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versão impressa ISSN 0102-7395

Reverso vol.31 no.58 Belo Horizonte set. 2009

 

Teoria Psicanalítica

 

A operatividade do discurso do analista: encontro faltoso e posição feminina

 

The operability of the analyst's discourse: a lacking encounter and the feminine position

 

 

Jeferson Machado Pinto

Universidade Federal de Minas Gerais

Endereço para correspondência

 

 


Resumo

O artigo examina os limites do Pai em ordenar a economia pulsional. Argumenta que a função paterna estrutura o inconsciente como linguagem, define apenas um sexo, o fálico, e mostra sua impossibilidade em definir A Mulher. O sujeito aprisionado pela ordem significante se torna impedido de acessar o objeto e a mulher encarna o suplemento que falta ao falo. Esse modo de ordenação cria um espaço infinito entre os seres falantes e, por isso, o texto percorre a lógica da compacidade desenvolvida por Lacan para demonstrar a contingência do encontro amoroso. Justifica, ainda, por que o analista se apoia em uma posição feminina, adotando o "semblant" do objeto faltoso à função fálica.

Palavras-chave: Função paterna, Gozo, Compacidade, Contingência, Posição feminina.


Abstract

This article examines the father's limits in organizing the economy of the instincts. It arguments that the paternal function structures the unconscious as a language, defining only one sex, the phallic, and demonstrates the impossibility of defining The Woman. The subject who is imprisoned by the signifying order is impeded to have access to the object and the woman embodies the suplement that the phallus lacks. This manner of organizing creates an infinite space between the lacking beings and, for this reason, the text follows the logic of compacity developed by Lacan to demonstrate the contingency of the loving encounter. It also justifies why the analyst is supported by the feminine position, adopting the "semblance" of the object that is lacking to the phallic function.

Keywords: Paternal function, Enjoyment, Compacity, Contingency, Feminine position.


 

 

"Não é porque ela é não-toda na função fálica
que ela deixa de estar nela de todo.
Ela não está lá não de todo.
Ela está lá a toda. Mas, há algo mais"

(Lacan, Sem. XX).

 

A criação do mundo e o "i-mundo": a extensão da função fálica


O mito do pai primevo, elaborado por Freud em Totem e Tabu, coloca em jogo a possibilidade ambígua de se pensar um pai não castrável. Este pai, situado além das questões do falo que se apresenta contingentemente como significante da falta, se referiria a uma marca da passagem de um momento de pura dispersão de gozo para uma ordenação sexual, circunscrita pelo simbólico e reveladora do princípio do prazer.

Contudo, este pai só pode ser pensado como mito. E, como todo mito, só pode ser concebido como tentativa de dar "uma forma épica" a um efeito de estrutura. Além disso, se trata ainda de uma estrutura incapaz de apreender o ser. Ou, se formos mais precisos, é capaz apenas de engendrar o ser como produto inapreensível de toda subjetividade. Caso contrário, se se tratasse de uma estrutura potente, no sentido de ser dotada da capacidade de colocar as relações significantes sob o regime da necessidade, não haveria por que tentar dar forma ao inexplicável.

Assim, é a partir do que a estrutura simbólica põe em jogo, isto é, a interdição daquele gozo disperso, que podemos pensá-lo como ex-sistente. Podemos, então, dizer com Millot (dois, p.75) que a "função do pai consiste simultaneamente em dar consistência ao mito de um gozo absoluto que ele encarna e em situar este gozo como proibido, inacessível - a função fálica se fundando sobre a exclusão lógica deste gozo".

É o ato que instaura a perda deste gozo, pela morte do pai, que produz a fraternidade entre os filhos. Criou-se, assim, de acordo com a perspectiva mítica, a Lei que regulará para o coletivo o direito ao gozo e que constituirá a comunidade universal. Esta Lei permitirá as possibilidades discursivas que sustentam as posturas éticas e o fazer da ordem humana.

