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Tempo psicanalitico

versão impressa ISSN 0101-4838versão On-line ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.55 no.1 Rio de Janeiro jan./jun. 2023

 

ARTIGOS

 

Esboços para uma teoria do sujeito - com Badiou e a psicanálise

 

Outlines for a theory of the subject - with Badiou and psychoanalysis

 

Essais pour une théorie du sujet - avec Badiou et la psychanalyse

 

 

Oswaldo França Neto*

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Partindo-se do pressuposto de que, com Descartes, a questão que subjaz na constituição da modernidade é o que seria o sujeito, este texto se propõe a explorar desdobramentos sobre essa questão tendo como referência teorizações de Alain Badiou e algumas concepções básicas que aprendemos a ler na psicanálise. Ele procura demonstrar os impasses que encontramos ao tentarmos estabelecer formalizações sobre o sujeito, impasses esses que estariam na constituição do homem moderno. Trabalha também interseções e implicações dessas formalizações paradoxais com conceitos igualmente caros à psicanálise, como os de sintoma, corpo e verdade, assim como ressonâncias que poderíamos desdobrar entre a tipologia formal do sujeito proposta por Badiou e formalizações sobre esse tema que poderíamos depreender da leitura das obras de Freud e Lacan.

Palavras-chave: Sujeito, sintoma, corpo, verdade.


ABSTRACT

Based on the assumption that with Descartes the question that underlies the constitution of modernity is what the subject would be, this text proposes to explore developments on this issue with Alain Badiou's theorizations as a reference and some basic concepts that we learn to read in psychoanalysis. He tries to demonstrate the impasses that we find when we try to establish formalizations about the subject, impasses that would be in the constitution of modern humans. It also works on the intersections and implications of these paradoxical formalizations with concepts equally dear to psychoanalysis such as symptom, body, and truth, as well as resonances that we could unfold between the formal typology of the subject proposed by Badiou and formalizations on this theme that we could infer from reading the works by Freud and Lacan.

Keywords: Subject, symptom, body, truth.


RÉSUMÉ

Sur la base de l'hypothèse que, avec Descartes, la question qui sous-tend la constitution de la modernité est ce qui serait le sujet, ce texte propose d'explorer les développements sur cette question ayant pour référence des théorisations d'Alain Badiou et quelques concepts de base que nous apprenons à lire en psychanalyse. Il essaie de démontrer les impasses que nous trouvons lorsque nous essayons d'établir des formalisations sur le sujet, des impasses qui seraient dans la constitution de l'homme moderne. Il travaille également sur les intersections et implications de ces formalisations paradoxales avec des concepts tout aussi chers à la psychanalyse, tels que les symptômes, le corps et la vérité, ainsi que les résonances que nous pourrions déployer entre la typologie formelle du sujet proposée par Badiou et les formalisations sur ce thème que nous pourrions déduire de la lecture des travaux de Freud et de Lacan.

Mots-clés: Sujet, symptôme, corps, vérité.


 

 

Com o cogito "Penso, logo sou", Descartes (1637/1983) desloca a questão. Antes de nos perguntarmos sobre o que é o mundo externo ou a natureza, torna-se necessário estabelecer o que seria aquele ou aquilo que enuncia a pergunta. Descartes teria, aqui, fundado a modernidade, ao colocar em palavras a questão que a mobiliza: o que é o sujeito?

A psicanálise, nesse sentido, é eminentemente moderna. Podemos propor que essa interrogação é o mote que a determina. Apesar de Freud não a ter enunciado explicitamente, Lacan a problematiza ao longo de toda a sua obra, deixando claro que todas as suas elaborações têm origem no texto freudiano.

Neste artigo vamos trabalhar algumas formulações de Alain Badiou em torno da questão sobre o sujeito, procurando estabelecer correlações entre sua teoria e as elaborações que aprendemos a ler na psicanálise, lembrando sempre da afinidade que este filósofo não cansa de afirmar com relação a Lacan, de quem foi atento e cuidadoso aluno.

 

É possível uma teoria sobre o sujeito?

Em seu livro Logiques des mondes (2006), Alain Badiou propõe-se a construir uma formalização para o sujeito. Trata-se, na verdade, de empreitada antiga, iniciada de forma mais consistente em 1982 com o livro Para uma nova teoria do sujeito (1982/1994) e desdobrada em outros momentos, como naquele que é considerado o Tomo I desse livro de 2006, intitulado na edição brasileira por O ser e o evento (1988/1996).

Badiou se lança a pergunta de como seria uma teoria possível sobre o sujeito, à qual responde, sem muitos rodeios, que esta teria que ser necessariamente axiomática, ou seja, não poderia ser deduzida de nenhuma outra coisa, "já que ela é afirmação de sua própria forma" (Badiou, 2006, p. 58, tradução do autor1). Para complicar ainda mais, tratar-se-ia, nessa forma-sujeito, da apreensão de um movimento, onde os elementos em jogo só são pensáveis, e apenas se constituem, na relação entre si.

Essas considerações nos lembram os matemas de Lacan. Um matema, em si, é uma associação vazia de letras. A apreensão de uma pensabilidade só pode advir de sua manipulação, quando ele então coloca em cena uma operação em curto-circuito, algo no qual sua existência está suspensa a um sentido a ser apreendido no processo que engendra. E dos matemas, assim como das formalizações que possamos propor sobre o sujeito, não é possível fazer observações controladas, pois não há, em sua operacionalização em ato, a possibilidade da fixação de objetividades que se preservariam constantes durante a experiência.

