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Psicologia Clínica

versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438

Psicol. clin. vol.28 no.3 Rio de Janeiro  2016

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

O número 28.3 da Revista Psicologia Clínica aborda o tema Psicoterapias: investigação e tratamento. Reúne oito artigos, incluindo quatro contribuições internacionais, em duas seções, e uma resenha. A seção temática agrupa artigos que discutem resultados de investigações que contribuem para a psicologia clínica em diversas vertentes teóricas.

O artigo que inicia a seção temática, Estratégias de terapias de exposição à realidade virtual: uma revisão discutida sob a ótica analítico-comportamental, dos autores Joseani Kochhann (UEL), Verônica Bender Haydu (UEL) e Elizeu Borloti (UFES), aborda a tecnologia de realidade virtual e suas vantagens para as intervenções psicoterapêuticas de transtornos de ansiedade como as fobias. Este artigo revisou a bibliografia sobre terapia de exposição à realidade virtual (VRET) de cinco tipos de fobias (agorafobia, aracnofobia, claustrofobia, catsaridafobia, amoxobofia), descreveu os procedimentos terapêuticos e comparou-os com procedimentos usados em psicoterapia analítico-comportamental. Os resultados indicam que a VRET e a psicoterapia analítico-comportamental apresentam semelhança na estrutura básica e diferenças na fixação ou não de hierarquias de exposição e na realização ou não de análises funcionais dos comportamentos.

O segundo artigo apresentado na seção temática, Sociotropía y autonomía: ¿evidencias para la hipótesis de especificidad de síntomas en depresión?, de autoria de Ronald Alberto Toro Tobar (Universidad Católica de Colombia), Hugo Alejandro Arias López (Fundación Universitária Konrad Lorenz), Julián Camilo Sarmiento López (Universidad Nacional de Colombia), é um estudo descritivo com o objetivo de identificar a relação entre os sintomas depressivos e a personalidade cognitiva sociotrópica-autonómica segundo o modelo da vulnerabilidade cognitiva e a hipótese da especificidade de sintomas, pela qual se afirma que, diferencialmente na depressão sociotrópica, apresentam-se sintomas de elevada tristeza, solidão, privação, ansiedade e tentativas passivas de suicídio, enquanto que na autonómica: cognições de fracasso, autodesprezo, anedonia, autocrítica, abstinência, baixo interesse, hostilidade e formas ativas de suicídio.

Em seguida, o trabalho intitulado Grupo terapêutico de mediação e a formação clínica em casais e famílias, de autoria de Sandra Aparecida Serra Zanetti (UEL) e Isabel Cristina Gomes (USP), apresenta uma pesquisa que teve como objetivo verificar se o Grupo Terapêutico de Mediação com estudantes de Psicologia seria capaz de favorecer o funcionamento do pré-consciente no que se refere à elaboração psíquica de conteúdos ligados à trama inconsciente familiar. Sete estudantes participaram primeiramente de uma entrevista individual, em seguida de cinco encontros no Grupo Terapêutico de Mediação, e posteriormente de uma entrevista individual final. Os resultados apontam que o Grupo Terapêutico de Mediação foi capaz de desenvolver a função pré-consciente dos estudantes, mostrando-se como um importante instrumento terapêutico que pode ser empregado como um cuidado complementar e como uma estratégia de formação para o estágio de prática clínica em Psicologia.

O artigo Los ejes de la parentalidad durante la adolescencia: consideraciones en la clínica actual desde la perspectiva psicoanalítica, de autoria de Daniela Fernández Olguín (PUCV), tem por objetivo descrever e analisar os eixos da parentalidade durante a adolescência através da revisão de um caso clínico. Com base nisso se propõe analisar os eixos da parentalidade destacando sua particularidade na clínica com adolescentes e seus pais com a finalidade de propor elementos particulares dos eixos da parentalidade durante a adolescência. Desse modo, se expõe a relevância do trabalho clínico com os pais, considerando-se a própria história e a adolescência destes e como estas se relacionam com sua função parental.

