivo investigar a representação familiar de crianças que vivenciaram o processo de adoção a partir do olhar da própria criança, além de avaliar o amadurecimento emocional destas e compreender também a visão dos pais sobre a adoção. Destaca-se que tal compreensão pode alertar famílias, profissionais e a sociedade em geral sobre como se dá o desenvolvimento emocional dessas crianças e qual a representação de família que possuem, facilitando intervenções futuras.

 

Método

O presente estudo, recorte de outro maior, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de origem dos autores sob o parecer número 1.786.494. Trata-se de um estudo de caso coletivo, de caráter descritivo, exploratório e de corte transversal, que utilizou a investigação clínica qualitativa pautada pela utilização de procedimentos projetivos, com ancoragem na teoria psicanalítica. O estudo de caso coletivo é definido como aquele em que o pesquisador agrupa determinado número de casos para investigar um fenômeno, uma população ou uma condição geral, o que permite um melhor entendimento e uma melhor teorização acerca daquele grupo estudado (Stake, 2000). No presente estudo, o fenômeno comum ou condição geral investigada foi a adoção de crianças em uma idade mais avançada.

Participantes

Participaram deste estudo duas famílias, cada uma com duas filhas por adoção, totalizando quatro meninas e seus respectivos responsáveis (três mães e um pai). Os critérios de inclusão para as crianças foram: (a) serem adotadas legalmente; (b) possuírem tempo mínimo de um ano de convivência com a família por adoção; (c) possuírem idade mínima de cinco anos e máxima de 11 anos e 11 meses; (d) possuírem formalização de concordância quanto à participação no estudo por parte de pelo menos um dos pais; e (e) concordarem em participar do estudo. Os critérios de exclusão elencados para as crianças foram: (a) não terem o processo de adoção legal concluído e (b) não possuírem conhecimento quanto ao fato de terem sido adotadas.

Já os critérios de inclusão para os pais/mães por adoção foram: (a) serem casados legalmente ou possuírem união estável; (b) residirem no mesmo domicílio; (c) terem adotado legalmente a criança enquanto casal; e (d) consentirem formalmente com a participação no estudo. Os critérios de exclusão para os pais/mães por adoção foram: (a) iniciar processo de separação durante a coleta de dados ou (b) já estar em processo de separação. Importante informar que não houve restrições em relação a aspectos socioeconômicos, grau de instrução e atuação profissional para a inclusão dos participantes.

Material

Foi realizada uma entrevista semiestruturada com os pais/mães por adoção a fim de coletar dados referentes à história de vida das crianças, às experiências da adoção e à convivência familiar. Com as crianças, realizou-se uma Sessão Lúdica e utilizou-se o Procedimento de Desenhos de Família com Estórias (DF-E). Na Sessão Lúdica foram empregados bonecos de família, automóveis, animais domésticos e selvagens, artigos de cozinha, folhas em branco, lápis de cor, tinta guache e massinha para modelar, sendo que o registro foi realizado retrospectivamente pela pesquisadora, visto que, durante a atividade, nada se anotou a fim de não interferir na espontaneidade da expressão do brincar. Decidiu-se pela realização da Sessão Lúdica, pois, por meio de brinquedos e jogos, a criança tem a possibilidade de representar seus conflitos básicos, desejos inconscientes, medos e defesas (Klein, 1932/1981).

Além disso, optou-se pela utilização do DF-E uma vez que este é empregado para a ampliação do conhecimento das relações intrafamiliares e intrapsíquicas do individuo, abordando conflitos e dificuldades emocionais que estão relacionados à dinâmica familiar. Originado de técnicas gráficas e temáticas, é formado por quatro unidades de produção a partir de quatro consignas: (1) uma família qualquer; (2) uma família que o examinando gostaria de ter; (3) uma família em que alguém não está bem; e (4) a família do examinando (Trinca, 1997).

Procedimentos

O contato inicial com os pais/mães por adoção deu-se a partir de indicações pelo Grupo de Apoio à Adoção de uma cidade do interior de Minas Gerais. Após a indicação, esses possíveis participantes foram contatados e informados sobre a pesquisa. Com aqueles que atendiam aos critérios de inclusão e demonstraram interesse em participar voluntariamente, foi agendado um encontro na Clínica-Escola de Psicologia da universidade à qual os autores do estudo pertencem, durante o qual os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido e de Assentimento foram apresentados e assinados. Foi, então, realizada uma entrevista semiestruturada com cada casal e, posteriormente, foram agendados três encontros com cada criança participante.

Solicitou-se permissão para audiogravar as entrevistas para que nenhum detalhe passasse despercebido, sendo essas transcritas integralmente, em outro momento, para posterior análise e interpretação dos dados. Já com as crianças, submetidas a três encontros, o primeiro foi reservado para realização da Sessão Lúdica, o segundo para aplicação do DF-E e o terceiro para maior investigação sobre o DF-E e a realização de intervenções pela pesquisadora.

Todos os encontros foram realizados em um local reservado e livre de interferências externas, mais especificamente em salas de atendimento da Clínica-Escola de Psicologia ou na residência dos participantes, quando estes não conseguiram se dirigir à Clínica-Escola. A fim de garantir silêncio, sigilo, conforto e confiança para os participantes, condições imprescindíveis para a realização do estudo, quando a coleta de dados se deu na residência dos mesmos o aposento escolhido apresentava as mesmas características de privacidade da Clínica-Escola. As anotações referentes à Sessão Lúdica foram realizadas após seu término, narrando os acontecimentos ao longo da mesma, a fim de que não se perdesse nenhum detalhe. Destaca-se ainda que as intervenções verbais realizadas pela pesquisadora no último encontro tiveram o claro objetivo de possibilitar que os participantes pudessem reconhecer suas produções como sendo genuinamente suas, que lhe fizessem sentido, além de que a pesquisadora buscou não influenciar a expressão das crianças em suas unidades de produção na segunda sessão.

