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Tempo psicanalitico

Print version ISSN 0101-4838On-line version ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.52 no.2 Rio de Janeiro Jul./Dec. 2020

 

ARTIGOS

 

Incidências da diferença sexual no final de análise: do dual ao singular

 

Incidences of sexual difference at the end of analysis: from dual to singular

 

Incidences de la différence sexuelle à la fin de l'analyse: du dual au singulier

 

 

Luiz Fellipe de Almeida SantosI*; Pedro Eduardo Silva AmbraI, II**

IUniversidade de São Paulo - USP - Brasil
IIPontifícia Universidade de São Paulo - PUC-SP - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O artigo visa apresentar a teorização de final de análise empreendida por Jacques Lacan ao longo de seu ensino, demonstrando sua posição ética e epistemológica fundamentada na singularidade da experiência analítica. Discutiremos, inicialmente, a maneira pela qual tanto Freud quanto muitos autores pós-lacanianos postulam uma diferença irredutível entre "homens" e "mulheres" no horizonte do tratamento. Por outro lado, a partir da apresentação de diferentes teorias de fim de análise em Lacan, bem como do resgate de sua crítica em relação à limitação da sexuação dual, o artigo defenderá que a lida de cada sujeito com seu sinthoma tem primazia em relação à bipartição das identificações e das modalidades de gozo.

Palavras-chave: final de análise, sexuação, singularidade, Jacques Lacan.


ABSTRACT

The paper aims to present the theorization of the end of analysis conducted by Jacques Lacan throughout his teaching, demonstrating its ethical and epistemological position founded on the singularity of the analytical experience. We discuss how Freud and many post-lacanian authors propose indeed an irreducible difference between "men" and "women" at the treatment horizon. On the other hand, after presenting several theses on the end of analysis problem made by Lacan as well as his critique on the limitation of the sexuation dualism, the paper argues that the subject's sinthome singularity has primacy over the identification and jouissance bipartition.

Keywords: end of analysis, sexuation, singularity, Jacques Lacan.


RÉSUMÉ

L'article présente quelques repères sur la théorisation de la fin de l'analyse faites par Jacques Lacan tout au long de son enseignement, en démontrant que son posture éthique et épistémologique est fondée dans la singularité de l'éxperience analytique. Nous discutons, d'emblée, la façon par laquelle soit Freud soit beaucoup d'auteurs post-lacaniens postulent une différence irréductible entre les "hommes" et les "femmes" dans l'horizon de la cure. Dans un autre côté, à partir de la présentation de divers théories de fin de l'analyse chez Lacan, aussi bien que le retour de sa critique par rapport à la limitation de la sexuation dual, l'article défendra que le savoir y faire de chaque sujet avec son sinthome a la primauté par sur la bipartition des identifications et des modalités de jouissance.

Mots-clés: fin de l'analyse, sexuation, singularité, Jacques Lacan.


 

 

Peço desculpa se o que eu digo parece - mas não é -
audacioso. Posso somente testemunhar sobre aquilo que a
minha prática oferece. Uma análise não tem que ser
levada muito longe. Quando o analisante pensa que é feliz
em viver, já é suficiente.

Jacques Lacan, 19751

Desde o início da prática e teoria psicanalíticas, a questão do fim do tratamento ocupou analistas de diferentes maneiras. Desde o distanciamento da noção médica de alta e - como no caso Dora - das chamadas interrupções do tratamento, passando pela proposta balintiana da identificação do paciente ao ego do analista, nos anos de 1950, até as elaboradas formalizações lacanianas sobre o final de análise, o tema parece render ainda hoje um grande número de debates e produções. Na medida em que a questão se entrelaça com a própria formação de analistas, torna-se ainda mais relevante saber quais os critérios a partir dos quais pode-se constatar que uma análise encontrou seu termo.

Dentre todas as vertentes psicanalíticas, a lacaniana talvez se destaque por ser aquela que mais frontal e frequentemente reflete sobre o final de análise. Ao nos debruçarmos sobre o que tem sido produzido sobre o tema nesse campo, constatamos uma espécie de tendência contemporânea a aproximar as reflexões do fim do tratamento com a dita teoria da sexuação, desenvolvida no início dos anos 1970 pelo psicanalista francês. Na opinião de muitos comentadores, haveria, grosso modo, uma diferença sensível nos finais de análise daqueles considerados homens e daquelas que estariam do lado mulher da sexuação, constatada, por exemplo, no dispositivo do passe. Tal ideia parece, de alguma forma, retomar a constatação freudiana de que haveria dois limites distintos para o tratamento de homens e mulheres.

Este artigo questiona o estatuto epistemológico de tais leituras à luz dos próprios fundamentos da teoria lacaniana. A partir da exposição dos percalços freudianos na compreensão das diferenças sexuais e de como sua clínica refletiu uma binariedade sexual pela consistência imaginária das reivindicações fálicas, procuraremos demonstrar de que maneira a clínica também bipartida de muitos pós-lacanianos é tributária de outras substancialidades que se afastam da negatividade que fundamenta o pensamento de Lacan. Logo, afastam-se dos princípios de seu avanço em relação ao impasse da castração em que patinava a teoria freudiana. Assim, ao apontar tais desvios epistemológicos, finalizamos este trabalho esclarecendo os fundamentos da teorização lacaniana de final de análise e os desenvolvimentos do psicanalista no campo da sexuação, buscando demonstrar que estes não implicam, em medida alguma, a dualidade predicativa encontrada nos comentadores citados. Nesse sentido, a direção da análise se baseia na singularidade e não na coletivização dos modos de gozo.

 

Finais de análise em Freud: a propósito das diferenças sexuais

Para Freud, os impasses da teoria da sexualidade eram também as maiores dificuldades do fim da análise, na medida em que a vertente quantitativa da exigência pulsional e o dark continent da feminilidade se destacam no seu texto "Análise terminável e interminável" (1937/1975) como obstáculos irremediáveis no final do tratamento (Freud, 1926/2014, p. 130). Retroativamente, pode-se dizer que a questão do fim da análise não encontrou propriamente uma resolução completa na teoria freudiana (Almeida-Santos, 2018). Cerca de dez anos após Sandor Ferenczi tratar do tema em "O problema do fim da análise" (1927/1992), Freud escreve "Análise terminável e interminável", em 1937, como uma espécie de compte rendu da evolução de sua teoria, tendo sido, até nossos dias, fonte de debates e divergências sobre os alcances da clínica que inventou. As formulações, os esclarecimentos e as ambiguidades que encontramos nas entrelinhas desse trabalho tardio dialogam com o surgimento da psicanálise, na medida em que expõem dificuldades que foram surgindo com o desenvolvimento da teoria.

