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Reverso

Print version ISSN 0102-7395

Reverso vol.33 no.62 Belo Horizonte Sept. 2011

 

Quando o caminho que leva do coração à boca deve passar pela mão1

 

When the path leading from the heart the mouth must pass by the hand

 

 

Claude SchauderI; Maryse Klein-MelonioII; Anne Ciani-HoltzII; Véronique DufourI, II
Tradução: Carlos Antônio Andrade Mello

IUniversidade Louis Pasteur
IIHospitais Universitários de Estrasburgo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Os autores apresentam um relato extraído de sua própria experiência clínica, baseada na prática e conceitos estabelecidos por Françoise Dolto, quando esta se interessou pelo sentido das produções verbais e plásticas de crianças com debilidade mental, jovens esquizofrênicos e neuróticos graves, utilizando o desenho e a modelagem. A partir do conceito de Imagem Inconsciente do Corpo (IIC) daquela autora, um paciente é acompanhado e é registrada sua evolução através do desenho, de intervenções sobre o corpo e de manifestações associadas da linguagem. Tais procedimentos visam permitir à criança associar seus atos motores e sua produção gráfica com palavras que a identificam, permitindo, mesmo dentro de sua limitação estrutural, a introdução no espaço simbólico em que está inserida.

Palavras-chave: Imagem Inconsciente do Corpo, IIC, Debilidade mental, Psicose, Castração simbolígena, Ato simbólico, Psicomotricidade, Fobia de toque, Zonas erógenas, Corpo fragmentado, Rearranjo narcísico.


Abstract

The authors present a report drawing on his own clinical experience, practice and based on criteria established by Françoise Dolto, when it became interested in the meaning of the verbal and plastic productions of children with mental retardation, serious young schizophrenics and neurotics, using design and modeling. From the concept of the unconscious image of the Body (IIC) that the author, a patient is registered and is its evolution through the design of interventions on the body and associated manifestations of language. These procedures are intended to enable the child to associate their actions and their graphic production engines with words that identify it, willing, even within their structural limitations, the introduction in the symbolic space in which it operates.

Keywords: Unaware of Body Image, IIC, Mental retardation, Psychosis, Castration simbolic, Symbolic act, Psychomotricity, Phobia touch, Erogenous zones, Body fragmented, Narcissistic Rearrangement.


 

 

Nossa contribuição envolve um trabalho lento e criterioso, no qual o traço e o desenho, ao mesmo tempo em que se constituem como mensagem destinada a um Outro qualquer, se revelam como passagem pela qual a criança bem assistida pode caminhar em direção à busca e à conquista de uma linguagem passível de ser compartilhada com as pessoas à sua volta. Mais particularmente, nosso trabalho se faz a partir de algumas sessões realizadas com F., uma criança psicótica de quatro anos, em quem procuraremos demonstrar a evolução da construção da imagem inconsciente do corpo, tal como foi teorizada por Françoise Dolto.

Engajada na psicanálise de crianças por Sophie Morgenstern, com quem aprendeu a descobrir e se interessar pelo sentido das produções verbais e plásticas daquelas mais jovens e em estado de desamparo, Françoise Dolto procura captar os achados clínicos obtidos em crianças débeis ou pseudodébeis, em jovens esquizofrênicos ou em graves fóbicos. Ao contrário daqueles que trabalhavam então, e talvez ainda hoje, com esse tipo de paciente, ela é intrigada por suas produções e se recusa a tomá-las como obra do acaso ou como “algo banal”, como costuma ser atribuído ao trabalho semelhante das crianças consideradas como normais. Com Morgenstern, Dolto veio a descobrir nas linhas traçadas no papel, e depois, na massa de modelagem introduzida em sua prática, a expressão daquilo que a criança está vivenciando e sentindo, aqui e agora, e que ela não pode expressar de outra maneira. O desenho e a modelagem se tornam, precocemente, discurso nas mãos daquele que não fala, ou ainda não é capaz de fazê-lo, mas que, no entanto, demanda ser compreendido.

Desde o fim dos anos 1930, Dolto está convencida de que nas crianças maiores, neuróticos graves, psicóticos e pseudodébeis esse material plástico também é localizável no tempo e dá testemunho de um estado psíquico arcaico, onde se manifestam e podem ser detectadas expressões de afetos experimentados muito precocemente, isto é, antes que possam ser representados, de um modo ou de outro. Dos mais regredidos, esse material traz evidências das pulsões ou da atividade fantasmática. Às vezes, se apresenta como relato misterioso e incompreensível de uma história traumática momentaneamente interrompida. Entretanto, em muitos casos, ele é rudimentar, pouco elaborado para ser decifrado e torna-se bem difícil de reconhecer aí a expressão de uma necessidade ou de um prazer, um apelo desesperado a um Outro que não se apressa em acolhê-lo, ou ainda, uma mensagem lançada à Mãe por “alguém em situação de perigo”...2 Na falta desse destinatário apropriado para se recorrer, condição de toda subjetividade, o traço e, sobretudo, o desenho não constituem para essas crianças a etapa intermediária, a passagem obrigatória que pode introduzir a criança à linguagem e depois a uma linguagem própria, particular?

