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Print version ISSN 0102-7395

Reverso vol.41 no.78 Belo Horizonte July/Dec. 2019

 

TEORIA E CLÍNICA PSICANALÍTICAS

 

Do mestre ao analista: prescindir do exercício de seu poder

 

From the master to the analyst: to give up the exercise of one’s power

 

 

Vinícius Moreira Lima

I Universidade Federal de Minas Gerais

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho parte de um comentário de Lacan em 1958, segundo o qual o poder do analista opera na condição de não se servir dele. Tendo o caso Dora como norteador, tentamos articular essa ideia à elaboração dos discursos na década de 1970, época em que Lacan se dedica à formalização da clínica psicanalítica mais além do Pai. Dessa forma, ali onde o mestre dá um comando, buscando exercer o poder que lhe é suposto, o discurso analítico opera em seu avesso, fazendo valer a causa do desejo ao prescindir do exercício de seu poder.

Palavras-chave: Mestre; Analista; Poder; Discurso.


ABSTRACT

This work is based on Lacan’s 1958 statement according to which the analyst’s power operates under the condition of giving up its exercise. Having Dora’s case as a guiding, we try to articulate this idea to the elaboration of the discourses in the 1970s, period in which Lacan is dedicated to formalizing a clinic beyond the Father. Hence, there where the master gives a command, seeking to exercise the power that is supposed to him, the analytic discourse operates in its reverse, asserting the cause of desire while giving up the exercise of its power.

Keywords: Master, Analyst, Power, Discourse.


 

Na abertura de seu escrito sobre A direção do tratamento e os princípios de seu poder, Lacan ([1958] 1998) nos indica que o exercício de um poder se articula com a impotência em sustentar autenticamente uma práxis. Se o psicanalista escrevia esse texto em 1958, num contexto infestado pelos desvios teórico-clínicos da ego psychology, é certo que, mais de 60 anos depois, tal empreitada continua atual, se tomarmos o eixo dessa prática como uma “reeducação emocional do paciente”.

Tal eixo, insistentemente combatido por Lacan, ainda vigora de certa forma na psicologia contemporânea, a exemplo das terapias cognitivo-comportamentais, que se servem da confrontação das crenças “disfuncionais” do paciente com a “realidade” para, uma vez desfazendo tais crenças, nele produzir uma readaptação às normas sociais.

Radicalmente diferente disso é a proposta lacaniana, que leva em consideração a dimensão do inconsciente como algo que desafia qualquer noção ingênua da “realidade”1 como padrão ou medida para direção do sujeito. Em lugar de dirigir as crenças do paciente, como um diretor de consciência ou um guia moral o faria, a psicanálise se orienta por uma direção do tratamento.

Qual é essa direção? Lacan não poderia ser mais claro: trata-se de fazer com que o sujeito aplique a única regra do dispositivo analítico – a associação livre. Assim, para fazer valer sua aposta no inconsciente, é preciso que o analista se cale, saindo da posição de mestria e permitindo as associações do paciente, tal como o gesto inaugural da “limpeza de chaminé” de Emmy von N. com o Dr. Freud em 1889 (cf. QUINET, 2005, p. 9).

Mas discutir a direção do tratamento em psicanálise convoca sua íntima articulação a uma outra temática: aquela do exercício de um poder. A esse respeito, Lacan ([1958] 1998) nos dá uma indicação preciosa.

Segundo sua leitura, Freud reconheceu que o princípio de seu poder, no que este não se distinguia da sugestão, “[...] só lhe dava a solução do problema na condição de não se servir dele” (LACAN, [1958] 1998, p. 603), pois era somente assim que a transferência ganhava seus contornos.

Não seria essa uma formulação decisiva para a psicanálise? Lacan parece nos dizer que o poder do analista só opera na condição de que o analista prescinda de seu exercício, isto é, o analista deve prescindir de exercer o poder que lhe é conferido, para que uma psicanálise possa acontecer. Gesto que desbanca o saber do mestre em favor do saber inconsciente do analisante.

Podemos articular essa proposta lacaniana de 1958 com sua formulação tardia dos discursos no Seminário 17? Tal é a tarefa que nos propomos neste trabalho, a partir da hipótese de que é nesse gesto mesmo de prescindir do exercício de um poder que a psicanálise faz a passagem do mestre ao analista, que Lacan viria a formalizar em 1969-1970, por meio do giro discursivo operado pelo dispositivo analítico.