O sujeito, aqui, diferentemente daquele da frase gramatical, encontra-se em exceção, naquilo que vacila, como "a cintilação frágil do que não teve lugar de ser" (Badiou, 2006, p. 53, tradução do autor2). Apenso entre S1 e S2 (Lacan, 1960/1998), ele se constitui no tropeço, no que manca entre, sustentando o ultrapassamento de uma falha no contínuo da frase. Ele é consequência de uma decisão frente a uma hiância que teria se tornado operacionalizável ao se corporificar como indecidível. Preliminarmente ao sujeito, na interrupção da sequência por uma falha irredutível, esta última se permuta da impossibilidade em impotência, frente às informações postas pelo contexto, de se decidir entre opções excludentes. Um sujeito, como passo a seguir desse impasse, se operacionaliza na decisão, na aposta radical, ao mesmo tempo confrontando o impasse e ultrapassando-o. Impondo-se como afirmação de uma verdade, franqueando caminhos onde antes era limite, ele possibilita com que, de um ponto de parada, se constitua um novo mundo antes impensável.

Marcado pela finitude que o determina localmente e pela infinitude do lançamento do qual é o suporte, um sujeito é, a rigor, tornar-se sujeito. Mobilizado pela decisão que o instaura (nem que seja a decisão de não recuar frente ao indecidível, abrindo a possibilidade de transformação da paralisia em movimento) não cabe jamais, ao sujeito, a posição do relaxamento.

A afirmação acima de que ele "não tem lugar de ser" (Badiou, 2006, p. 53, tradução do autor3) pode ser entendida em dois sentidos possíveis. Primeiramente por não dever ser em razão de sua dissintonia em relação aos parâmetros que prescrevem a intensidade do que aparece em um mundo específico qualquer. Mas, acima de tudo, por se subtrair à localização em não importa qual mundo, independentemente dos parâmetros que o organizem. Seja em relação a um mundo particular, seja na concepção geral do que é um mundo, o sujeito não tem lugar de ser na situação ontológica. Ele é deslocalizado tanto no ser, quanto no ser-aí.

Assim, mesmo sendo imanente a uma dada situação, já que carreado por um corpo ativo que a esta pertence, o sujeito, em si, é inapreensível. O que dele temos acesso são apenas os efeitos e as consequências que ele prescreve no e por meio desse corpo, produzindo-se como incisão ou tensionamento naquilo que organiza o aparecer de não importa qual mundo.

Pensar, assim, a "forma-sujeito" (Badiou, 2006, p. 55, tradução do autor4), não significa que o sujeito seja pura e simplesmente uma fórmula. Ele é, antes, a imposição de uma forma a uma multiplicidade, conferindo a esta uma suposta unificação, indissociável de seus efeitos por vir. E se dele nos autorizamos afirmar que "só pode haver teoria" (Badiou, 2006, p. 55, tradução do autor5) e nunca uma apreensão objetiva, é porque sua localização ou incorporação já implica de saída sua existência enquanto operação, seja em excesso, seja em subtração ao corpo do qual se apresenta indissociável.

Mas mesmo podendo-se supor uma teoria formal independente sobre o sujeito, desvinculada tanto da experiência (vinculação necessária no caso da fenomenologia), quanto de uma norma/lei (o sujeito em sua concepção moral) ou quanto de uma subordinação ao controle do Estado (em sua apreensão ideológica), ele não deixa de ter, para Badiou (2006), um assento materialista. Não se trata, nessa materialidade, da aclamada experiência, passo primeiro do empirismo. Teria antes a ver com a "causa material" proposta por Lacan (1966/1998, p. 890) enquanto a verdade que estaria em questão no caso da psicanálise. Teria a ver com o Real, termo que adquiriu toda uma nova significação na teoria de Lacan em oposição ao Ser da filosofia (Badiou, 1999).

As dificuldades, assim, se acentuam. Primeiro, "uma teoria do sujeito não pode ser a teoria de um objeto" (Badiou, 2006, p. 57, tradução do autor6), já que não se trata de uma apresentação fixa, cernida. Mas mesmo não se deixando apreender como objeto, não apenas dele podemos propor um ser (trata-se de uma multiplicidade cernível formalmente), como ele exige uma materialidade. A função da forma-sujeito seria constituir (ou operacionalizar) um corpo com e a partir dessa materialidade.

Importante realçar que se trata, nessa formalização, de uma tarefa marcada pela impossibilidade, por ser "a empreitada paradoxal de dizer a forma disso que é apenas o ato de uma forma" (Badiou, 2006, p. 57, tradução do autor7). Paradoxal, também, por se operacionalizar como a contraditória conjunção entre a existência, que necessariamente é localizada, com o que excede a toda e qualquer localização. Em sua forma-sujeito, "sendo apenas forma, e enquanto forma (...) o sujeito é imortal" (Badiou, 2006, p. 57, tradução do autor8). Uma teoria do sujeito, nesse sentido, é atemporal, independente da finitude do que se apresenta na experiência. É essa atemporalidade que concede ao sujeito o caráter de verdade, ou o que nele se abre para além de sua finitude enquanto animal humano. Nas palavras de Badiou, "uma verdade é aquilo pelo qual "nós", da espécie humana, somos engajados em um procedimento trans-específico, um procedimento que nos abre à possibilidade de sermos Imortais" (Badiou, 2006, p. 80, tradução do autor9). Nisso o sujeito se distingue radicalmente dos indivíduos e da biopolítica. Se o nosso corpo biológico é mortal, o sujeito, enquanto "ato de uma forma"(Badiou, 2006, p. 57, tradução do autor10), é eterno. Quando existe, enquanto operação do ato que é, ele é aquilo que em nós, ou no território, nos abre para a imortalidade.

