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Junguiana

versão impressa ISSN 0103-0825

Junguiana vol.37 no.1 São Paulo jan./jun. 2019

 

Editorial

 

 

A contribuição da obra de Carlos Byington afirma-se incontornável para a difusão do pensamento junguiano. Carl Gustav Jung procede a seus estudos iniciais sobre a investigação da psique em colaboração com Eugen Bleuler na Zurique do início do século XX e, após a profícua troca missivista e dos encontros em que coteja sua própria compreensão da psique com a teoria em construção por parte de Sigmund Freud, afasta-se da Escola de Viena e estrutura um arcabouço teórico que contaria com seguidores em muitos países. No Brasil, Byington foi um dos responsáveis pela introdução desses pressupostos teóricos, constituindo-se como um dos facilitadores para a recepção das ideias do analista suíço, tarefa que resultou na formação de muitos núcleos de estudos. Especialmente, participou como um dos membros fundadores da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA), em 1978.

Jung enfatiza a coordenação arquetípica do processo de individuação na segunda metade da vida, edificando os alicerces para o estudo do desenvolvimento normal e patológico da consciência individual e coletiva. Alguns pesquisadores como Michael Fordham, Erich Neumann, Jolande Jacobi e Edward Edinger aprimoraram pesquisas em que postulavam a formação do eu e da consciência, coordenados arquetipicamente, desde o início da vida. Todavia, as descrições das estruturações arquetípicas do Ego e da Sombra, a partir da infância, além da atenção especial aos conceitos de Símbolo, a Funções Estruturantes e suas fixações - as Defesas -, motivaram Carlos Byington a criar uma sistematização teórica própria, designada como Psicologia Simbólica Junguiana. Ao incluir contribuições modificadas de Jung, Neumann e da Psicanálise, além de pressupostos da Ontologia, da obra de Heidegger, das neurociências, entre outras fontes, o eminente analista paulistano de alma carioca erigiu um conjunto conceitual de fôlego.

O Conselho Editorial da Revista Junguiana homenageia uma obra com tamanha pujança com a seleção de 13 artigos, disponibilizados cronologicamente, o que permite contemplar a complexidade conceitual e a elaboração permanente de mitologemas e complexos culturais feitas pelo autor. Como pórtico a esses textos, publicamos mensagens de reconhecimento e saudade feitas por colegas que puderam compartilhar da afetividade inerente à sua presença, assim como da sua experiência. "Uma teoria simbólica da História: o mito cristão", "A morte e a ressurreição de Messias" e "Uma explicação arquetípica da crucificação" são artigos em que o mito cristão é amplificado, de forma a elaborar sua pertinência para a compreensão da Sombra cultural e do dinamismo de alteridade. O artigo "A democracia e o arquétipo de alteridade" tangencia essas premissas, assim como "A sombra e o mal: o paradoxo do Arquétipo Central", em que as formulações sobre esse constructo teórico são clarificadas. Outros arranjos que contribuem com o aperfeiçoamento dessa argumentação são feitos por Byington nos artigos "Ciência simbólica: epistemologia e arquétipo" e "Os sentidos como função estruturante da consciência".

A aplicação da Psicologia Simbólica Junguiana para a compreensão e o tratamento dos sofrimentos da alma constituiu outro legado desse clínico arguto, como se apreende a partir da leitura dos artigos sobre psicopatologia: "Amadeus: a psicologia da inveja", "A perspectiva simbólica do espectro obsessivo-compulsivo" e "Arte e psicopatologia". Finalmente, selecionamos artigos em que são eloquentes as amplificações sobre temas instigantes da subjetividade ou da cultura, como "Arquétipo da vida e da morte", "Futebol: a grande paixão do povo brasileiro" e "A difícil arte de amar".

Esperamos que essa antologia desperte o interesse pela obra de Carlos Byington para aqueles que a desconhecem e promova uma nova visita aos que são iniciados e se regozijaram pelo privilégio de assistir a e conviver com um pensador devotado à Psicologia Junguiana e que defendia, em inflexão emocionada, sua contribuição mais instigante para a clínica e para a cultura: o conceito de processo de individuação.

 

Boa leitura!

Os Editores

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