Os dados obtidos na Sessão Lúdica e no DF-E foram analisados e interpretados segundo método da livre inspeção do material a partir do processo compreensivo, sustentados no referencial psicanalítico de abordagem winnicottiana. Em geral, o processo compreensivo designa que se deve encontrar um sentido para o conjunto de informações que estão disponíveis no momento da coleta de dados. Também se deve tomar aquilo que é significativo e relevante na personalidade, entrando empaticamente em contato emocional e conhecendo os motivos da vida intrapsíquica do indivíduo, recorrendo à livre inspeção do material, que é baseada na experiência do psicólogo e em seu julgamento clínico (Trinca, 1984). No DF-E, em especial, utiliza-se da associação de processos expressivos-motores e verbalizações temáticas visando a conhecer e compreender conteúdos psíquicos referentes à dinâmica familiar (Trinca, 1997; Tardivo, 2011).

Os dados provindos da entrevista foram usados posteriormente, como elemento auxiliar, para compreender a história de vida da criança participante, as experiências da adoção e a convivência familiar. Tais dados também foram interpretados segundo o método da livre inspeção (Trinca, 1984; Tardivo, 1997). Ressalta-se que na livre inspeção do material o pesquisador/autor também usa seu conhecimento psicanalítico - ou seja, usa um referencial de análise que é resultado de seu conhecimento prévio - para compreender o material coletado (Tardivo, 1997).

As intervenções foram realizadas pela pesquisadora levando em consideração a escuta psicanalítica, ou seja, o material emergente durante as sessões lúdicas e o DF-E. Esse procedimento, por meio do qual se efetuam intervenções já no momento da coleta de dados, é oriundo do Psicodiagnóstico Interventivo e oferece ao participante devoluções durante o processo investigativo, e não apenas ao final. O Psicodiagnóstico Interventivo complementa o processo compreensivo, visto que incorpora a ele intervenções deliberadas do profissional (Barbieri, 2010). Importante destacar que, consoante com a teoria do amadurecimento emocional na abordagem winnicottiana, buscou-se oferecer aos participantes um ambiente seguro, indestrutível e acolhedor de suas necessidades, possibilitando o encontro criativo entre a dupla.

 

Resultados e discussão

As crianças participantes possuíam idade entre cinco e 11 anos, como se apresenta a seguir na Tabela 1.

Tabela 1

Informações sobre as crianças participantes (nomes fictícios)

Crianças participantes

Idade

Número de filhos na família

Pais

Brenda

9 anos

3 filhos (1 consanguíneo e 2 por adoção)

Ana/Gael

Luna

11 anos

3 filhos (1 consanguíneo e 2 por adoção)

Ana/Gael

Isa

5 anos

2 filhos (por adoção)

Rosa/Maya

Mel

7 anos

2 filhos (por adoção)

Rosa/Maya

A Sessão Lúdica, o DF-E e o terceiro encontro realizados com as crianças tiveram duração de 50 minutos cada, enquanto as entrevistas semiestruturadas com os pais/mães tiveram duração média de 68 minutos. Embora tenham participado quatro crianças, analisadas em uma metodologia de estudo de caso coletivo, optou-se por apresentar aqui os dados separados por famílias. Ademais, é importante salientar que, por questão de espaço, apenas parte das unidades de produção realizadas pelas crianças são apresentados para ilustrar os casos analisados e discutidos a seguir, além de que os títulos são aqueles fornecidos pela criança à respectiva unidade de produção realizada por ela.

Brenda e Luna: irmãs consanguíneas a bordo de uma nova família navegante

Luna e Brenda são irmãs consanguíneas e foram adotadas por sua família substituta aos cinco e três anos, respectivamente. Apesar de diversos episódios de negligência por parte dos genitores para com as meninas, o Juiz da Infância retardou em retirar-lhes o poder familiar, uma vez que, na cidade pequena em que moravam, não existia instituição de acolhimento. O magistrado decidiu disponibilizá-las para a adoção depois de várias tentativas infrutíferas sob os cuidados dos pais consanguíneos, e o que na época poderia ser entendido como uma nova chance à família de origem hoje se percebe que foi uma decisão judicial inadequada. Sabe-se, a partir do relato dos pais por adoção, que a mãe consanguínea teve vários filhos, contudo Luna e Brenda foram as que mais conviveram com a genitora e, portanto, as que mais sofreram negligência. Os demais filhos que vieram a ser gerados posteriormente foram colocados para a adoção, logo que nasceram, em função do conhecimento da equipe psicossocial do município sobre a incapacidade da genitora de dispensar cuidados adequados às crianças. A família vivia em uma casa tomada por ocupação, na qual circulavam muitas pessoas usuárias de drogas, as quais várias vezes mantinham relações sexuais na presença das crianças.

Antes de serem inseridas na família substituta, Brenda e Luna ficaram em torno de dez dias em uma creche. Como a família substituta morava em outro município, o juiz autorizou que elas pudessem ser imediatamente inseridas na nova família, não participando, portanto, do estágio de convivência, sendo transferidas para a nova residência no mesmo dia em que conheceram seus pais por adoção.

