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Psicologia Clínica

versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438

Psicol. clin. vol.28 no.1 Rio de Janeiro  2016

 

SEÇÃO LIVRE

 

A qualidade conjugal nos anos iniciais do casamento em casais de dupla carreira

 

The marital quality in the early years of marriage in dual-career couples

 

La calidad conyugal en los años iniciales del matrimonio en parejas de doble carrera

 

 

Viviane Iara HecklerI; Clarisse Pereira MosmannII

IFaculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FFCLRP-USP, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
IIFaculdade Cenecista de Osório – FACOS, Rio Grande do Sul, Brasil

 

 


RESUMO

O casamento continua a ser desejado pelos jovens na atualidade. No entanto, surgem novas demandas em relação aos projetos individuais dos cônjuges e, além disso, a carreira profissional assume relevante importância na vida de ambos. Isso pode ter reflexos na qualidade do relacionamento, especialmente em seus anos iniciais. Nesse contexto, o objetivo deste estudo qualitativo foi analisar os níveis de qualidade conjugal nos anos iniciais do casamento em casais de dupla carreira. Tratou-se de um estudo de casos múltiplos com cinco casais heterossexuais, de primeira união, formal ou informal, entre dois e cinco anos, sem filhos, dupla carreira, idades entre 24 e 34 anos, residentes em Porto Alegre/RS e região metropolitana do estado do Rio Grande do Sul, que não estivessem em terapia de casal. Os instrumentos foram: questionário de dados sociodemográficos, entrevista semiestruturada com o casal e entrevista semiestruturada individual com cada cônjuge. Através da análise dos casos, foi possível identificar que os casais relatam altos níveis de qualidade conjugal. Quanto à comunicação, pode-se perceber que atingir níveis profundos é uma tarefa difícil, mas ao passo que os casais conseguem estabelecer tais níveis, essa dimensão parece contribuir como estratégia positiva para resolução de conflitos.

Palavras-chave: casamento; qualidade conjugal; trabalho; adulto jovem.


ABSTRACT

Marriage is still being desired by young people today, however there are new demands related to individual projects of the spouses, the importance of professional career, which may be reflected in the quality of the relationship, especially in its early years. In this context, the aim of this qualitative study was to analyze the levels of marital quality in the early years of marriage in dual-career couples. It was a multiple case study with five heterosexual couples in the first union, with up to five years of marital relationships, aged 24 and 34 years, dual career, childless and living in Porto Alegre / RS, and the metropolitan area. The instruments were: sociodemographic questionnaire, semi-structured interviews with the couple and individual semi-structured interviews with each spouse. Through the analysis of the cases could be identified that couples report high levels of marital quality. Related to the conflict and communication, it is noticed that reach deep levels of communication is a difficult task, however, when achieved, this seems to contribute as positive strategy for conflict resolution.

Keywords: marriage; marital quality; work; young adult.


RESUMEN

El matrimonio sigue siendo deseado por los jóvenes actualmente, entretanto, surgen nuevas demandas en relación a proyectos individuales de los cónyuges, la importancia de la carrera profesional, que pueden tener reflejos en la cualidad de la relación, especialmente en sus primeros años. En este contexto, el objetivo de este estudio cualitativo fue analizar los niveles de calidad conyugal en los años iniciales del matrimonio en parejas de doble carrera. Se trató de un estudio de múltiplos casos con cinco parejas heterosexuales, en primera unión, con hasta cinco años de relación conyugal, con edades entre 24 y 34 años, de doble carrera, sin hijos y residentes en Porto Alegre/RS y su región metropolitana. Los instrumentos utilizados fueran: cuestionario de datos socio-demográficos, entrevista semiestructurada con la pareja e individual con cada cónyuge. A través de análisis de los casos fue posible reconocer que las parejas relatan altos niveles de calidad conyugal. Cuanto la comunicación, se puede percibir que atingir niveles profundos de comunicación es una tarea difícil, entretanto cuando alcanzados, esta parece contribuir como estrategia positiva para resolución de conflictos.

Palabras clave: matrimonio; calidad conyugal; trabajo; adulto joven.


 

 

Introdução

O casamento no século XXI é concebido como um relacionamento orientado por questões afetivas e sexuais, configurando-se como potencial espaço de apoio, satisfação pessoal e relacional (Machado, 2007; Perlin, & Diniz, 2005). Essa concepção do casamento se justifica, pois homens e mulheres almejam, cada vez mais, uma "parceria que dê certo" na busca do alcance de seus objetivos pessoais e profissionais. Ambos trabalham, dividem as tarefas domésticas, procuram a satisfação afetiva na relação com o outro e compartilham projetos (Rios & Gomes, 2009).

Além dos desafios inerentes à etapa de formação do casal, surgem novas demandas consequentes das transformações no contexto social, como: as exigências do mercado de trabalho, a emancipação feminina, a dupla carreira dos cônjuges, a liberação sexual e a possibilidade do divórcio (Zordan, Wagner, & Mosmann, 2012). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE mostram que, desde o ano de 2002 até o ano de 2008, o número de casamentos no país apresentou uma sequência de crescimento em seus registros, indicando que, mesmo frente a todos esses desafios, as pessoas continuam casando (IBGE, 2010). A qualidade vivenciada pelos casais é crucial hoje em dia, uma vez que a estabilidade das relações não é mais definida por padrões sociais e culturais (Durtschi, Fincham, Cui, Lorenz, Conger, 2011).

Nesse contexto, os anos iniciais do casamento envolvem a necessidade de constituir-se como casal, uma das etapas mais difíceis do ciclo vital, pois os jovens cônjuges têm que construir uma espécie de projeto em comum buscando um equilíbrio entre suas demandas individuais na constituição de uma história compartilhada (Féres-Carneiro & Diniz Neto, 2010; Ríos-González, 2005; Carter, & McGoldrick, 1995). Torna-se fundamental, então, lidar de forma criativa com todos esses aspectos e os múltiplos papéis a serem desempenhados (Scorsolini-Comin & Santos, 2009; Gomes & Paiva, 2003).