Notemos um detalhe importante: o final de "Análise terminável e interminável" (1937/1975) desemboca na temática do complexo de castração, que, à época desse ensaio, ainda consistia em um impasse intransponível da análise. Freud é categórico: "Frequentemente temos a impressão de que o desejo de um pênis e o protesto masculino penetraram através de todos os estratos psicológicos e alcançaram o fundo, e que, assim, nossas atividades encontram um fim" (Freud, 1937/1975, p. 287). Assim, a posição freudiana contrapõe-se abertamente à posição de Ferenczi em "O problema do fim da análise" (1927/1992), para quem o sucesso da análise dependia de que o complexo de castração fosse vencido.

Todo paciente masculino deve chegar a um sentimento de igualdade de direitos em face do médico, indicando assim que superou a angústia da castração; todo doente do sexo feminino, para que se possa considerar que venceu a sua neurose, deve ter vencido o seu complexo de virilidade e ter-se abandonado sem o menor ressentimento às suas potencialidades do pensamento do papel feminino (Ferenczi, 1927/1992, p. 22).

A teoria freudiana da sexualidade reconheceu, desde muito cedo, a determinação que a angústia de castração e a inveja do pênis têm na economia psíquica. Nos "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade" (1905/2016), apoiando-se em hipóteses biológicas e psicológicas, Freud já sustentava sua teoria da bissexualidade e afirmava, apesar do reconhecimento do caráter masculino da libido, que: "no caso do ser humano, nem no sentido psicológico nem no biológico se acha uma pura masculinidade ou feminilidade [...] tanto na medida em que esses traços de caráter psíquicos dependam dos biológicos como em que sejam independentes" (Freud, 1905/2016; nota acrescentada de 1915, p. 139-140). Também nesse trabalho, Freud lança a primeira hipótese quanto às diferenças sexuais: "A suposição de que há o mesmo genital (masculino) em todas as pessoas é a primeira das teorias sexuais infantis regulares e prenhes de consequências" (Freud, 1905/2016, p. 104).

Em "A organização genital infantil" (1923/2011), Freud, logo após a formulação do dualismo pulsional da segunda tópica, sublinhou que a representação da mulher inexistia no inconsciente. O complexo de castração é fundamental no desenvolvimento da criança, que, diante da diferença anatômica entre os sexos, deve se posicionar para construir sua identidade sexual. A anatomia tem consequências psíquicas, mas o saber sobre o sexo é fálico (Freud, 1925/2011). Diante desse indício acerca da realidade anatômica em jogo na sexualidade humana, de que a representação inconsciente dos sexos não conhecia uma bipartição, mas um monopólio pulsional sob a marca fálica da dialética sexual, Freud estava consciente dessa ausência de "paralelismo" sexual e considerou a feminilidade um "enigma" (Freud, 1931/2010, p. 373; 1933/2010, p. 268).

Apesar de ter trabalhado com expressões como "primazia do falo" e "organização fálica" (Freud, 1923/2011; 1924/2011), isto é, compreendendo a significação fálica no psiquismo como moeda universal do sujeito humano, a investigação freudiana sempre se manteve tributária da consideração hereditária na determinação desse fenômeno: "Embora o complexo de Édipo seja vivido pela maioria das pessoas individualmente, ele é um fenômeno determinado pela hereditariedade, por ela estabelecido, que programadamente deve passar, quando começa a fase seguinte e predeterminada do desenvolvimento" (Freud, 1924/2011, p. 205).

Em "A dissolução do complexo de Édipo" (1924/2011, p. 211), após descrever as vicissitudes da sexualidade do menino no complexo de Édipo, Freud reconhece que, em relação à menina, o que se sabe é "obscuro e insuficiente". Com efeito, todo o raciocínio do complexo de castração gira em torno da posse do falo, em poder perdê-lo e em se sentir em falta, restando ao sujeito feminino se constituir conforme a universalidade dessa lógica. Enquanto o complexo de Édipo masculino cessa com o complexo de castração, o feminino se dá a partir desse complexo: "a menina aceita a castração como fato consumado, enquanto o menino teme a possibilidade da consumação" (Freud, 1924/2011, p. 212).

Notemos como os três destinos do complexo de castração que Freud descreve em "Sobre a sexualidade feminina" (1931/2010) são todos subordinados à lógica fálica. O primeiro se dá a partir da insatisfação da mulher em relação a sua anatomia, o que culmina no abandono da atividade sexual. O segundo se configura como uma obstinada autoafirmação de sua masculinidade, apegando-se à ilusão de possuir um pênis algum dia. Freud considera o terceiro destino da sexualidade feminina como a "configuração feminina normal, que toma o pai como objeto e, assim, alcança a forma feminina do complexo de Édipo" (Freud, 1931/2010, p. 379).

Conforme Pommier (1991) esclarece, a equação produzida entre falo e pênis conduz ao desconhecimento de que o significante fálico é, na verdade, o índice da falta que constitui qualquer sujeito, anatomicamente homem ou mulher. Lacan será o responsável por essa distinção decisiva entre o que é da ordem da linguagem e as contingências concretas que vêm responder pelas questões implicadas na vida do sujeito enquanto efeito do significante. Quando seguimos os desenvolvimentos freudianos relativos à teoria da sexualidade, percebemos que o processo de se tornar mulher ficou subordinado aos limites dessa equivalência entre falo e pênis.

Retomando a questão relativa à direção do tratamento, percebe-se que precisamente sobre esse ponto consistia o grande desafio do fim de suas análises, que esbarravam na primazia do falo com suas recusas e querelas. A saída freudiana residiu em continuar a atribuir um substrato biológico ao complexo de castração, restando a impossibilidade de "descrever o que é a mulher" e o "incentivo" para que o analisante reveja sua posição (Freud, 1933/2010, p. 269; 1937/1975, p. 287).

Em "Análise terminável e interminável" (1937), apesar do tom de resignação quanto à possibilidade de superação do "repúdio da feminilidade" presente em ambos os sexos, Freud considera que se trata de uma questão de escolha, passível de ser reexaminada (Freud, 1937/1975, p. 287). Não obstante essa dificuldade se alinhar à hipótese de Freud sobre sua origem filogenética - um impasse biológico -, o texto se encerra da seguinte maneira, apontando a possibilidade de uma mudança:

O repúdio da feminilidade pode ser nada mais do que um fato biológico, uma parte do grande enigma do sexo. Seria difícil dizer se e quando conseguimos êxito em dominar esse fator num tratamento analítico. Só podemos consolar-nos com a certeza de que demos à pessoa analisada todo incentivo possível para reexaminar e alterar sua atitude para com ele (Freud, 1937/1975, p. 287).