O sujeito, assim, é ambíguo, pois ele é a conjunção da imortalidade abstrata de uma forma com a objetividade do conjunto de elementos em que ela se operacionaliza entre as multiplicidades que são apresentadas em um mundo. O sujeito tanto tem um aspecto objetivo, já que ele pode ser assinalado como um dado conjunto obtido pela reunião de elementos dentre aqueles existentes em um mundo, como ele é aquilo que, em excesso aos parâmetros objetivos, orienta o que se apresentaria como sendo sua objetividade. Ele é, em si, ao mesmo tempo ele e o que dele escapa a sua apreensão objetiva. Se em um determinado mundo pós-acontecimento podemos vir a propor objetivamente um conjunto de elementos como assinalando um sujeito fiel a esse acontecimento, aquilo que determina sua existência enquanto movimento, enquanto produtor de efeitos, é inapreensível pelo que dele foi apreendido enquanto objetividade.

Badiou também identifica o sujeito com a estrutura, entendida esta enquanto construção restritiva, como o condicionamento que uma dada forma carreia. Mas se o sujeito é a estrutura, o subjetivo, entendido enquanto afirmação desta, a excede, ultrapassando o que se deixa apresentar como condicionado. O sujeito, nesse sentido, nos aponta tanto para o condicionado quanto para o incondicionado. Enquanto lançamento ele é ao mesmo tempo "construção restritiva (ou condicionada)" e "exposição amplificante (ou incondicionada)" (Badiou, 2006, p. 57, tradução do autor11).

 

Sujeito e sintoma

Sendo imanente a um mundo, ao mesmo tempo que nele veiculando uma forma percebida como novidade, um sujeito pode ser pensável como o compromisso entre aquilo que, do mundo, em termos fenomênicos, se mantém constante após o acontecimento e aquilo que se modifica. Sendo o compromisso entre o antigo e o novo, ao mesmo tempo conservação e transformação, a apresentação de um sujeito desautoriza o binarismo, adquirindo inexoravelmente um caráter subversivo, localização paradoxal do Um e do Dois.

Não deixa de ser interessante que uma das definições que Freud nos oferece do sintoma é exatamente a de que este seria uma formação de compromisso (Freud, 1926/1976). Sintoma e sujeito, conceitos interligados no texto freudiano, são igualmente apreensíveis como o impossível encontro entre duas situações distintas, ou como formas de se apreender o ponto comum de impossibilidade entre duas situações que se apresentam como disjuntas. Podemos abordar essa impossibilidade seja pelo seu aspecto de fixação, de paralisia, seja pelo seu aspecto de lançamento, de movimento, de produção. Talvez o conceito de sinthome proposto por Lacan (2005/2007) ao trabalhar Joyce possa nos remeter mais a essa segunda perspectiva.

Para falar desse ponto impossível que encontraríamos na interseção de dois contextos disjuntos, onde os conceitos de sintoma, sujeito e sinthome seriam abordagens utilizáveis, poderíamos resgatar também o termo litoral utilizado por Lacan em Lituraterra (1971/2003). Litoral, diferentemente de fronteira que separa em dois uma mesma e única substância, seria aquele limite fluído, oscilante, entre duas substâncias diferentes, hora expandindo-se em uma direção, hora em outra.

O sujeito, assim, está entre, no intervalo, no entre-dois, entre S1 e S2, como propunha Lacan (1960/1998), ou entre o traço que resta de um acontecimento e um mundo, agora utilizando termos de Badiou. O acontecimento desaparece no mesmo instante em que aparece ("todo o ser é de desaparecer" (Badiou, 2006, p. 90, tradução do autor12), dele sobrando apenas um traço, marca de sua inapreensível e fugaz existência. E o mundo em si, como tal, "não admite nenhum sujeito" (Badiou, 2006, p. 90, tradução do autor13). Não sendo uma coisa direta, que se encontre em si, o sujeito é uma relação, mas uma relação deslocada, que carreia uma decalagem, um movimento, um lançamento. Este último termo, lançamento, nos lembra o S.K.beau (a ler escabeau) proposto por Lacan no Seminário XXIII (2005/2007), figura imagética de um tamborete de onde Joyce se lançaria.

Enquanto movimento, lançamento de algo que ao lançar-se se operacionaliza em transformação, um sujeito carreia em si o que existia previamente e o que se abre, de forma criativa, para o novo. Novidade esta, inclusive, onde ele, o sujeito, a produz, ao mesmo tempo em que se confundindo com ela.

Colocando em termos temporais, se o acontecimento e seu traço são condição para um sujeito, um mundo é o que teria se unificado como sendo a reunião de elementos que teriam passado a existir como conectados, fazendo conjunto, por meio de um formalismo subjetivo consequência de uma fidelidade ao traço.