Soma-se a essa tarefa, tão desafiadora, o fato de que homens e mulheres na atualidade se veem coagidos a, concomitantemente às demandas do casamento, corresponder a um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, marcado pela importância da qualificação profissional e sucesso financeiro, o que se configura num desafio que pode afetar a satisfação com o casamento (Wheatley, 2012; Perlin & Diniz, 2005). Na década de noventa, problematizando a relação entre o trabalho e o casamento, Diniz (1996; 1999) propôs uma distinção entre os conceitos de duplo trabalho e dupla carreira em virtude da influência que o trabalho passou a exercer sobre os relacionamentos conjugais. Para essa autora, o duplo trabalho não exige do profissional esforços fora de seu horário, nem especialização constante, estando habitualmente relacionado a ocupações que exigem pouca instrução. Já a dupla carreira apresenta etapas bem definidas em relação ao desenvolvimento de carreira, possui alto grau de treinamento e necessidade de comprometimento com o trabalho, estando associada frequentemente a profissões que exigem altos níveis de escolaridade. Segundo a autora, a literatura demonstra que seriam estes últimos os casais que enfrentariam maiores problemas na conciliação entre trabalho e família. Revisando esses conceitos, em relação ao panorama atual, entende-se que essa distinção torna-se bastante plástica, uma vez que não são apenas os cargos ou profissões que garantem a condição de dupla carreira, mas a exigência do mercado de trabalho e a própria concepção do trabalho. Nesse caso, a carreira de funcionário público, que segundo a autora seria caracterizada como duplo trabalho, pode apresentar exigências que garantam maior rendimento salarial, assim como os sujeitos podem ter pretensões maiores independentemente do cargo que ocupam, impelidos pelo contexto social. Neste estudo, optou-se pela denominação dupla carreira a partir do entendimento de que o trabalho adquire um papel estruturante para homens e mulheres em suas vidas, afetando, consequentemente, o relacionamento conjugal.

Aliado ao investimento que ambos os cônjuges dedicam ao aspecto profissional, há, no casamento contemporâneo, a necessidade do compartilhamento dos afazeres domésticos, uma vez que ambos trabalham fora. A divisão de tarefas entre o casal pressupõe que este apresente bons níveis de adaptabilidade para que essa divisão seja realizada de forma equilibrada entre os cônjuges. Investigando como se dá a negociação das tarefas domésticas entre homens e mulheres, Jablonski (2010) realizou um estudo qualitativo com vinte casais, com idades entre 30 e 45 anos e pelo menos cinco anos de união, ambos trabalhando fora de casa, e com pelo menos um filho. Os resultados apontaram que tanto os homens quanto as mulheres afirmavam ser bastante participativos nas tarefas do lar, sendo que a participação dos homens concentrava-se mais no cuidado com os filhos do que nas tarefas da casa. Fica evidente, ainda, através dessa pesquisa, que, embora os homens estejam assumindo mais as tarefas domésticas, eles acabam desempenhando um papel de coadjuvantes nestas, como se apenas auxiliassem, exceto em situações em que contavam com horários mais flexíveis do que as mulheres.

Alcançar a capacidade de adaptar-se aos desafios da vida conjugal já é, por si só, tarefa bastante difícil. Nos anos iniciais do casamento, no contexto de dupla carreira, estima-se que esse processo torne-se ainda mais complexo para os cônjuges. Esse movimento de conciliação concerne ao que Olson (2000) conceitua como funcionalidade do casal, que se estabelece, entre outros fatores, pela adaptabilidade dos cônjuges frente às tensões existentes nesse período. O modelo desenvolvido por esse autor integra as dimensões adaptabilidade, coesão e comunicação conjugal. O conceito de adaptabilidade assume fundamental importância, pois exige a capacidade de modificar ou adaptar as regras e papéis conjugais frente às adversidades e necessidades impostas por cada etapa vivenciada ao longo do ciclo vital (Ríos-González, 2005; Olson, 2000). Maiores níveis de adaptabilidade conjugal possibilitam ao casal mais recursos para lidar com os desafios decorrentes da necessidade de articulação entre as demandas individuais e conjugais e, consequentemente, maiores níveis de saúde conjugal.

Mosmann e Wagner (2008) realizaram estudo com 149 casais, no estado do Rio Grande do Sul, no intuito de avaliar as seguintes variáveis: adaptabilidade, coesão, satisfação conjugal e tipos de conflito. Os resultados apontam para a interdependência e interação entre dimensões avaliadas, apresentando uma forte correlação entre a capacidade dos cônjuges em flexibilizar papéis e funções, uma comunicação clara e profunda e a satisfação conjugal.

A coesão conjugal está relacionada à conexão que existe entre os cônjuges no que se refere à proximidade entre os membros do sistema conjugal. Da mesma forma como a adaptabilidade, níveis mais equilibrados de coesão traduzem-se em melhores níveis de funcionalidade ao longo do ciclo vital (Olson, 2000). Assim, casais que conseguem manter sua independência e, ao mesmo tempo, valorizam o tempo em que estão juntos, dividindo aspectos da vida a dois, revelam bons níveis de coesão (Mosmann & Wagner, 2008).

Nos anos iniciais do casamento, é de fundamental importância que o casal consiga estabelecer uma relação íntima e afetiva que dê conta do processo de construção da conjugalidade. No entanto, níveis muito altos de coesão podem indicar fusionamento entre os cônjuges, sendo prejudicial ao relacionamento. Assim como na adaptabilidade, os níveis considerados ótimos estariam justamente no equilíbrio entre a proximidade e a independência (Olson, 2000).

A comunicação adquire um importante papel no universo conjugal porque permeia toda a interação do casal (Wagner & Mosmann, 2012), assim como influencia diretamente na qualidade conjugal (Sillars, Canary, & Tafoya, 2004). Ríos-González (1994) faz uma distinção importante entre os níveis de comunicação que nos auxilia no entendimento do papel que essa dimensão adquire no âmbito do casamento; são eles: comunicação informativa, racional e emotiva ou profunda. O primeiro nível, informativo, diz respeito à transmissão de informações do que foi dito, feito ou visto, em que predominam aspectos cotidianos. Já o nível racional apresenta esse aspecto informativo assim como se emite algum tipo de consideração reflexiva sobre o fato. Por último, no nível profundo e emotivo, ao mesmo tempo que são transmitidos dados estes estão associados a sentimentos e emoções da pessoa que comunica. Esse nível é considerado como a comunicação verdadeira, pois é uma comunicação que fala de si mesmo e representa intimidade. Em consonância a esses aspectos da comunicação profunda, Sillars, Canary e Tafoya (2004) afirmam que o objetivo da comunicação é aumentar a proximidade e a ligação entre as pessoas e isso se refere à interpretação do que está sendo dito ou feito pelo outro.