Freud também desenvolveu esta questão em Psicologia do Grupo e Análise do Eu. Ali ele destaca o papel do líder que ama a todos igualmente e que, por isso mesmo, induz a reciprocidade entre os irmãos por um processo de identificação. Este processo seria sustentado pelo Ideal do Eu, traço do significante que o líder viria a encarnar. Faz-se, assim, um grupo. O líder garante a coletivização e, "para o bem de todos", exclui o que é da ordem do singular.

Nesta comunidade o líder é aquele que sabe. Ele opera com o saber e se coloca como aquele que detém a mestria deste comércio amoroso entre os homens. Estabelece, com o seu "amor civilizador", as regras de troca e propõe o pacto como garantia da ética das relações interpessoais. Este "amor pedagógico" exclui, então, o impacto da singularidade do desejo de cada um e, por isso, iremos concluir, mais adiante, que onde se faz um grupo, assim caracterizado exatamente pelos processos de identificação, desfaz-se a Psicanálise.

O líder se coloca, assim, como aquele que simboliza a própria linguagem, exercendo, por indução hipnótica, a interdição daquele gozo que questiona a civilização. Entretanto, sua ação hipnótica com a palavra vai caminhar, inexoravelmente, produzindo esse resto de gozo mitificado na figura do pai primevo. Um líder pode até erigir o totem na tentativa de se colocar como o escolhido para fazer a mediação entre os membros do grupo e o pai, cuja morte cria o significante que o simboliza e sustenta a Lei. Age como se pudesse manejar o significante que fecharia a estrutura trazendo, até a si, o empuxo que a perda desse gozo produz no ser falante.

A colocação de uma pessoa no lugar deste significante produz toda a sorte de efeitos erótico-agressivos típicos da imaginarização da estrutura. Essa imaginarização é de uma consistência tal que parece inevitável o aprisionamento a esta situação. É assim desde que se inaugurou, para o animal da horda, o mundo da linguagem, e nos comportamos como se esta fosse uma realidade imutável. Neste mundo, só é possível a troca simbólica que, por sua vez, vai denunciar um excedente de gozo impossível de ser incluído naquele comércio amoroso. Todos agem buscando este gozo a mais e, recusando a impossibilidade, criam-se os sintomas e as manobras perversas que escondem a lei do desejo. E, pela ótica dos seres mergulhados na imaginarização que confere plenitude à estrutura, aquele gozo será sempre algo visto como i-mundo, pois adotam as posturas da ética do bem. O bem é aqui definido como as possibilidades amorosas circunscritas pelo mundo da ordenação fálica e, por isso mesmo, prescrito como se fosse a solução para todos os sujeitos.

Estamos, neste momento, limitados ao reino organizado do pacto edípico onde o pai está morto e faz valer o significante da lei, o que é imperativo para a vida em comunidade, mas não deixa de ressaltar, como já dissemos, a marca de um gozo excluído. Outro da linguagem barra o gozo, mas deixa um resto não assimilável como um produto excedente a esta operação. Herdamos, então, o falo como representante sexualizado daquele gozo, embora haja o efeito perturbador deste ponto onde há uma falta de referência simbólica. Como se trata de falta absoluta de referência simbólica, irá ser vivido pelo falante como o que escapou às regras da criação do mundo, se transformando em algo "i-mundo" do qual se quer, a todo custo, se desvencilhar. É um ponto de puro gozo, um excesso vivido até como sofrimento, já que não foi colocado sob a égide da função fálica, mas sem o qual "seria vão o universo", nos dois sentidos com que usamos a expressão.

Os sujeitos, ao excluírem este real, se amparam no pacto das identificações e adotam as regras de pertinência que lhes irão garantir seu lugar de referência naquele grupo, seja a família, o Estado, etc. Fazendo assim, se filiam e tentam obter uma paternidade garantida. O pai edípico é tornado pleno, fazendo com que aqueles que pretendem estar totalmente submetidos a essa posição estejam aparentemente afastados da presença do que o pai primevo representa. Mas, ao excluírem a possibilidade de operar com o gozo perdido, se aferram ao sintoma e a uma indestrutibilidade do imaginário.

 

A ética da psicanálise não se reduz ao campo intersubjetivo

Esta leitura psicanalítica permite antever sua ética e também sua política. A clínica freudiana sempre enfrentou este ponto inominável, irredutível à possibilidade de simbolização, isto é, de ser transformado em outra coisa via interpretação.

