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Psicologia Clínica

versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438

Psicol. clin. vol.29 no.3 Rio de Janeiro  2017

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

O número 29.3 da Revista Psicologia Clínica tem como título "A maternidade assombrada: crianças (des)encaminhadas?". Reúne nove artigos, sendo um deles internacional. A seção temática agrupa trabalhos que apresentam resultados de investigações que contribuem para a problemática da maternidade e da clínica das relações familiares, levantando pontos fundamentais para a psicologia clínica nos tempos atuais.

O artigo que inicia a seção temática, Parricide et violences psychiques dans la famille: une mère raconte, dos autores Florian Houssier (Université Paris, Villetaneuse), Aurelie Maurin (Université Paris, Villetaneuse), Marie-Christine Pheulpin (Université Paris, Villetaneuse) e Gilbert Coyer (Université Paris, Villetaneuse), busca compreender, através do relato de uma mãe que teve o ex-marido assassinado pelo filho, a psicopatologia das relações entre pais e filhos e as violências psicológicas que puderam contribuir para essa passagem ao ato, interpretando-o a partir da cumplicidade estabelecida entre mãe e filho.

O segundo artigo, intitulado Mães adolescentes que vivem com o HIV: uma investigação qualitativa sobre a "Constelação da Maternidade", dos autores Daniela Centenaro Levandowski (UFCSPA, Rio Grande do Sul), Marco Daniel Pereira Correio (Universidade de Coimbra, Portugal), Margaret Daros Pinto (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Gabriela Nunes Maia (UFCSPA, Rio Grande do Sul), reflete sobre a vivência da maternidade adolescente na presença do HIV, tema fundamental para a realidade brasileira e pouco explorado. Nove mães de nível socioeconômico baixo responderam a uma entrevista semiestruturada, cuja análise indicou preocupação com a saúde do bebê e grande desafio para as adolescentes, apesar de seu sentimento positivo frente à maternidade e boa rede de apoio familiar. Ressalta-se a importância do apoio psicológico.

A seguir, temos o trabalho de Lívia Mariane de Sousa Schechter (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Simone Perelson (Universidade Federal do Rio de Janeiro) intitulado Separar-se da mãe para tornar-se mãe: a criação do espaço de concepção, que investiga o processo de separação entre mãe e filha relacionado com o desejo de concepção de filhos por parte da filha, desenvolvendo esse tema a partir da relação pré-edípica com a mãe. Discute-se a gravidez como uma oportunidade privilegiada de atualização do processo de separação entre mãe e filha e a construção de um espaço psíquico necessário à concepção.

O quarto artigo da seção temática, Acolhida e cuidado a crianças e famílias em um serviço de saúde mental infantil das autoras Vania Bustamante (Universidade Federal da Bahia), Rosângela Oliveira (UNICAMP, São Paulo) e Nattana Brito Rodrigues (Universidade Federal da Bahia) aborda políticas de saúde mental infantil no Sistema Único de Saúde e as contribuições da psicanálise para este campo, a partir de um estudo de caso com frequentadores de um serviço que atende crianças e suas famílias, buscando compreender o processo terapêutico inicial e sua evolução, constatando nesse contexto a importância do fortalecimento dos vínculos familiares.

O quinto artigo da seção temática, Encaminhamento de crianças para atendimento psicológico: uma revisão integrativa da literatura, das autoras Marina Autuori (Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo) e Tania Mara Marques Granato (Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo) explora a produção científica atual sobre o encaminhamento de crianças para atendimento psicológico. Para isso, analisa artigos de 2008 a 2015, em periódicos indexados nas bases de dados PePSIC, SciELO Brazil, LILACS, MEDLINE/PubMed, PsycARTICLES (APA), Social Services Abstracts (ProQuest) e Elsevier, para a identificação de motivos para o encaminhamento infantil, perfil da clientela infantil e dos pais e dinamização do atendimento.

O primeiro artigo da seção livre, Trauma e testemunho: uma leitura de Maryan S. Maryan inspirada em Sándor Ferenczi, dos autores Alan Osmo (UNICAMP, São Paulo) e Daniel Kupermann (Universidade de São Paulo), explora as ideias de trauma e testemunho a partir de reflexões teóricas de Sándor Ferenczi e da discussão de desenhos do pintor Maryan S. Maryan, feitos durante seu tratamento psicanalítico. A ideia de testemunho, apesar de não ser um conceito propriamente psicanalítico, aponta para a importância da questão da comunicação, que envolve um sujeito que fala e outro(s) que escuta(m), quando do relato de uma experiência traumática.

O segundo artigo da seção livre, O uso do desenho em terapia de casal de autoria de André Luiz De Biagi-Borges (Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais) e Emerson Fernando Rasera (Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais), ao tratar da terapia de casal, tradicionalmente restrita aos recursos da linguagem verbal em detrimento de outras formas linguísticas, busca compreender os processos relacionais de construção de sentidos mediante a criação do desenho do casal na clínica. A coleta de dados pelo vídeo-gravação e sua análise possibilitaram a identificação de diferentes usos do desenho como nova linguagem incorporada à usual, pois enseja a aprendizagem de novos gestos e novos sentidos.

O terceiro artigo da seção livre, Violência conjugal e transtornos da personalidade: uma revisão sistemática da literatura, de autoria de Marcela Bianca de Andrade Madalena (UNISINOS, Rio Grande do Sul), Crístofer Batista da Costa (UNISINOS, Rio Grande do Sul) e Denise Falcke (UNISINOS, Rio Grande do Sul), avalia como os transtornos da personalidade são associados à violência conjugal compondo tipologias de agressores. Entre 2009 e 2014 foram selecionados 28 artigos para estudos quantitativos, focando majoritariamente homens perpetradores de violência. Os transtornos prevalentes associados à violência conjugal foram o borderline e o antissocial. Poucos estudos investigaram a violência em amostras de homens, mulheres ou casais.

O último artigo da seção livre, Por que eles permanecem juntos? Contribuições para a permanência em relacionamentos íntimos com violência, de autoria de Josiane Razera (UNISINOS, Rio Grande do Sul) e Denise Falcke (UNISINOS, Rio Grande do Sul), investiga a violência como um problema de saúde, em vista da longa permanência de muitos casais nesses relacionamentos. Através do estudo de três casais observou-se estratégias de violência física e psicológica nos casais, desencadeadas por discórdia, infidelidade, alcoolismo e questões financeiras. A permanência juntos é combinação de amor e praticidade da convivência, apesar dos danos à saúde e perpetuação da violência.

Isabel Fortes

Esther Arantes

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