Essas crianças, cujo desenvolvimento da imagem inconsciente do corpo é, como que, interrompido, seriamente retido, ou que tiveram que regredir a um estado arcaico para encontrar uma imagem de base suficientemente segura, parecem assim privadas da dinâmica que permite à mão que efetua o traço conduzir à boca que dirá as mensagens do corpo e do coração. Seus traços ou seus desenhos, a priori, não nos “dizem” grande coisa, ou quase nada, por falta da capacidade de elaborações discursivas, sobre as quais se apoiam as terapias de inspiração psicanalítica. Uma das vias escolhidas para lhes socorrer consiste em relançar essa dinâmica, oferecendo-lhes parceiros com os quais podem refazer uma parte do trajeto antes percorrido mal ou apressadamente, no qual ficaram retidos, ou retornaram, ou se perderam. Parceiros com quem reinvestir, da mesma forma, esses gestos e a mão que os efetua, ferramenta primária com que vão realizar as primeiras formatações pulsionais. Parceiros que, através de um vínculo forte e singular, vão lhes dar suporte para confirmar, aprimorar, desenvolver e sustentar os progressos de uma simbolização ainda difícil e balbuciante.

Neste trabalho, uma leitura das produções plásticas de crianças como “encarnação simbólica do sujeito desejante” será associada ao conceito de Imagem Inconsciente do Corpo (IIC)3, tal como Dolto começou a desenvolver no Congresso de Roma em 1953, retomado em seu artigo “Personologia e imagem do corpo” em 1961 (in DOLTO, 1981) e no qual ela elaborou a teoria em sua obra A imagem inconsciente do corpo, de 1984. Para essa autora, a imagem do corpo não é um dado anatômico natural tal como o esquema corporal (DOLTO, 1984, p.49). Pelo contrário, ela se constrói na história do sujeito e se recompõe completamente durante o desenvolvimento da criança. É constituída de diferentes modalidades: imagem de base, imagem funcional e imagem erógena que, em conjunto, constituem e garantem a coesão e o narcisismo do sujeito a cada estágio de sua evolução. Essas formas são religadas entre si e esta união é mantida pela imagem dinâmica, metáfora subjetiva das pulsões de vida. Ali, onde a imagem de base é estática e onde a imagem erógena visa ao prazer e desprazer erótico na relação com o outro, a imagem funcional se revela fortemente atuante e visa à realização de seu desejo. A propósito disso,

A mão..., de início, uma zona erógena de preensão oral, depois de eliminação anal, tem que se integrar a uma imagem funcional braquial, dando à criança uma liberdade músculo-esquelética que lhe permite atingir seus objetivos e servir à satisfação de suas necessidades e à expressão de seus desejos através de seu manejo” (DOLTO, 1984, p.56).