A família substituta de Brenda e Luna é composta por elas, acrescida do pai Gael, a mãe Ana e o irmão João, que tem dez anos e é filho consanguíneo do casal. Ana e Gael destacaram ao longo da entrevista que sempre pensaram em ter filhos por adoção, mas também consanguíneos, pois Ana ressaltou que tinha também o desejo de vivenciar a gravidez. Após o nascimento do filho consanguíneo, Gael descobriu ser portador de uma síndrome que poderia ser transmitida geneticamente se tivessem outros filhos. Dessa forma, o casal optou por realizar a adoção, sendo que a decisão pela adoção de duas irmãs - caso de Brenda e Luna - foi classificada como "tranquila" pelo casal, que já havia conversado a respeito desde a época do namoro.

Brenda

De acordo com Ana e Gael, Brenda viveu um momento de luto pela família originária quando adentrou a família substituta: "Lá bem no início, a gente sente que ela teve o sofrimento, aquela questão mesmo, né, de não entender o que estava acontecendo" (Ana). O casal destacou que as filhas não sabiam o que era adoção, e que isso só lhes foi explicado pela equipe psicossocial da comarca em que residiam no dia em que seriam adotadas, sendo que, por esse motivo, acreditam que Brenda demorou a compreender o que se passava. Os responsáveis destacaram que Brenda não relata lembrança nenhuma da mãe consanguínea, mas que tem lembranças afetivas do pai cozinhando para ela, assim como de eles comendo juntos. O alimento, inclusive, aparece como um ponto importante na história de vida, facilitando o elo que as une.

Entretanto, Brenda, que atualmente tem nove anos e foi adotada aos três, relatou não se lembrar muito de como era a convivência com sua família de origem. Na Sessão Lúdica, Brenda afirmou que antes "comia uma melancia inteira e que agora come somente um pedaço", o que nos remete ao fato de atualmente sentir-se simbolicamente abastecida de afeto, o que foi observado em suas produções do DF-E. Muitas de suas estórias, a propósito, estão relacionadas à refeição em família, como ocorre na primeira unidade de produção, "Uma família qualquer":

Era uma vez uma família, a mãe se chama Catarina, o pai chamava Jorge, sua filha mais nova se chamava Júlia e sua filha mais velha se chamava Sara. Um dia saíram para passear e encontraram um peixe gigante no rio, então foram comer no restaurante. Então Sara comeu arroz, peixe sem espinho e salada com bastante limão; Júlia comeu arroz, tomate; Jorge comeu arroz, feijão, peixe e salada; Catarina comeu arroz, lasanha e salada. E de sobremesa foi um picolé para cada um. Então sua tia chegou e disse "que bom encontrar vocês" e foram passear. Passearam em Peirópolis, no B. e no shopping. Do shopping foram para casa e dormiram.

Nessa unidade de produção, Júlia (a personagem), que é a filha menor, assim como Brenda, que é a filha caçula em sua família, é quem menos come, o que sugere que antes Brenda precisava "comer uma melancia inteira" para preencher o vazio que existia, e hoje, com sua nova família, que cuida e oferece apoio e amor, somente um pedaço da melancia a satisfaz, assim como Júlia (na estória) fica satisfeita comendo pouco. Nesse sentido, Winnicott (1936/2000) destaca que são diversos os modos de o apetite/alimentação vincular-se contra a depressão e a ansiedade. Logo, na família consanguínea de Brenda, não havia um ambiente seguro e acolhedor, o que gerava ansiedade e se correlacionava a uma alimentação em exagero, como se a criança necessitasse guardar suprimentos para quando precisasse, assim como um urso que hiberna, diferente do que ocorre em sua atual família. Ademais, a estória também retrata a individualidade de cada um, o que vai ao encontro do que os pais relataram na entrevista, ao explanar que antes os três filhos faziam tudo juntos, mas que, atualmente, realizam atividades separadas de acordo com o que é importante para cada um.

Ainda em sua primeira unidade de produção, Brenda desenhou um chão firme e elevado para colocar as meninas da família, de forma a dar sustentação, supostamente indicando que sente que sua família lhe dá segurança. Além disso, as filhas retratadas no desenho possuem o cabelo anelado, assim como o cabelo real da mãe por adoção de Brenda, demonstrando uma identificação com a figura materna. Brenda também se mostra próxima à figura paterna, como observado no desenho em que o pai e a filha menor estão de mãos dadas, sendo que a criança relatou que, aos sábados à tarde, dorme de mãos dadas com o pai, exatamente como fez no desenho intitulado "A família que gosta de passear".

É interessante notar que nesse desenho encontram-se apenas duas meninas, que podem ser a representação de Brenda e sua irmã Luna, demonstrando maior proximidade entre as duas, o que também foi relatado por Brenda ao dizer que, no início, tinha maior ligação apenas com a irmã, pois a conhecia melhor, mas que, posteriormente, também se tornou próxima ao irmão. Na terceira sessão, quando foi possível intervir junto à participante mencionando que a família do desenho se parecia muito com a dela, Brenda pôde apontar que parecia um pouco, pois naquela família retratada faltava o seu irmão, expressando em seguida que sua família sem o irmão seria incompleta, demonstrando que possui uma boa relação com o irmão, como os pais mencionaram na entrevista.

