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Reverso

Print version ISSN 0102-7395

Reverso vol.42 no.79 Belo Horizonte Jan./June 2020

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Maria Mazzarello Cotta Ribeiro

Editora da revista Reverso - CPMG

 

 

Este número da Reverso, o 79, foi preparado dentro do período da pandemia do COVID-19, que se apossou não só do Brasil mas também de todos os países.

Consideramos importante, neste momento, manter a palavra psicanalítica inscrita em nossos artigos, fazê-la chegar aos leitores e, assim, pelo prazer do conhecimento, trazer esperança a nossos "corações e mentes".

Com foco na clínica psicanalítica, surge uma pergunta: "Como atua o Superego, a partir do mais íntimo da subjetividade e do mal-estar na cultura, vociferando: Faça aquilo que conspira contra ti!?" Assim, nossa convidada, Marta Ambertín inicia seu artigo, Vozes do Supereu na clínica e o mal-estar contemporâneo - paradoxos e trevo do Supereu. Prossegue num apanhado das formas como Freud descreveu o SE e seus efeitos na clínica. Ao final de seu texto, tomando o SE como revés do desejo inconsciente, afirma que só há clínica do desejo e não clínica do SE. Termina com a máxima lacaniana: "só o amor permite ao gozo condescender ao desejo", mas adverte que isso nem sempre é possível.

No setor Teoria e Clínica Psicanalíticas, iniciamos com as autoras Débora Crivelaro Dickel e Daniela Scheinkman Chatelard um estudo sobre os efeitos que uma deficiência orgânica no bebê pode ter sobre o imaginário parental e as implicações que pode trazer para a constituição subjetiva do bebê e sua imagem corporal. No artigo Considerações sobre o corpo na constituição subjetiva do bebê com deficiência, as autoras discutem a possibilidade de elaboração parental do luto pela perda do bebê imaginário e a construção de novo investimento libidinal, possibilitando um estatuto de sujeito a esse filho.

Em seguida, Jô Gondar, em Ouvir com os olhos: gestos, expressões, ritmos, nos traz o conceito de dissociação, já estudado em Freud, no texto de Masud Khan (1971), quando este relata a dissociação que se opera entre o que o analista ouve como discurso e como expressão do corpo. Chama a atenção para uma clínica que não se reduz à linguagem verbal, mas implica gestos, tons de voz, odores, atmosferas e ritmo, fazendo uma correlação com vivências intrauterinas.

A prática psicanalítica é o texto escrito por Maria Ângela Assis Dayrell em que discorre sobre o desejo de analista e sua posição na direção de uma análise, a partir da operação de se constituir no "ser analista".

No artigo seguinte, Narrativa e história de si, contadas em análise, Scheherazade Paes de Abreu tece fios na fronteira entre psicanálise e história. Assegura, para todos, uma questão sobre o valor da vida, a sexualidade e a morte, cuja resposta é a narrativa de uma história. Na análise, aponta para não só a importância da história, mas também o modo como se narra sua história.

O estranhamente infamiliar dos medos, texto elaborado por Vanessa Campos Santoro, compara a fobia, que surge como resposta à angústia de castração, num tempo de estruturação do sujeito - a fase fálica, com a irrupção do real no caso dos bombeiros que participaram do resgate às vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho (MG), que foram ouvidos em atendimento psicanalítico e trouxeram além do estresse pós-traumático, lembranças da história de cada um com fixações em traumas infantis.

A seção Psicanálise e Cultura é aberta com Eliana Rodrigues Pereira Mendes e Marisa Lima Rodrigues, discutindo a questão da iniciação sexual de jovens segundo o grupo social e o tempo histórico em que vivem, sempre numa reedição do complexo de Édipo, no artigo Amar, verbo intransitivo, idílio: a iniciação sexual de um jovem e o desejo de Fraulein. As autoras trabalham, no romance homônimo de Mário de Andrade, Amar, verbo intransitivo, idilio, o enredo amoroso de um jovem adolescente e sua iniciadora sexual, contratada pelo pai deste, onde o verbo amar, intransitivo, sofre uma subversão e torna-se transitivo, escapando ao roteiro escrito pelo pai do rapaz.

Em seguida, com o artigo Transfobia, masculinidades e violência sob a ótica da psicanálise, os autores Gabrielle Leite Rocha, Hugo Ribeiro Lanza e Sarug Dagir Ribeiro discutem a transfobia pelo viés da teoria da sedução generalizada e da categoria de códigos de Jean Laplanche, que a situa na origem alteritária dos processos constitutivos do psiquismo e da noção de enquadramentos proposta por Judith Butler, para entender os abalos narcísicos nas identidades masculinas e seus efeitos violentos para com mulheres trans e travestis.

Com o texto Uma lei incompreendida: o dilema ético e moral de Heloise, Otacílio José Ribeiro discute as possibilidades, pela via da psicanálise, de o sujeito se haver com seu desejo diante das exigências do Superego, atualizadas nas leis sociais. Exemplifica essa problemática trabalhando aspectos metapsicológicos da protagonista Heloise no filme Em Nome de Deus.

No setor Psicanálise e Arte, Daniel Rohe discorre sobre as questões musicológicas e sua presença na relação entre analista e paciente, pouco exploradas e estudadas. Estende suas considerações à expressão dos afetos pela tonalidade Ré menor de que os compositores se servem em suas peças. Traz exemplos de experiências pessoais e profissionais de Freud com a música e encerra esse artigo Reflexões clínicas em Ré Menor perguntando: por que a música possui um status de marginal em sua relação com a psicanálise?

Finalizando, temos uma Entrevista com Arlindo Pimenta - 50 anos de Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, onde ele discorre sobre os dados históricos da psiquiatria mineira nos anos 1960, a influência da psicanálise sobre ela e seu percurso profissional concomitante à fundação e à constituição do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais (CPMG) até os dias de hoje.

A produção da Reverso conta com uma notável Comissão de Publicação composta por Ana Boczar, Carlos Antônio Andrade Mello, Eliana Rodrigues Pereira Mendes, Marília Brandão Lemos de Morais Kallas, Paulo Roberto Ceccarelli e coordenada por Maria Mazzarello Cotta Ribeiro.

Nos trabalhos técnicos temos: na revisão e normalização dos artigos, Dila Bragança de Mendonça; no projeto gráfico, Valdinei do Carmo; na revisão do inglês, Paulo Roberto Ceccarelli; na tradução do espanhol, Bernardo Maranhão; na revisão técnica do espanhol, Carlos Antônio Andrade Mello; na biblioteca, Marta Aparecida Almeida e Almeida; na secretaria do CPMG, Adriana Dias Bastos.

A toda essa equipe de primeira ordem, os nossos agradecimentos e reconhecimento!

Nossa capa é uma ilustração de Thiago Mendes, que traduz com muita propriedade o momento atual quando a necessidade do isolamento social levou a relação analítica à modalidade virtual, seus efeitos e sua inventividade. O divã conectado com o mundo!

Por toda a dedicação dos autores, pela equipe de produção e o apoio da Diretoria do CPMG a Reverso tem se mantido na classificação Capes/Anppep - B2.

A todos que participaram dessa edição o nosso muito obrigado!

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