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Tempo psicanalitico

versión impresa ISSN 0101-4838versión On-line ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.54 no.1 Rio de Janeiro ene./jun. 2022

 

ARTIGOS

 

As patologias narcísicas e os estados depressivos na pós-modernidade

 

Narcissistic pathologies and depressive states in post-modernity

 

Les pathologies narcissiques et les états dépressifs dans la postmodernité

 

 

Tania Coelho dos SantosI*; Flavia Lana Garcia de OliveiraII**

IUniversidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - Brasil
IIUniversidade Federal Fluminense - UFF - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Os estados melancoliformes nas diferentes configurações clínicas desafiam-nos a investigar suas relações com as patologias narcísicas na pós-modernidade. Apresentamos um estudo baseado em proposições freudianas em uma tentativa de atualizá-las no contexto da clínica da civilização atual. Sem a crença em um Outro apto a transmitir a operação da castração para negativizar o regime da oralidade pulsional e metaforizá-lo pelo sentido sexual, surge uma posição maciçamente masoquista que goza com a experiência de se sentir excluído e desabonado. Considerando as práticas consumistas que se alastram nas democracias contemporâneas, neste artigo, circunscrevemos que a decepção com o Outro universal que não existe pode deflagrar fenômenos imaginários em sujeitos que rompem com a ordem simbólica ao custo de um autodestruição.

Palavras-chave: Depressão, melancolia, psicanálise, contemporaneidade.


ABSTRACT

Melancholiform states in different clinical configurations challenge us to investigate their relationship with narcissistic pathologies in postmodernity. We present a study based on freudian propositions in an attempt to update them in the clinical context of current civilization. Without the belief in an Other capable of transmitting the operation of castration to negate the instinctual orality regime and metaphorize it through the sexual sense, a massively masochistic position emerges that enjoys with the experience of feeling excluded and discredited. Considering the consumer practices that are widespread in contemporary democracies, the article circumscribes that the disappointment with the universal Other that does not exist can trigger imaginary phenomena in subjects who break with the symbolic order at the cost of self-destruction.

Keywords: Depression, melancholy, psychoanalysis, contemporaneity.


RÉSUMÉ

Les états mélancoliformes dans différents configurations cliniques nous mettent au défi d'étudier leur relation avec les pathologies narcissiques dans la post-modernité. Nous présentons une étude basée sur des propositions freudiennes dans une tentative de les mettre à jour dans le contexte clinique de la civilisation actuelle. Sans la croyance en un Autre capable de transmettre l'opération de castration pour nier le régime d'oralité pulsionnel et le métaphoriser à travers le sens sexuel, émerge une position massivement masochiste qui peut jouir de l'expérience de se sentir exclu et discrédité. Considérant les pratiques consuméristes répandues dans les démocraties contemporaines, l'article circonscrit que la déception face à l'Autre universel inexistant peut déclencher des phénomènes imaginaires chez des sujets qui rompent avec l'ordre symbolique au prix de leur autodestruction.

Mots-clés: Dépression, mélancolie, psychanalyse, contemporanéité.


 

 

Considerações sobre a teoria freudiana da melancolia

Freud (1917[1915]/1996) foi cuidadoso ao distinguir diferentes formas de melancolização que podem comparecer em diferentes estruturas psíquicas. É essa sua direção no início do artigo "Luto e Melancolia" ao afirmar que:

A melancolia, cuja definição varia inclusive na psiquiatria descritiva, assume várias formas clínicas, cujo agrupamento numa única unidade não parece ter sido estabelecido com certeza, sendo que algumas dessas formas sugerem afecções antes somáticas do que patogênicas (Freud, 1917[1915]/1996, p. 249).

Portanto, a melancolia sempre demanda um diagnóstico diferencial e um de seus critérios distintivos é a forma como se desdobra, como veremos mais adiante. Um outro critério é a comparação entre o trabalho de luto normal, que se dá por ocasião da perda de um objeto amoroso, e o da melancolia como uma psicopatologia. Esta também envolve um estado depressivo, mas não se sabe dizer com clareza o que foi que o indivíduo perdeu. O processo de luto implica um trabalho de desligamento mais ou menos lento dos fragmentos de memória associados ao objeto. A natureza do objeto perdido permite um trabalho de separação, liberando o sujeito para amar novamente. As especificidades da perda na melancolia parecem muito mais ligadas a um ideal ou a uma abstração, e não exatamente a um objeto de amor. Nas palavras de Freud:

O paciente não consegue conscientemente perceber o que é que perdeu. Isso, realmente, talvez ocorra dessa forma, mesmo que o paciente esteja cônscio da perda que deu origem à sua melancolia, mas apenas no sentido de que sabe quem ele perdeu, mas não o que perdeu nesse alguém" (Freud, 1917[1915]/1996, p. 277).

O objeto talvez não tenha morrido, mas tenha fundamentalmente sido perdido como objeto de amor. A explicação está na natureza da ligação ao objeto que seria da ordem de uma identificação narcísica, caracterizada por um laço libidinal ambivalente do tipo oral, cuja ruptura desencadeia um retorno da libido (narcísica) para o eu. Uma exacerbada autocrítica e um delírio de inferioridade moral emergem sem que exista pertinente justificativa. Porém, diferentemente de indivíduos que se sentem envergonhados de si mesmos, o melancólico encontra uma satisfação insólita no autodesmascaramento. Uma escuta sensível deste discurso permite depreender que as acusações desferidas ajustam-se perfeitamente a alguém a quem o melancólico ama, amou ou deveria amar. O investimento no objeto, devido a uma real decepção, foi destroçado. O eu identificou-se com o objeto abandonado. Segundo Freud (1917[1915]/1996): "Assim, a sombra do objeto caiu sobre o eu, e este pode, daí por diante, ser julgado por um agente especial, como se fosse um objeto, o objeto abandonado" (p. 281). Para esclarecer a particularidade desse quadro, Freud o compara com as autorrecriminações típicas do luto na neurose obsessiva. Todavia, diferentemente do estado melancólico, neste caso, o estado depressivo, bem como as autoacusações, termina sem ser substituído por um estado de euforia megalomaníaco. Temos aí um bom critério objetivo para distinguir estes dois estados melancoliformes. Se não consideramos os desenvolvimentos ulteriores da teoria freudiana acerca da constituição do aparelho psíquico, recairíamos em muitas obscuridades. Somente em O Ego e Id, Freud (1923/1996) esclareceu a diferença entre identificações narcísicas e edipianas. As mais antigas são narcísicas e resultam de relações em que o objeto de amor e o objeto de identificação são ainda indiferenciadas e, consequentemente, padecem de grande ambivalência pulsional. As identificações secundárias são o efeito dos complexos de Édipo e de castração e se caracterizam, ao contrário, pela cisão entre o objeto de amor e o objeto de identificação.

