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Junguiana

versão impressa ISSN 0103-0825

Junguiana vol.35 no.2 São Paulo  2017

 

RESENHA

 

Etapas da família: quando a tela nos espelha

 

Review "Etapas da Família"

 

Reseña Etapas de la Familia

 

 

Celia Brandão*

 

 


RESUMO

Dada a importância do tema, a leitura do livro Etapas da Família, que reúne artigos de vários autores, todos analistas e terapeutas de família, faz-se necessária. O livro trata do processo de individuação da família, seus dilemas e conflitos.

Palavras-chave: família, individuação, psicoterapia.


ABSTRACT

Reading "Etapas da família", which brings together articles by family therapists and analysts, is important given the importance of the topic. The book deals with the family process of individuation, its dilemmas and conflicts.

Keywords: family, individuation, psychotherapy.


RESUMEN

Dada la importancia del tema, la lectura del libro Etapas de la Familia, que reúne artículos de varios autores, todos analistas y terapeutas de familia, se hace necesaria. El libro trata del proceso de individuación de la familia, sus dilemas y conflictos.

Palabras claves: familia, individuación, psicoterapia.


 

 

REIS, Marfiza Ramalho. São Paulo: Editora Appris, 2017.

O livro Etapas da família: quando a tela nos espelha, organizado por Marfiza Ramalho Reis, publicado pela Editora Appris e lançado em agosto de 2017, traz, sob a ótica de diferentes autores e abordagens, uma análise psicodinâmica, arquetípica e sistêmica da família, a partir das etapas simbólicas do seu processo de transformação. Entendemos o termo "etapas", usado no referido livro, como estruturas simbólicas de organização da família, partes de um sistema dinâmico de relações. A obra, que possui 218 páginas divididas em quatro capítulos, apresenta uma coletânea de artigos de profissionais que atuam na área de psicoterapia e de análise de família. A arte cinematográfica foi escolhida pelos autores para traçar analogias e descrever os diferentes momentos, conflitos, impasses e dilemas familiares.

O capítulo 1 do livro reúne artigos referentes a uma das etapas do processo de individuação da família a que os autores denominaram Infância. Os artigos desse capítulo versam, sob diferentes perspectivas de análise, sobre a fundação do casamento e da família do ponto de vista histórico, antropológico e psicológico. A história da família é alvo de reflexão a partir do processo de transformação do amor, das relações entre os gêneros e dos diversos modos de vida conjugal desde a perspectiva do grupo familiar, segundo o princípio de linhagem, até as várias formas de organização familiar contemporâneas. O casamento como instituição social é referido também como um caminho psicológico de desenvolvimento da identidade, no qual se humanizam os potenciais arquetípicos de união e de separação na díade eu/outro. Nesse primeiro capítulo do livro, os referidos temas são discutidos em artigos de Marfisa Ramalho Reis, Maria Elci Spaccaquerche e Suely Engelhard.

O capítulo 2 contém três artigos sobre a etapa de desenvolvimento da família aqui chamada de Adolescência. Os artigos das autoras, Iraci Galiás, Gloria Lofti e Maria Cecilia Veluk Dias Baptista, propiciam ao leitor múltiplas perspectivas de análise nas questões relativas aos papéis parentais principalmente nas seguintes situações de impasse familiar: adolescência dos filhos, doença ou limitações de um dos membros da família e estruturação de papéis parentais em relações homoafetivas. Os papéis parentais idealizados requeridos na infância da família para estruturação da autoestima e da confiança básica na relação entre pais e filhos são agora alvo de reflexão e revisão. Nessa fase da individuação familiar, a retirada das projeções e idealizações recíprocas na relação entre pais e filhos é vivenciada como um momento de luto que, quando saudável, propicia um espaço de empatia para a humanização do arquétipo de alteridade: requisito para relações entre pais e filhos baseadas no afeto.

O capítulo 3 trata da etapa designada como Maturidade, quando o casal que convive há muitos anos ou já criou seus filhos, ou quando os filhos se deparam com a necessidade de cuidar de um de seus pais precocemente senil e o arquétipo fraterno é requerido como mediador. O casal de muitos anos de convivência deve se renovar através de uma ativação do seu lado puer que se torna mediador do reencontro com a dimensão prazerosa e criativa da relação. Por outro lado, é abordada também a condição dos filhos frente à meia-idade ou adoecimento dos pais, quando se veem desafiados a rever a qualidade de suas relações fraternas e de cooperação mútua. A relação antes baseada na lei, no dever e nos papéis deve ser sucedida pela reciprocidade e maior simetria com o alvo de fortalecimento dos vínculos. Nessa parte do livro, contamos com os artigos de Vanda Di-Iorio Benedito, de Ana Cristina Bechara Barros Fróes Garcia e de Ana Maria Oliveira Zagne.

O capítulo 4, com artigos de Nairo de Souza Vargas, Irene Gaeta & Denis Canal Mendes e Marfiza Ramalho Reis, discute alguns cenários familiares na etapa ou ciclo vital Velhice. A polaridade arquetípica vida e morte emerge como campo de forças transformadoras para o casal ou para indivíduos que se encontram sozinhos nessa fase. Como em todo ciclo vital, observamos a importância do sacrifício simbólico para a elaboração de perdas que aqui se fazem presentes em maior proporção. O caminho percorrido a partir das idealizações das relações familiares na infância, alcançando a maturidade e, então a velhice, descreve a trajetória da transformação do ideal de perfeição até a completude, a aceitação de si mesmo e do outro, também no que se refere às limitações mútuas.

Na análise de famílias e casais, verifica-se que as disputas pelo poder nas relações, a rivalidade entre irmãos e a não aceitação das diferenças são fatores de desmembramento familiar. No referido volume, os conhecimentos dos autores se harmonizam para transmitir conteúdo de extrema importância para os profissionais que atuam como analistas, terapeutas ou que atuam junto a famílias em outras áreas. O uso do enredo de filmes para ilustrar os temas discutidos transforma um assunto complexo em análise palatável e de fácil leitura. A família como um organismo vivo sofre um processo de maturação para o qual a comunicação empática, o afeto, o diálogo e o autoconhecimento de seus membros são capacidades valiosas, senão imprescindíveis.

 

 

* Psicóloga e analista-membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica - SBPA/SP e da International Association for Analytical Psychology - IAAP desde 1993. Analista de indivíduos, casais e famílias, atua há 42 anos na área clínica. É supervisora e professora do curso de formação de analistas da SBPA, da qual foi diretora de ensino e membro do CEFA (Conselho de ética). É membro do Grupo de Estudos de Empresas Familiares do curso de Direito da Faculdade Getúlio Vargas - GEEF e, desde 2015, é diretora de ensino do Comitê Latino-americano de Psicologia Analítica - CLAPA.

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