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Psicologia Clínica

versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438

Psicol. clin. vol.29 no.3 Rio de Janeiro  2017

 

SEÇÃO LIVRE

 

Violência conjugal e transtornos da personalidade: uma revisão sistemática da literatura

 

Intimate partner violence and personality disorders: a systematic review of the literature

 

Violencia conyugal y trastornos de la personalidad: una revisión sistemática de la literatura

 

 

Marcela Bianca de Andrade MadalenaI; Crístofer Batista da CostaII; Denise FalckeIII

IMestre em Psicologia Clínica (UNISINOS), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Novo Hamburgo, RS, Brasil
IIUniversidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica, Porto Alegre, RS, Brasil
IIIProfessora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo, RS, Brasil

 

 


RESUMO

Os transtornos da personalidade são frequentemente associados à violência conjugal, compondo tipologias de agressores. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar de que forma os transtornos da personalidade são associados à violência conjugal e os principais resultados dos estudos no período entre 2009 e 2014. Para tanto, foi realizada uma revisão sistemática da literatura nas bases de dados Academic Search Premier, IndexPsi, Medline Complete, Scielo e Web of Science. Foram identificados 161 artigos e, após os procedimentos de análise e elegibilidade, 28 artigos compuseram esta revisão. Os resultados apontaram que todos os estudos são quantitativos e a maioria deles foi realizada com homens perpetradores de violência. As características dos transtornos prevalentes associadas à violência conjugal foram Borderline e Antissocial. Poucos estudos investigaram a violência cometida e sofrida em amostras de homens e mulheres e de casais e utilizaram técnicas estatísticas sofisticadas como as diádicas e a modelagem de equações estruturais.

Palavras-chave: violência conjugal; transtornos da personalidade; teoria sistêmica.


ABSTRACT

Personality disorders are often associated with intimate partner violence, composing types of offenders. The aim of this study was to analyze how personality disorders associated with intimate partner violence were investigated and what the main results during the period between 2009 and 2014. Therefore, a systematic literature review was performed and were consulted the Academic Search Premier, IndexPsi, Medline Complete, Scielo and Web of Science databases. It was identified 161 articles and after the procedures for examining and eligibility, 28 articles composed this review. The results showed that all studies were quantitative and most of them were carried out with perpetrators male of violence. The personality disorder traits predictors or associated with intimate partner violence was Borderline and Antisocial. Few studies investigated the violence committed and suffered in men and woman samples, sample of couples and used sophisticated statistical techniques such as dyadic and structural equation modeling.

Keywords: intimate partner violence; personality disorders; theory systemic.


RESUMEN

Los trastornos de la personalidad a menudo se asocian con la violencia de pareja, componen tipos de delincuentes. En este sentido, el objetivo de este estudio fue evaluar cómo los trastornos de la personalidad están relacionados con la violencia de pareja y los principales resultados de los estudios realizados en el período entre 2009 y 2014. Para ello, una revisión sistemática de la literatura se realizó en las bases de datos Academic Search Premier, IndexPsi, Medline Complete, SciELO y Web of Science. Se identificaron 161 artículos, y después del análisis de los procedimientos y criterios de elegibilidad, 28 artículos componen esta revisión. Los resultados mostraron que todos los estudios son cuantitativos y la mayoría de ellos se llevaron a cabo con los hombres autores de la violencia. Las características de los trastornos prevalentes asociados con la violencia de pareja fueron Borderline y Antisocial. Pocos estudios han investigado la violencia cometida y sufrió en muestras de hombres y mujeres y parejas y sofisticadas técnicas estadísticas utilizadas como el modelo de ecuaciones diádica y estructural.

Palabras clave: violencia conyugal; trastornos de la personalidad; teoría sistémica.


 

 

O interesse dos pesquisadores e profissionais da saúde pelo tema da violência conjugal está relacionado aos elevados índices com que ela ocorre entre os casais, deixando de ser uma questão restrita ao lar para se tornar um problema de saúde pública (Ministério da Saúde, 2008). Cada vez mais discutida na literatura científica nacional e internacional, a violência conjugal é investigada através de diferentes perspectivas teóricas. Há uma perspectiva de gênero da violência, em que se considera a mulher como a principal vítima e o homem como o agressor e que exerce um papel de maior dominação, e a perspectiva da violência como um fenômeno interacional, compreendido sistemicamente (Falcke, Oliveira, Rosa, & Betancur, 2009), foco deste estudo.