O primeiro artigo da seção livre, intitulado El sueño amoroso y sus lógicas de guerra. Notas psicoanalíticas sobre el amor, el deseo y el ódio, de autoria de Marcela Gonzalez-Barrientos (PUCV) e Stefania Napolitano (Universidad Federico II de Nápoles), aborda a desconstrução do mito da complementaridade romântica. O trabalho desenvolve a ideia de amor romântico como o mais bem-sucedido paliativo ao medo humano da solidão e, ao mesmo tempo, como uma forma de alienação. A relação de poder no casal é discutida, com base na crítica feminista. A violência contra as mulheres na relação amorosa é apontada como produto da dificuldade de ordem simbólica e patriarcal de aceitar a alteridade feminina.

O artigo seguinte, Vivência psicossocial do cancro em pacientes sem fadiga oncológica – um estudo descritivo, das autoras Cláudia Carvalho Ng Deep, Isabel Leal William e Ivone Patrão (Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) – Lisboa, Portugal), é um estudo que contribui para o conhecimento da vivência psicossocial de pacientes oncológicos sem fadiga oncológica, em radioterapia. Esses pacientes encaram o processo oncológico como um desafio e um meio de crescimento pessoal. É um estudo longitudinal descritivo, com uma amostra emparelhada (n=35) cujos sujeitos foram avaliados antes e após a radioterapia quanto a padrões de regulação emocional (Escala de ansiedade, depressão e estress), perceção e satisfação com o suporte social (Escala de satisfação com o suporte social), crenças (Questionário de pensamento e crenças, construído para o efeito), qualidade de vida (QLQ-C30) e resiliência (Escala de resiliência). Verifica-se que após o tratamento houve alteração na estabilidade emocional e social, com decréscimo da qualidade de vida e resiliência sem afetar significativamente o bem-estar global inicial.

Em seguida, o artigo intitulado Trajetórias de desenvolvimento e marcos de vida em jovens do Rio de Janeiro, de Natasha Silva Santos (UERJ), Maria Lucia Seidl-de-Moura (UERJ), Tânia Abreu da Silva Victor (UERJ) e Dandara de Oliveira Ramos (UERJ), aborda a transição para a idade adulta em contextos industrializados, nos quais tornar-se adulto é marcado pela valorização da escolarização e especialização profissional, enquanto em contextos tradicionais há valorização do casamento e formar uma família. O estudo buscou investigar a relação desses marcadores característicos da entrada na vida adulta e sua relação com as trajetórias de desenvolvimento e escolaridade. Participaram 40 jovens, criados no Estado do Rio de Janeiro (RJ), com idade entre 18 e 25 anos, de níveis alto e baixo de escolaridade. Conclui-se que, embora não tenha havido influência da escolaridade, em contextos em que há valorização da autonomia, há tendência por escolhas individualistas de marcadores, enquanto nos em que há maior valorização de interdependência, há tendência por escolhas de marcadores relacionais.

O último artigo da seção livre, o artigo A ameaça do encontro com o outro na adicção sexual, de autoria de Ney Klier Padilha Netto (UFRJ) e Marta Rezende Cardoso (UFRJ), analisa uma modalidade particular de adicção, a compulsão sexual, situação clínica na qual o sujeito utiliza a sexualidade à maneira de uma droga. O apelo imperativo e incessante ao ato sexual é acompanhado de profundo distanciamento do objeto no que concerne ao plano afetivo dessa relação. O encontro com o outro é parcializado, desumanizado, sendo o parceiro sexual relegado à condição de anonimato. Com o auxílio ilustrativo do filme "Shame", os autores exploraram o impasse vivido pelo sex-addict no campo do amor, dando particular relevo aos fatores narcísicos e edípicos envolvidos nessa resposta defensiva, de caráter patológico.

Finalizamos essa edição com a resenha do livro Ensaios sobre Michel Foucault no Brasil. Presença, efeitos, ressonâncias, de Heliana de Barros Conde Rodrigues, publicado em 2016 pela Editora Lamparina. A resenha, intitulada Sobre botos e andarilhos, de autoria de Esther Maria de Magalhães Arantes (PUC-Rio) e Ruth Batista (Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana/UERJ), toma de empréstimo as imagens de Foucault como boto e como andarilho, trazidas no Prefácio e Posfácio do livro por Ernani Chaves e por Edson Passetti, respectivamente. Versando sobre as andanças de Michel Foucault pelo Brasil, ao todo cinco (1965, 1973, 1974, 1975 e 1976), a resenha ressalta a beleza e graça das narrativas de Heliana Conde, incluindo os aspectos impagáveis, anedóticos, dramáticos e inesperados dessas visitas.

Andrea Seixas Magalhães
Ester Arantes

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