No terceiro encontro foi apontado para Brenda que ela parecia se sentir segura em sua nova família, ao que ela assegurou que em sua nova família há pessoas que lhe dão atenção, comida de verdade e amor, o que também vai ao encontro do que Ana e Gael relataram na entrevista sobre os sentimentos que Brenda nutre pela família, destacando que acreditam que ela se sente protegida e amada e que tem uma autoestima elevada, se aceitando como de fato é.

Luna

Ana e Gael relataram a grande cumplicidade que as irmãs tinham no início, mencionando, inclusive, que possuíam uma comunicação pelo olhar, e narrando que tiveram dificuldade em compreender essa comunicação entre as filhas, sendo que, hoje, apesar de ainda existir esse predomínio do olhar entre as duas, é algo que se reduziu bastante, e que atualmente elas se comunicam com o irmão e com os pais através da expressão oral. Também apontaram ao longo da entrevista que Luna cuidava de Brenda, assumindo o papel de mãe, protegendo a irmã mais nova, e que esse foi um dos maiores desafios enfrentados por eles, pois precisaram mostrar à Luna que ela não necessitava mais assumir o papel de mãe, visto que possuíam pais para cuidar delas, podendo assumir, então, o seu real papel de filha. O casal destacou que Luna exige mais deles, sendo que, no início, a filha demorou a entender que aquela seria sua família, ressaltando que qualquer pessoa que a tratasse de forma mais afetuosa ela imaginava que poder vir a ser sua mãe ou seu pai: " E todo mundo que chegava e a tratava com mais carinho, ela logo perguntava 'Você vai ser minha mãe? Você vai me levar?'" (Ana). Isso remete à falta que Luna sentia de um ambiente seguro e acolhedor com sua família consanguínea, tendo sido de extrema importância a forma como os pais reagiam ao explicar-lhe e acolher o desamparo por ela vivenciado. Ana e Gael destacaram que percebem que Luna ainda não confia plenamente neles e que cria problemas a partir de questões que poderiam ser solucionadas de modo simples como uma forma de testá-los para ter a certeza de que a aceitam como ela é, salientando que acreditam que a filha possui uma dificuldade maior em se aceitar e se mostrar, buscando sempre agradar o outro e fazer aquilo que esperam dela.

Importante ressaltar que o período de adaptação da criança que vivenciou o processo de adoção passa por fases, sendo que, em um primeiro momento, há um encantamento, porque a mesma se encontra feliz por sair da instituição e por sentir que os pais/responsáveis estão apaixonados por ela (Andrei, 2001). Nesse período pode surgir o falso self, que pode não ser superado se a criança não sentir confiança para se mostrar verdadeiramente. Nesse caso, a criança sente que necessita adaptar-se àquilo que acha que o ambiente espera dela, não podendo desenvolver sua personalidade nuclear e verdadeira, fazendo com que a parte impulsiva do self não se integre à estrutura psíquica (Levinzon, 2006). Essa situação descrita na literatura assemelha-se ao que os pais relataram sobre Luna buscar sempre agradar outras pessoas. Todavia, atualmente, segundo os pais, ela já consegue se mostrar verdadeiramente e, inclusive, testa o amor deles algumas vezes, fato que é corriqueiro na segunda fase da adoção, quando surge a raiva e a decepção, o período em que a criança diz "não" na tentativa simbólica de refazer e controlar sua vida. Trata-se da fase em que a criança testa o amor dos responsáveis e, dependendo da maturidade destes, esse período pode ser superado, ou, em casos extremos, levar à devolução da criança (Andrei, 2001).

Na terceira fase da adoção, a criança entende que encontrou uma família e refaz os pedaços de vida. Trata-se também de um período de regressão, em que ela pode voltar a fazer xixi na cama e pedir para mamar, além de apresentar outros comportamentos. E, por último, ocorre o momento do "insight amoroso", em que a criança percebe que aqueles são seus pais/responsáveis e estes vislumbram que a criança irá crescer, viver e se tornar um adulto (Andrei, 2001).

Ana também relatou que percebe o anseio da filha em reencontrar a família de origem, o que busca tratar com naturalidade, colocando que sempre conversa sobre a família consanguínea quando Luna apresenta necessidade. Além disso, Ana relatou que recebeu uma foto da mãe consanguínea de suas filhas, que lhes mostrou e que, ao perguntar-lhes o que gostariam que fizesse com a fotografia, Luna pediu para a mãe guardar. O pedido foi atendido e Ana contou que algumas vezes Luna pede para ver a foto, fato que acredita ser de extrema importância para a filha, pois Luna tinha uma imagem da mãe consanguínea como uma bruxa de unhas grandes, descabelada e com uma cobra saindo do peito, sendo que, em muitas noites, a filha teve pesadelos com essa imagem.

Na quarta unidade de produção, a partir da consigna "Desenhe a sua família", Luna representou sua família no céu, como sendo uma família acolhedora, feliz e completa, pois tem paz, amor e harmonia, sendo possível apontar-lhe que parecia se sentir nas nuvens com sua família, o que foi confirmado por ela.

Era uma vez um casal que tiveram um menino chamado João, só que eles queriam ter mais filhos, então eles adotaram duas meninas, uma chamada Luna e a outra chamada Brenda... Eles moravam em V., depois eles se mudaram para U., fizeram novos amigos em U., o casal conseguiu arrumar emprego na mesma cidade, porque antes a esposa trabalhava em outra cidade, aí ela conseguiu trabalhar aqui no F. O esposo é professor na Universidade, as crianças estudam na C. e eles tinham uma cachorra chamada Lica, mas ela infelizmente morreu e hoje eles vivem muito bem, numa casa muito legal, tem amigos... É, eles vivem muito bem.