Desse modo, as perdas pós-edípicas são diferenciadas e podem, até certo ponto, ser dissolvidas pelo trabalho do luto. Frequentemente, a dissolução incompleta deixa como efeito as fixações nos restos do objeto edípico na fantasia, revelando-se por meio de um conflito entre os desejos inconscientes e as exigências da moralidade civilizada. A melancolia é uma patologia narcísica. Resulta do conflito entre o eu e a "sombra do objeto" amado e, subsequentemente, odiado. Essa perigosa cisão no eu pode dar ensejo a perigosas passagens ao ato. Sempre que se referiu a esta psicopatologia, Freud abordou o tema do risco de suicídio. Nos dias de hoje, o diagnóstico psiquiátrico de bipolaridade substituiu a antiga nomenclatura em que a melancolia se abrigava, a psicose maníaco-depressiva. A nova nomenclatura oculta as relações desse estado com a psicose. Podemos perceber, entretanto, que estados melancoliformes nos desafiam a investigar suas relações com as patologias narcísicas, já que estariam elas se multiplicando na pós-modernidade.

Sabe-se que a difícil classificação da melancolia em comparação às demais psicoses levou Freud (1924/1996) a erigir a categoria "neurose narcísica" para designá-la. Ainda que inserida na vizinhança das psicoses, a resposta melancólica é um efeito do conflito entre o eu e o supereu, diferentemente das neuroses transferenciais, que são o resultado da tensão entre o eu e o isso, como também das psicoses clássicas, que resultam de perturbações das relações entre o eu e a realidade externa. O supereu (Outro) é o parceiro da pulsão. O real precisa ser tratado pelo simbólico para que a pulsão alcance o estado civilizado. O discurso de uma dada civilização pode ser mais apto a fornecer ferramentas para civilizar a pulsão ou pode ser mais inábil. A melancolia seria uma psicopatologia particularmente sensível às mudanças civilizatórias, uma vez que revela diretamente a natureza da relação mais típica do sujeito dos dias de hoje ao Outro da civilização? Faz sentido pensar em uma poderosa desedipianização do laço social? Seria a epidemia de depressão na pós-modernidade uma epidemia de neuroses narcísicas? Podemos falar de um tipo de melancolização normal, típica da predominância das identificações narcísicas nos dias de hoje? O propósito deste artigo é apresentar uma investigação aprofundada sobre a metapsicologia da melancolia. As principais teses de Freud sobre a melancolia, muitas vezes, são mencionadas sem uma articulação com as modalidades de apresentação mais típicas da clínica da civilização atual. Os estados melancoliformes são frequentes e requerem uma investigação sobre sua incidência nas neuroses contemporâneas e nos quadros de psicose mais ordinários. Buscamos desenvolver novas contribuições para o diagnóstico psicanalítico na pós-modernidade.

Inserir o embate entre eu e supereu no núcleo mais duro do funcionamento melancólico requer articulá-lo, estruturalmente, com a resposta à autoridade simbólica da função paterna. Na cultura pós-moderna, a destituição de operadores simbólicos, tais como o Nome-do-Pai e o falo, não contribui para engendrar sujeitos mais aptos a barrar a pulsão de morte. A inscrição da castração é mais difícil para indivíduos pós-modernos que, além da acentuada inclinação à depressão, muitas vezes precisam apelar a discursos identitários homogeneizantes para conter o excesso pulsional. (Coelho dos Santos, 2019; Oliveira & Coelho dos Santos, 2017; Coelho dos Santos, 2016). Em Mal-estar na civilização, Freud (1930/2010) observa que: "A relação entre Supereu e Eu é o retorno, deformado pelo desejo, de relações reais entre o Eu ainda não dividido e um objeto externo" (p. 100). A agressividade do supereu é remetida à hostilidade vingativa da criança "contra a autoridade que lhe impede as primeiras e também mais significativas satisfações, quaisquer que sejam as privações instintuais requeridas" (Freud, 1930/2010, p. 100). Em seguida, Freud indica que a severidade do supereu e suas tensões com o eu dependerão da agressividade de cada um contra essa autoridade, mais do que da agressividade da própria autoridade com o indivíduo. Freud mostra que "A situação se inverte, como é frequente suceder. 'Se eu fosse o pai e você o filho, eu trataria você mal'." (p. 27). A identificação com a autoridade paterna sempre implicará uma "degradação" desta, uma vez que essa operação requer a renúncia à figura paterna infantil como uma "Solícita Providência", que "velará por sua vida e compensará numa outra existência as eventuais frustrações desta" (p. 27).

Em uma neurose narcísica, verificamos um impasse nesse processo que impele o Eu a renunciar à superestimação do poder dos desejos, à "onipotência dos pensamentos" e à crença em grandiosas premissas (Freud, 1914/2010) – traços tão caros à personalidade pós-moderna. Na orientação lacaniana, esse circuito é valorizado dentro da cadeia das trocas simbólicas. Para Lacan (1955-1956/2008), o complexo de Édipo é uma conquista simbólica que submete o imaginário e suas desregulações à ordem simbólica:

Se o complexo de Édipo não é a introdução do significante, peço que dele me seja dada uma concepção qualquer. Seu grau de elaboração não é tão essencial à normalização sexual senão porque introduz o funcionamento do significante como tal na conquista do dito homem ou mulher (p. 221).

A intervenção paterna é definida como "o vetor de uma encarnação da Lei no desejo" (Lacan, 1969/2003, p. 369). Mais do que um ser intocado e com poderes sobrenaturais, o pai é aquele que transmite um para além do imaginário, dando o testemunho de sua própria condição de ser falante ao incidir de sua posição sexuada enquanto homem. Oferece, assim, uma lição acerca do gozo como objeto causa do desejo ao referir seu desejo à mulher enquanto objeto a de sua fantasia (Lacan, 1960/1998a). O supereu contra o qual o eu do melancólico se debate não é um parceiro libidinal desse tipo. É preciso que um sujeito possa esvaziar o imaginário do Outro Providência para poder concebê-lo como o motor de uma consistência simbólica que faz as relações humanas se estabilizarem. Esse é um ponto de virada que exige o trabalho de luto da posição infantil.

