SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.47 número4Depressão e bem-estar subjetivo em crianças e adolescentes: teste de modelos teóricos índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Psico

versão On-line ISSN 1980-8623

Psico (Porto Alegre) vol.47 no.4 Porto Alegre  2016

http://dx.doi.org/10.15448/1980-8623.2016.4.23703 

ARTIGO ORIGINAL

 

Análise do comportamento sexual de risco à infecção pelo HIV em adultos da população em geral

 

Analysis of sexual risk behavior for hiv infection in adults in the general population

 

Análisis de la conducta sexual de riesgo a la infección por el vih entre adultos de la población general

 

 

Thalita Galeno Pereira; Ludgleydson Fernandes de Araújo; Fauston Negreiros; Raimundo Nonato de Sousa Barros Neto

Universidade Federal do Piauí, PI, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Objetivou identificar e comparar os comportamentos sexuais de risco e sua relação com o sexo, idade e religião. Participaram 596 adultos da população em geral, de ambos os sexos, com idades variando entre 18 a 73 anos (M = 27,31 DP = 9,37), sendo 59,2 % do sexo feminino, estado civil solteiro (76,2%), deste total 83,2% se declararam heterossexual. Utilizou-se como instrumento questionários sobre dados sociodemográficos e comportamento sexual. Para análise dos dados utilizou-se o pacote estatístico SPSS versão 22. Identificou-se que as relações sexuais sob o efeito de substâncias psicoativas foi predominante entre homens. Em relação às diferenças dos comportamentos sexuais dos grupos de idades, neste estudo foi identificado que as pessoas da população em geral com idades de 18-41 anos em sua maioria tinham uma vida sexual ativa. Espera-se que estes dados possam subsidiar futuras intervenções em saúde para prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

Palavras-chave: Comportamentos sexuais de risco; Adultos; População em geral; HIV; DST.


ABSTRACT

The aim of this study was to identify and compare sexual risk behavior and its relationship to gender, age and religion. The study included 596 adults from the general population: ages ranged from 18 to 73 years (M = 27.31 SD = 9.37), 59.2% were female, 76.2% had a single marital status and 83.2% declared themselves as heterosexual. Questionnaires on sociodemographic data and sexual behavior were used as the instrument. For data analysis the statistical package SPSS version 22 was used. It was found that sexual relations under the influence of psychoactive substances were prevalent among men. With regard to differences in sexual behavior of age groups, the study found that the majority of people in the general population aged 18-41 had an active sex life. It is expected that these data may support future health interventions to prevent sexually transmitted diseases.

Keywords: Sexual risk behaviors; Adults; General population; HIV; STD.


RESUMEN

Tuvo como objetivo identificar y comparar el comportamiento sexual de riesgo y su relación con el sexo, edad y religión. Participaron 596 adultos de la población general de ambos sexos, con edades comprendidas entre 18 y 73 años (M = 27.31; SD = 9,37) y el 59,2% mujeres, estado civil soltero (76,2 %) de este total el 83,2% se declararon heterosexuales. Fue utilizado como un instrumento cuestionarios sobre el comportamiento sociodemográfico y sexual. Análisis de los datos utilizó el paquete estadístico SPSS versión 22. Se encontró que las relaciones sexuales bajo la influencia de sustancias psicoactivas era frecuente entre los hombres. Con respecto a las diferencias en el comportamiento sexual de los grupos de edad en este estudio se identificó que las personas de la población general de 18-41 años en su mayoría tenían una vida sexual activa. Se espera que estos datos puedan ayudar en las intervenciones de salud en el futuro para prevenir las enfermedades de transmisión sexual.

Palabras clave: Comportamientos sexuales de riesgo; Adultos; Población general; VIH; ETS.


 

 

A expansão da terapia anti-retroviral propiciou uma melhoria do estado imunológico das pessoas vivendo com HIV, o que resultou em grandes reduções na morbidade e mortalidade pela AIDS, o que melhorou significativamente a qualidade de vida das pessoas com HIV/AIDS (Araújo, Teva, & Bermúdez, 2014). No entanto, a população adulta é um grupo crescente nos novos diagnósticos de infecção pelo HIV devido à emissão de comportamentos sexuais de risco, que é entendido como o não uso do preservativo nas relações sexuais, múltiplos parceiros sexuais, o início precoce das relações sexuais e o uso de substâncias psicoativas durante as relações sexuais (Bermúdez, Araújo, Reyes, Hernández-Quero, & Teva, 2016).