A dimensão do conflito conjugal pode ser definida como resultado de divergências entre os membros do casal. Normalmente, o conflito pressupõe uma oposição que é percebida pelos cônjuges como fonte de dificuldades no relacionamento, podendo, inclusive, provocar rupturas (Wagner & Mosmann, 2012; Mosmann, & Wagner, 2008; Ford, Heine, & Langkamer, 2007). No entanto, o aspecto mais importante dessa dimensão da qualidade conjugal não está na sua presença ou ausência, mas de quais estratégias os cônjuges lançam mão no enfrentamento destas (Mosmann & Falcke, 2011). Existem vários tipos de estratégias de resolução para os conflitos, no entanto casais nos quais os dois cônjuges utilizam predominantemente estratégias construtivas apresentam maiores níveis de satisfação e estabilidade em relação aos que utilizam predominantemente as destrutivas (Falcke, Wagner & Mosmann, 2013; Beach & Fincham, 2010). Outro fator importante refere-se às estratégias que sejam efetivas, uma vez que não resolver os conflitos existentes no relacionamento não faz com que eles desapareçam, mas que vá se criando um acúmulo de mágoas e ressentimentos que podem vir à tona em outros momentos de discórdia de forma ainda mais intensa (Mosmann & Falcke, 2011).

A complexidade da interação dessas variáveis do relacionamento conjugal nos anos iniciais do casamento pode fazer com que haja constantemente o confronto entre demandas individuais e conjugais, podendo contribuir para a existência de conflitos no casal. O modo como os cônjuges gerenciam o conflito interfere em seu desenvolvimento pessoal e, nesse sentido, a resposta que eles têm ao conflito determina a qualidade dos relacionamentos ao longo do tempo (Sillars, Canary, & Tafoya, 2004).

Não há como identificar o que é ou não funcional sem entender a singularidade de cada relacionamento, pois o que gera sofrimento para uns pode estar bem adaptado para outros. Nichols e Schwartz (2007) referem que não é a ausência de problemas que faz uma família saudável, mas sim a existência de uma estrutura funcional para lidar com eles. Sendo assim, o que nos é possível mensurar são indicadores de funcionalidade no relacionamento conjugal, uma vez que uma tarefa importante do casal nesse momento do ciclo vital é aprender a se ajustar. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é analisar os níveis de qualidade conjugal nos anos iniciais do casamento em casais de dupla carreira a partir da adaptabilidade, coesão, conflito e comunicação.

 

Metodologia

Foi realizado um estudo exploratório e descritivo com método de análise de dados qualitativos no intuito de compreender o fenômeno e suas peculiaridades. Dessa forma, utilizamos o estudo de casos múltiplos (Yin, 2010).

Participantes

Participaram desta pesquisa cinco casais heterossexuais selecionados a partir de uma amostra por conveniência. Esses casais estavam em relacionamento conjugal de primeira união, formal ou informal, entre dois e cinco anos, período intitulado na literatura como jovem casal (Carter & McGoldrick, 1995), sem filhos, dupla carreira, idade entre 24 e 34 anos, residentes em Porto Alegre/RS região metropolitana do estado do Rio Grande do Sul, que não estivessem em terapia de casal. Tabela de caracterização dos casais abaixo.

 

 

Instrumentos

Questionário de dados sociodemográficos com o objetivo de conhecer o perfil dos casais investigados.

Entrevistas semiestruturadas: utilizaram-se dois roteiros de entrevista elaborados pelas pesquisadoras. Um para o casal, focado em aspectos da conjugalidade: formação do casal, papéis e funções. Outro individual, voltado para dimensões da individualidade: visão do relacionamento, o trabalho, relacionamento com os amigos, individualidade e projetos vitais.

Procedimentos éticos e de coleta de dados

Foi enviado um email para os contatos da pesquisadora solicitando que este fosse repassado a seus contatos na tentativa de encontrar casais. Explicavam-se os objetivos da pesquisa e convidava-se os casais a participar. Após um contato telefônico, agendou-se um encontro com cada casal, sendo as entrevistas, uma delas em conjunto, e a outra individual, com cada cônjuge, com duração de aproximadamente duas horas na residência dos participantes. Todas as entrevistas realizadas foram gravadas, transcritas e posteriormente analisadas. Este projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Unisinos sob protocolo 179/2011 e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

 

Resultados e discussão

Realizou-se uma análise através das seguintes dimensões: adaptabilidade, coesão, conflito e comunicação em cada um dos cinco casos e, posteriormente, uma análise integradora. Para garantir a confidencialidade dos dados, foram modificados os nomes dos participantes.

Casal 1 – Paulo e Vanessa: conheceram-se pela internet e começaram a namorar. Vanessa residia com os pais em Porto Alegre/RS e Paulo residia com sua mãe no interior do estado do Rio Grande do Sul. Para eles não houve um momento formal de namoro e, após três meses, encontrando-se apenas aos finais de semana e conversando através da internet, decidiram morar juntos. Para concretizar essa decisão, Paulo estava procurando emprego em Porto Alegre/RS. No momento da pesquisa, estavam em união conjugal há três anos e nove meses.

O casal expressa as dificuldades referentes ao cotidiano de um casal de dupla carreira: "Corrido... como todo casal que trabalha fora, né". No que diz respeito à forma como o casal administra os papéis e funções no casamento (Olson, 2000), identifica-se que há certa flexibilidade, uma vez que ambos realizam as tarefas domésticas, administram juntos o dinheiro, não havendo imposição ostensiva de um dos cônjuges sobre o outro. Não fica evidente que apenas um exerça a liderança no relacionamento cotidiano.

Devido ao fato de Paulo ter enfrentado uma mudança de cidade e pelo momento que vivenciam no ciclo de vida, percebe-se o casal bastante voltado para si, visando à construção de uma identidade conjugal que é inerente a essa fase (Féres-Carneiro & Diniz Neto, 2010; Féres-Carneiro, 2003). "E aí acho que acabei curtindo muito mais estar na minha casa, me apropriar mais disso, estar com ele, curtir mais ele, né, olhar mais pra nós dois". Por outro lado, a coesão diz respeito ainda à possibilidade de manter-se conectados, mesmo cultivando a independência. Fica evidente que Vanessa, por estar em sua cidade de origem, mantém mais espaços individuais de amizade e uma rede social mais ampla, porém isso não interfere no relacionamento conjugal.