Embora, tradicionalmente, as mulheres sejam consideradas as principais vítimas da violência (Johnson, 2006; Kelly & Johnson, 2011), estudos identificaram que ela vem sendo praticada também contra os homens (de 11,5% a 30,54%) por parte de suas parceiras (Carmo, Grams, & Magalhães, 2011; Fehringer, & Hindin, 2009) e, em algumas amostras, que as mulheres podem apresentar níveis mais elevados de perpetração da violência do que os homens (Lawrence, & Bradbury, 2007; Williams, & Frieze, 2005).

Ainda, uma meta-análise realizada por Straus (2011) identificou simetria entre os sexos na perpetração da violência contra o parceiro, mesmo nos casos mais graves. Essas divergências na literatura remetem à complexidade da violência conjugal e à possível heterogeneidade de sua manifestação entre o casal (Langhinrichsen-Rohling, 2010), podendo acontecer de forma uni ou bidirecional. Ainda assim, deve sempre ser considerado que, apesar da existência de simetria entre os sexos na perpetração da violência, o efeito da mesma é assimétrico, sendo mais prejudicial às mulheres (Johnson, 2006; Kelly, & Johnson, 2011).

Considerada um fenômeno multideterminado, a violência tem sido investigada por meio de variáveis que expliquem sua ocorrência. As psicopatologias, por exemplo, são frequentemente apontadas pelos estudos, em especial os transtornos e características da personalidade (Ehrensaft, Cohen, & Johnson, 2006; Fowler, & Westen, 2011; Holtzworth-Munroe, Meehan, Herron, Rehman, & Stuart, 2003; Liu, Zhang, Brady, Cao, He, & Zhang, 2012; Maneta, Cohen, Schulz, & Waldinger, 2013; Thornton, Graham-Kevan, & Archer, 2010).

Os transtornos da personalidade (TP) são caracterizados por comportamentos persistentes e estáveis, que trazem prejuízos ao indivíduo (APA, 2014). Pessoas com TP possuem um repertório limitado e rígido de estratégias para lidar com problemas, percepções e comportamentos que perpetuam suas dificuldades, e baixa resiliência diante do estresse (Millon, 2011), mantendo-se presas a essas questões. De acordo com o DSM-5 (APA, 2014), são dez os transtornos da personalidade, divididos em três agrupamentos: o agrupamento A se refere aos transtornos de personalidade Paranoide, Esquizoide e Esquizotípica, o agrupamento B aos transtornos de personalidade Borderline, Antissocial, Histriônica e Narcisista e o agrupamento C aos transtornos de personalidade Dependente, Obsessivo-Compulsiva e Esquiva.

A investigação da associação entre os transtornos da personalidade e a violência conjugal surgiu para responder à pergunta de como e por que se pratica a violência contra o parceiro (Holtzworth-Munroe, & Stuart, 1994; Langhinrichsen-Rohling, Huss, & Ramsey, 2000). Com esse objetivo, na década de 90 houve um aumento expressivo de estudos propondo tipologias para os agressores conjugais (Holtzworth-Munroe, & Stuart, 1994; Monson, & Langhinrichsen-Rohling, 1998). Uma delas, que ainda hoje é a mais aceita e tem sido testada em diversos estudos, foi a formulada por Holtzworth-Munroe e Stuart (1994). Esses autores propuseram a caracterização dos agressores conjugais em três diferentes tipos, variando da perpetração da violência menos severa à mais severa. No primeiro subtipo há baixos níveis de psicopatologia, no segundo, denominado Borderline e Disfórico, há maior impulsividade e características da personalidade Borderline; e no terceiro, violento e Antissocial, há características da personalidade Antissocial ou de Psicopatia. Embora tenha sido desenvolvida com base em homens perpetradores, posteriormente a tipologia foi identificada também em mulheres (Walsh, O’Connor, Shea, Swogger, Schonbrun, & Stuart, 2010).