A literatura científica tem identificado os comportamentos sexuais de risco entre pessoas soropositivas e soronegativas para HIV. Em Pesquisa de Conhecimentos, Atitutes e Práticas na População Brasileira (PCAP), verificou-se que 25,10% dos entrevistados haviam tido a primeira relação sexual aos 15 anos de idade, 94,00% consideram o preservativo como a melhor forma para prevenir às doenças sexualmente transmissíveis (DST) e HIV. Apesar destes dados, somente 45,00% disseram ter feito uso do preservativo nas relações sexuais (Ministério da Saúde, 2013). Em estudo recente, identificou-se entre pessoas vivendo com HIV que 98,23% não faziam uso do preservativo nas relações sexuais (Cavalcanti, 2015). Por último, foi demonstrado entre mulheres piauienses que a maioria não faz uso contínuo do preservativo (Sousa, Espírito Santo, & Motta, 2008) e 54,10% haviam tido exposição para HIV nas relações sexuais heterossexuais (Soares, Lúcio Filho, Carvalho, Silva, & Eulálio, 2008).

Entre os principais problemas de saúde pública em todo o mundo, destacam-se às DST e o HIV (Carvalho et al., 2010; Dair, Alonso, Cruz, Barbé, & Garcia, 2014), assim ter uma DST pode aumentar a susceptibilidade à infecção HIV (Corey, Wald, Celum, & Quinn, 2004). Em 2014, 36,9 milhões de pessoas vivem com HIV a nível mundial, e em torno de 2 milhões de pessoas se infectaram pelo HIV e 1,2 milhões faleceram devido ao HIV/AIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS [ONUSIDA], 2015) o que se fazem necessárias pesquisas com escopo de atenuar as novas infecções pelo HIV.

No que diz respeito aos dados epidemiológicos, foram registrados no Brasil desde 1980 até Junho de 2015, 519.183, corresponde a (65%) dos casos de HIV em homens e 278.960 (35%) em mulheres. A partir de 2009, observou-se uma diminuição dos casos de HIV em mulheres e aumento dos casos em homens, uma vez que passou a ser de 19 casos de HIV em homens para cada 10 casos em mulheres no ano de 2014 (Ministério da Saúde, 2015).

No contexto piauiense, de acordo com dados do Boletim Epidemiológico do Departamento Nacional de DST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde (2014), 5.315 casos foram notificados entre os anos de 1980 e 2014. Os dados do SINAN e da Secretaria Estadual de Saúde do Piauí (SESAPI) apontam que, dos casos registrados entre os anos de 2007 e 2013, 67% foram entre indivíduos do sexo masculino e 33% do sexo feminino (Ministério da Saúde, 2014).

Em decorrência das taxas significativas da infecção pelo HIV/AIDS, atualmente, os estudos acerca dos aspectos psicossociais são relevantes para a temática em questão (Casaes, 2007). Dentre eles, destaca-se neste estudo as condutas sexuais de risco, que se configuram em relações sexuais sem o uso do preservativo, possuir múltiplos parceiros sexuais e idade precoce para ter relações sexuais, o que contribui para uma gravidez indesejada e DST, incluindo a infecção pelo HIV (Teva, Bermúdez, Ramiro, & Ramiro - Sánchez, 2013; Araújo, et al., 2014). Diante do exposto, este artigo tem como objetivo geral identificar e comparar os comportamentos sexuais de risco e sua relação com as variáveis sociodemográficas (sexo, idade e religião) na população em geral.

 

Método

Tipo de Estudo

Este é um estudo descritivo de populações mediante pesquisa com amostra não probabilística do tipo transversal e por conveniência, de acordo com a classificação proposta por Montero e Léon (2007).

Locus de Investigação

A investigação foi realizada em lugares públicos, ambientes coletivos, praças públicas, bibliotecas, residências, salas de aula, instituições privadas e públicas, no entanto, os instrumentos foram respondidos de forma individual.