Desde o início de sua prática, Freud mostrou o "umbigo do sonho", a lacuna no psiquismo e as cifras que surgem no lugar da falta de respostas nos sonhos; a censura como mecanismo onde não há significante como no recalque; a reação terapêutica negativa; a compulsão à repetição de eventos traumáticos que tamponam as lacunas. Estes conceitos formam uma série articulada para sustentar uma clínica e teve seu ápice com os conceitos de pulsão de morte e de masoquismo primário. Eles foram criados para dar conta daquela verdade de gozo presente na fala que mostra o fracasso do gozo fálico, sexual, em atingir todo o ser. O falo, como instrumento herdado da castração, funciona na esfera do "semblant". Ele é apenas uma máscara que insinua aquele gozo a mais que idealmente se pretende atingir com uma pretensa liberação dos efeitos da estrutura.

Contudo, sendo constitutivamente simbólicos, o falo é o único instrumento possível para realizar o manejo da vida. A estrutura edípica posiciona o sujeito diante da verdade de seu gozo, mas coloca um véu sobre ela constituindo o sujeito como resposta do real. Para ter uma garantia que o estabilize, o sujeito pode optar por camuflar o real, falicamente. Sem o impacto do real, ele pretensamente adquiriria um sólido lugar de referência. Mas, isto custaria a perda da causa do desejo em favor da mestria de um significante que comandaria uma "identidade".

Neurose, Psicose e Perversão são, apenas, formas de defesa diante do real, anunciou Lacan em Televisão e, por isto, são formas de saber questionadas pela Psicanálise. Sob este prisma da estrutura constitutiva da humanidade, a ciência e suas formas de transmissão do saber, e mesmo a filosofia com seu rigor conceitual, seriam possibilidades discursivas articuladas pelo pacto edípico para garantir a produção em detrimento de um saber colocado em uma posição que sustente a verdade do sujeito.

A Psicanálise se revelou, assim, como a única forma discursiva capaz de dialogar com a linguagem exatamente por tentar realizar na fala uma torção, de modo a incluir aquele ponto de puro gozo. Enquanto que os outros discursos expulsam-no para continuar produzindo o que interessa ao grupo.

Ao optar eticamente em colocar como agente do seu discurso aquele produto de gozo indicado pela ordenação simbólica, a Psicanálise mostra a verdadeira face da castração: a presença de um incurável na medida em que não tendo plasticidade simbólica, não pode ser assimilado ou traduzido de outras formas. Trata-se de um resto Insubjetivável, um núcleo do ser paradoxalmente só pensável a partir da ordem fálica.

A Psicanálise se apoia, assim, no real, ponto de fuga da referência simbólica, no imponderável que extrapola a possibilidade de apreensão. Porém, a ética que ela defende não é a de calar-se. Certamente não é, também, a mentira (que não deixa de mostrar a verdade) da neurose, da psicose ou da perversão, onde se trata de dizer bem pela exclusão do real. Ao contrário, sua ética é a do bem-dizer, devido ao deslocamento do saber para a posição da verdade. Isto significa que o dizer será marcado pelos efeitos da verdade, o que fará com que perca seu poder de garantia.

Já os outros discursos, o da ciência e o da universidade, por exemplo, se apoiam no reverso, isto é, na possibilidade da construção do saber absoluto e se organizam de modo a produzir efeitos fálicos, isto é, relações de saber estáveis na tentativa de apreender o UM que sustenta o jogo simbólico, sem considerar, ou considerando como "efeito natural na ordem das coisas", a verdade do gozo do sujeito. Sendo assim, esse saber é mortífero porque ordena, em seus dois sentidos, uma posição do sujeito no mundo sem que ele possa questioná-lo. No sentido de organizar a posição sexual do sujeito e, também, no de comandar uma forma de gozo em suas relações com o Outro (Pommier, 1992).