Em certos casos, o sujeito pode escolher como saída estratégica diante de uma dificuldade, uma postura de recolhimento para que a zona erógena implicada não entre em contato com o objeto proibido, que oferece riscos, nem seu desejo entre em conflito com o desejo do adulto que dele se ocupa. Utilizando o caso de uma menina de três anos e meio (DOLTO, 1984, p.56), com fobia de toque, que não havia pegado nada nas mãos há mais de três anos, Françoise Dolto demonstra como o sujeito pode assim ser levado a regredir a uma imagem inconsciente do corpo anterior, mas onde se ele está seguro. Até aos dois anos e meio, essa criança era travessa e comunicativa. Foi então que uma série de traumas psíquicos afetou gravemente a imagem que tinha do corpo, particularmente a dos membros superiores. Quando lhe apresentavam um objeto, ela contraía os dedos sobre a mão, dobrava a mão sobre o antebraço e este sobre o tórax, de modo a que suas mãos não tocassem aquele objeto. Comia diretamente no prato quando via um alimento que lhe agradava. Desde a primeira sessão, Dolto lhe estendeu a massa de modelagem, dizendo: “Você pode pegá-la com sua boca-de-mão”. Isso porque ela podia compreender a expressão “boca-de-mão” dada à sua erótica oral. Tomava imediatamente com sua mão a massa e a levava à boca. Anteriormente, quando Dolto lhe havia oferecido a massa, em silêncio, ela não reagira. Nem teria reagido de outra forma se Dolto lhe dissesse para usar a mão para pegar o objeto ou para fazer alguma coisa com ela, porque então faria uso de palavras que relacionam uma imagem inconsciente do corpo a um estágio (o estágio anal) que ela havia perdido. Essas palavras, não sendo mais para ela portadoras de uma referência da IIC ao esquema corporal, estariam então esvaziadas de sentido. De certa maneira, Dolto havia fornecido a mediação fantasmática da boca, zona erógena da qual conservava o gozo para engolir e sobreviver, e é o que lhe havia permitido o uso do braço. Enquanto ela só tinha como mãos a sua boca, Dolto lhe havia construído, pela palavra, uma boca em sua mão, lhe restituindo nesse ponto um braço que ligava sua mão de braço-boca, perdido também na crise dos seus 30 meses, à sua boca-mão do rosto. Seu esquema corporal e sua imagem do corpo, de fato, haviam regredido a um estágio bem anterior à idade da ação e sua ética era ainda – ou, sobretudo, para ser mais preciso – exclusivamente baseada na dialética do comível/não comível, do continente/conteúdo, do agradável/desagradável, do bom/mau... Atente-se ao fato que, nesse caso, Dolto dizia que tinha “a imagem tátil como farsa” (DOLTO, 1984, p.56). De fato, a criança havia pegado o objeto, levando-o imediatamente à sua boca com o braço que, em vez de permanecer dobrado sobre o corpo, pôde se estender e permitir à mão se apoderar daquele objeto, o que, há meses, não sabia fazer, como que se ignorasse possuir mãos. Assim, Dolto lhe havia devolvido a possibilidade de usar e de gozar de uma imagem funcional oral-anal e do interesse oral pelas coisas anais, próprio de uma criança de 20 meses.

Lembremos ainda que, para Dolto, a elaboração da IIC resulta daquilo que é dito à criança desde seu nascimento. Portadora de sentido, de opinião, de julgamento, a linguagem é veículo da castração, da qual a elaboração da imagem inconsciente do corpo se revelará totalmente tributária. Essencialmente relacional, a IIC se apoia no que diz o outro e, mais particularmente, no dito da mãe à qual está corpórea e afetivamente associado o pequeno sujeito. Dessa palavra da mãe – eventualmente do pai – que mediatiza a ausência do objeto ou a não satisfação de uma demanda de prazer, resultará a evolução da imagem inconsciente do corpo e a ultrapassagem das etapas que promovem à categoria de desejo o que era antes da ordem da necessidade. “Não, chega de mamar”, ou ainda: “A partir de agora, o seio de sua mãe está proibido”, assim são as palavras que, devido à função simbólica, provocarão no momento do desmame – e não antes – uma mutação de nível do desejo: passa-se da satisfação erótica parcial a uma relação mais completa, mais elaborada também. Dolto a denomina relação de amor, que é abertura ao outro, comunicação de sujeito a sujeito, mais precisamente, de pré-sujeito (o lactente) ao sujeito, que é a mãe. Essas palavras e proibições que os acompanham vão conduzir progressivamente à simbolização dos objetos de gozo. Dessas provas estruturantes resultarão, ao longo da primeira infância, os rearranjos narcísicos que contribuirão para modelar a imagem inconsciente do corpo e, com ela, toda personalidade da criança. Tais provas, Dolto as nomeia como simbolígenas, à medida que elas abrem (sem causá-las necessariamente) possibilidades de metaforização, de sublimação, de produção do simbólico. Daí o conceito de castração simbolígena, representando um ato simbólico positivo efetuado pela palavra desde o nascimento, primeira das castrações simbolígenas, graças ao ato de nomeação4 que o acompanha e permite a inscrição do pequeno sujeito no universo simbólico dos humanos. As expectativas e, por consequência, o produto dessas castrações são, nem mais nem menos, a humanização desse pequeno sujeito.

Para Françoise Dolto, uma criança psicótica é precisamente uma criança cujo desejo e imagem do corpo não sofreram mudança por não encontrarem em tempo hábil as castrações simbolígenas. A entrada na psicose situa-se em relação à problemática da Lei: para ela, no núcleo da psicose existe “alguma coisa” do desejo da criança que não se deparou com a castração que a teria levado a ser simbolizada, ou então que os pais, ao longo do desenvolvimento da criança, tivessem sido, por razões inconscientes, incapazes de efetuar essa castração, ou enfim, que a criança tenha vivido uma castração mobilizante dos desejos arcaicos sem referência possível à Lei. Em todo caso de psicose Dolto considera implicada a dinâmica inconsciente parental, e é assim que ela, desde os anos 1960, é levada a considerar que são necessárias três gerações5 para que apareça um quadro psicótico. A IIC do corpo da criança psicótica encontra-se, por sua vez, submetida a uma ética arcaica, anterior à castração edipiana. Às vezes, como no caso do autismo, acometido precocemente, ela não pôde processá-la. Em outros casos, por ocasião de um trauma qualquer, a criança regrediu a imagens mais antigas do corpo.