Com base nessa tipologia, os transtornos da personalidade Borderline e Antissocial aparecem com maior frequência nas pesquisas associados à violência conjugal (Holtzworth-Munroe et al., 2003; Pico-Alfonso, Echeburúa, & Martinez, 2008; Ross, & Babcock, 2009). Entretanto, esses transtornos do agrupamento B (APA, 2014) não são os únicos associados a essas situações. O agrupamento A associou-se à perpetração da violência conjugal (Ehrensaftet al., 2006), bem como, o transtorno da personalidade Obsessivo-compulsiva, do agrupamento C (Fernández-Montalvo, & Echeburúa, 2008). Esses resultados devem ser apreciados com cautela, pois os transtornos do agrupamento C também já foram considerados protetivos das situações de violência conjugal em outro estudo (Ehrensaft et al., 2006).

Os dados apontam que não está claro na literatura o perfil dos agressores conjugais, nem há resposta à pergunta de como e por que a violência é praticada nos relacionamentos, afinal indivíduos com diferentes transtornos da personalidade possuem diferentes motivos para agredir o parceiro (Ross, & Babcock, 2009). Além disso, esses transtornos que associam à perpetração da violência conjugal também estão relacionados à vitimização pelo parceiro, conforme observado nos transtornos do agrupamento A (Pico-Alfonso et al., 2008) e no transtorno da personalidade Borderline (Kuijpers, Knaap, Winkel, Pemberton, & Baldry, 2010; Pico-Alfonso et al., 2008), de forma que possibilitam questionar as aproximações existentes entre a perpetração e a vitimização da violência. O fato de menos pesquisas encontrarem transtornos da personalidade ou suas características nas vítimas de violência conjugal pode ocorrer porque a maioria dos estudos negligencia esse dado quando investiga apenas a agressão praticada contra o parceiro (Fowler, & Westen, 2011; Holtzworth-Munroe, Meehan, Herron, Rehman, & Stuart, 2000; Holtzworth-Munroe et al., 2003; Liu et al., 2012; Ross, & Babcock, 2009; Walsh et al., 2010; Weinstein, Oltmans, & Gleason, 2012).

Observa-se que a maior parte das pesquisas investiga isoladamente a associação dos transtornos da personalidade com a perpetração da violência, enquanto poucos estudos analisam também a associação com a vitimização. Em contraste a esses estudos que analisam exclusivamente a perpetração da violência, Bouchard, Sabourin, Lussier e Villeneuve (2009) realizaram uma pesquisa com 30 mulheres em situação de violência conjugal e seus parceiros. Todas elas eram diagnosticadas com transtorno da personalidade Borderline e metade dos seus parceiros possuía indicações diagnósticas para um ou mais transtornos da personalidade. Esse resultado reflete a necessidade de investigação dos casais para contemplar características da interação. Nessa direção, Langhinrichsen-Rohling (2010), avançando no modelo de tipologia dos agressores conjugais de Holtzwoth-Munroe e Stuart (1994), propôs uma nova tipologia, não para os agressores conjugais, mas para se compreender a violência conjugal.

Os subtipos são referidos pela autora como "diádicos", considerando as características disfuncionais de cada membro do casal. O primeiro refere-se à dyadic dominance, em que os indivíduos apresentam comportamento de poder e controle; o segundo, dyadicdys regulation, caracteriza-se pelo medo do abandono e desregulação emocional dos parceiros, semelhante ao Borderline/Disfórico de Holtzwoth-Munroe e Stuart (1994); e o terceiro, dyadic couple violence, refere-se ao ciclo da violência gerado por déficits de comunicação. Os dois primeiros apresentam características de transtornos da personalidade e o terceiro baixos níveis de psicopatologia. Essa proposta tipológica teve significativa repercussão e gerou debate entre os pesquisadores da área (Johnson, 2010; Langhinrichsen-Rohling, 2010; Ross, & Babcock, 2010). Nessa proposta, defende-se que compreender a díade na violência conjugal é relevante considerando que os membros do casal influenciam pensamentos, emoções e comportamentos um do outro, mecanismo chamado de efeito parceiro (Kenny, Kashy, & Cook, 2006).

