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Print version ISSN 0102-7395

Reverso vol.42 no.80 Belo Horizonte Jul./Dec. 2020

 

TEORIA E CLÍNICA PSICANALÍTICAS

 

A repetição e a transferência na teoria e na clínica psicanalíticas

 

Repetition and transference in psychoanalytic theory and practice

 

 

Arlindo Carlos Pimenta

Psiquiatra. Psicanalista. Sócio efetivo do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais. E-mail: arlindopimenta@gmail.com

 

 


RESUMO

O autor faz um estudo da repetição tanto em Freud quanto em Lacan, desenvolvendo os caminhos relativamente paralelos na obra desses autores. Ressalta em Freud o trajeto da recordação (reproduzir) à repetição (agir) e, em Lacan, do simbólico ao real. A virada freudiana com o Além do princípio do prazer (1920) correspondería à viragem lacaniana de 1964 (Seminário 11) e seus desenvolvimentos posteriores (do fenômeno à estrutura).

Palavras-chave: Recordar, Repetir, Resistência/transferência, Pulsão de morte, Compulsão à repetição, Repetição simbólica, O Um (S1), Repetição enquanto fato de estrutura.


ABSTRACT

The author studies repetition in both Freud and Lacan, developing relatively parallel paths in the work of these authors. In Freud the path of remembrance (reproducing) to repetition (acting) is emphasized and, in Lacan, from the symbolic to the real. The Freudian turn point with the Beyond the Pleasure Principle (1920) would correspond to the Lacanian turn of 1964 (Seminar 11) and its subsequent developments (from the phenomenon to the structure).

Keywords: Recollection, Repetition, Resistance /transference, Death drive, Repetition compulsion, Symbolic repetition, The One (S1), Repetition as a structural fact.


 

 

Não existe assunto mais
eminentemente clínico
para um psicanalista
do que o problema da repetição.
Motivo de tantos lamentos,
a repetição parece estruturar
nossa própria capacidade de sofrer.
Ela pode conduzir alguém a se engajar
na experiência de uma análise,
ela pode se tornar o inferno
mais íntimo de cada um.
Sísifo, Atlas, Prometeu, as Danaides
e todo o périplo de seres condenados
a praticar um mesmo ato,
no Hades grego,
eram personagens vítimas da repetição.
Dominique Fingermann

 

A repetição em Freud

De início, encontramos em Freud, na Comunicação preliminar ([1893] 1977, p. 41), a afirmação de que os histéricos sofrem de reminiscências. Para revivê-las, lançam mão da hipnose e da sugestão, colocando-se no lugar do mestre.

Em seguida, cria o método da psicanálise baseado na regra da livre associação. O discurso analítico já é uma forma de discurso próprio, mas visava antes de tudo a recordação como método e meta.

Porém, Freud sempre faz esse movimento dialético entre a teoria e os desafios da clínica. A essa época, em sua elaboração metapsicológica, desenvolve sua concepção do desejo como uma tentativa, sempre infrutífera, de repetir a experiência de satisfação.

No Projeto para uma psicologia científica, ao descrever exatamente a experiência de satisfação e a marca deixada por ela, Freud ([1950/1895] 1977, p. 381) afirma:

[...] sempre que houver um aumento da quantidade, portanto de desprazer, aparecerá uma tendência a reativar a marca primeira.

A essa tendência, nos diz Freud, chamaremos desejo.

Vemos, então, que o desejo já configura uma repetição. Atrás dessa marca primeira, correremos pela vida afora repetidamente, determinando nossas escolhas amorosas, sexuais, profissionais.

No modelo da Carta 52 com suas inscrições, transcrições e traduções Freud ([1896] 1977) nos faz pensar que a repetição está aí presente, fazendo seu aparecimento na clínica de forma particular, como veremos posteriormente.

Só mais tarde, na clínica, ante o 'fracassado' Caso Dora, Freud ([06 dez. 1896] 1977) vai se dar conta de uma forma de manifestação do recalcado, que se expressa não pela associação livre (Reproduziren), mas pela repetição (Agiren).