Participantes

A amostra foi constituída por 596 pessoas adultas da população em geral, oriundas da cidade de Parnaíba-PI, Brasil. Com idades variando de 18 a 73 anos (M = 27,31 DP = 9,37), sendo a maioria do sexo feminino 59,2 %, estado civil solteira 76,2% deste total 83,2% das pessoas se declararam heterossexual, 36% dos participantes possuem grau de escolaridade Ensino Superior Incompleto, com renda total média de 1.576 reais (DP = 1,2). Na Tabela 1 podem ser verificadas as características sociodemograficas dos participantes desta pesquisa.

 

 

Instrumentos

Utilizou-se neste estudo dois instrumentos: num primeiro momento foi aplicado um questionário sobre dados sóciodemográficos com perguntas que objetivam a caracterização da amostra a exemplo de (idade, sexo, estado civil, orientação sexual, nível de escolaridade, renda familiar, etc.). Em segundo lugar foi empregado um instrumento sobre o comportamento sexual de risco com as seguintes questões: (a idade que voluntariamente mantiveram relações sexuais vaginais pela primeira vez; o uso do preservativo na primeira relação sexual vaginal; o número de parceiros sexuais que tiveram contato sexual com penetração vaginal ao longo de sua vida e nos últimos dois meses; a frequência de relações sexuais vaginais nos últimos dois meses e a frequência de contato sexual com penetração vaginal utilizando o preservativo nos últimos dois meses. Serão realizadas questões similares para avaliar a conduta sexual anal.

Procedimentos

Coleta de dados

Todos os questionários foram autoaplicáveis, contendo as instruções necessárias para proceder às respostas, onde ao final de cada instrumento os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE. Os participantes foram informados que suas respostas seriam tratadas no conjunto, de modo a garantir a confidencialidade e seu anonimato. Ressalta-se que esta pesquisa foi encaminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí - Campus Ministro Reis Velloso - CRMV para ser apreciada, sendo aprovada com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE): 48518815.2.0000.5669.

Análise dos dados

Para análise dos dados foi utilizado o programa estatístico SPSS versão 22, visto que este permitiu calcular estatísticas descritivas como: Distribuição de frequência, Médias, Desvios Padrões, Teste t e Qui-quadrado.

 

Resultados

Com o objetivo de mapear as características dos participantes com relação aos comportamentos sexuais realizou-se uma análise descritiva das variáveis em estudo. Também foram comparadas as características da amostra de acordo com sexo, idade e religião dos participantes. Para comparar as diferenças de tais variáveis foi utilizado o Teste t de Student para variáveis contínuas e Qui-quadrado para variáveis dicotômicas e categóricas.

Condutas sexuais anais e vaginais em função do sexo

Inicialmente, foi analisada a relação entre os comportamentos sexuais de risco para infecção pelo HIV em função do sexo dos participantes (ver Figura 1), onde se encontraram resultados significativos entre tais variáveis (χ2(1) = 6,43; p = 0,00). Obteve-se que 84,0% dos participantes já tiveram relação sexual, sendo a maioria destes sendo mulheres (56,94%). De acordo com o número de parceiros sexuais fixos também foi encontrada associação significativa em relação ao sexo dos participantes (χ2(1) = 4,67; p = 0,00). Visto que as mulheres (55,33%) possuem mais parceiros fixos em comparação aos homens. Verificou-se associação significativa entre o uso do preservativo na primeira relação sexual vaginal e o sexo dos participantes (χ2(1) = 9,25; p = 0,00). Sendo que as mulheres (64,14%) utilizariam mais o preservativo na primeira relação sexual vaginal que os homens. A respeito de ter relações sexuais vaginais sob efeito de drogas também foram encontradas associação com o sexo (χ2(1) = 12,64; p = 0,00). 59,03% dos homens teriam mais relações sexuais vaginais sob efeito de substâncias psicoativas em relação às mulheres participantes. Os participantes que teriam feito sexo anal em comparação ao sexo obtiveram resultados significativos (χ2(1) = 26,84; p = 0,00). Visto que os 53,54% dos homens já tiveram sexo anal em relação as mulheres. No que tange ao sexo anal sob efeito de drogas, obteve-se resultados significativos em comparação ao sexo (χ2(1) = 11,10; p = 0,00). Os homens nesta categoria obtiveram resultados maiores em comparação as mulheres. Sendo que 74,50% dos homens fizeram sexo anal sob efeito de drogas.