 

As patologias narcísicas na pós-modernidade

A abordagem da melancolia como um dos possíveis modelos explicativos dos estados depressivos da subjetividade contemporânea não é recente no meio psicanalítico. Contudo, essa boa adesão não significa que o tema já tenha sido esgotado. Muitos indivíduos experimentam um sentimento de decepção, de desilusão e de ressentimento frente às promessas de felicidade em nossa sociedade de consumo que não se realizam. Os discursos individualistas, igualitários, liberais e progressistas desenham um horizonte de oportunidades de enriquecimento, realização pessoal, reconhecimento social que só se efetuam para alguns. A decepção leva alguns indivíduos a reinvestirem a libido no eu. Este eu engrandecido narcisicamente não é a expressão de um individualismo triunfante. Ao contrário, trata-se de uma defesa paradoxal que se manifesta por meio de autoflagelações para proteger-se de um vazio lancinante e de uma angústia insuportável.

O risco da melancolização atravessa as diferentes épocas, sempre à espreita, como se a humanidade sempre lutasse contra os riscos da compulsão ao pior, talvez porque o desapontamento faça parte da condição humana, assim como a inclinação a valorizar mais a fantasia do que a realidade. As tentativas de apreender esse fenômeno datam da concepção humoral da Grécia Antiga de base hipocrática, que concebia a melancolia – Melankholia: Kholê - bílis; Mêlas - negra – como uma moléstia ligada ao excesso de bílis negra no corpo. Na Idade Média, sob a forma da abordagem da acedia, a tradição cristã e a filosofia medieval fazem da melancolia objeto de reflexão moral, associando-a a uma tristeza proveniente da confusão do espírito, um desgosto ou amargura imoderada da alma (Prigent, 2005). Tal inapetência para a vida seria consequência da tomada do coração humano pelo demônio, no contexto da contemplação de Deus pelos monges. No Renascimento, observa-se o resgate de uma vertente inaugurada por Aristóteles, em Problema XXX, que aproximava o melancólico ao "homem de gênio". Interessante observar que a vocação renascentista reside em um humanismo que preconiza a ascensão a níveis mais elevados do espírito por meio da especulação filosófica. O temperamento melancólico é prestigiado como fonte da criação (Prigent, 2005).

Entretanto, ao longo dos séculos XVII e XVIII, o advento do projeto iluminista se ocupa de desmistificar os prestígios atribuídos à posição melancólica. Surge uma profusão de publicações, tais como: Livro da melancolia, de Andrés Velásquez, de 1585, os tratados de Luis Mercado, em 1604 e de Alonso de Santa Cruz, em 1613, assim como o Tratado da melancolia, de Timothy Bright, de 1585. Na França, André Du Laurens, médico de Henri IV, publica, em 1595, um Segundo discurso, no qual são tratadas as doenças melancólicas e as formas de tratamento, além de Jacques Ferrand, o qual, em 1623, publica em Paris um Tratado da essência e cura do amor ou Da melancolia erótica, além o médico Timoty Bright, em seu Tratado da melancolia, de 1601. Em comum, todos evocam a melancolia como uma patologia inquietante, uma alienação da imaginação que arruína gravemente os espíritos (Prigent, 2005). Sob o crivo do método científico, o reconhecimento da melancolia como uma patologia não ratifica o imaginário vigente até então, de que ela seria ponte para o encontro com uma interioridade superior. Desde então, verificou-se uma bifurcação: a corrente psiquiátrica clássica, empenhada em circunscrever a melancolia como uma psicopatologia com regularidades em sua evolução; e o Romantismo, que confere legitimidade ao indivíduo sensível, à margem da sociedade, mais afeito aos recursos imaginativos que à razão. Seguindo os ecos da Revolução Francesa e denunciando um ideal de liberdade, igualdade e fraternidade que se revela inacessível, a melancolia acaba por traduzir a exasperação dessa expectativa (Prigent, 2005).

Desse mapa tão abrangente, vale extrair os melhores elementos para uma clínica da civilização (Miller, 2004). Estamos de acordo com Lipovetsky (2017), pois, ainda que a decepção seja inerente às relações humanas, é necessário destacar como a civilização moderna, individualista e democrática lhe deu um peso excepcional, com repercussão psicológica e social sem precedentes históricos. O direito à busca da felicidade está inscrito na Declaração de Independência americana, de 1776. Os princípios da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, também se direcionam para a "felicidade de todos". A superexigência de viver bem através de práticas consumistas alastra-se nas democracias contemporâneas. Nada mais distante das premissas do liberalismo político que pautaram o próprio nascimento dos Estados democráticos, que valorizam a felicidade, sobretudo, como uma questão individual, muito mais do que política.

É o que expressa muito bem a máxima de Benjamin Constant: "Que o Estado se limite a ser justo; nós encarregar-nos-emos de ser felizes" (como citado em Lipovetsky, 2017, p. 27). A modernidade precipitou o aumento da insatisfação das classes médias, que ficam atormentadas e passam a amargar uma realidade aquém dos ideais democráticos. Em Da Democracia da América, Tocqueville (2000) investiga os efeitos da igualdade de condições nos hábitos, ideias e costumes da sociedade civil. Destaca, como efeito psicológico importante, a transformação da ambição em um sentimento universal e contínuo. O esvaziamento das prerrogativas de nascimento estimulou o desejo de se elevar, de sair de sua condição, de adquirir constantemente novos bens materiais, reputação e poder. Paradoxalmente, a insatisfação e a frustração crescem enquanto as desigualdades retrocedem e se difundem as riquezas materiais. Ao mesmo tempo, os dispositivos da socialização religiosa que amorteciam com suas narrativas universais a ferida narcísica da decepção são cada vez mais relativizados. A civilização do irrestrito bem-estar coletivo, ao estimular o apetite desenfreado por novas aquisições, suscita expectativas irrealizáveis que geram desassossego e exaustão nos sujeitos, como se não tivessem sido convidados para a festa consumista prometida a todos (Lipovetsky, 2017).