Muito mais tarde, Freud ([1914] 1977) fará um estudo mais aprofundado do tema em Recordar, repetir e elaborar, onde, além de uma distinção entre os dois fatos clínicos (recordação e repetição), trata de seu aparecimento na práxis.

Até então, a repetição era vista, por um lado, como uma resistência à recordação e, por outro, como motor da transferência.

A presença da repetição ultrapassa os limites do tratamento analítico, pois está presente na vida de todas as pessoas e revela um caráter pulsional portanto inerente à condição humana.

Mas é em Além do princípio de prazer que Freud ([1920] 1977) vai dar um passo fundamental em sua teoria e clínica com a proposição da pulsão de morte e da compulsão à repetição (Wiederholungszwang), propondo uma nova ruptura, tal como já fizera anteriormente em relação à sexualidade.

Ao enumerar as várias situações em que o princípio de prazer não prevalece na imposição do princípio de realidade, no recalque, na brincadeira das crianças e nas neuroses traumáticas, Freud evidencia o valor da compulsão à repetição. Ao tematizar a pulsão de morte, nos adverte que se trata de uma especulação, mesmo porque não haveria outra forma de falar desse silencioso caos pulsional.

Freud se vale de alguns exemplos de repetição que ocorrem na natureza, por exemplo, a busca das origens dos peixes no período da piracema ou o movimento migratório das aves de arribação. Vale-se também da evolução embriológica dos humanos e as repetições que se passam aí. E arrisca uma hipótese interessante sobre o aparecimento da vida.

Diz textualmente:

Em certo momento, as propriedades da vida devem ter sido despertadas na matéria inanimada, por ação de forças que ainda não conseguimos imaginar (Freud, [1920]1977,p.13).

Hipoteticamente, por circunstâncias ligadas a causas externas e o progressivo aparecimento de seres multicelulares, a substância sobrevivente teve de percorrer caminhos mais complicados para alcançar a morte. Isso acontece concomitantemente ao aparecimento das pulsões de vida, mais conservadoras e ligadas ao desenvolvimento da libido.

A tematização da pulsão de morte e da compulsão à repetição (Wiederholungs-zwang) leva Freud a rever o desenvolvimento da técnica na clínica psicanalítica e a subdividi-la em três períodos.

• De início o método psicanalítico (associação livre), consistia em decifrar o inconsciente, ainda não conhecido e comunicá-lo ao doente. A psicanálise era antes de tudo a arte da interpretação. Estamos no tempo da recordação (Reproduziren). Não se lograva atingir o objetivo terapêutico dessa maneira.

• Aparece a repetição que, em um primeiro momento, é vista como resistência. A arte consistia em desvelar as resistências a partir das próprias recordações do cliente e confirmar a construção revelada pelo trabalho analítico. Nesse ponto, a sugestão e a persuasão operavam como transferência. Mas isso evidentemente não funcionou.

•  Ficou evidente que o objetivo de tornar consciente o inconsciente, não podia ser alcançado por essa via.

O que escapa ao recordar (Reproduziren) vem pelo viés da repetição (Agiren). Esta que emerge de forma indesejada, como resistência, se desenrola no campo da relação transferencial sendo sempre um fragmento da vida sexual infantil. Para Freud, quando logramos levar o tratamento até esse ponto, podemos dizer que a neurose anterior foi substituída por uma nova neurose de transferência.

O manejo da transferência consiste em manter a nova neurose dentro de limites estreitos, ou seja, privilegiar a recordação, mas permitindo-lhe viver fragmentos de sua vida esquecida, mantendo um certo discernimento que lhe possibilite diferenciar aquilo que lhe parece ser realidade (fantasia) e o que de fato é.

Vemos, então, que em Freud transferência e repetição estão interligadas. A resposta à repetição é o próprio trabalho da transferência, ou seja, a elaboração.

