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Psicologia Clínica

versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438

Psicol. clin. vol.28 no.1 Rio de Janeiro  2016

 

EDITORIAL

 

 

Andrea Seixas Magalhães; Esther Arantes

 

 

O número 28.1 da Revista Psicologia Clínica traz como tema Clínica, psicanálise e corpo, colocando em foco pesquisas com abordagem psicanalítica e enfatizando os estudos sobre o corpo. Este número reúne nove artigos divididos em duas seções, incluindo a contribuição de um artigo internacional.

A partir de 2016, a revista passa a ser um periódico de publicação quadrimestral, buscando dar maior agilidade ao processo editorial. Com o propósito de avançar no processo de internacionalização, além de publicar artigos de autores estrangeiros, escritos em inglês, francês e espanhol, passará também a publicar em duas línguas simultaneamente.

O artigo que inicia a seção temática, Vias de acesso às experiências primitivas na proposta freudiana de psicanálise, de autoria de Luiz Augusto M. Celes, busca identificar na psicanálise freudiana vias para apreensão, compreensão e consideração das experiências primitivas ou arcaicas. O autor focaliza três aspectos metodológicos da psicanálise freudiana: o método de pesquisa que tem em vista a construção da teoria psicanalítica sobre as experiências arcaicas; o método clínico que visa a contrução e o entendimento da própria clínica psicanalítica; e o método de tratamento que busca alcançar as tais experiências com o fim de proporcionar transformações subjetivas.

Em seguida, apresentamos o artigo internacional em língua estrangeira, Sublimação, sintoma e sinthoma postos à prova pelo ato criativo de Frida Khalo, de Silvia Lippi e Patrick De Neuter, que interroga o conceito freudiano de "sintoma" e o conceito de "sinthoma", elaborado por Lacan nos últimos anos de seu ensino. Segundo os autores, existe uma passagem que vai da fase sublimatória à fase sinthomática na obra Frida Kahlo. Essa passagem implica uma mudança na posição do sujeito quanto ao sintoma, o objeto de arte e o movimento criativo que permitiu sua constituição. A pintura não pode produzir uma reparação do corpo e do ego, mas pode, entretanto, sustentar de forma sinthomática o sujeito aniquilado pela doença, pelos abandonos e pelas crises amorosas.

O terceiro artigo apresentado na seção temática, A questão da dificuldade da psicanálise: uma leitura do inconsciente entre negatividade e diferença, de autoria de Luiz Paulo Leitão Martins, realiza uma leitura do ensaio Uma dificuldade da psicanálise, de Sigmund Freud, a partir de uma reflexão a propósito dos destinos do conceito de inconsciente na teoria e na prática da psicanálise. Nesse trabalho, uma segunda abordagem é empreendida na tentativa de afirmar o inconsciente para além desses registros. O autor recorre às análises desenvolvidas por Judith Butler e Slavoj Žižek da psicanálise de Jacques Lacan, de modo que a negatividade ganhe outro estatuto.

Em seguida, o artigo Depressão e maternidade à luz da psicanálise: uma revisão sistemática da literatura, de Heloisa Cardoso da Silva e Tagma Marina Schneider Donelli, apresenta uma revisão sistemática da produção científica nacional sobre depressão e maternidade na perspectiva psicanalítica. Os principais resultados encontrados foram: a importância da detecção precoce de sinais de risco, o impacto da depressão na interação mãe-bebê e no desenvolvimento infantil, a etiologia multifatorial do transtorno, a vulnerabilidade do contexto familiar a psicopatologias e algumas hipóteses acerca dos aspectos psicodinâmicos da depressão.

O artigo intitulado Anorexia: uma conjugação do amor no feminino?, de Cristina Moreira Marcos, discute a incidência preponderante da anorexia em jovens mulheres nos dias atuais, buscando extrair uma possível relação entre a anorexia e o feminino. A autora parte do pressuposto de que a anorexia não é do gênero feminino por causa da cultura, mas é antes uma posição do sujeito na qual se evidencia uma afinidade estrutural com o feminino. Nesse trabalho, a incidência da causalidade social sobre o sujeito não é negligenciada, entretanto a autora considera que é preciso interrogá-la na medida em que a mesma não se constitui como uma causa eficiente.

Finalizamos a seção temática com o artigo TDAH entre o global e o singular: incursões a partir da disjunção do corpo infantil, de autoria de Diego Rodrigues Silva e Maria Regina Brecht Albertini. Nesse trabalho, os autores problematizam o quadro clínico do TDAH frente à disjunção do corpo infantil na atualidade. Ressaltam que a criança vista a partir do transtorno acaba por se perder entre diferentes propostas de avaliação e tratamento. A literatura que fundamenta essas propostas se divide de maneira excludente entre o campo biológico e o campo subjetivo/inter-relacional.

Iniciamos a seção livre com o artigo Construir, organizar, transformar: considerações teóricas sobre a transmissão psíquica entre gerações, de Fabio Scorsolini-Comin e Manoel Antônio dos Santos, um estudo teórico que apresenta o conceito de transmissão psíquica entre gerações ou transgeracionalidade, discutindo as principais transformações em suas proposições ao longo do tempo. Foram recuperados os apontamentos iniciais da psicanálise a respeito do assunto, com destaque para teóricos franceses como R. Kaës e A. Eiguer, além das teorias contemporâneas acerca dos vínculos sociais, como a de Pierre Benghozi. Aborda-se de que modo as heranças familiares são transmitidas de uma geração a outra, mas também modificadas e atualizadas.

Em seguida, apresentamos o artigo A qualidade conjugal nos anos iniciais do casamento em casais de dupla carreira, de autoria de Viviane Iara Heckler e Clarisse Pereira Mosmann, um estudo qualitativo, cujo objetivo foi analisar os níveis de qualidade conjugal nos anos iniciais do casamento em casais de dupla carreira, a partir da adaptabilidade, da coesão, do conflito e da comunicação. Foi realizado um estudo de casos múltiplos com cinco casais heterossexuais de dupla carreira, em primeira união, com até cinco anos de relacionamento conjugal, com idades entre 24 e 34 anos, sem filhos e residentes em Porto Alegre/RS e região metropolitana.

A seção livre é finalizada com o artigo intitulado Como ocorre a mudança em psicoterapia? Um estudo empírico do processo de uma psicoterapia breve, de Fernanda Barcellos Serralta, Silvia Pereira da Cruz Benetti, Pricilla Braga, Livia Fração Sanchez, Clarice Kern Ruaro, Marina Ortolan Araldi e Elisa Médici Pizão Yoshida. Esse estudo visa descrever o processo psicoterapêutico de um caso de Psicoterapia Psicodinâmica Breve e examinar a relação entre as variáveis do processo com o curso do tratamento. As características gerais são consistentes com o pressuposto da existência de um continnum expressivo-suportivo nas psicoterapias psicodinâmicas. Conforme o processo evoluiu, constatou-se uma tendência crescente da terapeuta em adotar uma postura mais apoiadora e menos expressiva, enquanto observou-se autonomia crescente da paciente. O movimento complementar da díade, associado à flexibilidade da técnica, parece ter contribuído para a mudança observada.

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