No caso Dominique (DOLTO,1971), um dos seus trabalhos mais esclarecedores a respeito de sua conceituação da psicose, Dolto demonstra que, quando nasceu sua irmã, Dominique foi como que destituído de si mesmo. Isso o conduziu a uma identificação fantasmática à irmãzinha e a uma regressão a comportamentos primitivos, aquém do tabu do canibalismo, já adquirido, e que o levou então a uma perda de sua identidade, à perda de seu valor social e de sua utilidade... Nesse caso de psicose infantil, a imagem do corpo não assegura mais sua função de substrato relacional entre a criança e o mundo à sua volta... Alienada assim a uma imagem fragmentada do corpo arcaico, a criança não pode ultrapassar as etapas narcísicas que fazem o entrecruzamento da imagem do corpo e o esquema corporal. De onde resulta, de início, um retardo psicomotor e de linguagem, depois uma falência da construção narcísica, tornando precária, até impossível sua identificação a um corpo humano.

O psicótico padece menos de uma carência da função simbólica do que de uma impossibilidade de acesso ao código simbólico comum, porque, para ele, aceitar um código é aceitar a castração. Dolto defende assim a ideia de que os comportamentos da criança psicótica têm um sentido para ela e que, em sua conduta aparentemente desprovida de sentido, se estabelece uma linguagem que é preciso compreender. Utilizando esta distinção entre função simbólica e acesso ao código comum, a autora legitima a psicanálise de crianças psicóticas, na qual ela pensa ser possível, graças à transferência, lhes restituir uma castração e, então, reescrever o desejo da criança na lei.

 

O trabalho com F.

Quando F. é atendido no serviço de psicoterapia da criança e do adolescente, ele tem 4 anos. Vive com a mãe e um homem que talvez possa ser tomado como figura paterna numa família que nos parece complexa, pouco convencional e da qual temos dificuldade em captar a estrutura. No início do atendimento, F. apresenta grande dificuldade de contato, um importante atraso de linguagem, com ecolalias. Tem seu próprio linguajar e não usa o pronome “eu”. Sua compreensão de ordens é limitada, suas respostas são pouco adaptadas e as palavras pronunciadas não representam o objeto a que se referem. Para ele, a linguagem não tem valor de comunicação. Seus transtornos relacionais se caracterizam por evitar o olhar e pelas reações excessivas à frustração. F. aceita o contato somente quando é ele quem toma a iniciativa. Dificilmente faz distinção entre si e o outro. Não há atenção conjunta, repete as frases que ouve e não se posiciona como sujeito. Não compreende a posição do outro. Seu comportamento mostra uma instabilidade psicomotora marcada por estereotipias gestuais. Capaz de certas imitações gestuais, quanto ao desenho só consegue rabiscar e traçar formas arredondadas, sem nomeá-las nem lhes dar sentido. A avaliação a que se submeteu concluiu por um transtorno invasivo do desenvolvimento e a uma problemática relacional mãe-bebê.

Nossa leitura propõe que sua imagem inconsciente do corpo, edificada em uma relação linguageira a outrem manifestamente limitante, já era profundamente marcada por essa espécie de abstinência que o levou a não fazer, ou a não fazer mais, apelo ao Outro, até mesmo a se desviar desse Outro. Com duas outras crianças, F. participa das atividades de um grupo terapêutico semanal, concentrado na psicomotricidade e no desenho, conduzido por Anne Ciani-Holtz e Maryse Klein-Melonio. Ruzhena Voynova as acompanha como psicóloga estagiária em função de observadora.

 

Primeiras sessões

Em seu primeiro desenho livre F. pouco olha o que faz. Concentra-se pontualmente em sua atividade, quase não prestando nenhuma atenção à sua volta. Seu olhar pode seguir o movimento da mão, mas também tornar-se vago, dirigido para cima, sem que isso o impeça de desenhar. Parece alheio. Seu modo de pegar o lápis é com a palma da mão direita, e se empenha em pressioná-lo sobre a folha de papel. Não expressa nenhuma vontade, não pede outro pincel nem outra cor. Sua execução de curvas e pontos é precisa (cf. desenho 1), mas dá margem à questão da estereotipia e/ou de uma aprendizagem anterior.