Para que uma instância unificada como o eu possa reagir à perda e à decepção sem deformar-se, é preciso ser capaz de fazer o luto do objeto perdido. Essa capacidade de simbolização da perda só é possível quando o eu narcísico é dividido pelo encontro com a diferença sexual. Em consequência do complexo de castração, o objeto de amor edipiano poderá ser recalcado, dissolvendo-se também o complexo de Édipo. Nesse trabalho lento e gradual, o Eu é confrontado com uma tarefa ética de romper sua ligação com o objeto edípico. O fracasso da sexualidade infantil deve conduzir à eleição de um ideal do eu no lugar da aspiração à satisfação narcísica absoluta. O desligamento dos traços inconscientes da apresentação da coisa (Dingvortellung) inconsciente do objeto permite uma nova relação ao ideal, separada da voracidade pulsional característica da identificação narcísica com base no laço oral. Já as neuroses narcísicas não são as neuroses de transferência, na medida em que não podem contar com o recalque para se defenderem da identificação ao objeto incestuoso. O assédio das pulsões sem a barreira do recalque desestabiliza o eu unificado no narcisismo, obrigando-o a um sobreinvestimento narcísico defensivo. Para rastrearmos como o fracasso dessa separação se propaga produzindo estados melancoliformes na sociedade, trabalharemos, a seguir, mais algumas proposições genuinamente freudianas para definir a melancolia.

 

A regressão à identificação narcísica ao objeto e seus efeitos sobre a estrutura do eu

Além de inserir a afecção melancólica no quadro das neuroses narcísicas, Freud (1916-1917/2010) esforça-se por esclarecer as perturbações e disrupções da estrutura egoica a partir da teoria da libido. Esse quadro é de difícil acesso à investigação clínica, pois trata-se de sujeitos isolados em uma rigidez psíquica acentuada: "Nas neuroses narcísicas, essa resistência é intransponível; podemos, no máximo, lançar um olhar curioso sobre o muro, a fim de espiar o que se passa do outro lado" (p. 560). Freud (1917[1915]/1996) mostra que a chave das violentas autoacusações melancólicas é um processo identificatório de base narcísica. O investimento objetal leva ao encontro com um obstáculo à plena satisfação. O melancólico não suporta esse desapontamento. Funda-se um mecanismo que substitui a ligação ao objeto pela regressão ao narcisismo primário, ao invés do recalque da exigência de satisfação incompatível com a realidade. A explicação para essa regressão da relação a um objeto à identificação, ainda de acordo com Freud (1917[1915]/1996), estaria na insuficiência da constituição do objeto como algo separado do eu. A sombra do objeto cai sobre o eu, porque este nunca chegou a se diferenciar efetivamente dele. O estatuto do objeto durante o narcisismo comporta uma obscuridade essencial. O eu é o outro e isto o expõe às reversibilidades pulsionais, como a inversão no contrário e o retorno sobre o próprio eu. Trata-se de uma relação que não admite separação, em uma ambivalente viscosidade libidinal. Segundo Freud (1917[1915]/1996): "apesar do conflito com a pessoa amada, não é preciso renunciar à relação amorosa".

Ao abordar a melancolia, Freud (1917[1915]/1996, p. 255) assinala que "(...) uma forte fixação no objeto amado deve ter estado presente". Seu argumento caminha para o diagnóstico de uma importante desregulação na pulsão oral. A regressão ao narcisismo objetal é pautada em uma ânsia voraz de sugar o objeto. Nas palavras de Freud (1917[1915]/1996, p. 255): "O ego deseja incorporar a si esse objeto e, em conformidade com a fase oral ou canibalista do desenvolvimento libidinal em que se acha, deseja fazer isso devorando-o". Ao retroceder ao narcisismo e abrigar-se na identificação primária à imagem de "sua majestade o bebê" (Freud, 1914/1996), o melancólico visa a uma compensação eterna à perda de uma suposta plenitude com o objeto. O melancólico desmorona ao ver que o Outro não é suficiente. O refúgio na identificação narcísica evoca um congelamento do ódio contra o objeto. A experiência de fazê-lo sofrer domina suas tendências sádicas. Portanto, ao invés de se desprender do objeto perdido, acaba por devorá-lo e a ser devorado por ele.

Em suma, na melancolia, o retorno da libido ao eu não o engrandece verdadeiramente, nem o torna mais digno de ser amado pelo outro. O cuidado de si fica comprometido. A perda do objeto deixa uma ferida aberta por onde escorre uma hemorragia psíquica que não cicatriza. Sem os contrainvestimentos que o processo de recalque proporciona, a morbidez mental da pulsão de morte aspira o eu e pode levá-lo a se autodestruir. Enquanto um neurótico obsessivo pode construir por meio de seus sintomas (atos compulsivos, anulação retroativa, rituais e superstições) medidas de proteção que sirvam para conter a exigência pulsional parricida, o melancólico é devorado pelo seu próprio ódio ao objeto decepcionante.

Além disso, Freud (1917[1915]/1996) compara o desejo de recuperar algo perdido no desencadeamento melancólico e no processo normal de luto. A reclusão imposta pelo luto leva à renúncia à devoção ao objeto. O teste de realidade evidencia que o objeto não está mais ali, induzindo à lenta e gradual desconexão e substituição do investimento objetal. Na melancolia, como já antecipamos, a perda de satisfação com o objeto deflagra um verdadeiro processo de hemorragia psíquica (Freud, 1895/1996) em lugar de despertar o complexo de castração. O tipo narcísico de escolha de objeto envolve sempre uma forte idealização do objeto, que nada mais é do que sua própria imagem no espelho. Somente a descoberta da diferença sexual permite que a dimensão da perda seja introduzida no eu ideal, dando lugar à simbolização da castração. A crueldade do melancólico leva-o a denegrir a si próprio e ao objeto especular por não estar à altura do que foi desproporcionalmente idealizado no eu ideal. Incapaz de simbolizar a incompletude seja nele mesmo, seja no objeto que o decepcionou, por meio da inscrição da diferença sexual, o melancólico é levado a produzir julgamentos incompatíveis com os dados de realidade. A avaliação realista da condição humana depende de uma representação psíquica da alteridade do objeto, que não é apenas um complemento para a satisfação pulsional. Para que essa representação se produza, é preciso inscrever a falta de completude pulsional por meio das consequências psíquicas da diferença anatômica entre os sexos e da assimetria geracional (Coelho dos Santos, 2016).