Com efeito, diante da indecidibilidade em relação à análise finita, Freud acaba aceitando que o fim da análise é uma "questão prática" (Freud, 1937/1975, p. 284). A variável sexual é, portanto, enfatizada, nesse texto, na medida em que sua teoria não conseguiu resolver o impasse das diferenças sexuais, reconhecendo a primazia do falo e a respectiva oposição fálico/castrado como eixo de subjetivação da sexualidade para ambos os sexos. A partir de uma perspectiva marcada pelo pensamento lacaniano, pode-se dizer que sua teorização se manteve atrelada a uma concepção imaginária da dialética do complexo de castração, reproduzida no nível transferencial. A análise que Freud faz do trabalho psíquico das diferenças anatômicas entre os sexos desemboca, conforme a posição darwiniana de sua obra, na atribuição de uma causa filogenética para esse impasse. Todo o drama da cena neurótica que constitui essa crise do fim da análise é, na verdade, como vimos, ressonância das estratégias que o sujeito pode encontrar para se defender de sua falta - fato de linguagem -, o que implica uma forma de lidar com sua anatomia. Nota-se, assim, que a anatomia também é o destino no fim de análise freudiano.

 

A abordagem pós-lacaniana do final de análise pela dualidade sexual

As soluções que Lacan proporá a esse impasse do fim de análise são inseparáveis daquelas relacionadas às problemáticas da sexualidade, muito embora seu nível de análise transcenda a narrativa da ficção fantasmática, propondo a solução para esse entrave transferencial no nível simbólico da relação do sujeito com o significante (Lacan, 1962-1963/2005). Como vimos, as dificuldades freudianas na compreensão da diferença entre os sexos se refletiram no desfecho de suas análises, na medida em que uma concepção transferencial pautada na repetição pressupõe uma analogia entre a estrutura dos limites do desenvolvimento psicossexual e o termo do tratamento.

Brousse (1995), por outro lado, defende que o final de análise propriamente lacaniano só pode ser estabelecido graças a um decisivo passo teórico duplo: trata-se da invenção do objeto a e a formalização da não-simetria que sustenta as posições sexuais. A autora se pauta pela recomendação de Lacan (1971-1972/2008, p. 173), no Seminário O saber do psicanalista, a respeito das quatro fórmulas construídas para esquematizar os posicionamentos sexuais em relação à função fálica: "Sem esse conjunto, é impossível orientar-se corretamente no que concerne à prática da psicanálise [...]". A psicanalista ainda sustenta que a posição feminina deve ser entrevista na análise, a qual se orienta pelo axioma lacaniano condensado nas fórmulas sobre a impossibilidade de se escrever a relação sexual.

Conforme lembra Le Gaufey (2015), as fórmulas da sexuação, por esclarecerem fundamentalmente o impossível lógico da relação sexual, furtam-se a quaisquer essencialismos a respeito do que seria o "homem" ou a "mulher" em termos de identidade de gênero ou sexualidade. Muito embora note-se que o próprio Lacan (1972-1973/2010, p. 102), no Seminário Encore, por vezes acaba destoando da potência do formalismo de sua invenção quando empreende sua aplicação para a análise de questões propriamente ligadas a gênero e sexo, tratados por vezes indistintamente. Trechos como "esse gozo, em que ela é 'não toda' [...] ela encontrará aí a rolha desse pequeno a que será seu filho" denunciam uma confusão entre formalização e problemáticas referentes à identidade de gênero.

Entretanto, mesmo na obra lacaniana, nota-se que as novidades teóricas condensadas na tábua da sexuação do Seminário Encore se emanciparam de sua proposição inicial, sendo que a própria noção de "lados" para descrever a sexuação vai se esvaindo cada vez mais na medida em que Lacan começa a fazer uso da topologia borromeana para apresentar o espaço do ser falante. Como o autor explicita no Seminário RSI, o nó borromeano "dá conta" da "experiência analítica", "e é nisso que consiste seu valor" (Lacan, 1974-1975, p. 14). Isto é, em vez de tentativas descritivas do que seria da ordem do masculino ou do feminino, sob a égide de uma teorização heterocêntrica, como é ainda o caso em algumas passagens do Seminário Encore, no nó borromeano temos três modalidades de gozo (gozo fálico, gozo do Outro e o chamado gozo do sentido), não mais duas como na tábua da sexuação. Além disso, sai de cena a sobreposição do homem enquanto o sujeito da fantasia e o objeto a torna-se "o cerne elaborável do gozo" (Lacan, 1974/2002), localizado no centro da amarração borromeana, não mais associado exclusivamente ao gozo fálico, como o era no patamar inferior do esquema da sexuação do Seminário Encore. O gozo feminino, por sua vez, também se desvincula de seu viés sexuado e será redescrito entre o real e o imaginário como gozo do Outro.

Na "Nota italiana" (1973/2003, p. 312), contemporânea ao Seminário Encore, Lacan já se utilizava do conceito de não-todo desvinculado de sua fundamentação sexuada para descrever a posição do analista: "é do não-todo que depende o analista", isto é, ele aloja um saber "que deve levar em conta o saber no real". A partir de um comentário sobre a errância pulsional diante do objeto a, saber que concerne ao final da análise e demonstra a própria estrutura da linguagem, Lacan acrescenta: "O fulano [gar(r)s] ou a fulaninha [garce] em questão revezam-se aí sem problemas" (Lacan, 1973/2003, p. 314). Assim, como se observa na citação, a ultrapassagem do rochedo transferencial freudiano se dá pela relação singular do sujeito diante da castração simbólica, consideração que mantém a primazia fálica no centro da direção do tratamento, mas liberta do engodo imaginário da fantasia. O único limite irredutível a essa liberdade quanto ao saber sobre a estrutura do simbólico é o real do gozo na letra do sintoma. O fim da análise é o savoir-y-faire com um enlace singular de RSI.

Ainda sobre essa passagem da "Nota italiana" (1973/2003), ela condensa um ponto importante, por vezes ignorado por comentadores: diferentemente de Freud, tanto aqui como em outras passagens sobre a direção do tratamento, a posição do analista e o fim de análise, não há nenhum desenvolvimento teórico que procure diferenciar maneiras masculinas ou femininas de desenlace. Por outro lado, a maior parte dos pós-lacanianos, em se tratando da questão da sexuação no tratamento, mantém-se tributária do aparente dualismo sexual que é tão marcante na época do Seminário Encore, aportando-o para o campo clínico sem questionamentos mais detidos sobre outros pontos do ensino lacaniano. No que tange ao fim da análise, tentativas de se pensar saídas distintas conforme os "sexos" vão de encontro à teorização lacaniana sobre esse tema, na medida em que a ética da psicanálise sustenta um desenlace lógico para o sujeito e a causa de sua divisão sem qualquer menção a uma possível dualidade sexuada, sem nenhuma argumentação ou formalização a respeito de modos sexuados de se posicionar em relação às coordenadas lógicas da análise: travessia da fantasia, identificação ao sintoma, destituição subjetiva (Lacan, 1967/2003, 1976-1977).