Assim, buscaremos investigar de que forma essa elaboração tardia do discurso do analista pode ser retraçada às formulações de 1958 em questão. Como guia para esse percurso, recorremos a alguns dos apontamentos lacanianos sobre o caso Dora ao longo de seu ensino, para, acompanhando seu avanço, localizar a articulação que ora sugerimos.

 

A clínica freudiana segundo Lacan e suas consequências para a análise de Dora

No seu escrito de 1958 sobre a direção do tratamento, Lacan já localizava a operação da análise via transferência como algo muito diferente “[...] das relações do Eu com o mundo” (LACAN, [1958] 1998, p. 602).

Esse comentário emergia como crítica a certas visões difundidas em sua época pela ego psychology, segundo a qual a análise seria uma situação a dois, o que permitiria pensar o tratamento como

[...] um adestramento do chamado Eu fraco, e por um Eu o qual há quem goste de considerar capaz de realizar esse projeto, porque é forte (LACAN, [1958] 1998, p. 594).

Tal adestramento produziria, ao cabo de suas operações, uma readaptação do sujeito à realidade, medida pelo padrão do Eu forte do analista, este sim, capaz de bem lidar com as exigências do mundo externo.

É nesse ponto que sobressai a crítica lacaniana:

Para os psicanalistas de hoje, essa relação com a realidade é evidente. Eles lhe medem as defecções por parte do paciente com base no princípio autoritário dos educadores de sempre (LACAN, [1958] 1998, p. 596).

O que Lacan percebe na psicanálise de sua época é uma concepção não problematizada da “realidade” como elemento normativo, norteador da prática clínica. Isso tornava o campo analítico, representado pela psicologia do ego, num dispositivo social de normalização das subjetividades.

O “ego autônomo” – considerado autônomo porque “estaria ao abrigo dos conflitos da pessoa (non-conflictual sphere)” (LACAN, [1958] 1998, p. 596) – era tomado como um valor estável, padrão de medida do real.

Para Lacan ([1958] 1998, p. 597), esse modelo marcava um retorno da psicanálise ao redil da “psicologia geral”, de modo que, nesse contexto, os analistas, representados por uma equipe de egos, se oferecem

[...] aos norte-americanos para guiá-los em direção à happiness, sem perturbar as autonomias, egoístas ou não, que pavimentam o American way de chegar lá.

Assim, fazendo a psicanálise recair na psicologia, a ego psychology se tornava serva do ideal, ao comprar a ideia de que o tratamento deveria fornecer ao sujeito uma promessa de felicidade. Mais do que pensar na adequação dessas observações em relação às correntes da época, o que é decisivo notar é a atualidade dessa crítica lacaniana para uma série de abordagens contemporâneas em psicoterapia (talvez, em especial, para as já citadas terapias cognitivo-comportamentais), ponto em que a psicanálise demarca a radicalidade de sua proposta clínica. A começar pelo problema da “adaptação à realidade”: ao discutir a queixa de Dora em relação à desordem do mundo de seu pai, Lacan mostra que o encaminhamento dado por Freud tem uma direção muito precisa.

Não se trata de adaptar a paciente à realidade que ela denuncia; antes, é preciso fazê-la ver que

[...] ela está mais do que bem adaptada [nessa realidade], uma vez que concorre para sua fabricação (LACAN, [1958] 1998, p. 602).

Desse modo, diferentemente de produzir uma “adaptação à realidade”, trata-se de mostrar que o sujeito já está mais que adaptado, por ter encontrado, numa posição inconsciente, um núcleo de gozo que ali o aprisiona, fazendo-o inclusive participar da sustentação dessa própria realidade da qual vem se queixar.

No caso de Dora, relendo Freud, Lacan evidenciou que a jovem só pôde suportar um arranjo abusivo (aquele de seu pai com o casal K., no qual Dora ficava como objeto de troca presenteado ao sr. K.) porque, ali, ela elaborava inconscientemente sua interrogação sobre a feminilidade, encarnada pelo mistério da sra. K. No entanto, o vienense não conseguiu avançar até esse ponto, em virtude de alguns fatores que Lacan apontará: seus preconceitos heterossexuais e seu desejo de salvar o pai.

Se Freud efetivamente pôde convidar sua paciente a uma retificação subjetiva, ao interpelá-la sobre sua participação na realidade que ela denuncia, ele, todavia, cometeu alguns equívocos na forma de operar com a transferência, algo que o autor dos Escritos nos apontou:

Freud nem sempre parece haver-se muito bem com isso [a transferência], nos casos que relata. E é por isso que eles são tão preciosos (LACAN, [1958] 1998, p. 603).