O sujeito, então, se materializa como história, como movimento, como a forma da transformação, ou "a forma-em-traço dos efeitos do corpo" (Badiou, 2006, p. 91, tradução do autor14). No caso de um procedimento de verdade artístico, por exemplo, é "a história de uma nova forma, incorporada nas obras, que está aqui em questão sob o nome de sujeito" (Badiou, 2006, p. 91, tradução do autor15). Ou seja, se o sujeito em si é o tornar-se, o seu corpo, agora no registro do efeito, seria as obras ou a produção consequência do seu devir.

Essa concepção nos interdita de sermos completamente estruturalistas, por mais que gostemos ou façamos uso do estruturalismo como ferramenta para a compreensão de um mundo. Isso por que o estruturalismo, em sua forma extrema, prescinde da categoria de sujeito: "As estruturas funcionam por si mesmas, em uma produtividade particular, sem ter necessidade da categoria de sujeito" (Badiou, 2008, tradução do autor16). Pela mesma razão não podemos também nos filiar "à filosofia analítica, e ainda menos a seu avatar cognitivista" (Badiou, 2008, tradução do autor17). O sujeito não se confunde com o indivíduo e sua racionalidade. Na famosa frase de Freud: "Onde estava o isso, ali estará o eu [sujeito]" (Freud, 1933/1976, p. 102), o eu em questão não se trata de uma tomada de consciência ou de um indivíduo ciente de suas ações. Trata-se antes do sujeito do desejo, ciente apenas da necessidade de sustentar a inapreensível presença daquilo que o excede, ao mesmo tempo em que o determina.

 

Sujeito e corpo

Após a presentificação de algo que vem a adquirir o estatuto de um acontecimento, Badiou propõe a possibilidade de se produzir três tipos de formalismos subjetivos. O primeiro em termos temporais, sem o qual um presente não se constitui, seria o sujeito fiel ao acontecimento e às verdades que dele são consequência. Em reação a este, e dessa forma correlativos, teríamos os outros dois: o sujeito reativo, que se operacionaliza como denegação do presente produzido pelo sujeito fiel, e o sujeito obscuro, onde a operação é a ocultação do presente pela imposição de uma negação violenta dos elementos que o compõe. Esses três tipos de sujeitos são os modos pelos quais "um corpo se insere em um formalismo subjetivo aos olhos da produção de um presente" (Badiou, 2006, p. 617, tradução do autor18).

Um sujeito, seja qual for, tem por condição, então, "não somente um acontecimento (...), mas um corpo, e também que exista nesse corpo um órgão para ao menos alguns pontos" (Badiou, 2006, p. 617, tradução do autor19). É possível um mundo sem pontos de decisão, mas nesse caso trata-se de um mundo sem sujeitos. E em havendo pontos, e havendo sujeitos, tanto existirão aqueles que serão fiéis ao presente que aquele acontecimento faz existir, quanto aqueles que denegam (sujeito reativo) e aqueles que ocultam (sujeito obscuro) esse presente. Ou seja, "um sujeito se apresenta sempre como o que formaliza os efeitos de um corpo segundo uma certa lógica, produtiva ou contra-produtiva" (Badiou, 2006, p. 54, tradução do autor20).

Um corpo, diferentemente de um puro objeto, é uma unificação subjetiva, ao carrear em si a potencialidade dos efeitos por vir de sua constituição. Um sujeito se apresenta como o que torna legível ou impõe uma legibilidade que orienta a unificação de um múltiplo, conferindo a essa multiplicidade o estatuto de um corpo. Mas ao mesmo tempo que o sustenta, ele o subjetiva, tornando indiscerníveis corpo e seus efeitos atuais e futuros. Um corpo subjetivo, enquanto multiplicidade à qual uma unificação foi tornada legível, é algo vivo, em movimento. Ele existe na interação com o mundo no qual se apresenta, de forma imanente a este, ao mesmo tempo partícipe e estranho, como uma unificação a se realizar a partir das consequências de sua sustentação.

E um corpo subjetivo, que é aquela "multiplicidade particular que se constrói em torno do traço, ou seja, o traço torna-se um corpo" (Badiou, 2008, tradução do autor21), é sempre clivado, marcado pela incompatibilidade entre o traço originário que o determina e as operações territorializadas que lhe concedem materialidade. No caso do amor, por exemplo, em torno do traço que foi o encontro, para que ele se desdobre de forma real, constrói-se um corpo: passam a morar juntos, têm filhos etc. Essa é a parte material, que, apesar de dar corporeidade ao amor, no dia a dia de sua efetuação o esmaga, atropela. Há uma relação sempre complicada entre o amor ele mesmo, enquanto processo de uma verdade da qual o sujeito é o princípio ativo, e a materialidade necessária para a realidade desse amor.

Poderíamos propor um outro exemplo, agora no caso da política. Um partido de esquerda ao ganhar as eleições, ver-se-á na obrigação de tratar alguns pontos que o próprio exercício do poder o exige. É necessário, por exemplo, viabilizar no parlamento a promulgação de leis que sejam igualitárias, contrárias aos interesses privados. Mas o jogo parlamentar, eminentemente mercantilista e voltado para os interesses particulares, o forçará a concessões e a escolhas localizadas que serão carnalmente contrárias à toda filosofia de esquerda. Há, assim, no tratamento de pontos de um processo de verdade, inelutavelmente contradições com relação ao traço que unifica aquele processo. A localização exige particularizações, ou o trato de interesses, o que é sempre contraditório em relação a um processo de verdade, genuinamente não interesseiro.