Os participantes do sexo masculino iniciaram a atividade sexual mais cedo em comparação as mulheres (t(596) = -6,80, p > 0,05). Visto que os homens iniciam a atividade sexual em média aos 15 anos (M = 15,10; DP = 2,38) e as mulheres em média aos 17 anos (M = 16,8; DP = 3,0). Com relação ao número de pessoas que fizeram sexo vaginal ao longo da vida apresentou-se uma associação com o sexo (t(596) = 4,46, p > 0,05), sendo os homens se apresentaram com maior média (M = 7,10; DP = 11,87) em comparação as mulheres (M = 3,84; DP = 2,87), que se relacionaram em média com 4 pessoas. A respeito da idade da primeira relação sexual anal verificou-se resultados significativos em relação ao sexo dos participantes (t(596) = -3,86, p > 0,05), os homens iniciaram com uma idade menor (M = 17,13; DP = 3,18) em relação as mulheres (M = 18,85; DP = 3,99). Em vista do número de pessoas que fizeram sexo anal ao longo da vida também foram encontrados resultados com associação ao sexo (t(596) = 6,71, p > 0,05), os homens possuem maior número de pessoas com que já se relacionaram (M = 4,96; DP = 5,07) em relação as mulheres (M = 1,74; DP = 1,53) participantes. Com relação ao número de pessoas que os participantes fizeram sexo anal nos últimos dois meses (t(596) = 4,49, p > 0,05), os homens (M = 1,09; DP = 1,12) permanecem com uma média maior em comparação as mulheres (M = 0,59; DP = 0,55). De acordo com a quantidade de vezes que realizou-se sexo anal nos últimos dois meses foram verificados também valores significativos em relação ao sexo (t(596) = 6,24, p > 0,05), sendo os homens (M = 8,11; DP = 9,99) apresentando uma média superior que as mulheres (M = 2,05; DP = 3,98) participantes (ver Tabela 2). No restante das variáveis não se obtiveram diferenças significativas.

Condutas sexuais anais e vaginais em função das classes de idade

Foram analisadas também a associação entre os comportamentos sexuais de risco para infecção pelo HIV e duas classes de idades dos participantes, compreendida dos 18-41 anos e 42-73 anos (ver Figura 2). Desta forma, encontrou-se diferenças significativas entre o número de parceiros sexuais em função dos grupos de idade apresentados (χ2(1) = 26,84; p = 0,00). Entre os quais, 95,67% dos participantes que pertencem a idade dos 18-41 anos possuem mais parceiros sexuais em relação ao segundo grupo de idade que pertence aos sujeitos dos 42-73 anos. No que diz respeito aos participantes já tiveram alguma relação sexual em função das classes de idades apresentou resultados significativos (χ2(1) =8,60; p = 0,00), sendo que 92% dos participantes que compreendem a primeira classe de idade (18-41 anos) já tiveram relação sexual. O uso do preservativo na primeira relação sexual vaginal foi uma variável significativa em relação aos grupos de idade propostos (χ2(1) = 30,22; p = 0,00), visto que 97,24% dos participantes da primeira classe de idade usaram preservativo em comparação a segunda classe de idade. Em relação ao sexo anal encontraram-se diferenças em comparação aos grupos de idade (χ2(1) = 22,90; p = 0,00), 98,03% dos sujeitos pertencentes ao grupo de idade dos 18-41 anos fizeram sexo anal em comparação ao grupo de idade dos 42-73 anos.

No que se refere a idade da primeira relação sexual vaginal em função dos grupos de idade foram encontrados resultados significativos (t(596) = -5,73; p > 0,05), sendo os participantes que compreendem a idade dos 18-41 anos iniciaram tal relação sexual mais cedo (M = 15,93; DP = 2,62) em comparação ao segundo grupo de idade (M = 18,56; DP = 4,35). Salienta-se que não foram obtidas diferenças significativas no restante das variáveis analisadas (ver Tabela 3).