A dimensão do conflito interferiu no relacionamento apenas recentemente, segundo o casal, quando o tema da parentalidade entrou em cena, pois Vanessa deseja ter filhos nos próximos cinco anos e Paulo afirma durante a entrevista que não se vê sendo pai nem nos próximos cinquenta anos. "Acho que a gente teve um período... um tanto quanto nebuloso, porque entramos na questão de ter ou não ter filhos, né... mexeu bastante com a gente... e deu uma distanciada".

Mesmo após quase quatro anos de relacionamento, Paulo e Vanessa demonstram nunca ter conversado sobre o tema comunicação, o que pode indicar uma dificuldade em relação ao mesmo, aspecto fundamental na ligação conjugal e extremamente relacionado à qualidade conjugal. Em relação a esse tema, Paulo e Vanessa demonstram utilizar apenas a comunicação informativa (Ríos-Gonzáles, 1994), que se dá através de fatos ocorridos, expressa de maneira fria e convencional. Isso suscita o questionamento de por que um aspecto tão importante quando se elege um cônjuge não foi abordado, a ponto de gerar conflito apenas quando o casal se encontra na transição da fase dos anos iniciais do casamento para a parentalidade. O casal refere que não apresenta conflitos significativos em outras áreas do relacionamento, inclusive contando com gostos muito parecidos, o que facilitaria, segundo eles, a ausência de maiores conflitos, fator que, na entrevista, não fica evidente, pois o tema apresenta-se de forma bastante mobilizadora para ambos.

O casal apresenta bons níveis de adaptabilidade e de coesão. Em relação à dimensão do conflito e às estratégias utilizadas para seu enfrentamento, Paulo e Vanessa apresentam baixos níveis de conflito e demonstram estar buscando alternativas para lidar com o conflito proveniente da discussão sobre a parentalidade. Pode-se identificar que o casal necessita desenvolver mais a comunicação para atingir níveis mais profundos como forma de lidar melhor com as vicissitudes do casamento. O casal relata vivenciar de forma satisfatória a experiência do casamento.

Casal 2 – Diego e Marina: residiam no interior do estado do Rio Grande do Sul quando se conheceram. Namoraram por quatro anos e, após os três primeiros anos de namoro, por iniciativa de Marina, foram morar com a família de origem desta. Passaram uns tempos separados porque Diego teve uma oportunidade de mudar de emprego e trabalhar na área de que realmente gostava em Porto Alegre/RS e foi morar com um amigo. Marina conseguiu um emprego na região metropolitana de Porto Alegre/RS e foi morar sozinha. Nesse meio tempo, voltaram a se falar e reataram o namoro, passando a morar juntos. Na ocasião da pesquisa, estavam em união conjugal há quatro anos, pois contabilizam como união conjugal a partir do momento no qual foram morar sozinhos. Atualmente, residem na região metropolitana de Porto Alegre/RS. Os dois trabalham na iniciativa privada. Marina cursa a faculdade de Administração e Diego faz cursos de aperfeiçoamento que, segundo eles, exigem bastante tempo deste.

Quanto à adaptabilidade, não apresentam padrões rígidos no que diz respeito ao estabelecimento de funções e papéis no relacionamento, inclusive Marina cita que a família de Diego acha um absurdo que ela não cozinhe e diz que ela não seria uma boa dona de casa, mas que isso não tem importância para os dois. Com relação às tarefas da casa, isso fica evidente através da postura que adotaram de que quem tem mais disponibilidade faz mais, e isso oscila entre os dois. "A gente divide tudo o que a gente pode, assim eu sempre ajudo ela sempre que eu posso, né, a fazer as coisas da casa. Eu sou o cozinheiro oficial da casa, quando tem que fazer comida, aí um lava e o outro faz a comida". Ainda referente à questão da adaptabilidade (Olson, 2000), Marina afirma, claramente, que a construção do relacionamento foi se efetivando a partir da comunicação e que as conversas iam produzindo adaptações.

Devido ao fato de os dois terem mudado de cidade em função de melhores oportunidades de trabalho, o casal apresenta altos níveis de coesão, que estão relacionados, também, à etapa que estão vivenciando na construção da conjugalidade, assim como a ausência de amigos, como eles mesmos citam, sendo mais frequentes os "parceiros" para algum tipo de programa. "A gente não tem convívio muito fora do trabalho com as pessoas. A gente tem grandes amigos, tanto eu quanto ela lá (cidade de origem). Aqui, os meus amigos realmente são as pessoas que trabalham comigo" – Diego. Esse é um dado que parece favorecer que o casal se volte para o sistema conjugal, fortalecendo o vínculo entre eles e o investimento no casamento. Consideram que possuem pouco tempo juntos devido à imposição do mercado de trabalho e ao fato de ambos estudarem ainda, então ocorre que, quando têm pouco tempo, escolhem por ficar com o cônjuge ao invés de sair com os amigos, o que dificulta a independência de cada um. "Eu sinto falta de espaços pra mim, mas, na verdade, eu acho que eu sinto mais falta de tá com ela, fazendo alguma coisa junto com ela, do que de tá sozinho". Aspectos como esses ilustram as dificuldades enfrentadas pelos cônjuges de dupla carreira devido à necessidade de conciliação entre os aspectos profissionais e pessoais, pois se torna imprescindível o constante investimento no trabalho (Perlin & Diniz, 2005; Monteiro, 2001).

A dimensão do conflito aparece justamente em relação ao tempo que conseguem investir no casamento. Referem situações de embate quando Diego sai sozinho, pois Marina gostaria que ele ficasse mais tempo com ela, ou que, quando ela estivesse em casa, ele voltasse mais cedo para casa. "Uma coisa é tu chegar em casa umas 10h, 11h (da noite) numa sexta-feira. Eu tô na faculdade, vou chegar às 10h30. Outra coisa é eu tá em casa pronta esperando pra fazer uma coisa e tu chegar meia-noite em casa... aí realmente, tem um motivo bem grande pra brigar". Isso corrobora os dados encontrados em Mosmann e Falcke (2011) em pesquisa que demonstrou que o motivo mais frequente que leva os cônjuges a apresentarem conflito refere-se ao tempo que desfrutam juntos. Além dessa questão, acreditam que não possuem situações de dificuldades devido ao fato de possuírem gostos muito parecidos e projetos de vida semelhantes.