 

Voracidade pulsional, oralidade, masoquismo e vitimização

Em seu Seminário 14: A lógica do fantasma, Lacan (1966-1967/2004) recorre ao livro de Edmund Bergler, chamado A neurose de base (The basic neurosis), para aprofundar o tema da oralidade, aproximando-a da resposta masoquista. Lacan segue a ideia de Bergler de que o tempo pré-edipiano teria como corolário a emergência do "desejo masoquista" de ser rejeitado pela mãe. Tal tendência seria sobreposta futuramente por uma posição defensiva marcada pela interpretação de ter sofrido uma injustiça. Lacan acentua que "na posição oral o sujeito [...] quer ser rejeitado; porque não é verdade dizer que a pulsão oral consiste em querer obter, nomeadamente, o seio" (Lacan, 1966-1967/2004, p. 356). A agressividade, a necessidade de morder e o temor de ser devorado são reinantes. A posição masoquista possui, neste plano, um valor paradoxalmente separador: "ser rejeitado seria, neste registro, propriamente dizendo, salvar a si próprio do engolimento do parceiro maternal" (Lacan, 1966-1967/2004, p. 358). Sem a crença em um Outro apto a transmitir a operação da castração para, retrospectivamente, negativizar o regime da oralidade e metaforizá-lo pelo sentido sexual, surge uma posição maciçamente masoquista e que goza na experiência de se sentir excluído e desabonado.

O masoquismo vincula-se à vitimização e encerra a reivindicação frustrada de ser indenizado, de receber uma reparação pelo dano causado pelo objeto. Lacan (1966-1967/2004) destaca seu intuito de "se defender do Outro". Nos referimos mais acima a essa espécie de defesa paradoxal que, para se proteger, maltrata o eu. A precariedade da diferenciação eu-outro na relação ao supereu arcaico materno é responsável por este curto-circuito. Para não ser devorado pelo Outro materno onipotente, o sujeito transforma-se no consumidor insatisfeito e devorador do Outro. A perda é interpretada como injustiça. A falta da satisfação pulsional absoluta deveria dar lugar à emergência da falta como causa do desejo. No entanto, se estabelece um entrave estrutural na apropriação da genuína função do falo, como significante do desejo e relativo à libra de carne a pagar para o alcance das satisfações no laço com o Outro. Não podemos inocentar a sociedade de consumo de fomentar esse entrave. Porém, não podemos responsabilizá-la completamente por ele. A transmissão da castração depende muito mais essencialmente da transmissão familiar. A falha na simbolização da falta deixa como herança a identificação oral-canibalesca.

O fundamento das trocas simbólicas nunca será transparente por inteiro. Existe um ponto real de opacidade, uma perda de gozo que a civilização tenta contornar e relançar no circuito como uma mais-de-gozar. Alguma coisa se perde e algo pode ser recuperado na escala invertida do desejo (Lacan, 1966/1998b). Tradicionalmente, as coordenadas simbólicas derivadas das estruturas elementares do parentesco, a diferença geracional e a diferença sexual podiam, até certo ponto, regular as trocas pulsionais. Para muito indivíduos, elas foram desconstruídas depois da revolução cultural de 1968 (Coelho dos Santos, 2019). Para outros, essas coordenadas permanecem potentes o bastante para inseri-los no laço social. As rápidas transformações econômicas e as imensas aquisições tecnológicas afetaram as relações dos sujeitos com as figuras de autoridade e as posições hierárquicas consolidadas pela tradição. A abundância econômica, as elevadas expectativas de satisfação, o declínio da luta pela sobrevivência e a inclinação à feminização induziram a uma reivindicação generalizada de ser tratado como exceção que acompanha uma posição vitimizada. Muitas vezes, a função paterna e seus representantes não merecem crédito. Para muitas famílias, essa desconstrução da autoridade simbólica exigirá um cuidado redobrado na educação dos filhos. Freud descreveu esse tipo de caráter, o daqueles que reivindicam ser tratados como exceções. Em Alguns tipos de caráter encontrados na prática psicanalítica, de 1916, Freud esclarece que essa reivindicação é exacerbada pela convicção de que uma providência especial zelava pelo indivíduo e o protegeria de sacrifícios dolorosos. A conexão entre a reivindicação de ser tratado como exceção e o penisneid no âmago da sexualidade feminina permitem aproximar este tipo de caráter e a exacerbação do narcisismo em algumas mulheres. Freud associa tal ressentimento à vivência de uma injusta desvantagem em relações muito primárias. A exigência infindável de reparação orienta o destino desses sujeitos.

 

A saída maníaca como contrainvestimento à queda melancólica e suas repercussões na sociedade de consumo

Para Freud (1917[1915]/1996), em alguns casos, a única saída para o torpor melancólico ocorre por meio da fuga maníaca. Essa abordagem prolonga a tradição da psicopatologia psiquiátrica clássica. Em 1820, Esquirol afasta a melancolia da referência à bílis negra, definindo-a como uma "monomania" caracterizada por um "delírio parcial", no qual predomina uma paixão triste e opressiva. A "lipemania", em referência ao grego lupeo – triste, atormentado –, seria distinta da mania, que é considerada por ele como a monomania da paixão excitante (Prigent, 2005). Em 1854, Baillarger defende a existência de uma "loucura em dupla forma", em que mania e melancolia configuram dois períodos de uma mesma alienação mental. Também no século XIX, Falret enfatiza uma "loucura circular" que intercala três estados – mania, melancolia e intervalo lúcido (Bercherie, 1989).

Muitos psiquiatras clássicos dedicaram-se a descrever o funcionamento delirante com tonalidades de culpa, ruína, abandono e ideações hipocondríacas como algo recorrentemente verificável nesses quadros. Jules Cotard circunscreve a destruição ou a não existência dos órgãos do corpo como um dos principais componentes da que ficou conhecida como "síndrome de Cotard", que reúne em sua sintomatologia a angústia melancólica, as ideias de ruína e danação, bem como o delírio de destruição das coisas do mundo. A falha na "visão mental" levaria à inibição intelectual, o que surpreendentemente produz um delírio de enormidade, levando a uma percepção gigantesca de si. Outro psiquiatra clássico, Séglas, especifica um distúrbio de percepção pessoal que leva à dificuldade de assimilação de objetos e pessoas outrora familiares. Com isso, prevalece um certo automatismo de pensamento que sobreviria a essa fragilidade na associação de ideias (Douvilles, 2007). A categoria kraepeliana da psicose maníaco-depressiva, de 1896, fornece alguns elementos que ordenam a perspectiva freudiana da melancolia, como o delírio de referência, ilusões da memória, que configuram um pensamento persecutório, profético, inclinado às reformas do mundo, além da querulência (Kraepelin, 2012).