Condutas sexuais anais e vaginais em função da religião

Neste artigo também foi comparado os comportamentos sexuais de risco para infecção pelo HIV em função da religião (ver Figura 3), onde observaram-se diferenças significativas entre tais variáveis (χ2(1) = 39,21; p = 0,00). Assim, 86,45 % das pessoas que possuem religião não tiveram relação sexual, sendo 13,54% as que não possuem religião e não tiveram relação sexual. No que diz respeito aos participantes já fizeram sexo vaginal, verificou-se também uma associação com a religião (χ2(1) = 19,88; p = 0,00), visto que a maioria das pessoas (50,92%) possuem alguma religião e já fizeram sexo vaginal. Foram encontradas diferenças significativas entre aqueles participantes que fizeram sexo vaginal sob efeito de substâncias psicoativas em função da religião (χ2(1) = 7,50; p = 0,00), 62,66% dos participantes que não possuem religião, já fizeram sexo vaginal sob efeito de drogas. A respeito dos participantes que fizeram sexo anal foi observado uma associação entre a religião (χ2(1) = 28,19; p = 0,00), 57,49% dos participantes que não possuem religião já praticaram sexo anal em comparação aos que possuem religião (42,51%). Em relação ao uso do preservativo na primeira vez que realizaram sexo anal foram encontradas associações significativas entre a religião (χ2(1) = 18,50; p = 0,00). Sendo que a maioria dos participantes que possuem religião (65,21%) utilizaram o preservativo na primeira relação sexual anal.

Com relação a idade de início das relações sexuais vaginais apresentou diferenças significativas (ver tabela 4) em função da religião (t(596) = -6,65; p > 0,05), sendo que os participantes que possuem religião iniciaram sua relação sexual vaginal mais tardiamente (M = 16,98; DP = 3,02) que aqueles que não possuem (M = 15,30; DP = 3,02). A respeito de quantas vezes fizeram sexo anal nos últimos dois meses observaram-se diferenças significativas em comparação a religião (t(596)= 3,66; p > 0,05), os participantes que não possuem algum tipo de religião fizeram mais sexo anal (M = 6,91; DP = 9,71) em relação aqueles que possuem (M = 3,16; DP = 5,45).

Por último, é válido mencionar que a respeito da quantidade de vezes do uso do preservativo no sexo anal nos últimos dois meses também foi verificada uma associação com a religião (t(596) = -4,02; p > 0,05), visto que os atores sociais que possuem religião utilizaram o preservativo em maior quantidade (M = 1,58; DP = 3,82) em comparação aqueles que não possuem (M = 0,24; DP = 1,18) durante as relações sexuais (ver Tabela 4).

 

Discussão

A partir dos resultados obtidos existem diferenças nos comportamentos sexuais dos participantes deste estudo em função das variáveis sociodemográficas. As condutas sexuais apresentadas em relação ao sexo apresentaram que a maioria das mulheres já iniciou sua vida sexual. Em estudo prévio foi demonstrado que as mulheres tem início da vida sexual entre os 15 e 17 anos e a maioria das vezes ocorre com parceiros fixos, como por exemplo um namorado (Moreira & Santos, 2011). Uma possível explicação para a iniciação precoce das relações sexuais das mulheres deve-se ao fato de que com a chegada da pílula anticoncepcional houve uma cisão entre a iniciação sexual das mulheres e o matrimônio com o primeiro parceiro sexual (Longo, 2001). Por outro lado, as mulheres tem dificuldades em negociar o uso do preservativo com o parceiro sexual (Sousa et al., 2008), o que aumenta a vulnerabilidade da mulher a infecção pelo HIV.

Identificou-se que as relações sexuais sob o efeito de substâncias psicoativas foi predominante entre homens. Tais resultados são similares às investigações prévias, em que se constatou que os homens apresentam uso inconsistente do preservativo nas relações sexuais, com menor idade de início da primeira relação sexual e fazem uso de substâncias psicoativas durante o sexo, o que aumenta a vulnerabilidade para infecção às DST e HIV (Araújo et al., 2014; Bermúdez et al., 2016; Reis, 2010), o que se faz necessário ações preventivas a respeito.

Nos resultados obtidos os homens praticam mais sexo anal em comparação as mulheres, tal informação foi corroborada em outros estudos, uma vez que este relativo desequilíbrio entre o sexo anal declarado por mulheres e aquele por homens, possui aspectos que intervêm na declaração feminina, o que se pode sugerir como uma forma de pudor, que aparece sempre com um nível baixo de respostas das mulheres em comparação aos homens. (Velho et al., 2010). Salienta-se que o sexo anal quando realizado sem o preservativo pode ser um risco para infecção pelo HIV, como foi demonstrado em estudo que 79% dos homens haviam mantido relações sexuais anais desprotegidos (Garcia, Albuquerque, Drezett, & Adami, 2016), tendo em vista que o sexo anal sem o uso do preservativo o risco de transmissão de DST/HIV é cinco vezes maior, pois o ânus durante a penetração na atividade sexual pode sofrer lesões (Nicolau et al., 2012).