 

Sujeito e verdade

Seja para Badiou, seja para a psicanálise, as concepções de sujeito e de verdade são indissociáveis. Segundo o filósofo, já que "uma verdade é um processo, originado no traço de um acontecimento e que constrói por etapas uma verdade nova" (Badiou, 2008, tradução do autor22), temos como consequência direta dessa formulação que

o processo de uma verdade constitui um sujeito; o processo, que organiza a verdade, é também e ao mesmo tempo, a constituição de um sujeito.

Então, 'sujeito' aqui é sempre o sujeito do processo de uma verdade. E então, existem tantos sujeitos quanto processos de verdade. Podemos então dizer, a tese 'existem sujeitos', é no fundo uma tese dependente da tese 'existem verdades'. Na medida que há verdades, há sujeitos. (Badiou, 2008, tradução do autor23)

Poderíamos também afirmar que a necessidade de suas existências não está inscrita naturalmente em um mundo, mas são frutos de uma decisão. A existência de sujeitos é irrecusável a partir do momento em que decidimos que verdades existem. Ou seja, trabalhar sob a perspectiva da existência de sujeitos, ou de verdades (que é a mesma coisa), não é algo que naturalmente se depreenda da experiência. É necessário, antes, decidirmos apostar na existência de verdades, o que exigirá, por consequência, que exista uma forma ativa e identificável de sua produção (sujeito fiel), assim como quase que inelutavelmente em uma forma ativa e identificável daquilo que visa denegá-la (sujeito reativo) ou ocultá-la (sujeito obscuro). A história, então, não se trata de uma evolução, mas de uma sequenciação de localizações ou fixações de procedimentos de verdades, agenciados por sujeitos fiéis ao que elas teriam sido se sua apresentação eterna e imutável tivesse se realizado.

Mas se a verdade em si, por definição, é eterna e imutável, como conciliar o tratamento local de pontos, onde um sujeito se operacionaliza como verdade, e a anistoricidade desta? A verdade, como tal, não pode ser experienciável, já que toda experiência é localizada e corrompível no tempo. À verdade é vedada a existência em si de uma forma completa. Ela, como diz Lacan, só pode ser meio-dita (Lacan, 1972/2003, p. 454). O sujeito se presentifica, assim, como a impossível ou paradoxal conjunção de uma verdade que teria se localizado, apresentando-se no território, com a enunciação da Verdade com "V" maiúsculo, ou ao menos com a potência desta. No sujeito atualiza-se, a cada vez, a Verdade universal sob a forma de uma verdade singular: "subjugada às verdades, a forma-sujeito (...) não é nelas menos que um ultrapassamento, um cruzamento [uma transposição], de cada verdade singular em direção de uma espécie de exposição da potência do Verdadeiro" (Badiou, 2006, p. 57, tradução do autor24).

Uma verdade, assim, ao se apresentar/localizar, só pode persistir como verdade se carrear seu próprio ultrapassamento, franqueando a possibilidade da impossibilidade de localização da Verdade. O sujeito, enquanto existência, e durante sua existência, operacionalizando-se como a impossível conjunção do Um e do Dois, produz o lançamento e o cruzamento paradoxal do local (verdade singular) com o universal (Verdade).

 

Proposta para uma tipologia dos sujeitos

Conforme dissemos acima, Badiou propõe uma tipologia formal do sujeito, da mesma forma com que Lacan, seguindo a trilha de Freud, se coloca a trabalhar, em termos formais, uma tipologia do sujeito, ao delinear a forma com que ele se operacionalizaria como sujeito neurótico, como sujeito psicótico ou como sujeito perverso. Uma tipologia abstrata, que nada mais faz do que formalizar o ato do que, hipoteticamente, viria a ser o ato de um sujeito quando de sua injunção corporal.

Essa tipologia formal, por si só, não nos autoriza a propor intervenções universalizáveis. Mais uma vez as formulações de Lacan podem nos ser úteis, já que a abstração teórica de uma tipologia formal do sujeito na psicanálise (um sujeito neurótico, cuja operação formal seria a Verdrangung ou, talvez mais especificamente, a Veneinung, um sujeito psicótico, cuja operação formal seria a Verwerfung, e um sujeito perverso, cuja operação formal seria a Verleugnung) não nos autoriza universalizações a priori sobre qualquer sujeito que seja, pois sujeito neurótico, psicótico ou perverso só existem em suas injunções corporais, na localização da qual eles se fazem existir em ato. A tipologia do ato que abstratamente estaria na sua gênese não é capaz de apresentar o corpo que, enquanto sujeito, ele é. Nós trabalhamos sempre caso a caso, e qualquer universalização no trabalho com sujeitos refletiria apenas o cansaço do pesquisador, que estaria concedendo à pura forma o estatuto de existência, negando a necessária materialidade que serve de solo ou causa para qualquer existência.

Para Badiou existiriam também três tipos de sujeitos: fiel, reativo e obscuro. Vamos explorar um pouco mais essa tipologia.

Sujeito fiel

Este é aquele que se fideliza à novidade que se apresenta como localização da verdade, ao mesmo tempo sustentando-a e produzindo-a. Seu matema seria o seguinte:

Nessa fórmula proposta por Badiou, o traço (Ɛ) que resta do acontecimento, localizado sobre a barra, é o que orienta, ou tem subordinado a si, o corpo clivado (ȼ). Este último, sob a barra, como o inconsciente do sujeito fiel, é clivado, mas cada uma de suas partes, mesmo que de formas contraditórias, é orientada pelo traço, ambos implicando ou constituindo aquele presente (π). O sujeito fiel, assim, "nada mais é do que a ativação do presente da verdade concernida" (Badiou, 2006, p. 81, tradução do autor25).