A comunicação aparece na entrevista como um fator explorado positivamente pelo casal, uma vez que eles relatam que sempre, ao final do ano, conversam sobre os planos que possuem conjuntamente e individualmente para os próximos anos. Fica claro também o uso que fazem da comunicação quando relatam que as conversas produziam adaptações no relacionamento e que isso é visto por eles como um fator positivo.

O casal apresenta bons níveis de adaptabilidade e de coesão. Diego e Marina apresentam baixos níveis de conflito e demonstram estratégias efetivas de resolução de conflitos baseadas na comunicação.

Casal 3 – João e Carolina: conheceram-se no final de ano quando Carolina foi visitar seus pais em sua cidade de origem. Ela residia sozinha em Porto Alegre/RS há dez anos e João residia no interior do estado do Rio Grande do Sul com amigos. Namoraram por dois meses. João é funcionário público estadual e já desejava ser transferido para Porto Alegre/RS para que pudesse cursar uma faculdade. Carolina, na época em que se conheceram, estava desempregada em Porto Alegre, esperando ser chamada em uma empresa onde fizera seleção – como isso estava demorando, trancou a faculdade e optou por ficar no interior. Resolveram morar juntos, pois queriam ficar juntos e desejavam maior privacidade. Depois de um ano, João conseguiu transferência e mudaram-se para Porto Alegre/RS. No momento da pesquisa, o casal estava há quatro anos em união conjugal residindo em Porto Alegre/RS. João trabalha durante o dia, estuda à noite e, ainda, participa de um grupo de pesquisa, pois deseja seguir a carreira acadêmica. Carolina trabalha na iniciativa privada e estuda.

No que se refere à adaptabilidade, podemos constatar que o casal não apresenta regras estanques em relação ao estabelecimento dos papéis e funções, corroborando o que foi relatado em outros casos: o cônjuge que possui maior disponibilidade de tempo tem mais atribuições nas tarefas da casa, o que atualmente faz com que Carolina realize mais atividades domésticas. "Hoje quem tem mais tempo sou eu, então a maioria das coisas assim eu faço, com o comprometimento dele de pelo menos cuidar... Não tô estudando, me sacrificando, pra ser dona de casa, pra lavar roupa, pra fazer comida e limpar a casa, não é esse o meu objetivo". O fato de terem experimentado situações em que ambos foram colocados frente a dificuldades de adaptação devido à escolha de permanecer com o cônjuge demonstra que possuem bons níveis de adaptabilidade, pois, se houvesse uma estrutura rígida, cada um não teria aberto mão de coisas que eram importantes para si em função do relacionamento conjugal. "Foi uma mudança bem forte, porque eu tinha toda a minha aqui e ele tinha a vida dele lá. Eu larguei as coisas aqui e fiquei lá. Claro que teve alguns problemas, até pela questão de adaptação". O que demonstra que expressam altos níveis de adaptabilidade (Olson, 2000).

Embora se repita na maioria dos casos estudados nesta amostra, o fato de o casal vivenciar a necessidade da mudança de cidade configura algumas particularidades importantes. Ainda que seus níveis de coesão sejam altos, o que favorece a construção da conjugalidade devido à necessidade de desenvolver uma forte ligação com o par, os mesmos favorecem também o estabelecimento de certa fusão como quando Carolina, que apesar de um discurso muito marcado pela individualidade, demonstra-se bastante dependente de João. Em outra oportunidade, Carolina relata uma situação de divergência em que ela ficou muito chateada, pois achava que devido ao fato de ele não ir para casa mais cedo da aula, conforme ela pediu, ele a estava colocando em segundo plano. "No meu ponto de vista, eu não tava sendo a pessoa mais importante pra ele, e a ideia que eu tenho é que pra mim ele é a pessoa mais importante, depois de nós dois, aí sim vêm as outras coisas". As famílias de ambos moram longe e isso também favorece que o casal se volte para o subsistema conjugal. Relatam possuir poucos amigos e quando têm tempo livre, que é muito pouco, e fica evidente em sua rotina, preferem ficar juntos, ao invés de sair com os amigos. No entanto, mesmo apresentando níveis de coesão bastante altos, as entrevistas demonstram a importância das questões individuais para os dois, quando Carolina afirma: "desde pequena eu sempre fui muito individualista... o salário do João era dele, o meu salário era o meu salário, as despesas, eu pago isso, tu paga aquilo, eu compro isso, tu compra aquilo. Nunca assim, ah vamo lá comprar um sofá, por exemplo. Tanto que até por aquela ideia, a gente tá junto, mas ninguém sabe o dia de amanhã". João também apresenta esse investimento em si mesmo ao abordar a importância do trabalho em sua vida. Essa oscilação que o casal apresenta, entre momentos de fusão e outros de independência, evidencia uma dinâmica bastante diferente comparada aos demais casais deste estudo, o que demonstra que estão realizando esforços para encontrar níveis mais elevados de adaptação ao casamento e ao outro.

A dinâmica conjugal apresentada por esse casal torna claro o conflito existente entre a necessidade de conciliação dos aspectos individuais e conjugais de cada cônjuge inseridos no contexto do casamento na atualidade, podendo, devido à complexidade desse fenômeno, refletir em maiores níveis de conflito. Durante a entrevista, relatam que recentemente passaram por sérios problemas no relacionamento e que apenas a partir daí sentaram e resolveram conversar, o que demonstra que havia uma fragilidade na comunicação entre eles. Para João, Carolina sempre se demonstrou muito individualista, agindo como se estivesse sempre pronta para se separar – e isso o incomodava e causava insegurança. No entanto, não falavam sobre isso.

Foi somente a partir do momento em que isso começou a ameaçar a continuidade do relacionamento que realizaram movimentos na tentativa de melhorar a comunicação e, assim, minimizar os conflitos. "A gente tá tentando se adaptar". Outros motivos que, segundo eles, levam ao conflito são a falta de tempo que os dois têm para ficar juntos e o cansaço devido ao momento de vida profissional que enfrentam, o que nos remete ao cotidiano de casais de dupla carreira (Perlin & Diniz, 2005; Monteiro, 2001), assim como o desejo que Carolina possui de que João dedique mais tempo para ela e para o relacionamento. Muito relacionada à dimensão do conflito, a comunicação nesse casal apresenta problemas, uma vez que, mesmo com quatro anos de união conjugal, não conseguiam falar sobre seus sentimentos em relação ao outro, até que isso se tornou essencial para a manutenção do relacionamento.