No que tange a idade de início das relações sexuais, os dados apreendidos com a população em geral piauiense foi consonante a estudos recentes, em que foi demonstrado que as mulheres iniciam mais tardiamente a vida sexual ativa em comparação aos homens (Gonçalves et al., 2015). Os resultados obtidos com relação ao número de parceiros sexuais apresentaram diferenças significativas com relação ao sexo, em que os homens tiveram maior número de parceiros sexuais, como verificado na literatura científica em que as mulheres apresentaram, em média, um número menor de parceiros/as, sendo que a maioria as relações ocorrem em um contexto de relacionamento estável (Araújo et al., 2014; Tronco, & Dell´Aglio, 2012).

Em relação às diferenças dos comportamentos sexuais dos grupos de idades, neste estudo foi identificado que as pessoas da população em geral com idades de 18-41 anos em sua maioria tinha uma vida sexual ativa. Dados similares são apresentados na PCAP realizada pelo Ministério da Saúde (2013), em que 94,00% das pessoas de 15 a 64 anos já haviam mantido relações sexuais, destes 37,60% iniciaram a vida sexual até os 15 anos de idade. Assim, estudo prévio salienta o início cada vez mais cedo das experiências sexuais, associado à insegurança e inexperiência de estratégias preventivas (Custódio, Maasuti, Schuelter-Trevisol, & Trevisol, 2009), o que necessita de estudos futuros para compreensão psicossocial deste fenômeno em nossa sociedade.

Com relação à média de parceiros fixos, a faixa etária correspondente ao segundo grupo (42-73 anos) se manteve maior número de relacionamentos estáveis, nos estudos de Scanavino e Abdo (2010) é mostrado que a média de parceiros sexuais de homens e mulheres diminui na faixa etária dos 26 aos 40 anos, comparada com a faixa etária dos 18 aos 25 anos. Por sua vez, diminui novamente na faixa dos 41 aos 50 anos, mantendo-se estável nas idades posteriores.

Neste estudo constatou-se que as pessoas que possuíam religião haviam empregado com maior frequência o preservativo no sexo anal. Em pesquisa recente, foi observado entre os cristãos praticantes menos comportamentos sexuais anais de risco quando comparados com budistas e muçulmanos (Pan, et al. 2016). Não se pode garantir que a religião é um fator protetor para a prevenção das condutas sexuais de risco, o que se sugere estudos experimentais que possam dar uma explicação causal entre religião e comportamento sexual de risco para às DST e HIV.

A partir do conjunto de dados apreendidos entre as pessoas da população em geral é possível afirmar que apesar das campanhas de prevenção as formas de infecção pelo HIV na realidade piauiense, estes atores sociais ainda apresentam comportamentos sexuais de risco. Denotou-se também que as três variáveis sociodemográficas (sexo, idade e religião) analisadas permitiram descrever perfis de vulnerabilidade psicossocial ao HIV e às DST que podem auxiliar nas futuras intervenções preventivas em saúde pública.

 

Considerações Finais

Este estudo buscou identificar a relação entre variáveis sociodemográficas (sexo, idade e religião) e os comportamentos sexuais de risco para infecção pelo HIV entre pessoas adultas da população em geral. Identificou-se um perfil de vulnerabilidade psicossocial para infecção para as DST e o HIV, a saber: ser homem, com idades de 18-41 anos e que não possui religião. E mais, revelou-se ainda que, a iniciação precoce das relações sexuais e a utilização de substâncias psicoativas durante o sexo são fatores relevantes que podem contribuir para o aumento no número dos casos de soropositividade para HIV/DST.

Acredita-se que os dados apreendidos nesta investigação, podem contribuir na formulação e implementação políticas preventivas em saúde, em que se sugere uma atenção concentrada nas ações que atenuem estes riscos no âmbito da saúde sexual nestes grupos populacionais. O fato da identificação das condutas sexuais de risco aponta para necessidade do diagnóstico precoce dos novos casos de HIV positivo, de modo a potencializar as estratégias de prevenção estimulando o diagnóstico precoce e tratamento adequado da infecção, a fim de uma melhor qualidade vida da população.