 

A repetição em Lacan

Em Lacan percebemos uma trajetória semelhante à de Freud. Podemos, grosso modo, dividir o ensino de Lacan em campo da linguagem e campo do gozo, mais ou menos equivalentes às tópicas freudianas. Ao se abordar o campo do gozo não se exclui o campo da linguagem assim como a segunda tópica não anula a primeira em Freud.

Com o artigo Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise, Lacan ([1953] 1998) inicia seu ensino, abrindo o campo da linguagem, dizendo que a psicanálise se encontra nesse campo. Nesse primeiro momento, o campo da linguagem é o próprio campo psicanalítico.

Para Lacan é necessário situar a psicanálise diretamente no campo da linguagem (simbólico) em contraposição ao imaginário. Isso em função da concepção de transferência prevalente na época, completamente dentro do registro do imaginário, onde a transferência era reduzida à relação dual.

A direção do tratamento e os princípios de seu poder ([1958] 1998) é o principal texto dos anos 1950 e diz respeito a direção da cura. Para Lacan, no entanto, a análise se passa entre três: o analisante, o analista e o grande outro (A).

É ainda na Direção do tratamento que Lacan ([1958] 1998) desenvolverá o que da psicanálise é sua tática (equivalente à interpretação do analista), sua estratégia (como o manejo da transferência; aqui o não atendimento da demanda é fundamental) e a política (ou a ética), baseada na falta-a-ser. Lacan vai mostrar aí que o analista dirige a análise (não o analisante) mas a partir da falta-a-ser.

A partir dos anos 1960, Lacan, postula a existência de um furo na estrutura, ou seja, nem tudo é significante. Daí vai desenvolver o conceito de "coisa" não só em Freud (das Ding) mas também em Platão (o agalma). Progressivamente, Lacan vai deslocando seu interesse para o registro do Real e a conceituação do objeto a (causa de desejo) (Quinet, 2000).

Mas é no Seminário 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise que Lacan ([1964] 1985) faz um empare lhamento conceitual, ou melhor, uma distinção conceitual: inconsciente/pulsão, transferência/repetição, dando à repetição o status de conceito fundamental, desvinculando-o da transferência (Jorge, 2006).

Até os anos 1960, Lacan não diferencia a "repetição simbólica de uma modalidade do retorno do recalcado". No Seminário 2, capítulo XVI - A carta roubada, nos diz que o automatismo de repetição extrai seu princípio do que havíamos chamado insistência da cadeia significante.

Dominique Fingermann (2014) equivale a virada freudiana com Além do princípio do prazer e a pulsão de morte à virada que Lacan faz no Seminário 11, onde, após um longo caminho de elaboração, elevou o fenômeno ao conceito.

O conceito de repetição em Lacan vai sofrer reviravoltas acompanhando as diferentes reconsiderações do que é o inconsciente. Foram as várias reconsiderações do problema clínico da repetição que o obrigaram a distinguir o inconsciente real do inconsciente linguagem ou ainda do inconsciente desejo (Soler, 2013). A dimensão real vai descentrar o desejo e enfatizar a importância da emergência da repetição. Assim, ela abre o capítulo do campo lacaniano propriamente dito: o campo do gozo.

Ao abordar o conceito de repetição, Lacan lança mão das causas acidentais em Aristóteles [Sybebekos] que vão além das causas formais. Corresponderia aproximadamente ao não previsto, ao acaso. Trata-se do autômaton e da tiquê.

Lacan vai relacionar a repetição ligada à cadeia significante ao autômaton e à tiquê ao encontro com o real, portanto a um encontro faltoso.

Segundo Marco Antônio Coutinho Jorge (2006), retomando Freud e articulando com Lacan, o que move o ser, seu desejo mais profundo é a volta ao não ser.

Utilizamos aqui o esquema de Marco Antônio Coutinho Jorge (2006), onde fizemos alguns acréscimos no sentido de resumir o aparecimento e a articulação dessa temática.

Temos, então, segundo Marco Antônio Coutinho Jorge:

 

 

 

 

Lacan, porém, continua a desenvolver a temática da repetição e da transferência em seus seminários posteriores por aproximadamente dez anos.