Deste modo, a Psicanálise lida com um dejeto do discurso científico e vem mostrar a este os seus limites e os absurdos ditatoriais de suas pretensões universalizantes. Onde venceu o Pai para se aceder à ordem humana, instalou-se também o Pior. A Psicanálise vem se oferecer, então, como ciência do Real e, a cada avanço científico, ela tem de relançar a questão da impossibilidade de um saber para cada um dos particulares questionados pelo seu modo de inserção na linguagem. Ela oferece, assim, a construção de uma via de diálogo com a linguagem onde o gozo que parasita a ordenação fálica, sustentada por uma lei, possa fazer emergir o contingente, o bem dizer de um novo significante. A Psicanálise recusa a opção pela escravidão ao sentido, adotada por temor de ferir a ética do bem.

Alguns querem acreditar que isto seria uma defesa da perversão, já que estão olhando a questão pelo viés de uma pseudo-plenitude da lei do Pai. Presos a este imaginário, dizem que o que extrapolaria aquela lei seria perversão. Contudo, é a própria lei que impõe um modo de gozo, o modo de acesso ao objeto, sendo, dessa maneira, caprichosa. Ao impor um modo de gozo sob o regime do necessário, a lei deixa aquele resto de gozo como impossível e desordenado. Incluí-lo é localizar a singularidade do sujeito a partir do que a lei criou e não simplesmente recusá-la.

 

Solucionar ou operar com o incurável?

O modo de operação da Psicanálise é totalmente diferente. Sua práxis revela que o oferecimento do saber em resposta às demandas do analisante, conduz-nos a uma mera identificação com o líder em detrimento da causa do seu desejo. Neste caso, a mestria da verdade do sujeito não se determinaria pelo objeto faltoso ao simbólico, e sim pela capacidade sugestiva de um bom terapeuta. Quanto melhor o terapeuta mais capaz ele será de fazer o bem, isto é, de fazer funcionar as regras do mundo fálico no estabelecimento da reciprocidade entre os sujeitos.

A ética defendida pela Psicanálise visa a trazer, a cada instante, o não-saber, o indecifrável do ser, motivo pelo qual o sujeito passa pelo sentimento de impotência diante deste incurável. Neste momento, o sujeito ainda se encontra dentro da postura científica de encontrar, pela via do saber, o significante que lhe daria a completude e eliminaria a castração. Mas, enquanto se encontra preso a esta postura histérica, ele apenas prolonga um "tempo de compreender" que não compreende nada do que seja o fundamento de sua verdade. O discurso que não realiza aquela "torção" que inclua o silêncio do real fica apenas na pretensão de querer compreender, aqui usado no sentido de agarrar, incluir, uma solução para o paradoxo de dispor do falo (do saber) para se curar de algo de outra ordem que é a castração (a verdade). A Psicanálise é a vivência, até o limite, desse paradoxo de se pretender uma totalização de predicados e afirmações sobre si mesmo. Pela maneira de operar com o discurso, o analista traz, em cada sessão, a marca da impossibilidade desta pretensão. Caem, assim, os ideais narcísicos e retira-se o sujeito da impotência imposta pelo supereu.

A Psicanálise não quer, então, "nenhum bem para o sujeito". Ela quer que ele se defronte com o seu gozo a fim de que ele verifique como está comandado por uma forma de introjeção da lei que lhe ordena um gozo impossível, idealizado, e que, por isso mesmo, o faz sofrer tanto. A Psicanálise quer que o sujeito verifique aquilo que é simbolicamente inverificável. Para isso, o sujeito terá que se despir de todo o véu das identificações oferecido pelas regras de pertinência dadas pelo Pai. Ele terá de ter a ousadia de chegar ao ponto de total ausência de amor. É aqui o ponto culminante onde o analista poderá resistir a operar com o discurso analítico ao se ver demandado a oferecer um amor de líder de grupo e fazer imperar novamente o poderio fálico. Caso o analista não resista, o sujeito se verá subvertido em sua concepção de si mesmo porque, nesse instante, ao querer verificar sua essência, ele encontrará o inverificável do ser, aquilo que extrapola a língua pátria. Desta maneira, paradoxalmente, ao buscar sua essência de sujeito, ele encontrará apenas uma consistência lógica de objeto, de puro gozo, podendo, finalmente, encarar a impossibilidade da solução e a exigência de criar formas de operação com o real a partir do que se compactou entre a linguagem e a pulsão como resultado da análise.

