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Junguiana

versão impressa ISSN 0103-0825

Junguiana vol.37 no.1 São Paulo jan./jun. 2019

 

Carlos Amadeu Botelho Byington (1933-2019) excelência e honorabilidade

 

 

 

 

Carlos Byington - Criatividade e Sombra

 

Maria Helena R. Mandacarú Guerra

Email: mhrmguerra@gmail.com

 

 

Quando o amor e a convivência nos aproximam tanto de uma pessoa, fica muito difícil falar sobre ela sem que uma parte de nós mesmos se entranhe em nossas palavras e nosso olhar passe a ser mais subjetivo que objetivo.

Ciente deste risco, atrevo-me a escrever sobre Carlos Byington, meu marido e companheiro, médico psiquiatra, humanista, pensador, teórico e criador da Psicologia Simbólica Junguiana.

A primeira vez que li um texto de Carlos foi em 1975. A revista Planeta publicou sua palestra em homenagem ao centenário de Jung. Passados 10 anos de sua volta de Zurique, onde fez sua formação de analista junguiano, várias vezes Carlos se referiu a este momento como o retorno de sua criatividade.

Em 1978 estive no primeiro curso aberto que Carlos ministrou aqui em São Paulo: "Desenvolvimento Arquetípico da Personalidade". Entre outubro e dezembro a Academia Paulista de Letras, no Largo do Arouche, recebeu por 10 noites inúmeras pessoas ávidas por conhecer suas ideias. Em 13 de março, dia de seu aniversário, a SBPA havia sido fundada e o universo junguiano instalava-se em São Paulo causando um grande frisson. Anos mais tarde, Carlos gostava de dizer às pessoas que estávamos juntos desde então, embora ele sequer tivesse me visto e eu, nem na mais remota fantasia, pudesse imaginar o que viveríamos.

Carlos foi muitos. Não à toa assinava seus e-mails para a família como Carlos, papai, vovô e biso. Foi extremamente criativo, vibrante, profundo, gentil, amoroso, exuberante - para usar uma palavra que lhe era cara. Sim, Carlos era exuberante. Suas aulas e palestras eram marcadas pelo entusiasmo próprio de sua natureza dionisíaca. Culto, interessado em aprender, ávido por viver, dedicado a transmitir suas ideias e conhecimento, seu processo de individuação era inseparável da construção de sua obra.

Tive o privilégio de viver o século XXI a seu lado. Exceto quando estávamos em nossos consultórios, passávamos praticamente todo o tempo juntos. Em nossas vidas muitas coisas poderiam acontecer - e aconteceram - mas tédio, jamais! Carlos sempre tinha uma ideia a desenvolver, um livro para escrever, um tema para elaborar, algo para descobrir e compartilhar. Seu universo era extenso e profundo, e estar com ele era ser constantemente estimulada, desafiada, incentivada, provocada.

No ano passado, quando estivemos em Bogotá para aquele que seria seu último congresso latino-americano, visitamos a Catedral de Sal. Fui surpreendida por um pedido de casamento e pela realização de uma cerimônia só nossa, testemunhada por Rita, sua filha e minha grande e querida amiga. Era Carlos me surpreendendo uma vez mais.

Embora Carlos dissesse que, no fundo, ninguém conhece o Outro, eu o conhecia bastante a ponto de poder imaginá-lo lendo este pequeno texto e dizendo: - "E a Sombra? Onde está a Sombra?"

Carlos não gostava de unilateralidade, e menos ainda de imaginar alguém sem Sombra. Dourar a pílula, ou - para de novo recorrer a uma expressão que ele usava - "passar a mão na cabeça da defesa", não era com ele. Enquanto lhe foi possível, buscou elaborar sua Sombra como poucos. Tinha tal desenvoltura com este processo, que nem sempre agradava seus interlocutores, em geral menos familiarizados do que ele com a própria Sombra e incomodados com o que lhes era apontado. O rigor que tinha com os outros, tinha com ele próprio. Lembro-me que, no início do nosso relacionamento, uma das coisas que mais me atraiu nele foi sua capacidade de encarar e elaborar a Sombra e, uma vez tendo percebido o erro, transformar sua atitude ou comportamento.