Para seguirmos, mesmo que brevemente esse desenvolvimento, torna-se necessário voltar ao Seminário 9: A identificação (1961-1962), em que Lacan começa abordar a temática do UM.

Resumidamente nesse seminário Lacan vai retomar Saussure, dizendo que o que distingue o significante é ser tudo que os outros não são.

Então, é enquanto pura diferença que a unidade se constitui em sua função significante.

 

A identidade na era teológica e na era linguística

1. Na teológica:

A=A=A, estamos no princípio da identidade (A=A), que é garantido pelo Outro.

Em Descartes por exemplo: a identidade ser e pensamento é garantida por Deus.

2. Na era linguística:

A # A, dependendo da posição que ocupa na cadeia significante.

Então, como já foi dito, o significante se define por ser pura diferença, tendo a propriedade de não ser idêntico a si mesmo.

Sendo pura diferença, como se dá essa unidade?

Essa unidade não tem por função a unificação, por exemplo, fazer Um ou coletivizar, ou seja, fazer conjunto. Trata-se da unidade em questão como distinção.

Vemos, então, a Unidade com duas funções: uma de unificação e outra de distinção (Quinet, 2000).

Em Freud tomamos como exemplo o segundo tipo de identificação - a tosse de Dora - conhecido como o traço unário (Einsig Zug).

Lacan generaliza esse conceito e o torna muito mais amplo e abrangente (Quinet, 2000). É a identificação ao traço, que constitui a base do Ideal do eu. E que pelo efeito de imaginarização faz com que eu me sinta igual ao Outro (sou igual meu pai, minha mãe) etc.

É na realidade um traço de distinção que se imaginariza. O sujeito não percebe que está se identificando com um traço de distinção, que acaba dando a impressão de unificação.

Há aí um paradoxo sobre esse traço da diferença, ou seja, se vários sujeitos se identificam a um mesmo traço de caráter distintivo, isso pode se tornar um traço de igualdade e unificação (grupos de Black de adolescentes, por exemplo). Temos, então, traço de reunião # traço de distinção.

Para distingui-los Lacan encontrará no Seminário 9, duas palavras em alemão: Einheit e Einsigkeit.

Einheit - S1: Unidade, lei, norma, regra universal /discurso do mestre.

Einsigkeit - S1 - Unicidade, traço distintivo, exceção.

Passamos, então, das virtudes da norma para as virtudes da exceção (Quinet, 2000).

O Um da exceção é o traço distintivo do sujeito e o representa para outros significantes (S2).

O S1 no campo do gozo é o correspondente ao traço unário no campo da linguagem e comemora a irrupção do gozo, ou seja, um equivalente à marca primeira da satisfação. Portanto, o que marca a irrupção do gozo é a primeira inscrição.

O S1 é o significante mestre, orientador da cadeia significante. Ele se inclui nacadeia, mas temtambém uma posição externa. Isso mostra que temos um S1 na posição única mas implicando sua pluralização (enxame).

Sempre buscamos a repetição da primeira experiência de satisfação e fracassamos em alcançá-la.

A repetição do S1, esse traço da experiência de satisfação, já não é o S1, mas o S2. E quando vai se repetir, a repetição é a repetição do S1 ➝ S2. A repetição, então é uma repetição de gozo.

Repetimos a irrupção daquele gozo, mas ao mesmo tempo não o atingimos. A repetição constitui a própria rede de significantes, que faz parte do inconsciente. É essa repetição que se organiza como o saber inconsciente (S2).

Partindo da repetição, o que é o mais-de-gozar? Há um gozo nessa busca, em que o sujeito está sempre procurando repetir aquela experiência primeira, e o S1 comemora um gozo fracassado.

E é a energia perdida, que cai dessa repetição que constitui o objeto a.

O objeto a vem nomear o gozo fracassado.

Em francês o termo rattage como Lacan usa não é propriamente fracassado, mas não atingido ( Quinet , 2000).