Apesar da relevância social e acadêmica dos dados deste artigo, é possível afirmar que o mesmo possui algumas limitações, tendo em vista o delineamento empregado e amostra por conveniência. Assim, recomendam-se futuros estudos longitudinais que possam observar as condutas sexuais de risco ao longo do curso de vida, utilizando amostras probabilísticas, representativas e diversificadas da população brasileira. Salienta-se ainda a importância de pesquisas experimentais, com o escopo de estabelecer relações de causa-efeito entre as variáveis psicossociais e os comportamentos sexuais de vulnerabilidade para infecção pelo HIV/DST.

 

Referências

Araújo, L. F., Teva, I., & Bermúdez, M. P. (2014). Psychological and socio-demographic variables associated with sexual risk behavior for sexually transmitted infections/HIV. International Journal of Clinical and Health Psychology, 14(2), 120-127. http://dx.doi.org/10.1016/S1697-2600(14)70045-6        [ Links ]

Bermúdez, M. D. L. P., Araújo, L. F. D., Reyes, A. O., Hernández-Quero, J., & Teva, I. (2016). Analysis of cognitive variables and sexual risk behaviors among infected and HIV-uninfected people from Spain. AIDS care, 28(7), 890-897. http://dx.doi.org/10.1080/09540121.2016.1161163        [ Links ]

Cavalcanti, N. C. S. (2015). Estudo da coinfecção HIV e Hepatite B em pacientes atendidos num serviço de referência em doenças infecciosas no Piauí. Dissertação (Mestrado em Medicina Tropical) - Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ.         [ Links ]

Carvalho, K. S. S., Silvestre, E. D. A., Maciel, S. D. S., Lira, H. I. G., Galvão, R. A. D. S., Soares, M. J. D. S., & Coelho, L. F. L. (2010). PCR detection of multiple human herpesvirus DNA in saliva from HIV-infected individuals in Teresina, State of Piauí, Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 43(6), 620-623. http://dx.doi.org/10.1590/S0037-86822010000600003        [ Links ]

Casaes, N. R. R. (2007). Suporte social e vivência de estigma: um estudo entre pessoas com HIV/AIDS. Dissertação de mestrado, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Universidade Federal da Bahia, Salvador.         [ Links ]

Corey, L., Wald, A., Celum, C., & Quinn, T. (2004). The effects of herpes simplex virus-2 on HIV-1 acquisition and transmission: a review of two overlapping epidemics. Journal of Acquired Immune Deficiency Syndrome, 35, 435-445.http://dx.doi.org/10.1097/00126334-200404150-00001        [ Links ]

Custódio, G., Massuti, A. M., Schuetter-Trevisol, F., & Trevisol, D. J. (2009). Comportamento sexual e de risco para DST's e gravidez em adolescentes. DST-J Bras Doenças Sex Trasm, 21(2), 60-64.         [ Links ]

Dair, R., Alonso, J., Cruz, M., Barbé, A., & García, M. (2014). Infecciones de transmisión sexual: intervención educativa en adolescentes de una escuela de ense-anza técnica profesional. Medwave, 14(1), 589-591. http://dx.doi.org/10.5867/medwave.2014.01.5891        [ Links ]

Garcia, C. D. L., Albuquerque, G. A., Drezett, J., & Adami, F. (2016). Saúde de Minorias Sexuais do Nordeste Brasileiro: Representações, Comportamentos e Obstáculos. Revista brasileira de crescimento e desenvolvimento humano, 26(1), 95-100. http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.110985        [ Links ]

Gonçalves, H. et al. (2015). Início da vida sexual entre adolescentes (10 a 14) e comportamentos em saúde. Revista Brasileira de Epidemiologia, 18(1), 25-41. http://dx.doi.org/10.1590/1980-5497201500010003        [ Links ]

Longo, L. A. F. B. (2001). Prevenir ou remediar? Um estudo das práticas contraceptivas entre as mulheres de 15 a 24 anos no Brasil. Dissertação de mestrado. Centro de Desenvolvimento e planejamento regional da faculdade de ciências econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais.         [ Links ]

Ministério da Saúde. (2013). Pesquisa de conhecimentos, atitudes e práticas na população brasileira de 15 a 64 anos 2013. Brasília (DF): Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.         [ Links ]