Fink (1998) é exemplo de um autor que procura correlacionar sexuação e fim de análise, pensando o processo analítico a partir da definição de homens e mulheres segundo formas distintas de alienação na linguagem, fomentado sobretudo pela interpretação dualista da proposta teórica do Seminário Encore. O autor afirma que a distinção sexual se dá por conta de formas diferentes de se estar dividido, enquanto sujeito, em relação ao significante, isto é, o todo e o não-todo. Assim, para o psicanalista, o "além da neurose" que Lacan teorizara entre os anos 1950 e 1960, propondo a subjetivação da causa, parece ser, no Seminário Encore, "um caminho além da neurose, o caminho daqueles caracterizados pela estrutura masculina. O outro caminho - da sublimação - é específico daqueles caracterizados pela estrutura feminina" (Fink, 1998, p. 144). Fink (1998, p. 144) ainda sustenta: "O caminho masculino poderia então ser classificado como aquele do desejo (tornando-se a própria causa do desejo), enquanto o caminho feminino seria aquele do amor".

É preciso notar, contudo, que tais desenvolvimentos não apontam uma distinção rigorosamente fundamentada na formalização quântica lacaniana, nem mesmo diretamente no patamar inferior da tábua da sexuação, referente aos modos de gozo, embora o pensamento do autor pareça partir das especificidades que comporiam os "lados" masculino e feminino. Fink (1998, p. 147) dirá ainda: "Cada sexo parece ser chamado a desempenhar uma parte relacionada com os próprios fundamentos da linguagem: os homens desempenham a parte do significante, enquanto as mulheres representam a parte de l'être de la signifiance [o ser da significância] [...]". Assim, o autor diferencia dois modos de subjetivação: a masculina como "a produção/criação de sua própria alteridade na qualidade de causa eficiente (o significante), enquanto a subjetivação feminina envolveria a produção/criação de sua própria alteridade na qualidade de causa material (a letra)" (Fink, 1998, p. 144). O movimento aqui é sutil, mas prenhe em consequências: apresenta-se a subversiva crítica da ontologia do não-todo para, em seguida, predicá-la e marcá-la sexuadamente no que tange ao final da análise.

A aproximação que o autor faz entre o gozo do Outro e o conceito de letra, buscando aproximar S1 de S(Ⱥ), conforme a versão desse matema na tábua da sexuação, nunca foi empreendida por Lacan, o qual, aliás, parece tratar da noção de ser da significância, no Seminário Encore, a partir do gozo fálico, em oposição ao ser pré-significante da filosofia, compreendido numa realidade pré-discursiva (Lacan, 1972-1973/2010).

É importante ter em mente a diferença entre possíveis constatações fenomenológicas clínicas e distinções que teriam algum fundamento epistemológico, a partir da formalização lógico-matemática que serviu a Lacan para despir a não-relação sexual de suas tonalidades imaginárias. Se nos ativermos a essa primeira intenção das fórmulas da sexuação, verificamos que, quando Lacan aponta diferenças entre homens e mulheres, seus comentários, por vezes, limitam-se a observações de ordem quantitativa, não dizendo respeito a dissimetrias lógicas que se sustentariam a partir de uma leitura rigorosa de seu esquema da sexuação ou que justificariam uma dualidade categórica de "sujeitos" ou "falasseres". Tal bipartição é absolutamente heterogênea à negatividade em que se fundamenta o pensamento lacaniano.

Por exemplo, no Seminário 10: a angústia (1962-1963/2005) nota-se uma espécie de esboço de formulações acerca do homem e da mulher a partir da novidade teórica do objeto pequeno a enquanto causa de desejo, sobretudo porque o índice clínico desse excesso de gozo é a angústia, situada por Lacan entre o gozo e o desejo. Nesse sentido, Lacan dirá que as mulheres são superiores em relação ao gozo, mais reais que os homens, pois "seu vínculo com o nó do desejo é bem mais frouxo" (Lacan, 1962-1963/2005, p. 202; grifo nosso). O autor também comenta que as analistas apresentam mais liberdade para sustentar o lugar de causa de desejo na transferência, pensamento parecido com este do Seminário RSI (1974-1975, p. 34; grifo nosso), cerca de dez anos mais tarde: "[...] as analistas mulheres estão certamente mais à vontade no que se refere ao inconsciente. [...] se eu devesse localizar em algum lugar a ideia de liberdade, seria evidentemente numa mulher que eu a encarnaria". Entretanto, na lição anterior desse mesmo seminário, Lacan dissera que "a mulher não tem a sofrer nem mais nem menos de castração que o homem" (Lacan, 1974-1975, p. 30). Mas mesmo aqui nota-se um esforço de Lacan em não os diferenciar qualitativamente no que tange à castração e, portanto, a esse suposto limite do final da análise.

No Seminário 17, por exemplo, Lacan faz a observação de que as mulheres são menos fechadas que os homens em relação ao discurso (Lacan, 1969-1970/1992, p. 52; grifo nosso). Na mesma toada, na conferência "A terceira", o autor diz, também sobre as mulheres: "[...] a tratá-las de sintomas, não se força a barra, porque definir o sintoma como fiz, a partir do real, é dizer que as mulheres o exprimem também muito e muito bem o real, visto que justamente insisto a respeito de que as mulheres não são todas" (1974/2002; grifo nosso). Dessa aproximação das mulheres ao real Lacan ainda afirma que é mais difícil para uma mulher fazer semblante de objeto a, em se tratando de analistas, posicionamento que parece ser diferente daquele do Seminário 10 (1962-1963/2005), quando ele afirmou que as mulheres seriam mais livres nesse lugar.

Na antecâmara da proposição da sexuação, ao discutir as posições sexuadas a partir da noção de semblante, em 1971, Lacan sustenta uma equivalência no processo relativo à castração entre homens e mulheres, na medida em que:

A verdade com a qual não há um desses jovens seres falantes que não tenha de se confrontar é que existe quem não tenha falo. É uma dupla intrusão na falta, porque existe quem não o tenha e, ainda por cima, essa verdade faltava até então. A identificação sexual não consiste em alguém se acreditar homem ou mulher, mas em levar em conta que existem mulheres, para o menino, e existem homens, para a menina. E o importante nem é tanto o que eles experimentam, o que é uma situação real, permitam-me dizer. É que, para os homens, a menina é o falo, e é isso que os castra. Para as mulheres, o menino é a mesma coisa, o falo, e ele é também o que as castra [...]. (Lacan, 1971/2009, p. 33; grifos nossos).