Então o objeto a é isso que cai, que fracassa, quando não se atinge a meta. Algo de gozo que excede e ao mesmo tempo não é contabilizado.

 

Repetição e transferência

Se Lacan desvincula a repetição da transferência, quais desenvolvimentos e consequências clínicas que podemos extrair daí?

Tomemos a repetição. No intuito de extrair os fundamentos estruturais de psicanálise, Lacan contempla essa "potência terrível" do destino como logicamente necessária e revelada da dimensão do real da estrutura do ser humano. Cada análise pode eventualmente aceder a esse ponto de virada, ou seja, ir mais além de sua redundância patética ou tediosa e extrair o alcance ético da repetição (Fingermann, 2014)

Nesse sentido, podemos afirmar que a repetição, não se reduz, como vimos à libido (princípio do prazer em Freud) nem à lógica do significante (Lacan), mas aponta para o real em jogo na estrutura.

A repetição aparece, portanto, como índex do real, circunscrito pelo significante (S1). Colette Soler (2013) assinala que esse real se situa no cerne da ordem linguageira, que foi denominado por Lacan como Das Ding, no Seminário 7: A ética da psicanálise ([1959-1960] 1988), e como angústia no Seminário 10: A angústia ([1962-1963] 2005).

A repetição, enquanto encontro falho, significa que o que se encontra é a falta de encontro.

Lacan vai desenvolver em vários seminários a partir de 1964, formas de abordagem do real e da repetição através da lógica matemática. Busca nessa forma de linguagem, além da linguagem simbólica dos significantes, uma outra linguagem que favoreça a abordagem desse real.

Faz, então, uma elaboração sofisticada tendo como base a lógica tal como apresentada por G. Frege.

Sem entrar em mais considerações vamos reencontrar aqui a questão do Um, diferentemente do que foi exposto no Seminário 9: A identificação, embora tendo o mesmo como base.

A repetição aparece como fenômeno sistemático, automático e necessário. Aparece aqui o UM, o S1 que implica uma dupla vertente.

O S1 enquanto UM dizer, ou seja, o organizador da cadeia significante, lembra o conceito que Freud adota de Bleuler, o de representação meta.

Ao mesmo tempo os S1 aparecem como (essain), enxame, tratado por Lacan no Seminário 20: Mais, ainda ([1972-1973] 1985).

É através da repetição nunca alcançada desses S1 que algo marca, aqui já no nível da letra, os indicativos de nossa unicidade, tal como descrito como produto do discurso do analista

 

A transferência

Assim, como a repetição é um gozo, a transferência ao contrário é um laço. É sua mobilização pelo discurso do analista que possibilita no fim articular o impossível da relação e a contingência do ato.

O sentido da transferência em análise é motivado pela suposição de um saber inconsciente no qual o analista - intérprete - seria suposto revelar e decifrar (Quinet, 2000).

Segundo Soler (2013), na transferência, trata-se de uma esperança de um significante que vai interpretar o significante da demanda, a saber, a promessa suposta de um Dois, que venha a completar o Um.

Essa esperança vai ser forçosamente decepcionada.

Não é possível, já nos dizia Freud, reproduzir a identidade de percepção. Não é possível responder/corresponder ou completar a demanda.

Significante da demanda

O significante Sq se apresenta como inacessível, mas permite que se reproduza a série dos significantes inconscientes (S1, S2.........Sn) que não cessam de escrever os UNS da repetição, sem nunca achar um significante derradeiro do sujeito.

Em suma podemos afirmar ainda com Colete Soler (2013, p. 68) que

Pode ter havido uma confusão dos conceitos (repetição/transferência) confusão esta que Lacan teve de recusar. Era necessário proceder assim, pois se eles fossem confundidos, a análise seria impossível e nada mais faria além de reduplicar os impasses da neurose infantil por neurose de transferência, esta definitiva.φ

 

Referências

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Recebido em: 14/08/2020
Aprovado em: 18/09/2020

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