Carlos viveu intensamente. Permaneci a seu lado até que partiu para onde não me foi dado acompanhá-lo. Generoso, deixou a todos nós uma obra profunda e abrangente. Comigo, dentre tantas vivências, trago o som de sua voz amorosa cantando para mim, quando sua chama já estava por se apagar, "é o amor..." e a foto que pediu para tirarmos juntos - símbolos vivos do amor que nos uniu.

 


 

Passou... 10/02/2019

 

Gustavo Orlandeli Marques

Email: quironyoda@yahoo.com

 

 

Passou a brisa, o dia;
Passou o riso, a alegria;
Passou a letra, a melodia;
Passou o dia, a vida.

Experiência e sabedoria;
Insistência e teimosia;
Inovação, nova teoria;
Dentro e fora da academia.

O que passou mesmo foi a rima;
Poesia agora sem imaginação ativa;
Passou a traquina alma em alquimia;
Um mestre, última lição que nos ensina.

Passou agorinha mesmo por aqui;
Parece que já era eterno quando primeiro vi;
Me fez lembrar que já já me farei ir;
Que passou por mim e mal vi;
E ainda me fez lembrar que me encontrarei com ele ...logo ali.

Ao Mestre Byington

Obrigado

Abraço

 


 

Ao BYINGTON,

 

Iraci Galiás

E-mail: imeg@uol.com.br

 

 

Partiu dentre nós colega importante, por tanto tempo amigo, mestre, com sua criatividade ímpar.

Receba minha gratidão e reconhecimento eternos, por todo o aprendido e por todo o recebido, em momentos tão difíceis de minha vida.

Que a criatividade, sua marca registrada intensa, acompanhe você.

Byington, seja qual for sua forma de existir. Que sua lembrança em nossos corações, pensamento e almas continuem dando frutos, fertilizando como tantas vezes o fez. Que nossa gratidão chegue a você.

Um abraço amigo.

 


 

Carlos Byington,

 

Nairo de Souza Vargas

E-mail: nairosvargas@gmail.com

 

 

Faleceu um colega, amigo e mestre. Conhecemo-nos em 1975, centenário de Jung. Convidamos professores de outros países, para nossos estudos. Por sugestão de Guggenbühl, então presidente da IAAP, fundamos nossa querida SBPA, motivo de orgulho e realização para todos nós.

Byington, você fará falta. A SBPA sabe disso. Você cumpriu sua missão e realizou seu sonho de vida. Vá em paz e certo de que sua memória permanecerá entre nós, que tanto aprendemos com você.

Um obrigado amigo.

 


 

Homenaje Carlos Byington

 

São Paulo, 11 de febrero de 2019

Mensaje de la Sociedad Uruguaya-Argentina de Psicologia Analitica (SUAPA)

 

 

A nuestro Querido Profesor Carlos Byington,

Desde hace mucho tiempo, Carlos nos acompaña amorosamente con su sabiduría, integridad y generosidad y le estaremos siempre agradecidos.

Analista de varios, supervisor de otros, profesor de tantos pero siempre con una actitud tan aguda como respetuosa. Desde su conciencia cósmica nos interpela y nos invita a pensar; desde las Marionetas del Self a sus ampliaciones en la concepción del psiquismo Junguiano.

Ante todo, Carlos era un apasionado de la vida y sabía trasmitir con pasión, creatividad y humor sus conocimientos, que él mismo cuestionaba, con mucho coraje y valentía.

Los infinitos mensajes de cariño y respeto que hemos recibido de los colegas, dan cuenta que su misión fue más que cumplida y a través de sus seminarios, conferencias y libros nos deja un legado muy importante; el desafío a re-pensar el paradigma Junguiano. Ya es hora de disfrutar de un merecido descanso en paz y en amor.

Honrarlo es celebrarlo como el Maestro que fue pero que seguirá estando vivo en nosotros.

Infinitas Gracias Querido Carlos! Te vamos a extrañar

Los analistas de SUAPA.