Evidentemente, em todas as descrições acima, não saímos do espectro da melancolia – e de suas possíveis oscilações com a mania – como psicose extraordinária, tributária da foraclusão do Nome-do-Pai e de seus fenômenos elementares no corpo e no pensamento. O que encontramos na base estrutural da elaboração desses psiquiatras clássicos foi posteriormente revelada a partir da hipótese psicanalítica das modalidades de defesa frente à castração (Freud, 1940/1996). Nosso esforço será direcionado, agora, a uma conexão mais fecunda com as manifestações pós-modernas das neuroses narcísicas. Já vimos que o cenário conflitivo mais elementar desse tipo clínico é uma atividade crítica que atua ferozmente em tensão a um eu alterado por uma maciça identificação com o objeto. Sob o discurso melancólico, subjaz um forte ressentimento, uma severa revolta marcada pela interpretação de que o objeto protagonizou um ato de injustiça. O objeto perdido não tem credibilidade para transmitir suas insígnias ao nível do Ideal do eu.

O que esse texto nos ensina sobre esse agente crítico que atua sadicamente sobre um eu tão objetivado, desprovido de um capital libidinal para assegurar sua autopreservação e estima de si? Sabemos que este aspecto é melhor desdobrado em O ego e o id, quando Freud (1923/1996), ao explorar o tema das relações dependentes do eu, aponta a importância do supereu como uma das primeiras identificações aos objetos abandonados pelo id. A apresentação mais arcaica do supereu, pré-edipiana, baseia-se na identificação à instância parental se a diferença sexual se revela como "cultura pura de pulsão de morte" (p. 66). Tal elemento evidencia que, sem uma nova versão da autocrítica mais humanizada pelos complexos de Édipo e de castração, os quais favorecem o tratamento dos imperativos pulsionais pela consideração à sucessão geracional e à diferença sexual, as exigências da pulsão podem consumir o indivíduo, deixando-o à mercê de compulsões e autodestruições. O supereu torna-se parceiro da pulsão de morte, dificultando o ingresso na cultura. Sem a humanização do supereu arcaico por meio das identificações edípicas, os imperativos superegoicos permanecem vorazes como a pulsão oral ou sádicos como as pulsões anais. O desgosto melancólico denota a severidade desse supereu arcaico, que não tolera menos do que tudo. Como o Outro não lhe proporciona tudo, o melancólico identifica-se a um dejeto.

Sem a mediação simbólica do falo, a perda desse primeiro objeto absoluto não pode se subjetivar como causa do desejo (Lacan, 1956-1957/1995; Lacan, 1962-1963/2005). Em lugar da falta causa do desejo, a superação da perda melancólica do objeto (Freud, 1917[1915]/1996), se dá através da mania. Segundo Freud, "[...] o conteúdo da mania em nada difere do da melancolia, [...] ambas as desordens lutam com o mesmo 'complexo', mas que provavelmente, na melancolia, o ego sucumbe ao complexo, ao passo que, na mania domina-o ou o põe de lado" (p. 259). Seus estados observáveis são a alegria, o triunfo ou o júbilo. Do ponto de vista econômico, a mania envolve a liberação do acúmulo de investimento retido no eu pelo forte sentimento de opressão. Com a abolição de toda a autocrítica, há uma ausência surpreendente das inibições no âmbito das ações que realizam as exigências pulsionais. No entanto, parece que o indivíduo não deixa de permanecer "vorazmente faminto", "agido" por um excesso pulsional que não conhece interdições. Parece continuar servindo a um funcionamento muito arcaico do psiquismo e a um modo de relação com o objeto bastante desprendido das coordenadas civilizatórias.

No parágrafo final de Luto e melancolia, Freud tentar alcançar maior precisão à enigmática saída maníaca:

O acúmulo de catexia que, de início, fica vinculado e, terminado o trabalho da melancolia, se torna livre, fazendo com que a mania seja possível, deve ser ligado à regressão da libido ao narcisismo. O conflito dentro do ego, que a melancolia substitui pela luta pelo objeto, deve atuar como uma ferida dolorosa que exige uma anticatexias extraordinariamente elevada (Freud, 1917[1915]/1996, p. 263).

Podemos inferir, de acordo com esse fio argumentativo, que a mania seria um novo tipo de contrainvestimento? Dito de outro modo, uma nova saída para a ferida narcísica que melancoliza o indivíduo prisioneiro de uma ambivalência permite apenas a rotulação do Outro como inteiramente bom ou como inteiramente mau. É um estado psicológico que impõe uma segregação obrigatória de tudo e de todos, sem dialética, sem moderação. Se tomarmos essa hipótese como procedente, a solução maníaca pode explicar as compensações narcísicas tipicamente pós-modernas, como as compulsões alimentares, as toxicomanias e as drogadicções? Mais ainda, nos discursos identitários temos uma tentativa de dominação imaginária do eu do excesso pulsional com alguma afinidade desse tipo?

No artigo metapsicológico "O Inconsciente", Freud (1915/1996) revisita o tema das neuroses narcísicas, dando atenção especial à tentativa de fuga do eu da frustração no nível do objeto tão presente nesta afecção. Freud sublinha que "[...] essa fuga do Eu, realiza-se de maneira bem mais profunda e radical nas neuroses narcísicas" (Freud, 1915/1996, p. 149). Ao invés da busca por um novo objeto, surgem "sinais de um sobreinvestimento do próprio eu" (Freud, 1915/1996, p. 140). No caso das manias, esse sobreinvestimento é esclarecido em um texto posterior, Psicologia das massas e análise do Eu, quando a fase depressiva da melancolia é traduzida por Freud (1921/1996) como a vitória do Ideal do eu (Supereu) sobre o eu, enquanto que o giro maníaco consiste no fato de que o eu pode se experimentar coincidindo com essa instância. Ou seja, o eu se convence de ser seu próprio Ideal e de usufruir de plena autonomia. Temos aqui a busca por uma autossuficiência que alivie o sujeito do imaginário melancólico.