Isso não significa, contudo, que Lacan ignore as ditas diferenças sexuais, mas quando o faz recorre sempre a expedientes quantitativos e aproximativos, quando diz, por exemplo, no mesmo seminário que, em comparação ao homem, "a mulher tem uma enorme liberdade com o semblante" (Lacan, 1971/2009, p. 34; grifo nosso). Notemos que, mesmo em tal exercício superlativo, estamos numa lógica distinta da escolha forçada, binária e incontornável de uma leitura dual das fórmulas da sexuação.

"Enorme", "mais", "menos", "maior", menor": a mensuração lacaniana, contudo, não biparte a universalidade da teoria do sujeito nem aquela do espaço borromeano do falasser, tomadas na singularidade do caso a caso em se tratando do fim de análise. Miller (2010), por outro lado, em conferência realizada em Buenos Aires em 1992, parece ir de encontro com a indistinção de Lacan no que tange ao fim de análise e se atém a diferenças fenomenológicas de intensidade para desembocar em finais de análise conforme se é "homem" (identificação ao sintoma) ou "mulher" (travessia da fantasia). O primeiro advém com a revelação do gozo do sintoma, que põe fim à falta-a-ser. O analisante se transforma no sintoma e não há mais queixa. Na outra vertente que o autor aponta, pela travessia da fantasia, "há um afeto de liberdade e de acesso à contingência" (Miller, 2010, p. 18). Apontando que sua conclusão é "bastante transitória", o autor afirma que a experiência do passe ensina que "há uma incidência da diferença sexual quanto à fantasia" (Miller, 2010, p. 18). O psicanalista afirma que, nas fórmulas da sexuação, a do desejo masculino se coaduna com esse final de análise pela identificação ao sintoma. Sua hipótese é que Lacan teria aceitado um final de análise com um não mais além na identificação ao sintoma, isto é, haveria um impasse masculino quanto a S(Ⱥ), o significante último encobrindo esse furo da estrutura. Assim, segundo o autor, na análise, "como essas duas fórmulas indicam, no momento em que um homem encontra as vias do seu desejo, a função Φ se torna mais insistente, ao passo que, quando se abrem as vias do desejo para uma mulher, ela tem acesso ao Ⱥ, ou seja, que o Outro não existe" (Miller, 2010, p. 15). O autor ressalta que "o final da análise que tem que ver efetivamente com reconhecer o falo como semblante, no que diz respeito ao gozo, deve ser visto e considerado do lado da sexualidade feminina" (Miller, 2010, p. 21).

A coletânea da Associação Mundial de Psicanálise [AMP] (1995) sobre o fim da análise afirma, dentre diversos exemplos de diferenças sexuais colhidos em relatos do passe, ser evidente que homens e mulheres terminam suas análises de formas distintas. No livro, há distinções em relação à consistência da fantasia, ao semblante, à castração e ao sintoma. Entretanto, mesmo na linha do raciocínio milleriano (Miller, 2010), as indicações da coletânea se mantêm no nível de constatações clínicas de "mais" ou "menos" intensidade. Afirmando que "o véu do pudor não tem a mesma função nos dois sexos", o texto traz observações como: "as mulheres falam do amor, enquanto os homens mais comumente silenciam"; em relação às "imagens do Outro", a coletânea aponta que há uma "dissimetria da relação com a castração", "nas mulheres, em termos de falta-a-ser, e nos homens, em termos de falta-a-gozar"; para as mulheres, "desenvoltura maior no tocante à consistência da fantasia", e, para os homens, a travessia da fantasia parece especialmente difícil" (AMP, 1995, p. 160, 165, 170; grifos nossos).

Coelho dos Santos (2008) defende a investigação sobre finais de análise em função da posição sexual propondo a atualização dos princípios da direção do tratamento. A autora aponta o "declínio da função paterna" na contemporaneidade como justificativa para a consideração dos diferentes modos de gozo, tendo em vista retificações na direção da cura a partir da sexuação, e sustenta: "porque o gozo não se reduz ao sentido, o homem e a mulher não podem ser reduzidos ao sujeito do significante', nem a particularidade do seu desejo pode ser homogeneizada sob a fórmula do fantasma unissex: $ ◊a" (Coelho dos Santos, 2008, p. 111).

Pensar o final de análise a partir de supostas coordenadas duais da sexuação nos traz dois problemas epistemológicos. Em primeiro lugar, trata-se justamente dessa ênfase que boa parte da comunidade pós-lacaniana deposita sobre a sexuação a partir do periclitante empreendimento lacaniano de formalização da não-relação sexual sobreposto a uma lógica identitária binária (Silva Junior, 2017), considerando, como o autor fez ao longo do Seminário Encore, a sexuação a partir da dualidade modal em relação ao gozo sem, entretanto, se desprender, a despeito de sua tentativa formal, de aspectos imaginários ligados a identidades de gênero sob uma óptica heterocêntrica. Embora Lacan tenha resvalado para essa aparente binariedade, se considerarmos seus seminários em que frontalmente trabalhou a sexuação, é mister que se note a insubstancialidade que fundamenta os semblantes e os modos de relação com a função fálica. Ler Encore distante desse princípio é esquecer a própria falta-a-ser do sujeito, "cerne da experiência analítica" (Lacan, 1958b/1998, p. 619).

Em segundo lugar, como pretendemos demonstrar adiante, a teoria lacaniana de fim de análise se pautou pela singularidade da relação do sujeito com o significante e o objeto (Lacan, 1967/2003), ou, em termos borromeanos, pela imparidade da resposta sintomática do falasser e seu corpo em relação ao real (Lacan, 1974/2002). Isto é, como aponta Soler (1995), Lacan teria elidido a variável sexual em se tratando do fim da análise - diferentemente de Freud, que enfatizara as diferenças sexuais como motivo de grandes entraves transferenciais.

Segundo Soler (1995, p. 34), uma das únicas referências que não subalterniza o fim de análise em favor de dois fins de análise distintos, "o ser do sujeito em seu universal, como efeito de linguagem, sobressai-se ao ser sexuado", e essa seria uma das razões que explicam a omissão de Lacan em relação à variável sexual na análise. Assim, a autora lembra que a análise se dá em referência ao que há de sujeito no analisando, "o que nele participa do sujeito como um todo e, como tal, fixado na função fálica" (Soler, 1995, p. 34). Com efeito, no Seminário RSI, Lacan atribui uma "função nodal" ao gozo fálico, "e é em torno dela que se funda o que se refere a esta espécie de Real com que a análise tem a ver" (Lacan, 1974/1975, p. 15). Outra ponderação de Soler é que, se aquilo que existe de mais real como gozo é o desafio do final de uma análise, e que esse mais real do gozo é o que mais distingue os sexos, Lacan afirmou, em 1967-1968, na resenha sobre o Seminário Ato psicanalítico, que "o gozo se aborda, até na prática, somente pelos sulcos traçados do lugar do Outro" (Soler, 1995, p. 34).