 


 

Mensaje de la Sociedad Peruana de Psicologia Analitica (APPA) - Grupo de Desarrollo de Peru. Despedida a un gran maestro

 

 

Hoy se nos fue un gran maestro, aquel que rodeado de sus marionetas nos hablaba y nos enseñaba sobre la alteridad, las funciones estructurantes, los símbolos, las fases de la vida, la imaginación activa, las emociones, de Freud, de Jung, construyendo puentes y unificando. Siempre desde la mirada creativa, alegre, generosa, exuberante de su personalidad. Tanto por agradecerle, su obra y sobre todo su vitalidad, su amor por la vida y el Eros que transmitía a todos los que tuvimos el privilegio de ser sus alumnos.

En su libro de El viaje del Ser en busca de la eternidad y el infinito hay un párrafo que nos habla de éste momento de despedida: "del gran viaje de la encarnación del Ser y de las transformaciones por las cuales pasamos desde que nacemos hasta ir comprendiendo mejor lo que nos sucedió. El desapego del cuerpo físico no es una despedida, ocurre por sí solo, por el propio cuerpo que empieza a retirarse. Él ocurre en el Kairos del cenit del Ser que trae la posibilidad de un extraordinario aumento de conciencia para conocer mejor un lugar donde siempre estuvimos"

El maestro emprendió su viaje iniciático, el viaje cósmico para el encuentro con el Espíritu de la Creación y de la Totalidad. Buen Viaje Maestro!!

 


 

Mensaje de la Sociedad Uruguaya de Psicologia Analitica (SUPA)

 

La Sociedad Uruguaya de Psicología Analítica, haciéndonos eco del sentir de tantos miembros de nuestra comunidad,queremos enviarles, primero que nada, a nuestros hermanos brasileros un mensaje de unión y de afecto frente a esta orfandad común. Que el dolor pase y que en el recuerdo de su vida encontremos el consuelo.

Hace más de cuarenta años que este hombre desembarcó en Uruguay y nos conquistó para siempre.

Nos enseñó, nos peleó, nos animó. Nos reímos, pensamos y nos maravillamos frente a su visión de la Psicología, del mundo y de la vida.

Cuando quisimos acordar, estaba instalado en nuestro corazón, como si se tratase de un destino que no sabíamos que ocurriría, pero que aceptamos y que ya nunca nos dejó.

Creemos que tampoco nos dejará de ahora en más, porque dejó instalada en nosotros su visión cósmica de la vida humana, en la que la unidad no se pierde con la muerte y sigue existiendo por los siglos de los siglos.

A su familia, nuestro más sincero agradecimiento por haberlo sostenido desde siempre.

En nombre de SUPA, sus amigos y devotos.

 


 

Pilar Amenzaga

Email: pilar.amenzaga@gamil.com

 

La relación de los uruguayos con Carlos duró 40 años. Comenzó con el encuentro de Carlos con Mario Saiz en un Congreso de Psiquiatría en Rio de Janeiro y terminó físicamente con las palabras de Mario, en su nombre y en el nuestro durante su velatorio.

Nos fue educando en Psicología Analítica y en el análisis junguiano, como debe ser, a la manera de Carlos Byington: gracioso, interesante, profundo, cariñoso, siempre asombrado ante el misterio de cada persona y dispuesto a recorrer junto a nosotros los caminos nuevos que se nos iban abriendo.

Supo conjugar para nosotros la fiesta brasilera con la seriedad uruguaya. Nos tocó, nos reímos, lloramos y nos recostamos en él, siempre imprevisiblemente confiable.

Cuando llegó a Uruguay y dio su primera conferencia allá por 1980, supimos que habíamos sido conquistados para siempre. Como amigo fiel, él volvió todos los años, todas las veces que se lo pedimos. Contagió al público que asistió a sus conferencias y a sus alumnos de los cursos de la Maestría en Psicoterapia Junguiana que se dicta en la Universidad Católica de Uruguay desde 1994.

Nos contagió primero que nada de entusiasmo, de querer saber más, de imaginar abordajes terapéuticos nuevos, de pensar a las personas unidas a la totalidad y por lo tanto participando de lo eterno en el hombre. Su Psicología Simbólico Arquetípica, su obra maestra, ha dejando en nosotros una profunda huella en la comprensión de la Psicología Analítica.