No que se refere a sua forma de funcionamento poderíamos dizer que, em termos gerais, após o acontecimento, duas modalidades de sujeito fiel se fazem presente no mundo. O primeiro se desdobra a partir da lógica do mundo antigo, em uma negociação infinita entre o antigo e o novo, tentando fazer com que o velho se possibilite abrir, passo a passo, à novidade que se fez apresentar. A segunda modalidade de sujeito fiel se apresenta nos momentos de decisão, em que a negociação se mostra impotente em possibilitar a abertura para a novidade. Trata-se, em geral, daqueles momentos em que para que o novo continue a se produzir como presente é necessária uma ruptura nos limites estabelecidos como possíveis pela situação antiga, que resiste. Seriam os momentos em que se coloca uma escolha global, onde o sim e o não vão distinguir duas situações radicalmente distintas, sendo que uma delas, aquela defendida pelo sujeito fiel, implica em uma ampliação global em relação aos limites que delimitam a outra.

Poderíamos pensar aqui na banda de Moebius, tão utilizada por Lacan. Para passarmos de um lado a outro da banda, ou fazemos isso caminhando ao longo dela, ou a perfuramos indo diretamente ao seu oposto. Se formos caminhando ao longo da fita, ao compararmos as duas extremidades que se colocariam como opostas e em posição invertida, qual teria sido o momento em que a ruptura qualitativa teria ocorrido? Esse ponto, claro quando perfuramos a fita, fica esmaecido quando a transformação se processa no contínuo do deslocamento.

Badiou propõe que aqueles que realmente vão abrir o novo mundo são os sujeitos que enfrentam os pontos, ou seja, que enfrentam aquilo que vai implicar, verdadeiramente, em uma mudança global. Mas o filósofo assevera a importância tanto da ruptura quanto da abertura negociada. A construção de um presente se produz com as duas modalidades de sujeito fiel, a partir das contingências do que vai acontecendo.

Como consequência inelutável do sujeito fiel teríamos os outros dois tipos de sujeitos, ambos ao mesmo tempo cúmplices e rivais na negação da verdade que aquele presente carreia. Antes de os discernimos, seria oportuno lembrarmos das considerações de Freud sobre o inconsciente, moradia da verdade dos desejos de um sujeito. Neste não existe a palavra não. O inconsciente só quer afirmar, e aquilo que o impulsiona é a Bejahung, ou a Urbejahung (afirmação primordial). As negações, agenciadas, de acordo com as formulações que Lacan leu no texto freudiano, na neurose pela Verneinung e na perversão pela Verleugnung, seriam posteriores, passos segundos como reação à afirmação. Se a Bejahung é o motor do inconsciente, o não é constitutivo da consciência, que se institui como defesa às consequências da afirmação.

Vamos ver agora os dois tipos de sujeitos propostos por Badiou que se constituem como negações ao sujeito fiel.

Sujeito reativo

Não se trata, no formalismo subjetivo nomeado por Badiou de sujeito reativo, de uma "pura permanência do antigo" (Badiou, 2006, p. 62, tradução do autor26). "Toda disposição reativa é contemporânea do presente ao qual ela reage" (Badiou, 2006, p. 62, tradução do autor27), exigindo, dessa forma, que o passado também se reformule.

O sujeito reativo, assim, não se reduz a uma negação pura e simples. Ele não pode simplesmente propor a conservação literal do passado, mas deve afirmar alguma novidade para se apresentar, ele mesmo, como presente. Ele deve produzir uma resposta a aquilo que se apresenta como novidade, oferecendo no lugar uma outra que seria mais razoável, mais pragmática, do que aquela proposta pelo sujeito fiel, já que o presente que ele propõe "resistiu à tentação catastrófica que o sujeito reativo declara estar contida no acontecimento" (Badiou, 2006, p. 64, tradução do autor28).

Podemos aqui utilizar o mesmo exemplo proposto por Badiou (2006), que foi a revolta dos escravos capitaneada por Spartacus na Roma antiga, no século I a.C. A partir do acontecimento Spartacus, onde a liberdade e o retorno ao lar se apresentaram como possibilidade, não era suficiente para os escravos temerosos de enfrentar as consequências de a revolta sustentarem-se subjetivamente com o assentimento puro e simples da manutenção dos grilhões da situação antiga. Era necessário neles firmar-se a convicção de que esse presente novo, da forma como estava colocado, só teria por futuro a catástrofe (por exemplo, ele é impossível de ser conseguido, ele propõe um caos insustentável, todos que o seguirem vão morrer, etc.), apresentando no lugar um outro presente, um "presente apagado", (Badiou, 2006, p. 64, tradução do autor29), mas com a vantagem de ser o possível e melhor do que era o passado (os escravos que permanecessem seriam valorizados, adquiririam uma possibilidade maior de comprarem sua liberdade pelos meios estabelecidos, etc.).