 

Final de análise lacaniano e a singularidade da experiência analítica

Embora a teoria lacaniana tenha promovido avanços notáveis para desembaraçar os nós deixados pelo pensamento freudiano no que diz respeito à problemática das diferenças sexuais, culminando na famigerada invenção lógica do não-todo e na constatação clínica do inominável do gozo do Outro, defendemos que Lacan sempre pensou a questão do fim de análise a partir da universalidade da posição inconsciente do sujeito ou, mais tardiamente, da configuração borromeana do espaço do falasser. Ainda que, como Brousse (1995) aponta, a evolução da teoria psicanalítica seja fundamentalmente tributária das questões próprias à sexualidade, enquanto Lacan avançava no que chamou, no Seminário Os não-tolos erram (1973-1974, p. 186), de "sexuação", seu interesse, em se tratando do fim de análise, se manteve desprendido de qualquer correlação entre sexuação e as coordenadas lógicas de sua direção do tratamento.

Dos anos 1950 até o início dos anos 1960, Lacan compreendia as diferenças sexuais a partir do complexo de castração, cuja "função de nó" era responsável por instalar o sujeito em uma posição inconsciente para se identificar com "o tipo ideal de seu sexo" (Lacan, 1958a/1998, p. 692). O significante fálico é apreendido por sua função central na economia do saber inconsciente, na medida em que designa "os efeitos de significado", isto é, a organização fálica da linguagem (Lacan, 1958a/1998, p. 697). O que se observa é, ao mesmo tempo, uma aproximação e um distanciamento de Freud por parte de Lacan, na medida em que, embora o falo seja a referência para o sujeito se posicionar na partilha sexual, a relação com esse significante independe da anatomia, como está explícito no texto "A significação do falo" (1958a/1998).

Pode-se dizer que, nesse momento da obra de Lacan, não havia uma teorização de posições sexuais que se emancipassem de uma homologia com os posicionamentos disponíveis na cultura, isto é, que abarcasse algo do domínio do continente negro da feminilidade na teoria, uma vez que, diante da significação fálica, havia dois modos de o sujeito se posicionar diante do falo, isto é, os tê-lo ou sê-lo. Trata-se de um diagnóstico de maneiras neuróticas de o sujeito lidar com a falta no Outro, e a sexualidade ficava restrita ao plano do desejo. Nessa época, o gozo era concebido por sua negatividade, como perdido no ingresso do sujeito à linguagem. Portanto, em vez de uma posição masculina e outra feminina, parecia haver uma sobreposição dessas posições com os tipos clínicos neurose obsessiva e histeria. O sujeito universal do inconsciente se posiciona em relação à primazia fálica, não havendo distinções quanto ao seu caráter sexuado.

A concepção de fim de análise desse período de ênfase no registro simbólico se coadunava com essa consideração da sexualidade no nível do desejo, isto é, da posição inconsciente do sujeito diante da castração. Da fala plena ou verdadeira como meta da análise, que buscava implicar o sujeito na assunção de sua divisão subjetiva, à apuração do lugar do significante fálico na estruturação do desejo, como índice da falta-a-ser, as teorizações de final de análise se orientavam pela relação do sujeito com o significante.

Nessa primeira concepção, do texto "Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise" (1953/1998), a análise visava ao reconhecimento do desejo pela via intersubjetiva. A segunda ideia é do escrito "A direção do tratamento e os princípios de seu poder" (1958b/1998), em que a variável sexual é claramente estabelecida a partir do par fantasmático ter ou não ter o falo como resultado da desidentificação fálica. Não obstante, em qualquer posicionamento, trata-se da universalidade da castração para o sujeito neurótico:

[...] esse falo o qual recebê-lo e dá-lo são igualmente impossíveis para o neurótico, quer ele saiba que o Outro não o tem ou que o tem, pois, em ambos os casos, seu desejo está alhures - em sê-lo -, e porque é preciso que o homem, macho ou fêmea, aceite tê-lo e não tê-lo, a partir da descoberta de que não o é (Lacan, 1958b/1998, p. 649).

Em "Observação sobre o relatório de Daniel Lagache: Psicanálise e estrutura da personalidade" (1960/1998), as fórmulas dos desejos masculino e feminino, respectivamente Φ(a) e Ⱥ(φ), nos apontam finais de análise a partir da aporia freudiana. Entretanto, não se trata de saídas de análise que ultrapassem a universalidade da questão do desejo para o sujeito. A precisão importante que esse texto traz é a diferenciação entre fim e término da análise, em crítica a Michael Balint e sua defesa do término da análise pela identificação com o eu do analista.

O fim propriamente dito da análise diz respeito ao reconhecimento do desejo e seu valor de orientação da cadeia metonímica como falta-a-ser, e "é nisso que a
psicanálise ordena uma revisão da ética" (Lacan, 1958b/1998, p. 689). Contudo, pode-se dizer que é a partir da invenção do conceito de objeto pequeno a, que, no Seminário 10 (1962-1963/2005), será teorizado como objeto causa do desejo, que Lacan poderá de fato formular posições sexuais que superem a circunscrição do ser e do ter. Com efeito, na medida em que a metonímia do desejo vem testemunhar a perda de gozo implicada na função vetorial do objeto a como resto não assimilável à estrutura da linguagem, e portanto o falo não é mais a "razão do desejo" como o era em 1958 (Lacan, 1958a/1998, p. 700), estamos no caminho de um desenvolvimento teórico que instancia o real no campo do Outro como vestígio da experiência de gozo primordial. Novamente, fica claro que esse conjunto de discussões é distinto daquele da diferença dos sexos e não está a ele subordinado.

Ainda no Seminário 10, observa-se um questionamento do limite de final de análise que Freud escrevera em 1937:

Na medida em que a situação do desejo - virtualmente implicada em nossa experiência, e que, se me permitem dizê-lo, tece-a por inteiro - não é verdadeiramente articulada em Freud, o fim da análise esbarra num obstáculo e tropeça no sinal implicado na relação fálica, o (- φ), no que este funciona estruturalmente como (- φ), o que faz com que essa forma seja tomada como o correlato essencial da satisfação.
Se, no fim da análise freudiana, o paciente, masculino ou feminino, reclama-nos o falo que lhe devemos, é em função de uma insuficiência nossa para distinguir a relação do desejo com o objeto e a falta constitutiva da satisfação" (Lacan, 1962-1963/2005, p. 262; grifos nossos).