Assim, é com a transferência que o pai da psicanálise se embaraça, e é investigando esses pontos de equívoco que Lacan faz avançar a teoria e a clínica psicanalíticas. Seguindo a trilha lacaniana, podemos observar que há certa ambiguidade na postura freudiana: se, por um lado, ele permite a fundação subversiva do dispositivo analítico por meio da associação livre, por outro lado, Freud muitas vezes recai na posição normativa do pai, que ele repetidamente tenta salvar.

A análise de Dora é certamente um dos momentos em que essa ambiguidade freudiana fica mais clara; de certa forma, é isso que nos mostra o trabalho de van Haute e Geyskens (2016), que aponta como Freud irá, diversas vezes, interpretar o desejo recalcado de Dora como sendo dirigido ao pai e ao sr. K, a partir de um pressuposto heterossexual do desejo.

Esse engano – uma vez que Dora estava mais interessada na sra. K. do que nos homens de sua convivência – é em parte o que fez com que Freud se equivocasse até mesmo com relação à sua posição na transferência; a esse respeito, Lacan escreverá, não sem certa dose de humor, que foi por ter se colocado um pouco demais no lugar do sr. K que “[...] Freud, dessa vez, não conseguiu comover o Aqueronte” (LACAN, [1951] 1998, p. 223).

Dessa forma, teria sido em função de sua contratransferência que Freud voltava a todo tempo “ao amor que o Sr. K. inspiraria em Dora”, tomando constantemente como confissões as respostas que a paciente lhe dava. Portanto, esses elementos, que Lacan localiza como contratransferenciais, levaram de um deslize freudiano sobre sua posição na transferência a uma série de problemas normativos nas interpretações que fazia sobre Dora, partindo de um pressuposto heterossexual do desejo, segundo o qual o fio está para a agulha assim como o menino está para a menina (cf. LACAN, [1951] 1998, p. 222).

É o que vemos ao longo de sua análise do caso, por exemplo, quando Freud escreve sobre a cumplicidade de Dora com relação ao pai e à sra. K, cumplicidade que permitiria a conclusão de que “[...] em todos aqueles anos ela estivera apaixonada pelo sr. K”.

O resultado não poderia ser outro:

Quando lhe expus essa conclusão, não houve concordância por parte dela (FREUD, [1905] 2016, p. 212).

Freud pensava que Dora se identificava com as mulheres (a mãe e a sra. K) e amava os homens (o pai e o sr. K).2

Em decorrência disso, seria natural

[...] concluir que sua afeição pelo pai era maior do que ela sabia ou admitiria, que era apaixonada pelo pai (FREUD, [1905] 2016, p. 236).

Seguindo nessa esteira, Freud assumiria na transferência o lugar de mais uma figura masculina que Dora supostamente amaria e, nesse movimento, o vienense parece ter normatizado sua escuta, ao interpretar a paciente a partir de seu próprio esquema heterossexual do Édipo. Assim, em diversos momentos, Freud acaba por recair no lugar do mestre, localizando-se como Pai.

Atento a esse problema, Lacan parece ter assumido justamente a tarefa de propor uma clínica mais além do pai, como encontramos assinalado no Seminário 8:

Sabemos que não podemos tampouco operar em nossa posição de analista como operava Freud, que assumia na análise a posição do pai. E é isso que nos espanta na sua maneira de intervir. E é por isso que não sabemos mais onde nos meter – porque não aprendemos a rearticular, a partir daí, qual deve ser nossa posição (LACAN, [1960-1961] 2010, p. 364).

Nossa hipótese é que, frente a essa pergunta, Lacan responderá anos mais tarde com sua formulação dos discursos no Seminário 17, na tentativa de formalizar um dispositivo clínico para além do pai, uma clínica que subverta o lugar do mestre.

 

A subversão do mestre no dispositivo analítico: Dora com Lacan, mais além do Édipo

Em O sexo do mestre, Jean Allouch (2010) propõe que, em Freud, a figura do mestre – castrado – fica escondida, fantasiada sob a máscara do pai – idealizado. É a discussão sobre o mestre, portanto, que em Freud sempre desliza rapidamente para aquela do pai.

Essa temática foi resgatada por Lacan sob várias formas, e encontramos uma de suas principais roupagens na época do Seminário 17: O avesso da psicanálise. Ele justifica seu título afirmando que o avesso da psicanálise é o discurso do mestre; ela é seu contraponto, fica no seu polo oposto (LACAN, [1969-1970] 1992, p. 91).