No sujeito reativo o que está sob a barra, em situação de subordinação, é o próprio sujeito fiel, e o que ele operacionaliza é a produção de um presente rasurado. Seu matema seria:

Ele propõe extinguir o acontecimento por meio da negação do traço que resta deste, asseverando que o presente possível seria aquele sem novidade, reduzido a uma continuidade melhorada do passado. Se o sujeito fiel tem suas ações impulsionadas por uma afirmação, o sujeito reativo tem suas ações determinadas por uma negação. O que o move, ou o que o coloca em movimento, é o medo do que ele nomeia por Mal (medo do incerto, medo de morrer, medo de ser preso e torturado pelas forças estabelecidas etc.). Para um sujeito reativo, a afirmação que um sujeito fiel sustenta coloca toda a situação perigosamente na tênue linha que a separa do caos, e ele, então, recua, sustentando-se no discurso da razoabilidade, da sensatez, do pragmatismo, da luta contra o caos e a inconsistência. Seu objetivo, assim, não é acabar com o presente, mas torná-lo moderado, enfraquecido, uma mudança sem real mudança, ou a pequena mudança que é possível sem correr o risco das perigosas consequências que poderiam advir em decorrência da fidelidade à verdadeira mudança.

Poderíamos, talvez, aproximar a operação que agencia o sujeito reativo proposto por Badiou com a denegação (Verneinung) do sujeito neurótico freudiano, onde a verdade do inconsciente é afirmada, porém sob a forma de sua negação:

O senhor pergunta quem pode ser essa pessoa no sonho. Não é a minha mãe." Emendamos isso para: "Então, é a mãe dele." (...) É como se o paciente tivesse dito: "É verdade que minha mãe me veio à lembrança quando pensei nessa pessoa, porém não estou inclinado a permitir que essa associação entre em consideração. (FREUD, 1925/1976, p. 295)

Badiou, efetivamente, faz uso desse termo, denegação, para falar do sujeito reativo: Se "o sujeito fiel nele organiza a produção, o sujeito reativo, o denega (sob a forma de sua rasura)..." (Badiou, 2006, tradução do autor30)

Sujeito obscuro

Por fim, temos aquele que Badiou nomeia por sujeito obscuro. Se o sujeito reativo se trata daquele que, solidário ao sujeito fiel em sua posição de explorado, não tem, no entanto, a coragem de enfrentar os riscos que o presente acarreta, o sujeito obscuro trata-se daquele que, no lugar do que explora, busca aniquilar ou levar à inexistência aquele presente que ameaça sua privilegiada situação.

Voltando ao exemplo de Spartacus, ele seria agora não o escravo, ou seja, aquele que deveria participar como agente do novo presente mas que recua por medo de sofrer as consequências de se filiar à afirmação sustentada pelo sujeito fiel. Tratar-se-ia agora dos privilegiados da situação antiga, aqueles aos quais o presente decididamente é desfavorável, por colocar em questão, e em perigo, os privilégios que lhes eram naturalizados. O que o sujeito obscuro operacionaliza não é nem o presente (produção do sujeito fiel), nem um presente apagado ou fraco (produção do sujeito reativo), mas a condução à inexistência da possibilidade de qualquer tipo de presente, e a tentativa de um resgate absoluto do antigo, em geral por meio de uma defesa intransigente da legalidade.

Sua ação, porém, de forma similar ao sujeito reativo, não se sustenta com a defesa de um retorno puro e simples ao passado, mesmo que esse seja seu intento. Essa noite que eles desejam conservar/resgatar não se encontra mais dada em si, já que ela tem que ser novamente produzida em um mundo agora diferente, posto que marcado pelo acontecimento e pelo corpo consequência deste. O sujeito obscuro operacionaliza-se na tentativa de levar ao aniquilamento qualquer possibilidade de produção do novo, ou seja, qualquer possibilidade que não seja o passado, mesmo se este passado tenha que se apresentar de forma diferente do que era, efetivamente, o passado: "Vemos como é aqui organizado o paradoxo de uma ocultação do presente ela mesma ao presente" (Badiou, 2006, p. 69, tradução do autor31).

Se para o sujeito reativo o que fica por sob a barra como seu inconsciente é o sujeito fiel, o que o sujeito obscuro coloca por debaixo da barra é o presente ele mesmo, ou seja, a nova situação que torna insustentável a situação anterior. Por meio de um Corpo com "C" maiúsculo, não cindido, pleno, transcendente, que ele intenta colocar no espaço vazio deixado pela abolição do presente, ele operacionaliza uma negação violenta do traço do acontecimento e, consequentemente, do corpo que dele resulta. Seu matema seria:

Para falar desse Corpo completo, sem fissuras, Badiou parece nos remeter ao modo de funcionamento da perversão, fazendo uso do termo "fetiche" (Badiou, 2006, p. 69, tradução do autor32). As semelhanças são perceptíveis. O perverso presentifica, sob a forma do fetiche, algo que colmataria a falta. Ele faz existir a mãe completa, aquela na qual a falta não se faria presente. Negando o corpo enquanto corpo cindido, o perverso coloca no seu lugar um corpo completo, que no caso do sujeito obscuro se corporificaria, por exemplo, na Cidade, em Deus ou na Raça.

Como exemplo contemporâneo do sujeito obscuro político, Badiou cita os movimentos radicais extremistas que vicejam no mundo árabe. Para ele o que esse islamismo político conspirador visa é tão somente se preservar no poder. De forma similar ao ocidente, ele quer fazer terra arrasada das políticas racionais de emancipação que pipocam contemporaneamente naquela região.