Ministério da Saúde. (2014). Boletim Epidemiológico AIDS. Programa Nacional de DST/AIDS. Recuperado em 10 de setembro de 2015, de: http://www.aids.gov.br/        [ Links ]

Ministério da Saúde. (2015). Boletim Epidemiológico AIDS. Programa Nacional de DST/AIDS. Recuperado em 18 de fevereiro de 2016, de: http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2015/58534/boletim_aids_11_2015_web_pdf_19105.pdf        [ Links ]

Montero, I. & León, O. (2007). A guide for naming research studies in Psychology. International Journal of Clinical and Health Psychology, 7(3), 847-862.         [ Links ]

Moreira, M. R. & Santos, J. F. F. Q. (2011). Entre a modernidade e a tradição: a iniciação sexual de adolescentes piauienses universitárias. Escola de Enfermagem Anna Nery, 15(3), 558-566. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452011000300017        [ Links ]

Nicolau, A. I. O. et al. (2012). Conhecimento, atitude e prática do uso de preservativos por presidiárias: prevenção das DST/HIV no cenário prisional. Revista Escola de Enfermagem, 46(3), 711-719. http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342012000300025        [ Links ]

ONUSIDA. (2015). Informe sobre la epidemia mundial de Sida 2014. Recuperado em 20 de setembro de 2015, de: http://www.unaids.org/        [ Links ]

Pan, S. W., Zhang, Z., Li, D., Carpiano, R. M., Schechter, M. T., Ruan, Y., & Spittal, P. M. (2016). Religion and HIV sexual risk among men who have sex with men in China. JAIDS Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes, 1(12), 135-145. http://dx.doi.org/10.1097/QAI.0000000000001127        [ Links ]

Reis, N. B. (2010). Conhecimento sobre HIV/AIDS entre usuários de drogas. Dissertação de Mestrado. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro.         [ Links ]

Scanavino, M. T. & Abdo, C. H. N. (2010). Parceiros sexuais nos últimos 12 meses e parceiros significativos ao longo da vida segundo o estudo da vida sexual do brasileiro. Diag tratamento, 15(3),138-142.         [ Links ]

Soares, V. Y. R., Lúcio Filho, C. E. P., Carvalho, L. I. M. D., Silva, A. M. M. D. M., & Eulálio, K. D. (2008). Clinical and epidemiological analysis of patients with HIV/AIDS admitted to a reference hospital in the northeast region of Brazil. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 50(6), 327-332. http://dx.doi.org/10.1590/S0036-46652008000600003        [ Links ]

Sousa, M. D. C. P. D., Espírito Santo, A. C. G. D., & Motta, S. K. A. (2008). Gênero, vulnerabilidade das mulheres ao HIV/AIDS e ações de prevenção em bairro da periferia de Teresina, Piauí, Brasil. Saúde e Sociedade, 17(2), 58-68. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902008000200007        [ Links ]

Teva, I., Bermúdez, M. P., Ramiro, M. T., & Ramiro-Sánchez, T. (2013). Analysis of sexual behavior in adolescents. Current HIV Research, 11(2), 512-519. http://dx.doi.org/10.2174/1570162X12666140129095811        [ Links ]

Tronco, C. B., & Dell'Aglio, D. D. (2012). Caracterização do comportamento sexual de adolescentes: iniciação sexual e gênero. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 5(2), 254-269.         [ Links ]

Velho, M. T. A. C. et al. (2010). Estudos sobre sexualidade entre universitários moradores de casas de estudante do sul do Brasil. Revista da AMRIGS, 54(4), 399-405.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Ludgleydson Fernandes de Araújo
Universidade Federal do Piauí - Departamento de Psicologia
Campus de Parnaíba
Av. São Sebastião, 2819
64202-020 Parnaíba, PI, Brasil
ludgleydson@yahoo.com.br

Recebido em: 17.04.2016
Aceito em: 14.09.2016

 

 

Autores: Thalita Galeno Pereira – Graduada, Universidade Federal do Piauí.
Ludgleydson Fernandes de Araújo – Doutor, Universidade Federal do Piauí.
Fauston Negreiros – Doutor, Universidade Federal do Piauí.
Raimundo Nonato de Sousa Barros Neto – Graduado, Universidade Federal do Piauí.

Creative Commons License