A partir dessa distinção, Lacan propõe que pensemos se o processo analítico é realmente interminável, na medida em que o desejo, que tece inteiramente a experiência da análise, aponta para um resto real não apaziguável por "nenhum falo permanente, nenhum falo onipotente" (Lacan, 1962-1963/2005, p. 262). Entretanto, apesar desse avanço teórico e do ensaio de distinções sexuais em relação ao gozo, ao longo do seminário, Lacan não formula finais de análise distintos para o homem e a mulher.

Essa é a posição que o autor tomará ao longo dos anos 1960. A equação do fim da análise condensada na "Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola" (1967/2003) é pensada a partir do trabalho com a divisão do sujeito. Novamente, aqui a travessia da fantasia e a obtenção do agalma são pensadas sem diferenciação sexual, conforme nota Soler (1995). Por outro lado, as formulações sobre a sexualidade seguiam o rumo das precisões teóricas que culminariam com a distinção de modos de gozo, passando pela formalização dos quatro discursos.

Mas mesmo antes da "Proposição" (1967/2003), encontramos passos decisivos na construção do fim de análise lacaniano propriamente dito no Seminário 11 (1964/1988). Do objeto a como causa de desejo (não mais o "desejo como objeto", conforme Lacan critica a compreensão freudiana) ao desejo do analista como "desejo de obter a diferença absoluta" entre o sujeito e o significante primordial que o assujeita, o final de análise tem seu fundamento na superação do plano da identificação (Lacan, 1964/1988, p. 20, p. 260). Isto é, na medida em que "a experiência da fantasia fundamental se torna a pulsão", ou seja, a apreensão do real em jogo na causa do desejo esclarece por que "a fantasia protege o real" (Lacan, 1964/1988, p. 44). Lacan lança a pergunta: "Como um sujeito que atravessou a fantasia radical pode viver a pulsão?" (Lacan, 1964/1988, p. 258). Ele diz que tal questão só fora abordada em se tratando do analista, cuja formação exige essa travessia.

Essas formulações sobre o fim da análise serão retomadas na "Proposição" (1967/2003). A novidade do texto é a apresentação do procedimento do passe. É digno de nota que, nessa época, embora Lacan estivesse esboçando importantes distinções em relação ao que mais tarde se cristalizaria em posições sexuais a partir da lógica dos quantificadores, nesses desenvolvimentos sobre o fim da análise claramente não há coordenadas lógico-clínicas pensadas conforme a dissimetria sexual que então ganhava corpo.

Por exemplo, no Seminário 14 (1966-1967/2008), Lacan já coloca a mulher em posição homóloga à do objeto a, apontando que ocupar esse lugar na relação amorosa não exclui o fato de que ela é sujeito, na medida em que "o que ela dá sob a forma do que ela não tem é também a causa de seu desejo" (Lacan, 1966-1967/2008, p. 237). Trata-se de uma formulação que já começa a abordar a especificidade do que seria o gozo da posição feminina, em consonância com "a heterogeneidade radical do gozo do macho e do gozo da fêmea" (Lacan, 1966-1967/2008, p. 237). Em relação ao homem, no Seminário 15 (1967-1968/2008), Lacan o distingue da categoria do sujeito, lembrando que "se há alguém que não sabe o que é o homem, são exatamente os psicanalistas" (Lacan, 1967-1968/2008, p. 200). Na "Nota sobre a criança" (1969/2003, p. 370), Lacan diz que a criança dá à mãe "aquilo que falta ao sujeito masculino", o que será, mais tarde, formalizado na tábua da sexuação. Assim, percebe-se que, nesses meados dos anos 1960, há um esforço em formular uma teoria das diferenças sexuais que ultrapasse o sujeito universal da neurose, fundamentalmente graças à operatividade metapsicológica do objeto a e à utilização de modelos lógico-matemáticos. Esse movimento ganha impulso no Seminário 16 (1968-1969/2008), quando o desenvolvimento da ideia de inconsistência do Outro e a demonstração da linguagem como aparelho de gozo apontam para a importância cada vez maior que o registro do real vai ganhando no ensino de Lacan. Torna-se ainda mais claro, a partir dos trechos citados, que o psicanalista não faz menção ao final de análise ou quaisquer especificidades de manejo clínico de acordo com diferenças sexuais.

O Seminário 16 (1968-1969/2008) representa um marco importante na compreensão que Lacan irá propor, a partir de então, da linguagem como aparelho de gozo, em contraposição à consideração da linguagem somente pela via da significação e sua incompletude. O objeto a ganha homologia ao conceito de mais-valia da teoria marxista e adquire a dimensão de mais-de-gozar, articulado ao campo do Outro e ao campo do gozo, "definindo-se o gozo em si como tudo o que decorre da distribuição do prazer no corpo" (Lacan, 1968-1969/2008, p. 218). Mais tarde, no Seminário Encore (1972-1973/2010), essa materialidade do significante enquanto causa de gozo se condensará no conceito de substância gozante, na medida em que "um corpo, isso se goza. E mais ainda, caímos imediatamente nisso, que ele só se goza por 'corporizá-lo' de modo significante" (Lacan, 1972-1973/2010, p. 79).

Nessa evolução do conceito de gozo, mantém-se, mais uma vez, a indistinção sexual da direção do tratamento. É digno de nota que, mesmo que o Seminário Encore seja aquele conhecido pela novidade do gozo feminino, e embora Lacan ensaie diversas propriedades sexuadas no que tange a aspectos mais imaginários ou culturais do encontro sexual, culminando com a assertiva de que o amor seria um rastro do que seria a relação sexual se ela existisse, o autor não estipula ou recomenda nenhum destino diferenciado para o final de análise conforme se está alinhado ao lado todo ou não-todo fálico.

No intervalo entre esses seminários, encontramos a formalização dos quatro discursos, no Seminário 17 (1969-1970/1992), e a articulação entre a histérica e a mulher e a amplidão de seu gozo. Entretanto, no matema dos discursos o "não cessa de não se escrever" do Outro gozo ainda não se encontra formalizado. Tal novidade será apresentada na tábua da sexuação, cuja escrita formal em dois patamares será apresentada no Seminário Encore (1972-1973/2010).

Mas já no Seminário 18 (1971/2009), Lacan dá os primeiros passos nessa direção ao ensaiar as primeiras escritas das fórmulas quânticas da sexuação, retornando a Aristóteles a partir de Freud, baseando-se na lógica de Frege e inspirado por Pierce, não sem dever seu êxito ao historiador da filosofia antiga Jacques Brunschwig, como lembra Le Gaufey (2015). Agora, tratando o campo do gozo por referência à chamada função fálica, afirmando não existir um universal feminino e propondo uma "lei sexual" em substituição à relação sexual que não existe, Lacan procura esclarecer as dissimetrias que homens e mulheres sustentam em relação à castração. Isso significa a possibilidade de formalizar um gozo para além do falo, como ficará explícito através do conceito de não-todo em torno do qual Lacan desenvolverá o Seminário Encore (1972-1973/2010).