Em relação à família de origem, Luna expressou grande desejo de voltar a reencontrá-los e contar-lhes o que aconteceu em sua vida desde que saiu do convívio com eles, demonstrando confiança em sua família substituta, aquela à qual se sente verdadeiramente pertencente, relatando que iria até a família de origem, conversaria com eles e voltaria para sua família atual. Apesar do desejo que Luna apresenta em reencontrar a família de origem, em sua segunda unidade de produção, "A família que gostaria de ter", transpareceu a necessidade que tinha de ser protegida e cuidada pela mãe.

Era uma vez uma bailarina que viajava o mundo todo e ela era muito feliz e queria começar uma família, mas a geração de homens naquela época era horrível, então ela decidiu não namorar e não casar, mas ela queria filhos, então ela foi, fez um currículo de adoção e ela adotou uma menina chamada Gabi e outra menina chamada Jade e as duas também queriam ser bailarinas e as três dançam no palco juntas.

Diferentemente da irmã, que guarda uma imagem afetiva do pai, para Luna a imagem do pai consanguíneo é de um homem mau, que batia em sua mãe, não ajudava a família e as filhas. A figura do homem malvado foi recorrente nas falas de Luna, que destacou em todas as sessões que "a geração dos homens de hoje é ruim", sendo que, na terceira sessão, explicou o significado dessa expressão ao relatar que os homens ruins são machistas e mal-educados, destacando que a bailarina em sua unidade de produção não queria se casar para proteger as filhas de serem abusadas. Isso levanta a hipótese de Luna ter sofrido algum abuso, visto que Ana e Gael informaram que a filha relatou recentemente que seu pai consanguíneo chegou a tocá-la de forma íntima uma vez, mas que sua mãe interferiu - visto que dormiam os três na mesma cama e que provavelmente ela presenciava cenas de sexo na casa em que morava -, remetendo à mãe que protege as filhas no desenho.

Também no terceiro encontro com Luna foi interessante notar que, quando foi pedido que ela se descrevesse, dizendo como se via, ela não relatou características físicas nem subjetivas, mas destacou informações sobre sua família, sobre quem são, o que se relaciona à informação que os pais trouxeram sobre a dificuldade em se aceitar, porém também demonstra a grande importância da atual família em sua vida. Winnicott (1987/1999) ressalta que quando se constrói um lar para a criança, dá-se a ela um mundo em que se acreditar nas ocasiões em que o amor falha, ou seja, em que o sentimento de "estar em família", o relacionamento entre a criança e os adultos (pais/mães) pode sobreviver aos desentendimentos.

Logo, é possível assinalar que Luna, por ter convivido mais tempo com a família de origem do que sua irmã, apresenta maiores marcas dessa convivência, e por isso maiores dificuldades em confiar plenamente no ambiente, isto é, em sua atual família. Todavia, observa-se que está em processo de desenvolvimento dessa confiança, pois se identifica com o núcleo familiar e vê que os pais suportam seus ataques/testes, o que a faz sentir-se pertencente à família, trazendo-a como uma das principais características de sua vida, aquela que sinaliza quem ela é.

Isa e Mel: irmãs por adoção em uma família de mulheres

Isa

Isa foi adotada aos dois anos e sete meses, tendo já nascido em uma instituição de acolhimento, haja visto que sua mãe consanguínea, com 16 anos na época de seu nascimento, também se encontrava acolhida, tendo engravidado quando das saídas para fazer cursos extras fora da instituição. Logo, o pai de Isa era desconhecido e a mãe abriu mão da filha quando esta nasceu. Isa ficava em uma instituição de acolhimento diferente da mãe, tendo sido amamentada com leite materno apenas três vezes.

Quando contava um ano e nove meses, Isa vivenciou uma primeira tentativa frustrada de adoção, uma vez que, três meses depois de iniciar a guarda provisória, foi devolvida pela adotante, que, em uma consulta médica, foi informada que Isa tinha uma mutação no cromossomo 17 que causa problemas como rinite e bronquite, ou seja, doenças tratáveis. Três meses após a devolução, Isa conheceu sua família atual, que, na época da adoção era composta somente por suas duas mães, Rosa e Maya, as quais posteriormente vieram a adotar mais uma criança (Mel), sendo que hoje a família é composta pelas duas mães e as duas filhas.

Rosa destacou ao longo da entrevista que sempre quis adotar uma criança e que entrou com o processo de adoção quando ainda era solteira, mas seus pais ficaram doentes e o plano foi adiado para que pudesse se dedicar mais aos cuidados deles. Passados cinco anos, casou-se com a Maya, que também desejava ser mãe por adoção, visto que havia retirado o útero devido à endometriose, o que impossibilitava uma fertilização in vitro, e, após três anos de união conjugal, as duas entraram com o processo de adoção. O casal destaca que tal processo foi complicado, pois era o primeiro casal do mesmo sexo que adotaria na cidade na qual viviam, então tiveram um estágio de convivência longo com Isa, ficando quase dois meses visitando a criança na instituição de acolhimento todos os dias, visto que o juiz demorou a dar a autorização para a guarda. Quando Isa passou à condição de filha, Maya cuidava dela pela manhã enquanto Rosa trabalhava fora, sendo que Rosa administrava seus cuidados no período da tarde. Depois Rosa saiu do emprego e passou a ficar em casa em tempo integral, e Maya destacou que Isa é mais acostumada com a ausência dela, Maya, devido hoje à situação ter se alterado e sair para trabalhar todos os dias, mas que, quando Rosa sai, Isa fica sempre perguntando por Rosa.