Para o mundo árabe, o ocidente e esse islamismo político radical são igualmente nocivos. Eles são, igualmente, sujeitos obscuros, intentando aniquilar as políticas emancipatórias dos povos árabes e preservar suas posições privilegiadas, um tendo como objetivo garantir a espoliação contínua e progressiva das reservas de petróleo árabes, o outro se esmerando em persistir em seu poder clerical.

 

 

Referências

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Badiou, A. (1996). O ser e o evento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Obra original publicada em 1988)        [ Links ]

Badiou, A. (2006). Logiques des mondes. Paris: Seuil.         [ Links ]

Badiou, A. (2008). Introduction à L'Être et l'événement et à Logiques des mondes. Conferência realizada na Université technique nationale d'Athènes. Recuperado em 26 de setembro de 2017 de http://www.entretemps.asso.fr/Badiou/Athenes.htm        [ Links ]

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Lacan, J. (2007). O seminário. Livro 23: o sinthoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Obra original publicada em 2005)        [ Links ]

 

Endereço para correspondência
Oswaldo França Neto
E-mail: oswaldofranca@yahoo.com

 

 

*Professor do Programa de Pós-graduação do Departamento de Psicologia da UFMG.
1"puisqu'elle est affirmation de sa propre forme." (Badiou, 2006, p. 58)
2"la fragile scintillation de ce qui n'a pas lieu d'être." (Badiou, 2006, p. 53)
3"n'a pas lieu d'être" (Badiou, 2006, p. 53)
4"forme-sujet" (Badiou, 2006, p. 55)
5"il ne peut y avoir que théorie" (Badiou, 2006, p. 55)
6"une théorie du sujet ne saurait être la théorie d'un objet" (Badiou, 2006, p. 57)
7"l'entreprise paradoxale de dire la forme de ce qui n'est que l'acte d'une forme" (Badiou, 2006, p. 57)
8"n'étant que forme, et en tant que forme _ (...) _ , le sujet est immortel" (Badiou, 2006, p. 57)
9"une vérité est ce par quoi "nous", de l'espèce humaine, sommes engagés dans une procédure trans-spécifique, une procédure qui nous ouvre à la possibilite d'être des Immortels" (Badiou, 2006, p. 80)
10"acte d'une forme" (Badiou, 2006, p. 57)
11"nous oscillons entre une construction restrictive (ou conditionnée) et une exposition amplifiante (ou inconditionnée)" (Badiou, 2006, p. 57).
12"tout l'être est de disparaître" (Badiou, 2006, p. 90)
13"n'admet aucun sujet" (Badiou, 2006, p. 90)
14"la forme-en-trace des effets du corp" (Badiou, 2006, p. 91).
15"l'histoire d'une nouvelle forme, incorporée dans des oeuvres, qu'il est ici question sous le nom de sujet" (Badiou, 2006, p. 91).
16"les structures fonctionnaient d'elles-mêmes, dans une productivité particulière, et n'avait pas besoin de la catégorie de sujet" (Badiou, 2008).
17"à la philosophie analytique, et encore moins à son avatar cognitiviste" (Badiou, 2008).
18"un corps s'insère dans un formalism subjectif au regard de la production d'un present" (Badiou, 2006, p. 617).
19"non seulement un événement (...), mais un corps, et aussi qu'il existe dans ce corps un organe pour au moins quelques points" (Badiou, 2006, p. 617).
20"Un sujet se présente toujours comme ce qui formalize les effets d'un corps selon une certaine logique, productive ou contre-produtive" (Badiou, 2006, p. 54).
21"multiplicité particulière qui se construit autour de la trace, c'est-à-dire que la trace devient un corps" (Badiou, 2008).
22"Une vérité est un processus, originé dans la trace d'un événement et qui construit par étapes une vérité nouvelle" (Badiou, 2008).
23"le processus d'une vérité constitue un sujet; le processus, qui organise la vérité, est aussi et en même temps, la constitution d'un sujet.
Donc, «sujet» ici est toujours le sujet du processus d'une vérité. Et donc, il y a autant de sujets que de processus. Donc, on pourra dire, la thèse «il y a des sujets», est au fond une thèse dépendante de la thèse «il y a des vérités». Pour autant qu'il y a des vérités, il y a des sujets" (Badiou, 2008).
24"asservie aux vérités, la forme-sujet (...) n'en est pas moins comme um outrepassement, un franchissement, de chaque vérité singulière en direction d'une sorte d'exposition de la puissance du Vrai" (Badiou, 2006, p. 57).
25"n'est que l'activation du présent de la vérité concerne" (Badiou, 2006, p. 81).
26"pure permanence de l'ancien" (Badiou, 2006, p. 62).
27"toute disposition réactive est contemporaine du présent auquel elle réagit" (Badiou, 2006, p. 62).
28"a résisté à la tentation catastrophique dont le sujet réactif declare qu'elle est contenue dans l'événement" (Badiou, 2006, p. 64).
29"présent éteint" (Badiou, 2006, p. 64).
30"Le sujet fidèle en organize la production, le sujet réactif, le déni (sous les espèces de sa rature) (...)" (Badiou, 2006, p. 70)
31"On voit comment est ici organisé le paradoxe d'une occultation du présent elle-même au présent" (Badiou, 2006, p. 69).
32"fétiche" (Badiou, 2006, p. 69).

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