Podíamos mirar hacia San Pablo y rezar una oración secreta a Dios por haberlo conocido, por haber tenido la inmensa fortuna de poder contar con é l y con su enorme amor y sabiduría.

Pionero y fundador, guerrero y sabio, buscó incansablemente él también, como Jung, "adentrarse en el secreto de la personalidad humana" con una ética de alteridad extraordinaria.

Esperemos, los que lo hemos seguido y querido, que el dolor pase y que en el recuerdo de su vida hallemos el consuelo para la partida de un Maestro-Amigo.

 


 

Al Querido Maestro-Amigo

Mario Saiz

Email: esaiz@netgate.com.uy

 

Ahora quisiera decirles personalmente que estos mensajes que he leído son ejemplos que nos traen el sentir profundo de tristeza y admiración de los analistas y routers de latinoamerica ante la partida Carlos, recordemos que hace más de 35 años viajaba a Montevideo, participando en la Maestría en Psicoterapia Analítica en Latinoamerica, viajando luego a Santiago de Chile en otra Maestria en Psicología Clínica, a Quito en la formación de los routers, a Caracas en varias ocasiones, en Lima hace dos años, y finalmente en nuestro último Congreso latinoamericano en Bogotá… ese es el legado de su presencia, sus conferencias, sus talleres, sus supervisiones, sus analisis con mucho de nosotros, sus encuentros, recuerdo que hace pocos años en uno de esos encuentros, luego de terminar un seminario, me decia: a veces me parece que no leen lo que escribo, y yo le decía, bueno no es eso, es que lo tuyo requiere estudiarlo, pensarlo, reflexionar, no solo leerlo. Y por ahí nos íbamos Y se quedaba pensando

Ese es el legado de su presencia, pero ahora tenemos ademas el legado de su ausencia que es otra presencia: la de su obra en el dominio de la psicologia, de la pedagogia, del arte, de la cultura, de la historia, y de la clinica el nos enseño una manera especial del sentir, del pensar, del intuir, con una actitud y un modo propiamente simbólico, origen de su pensamiento más creativo y más propio, y por momentos el más íntimo.

No podemos sintetizar aquí un pensar tan vasto, pero si podemos hablar de un comienzo que marca su desarrollo posterior: su lado creativo y lúdico se inicia en su tesis de Zurich, sobre dos opuestos que se unen, Freud y Jung, y asi se va introduciendo con fuerza y convicción en la importancia arquetípica de la alteridad, alteridad en las relaciones humanas, en la amistad y en el pareja, entre los opuestos, y por ahí se va deshojando un nucleo de saber sobre lo simbólico que recorre todo su pensamiento y su obra, asi como también su vida. No hay alteridad sin la dimensión de lo simbólico, y ese es el comienzo de un llamado potente, propio del siglo XXI, que nos impele a continuar explorando y transitando por ese camino

Carlos ha sido, como lo llamaría Sócrates, un maestro-amigo. Nos enseño el amor por el conocimiento, y mejor aún, el amor por el saber, nos trajo a la experiencia del saber al convocarnos a encuentros más personales, más íntimos, pero de la intimidad de quien busca la verdad, la plenitud, la conexión cósmica, de esto se trata su obra sobre la psique humana y la psique del cosmos: el amor por el alma, la psique y la vida.

No hay palabras para despedirlo, hay solo sentires para el maestro-amigo, sentires que como la naturaleza misma aman ocultarse, para un día despertar plenos de fecunda energía, plenos de Sophía, plenos de pasión por una vida nueva, una vida que re-nace con la fuerza del Eros que Carlos encarna en nosotros!

Un abrazo grande y profundo, una abrazo cósmico para Carlos, y para todos ustedes.!

 


 

Meu Encontro com Carlos Byington

 

José Raimundo Gomes

Email: jrgomespsi@yahoo.com.br

"... ele (Jung) gostaria que as pessoas percebessem Deus presente nas coisas mais simples da vida como manifestação da sua grandeza absoluta e eterna".

Carlos Byington no vídeo documentário JUNG E O OCULTISMO. Entrevista aos psicólogos José Raimundo Gomes e Carlos Augusto Silva.