Nos desenhos de Isa a proximidade maior com Rosa também se evidenciou, visto que Rosa apareceu em todos os desenhos da filha, enquanto Maya foi retratada somente em alguns, e naqueles em que estava presente era sempre uma figura posterior à de Rosa. Na terceira unidade de produção de Isa, "Uma família em que alguém não está bem", ela contou uma estória relacionada à Rosa.

Era uma vez a mamãe Rosa, e eu e a Mel. Eu, a Mel e a mamãe Rosa foi para um lugar "distentende". "Distendente" é onde a gente foi, o médico. A mamãe Rosa ficou com dor de barriga e a mamãe Maya falou para consultar ela, e estava tudo ótimo. E um dia eles teve de fazer um animal qualquer. Por isso que eles foi fazer, e eles fez. E eles fez um animal chamado passarinho e um cachorro. Fim. Mas este passarinho chama passarinha porque era uma menina e a cachorra chama Dona Lalinha. Só isso, terminei.

Ao notar o título que Isa dá para sua unidade de produção, sinalizando que não sabe como nomear, é possível inferir que algo parece tê-la incomodado, embora não tenha conseguido identificar o que seria. Porém é importante destacar que apresentou em sua unidade de produção uma casa composta só por mulheres, em que até os animais eram do sexo feminino.

Isa, assim, se identifica e sente-se pertencente à sua família, composta só por mulheres. Contudo, é interessante notar que apresentou ao longo das sessões o desejo de ter um namorado, se casar no futuro, ter filhos - tanto homens quanto mulheres - e morar em outra casa com a família que constituirá.

Apesar de morar em uma casa somente de mulheres, Isa apresenta também a representação de família constituída por casais de sexo diferente, imaginando sua família no futuro dessa forma. Ao longo das sessões, ela contou ter amigos homens no colégio e também falou sobre ter namorado e filhos do sexo masculino. Inclusive, Isa mencionou em sua unidade de produção um filho chamado Gabriel, nome muito recorrente em suas brincadeiras e desenhos, dizendo que ele estava ao seu lado no momento da coleta, mas que somente ela o podia ver, o que demonstra que ela consegue realizar brincadeiras de fantasias, com amigos fictícios, e que a figura masculina está presente em seu imaginário. Logo, mesmo a figura masculina não existindo em sua família nuclear, é uma figura que faz parte de sua vida e suas relações, pois, como Lauz e Borges (2013) frisam, a representação familiar tanto está ligada aos moldes experienciados pela criança, como às influências dos constructos sociais e da mídia.

Mel

Mel foi adotada quando tinha seis anos e dez meses e, apesar de ser a filha mais velha na família, foi adotada posteriormente a Isa, sendo que convive com todos os membros há um ano. Ficou acolhida por três anos, época em que três primos se encontravam institucionalizados. Sua institucionalização partiu da observação de assistentes sociais que, ao visitar a família nuclear dos primos, notaram que Mel estava cada dia em uma residência diferente, sendo que sua genitora era acompanhada pelo judiciário há tempos, fato estendido a sua avó materna, conjuntura que sinalizava inconstância no cuidado da criança. Tanto a avó como a mãe de Mel foram mães na adolescência e não contavam com companheiros, algo comum em adolescentes que perdem a guarda de seus filhos. Ademais, há de se considerar que a maioria das composições familiares das crianças institucionalizadas são monoparentais, tendo a figura materna - muitas delas adolescentes - como responsável pela unidade familiar, sem a presença do pai consanguíneo (Buiati, Ferreira, & Gontijo, 2013).

O casal destacou que, quando adotou Mel, já pensava em ter um segundo filho, mas que ela foi adotada a partir de busca ativa, ou seja, o Grupo de Apoio à Adoção da cidade em que moram entrou em contato, pois havia uma criança com o perfil que buscavam - até sete anos de idade - disponível para adoção em outro município, e a partir dessa informação elas entraram em contato com o judiciário da cidade solicitando permissão para conhecer a criança, tendo retornado mais duas vezes àquele município para estreitar a convivência até obterem a guarda de Mel.

O casal também destacou episódios relacionados à alimentação de Mel, que aparece novamente como um ponto importante em crianças que vivenciaram o processo adotivo. Rosa relatou que, no início, Mel tinha muitas dificuldades de aprendizagem na escola e que sofria para fazer as atividades do colégio, sendo que, como havia uma dificuldade de relacionamento entre as duas, a criança estava mais vinculada a Maya. Um dia após Mel chorar por ter que fazer a lição de casa, Rosa narrou que a filha comeu dez coxas de frango e que teve que conversar seriamente com sua companheira, pois Maya estava recompensando a filha com comida. O alimento aparece mais uma vez, agora nessa outra participante, como forma de preencher um vazio, em consonância com o relato de Rosa:

Essa menina pegou um picolé, sabe aquele desse tamanho, de três cores, napolitano, que faz em sorveteira? Ela pegou esse picolé, ela fez assim, oh, e tirou o palito mesmo! Na hora que olhei assim, falei "cadê o picolé?" [...]. Quando ela chegou, a gente tinha uma mesinha, que até tá no nosso quarto, que ficava as frutas em cima, aí a gente saiu e fez compra de frutas, era umas quatro maçãs, aí ela comeu as quatro maçãs.

