SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.54 número2Género: (re)politizando el psicoanálisis índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Tempo psicanalitico

versión impresa ISSN 0101-4838versión On-line ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.54 no.2 Rio de Janeiro jul./dic. 2022

 

EDITORIAL

 

Dossiê: Multidão de Minorias: criação, resistência e minoração em artigos transdisciplinares

 

 

A atual coletânea de artigos reúne trabalhos heterogêneos de produções que investigam procedimentos clínicos, artísticos e filosóficos por meio de pensamentos que tratam das multidões de diferenças, das práticas de liberdade por elas implementadas e dos devires minoritários decorrentes das criações dos seus pensadores. Sendo a coletânea reunida na transversalidade de tais pensamentos, talvez a melhor maneira de justificarmos a reunião de tais artigos consista na explicitação do título e dos problemas que ele engendrou. Neste caso, Multidão de Minorias é um título que reúne uma multidão de diferenças resistentes, que praticam a liberdade para afirmarem suas diferenças e inventam os mais diversos devires por intermédio de procedimentos minoritários. Convém acrescentar que a noção de multidão é retirada de uma inflexão desenvolvida por Antônio Negri e Michael Hardt, que as práticas de resistências são aqui desenvolvidas com ideias que foram trabalhadas por Michel Foucault e a Psicanálise, e as minorias e os devires minoritários são noções extraídas da filosofia desenvolvida por Gilles Deleuze e Felix Guattari.

Além disso, o título faz valer uma transversalidade entre tais criações, permitindo, assim, uma abordagem panorâmica reunida em torno de problemas diversos, mas conectados por certas afinidades. Neste caso, Multidão de Minorias é a coletânea que reúne uma diversidade de problemas que abordam criticamente o presente, pela explicitação dos elementos normativos que habitam a história e pela consecução de políticas que resistem a tais normatizações.

Sendo assim, uma diversidade de questões deve, desde já, constar na nossa introdução: como as diferenças podem empreender políticas díspares de práticas de liberdades alcançadas na contrapartida da crítica endereçada aos componentes normativos e majoritários que habitam a história? É possível pensarmos diversidades éticas construídas nas abordagens críticas do presente histórico? Podem as diferenças de uma multidão ganharem estatutos políticos de subjetividades não identitárias? Como criar um devir minoritário por meio de uma minoria que inventa as condições da liberdade para fugir das opressões majoritárias existentes no campo social? É possível uma clínica da diferença pelo trabalho da resistência? Quais são as condições políticas da Multidão? E como as criações e os devires minoritários são possíveis na arte, na clínica e nas filosofias?

Ora, os problemas aqui apresentados por tais questões não serão resolvidos através de uma resposta universal. Afinal, são as estratégias problematizadoras das diferenças que constroem o vetor desta coletânea heterogênea e, prioritariamente, plural. Sendo assim, Multidão de Minorias intitula procedimentos pluralistas traçados no viés de práticas de resistências e de liberdades que se conjugam sem anularem suas diversidades. Ao entendermos que tais procedimentos podem se flexionar pela vizinhança dos problemas que inventaram as suas consecuções, cabe, agora, determinar tal vizinhança pela explicitação da questão que criou tal coalizão. Nesse sentido, Multidão de Minorias é o dossiê que reúne uma pluralidade de diferenças aptas a traçarem invenções minoritárias com atitudes éticas e políticas avaliadas nas suas diversidades. Ou seja, são as diferenças da multidão e os seus devires minoritários que aparecerão nas diversidades das situações dramatizadas pelos escritores.

Finalmente, Multidão de Minorias é o dossiê que busca entender como as práticas de liberdade que motivaram os seus escritores podem entrar em ressonâncias que admitam afinidades sem anularem suas diferenças. Estando consolidada na ideia de que uma democracia plena só seja possível pela reunião de uma multidão e de diferenças criadoras, o dossiê consolida, na sua diversidade, a ideia de uma multidão de diferenças implicadas na consecução de devires minoritários que promovam o advento de novas maneiras de existir, por meio de práticas variadas de liberdade.

Dito isso, convém agora explicitarmos brevemente a nossa vetorização pela apresentação dos problemas que motivaram a divisão em 8 áreas temáticas, distribuídas em dois volumes, a saber:

Volume I

Área 1 - Minorias Queer e necropolíticas: as práticas de liberdade da teoria Queer e as políticas inerentes aos movimentos negros só demonstram suas contundências revolucionárias quando criam as condições de possibilidades de suas diferenças pelas construções de novas formas de viver na multidão.

Área 2 - As artes como expressão da multidão - o que pode uma obra de arte?: existe na arte a criação de blocos de sensações que se erige concomitantemente a uma multidão construída pela contemplação estética de um artista. Assim, ao evocar uma raça nômade, revolucionária e irremediavelmente menor, o artista cria as condições revolucionárias de um novo tempo na potência entreaberta pela obra de arte.

Área 3 - As clínicas das multidões de minorias: a clínica levada aos errantes, aos nômades e de devires imperceptíveis para uma clínica maior. É neste contexto que uma clínica foucaultiana, psicanálise e hibridez etc. trarão reflexão e espaço de escuta diferenciados.

Área 5 - Os Transaberes: quando um clínico, um filósofo e um cientista constroem novas maneiras para os homens se pensarem em um universo inacabado, uma revolução se deflagra-se entrecruzamento dos saberes inventados por um pensamento anômalo plasmado no devir.

Área 8 - Multidão de Minorias - Conferências cruzadas entre Negri, Hardt, Deleuze e Guattari: traça a transversalidade entre os dois conceitos, procurando explicar a proposta do dossiê pelos integrantes que construíram as minorias e seus devires minoritários na multidão.

Volume II

Área 4 - Psicanálise e Transversalidade: quando pensamos a política na prática da psicanálise, torna-se necessário investir pela clínica uma nova maneira de habitar o campo social. Há, contudo, uma certa prudência a ser adotada: que a militância simples e a autoajuda não se confundam com a transversalidade desencadeada no setting analítico.

Área 6 - Multidão de micropolíticas - Movimentos sociais e devires minoritários: a proposta é, a partir de uma visão transdisciplinar, mostrar como os mais diversos grupos minoritários possuem o potencial de questionar e problematizar algumas das estruturas socioculturais há muito instituídas e naturalizadas a respeito do sexo, gênero, raça e classe.

Área 7 - Transversalidades entre filosofias, psicanálises, clínicas e práticas sociais: traçar a diagonal entre pensamentos filosóficos, psicanálises, clínicas e práticas sociais é encontrar os aspectos revolucionários e democráticos implicados em tais pensamentos. Neste caso, o conceito de transversalidade talvez seja o operador político do nosso procedimento.

Deixamos os mais sinceros agradecimentos aos escritores que prestigiaram este dossiê e desejamos a todxs uma ótima leitura!

Creative Commons License