 

Desenho 1

Se nesse desenho as terapeutas percebem a presença de conteúdo, de marca pessoal e de verticalidade, elas notam também que essa criança é vista como um bebê que não integrou a unidade do seu corpo. No plano psíquico, ele se dispersa. Produz fragmentos de gestos, de sorrisos, de emoções, de palavras, sem estabelecer ligação entre eles, sem poder sustentar uma relação, uma troca. Seu envoltório psíquico não parece suficientemente capaz para fazer a ligação entre o dentro e o fora, necessário à relação com o outro. Assim, F. se mostra como uma criança muito sorridente, cujo contato pode parecer fácil, mas torna-se logo “pegajoso”. Lança-se sobre o adulto de maneira fusional e passageira. No momento seguinte, esse contato pode se transformar em gesto agressivo, o que traduz sua ambivalência. Repara no outro um detalhe corporal, que chama de seu “dodói”, e o aponta em si mesmo. Os limites entre ele e o outro não são muito claros.

Ao contrário do que se passa habitualmente, onde em sua identificação adesiva ele repete as palavras dos outros e imita seus gestos, no tempo da verbalização que segue seu desenho, F. emprega com propriedade as palavras “lenço”, “escorrer”, “chora” e, quando termina, diz, “acabou”. Essa forma de distanciamento leva as terapeutas a pensar que nesta atividade, F. parece se organizar. Sua linguagem parece destacada. O Sujeito em quem elas confiam se faz ouvir e até ver. Como boas ouvintes, mas também boas expectadoras, suas terapeutas sinalizam essa percepção e agem de acordo com ela. Os projetos que elas estabelecem para trabalhar com ele correspondem ao que ele as fez apurar de sua situação de “bebê que não integrou a unidade de seu corpo”, que se dispersa e cujo envoltório psíquico não é bastante contingente, mas mesmo assim é capaz de colocar algumas raras palavras exatas para designar aquilo que seus gestos o levaram a realizar. Aqui, seu desenho e o gesto que transcreveu na realidade algo de sua experiência íntima e silenciosa, se fazem de vetor de uma vivência dirigida a uma linguagem. As terapeutas partem dessa constatação para lhe propor representar em traço, na realidade, outras experiências de sua intimidade e, mais particularmente, de seu corpo, ao qual é tão pouco identificado, para lhe permitir, assim fazendo, colocar lá as palavras. É esse mesmo processo que aqueles que trabalham com a psicomotricidade empregam no relaxamento psicomotor (KLEIN-MELONIO, 2008, p.24-31).

Nas sessões seguintes, F. tem dificuldade em permanecer em seu lugar e, muitas vezes, faz gestos que não parecem de fato intencionais, assemelhando-se mais a descargas pulsionais. Sua linguagem não se dirige a ninguém especificamente. O conteúdo de suas palavras não é compreensível e, geralmente, sem ligação com seu entorno. Assim, é preciso, muitas vezes, estabelecer o encerramento do trabalho. Como em muitas crianças psicóticas, muito perturbadas ou com distúrbios do desenvolvimento, à exceção notável de certas formas de autismo, a imagem funcional de F. permanece suficientemente ativa para, não somente permitir-lhe satisfazer algumas de suas necessidades básicas, como, também, para estimular certas zonas erógenas e, até mesmo, para esboçar suas pulsões. Contrariamente à menina com fobia de toque a quem Dolto havia restituído o uso dos membros superiores, recomendando-lhe usar de sua “boca-mão”, a imagem funcional de F. não está mais denegada. No entanto, seus gestos não fazem verdadeiramente sentido, seus desenhos continuam difíceis de interpretar, suas produções não são portadoras de discursos encarnados, destinados a um outro e suporte de uma relação. Se seus gestos lhe trazem algum prazer, isso vem mais da repetição estereotipada do que daquilo que eles lhe permitem de realização ou ligação no plano relacional.

A maioria das crianças descobre e domina precocemente, no movimento de “l’allant-devenant6 no qual são acompanhados espontaneamente por seus pais, o alcance autorregulador, até autoterapêutico dos gestos criativos e das técnicas que lhes permitem atingir seus objetivos. Como muitas crianças psicóticas, F. não dispõe de recursos e parece também privado de possibilidades de elaboração e de oportunidades relacionais que esses gestos poderiam lhe oferecer. Por isso, as terapeutas não cedem. Suas palavras direcionadas e seu convite a falar do que se vivencia ao longo das sessões testemunham a favor de sua permanência constante junto ao Sujeito.