1) Conheci CARLOS BYIGNTON afundado numa crise existencial. Estava no 4º período do curso de psicologia e acabara de me deparar com um livrinho chamado FUNDAMENTOS DE PSICOLOGIA ANALÍTICA, de um autor completamente desconhecido para mim. Chamava-se CARL GUSTAV JUNG.

2) Naquela ocasião, minha vida era perambular pelo centro da cidade do Rio de Janeiro vasculhando sebos e livrarias em busca de algum conhecimento que inferisse sentido ao meu conturbado mundo interior.

3) Eu devorava toda sorte de literatura psicológica que atravessasse o meu caminho, mas ao me deparar com os "FUNDAMENTOS" tive a sensação de que estava diante de um homem que realmente falava com o coração.

3.A) Foi então que Eu quis ler tudo sobre aquele autor, mas naquela ocasião "FUNDAMENTOS" era o único livro disponível de CARL JUNG em língua portuguesa.

4) Eu não tinha a menor ideia de que existiam analistas junguianos espalhados pelo mundo até me deparar com um artigo de um certo CARLOS BYINGTON publicado numa revista chamada PSICOLOGIA ATUAL. O artigo era uma análise junguiana do filme O ILUMINADO do cineasta americano STANLEY KUBRICK.

5) Fiquei muito impressionado com o artigo. Naquela época eu exibia um comportamento estranho. Quando gostava de um determinado livro procurava saber se o autor residia no Rio de Janeiro. E se residisse, ia até um "orelhão", telefonava para o indivíduo e perguntava se podia me receber para entrevista-lo sobre o tema abordado no livro. Conheci muitas pessoas interessantes usando esse estranho método de aprendizagem.

6) Agi exatamente assim com CARLOS BYIGNTON. Descobri o telefone de seu consultório e marquei uma entrevista com sua secretária. Mas neste caso, não se tratava de uma entrevista sobre o tema abordado na revista. Eu precisava urgentemente de um "hierofante" que ajudasse a tornar minha vida angustiada em uma vida possível.

7) Tinha por volta de 23 anos naquela época. Frente a frente com CARLOS BYIGNTON derramei minhas mágoas, elenquei um por um dos meus traumas infantis, citei Freud, Adler, Klein e outras autores para finalmente dizer que um certo CARL JUNG, a quem acabara de conhecer no balcão da livraria Vozes, havia me tocado profundamente e eu senti que o meu coração ansiava por aquele alimento vital.

8) Mas o pior ainda estava por vir.

Dr. CARLOS BYIGNTON me escutava atentamente e mal se mexia em sua cadeira. Depois de derramar todas as minhas neuroses sobre o seu colo eu o encarei e respirando fundo busquei coragem nas minhas entranhas para dizer: eu não tenho dinheiro para pagar a análise.

9) De súbito a sua fisionomia séria e atenta cedeu a uma gargalhada estrondosa. Fiquei paralisado pois não consegui compreender o que exatamente aquela ruidosa gargalhada poderia significar. Lentamente seu rosto foi perdendo as marcas do sorriso, tornou-se sério e um profundo silêncio se fez no consultório. Formou-se uma certa tensão no ar. Ouvia-se o zunido do silêncio e também as batidas do meu coração. Eu não teria outra chance...

10) Tinha feito duas ou três tentativas de análise antes de estar ali, mas abandonei todas elas imediatamente ao iniciar... careciam de vida. Mas diante de CARLOS BYIGNTON, que eu nunca tinha ouvido falar e que só o conhecia do artigo que lera na revista que comprei numa banca de jornal, tive a certeza de que encontraria partes essenciais de minha alma, que se revelavam a mim sob a forma intolerável de dor psíquica.

11) Ele levantou os olhos e me fitou com uma certa violência, como se quisesse vasculhar meu inconsciente para em seguida dizer: não sei por que, mas sinto que devo recebê-lo.

12) Ao ouvir essa declaração experimentei uma felicidade indizível pois tinha absoluta certeza de que aquele espaço sagrado era o lugar familiar que a minha alma procurava para revelar-se.