Conforme a criança vai se integrando à família e encontrando um ambiente que a acolha e ofereça segurança para seu desenvolvimento, esse vazio vai sendo preenchido e a necessidade de comer exageradamente vai se esvaindo. Ademais, Rosa e Maya frisaram que foi mais difícil adotar uma criança de praticamente sete anos do que uma criança de dois anos, visto que a personalidade de Mel estava mais estruturada e que os desafios foram maiores, sendo que, no início, além da questão da comida, Mel perdia seus materiais escolares e arrancava folhas do caderno, o que acreditam que fazia para chamar a atenção.

Na verdade, infere-se que Mel testava o amor de suas mães para saber se suportariam suas agressões, pois ela já havia sofrido um abandono, e esse abandono havia deixado marcas. Winnicott (1986/1999) evidencia que uma criança que não experimentou o cuidado pré-verbal, a confiabilidade humana, é uma criança carente, que carece de amor e de manejo adequado. Com crianças mais velhas carentes, os cuidadores podem até conseguir fornecer cuidados domésticos visando superar essa falta de amor/confiabilidade, entretanto será mais difícil, pois a criança mais velha tem a necessidade de testar os pais, de verificar se esse amor suporta a destrutividade ligada ao amor primitivo, e, caso os pais sobrevivam a essa destruição, eles serão amados por terem sobrevivido. No contexto da adoção, é de extrema importância que os pais/mães compreendam que poderão vir a ser válvulas de escape dos impulsos da criança, e que o amor e ódio da criança serão direcionados para eles, para garantir que sobreviverão apesar dos ataques (Machado, Ferreira, & Seron, 2015).

Interessante notar que também nos desenhos de Mel Rosa sempre apareceu como a primeira figura, conforme sua segunda unidade de produção, "Uma família que gostaria de ter", o que demonstra maior proximidade das filhas com Rosa, visto que é ela quem permanece em casa com as meninas durante o dia.

Era uma vez uma menininha que morava no abrigo. Não, são duas menininhas que moravam no abrigo. Elas moraram até que um dia uma família de duas mães queria ter uma filha, mas a filha dessa família, a irmã, queria uma irmãzinha, então ela adotou uma irmã para sua filha. Essa família vivia feliz, feliz e a criança estudava, pintava e viveu felizes para sempre.

A análise da segunda unidade de produção de Mel sinaliza que ela sente que adotaram uma irmã, mas não adotaram uma filha. Na quarta unidade de produção, em que foi solicitada que desenhasse a sua família, a qual intitulou "Amizade", ela não se colocou no desenho e, quando indagada sobre o porquê, respondeu: "Porque esse só precisava da minha família. F-A-M-Í-L-I-A". Ou seja, ela não se inseriu no desenho, mas projetou a família como a vê, como se fosse uma fotografia em que ela apenas olha, observa, mas não se coloca.

Era uma vez uma família... Uma família que só tinha uma filha, e ela foi adotada, mas só que essa família vivia triste porque essa irmã brincava sozinha, então a irmã queria uma irmãzinha. A família adotou então e a família ficaram felizes, as crianças brincavam, estudavam, aprenderam e então a família viveu feliz. Acabou. Já basta, né?

Na terceira sessão foi sinalizado a Mel seu sentimento de terem adotado uma irmã e não uma filha, ao que Mel reafirmou que adotaram uma irmã para fazer companhia a Isa. Compreende-se que Mel encontra-se em processo de adaptação na família, não se sentindo ainda pertencente e integrada, assim como Rosa e Maya destacaram na entrevista, uma vez que há apenas um ano ela começou a conviver com a família, sendo que a adaptação e o sentimento de pertencimento é um processo, como o casal sinalizou na entrevista. Nesse sentido, Winnicott (1987/1999) destaca que o mais comum é que a criança leve um tempo para se adaptar, visto que, quando se adapta imediatamente a um novo lar, não significa que ela estará necessariamente bem, sendo que pode haver uma aceitação artificial, uma ilusão, ou mesmo a manifestação de falso self, aquele que se molda ao ambiente, que é superadaptado para conseguir manter-se naquela nova configuração familiar, evitando vir a ser devolvida.

 

Considerações finais

Este estudo, ao ser realizado com crianças que vivenciaram o processo de adoção, avançou no sentido de possibilitar entrever, a partir do olhar das mesmas, a representação familiar que possuíam, além dos sentimentos que experimentaram com a colocação em uma nova família.

Faz-se importante ressaltar que todas as adoções contempladas neste estudo se referem a crianças maiores, ou seja, crianças acima de dois anos, e que esse tipo de adoção é preconizado pela Lei 12.010 (Brasil, 2009) como um aspecto importante a ser trabalhado e incentivado com os pretendentes à adoção. Uma criança com mais de dois anos viveu experiências marcantes da institucionalização ou abandono e traz uma história difícil de ser absorvida e elaborada, porém é necessário vê-la como criança - como os pais/mães participantes deste estudo fizeram - e não com olhares preconceituosos por ser mais velha; portanto, trata-se de vê-las como parte vital de um futuro mais humano (Andrei, 2001).