É assim que Maryse Klein-Melonio pergunta um dia a F. se ele se lembra de como ela se chama. Olhando para Ruzhena Voynova (que lhe é menos familiar), ele responde “Maryse” e repete essa palavra algumas vezes para acrescentar na sequência: “os papais, as vovós, os papais das vovós”. Depois disso, se põe a cantar, para bruscamente, toca no alto do tórax da estagiária, apoia-se durante alguns segundos, olha diretamente em seus olhos, levanta a mão e sai cantando. O que se percebe aí é um esboço de investimento na linguagem. A partir do nome conhecido de Maryse, F. associa palavras conhecidas e familiares. Parece fazer o mesmo com a presença física de pessoas. A partir de alguém conhecido, faz ligação com uma nova pessoa, a estagiária, através do olhar e do toque. Torna-se de grande importância para ele tocar, no início e no fim da sessão, as pessoas que encontra. Seu envoltório psíquico parece se construir pela associação de sensações e palavras que o mobilizam...

 

Algumas semanas depois...

...É essa mesma associação que se verá operar de maneira magistral, mas somente após ele passar por uma experiência de castração provavelmente de cunho muito simbolígeno. Nessa ocasião, um de seus colegas lhe bate com uma das cordas com que as crianças costumam brincar. Depois de associar o ato do outro a seu próprio sofrimento, ele o repete com uma terceira criança. Os adultos detêm as crianças e lhes falam da proibição de agredir um outro. Lembram aquilo que se sente em seu próprio corpo e que coloca em cena o outro que efetua o ato. Daí, o que se pode ser levado a sentir quando é sua própria mão que age, enfim, o que é e o que não é permitido... F. fica atento ao que se diz e dá provas disso mais tarde, quando as crianças são levadas a realizar um trabalho de tomada de consciência de seus corpos, daquilo que experimentam, e de palavras sobrepostas... Ao longo dessas sessões, são propostos às crianças jogos de percussão corporal, a fim de colocar em prática um envoltório tátil. As terapeutas convidam as crianças a imitá-las nesse exercício, em que, através de pequenos toques de alto a baixo, cada um é levado a causar um impacto sobre um outro local de seu próprio corpo, indicado pelos adultos. Depois disso, as crianças são convidadas a se estenderem sobre grandes folhas de papel dispostas no chão, onde o contorno do seu corpo é traçado a caneta pelos adultos. É sobre o traçado dessa silhueta que elas são, finalmente, convidadas a colorir as zonas do corpo que tocaram durante a sessão de percussão.

 

Desenho 2

 

Detalhe do desenho 2

 

Num primeiro tempo, F. segue os movimentos dos outros e, muitas vezes, olha para a psicóloga estagiária. Parece ter dificuldade em situar-se e distinguir seu corpo do de Maryse, que lhe mostra o exercício de autopercussão. Finalmente, silencioso e imóvel, instala-se em posição fetal sobre a folha de papel onde sua silhueta está traçada. A seguir, no momento de colorir as partes experimentadas, F. traça com o mesmo lápis marrom sobre o conjunto de seu “contorno”, a igual distância uns dos outros, pequenos traços perpendiculares, que representam pontos de impacto sensitivos e rítmicos. É preciso notar que ele fará esse “contorno” com exceção da face anterior de seu pescoço e da parte anterior de seus braços que, de fato, não foram percutidas. Observemos que ele não imita nenhum de seus colegas e escolheu por si mesmo, sem hesitar, essa modalidade de representação dos pontos impactados. Depois disso, F. toma o lápis verde, traça na região umbilical uma forma ovoide alongada, fechada e denteada, principalmente em sua parte anterior. Continua seu trabalho com o mesmo lápis, traçando sobre a parte frontal e dorsal de seus membros inferiores dois traços perpendiculares idênticos aos outros, marcando os pontos de impacto sobre o resto do corpo e que podem representar as zonas anal e genital. O contorno da espécie de umbigo desenhado sobre a zona umbilical, enfim, é também marcada com os mesmos traços perpendiculares figurando os pontos de impacto, mas com um lápis rosa. Os comentários que ele é levado a fazer sobre esses acréscimos, infelizmente permanecem incompreensíveis e não nos acrescentam nada a mais sobre o que as castrações umbilicais, anais e genitais vêm marcar em sua IIC.

Se F. ainda está longe de poder se representar em seu conjunto, como mostram os outros desenhos livres realizados nessa época, ele não testemunha, pelo menos por esse trabalho, que é perfeitamente capaz de localizar as zonas do corpo que tocou. Por outro lado, é indiscutível que o que ele reúne aí não é nada ao acaso. A semelhança da forma dos traços usados por ele para simbolizar os pontos de impacto sobre o conjunto do corpo, e também a especificidade das cores escolhidas para marcar as partes que constituem as três zonas nevrálgicas da construção da IIC, que são o umbigo, a zona peniana e o ânus, permitem compreender que, para F., essas são distintas de outras partes do corpo e têm algo em comum. Além disso, F. trata de duplicar os traços na região correspondente à zona genital e à zona anal. Trata-se talvez de marcar bem seu caráter erógeno particular e se poderia deduzir que o que F. fez com esses traços corresponde perfeitamente a uma evolução de sua imagem inconsciente do corpo onde, não somente, tudo não está mais de forma dispersa, mas onde começam claramente a se esboçar (é preciso dizê-lo) zonas específicas e, de certo modo, especializadas. F. insiste ainda em traçar de modo denteado o umbigo, dispondo cuidadosamente os traços que representam os pontos de impacto entre as saliências.