 

A superidentificação nas neuroses contemporâneas e nas psicoses ordinárias

Mais adiante, na década de 1950, os psiquiatras alemães Hubertus Tellenbach e Alfred Kraus examinaram fenômenos rígidos de transitivismo mental, observando, nesse perfil clínico, a hipernomia, a superidentificação e o typus melancolicus. Kraus (1998) distingue a sobreidentificação pela hipernomia e pela intolerância à ambiguidade. A hipernomia torna o sujeito "normopata", constituindo um typus melancolicus escrupuloso, consciente de seu dever e excessivamente adequado às normas. Encontra-se fixado em identificações maciças, engessadas e aderidas a valores autoritários que designam seu lugar profissional, social e/ou conjugal, dispensando dialetizações. Em uma sociedade organizada segundo os princípios tradicionais, esta manifestação psicopatológica se dava por meio de uma forte relação com o dever, em prol de minimizar as contradições e da manutenção da solidez da identidade de um papel. O indivíduo apresenta atrofia dos sentimentos de confiança em relação ao mundo. Busca tornar sua conduta purificadora de qualquer culpa, não concebendo a própria subjetividade como elaboração de si.

Segundo Maleval (2019), essa psicopatologia merece ser atualizada conforme as especificidades dos novos tempos, nos quais os ideais não constrangem o gozo e a discursividade desconstrutivista crescente nos meios de comunicação, que exalta a satisfação pulsional dispensada de regulações. Miller (1999) já havia formulado que a democratização social diversifica as normas e o Outro em nossa época é pluralizado. O typus melancolicus, de acordo com Miller, permite-nos destacar um tipo de ideal, que não se refere à função simbólica do Ideal do eu, mas apenas a uma norma social. O rebaixamento ao estatuto de um supersocial faz parte da nova configuração do imaginário nas sociedades democráticas, igualitárias e de consumo.

Portanto, o típico rigor moral do typus melancholicus faz parte das novas suplências da psicose ordinária – psicoses não desencadeadas – e é uma das possibilidades oferecidas ao sujeito para remediar a foraclusão inicial (Marret-Maleval, 2001). A sociedade de consumo, sob a hegemonia do discurso politicamente correto, oferece narrativas hiperigualitárias que podem levar à sobreidentificação, na medida em que produzem um tipo de inflacionamento do eu que o cristaliza em uma identificação imaginária autodefinidora. A hipernomia culmina na dependência extrema a uma definição de si marcada pela certeza psicótica, não muito distante da euforia maníaca, que serve de anteparo ao entorpecimento melancólico.

A sobreidentificação a traços específicos de uma norma social torna-se uma suplência possível à fragilidade da referência fálica para conter o transbordamento do gozo. Maleval (2003) destaca que o artista que James Joyce recorreu a uma sobreidentificação como "remendo do Eu". Lacan (1976, como citado em Maleval, 2003, p. 14) mostra como a escrita de Joyce impede um deslizamento infinito do imaginário. A representação de si mesmo é sustentada pela sua escrita, e não pelo corpo. Tendo isso em vista, Maleval (2003) adota como método clínico em casos de difícil classificação diagnóstica a investigação de signos discretos da psicose ordinária a partir dos transtornos do Real (os índices da não-extração do objeto a), do Simbólico (a falha discreta do ponto de basta) e do Imaginário (os problemas de identidade e a prevalência das identificações imaginárias). A suplência ancora-se em uma função de limitação do gozo que não equivale à castração, pois suprir não significa substituir (Maleval, 2003). Seriam as soluções identitárias uma suplência à rejeição da função paterna que foi desmoralizada e desmentida (Coelho dos Santos, 2016), servindo-se para isso de um sobreinvestimento do Eu?

Ainda que diferentemente das psicoses ordinárias, muitas neuroses contemporâneas também são marcadas pelo que denominamos anteriormente como estados melancoliformes (Oliveira & Coelho dos Santos, 2017). Desde o início deste estudo, procuramos estudá-las à luz da comparação com as neuroses narcísicas. Esses sujeitos estão frequentemente submetidos às narrativas desconstrucionistas, o que aumenta sua vulnerabilidade à captura por imagens especulares. Afinal, a função paterna pode ser um poderoso vetor de humanização do discurso universal e anônimo. As exigências abstratas da lei podem encontrar, na transmissão de um desejo particular, uma pai-versão amenizadora (Miller, 2014). O ideário de liberdade absoluta e o esfacelamento dos operadores da ordem simbólica respaldada pelo Nome-do-Pai abrem o caminho da servidão imaginária a algum significante-mestre para estancar o mal-estar, significante este que pode ser tomado de empréstimo das modas discursivas da ocasião. O afrouxamento da lógica fálica gera esse estado de vulnerabilidade psíquica. As insígnias identitárias são bem menos promissoras que uma identificação que faça advir o sujeito, pois tornam os indivíduos dependentes de uma narrativa que os aprisiona a uma verdade relativa a uma minoria, cuja força simbólica será insuficiente diante do excesso pulsional. Falta a essas narrativas a força simbólica dos discursos democráticos universalizantes que nos permitem construir um laço social igualitário baseado na noção de cidadania. A multiplicação desse "direito difuso" das minorias empobrece o sentido da nossa concepção de democracia, de liberdade e de igualdade. A igualdade entre alguns baseada em uma identidade minoritária comunitarista não equivale à universalidade dos direitos e deveres do cidadão.

A psicodinâmica da melancolia pós-moderna tem uma afinidade de estrutura com as políticas identitárias. Ela é a expressão da decepção com o grande Outro da modernidade. Expressa o descrédito na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Esse Outro pode ser o Pai, o Estado, o Professor, ou de qualquer um que se prontifica a ser fiador da ordem simbólica na transmissão humana. A decepção melancólica com todos os representantes de ideais coletivos nasce da profunda desconfiança em relação a uma suposta ordem social patriarcal, heteronormativa, masculina, branca e rica. Muito acreditam que essa ordem segrega os negros, as mulheres, os gays, as lésbicas, os transgêneros, os transexuais, os de gênero neutro, assim como todos os pobres. Encontramos, assim reunidos, como um conjunto de subgrupos minoritários e que não cessa de proliferar e incluir novos subgrupos minoritários, indivíduos reduzidos a um traço distintivo: a desigualdade com a norma fálica.