Pouco tempo depois, Lacan ainda acrescentaria que o discurso do mestre é, na verdade, o lugar onde se demonstra a torção própria do discurso da psicanálise (LACAN, [1971] 2009, p. 9). Então, encontramos aí uma reformulação decisiva do dispositivo analítico a partir de uma crítica da posição do mestre, que permite formalizar, em contraposição, o lugar do analista.

Trata-se, assim, de separar o analista do lugar do pai, que, no fundo, é apenas uma máscara do mestre. É digno de nota que Lacan retoma, nesse momento do Seminário 17, sua discussão sobre o caso Dora. Nossa hipótese é que as raízes desse debate de 1969-1970, que faz a passagem do mestre ao analista, estão contidas na formulação de 1958, em A direção do tratamento.

Considerando que o exercício do poder se vincula ao imperativo da sugestão, Lacan escreve que o poder do analista só opera na condição de não se servir dele. Assim, prescindir do poder é o que abre para a transferência, condição essencial da análise. De modo que, para o analista, diferentemente do mestre, o princípio de seu poder é não se servir dele.

Por que Dora comparece nesse ponto? O que Lacan aprende com ela nesse momento? Parece que a experiência da histérica, guiando-nos mais longe que o Édipo, vem nos ensinar sobre a castração do mestre: a esse respeito, Lacan irá afirmar que os preconceitos burgueses de Freud (sobre a relação heterossexual) acabam por encobrir justamente o pivô do caso, que é o mestre castrado, o pai impotente de Dora.

Nesse caso, o ensinamento da histeria para além do mito de Édipo é que o pai idealizado da histérica vem mascarar que o mestre, no fundo, é castrado. Sua castração é, então, disfarçada pelo amor e pela idealização que o neurótico a ele dedica, a partir da roupagem do pai. Portanto, se o Édipo é tomado como sonho neurótico de Freud, é preciso interpretá-lo, desvelando a castração do mestre por trás do pai idealizado.

Com esse gesto, Lacan nos mostra que a invenção de Freud é operar um quarto de volta no discurso da histérica para fundar o discurso analítico, trazendo à tona o gozo que ficava encoberto como verdade recalcada do discurso histérico. Dessa forma, trata-se de subverter o discurso do mestre, o qual a histérica, mais do que ninguém, sabe transformar em seu joguete.

Assim, foi por não discernir com precisão esses dois lugares – o do mestre e o do analista – que Freud acaba por ceder à estratégia de Dora. A partir da formalização dos discursos, Lacan conclui que a histérica não quer o gozo do Outro; antes, ela quer apenas o saber como meio de gozo, a fim de servir à verdade que ela encarna: que o mestre é castrado.

De fato, Dora quer de Freud que ele produza um saber capaz de mostrar a castração do mestre, isto é, a castração do próprio Freud, tomado como mestre. Como consequência, querer exercer o poder do mestre, a exemplo da sugestão hipnótica ou da interpretação diretiva, é cair no jogo da histérica; inversamente, é em não exercê-lo que reside a condição para o andamento da análise. Dessa maneira, o giro discursivo operado pelo dispositivo analítico permite fazer uma torção na busca da histérica por um mestre.

Como coloca Lima (2017, p. 152),

[...] o mestre é uma invenção da histérica. A histérica busca o saber sobre a verdade, entretanto a verdade que ela busca é a verdade da castração do mestre.

Assim, a histérica busca um mestre não tanto para servi-lo, mas, antes, para que o saber que ele produz sobre ela possa demonstrar sua própria castração, a impotência do mestre em dar conta do padecimento histérico.

De forma a não entrar no jogo da (im)potência, a subversão lacaniana com o discurso analítico reside em fazer girar o discurso da histérica no sentido inverso daquele do mestre. Nessa perspectiva, um mestre se define pela pretensão de ser aquele que guiará o sujeito, dará um comando, exercerá seu poder de sugestão, identificando-se com o Outro do paciente.

Frente a essa impostura, a histérica não faria mais do que furá-lo, a exemplo de Dora, ao abandonar a análise com seu sorriso de Gioconda ou ao responder com indiferença às interpretações freudianas: “‘Não me lembro disso’” (FREUD, [1905] 2016, p. 237).

Com esse gesto, Dora evidencia a castração de Freud, mostrando a impotência do saber do mestre para alcançar a verdade de seu gozo. Munidos das contribuições lacanianas, podemos pensar que, de certo modo, Freud tentou se servir de seu poder no caso Dora, ao interpretar de forma normativa o que seria a paixão recalcada de Dora pelo pai e pelo sr. K., e é em parte por isso que seu tratamento não pôde avançar o suficiente.