João e Carolina experimentaram, pouco antes do momento da entrevista, um período de bastante conflito, o que faz com que estejam ainda procurando melhores estratégias para resolução dos conflitos inerentes ao casamento. No entanto, apresentam bons níveis de adaptabilidade e altos níveis de coesão, o que pode ser caracterizado pela grande proximidade afetiva que experimentam, assim como pelo valor que atribuem à independência dentro do relacionamento.

Casal 4 – Rodrigo e Patrícia: conheceram-se pela internet. Na primeira vez em que saíram, ela conta que ele a pediu em namoro. Isso aconteceu quando Patrícia recém havia saído da casa dos pais em Porto Alegre/RS para assumir um concurso público federal no interior do estado do Rio Grande do Sul. Contam que namoraram um mês e meio e, quando ela alugou um apartamento, ele decidiu que estava na hora de largar seu trabalho, pois era proprietário de um bar e a vida noturna não combinava com namoro sério. Foi quando, então, Rodrigo resolveu ir passar uma semana na casa de Patrícia e sugeriu que os dois morassem juntos. Na ocasião da entrevista, o casal estava junto há quatro anos, residindo em Porto Alegre/RS, após a transferência de Patrícia, e Rodrigo havia saído há três semanas do último emprego e estava dedicando-se a um curso de gastronomia. Ele havia saído do emprego justamente devido à situação extrema de falta de tempo e do estresse ao qual estava submetido no trabalho em uma empresa de engenharia do setor privado, o que demonstra as dificuldades enfrentadas pelos casais em conciliar a vida profissional e o casamento (Perlin & Diniz, 2005).

"A gente tem dividido, né, tem lá uma louça pra mim e tem umas coisas pra ela arrumar aqui, eu não vou mexer uma palha aqui e ela não vai mexer uma palha lá, e o responsável vai ter que dar um jeito". Ainda em relação às tarefas da casa, ambos confirmam que são bastante negociadas essas atribuições. No entanto, mesmo com essa divisão de tarefas, Patrícia assume alguns papéis que a deixam sobrecarregada, como a questão do gerenciamento financeiro do casal, e, apesar de ambos relatarem que conversam bastante sobre o cotidiano, ela não consegue falar para o companheiro que se sente sobrecarregada. Relata justamente que não é a ausência de conflitos que faz o relacionamento satisfatório, mas o diálogo, que funciona como estratégia para resolução que faz com que sempre tentem "ajustar" o que não está bem. "Foi tudo ajustes, assim sabe, cada uma tinha a sua vida que já era legal, individual, e daí tu ter que combinar isso com a de outra pessoa que é bem diferente de ti... e daí isso dá atrito, né". Possuem gostos bem diferentes, porém, ao identificarem isso, acabam cada um assistindo o filme de que gosta sem obrigar o outro a fazer algo que não queira, mas relatam que pensam bastante parecido e possuem planos semelhantes, o que facilita o entendimento e garante a satisfação, segundo eles.

Patrícia relata ser bastante apegada aos irmãos, trazendo-os para conviver de maneira próxima consigo e com Rodrigo. Já Rodrigo, devido à mudança de cidade em função do relacionamento, afirma que tem apenas dois amigos de verdade e que não moram na mesma cidade que ele, visitando-se, aproximadamente, duas vezes por ano. Como essa dimensão relaciona-se com a intensidade da proximidade e da independência, o casal fala durante a entrevista que possui "um relacionamento bem forte, sólido", diz Rodrigo. Isso faz com que estejam vivenciando com bons níveis de coesão a etapa da formação do casal, já ensaiando a transição para a parentalidade, uma vez que estão tentando engravidar.

Relatam que no início brigavam bastante, a relação era bastante conflitiva: "a gente quebrava o pau mesmo, porque nós dois somos esquentados", mas que atualmente conversam, pois as discussões são sempre coisas do cotidiano, aí as coisas se resolvem e fica tudo bem.

Acreditam que uma forma de minimizar a ocorrência de conflitos deve-se ao fato de que conversam muito, negociam, combinam tudo muito discutido, mas isso não significa que consigam realizar mudanças nos papéis, caso contrário Patrícia não estaria sobrecarregada com as questões da administração orçamentária do casal. Assim como, apesar de afirmarem que possuem bons níveis de comunicação, Patrícia não consegue falar dos seus sentimentos.

Entendendo que a qualidade é um conceito complexo e multidimensional influenciado por muitas variáveis, cada arranjo conjugal se dá conforme a vivência singular experimentada pelos cônjuges. Rodrigo e Patrícia apresentam níveis razoáveis de adaptabilidade devido à dificuldade de fazer alguns programas juntos, o que os impede de flexibilizar seus comportamentos em outros momentos do cotidiano. Quanto à coesão, apresentam bons índices, conseguindo lidar com proximidade e independência de forma satisfatória. No entanto, embora ambos afirmem que possuem boa comunicação, o que se reflete em estratégia de resolução de conflitos, percebe-se que, por vezes, a comunicação pode estar operando de forma ineficiente nesse casal. O casal avalia como satisfatório o casamento, o que justifica a manutenção do vínculo.

Casal 5 – Carlos e Melissa: conheceram-se através de um amigo em comum e começaram a namorar durante a faculdade. Residiam na mesma cidade, no interior do estado do Rio Grande do Sul. Namoraram por um período de quatro anos. Após concluir a graduação, Melissa passou em um concurso federal e foi trabalhar em outro município, fazendo com que, ainda namorados, o casal se visse apenas aos finais de semana. Em seguida, ela foi promovida e foi trabalhar em Porto Alegre/RS. Devido a essa situação, ela estava indo morar em Porto Alegre/RS e convidou-o para ir junto. Compraram um apartamento e, em aproximadamente seis meses, Carlos conseguiu uma transferência para Porto Alegre/RS, dentro da mesma empresa em que trabalhava. No momento da pesquisa, eles se encontravam em união conjugal há quatro anos e residindo em Porto Alegre/RS. Melissa é funcionária pública e refere que possui bastante autonomia em seu trabalho, sem enfrentar pressões, metas e possui certa flexibilidade de horário. Carlos trabalha na iniciativa privada, incluindo finais de semana quinzenalmente e feriados, o que incomoda um pouco Melissa.