Outros traços produzidos em seguida testemunham esse progresso e o conduzem, com ou sem a participação do adulto, a atribuir novas palavras àquilo que sua mão traçou. Traços que aparecem então como etapas susceptíveis de permitir a emergência e a apropriação de uma palavra singular.

Nesse dia, ele chegará ao seu grupo tomando a mão de uma das duas terapeutas e lhe dizendo algo que poderia ser entendido tanto como “Mamãe” como “Minha mão”.

Se F. começa a investir no campo da linguagem, de fato ainda é de modo bem limitado e tudo se passa como se a zona oral ainda permanecesse pouco empenhada.

Assim, pode-se notar que, em seu desenho, ele não somente não marcou essa zona como lugar de uma experiência específica – zona erógena – como também não a distinguiu como zona impactada no momento do exercício de percussão, pois, cuidadosamente, ele evitou tocá-la.

 

A boca...

...aparecerá, entretanto, nos desenhos algumas semanas mais tarde quando, após um exercício de enfaixe seguido de uma retomada de palavras, certamente prazerosa, em ritmo sonoro, nomeando as zonas enfaixadas, F. aceitará com prazer que a terapeuta trace de novo o contorno de seu corpo, dessa vez de pé, em um grande papel, que ele devolverá após a seguinte instrução: “Desenhe seu corpo”, contornando essa primeira silhueta com uma bolha vermelha. Então, ele comentará seu desenho, dizendo: “porco, menininho”, nomeará as cores e desenhará pequenos pontos vermelhos na altura da orelha e do pescoço, depois, diversos desenhos da metade do rosto até o tronco. Toda a zona orobucal representada será marcada, de certa maneira, por seu gesto e pelo traço que aí fará.

 

Desenho 3

 

Detalhe do desenho 3

Após isto, F. continuando seu desenho por diversas formas fora de sua bolha dirá em tom divertido várias palavras ou grupos de palavras: “E as mamães”, “É água cor de rosa”, “Acabou”. E ainda acrescentará: “Ulalá”, “Quero cabelos” (sua mãe acabara de lhe cortar os cabelos), “Quero bebê, menino”, “Homenzinho”, “Minhas tranças” e, por fim, “Quero mamãe, vamos lá”.

Daí em diante, F. integrou as castrações anais – que determinam a proibição de agir livremente para sua própria satisfação – e para ele, “A expulsão prazerosa da coluna de ar pulmonar, modificando a forma de abertura e a emissão de sons, permite a sublimação da analidade, na pronúncia das palavras e na modulação da voz cantada” (DOLTO, 1984, p. 56 e também, SCHAUDER, 2004, p.76). Ele demonstra com satisfação, colocando-se verdadeiramente “em cena”, em parte como faria um ator que se dá a ver e a ouvir. Ele contará e se falará de si, em busca do olhar atendo dos adultos, na condição de espectadores e a quem vai se dirigir em pessoa. Assim, F. deixa claramente visível que se a imagem funcional de sua IIC permite uma utilização adaptada de seu esquema corporal, sua imagem erógena lhe descortina igualmente

a via de um prazer compartilhado, humanizando naquilo que ele tem valor simbólico e podendo ser expresso não somente por mímica e ação, mas com palavras ditas por outro, memorizadas na situação pela criança, que se servirá delas com discernimento quando falar” (DOLTO, 1984, p.57).

No caminho de volta, ele brincará com Maryse Klein-Melonio, gostará que ela corra atrás dele e o agarre, numa condição de júbilo, até aqui não experimentado.