Assim, a formalização do discurso analítico no Seminário 17 parece levar a cabo o projeto de Lacan, anunciado desde 1958, de sustentar uma clínica que não se deixa enganar pela ilusão da posição do mestre, uma clínica situada, portanto, mais além do pai.

Afinal, ali onde o mestre dá um comando, buscando exercer o poder que lhe é suposto (como no uso da sugestão hipnótica nas histéricas de Charcot), o discurso analítico opera em seu avesso, fazendo valer a causa do desejo ao prescindir do exercício de seu poder.

 

Referências

ALLOUCH, J. O sexo do mestre: o erotismo segundo Lacan. Rio de Janeiro: Cia. de Freud, 2010.         [ Links ]

FREUD, S. Análise fragmentária de uma histeria (1905). In: ______. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, análise fragmentária de uma histeria (“O caso Dora”) e outros textos (1901-1905). São Paulo: Cia. das Letras, 2016. p. 173-320. (Obras completas, 6).         [ Links ]

LACAN, J. A direção do tratamento e os princípios de seu poder (1958). In: ______. Escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 591-652.         [ Links ]

LACAN, J. Intervenção sobre a transferência (1951). In: ______. Escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 214-225.         [ Links ]

LACAN, J. O seminário, livro 17: o avesso da psicanálise (1969-1970). Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Ari Roitman. Rio de Janeiro: Zahar, 1992. (Campo Freudiano no Brasil).         [ Links ]

LACAN, J. O seminário, livro 18: de um discurso que não fosse semblante (1970-1971). Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. (Campo Freudiano no Brasil).         [ Links ]

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LIMA, N. L. de. O avesso da psicanálise: novo estatuto do pai? Tempo psicanalítico. Rio de Janeiro, v. 49, n. 1, p. 39-157, jun. 2017. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tpsi/v49n1/v49n1a08.pdf. Acesso em: 15 nov. 2018.         [ Links ]

QUINET, A. As 4+1 condições da análise. 10. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.         [ Links ]

TEIXEIRA, A.; SANTIAGO, J. Semiologia da percepção: o enquadre da realidade e o que retorna no real. In: TEIXEIRA, A.; CALDAS, H. (Orgs.). Psicopatologia lacaniana 1: semiologia. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. p. 93-119.         [ Links ]

VAN HAUTE, P.; GEYSKENS, T. Psicanálise sem Édipo?: uma antropologia clínica da histeria em Freud e Lacan. Tradução de Mariana Pimentel. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
E-mail: vmlima6@gmail.com

Recebido em: 19/11/2018
Aprovado em: 13/09/2019

 

Sobre o autor

Vinícius Moreira Lima
Graduando em Psicologia pela UFMG (2015-2019).
Coordenador, juntamente com o Prof. Dr. Guilherme Massara Rocha, da pesquisa “Psicanálise lacaniana e teoria queer: um debate possível?”, em andamento desde 2017, no Departamento de Psicologia da UFMG.
Bolsista de iniciação científica do CNPq sob orientação da Profa. Dra. Ângela Vorcaro.

 

 

1 Cumpre observar que a noção de “realidade”, reelaborada criticamente por Lacan desde o começo de sua obra, é retomada posteriormente como uma imposição discursiva que só se sustenta da crença no significante-mestre; a realidade é, então, rebaixada a uma ordenação normativa do discurso, que se instaura a partir das crenças socialmente partilhadas (TEIXEIRA; SANTIAGO, 2017, p. 100-101). Nessa perspectiva, o ideal terapêutico de adaptar o sujeito à realidade torna-se uma forma de impostura, ao buscar uma adequação do paciente às próprias normas que produzem seu sofrimento.
2 Vale lembrar que o comentário de Lacan a esse respeito é que nesse ponto Freud se equivoca de forma decisiva; o vienense teria desconsiderado que, no caso de Dora, o que havia era o arranjo inverso: ela se identificava com os homens (especialmente o sr. K.) e amava as mulheres (particularmente a sra. K.). Ao confundir-se nessa dialética entre identificação e escolha de objeto, Freud opta por interpretar o caso pela via edipiana em seu enredo normativo: mulheres que se identificam com mulheres e, assim, amam os homens. Foi essa falha que Lacan indicou como constituinte do limite da análise freudiana de Dora.

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