Nesse seminário, Lacan afirma que o processo de sexuação se dá através de uma escolha por parte do sujeito, mas é apenas no ano seguinte que tal ideia será trazida à centralidade não só da sexuação, mas do próprio processo analítico. Se, junto a comentadores, abundam inferências sobre a suposta diferenciação sexual no final de análise a partir de Encore, é notável o silenciamento sobre a passagem em que mais claramente Lacan discorre sobre o termo do chamado ato analítico em seu horizonte de singularidade em Os não-tolos erram. Analisemos o trecho em questão:

essas fórmulas ditas quânticas da sexuação poderiam se exprimir de outra forma, e isso talvez permitisse avançar. Eu vou dar a vocês o que disso se implica. Isso poderia se dizer assim: "o ser sexual só se autoriza de si mesmo". É nesse sentido que... que ele tem a escolha. Quero dizer que isso a que a gente se limita , enfim, para classificar como "masculino" ou "feminino" no registro civil... enfim, isso... isso não impede que haja escolha. Isso, certamente todo mundo sabe. "Ele não se autoriza senão por ele mesmo" e eu acrescentaria: "e por alguns outros". [...] será que não teria podido cair a ficha, na minha Escola, de que é isso que equilibra o meu dizer: "que o analista só se autoriza de si mesmo"? Isso não quer dizer, no entanto, que ele decida isso sozinho, como acabei de fazer com que vocês observassem, de fazer com que vocês observassem no que diz respeito ao ser sexuado (Lacan, 1973-1974, p. 187; grifos nossos).

Há aqui no mínimo dois pontos centrais que demonstram frontalmente o argumento segundo o qual não há diferença no horizonte de final de análise no que tange à sexuação compreendida em seu sentido clássico. Em primeiro lugar, conforme discutido por Ambra (2017), a passagem condensa uma verdadeira subversão que Lacan empreende na concepção dual da sexuação, na medida em que emancipa o caráter não-todo da possível captura imaginária que a noção de mulher ainda aportaria às fórmulas. Em outras palavras, a sexuação - que, aliás, é nomeada enquanto tal apenas aqui e a partir dessa modificação - deixa de ser apenas uma crítica à universalidade fálica a partir da apresentação de uma outra lógica e torna-se propriamente um processo singular de autorização. Processo esse que localiza sua contingência não mais na "metade mulheres dos seres falantes", mas na indeterminação que há entre o si mesmo e os chamados "alguns outros". Sexuar-se passa a ser, portanto, a escolha de singularizar-se face a uma determinada constelação de outros, para além do gênero e mesmo dos lados "homem" e "mulher" das tábuas apresentadas em Encore. O exemplo dado por Lacan aqui é bastante elucidativo nesse sentido: "não se esperou que eu escrevesse as fórmulas, as fórmulas quânticas da sexuação, para que houvesse, enfim, uma séria enxurrada de pessoas que a gente taxa... como pode; enfim, que a gente taxa como homossexualidade:nem de um lado, nem do outro" (Lacan, 1973-1974, p. 188; grifos nossos). Assim, para além dos "lados", o que há na sexuação, de acordo com Lacan, é uma escolha para além das restrições clássicas dadas pelo registro civil. Motivo pelo qual "homem" e "mulher" são citados exclusivamente na qualidade de limitações, sendo o paradigma para se pensar a sexuação a autorização por si e alguns outros localizada na modalidade de formação de grupos no campo da homossexualidade. Tal posição compromete a argumentação segundo a qual haveria, portanto, dois regimes distintos de final de análise, pois o sexo deixa de ser tanto um atributo predicativo quanto uma posição de gozo coletivizável, passando a ser um devir singular em sua tensão com um grupo aberto de alguns outros.

Em segundo lugar, essa formulação retoma e remete-se diretamente àquela enunciada na "Proposição", na qual estava em jogo a definição do que seria um(a) analista, o que, para Lacan, é justamente a definição do que se encontra no final de uma análise. Se, em 1967, contra a verticalidade que a análise didática impunha ao dispositivo clínico, o psicanalista propusera que o ato analítico não comporta garantias senão aquela da queda do objeto a, radicalmente único e singular, alguns anos mais tarde seu dizer é equilibrado com a proposta da categoria alguns outros. Tal ideia não apenas resgata a dimensão imaginária - marca da proposta de equivalência borromeana entre os três registros - como introduz a importância do grupo e da coletividade, dando maior consistência ao dispositivo do passe, por exemplo. É nesse contexto que Lacan chega a afirmar, na própria discussão sobre o que é um analista, que "um grupo é real" (1973-1974, p. 190), na esteira da proposta da incontornabilidade da identificação do ser ao grupo (Lacan, 1974-1975).

Por fim, ainda que a novidade teórica desse momento seja a proposição de uma noção de identificação ao grupo distinta daquela da massa freudiana (Ambra, 2017, p. 114), é preciso notar que ela se articula intimamente com o núcleo duro das diferentes versões de fim de análise já apresentadas por Lacan ao longo de seu ensino, a saber, o encontro do sujeito com sua singularidade, para além de qualquer traço sexuado. Seja pensado pela via negativa da travessia da fantasia, queda do objeto, destituição subjetiva, des-ser; seja por sua versão propositiva como falar ao mesmo tempo de si e para alguém (Lacan, 1953/1998, p. 374), a identificação, a parceria e o "ter traquejo" com seu sintoma (Lacan, 1976-1977, p. 12)2, o que notamos é o caráter inalterável de um horizonte de fim de análise no qual o sujeito atravesse as capturas imaginárias e as fixações simbólicas rumo a sua singularidade, sem com isso excluir a dimensão do outro. Singularidade e alteridade essas marcadas menos por um fim de análise diferente para homens e mulheres e muito mais pelo impossível dessa complementariedade e pela contingência do sexual enquanto um fazer.

 

 

Referências

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Artigo recebido em: 05/07/2018
Aprovado para publicação em: 27/07/2020

Endereço para correspondência
Luiz Fellipe de Almeida Santos
E-mail: luizfellipe@ymail.com
Pedro Eduardo Silva Ambra
E-mail: pedro.ambra@gmail.com

 

 

*Psicanalista. Mestrando no programa de pós-graduação em Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP. Bolsista do CNPq.
**Psicanalista. Doutor pela USP e pela Université Paris VII. Professor da PUC-SP e pesquisador do Latesfip-USP.
1Conferência de 24 de novembro de 1975, Yale University.
2No original, savoir y faire avec son symptôme. Saber-fazer tem aí uma conotação bastante coloquial, talvez aproximável no português ao "manjar", "ter as manhas", "ter a moral", "manjar dos paranauê".

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