O casal demonstra não estabelecer papéis rígidos, e, segundo Melissa, o fato de Carlos ser organizado e também fazer as tarefas da casa facilita o entendimento do casal no cotidiano. No entanto, ela conta que "ele reclama muito que eu não cozinho pra ele", quando ele se refere ao fato de ela não fazer janta. "Daí eu digo pra ele, mas tu nasceu em outra época, nessa época que nós nascemos a mulher não precisa mais cozinhar", referindo-se ao tempo antigo, quando se tinha o modelo tradicional de casamento com papéis bastante definidos. Em relação à satisfação conjugal, Carlos afirma estar "plenamente satisfeito, ou adaptado, talvez" em relação ao casamento. O fato de utilizar o termo "adaptado" expressa claramente a fase do ciclo vital na qual se encontra, da adaptação um ao outro, da negociação (Olson, 2000) e, portanto, da formação do casal. O casal possui projetos parecidos e planeja ter filhos nos próximos anos.

Nesse casal identifica-se a necessidade de voltar seu investimento para o casamento, devido às mudanças da cidade de origem. Afirmam que fazem a maior parte das atividades cotidianas juntos, convivem bastante agora que os horários se encaixam, e Melissa chega a mencionar que às vezes Carlos demonstra-se introspectivo, calado, pois ficam bastante tempo juntos e chegam a esgotar o assunto. Apresentam dificuldades em manter a independência, que é importante aspecto dentro do conceito de coesão. Melissa sente-se incomodada com as saídas dele com os amigos, pois ela não possui rede social para realizar também tais programas. Apesar desse aspecto, apresentam bons índices de coesão, fundamental para esse período que estão experimentando no casamento.

No que se refere à dimensão do conflito conjugal, contam que este surge quando Carlos sai sozinho, pois Melissa não tem amigos como ele tem, ficando em casa sozinha nesses momentos. Quando Carlos realiza movimentos em que se volta para fora do relacionamento, ela se incomoda, corroborando dados de pesquisa sobre um dos motivos mais frequentes de o conflito conjugal estar relacionado ao tempo que os casais desfrutam juntos (Mosmann & Falcke, 2011). Essa questão está, também, relacionada à coesão, pois esta representa a possibilidade de o casal manter-se próximo mesmo quando em momentos independentes. Outra situação que causa conflito diz respeito às aspirações profissionais de Carlos, seu trabalho e a necessidade de trabalhar nos finais de semana e feriados, ou seja, em relação à interferência do trabalho na vida do casal, um aspecto cada vez mais presente nos casais de dupla carreira.

Afirmam que conversam bastante, porém, em relação ao uso do dinheiro e ao fato de ela ganhar mais do que ele, ela se incomoda. Eles não falam a respeito desse assunto, o que compromete um pouco a comunicação, sem afetar a qualidade conjugal, podendo, contudo, ser fator predito de problemas em longo prazo, quando enfrentarem situações que exijam níveis mais profundos de comunicação.

Uma vez que a qualidade conjugal é influenciada por muitas variáveis, cada casal vivencia a satisfação com o relacionamento a partir da singularidade da dinâmica experimentada por eles. Com base nas dimensões avaliadas, Carlos e Melissa apresentam bons níveis de adaptabilidade e coesão. Têm enfrentado de forma criativa os conflitos e, no que diz respeito à comunicação, apresentam dificuldade em desenvolver níveis profundos de comunicação, desenvolvimento que pode melhorar o entendimento entre o casal.

 

Análise integradora dos casos

Ao analisarem-se, de forma integrada, os casos identifica-se que nenhum dos casais apresentou conteúdos discordantes entre as entrevistas conjugal e individual de cada cônjuge. Esse aspecto torna-se muito importante, uma vez que os casais não experimentam diferentes discursos por estarem juntos ou sozinhos. Esses casais, nos anos iniciais do casamento, apresentam, de uma maneira geral, bastante flexibilidade em relação aos papéis e funções desempenhadas no relacionamento, o que se traduz em bons níveis de adaptabilidade (Olson, 2000). Também se corroboram os resultados apresentados por Jablonski (2010) demonstrando mudanças no contexto da família contemporânea em relação aos papéis e tarefas domésticas. Constatamos que existe uma distribuição heterogênea entre os casais no que se refere à divisão das tarefas domésticas. Em alguns casos, os homens assumem a maior parte das tarefas, noutros as mulheres realizam grande parte das atividades e ainda noutros essa divisão é bastante igualitária. O que se identifica é que, diferentemente do modelo tradicional de casamento, nos casais estudados o compartilhamento das tarefas entre homens e mulheres ocorre de maneira natural. Entretanto, no discurso feminino surge a queixa de que, mesmo inseridas no mercado de trabalho, elas acabam realizando a maior parte das tarefas domésticas, seja por possuir mais tempo livre, ou por uma percepção que ainda se perpetua entre os casais na atualidade de que os homens desempenhariam função coadjuvante nessas atividades, encarando sua realização como colaboração (Jablonski, 2010; Souza, Wagner, Branco, & Reichert, 2007). A disponibilidade de cada cônjuge para a realização de tais atividades é o que acaba determinando quem realiza mais tarefas domésticas e não o fato de ser homem ou mulher, o que nos faz pensar que as modificações culturais que a sociedade tem enfrentado estão cada vez mais internalizadas, principalmente pelos adultos jovens.

Outro aspecto que merece destaque diz respeito às mudanças que os casais vêm encarando devido à necessidade de mudar de cidade em busca de melhores perspectivas no âmbito profissional, pois, em todos os casais estudados, pelo menos um cônjuge está distante de sua cidade de origem. Essas novas imposições aos jovens fazem com que a tendência seja voltar-se para o casamento como forma de satisfação e segurança, o que se reflete em altos índices de coesão e investimento na conjugalidade e se torna funcional em uma etapa bastante difícil, na qual devem se acomodar as questões individuais de cada um para que ocorra a formação do casal (Féres-Carneiro & Diniz Neto, 2010; Ríos-Gonzáles, 2005; Féres-Carneiro, 2003; Carter & McGoldrick, 1995). Uma vez que enfrentam mudanças de cidade associadas a relatos de falta de tempo, característico de casais de dupla carreira, ocorre que, quando esses casais possuem tempo livre, acabam optando por se voltar para o casamento – e isso se reflete tanto no comportamento dos homens quanto no das mulheres.