13) Não tive a impressão de que se tratava de um ato caridoso dele para comigo. Acho que BYIGNTON sentiu que havia alma na minha vida. Não porque eu me tornaria um arauto da psicologia analítica, ou porque me tornaria analista junguiano, doutor ou pós doutor. Não me tornei nada disso! Não sinto que tenha me visto como uma promessa futura. Acho que BYIGNTON simplesmente me aceitou porque viu que algo em mim queria que eu me tornasse quem eu sou e isso foi suficiente para que me aceitasse como seu paciente.

13.A) Ele era um homem completamente seduzido pelo Self e jamais viraria as costas para sua vocação de grande sacerdote da alma.

14) Durante 5 anos fui ao Leblon ser atendido por ele. Um homem extraordinário, de uma sensibilidade igualmente extraordinária. Os balbucios do meu ser inconsciente ganharam locuções límpidas, serenas e conscientes através das interpretações de CARLOS BYIGNTON e o aprofundamento nos estudos da psicologia de CARL JUNG.

15) Da juventude dos meus 23 anos até o início de minha velhice nos meus atuais 60 anos há um espaço de tempo importante. Tantas coisas aconteceram, meu Deus! E eu me sinto tão bem, tão feliz com todas as minhas infelicidades que constituem a eterna polaridade LUZ e SOMBRA que nos abraça por dentro.

16) Através da análise com BYIGNTON pude compreender que somos uma espécie de usina transformando em luz tudo que nos chega da escuridão do nosso ser profundo. Somos um Self que flui, que chega, que nos convida a compreender, a sentir, a saber.

17) Olhando retrospectivamente esse encontro compreendo perfeitamente que CARLOS BYIGNTON não era para mim uma pessoa, se é que alguma vez o foi, e tornou-se um símbolo estruturante (ele adorava essa expressão!), um anjo bom ou, se preferimos usar uma linguagem mais rebuscada, um objeto mental introjetado com sucesso ou mesmo, como diria BION, uma FUNÇÃO PSÍQUICA da ARTE DE COMPREENDER os SÍMBOLOS.

18) Depois que CARLOS BYIGNTON foi para São Paulo praticamente não o encontrei mais excetuando-se quando lhe convidei para gravar um vídeo documentário que estava produzindo chamado JUNG E O OCULTISMO. Ele aceitou o convite e gravamos esse trabalho aqui no Rio de Janeiro.

19) Por volta de uns 6 meses atrás pedi a uma amiga da SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOLOGIA ANALÍTICA (SBPA) que me avisasse quando ele viria ao Rio. Senti vontade de vê-lo. Meditei sobre esse desejo e tive certeza de que não mais o encontraria. Não fiquei triste pois reconheci claramente que era essa a vontade do destino.

20) Soube da homenagem que seria prestado a ele na CASA QUINTAL no dia 13 de março, através de uma amiga que é bordadeira! Não fosse ela me enviar o informativo do encontro eu não teria sabido desta homenagem.

21) Como bom junguiano que sou julguei que CARLOS BYIGNTON estivesse por trás da inusitada situação que envolveu a bordadeira e que quisesse a minha presença. Desmarquei o consultório e fui "ao seu encontro".

22) Por fim, devo dizer que estou muito contente do destino ter me dado essa oportunidade de conhecer esse homem que "salvou a minha" vida. Parece tolo falar assim dessa maneira, "salvou a minha vida"! mas não me incomoda vez por outra me expressar como um tolo.

23) Ademais, CARLOS BYINGTON não foi o único a "me salvar", mas inegavelmente tudo começou na RUA ALMIRANTE PEREIRA GUIMARÃES, quando um garoto pobre, angustiado e sozinho encontrou alguém que falava com o coração.

Que Deus o receba na sua plenitude eterna.

 


 

Sem raiz não há frutos!

 

Prof. Dr. José Jorge de Morais

Zacharias Associação Junguiana do Brasil - AJB Email: zacharias@terra.com.br

Como diz a sabedoria, pelos frutos conheceremos a árvore, o que vale considerar o caminho inverso desta reflexão: sem raízes não há frutos!