Outro ponto que se destaca no estudo relaciona-se ao motivo da realização da adoção. Apesar de as famílias relatarem o desejo pela adoção antes desta ocorrer, é interessante notar que, nos dois casos, a opção por essa forma de maternidade/paternidade ocorreu devido ou após a identificação de uma falta: Gael descobriu uma grave doença que poderia ser transmitida geneticamente e Maya havia retirado o útero - apesar de existirem opções de reprodução humana para a companheira Rosa, como fertilização in vitro e inseminação artificial, esses procedimentos têm custo elevado. Logo, apesar de a adoção vir sendo realizada por casais que já possuem filhos consanguíneos (Schettini, Amazonas, & Dias, 2006), a infertilidade ainda se destaca como ponto importante na motivação de adoção.

Enquanto estudo de caso coletivo, ressalta-se que as crianças participantes dessa pesquisa, independentemente de sua configuração de família, apresentaram uma representação familiar ligada à forma como vivenciavam a família e suas funções. A criança carrega em si o que vive em sua família, independente de quem seja essa família. Ademais, cada família mostrou-se como única, sendo importante frisar que o que torna o ambiente familiar acolhedor é o respeito ao ritmo e ao tempo de cada criança, independentemente de ser mãe/pai, pai/pai, mãe/mãe. Realça-se também como o papel do pai se fez importante nos casos discutidos, seja pela presença ou pela ausência: Brenda sente saudades e quer a presença do pai, Luna não quer se aproximar, Isa quer casar com um homem e ter filhos (viver esse papel do pai), demonstrando, assim, o quanto a figura do masculino - e do feminino - necessita de espaço para ser vivida em cada família.

Além disso, este estudo de caso coletivo apresentou algumas características comuns: todas as crianças demandaram tempo de convivência para se adaptar à família, demonstrando que essa adaptação é um processo que depende de um ambiente seguro e acolhedor para que ocorra, sendo que, dentro desse processo, existem diversas fases (Andrei, 2001). A etapa de testar o amor de seus pais destacou-se em todos os casos como marcante, sendo que algumas crianças ainda estão no percurso de superação dessa fase. Salienta-se ainda como ponto relevante a ingestão de alimentos, relatada pelas participantes, como uma significativa manifestação de penúria vivenciada com a família de origem. Para além da necessidade da gratificação alimentar propriamente dita, que se sabe ser real em crianças que passaram por todo tipo de privação nos primeiros anos de vida, as participantes deste estudo também percebiam a comida como uma forma de preencher o vazio, com o alimento assumindo muitas vezes a função de objeto transicional, ou seja, passando de alimento objetivamente percebido para o de alimento subjetivamente percebido, aquele que acalma, que é reparador do ser.

Pode-se inferir que as intervenções realizadas ao final do terceiro encontro, sustentadas na Sessão Lúdica e nas unidades de produção, bem como respeitosas ao ritmo e à capacidade de assimilação de cada participante, parecem ter lhes possibilitado um encontro genuíno consigo mesmas, ao serem traduzidas, elaboradas e transformadas pela pesquisadora, inserindo-as no mundo humano da expressão dos afetos.

Ademais, observou-se o desenvolvimento emocional de todas as crianças investigadas, visto que o ambiente tido como acolhedor e seguro do novo lar proporcionou as condições necessárias para o processo de amadurecimento. Isa vive há alguns anos com sua atual família e se identifica com ela, assim como Brenda. Já Luna, apesar de ainda testar os pais, sente confiança no ambiente e evidencia a família como parte importante de si. Mel ainda não se sente pertencente ao grupo familiar, provavelmente devido ao pequeno tempo de convivência, mas caminha em direção a isso, criando um ambiente que sobrevive a seus ataques e a acolhe. Contudo, destaca-se que o amadurecimento emocional de crianças que vivenciaram o processo de adoção necessita ainda ser melhor investigado, de forma que seria de extrema relevância uma pesquisa longitudinal que pudesse acompanhá-las ao longo de seu amadurecimento.

Apesar do número pequeno de participantes, fato que não permite generalizações, este estudo pôde destacar o funcionamento psicodinâmico dessas crianças e suas famílias, e direcionar aspectos que merecem realce no campo jurídico e psicológico da adoção. Dessa forma, confirma-se a importância do estudo de caso coletivo ao permitir a compreensão dos casos para além da generalização (Stake, 2000), objetivando-se que as proposições teóricas trabalhadas possam orientar e serem aplicadas a outros contextos (Yin, 1984). Entende-se que, dentre as diferentes configurações familiares estudadas, cada família é única e são diversos os modelos e relações existentes, o que leva à importância de se conhecer cada família em sua singularidade, compreendendo sua dinâmica, indo além de rótulos e generalizações que se fazem impensáveis ao se tratar das variadas formas de relacionamento humano.

Desse modo, a pesquisa incentiva a realização de novos estudos que possam retomar a temática abordada, investigando lacunas que não puderam ser preenchidas. Ademais, destaca-se a importância de se investigar as diferentes formas de ser família que compõem a sociedade humana e a importância de dar voz às crianças e legitimar suas opiniões, reconhecendo-as como capazes de se pronunciarem sobre si mesmas. O presente estudo possibilita que pais, mães e profissionais que trabalham com acolhimento/adoção possam ampliar o olhar para as relações das crianças em diferentes configurações familiares, desenvolvendo ações que visem buscar sempre o melhor para essas crianças e seus pais/mães.

 

 

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Artigo recebido em: 23/01/2019
Aprovado para publicação em: 12/10/2019

Endereço para correspondência
Jéssika Rodrigues Alves
E-mail: jessikaralves@yahoo.com.br
Martha Franco Diniz Hueb
E-mail: huebmartha@gmail.com

 

 

*Bacharel e Mestra em Psicologia pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Doutoranda em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP).
**Doutora em Ciência Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).

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