Podemos afirmar que os casais, de uma forma geral, apresentam distintos níveis de conflito. No entanto, na maioria dos casos analisados, eles estão relacionados principalmente à falta de tempo para investir no relacionamento, o que foi marcante especialmente no discurso das mulheres. A ausência de conflitos por si só não significa melhores índices de qualidade conjugal, isso vai depender da intensidade, da frequência, dos motivos e, especialmente, das estratégias de resolução dos mesmos. No entanto, a falta de tempo é percebida, tanto por homens como mulheres, como algo prejudicial ao relacionamento e pode acabar se transformando em conflito, pois a maioria dos casais identifica-se com pouco tempo para investir no relacionamento.

Outro aspecto vinculado à dimensão do conflito aparece relacionado a dificuldades na comunicação entre os cônjuges. A comunicação adquire papel fundamental na manutenção de um relacionamento saudável e duradouro. Os casais, de uma forma geral, apresentaram dificuldades em se comunicar de forma profunda. Ríos-González (1994) refere que é frequente os casais não conseguirem falar a mesma língua e não conseguirem se entender. Para os participantes deste estudo, a comunicação apareceu como a dimensão da qualidade conjugal que mais apresentou problemas, pois, embora os casais afirmem que conversam bastante, o conteúdo das entrevistas indica que não se comunicam de forma efetiva. Apesar de já terem experimentado vários anos juntos, o cônjuge não sabe aspectos fundamentais a seu respeito, corroborando a ideia de que muitos dos casais, apesar de relatar possuir bastante diálogo, acabam restritos a níveis mais superficiais de comunicação, como a informativa ou racional, o que faz com que a ausência de uma comunicação profunda possa vir a ameaçar, desde o início, a construção da dinâmica conjugal (Ríos-González, 1994) e, futuramente, sua estabilidade.

Pode-se assumir que os casais estudados apresentam, com base nas dimensões avaliadas, níveis elevados de qualidade conjugal mesmo frente às dificuldades encontradas nos anos iniciais do casamento e à imposição do mercado de trabalho. Demonstram que continuam investindo no casamento, corroborando os dados de Jablonski (2011), inclusive realizando mudanças de cidade em busca de trabalho ou para permanecer ao lado do parceiro escolhido.

O tempo de relacionamento conjugal que apresentam reforça a ideia de que, para os padrões atuais de relacionamento, os casais participantes possuem estabilidade, uma vez que estão casados há um tempo considerável, sendo a média desta pesquisa três anos e meio. Isso significa que, mesmo frente às dificuldades inerentes ao casamento, seus níveis de funcionamento indicam bons níveis de satisfação conjugal, uma vez que, atualmente, os relacionamentos amorosos tendem a ser efêmeros, e a facilidade do divórcio implica na necessidade de um maior investimento na relação, buscando-se, assim, um vínculo duradouro.

 

Considerações finais

Avaliar a qualidade conjugal tem sido visto como uma necessidade para compreender o que faz com que alguns casamentos sejam duradouros e outros efêmeros. Dessa forma, estudar como se dá esse processo em casais jovens, de dupla carreira, em busca de melhores oportunidades de trabalho, com pouca rede de apoio social e contato com a família de origem, é fundamental para entendermos quais são as implicações desses atravessamentos nesse evento em constante transformação. Os dados apontam modificações que vêm ocorrendo no universo do casamento, o que corrobora o fato de que as transformações sociais influenciam na dinâmica conjugal. No entanto, os papéis de gênero parecem não ser mais os principais responsáveis pelas características desse fenômeno, o qual é atravessado por muitas variáveis, destacando-se a importância que o aspecto profissional vem adquirindo para os cônjuges.

É necessário salientar que os resultados desta pesquisa devem ser contextualizados aos locais e momentos em que se realizou o estudo, uma vez que aborda um tema que apresenta muitas variações de acordo com cada contexto. Cabe ressaltar que este estudo enfocou a perspectiva do adulto jovem, de nível socioeconômico médio, em relação a aspectos da qualidade conjugal, buscando identificar aspectos que possam servir aos profissionais da área como subsídios para a clínica com casais. Os resultados apresentados estão circunscritos aos casais que participaram do estudo nessa região do país, cabendo à reflexão se os fenômenos aqui descritos são também uma realidade em outros estados do Brasil. Ficou bastante evidente o caráter migratório entre esses adultos jovens, em início de carreira, na busca por melhores condições no mercado profissional. Questiona-se se essa é uma realidade que vem se construindo devido às mudanças sociais, econômicas e culturais, ou se é um fenômeno circunscrito aos participantes do presente estudo. Esse investimento, demonstrado pelos casais na tentativa de obter melhores condições de trabalho, pode estar refletindo uma característica dos casais de dupla carreira. Entender como se dão esses processos na atualidade fornece subsídios para que se possam desenvolver intervenções que auxiliem os casais a lidar com a complexidade do casamento, algo que sempre existiu, mas que, atualmente, tem recebido mais ingredientes.

Diante do exposto, este estudo nos faz refletir sobre a importância de desenvolvermos atividades voltadas para a educação conjugal, uma prática ainda pouco difundida no Brasil, mas que apresenta um papel importante na construção da conjugalidade, uma vez que possibilita aos futuros cônjuges um aprendizado que pode ser pré-nupcial, quando ainda estão em preparação para o casamento ou conjugal, o que atinge o período de até cinco anos de casamento (Wagner, & Mosmann, 2010). A comunicação seria, sem dúvida, um aspecto que deveria ser trabalhado em se tratando de educação para a conjugalidade no Brasil de modo a auxiliar os jovens casais a desenvolver níveis mais profundos de comunicação, uma vez que se trata de uma dimensão importante da qualidade conjugal.

Como sugestão para estudos futuros, entende-se como de suma importância avaliar as características individuais dos cônjuges na tentativa de aprofundar a discriminação entre o que é proveniente do casamento e o que é particular de cada cônjuge, já que a bagagem que cada um traz para o relacionamento é, também, determinante na forma como vai lidar com esse novo arranjo em constante construção.

 

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Recebido em 17 de dezembro de 2013
Aceito para publicação em 26 de novembro de 2015

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