Nossa tradição de investigação da Alma vem de longa data, oriunda nas práticas tribais, passando pelas correntes religiosas, pela alquimia e subjetividades do conhecimento, chegando à filosofia e à ciência contemporânea. Um longo caminho que tem nomes bem conhecidos como Platão, Agostinho, Boehme, Mesmer e Jung. Um edifício sólido e antigo na investigação profunda da psique, como um zigurate a perscrutar o infinito.

Esta tradição chegou a nós nas obras iniciais de Nise da Silveira, Sandor, Bonaventure e alguns poucos colegas que deram origem ao movimento junguiano no Brasil, dos quais Dr. Carlos Byington é um importante protagonista. Sua fundamental contribuição no estabelecimento da primeira associação de formação analítica no Brasil, a SBPA, e a constante atividade de pesquisa e ensino da Psicologia Analítica em nosso meio, possibilitou a disseminação da abordagem de Jung, o conhecimento mais amplo de termos analíticos e a formação de analistas e pesquisadores dando continuidade à construção deste edifício de conhecimento.

Enquanto esteve entre nós, muito contribuiu, muito ensinou, com profundidade e simpático humor inteligente. Minha experiência pessoal com o mestre sempre foi muito agradável e acolhedora. Agora, não tendo mais a presença física do colega e professor, Byington passa a compor o corpo histórico da Psicologia Analítica juntamente com os luminares que o antecederam. Ficam os frutos deste vasto trabalho, de sua Alma; sua obra, seus ensinamentos, a lembrança dos encontros e a gratidão. Agora ele é mais uma estrela na grande constelação junguiana, ou inversamente, na raiz de nossa tradição!

 


 

Querido Byington,

 

Maria Cecilia Fava Pestana

Email: ceciliafava@gmail.com

Minha eterna gratidão por ter compartilhado, por anos, de sua criatividade, seu pensamento, seu fascinante percurso pelo simbólico, seja na psicologia, nas artes plásticas, na literatura, no cinema. Um profissional questionador, inovador, fiel ao contínuo processo de ampliação da consciência, inclusivo e de grande generosidade. Inquestionável sua valiosa contribuição à Psicologia Analítica.

Inspiração eterna!

Descanse em paz.

 


 

Byington

 

Arnaldo Motta

março/2019 Email: arnaldomotta@uol.com.br

Uma luz,
que a muitos inspirou
com sua vibração intensa
e saber inesgotável.

Uma criatividade,
que soube transformar
a inquietação em palavras
professadas com generosidade,

Um guerreiro,
que muitas lutas lutou
e, com sua força,
abriu caminhos para que pudéssemos seguir.

Obrigado Mestre!

 


 

Susana Toloza

Presidenta Sociedad Chilena de Psicología Analítica, SCPA Email:susanatoloza@gmail.com

 

 

Quiero con estas palabras reconocer y agradecer al maestro dr Carlos Byington por toda su sabiduría y experienica compatida, en lo personal él fue un inspirador, un héroe capaz de incitar a los junguianos a renovar la mirada y pensar-nos , un ejemplo vivo de una vida que logra profundizar en la capacidad creativa del ser humano , con valentía y compromiso. Fue y será un modelo de ser humano, cercano, disponible, un maestro que iluminó el camino de la vida simbólica arquetípica, la experiencia simbólica, de la vida del alma.

También escribo unas palabras hacienda eco del sentir de Sociedad Chilena de Psicología Analítica , como presidenta de la SCPA agradezco el acompañamiento, la formación y la amistad construida después de al menos 15 años, de frecuentes visitas a Chile, donde generosamente compartió su pensamiento y su quehacer, con una gran vehemencia y compromiso con la psicologia analítica, instándonos siempre a ir más allá, buscando construir nuestro propio camino de individuación.

Fue un gran inspirador y formador de los analistas en Chile y un gran motivador para que muchos otros profesionales de la psicología y psiquiatría se interesaran por la formación junguiana en psicoterapia. Sus enseñanzas estarán siempre presentes al realizar nuestro oficio tan amado y valioso.

Una de sus útilmas enseñanzas que tuve el honor de recibir fue el valor de la meditación en el camino hacia el desapego, para transitar a una nueva vida, y así haciendo honor a su búsqueda nos ha dejado para hacer su último viaje hacia la eternidad y el infinito, tal como tituló su ultimo libro.