Quando nos referimos às narrativas contemporâneas produtoras de grupos identitários, estamos de acordo com as críticas que importantes sociólogos – tais como Marc Lilla –, economistas – como Thomas Sowell – e psicólogos – como Steven Pinker – vêm fazendo ao papel que alguns supostos intelectuais vêm desempenhando a serviço da corrosão dos ideais coletivos nas sociedades democráticas. Essa intelligentsia é responsável pela difusão de ideias produzidas no interior de grupos que se consideram minorias e que sofrem um tratamento segregatório ou enfrentam desigualdade de oportunidades na sociedade. São jornalistas, professores, escritores, dramaturgos, livres-pensadores, dentre outros, que, ainda que não sejam sempre lidos pelo grande público, militam ativamente para convencer uma suposta maioria conservadora a apoiar uma política de direitos especial para indivíduos que devem ser considerados como exceções. Os indivíduos considerados pertencentes a algum grupo minoritário teriam sofrido algum tipo de injustiça que justifica que a sociedade se mobilize para repará-la, indenizando-os.

Sowell (2011), um economista negro, pesquisador do Instituto Hudson na Universidade de Stanford, desenvolveu um cuidadoso estudo sobre os impactos desses discursos na civilização ocidental. De antemão, propõe-nos uma disjunção: "intelecto não se confunde com sabedoria" (Sowell, 2011, p. 15). Ou seja, ser um intelectual não pressupõe uma relação bem retificada com a realidade empírica, que envolve a sabedoria de bem articular intelecto, conhecimento, experiência e julgamento. Nas próprias palavras desse economista:

Puro poder mental, o intelecto é a capacidade de apreensão e manipulação de conceitos e ideias complexas, e pode estar a serviço de conceitos e ideias que desembocam, por sua vez, tanto em conclusões equivocadas quanto em ações insensatas, tendo-se em vista todos os fatores envolvidos, incluindo aqueles que são deixados de lado durante as engenhosas construções do intelecto imaturo (p. 15).

Um dos riscos de imersão em um imaginário que inflaciona o Eu no trabalho intelectual é a manutenção de uma modalidade de produção que inicia e termina impregnada por ideias. Estas são blindadas de métodos de avaliação pautados na experiência que possam autenticar sua origem. As ideias de um desconstrucionista são testadas fundamentalmente a partir da opinião de outros desconstrucionistas, não havendo critérios externos e empíricos, apesar de sua complexidade. Muito diferentemente acontece no campo da física. A Teoria da relatividade de Einstein, por exemplo, conquistou aceitação quando os cientistas observaram um eclipse solar, confirmando que a luz se comportara em conformidade com a sua tese. Desse modo, uma inconsequência intelectual, de forte impacto para milhões de pessoas, pode ser cometida, sem que a reputação de seu mentor seja abalada, não sendo ao menos convocado a prestar contas dos resultados de suas ideações.

Seria a relação melancólica com a verdade perpassada por um equívoco desse tipo? A melancolização decorreria desse desencontro instalado entre uma suposição errônea sobre o que seja a função e o lugar do Outro. Se reavaliarmos a melancolia à luz do inflacionamento narcísico daqueles que reivindicam ser tratados como exceção, podemos retomá-la e atualizá-la. O mais essencial acerca da sombra do objeto que caiu sobre o eu seria a decepção com o universal. O conflito nas patologias narcísicas não é com um supereu primitivo, materno, seja ele abundante ou insuficiente, como Freud chegou a pensar. O conflito instala-se contra o supereu paterno, representante dos interesses universais, garantia da igualdade de direitos e deveres entre todos os cidadãos. Diante desse ideal paterno, o melancólico é aquele que diz: isso não é justo. Não é verdade que sejamos todos iguais. Alguns são mais bonitos, mais inteligentes, mais capazes, mais afortunados dos que outros. O melancólico pensa, talvez, que o ideal universal mente sobre as profundas desigualdades entre os seres humanos. Decepcionado com o Outro universal que não existe, o melancólico não consegue, entretanto, romper com ele sem se autodestruir. O trabalho de luto da fantasia irrealizável não se estabelece. Segundo Freud:

Cada uma das lembranças e situações de expectativa que demonstram a ligação da libido ao objeto perdido se defrontam com o veredicto da realidade segundo a qual o objeto não mais existe; e o ego, confrontado, por assim dizer, com a questão de saber se partilhará desse destino, é persuadido, pela soma das satisfações narcisistas que deriva de estar vivo, a romper sua ligação com o objeto abolido (Freud, 1917[1915]/1996, p. 260).

O luto da perda de um Outro universal não abriu a escolha pelo desejo de viver. Ao contrário, uma atividade intelectiva, intensificada pelo retorno da libido para o Eu, erige uma teoria sobre o Outro que se torna a sombra que o ameaça de uma profunda alienação. Freud (1914/2010, p. 43) não deixa de mencionar o "impulso à construção de sistemas especulativos" que é peculiar na paranoia como um efeito desse depósito maciço de libido narcísica. Sendo assim, os estados melancoliformes e as sobreidentificações talvez tenham como denominador comum a tentativa de, por via de um sistema intelectivo elaborado, viabilizar ao sujeito uma orientação de sentido. Que outro caminho o sujeito descontente com o Outro universal poderia tomar? Será possível conviver com a desigualdade entre os homens, que é real e sobre isso o melancólico não se engana, sem precisar se refugiar na autorrecriminação ou na reivindicação de ser tratado como exceção?

 

 

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Artigo recebido em: 02/03/2021
Aprovado para publicação em: 06/07/2021

Endereço para correspondência
Tania Coelho dos Santos
E-mail: coelhosantostania@gmail.com
Flavia Lana Garcia de Oliveira
E-mail: flavialanago@gmail.com

 

 

*Pós-doutorado no Departamento de Psicanálise de Paris VIII (Paris, França). Professora no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Presidente do Instituto Sephora de Ensino e Pesquisa de Orientação Lacaniana/ISEPOL. Psicanalista, membro da École de La Cause Freudienne, da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise (Paris, França). Membro da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental.
**Professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal Fluminense. Pós-Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Membro do Instituto Sephora de Ensino e Pesquisa de Orientação Lacaniana / ISEPOL e da Associação Universitária de Psicopatologia de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental – AUPPF

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