Partindo das pulsões e do corpo, onde está sua origem, o trabalho do qual acabamos de descrever algumas sequências visa, de início, permitir à criança associar seus gestos e o prazer que ela pode obter com eles, através das palavras que os identificam e os introduzem num vocabulário comum ao grupo de humanos ao qual ela pertence. Palavras que a farão compartilhar com outros, em particular com os adultos que a acompanham, com o olhar e com a voz, uma parte do espaço simbólico ao qual todos pertencem. Tomando-o como sujeito e apostando em sua capacidade de “fabricar simbólico”, as terapeutas convidam a criança a prosseguir o trabalho de outro modo interrompido (SCHAUDER, 2005). F. há muito tempo havia parado de fazer progressos na compreensão e no relacionamento. Talvez tenha mesmo desaprendido a “se interessar” pela fala do Outro, e até por esse próprio Outro, esse Outro primordial, do qual depende o sujeito contido em cada humano, presente nele de início, que poderá advir e se constituir. Para atingir seu objetivo, suas terapeutas deverão acrescentar a essa Bejahung, que atesta e autoriza, a mediação do desenho que permite transcrever e traçar o que a criança sentiu, mas que pode também levá-la a sentir melhor e compreender o que lhe foi dito, e mesmo o que ela própria, a criança, quis dizer. É, então, pelo viés do traço que esse trabalho poderá assim lhe permitir percorrer de novo uma parte do trajeto da humanização e o levará a inscrever seus gestos numa relação de sujeito a sujeito. Inscrito no verdadeiro encontro com a criança, o traço não poderia de maneira alguma, por isso, ser comparado a um exercício entre outros (SCHAUDER, 2005). Ele constitui assim uma verdadeira alternativa aos propósitos reeducativos que preconizam as correntes modernas da psicoterapia.

 

Bibliografia

DOLTO-MARETTE, F. “Rapport sur l’interprétation psychanalytique des dessins d’enfants au cours de traitements psychothérapiques.” Psyché, 1948, p. 324-346.         [ Links ]

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Endereço para correspondência:
45, bd. d’ Anvers
FR 67000 Strasbourg
E-mail: ncschauder@hotmail.com

RECEBIDO EM: 01/07/2011
APROVADO EM: 12/07/2011

 

 

Sobre os Autores

Claude Schauder
Psicólogo clínico. Psicanalista. Professor Adjunto de psicologia clínica. Unidade de Pesquisa em Psicologia: Subjetividade, Cognição e Laço Social (URP/SCLS – EA 3071), Universidade Louis Pasteur – Estrasburgo – França. claude.schauder@psycho-ulp.u-strasbg.fr

Maryse Klein-Melonio
Terapeuta Psicomotora. Serviço de psicoterapia da criança e do adolescente. Hospitais Universitários de Estrasburgo – França. maryse.klein@chru-strasbourg.fr

Anne Ciani-Holtz
Terapeuta Psicomotora. Serviço de psicoterapia da criança e do adolescente. Hospitais Universitários de Estrasburgo – França. anne.ciani@chru-strasbourg.fr

Véronique Dufour
Professora Conferencista de psicologia clínica e psicopatologia. Unidade de Pesquisa em Psicologia : Subjetividade, Cognição e Laço Social (URP/SCLS – EA 3071), Universidade Louis Pasteur – Estrasburgo – França. Psicóloga clínica. Serviço de psicoterapia da criança e do adolescente. Hospitais Universitários de Estrasburgo – França. veronique.dufour@psycho-ulp.u-strasbg.fr

in TRACER/DESIRER
Masson C.

Coleção Hermann Psychanalyse, coordenada por Laurence Joseph e Elisabeth Naneix.

Com as contribuições de:
Annie Anzieu, Angélique Christaki, Laurence Joseph, Johanna Lasry, Cristina Lindenmeyer, Céline Masson, Claude Schauder avec Maryse Klein-Melonio, Anne Ciani-Holtz et Véronique Dufour.

 

 

1Este trabalho foi realizado no contexto da pesquisa CoPsyEnfant: A construção da identidade contemporânea. Construção psíquica e psicopatologia da criança nos novos laços familiares e sociais. Contrato da Agência Nacional de Pesquisa – Appel Blanc 2005-2008, Universidade Louis Pasteur, Hospitais Universitários de Estrasburgo.
2NT.: No original, main en perdition, que se refere, em linguagem náutica, a mensagem lançada ao mar em situações de risco de naufrágio. Daí, talvez, a alusão à homofonia entre mer (mar) e mère (mãe) como destinatários de um pedido de socorro.
3NT.: Em diversas passagens do texto, a expressão “Imagem Inconsciente do Corpo” será representada por essa sigla IIC, como se tornou consagrada na obra de Françoise Dolto.
4Daí a importância para os nazistas da substituição dos nomes por números, transformando humanos em sub-humanos (Untermensch), que eles não queriam matar, e sim, aniquilar (vernichten) nos campos de extermínio da “Solução Final”.
5Sobre a construção geracional em nosso laço social atual e suas relações com a psicopatologia, vide Dufour, V., 2006, 2007, 2008.
6Conceito criado por Françoise Dolto para descrever a contradição que experimenta a criança nas etapas iniciais do desenvolvimento, entre sua dependência vital e sua vontade de falar, exercendo sua autonomia de sujeito, exigindo da mãe, entre “idas e vindas”, acolher e suportar esse movimento com seu corpo e sua linguagem. Para a autora, é nessa experiência que se funda a simbolização.