 

A operatividade da análise se sustenta em uma posição feminina

Além de considerar o real como ponto de fuga do sentido, a experiência psicanalítica se dirige ao real do encontro com o Outro sexo, pólo de atração da libido. Lacan teoriza dois modos de apresentação da infinitude em uma análise. Além do infinito da série significante que marca a incompletude, há, ainda, o infinito da distância entre o sujeito de desejo e o objeto do gozo. Embora a mulher possa estar à toda na função fálica como todo falante, não há encontro entre os sexos, fato que Freud chamou de castração. Ela, como objeto de desejo, escapa da apreensão, não se situa no mesmo plano do sujeito que deseja. Lacan tentou escrever a possibilidade de apreensão pelo uso do conceito matemático da compacidade.

Matematicamente, pergunta-se quantos conjuntos infinitos abertos poderiam compactar um dado conjunto infinito aberto. A solução não é previsível. Pode haver contingentemente algum encontro, mas não é possível saber de antemão qual conjunto realizará a compacidade. Não há uma lei que necessariamente escreva qual será o número de conjuntos ou, em outros termos, qual o conjunto de uma série realizará a compactação. Este foi um dos recursos lógicos utilizados por Lacan para poder afirmar que a mulher existe, mas pela função fálica, a única que dispomos como sujeitos do inconsciente, não se consegue escrever um sexo não-fálico. A Mulher não existe e, portanto, não há a relação sexual.

Por isso, podemos dizer que há uma aproximação entre a lógica do tratamento e a contingência da posição feminina, aquela que até pode existir e compactar a relação homem-mulher, mas que não se pode escrever de antemão. Exatamente por não ser possível a escrita que formule o encontro possível, estamos no campo do indecidível. Assim, como todo ser falante, a mulher está à toda na função fálica, mas não de todo no campo do homem. Lacan reescreve a castração dessa forma, pela impossibilidade de escrever a relação entre os sexos, deixando em aberto um espaço a mais na relação para que ocorra a contingência. Será a contingência que mostrará o que não muda da ordem do necessário e que se fixará como sinthoma.

O discurso do analista quer, então, que o infinito do gozo dA Mulher questione as posturas fálicas e instaure o tornar-se, já que ficou demonstrado que substantivar (ou essencializar) o sujeito com afirmações sobre o que ele é, sobre sua identidade, é um mero engodo. É necessário contar com o Pai a fim de constatar que a filiação proporcionada pela metáfora paterna não dá a esperada garantia. E, a partir daí, correr o risco de criar decisões, de inventar a partir da indecidibilidade que o objeto extralinguístico fará surgir e do sinthoma resultante da análise.

Assim, se partimos do pacto do bem comum, o sujeito estará optando pelas regras obsessivas da adequação e da conformidade. Qualquer moral ligada a regras exteriores à singularidade estará sujeita ao fracasso por exercer a pressão do amor grupal para que a verdade seja escamoteada. Por isto, a Psicanálise exige uma reviravolta na ética do bem comum, pois ela quer mais, ainda. E é também por isto que o maior sucesso da Psicanálise é exatamente o de fracassar onde vencem a religião e a ciência. Estas formas de oferecimento do bem, ao vencerem, expurgam a ética da verdade do sujeito evidenciada pela lógica da posição feminina.

 

Bibliografia

Millot, Catherine. Nobodaddy, a histeria no século. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.         [ Links ]

Pommier, G. A ordem sexual: perversão, desejo e gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Rua Levindo Lopes, 333/410 - Funcionários
30140-911 - Belo Horizonte/MG
Tel.: (31) 3281-0702
E-mail: jefpinto@uai.com.br

RECEBIDO EM: 30/06/2009
APROVADO EM: 24/08/2009

 

 

SOBRE O AUTOR

Jeferson Machado Pinto
Psicanalista. Doutor em Psicologia. Autor do livro "Psicanálise, feminino, singular", Belo Horizonte: Autêntica, 2008. Professor do Departamento de Psicologia da UFMG.

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