 


 

Honrando a Carlos Byington

 

Carmen Pinto

Psicóloga Sociedad Chilena de Psicología Analítica, SCPA. Email: carpinto2000@gmail.com

 

 

Apareció con su caminar suave y bondadoso iluminando la sala. Era como la reencarnación de Jung, al menos así lo imaginaba y me llegaba su espíritu.

Fue encantándonos con sus palabras y su sabiduría, y empapando todo con su humanidad, su autenticidad, su ser sin máscaras.

Honro y agradezco el haber tenido el privilegio de conocerlo y recibir sus enseñanzas. Profundos y poderosos misterios de la psiquis , expresados con esa cercanía y simplicidad que sólo tienen los verdaderos maestros que han alcanzado la síntesis.

Buen Viaje querido Carlos!

 


 

 

Marilene Rodrigues Fernandes Analista membro IAAP e Sócia Fundadora S.C.P.A Email:marilene.rodriguesfernandes@gmail.com

Doutor Byington foi meu professor no Brasil e depois

no Mestrado Junguiano do Chile. Pude assim testemunhar sua entrega e disponibilidade ao levar seu conhecimento e experiência para muitos alunos e além das fronteiras. Sua didática e carisma permitia compreender conceitos densos com humor e suavidade transpondo diferenças culturais e de idiomas, legitimando assim o quanto a emoção também é capaz de integrar.

Meu respeito e agradecimento profundo ao mestre além de fronteiras, que fez de seu exercício de ensino na experiência de alteridade inspiração para muitos.

 


 

Lagostas

 

Henrique Torres Email: torreshim@uol.com.br

No auge dos dezesseis, dezessete anos, percebendo que a vida não é o que as pessoas diziam, percebendo que a vida é o que a VI-DADÁ.

O pianista famoso não passeia com seu filho.

As famílias não são o que elas parecem ser.

Eis que - um presente - Carlos Byington me convida para pescar lagostas com ele na Bahia de São Salvador.

Uma pequena lancha, motor de popa, um marinheiro, e lá vamos nós.

Ganchos na mão, lagostas no fundo do mar

Primeiro mergulho:

Eu:

- Não vi nada.

Ele:

- Não viu as lagostas no fundo?

-Não.

- Então vamos mergulhar de novo.

E assim fizemos. Uma, duas, três, quatro vezes. Até que eu vi.

Um mar de lagostas no fundo do mar.

Sem saber, minha primeira aula de análise: quantas vezes temos que mergulhar para enxergar.

Um detalhe: na volta, rebocando a pequena lancha quebramos na estrada e eu passei três horas sentado debaixo da lancha numa estrada no interior da Bahia. Bizarro.

Sentado na beira do cais

Uma enseada em Angra dos Reis. Numa ponta, a casa que eu ficava, do meu padrasto. Na outra ponta, Carlos Byington e sua família. Entre as pontas, muitos barcos. Numa tarde, ele com duas varas de pescar, de bambu, me chama para a beira do cais. Logo percebi que ele não estava pescando. Como se diz, "estava dando banho na minhoca". E chorando. Nada comentei, e nada pescamos. A não ser eu aprender que o sal das lágrimas volta para o mar.

Consultório

Freud, Jung e Carlos Byington. Alguns anos.

Tangerina

Os homens, com seus meridianos, dividiram o mundo em gomos. Como uma tangerina, ou será mexerica, ou será poncan? O fato é que os paralelos unem os gomos. Não existe pecado do lado debaixo do Equador. Nem do lado de cima, diz alguém no fundo da sala. Equador, Capricórnio, Câncer. Cada um com seu gomo. Cada gomo com seu caroço.

Amor

"Todos os caminhos levam à ROMA". Isto é, todos os caminhos levam ao AMOR. Espalhado pelo mundo, o AMOR nos une.

Se o que faz o caminho é o caminhar, não seguimos todos a mesma trilha, mas vamos todos ao mesmo lugar.

Um caminho tem que bifurcar. Do contrário, só haveria o caminho de Compostela. Assim é. Que cada um, em sua 'derrota náutica', há de chegar lá.

Obrigado, nunca.

Grato, para sempre.

 

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