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Junguiana

versão impressa ISSN 0103-0825

Junguiana vol.36 no.1 São Paulo jan./jun. 2018

 

ENSAIO

 

Presente à SBPA

 

 

Iraci Galiás

Médica psiquiatra. Membro-fundadora da SBPA. E-mail: imeg@uol.com.br 26/4/2018

 

 

Querida SBPA,

Hoje você faz 40 anos. Idade linda. Madura e jovem, combinação incrível. Cheia de vida e não mais principiante. Perguntada sobre que presente de aniversário eu gostaria de dar a você, me pus a pensar. Difícil, após tantos presentes seus, por mim recebidos.

Você cresceu e hoje tem muitos filhos. Que bom, vejo com admiração e gratidão como esses filhos cuidam bem de você! Merecidamente, pois você cuida deles com primor. Sua casa, sempre cheia, com tanta vida, requer cuidados. Que graça ver como esses filhos cuidam de sua casa! E como a movimentam, com eventos ricos, troca de conhecimento, de planejamentos, de encontros, de discussões, às vezes bem acaloradas, com concordâncias e discórdias, às vezes com serenidade e, em outras, nem tanta... Meu coração se enternece. E você merece. Você retribui muito, mostrando que vínculos são sempre mesmo como uma rua de mão dupla, com essa energia inquieta, que desacomoda, que às vezes até incomoda, mas que não para de circular. Vejo eventos, movimentos, vejo muito trabalho e também divertimento.

Voltando ao presente, qual seria? Não consegui chegar a um só. Pode ser dois? Acho que sim. Ou melhor, um só, porém composto de dois itens: uma viagem e uma joia.

A viagem seria com direito a você levar, se quiser, toda sua família. Para você ver e a eles mostrar toda a beleza do mundo, que contém também suas feiuras. Para você mostrar tanta coisa com que pudéssemos entender melhor a complexidade dos vínculos. As dificuldades e o gozo das relações entre pais e filhos. Esse binário difícil no vínculo de irmãos. De irmãos institucionais, com os quais brigar e o ficar de bem acontecem. Uma viagem rica em que você, SBPA querida, juntamente com desfrutar de filhos tão capazes, também os ajudasse a continuar cultivando, em sua casa tão fértil, a criatividade de tantos vínculos, o ir e vir precioso de tantas emoções doces e penosas, a partilha do conhecimento, da criatividade, das ideias, o acolhimento dos desentendimentos, a comemoração dos encontros. Uma viagem em que você pudesse ajudar os filhos a ter um olhar vasto o suficiente para ver que as diferenças devem caber, que as igualdades devem deleitar, que as críticas podem machucar, sim, mas também podem construir, se contidas nessa família maior, que de tão viva, pujante e profunda não para de crescer. Uma viagem na qual você pudesse, querida SBPA, mostrar a seus tantos filhos que crescer não é o mesmo que inflar. Crescer, sem perder a profundidade preciosa que você sempre teve, a ética básica e fundamental sempre buscada e por tantas vezes tão difícil de ser acordada entre todos, por sua inerente complexidade. Uma viagem mostrando a importância dos desejos, dos apegos, do carinho, da acolhida, do afeto. Uma viagem que passasse pelos caminhos da discriminação entre os opostos, do certo e do errado, do bem e do mal, do claro e do escuro, do que pode e do que não pode, do que deve e do que não deve ser feito. Uma viagem que mostrasse a importância de se relativizar os polos, que ensinasse a troca de lugar com o outro, tão importante para o exercício da convivência, para a busca de nossa inteireza. Uma viagem que passasse pela Terra da Sabedoria, mostrando ao mesmo tempo esse todo gigante de que se compõe nossa natureza e a diminuta centelha que somos no imenso Universo. Uma viagem que ressaltasse a dimensão ética, em seus diferentes princípios. Em um momento de tanto movimento à volta da triste corrupção em nosso país, gostaria de dar a você uma viagem que percorresse sem pressa os caminhos da ética, relacionada a todos os princípios, a ética do desejo e do afeto, da discriminação e das hierarquias, da interação simétrica e dialética com o outro, da ética para com o todo. Uma viagem que ressaltasse a importância de que não nos corrompa o poder, ainda que seja aquele trazido pelo saber. Que não nos corrompa nosso lado obscuro. Uma viagem, finalmente, pelos caminhos lindíssimos da luz e pelos caminhos profundos e às vezes tão dolorosos da sombra. Uma viagem rica, de conhecimento, de realizações, de espiritualidade, de alma e de muito amor.

A joia? Sim. Ao término da viagem, a joia merecida, de nome Individuação, que siga buscando o sentido da Vida, plena de símbolos. Afinal, somos junguianos. Esse gênio, mestre Jung, merece nosso reconhecimento amoroso.

FELIZ ANIVERSÁRIO, SBPA!

Com amor e carinho,

Iraci

26/4/2018

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