As mudanças na compreensão do fenômeno observadas na literatura científica demonstram o avanço das pesquisas. Ainda assim, os resultados não são conclusivos e podem decorrer de diferentes abordagens metodológicas e do seu aprimoramento. Considerando esses aspectos, o objetivo deste estudo foi avaliar de que forma os transtornos da personalidade são associados à violência conjugal e os principais resultados dos estudos no período entre 2009 e 2014.

 

Método

Delineamento: trata-se de um estudo descritivo de revisão sistemática da literatura. Nesses estudos são realizados procedimentos sistemáticos, a partir de critérios de inclusão e exclusão definidos a priori, de busca, seleção e análise de pesquisas disponíveis em bases de dados, bibliotecas, entre outros locais. As revisões sistemáticas costumam reunir um corpus de estudos sobre determinada temática a fim de discutir, identificar lacunas, divergências e convergências, e apontar alternativas de investigação para o fenômeno ainda pouco exploradas (Costa, Zoltowski, Koller, & Teixeira, 2015).

Procedimentos de busca: foram consultadas cinco bases de dados: Academic Search Complete, Academic Search Premier, IndexPsi, Medline Complete, Scielo e Web of Science. Considerando apenas estudos atuais, a busca abrangeu artigos publicados no período de 2009 a 2014. De acordo com os critérios de inclusão, os artigos deveriam ser científicos e de pesquisa empírica, estar disponíveis nas bases de dados em texto completo em português, inglês ou espanhol e versar sobre características ou transtornos da personalidade associados à violência conjugal. Foram excluídos estudos teóricos, dissertações e teses. Os termos utilizados foram aqueles que capturaram o maior número de artigos sobre a temática violência conjugal e transtornos da personalidade. Inicialmente, foram observados os descritores e palavras-chaves utilizadas nos estudos sobre a temática. Posteriormente, foram realizadas diversas buscas com termos distintos até se chegar aos descritores eleitos no presente estudo. Os termos utilizados foram combinados por meio do operador boleado AND e deveriam estar presentes nas palavras-chave, no título ou no resumo dos artigos, quais foram: (1) partner violence AND personality disorder; (2) partner violence AND personality disorders; (3) marital violence AND personality disorder e (4) marital violence AND personality disorders, e seus equivalentes em português.

Análise dos dados: inicialmente procedeu-se à descrição das características do método dos estudos, quais sejam, ano de publicação, local de realização da pesquisa, delineamento, participantes, instrumentos de medida da personalidade e da violência conjugal, realizando-se apresentação e análise descritiva dos estudos. Os resultados foram analisados por meio de leitura minuciosa, por meio da qual foram encontrados aspectos específicos, portanto resultados distintos que caracterizam uma análise vertical, bem como resultados comuns que caracterizam, em certa medida, consensos estabelecidos e que emergiram da análise horizontal. Os resultados, comuns e específicos, foram discutidos de forma crítica, atentando-se a como o fenômeno foi compreendido nas pesquisas.

 

Resultados

Foram encontrados 161 artigos nas bases de dados, conforme Figura 1 . Destes, foram excluídos 56 artigos repetidos entre as bases e seis que não estavam disponíveis em texto completo. Dessa forma, procedeu-se com a análise de 99 resumos, sendo excluídos 71 artigos teóricos, avaliavam programas de intervenção ou não estabeleciam associação entre as características ou transtornos da personalidade e a violência conjugal. Por meio da análise dos resumos foram eleitos 28 artigos, lidos na íntegra, e que compõem esta revisão sistemática.

 

 

Na Tabela 1 são descritos os artigos selecionados no que se refere ao ano de publicação, país de realização dos estudos, objetivos, delineamento, participantes, instrumentos e principais resultados. Nos estudos em que o delineamento não foi referido pelos autores, os mesmos foram definidos com base nos objetivos e nos resultados apresentados.

 

 

Por meio da análise dos artigos, observou-se que Estados Unidos e Espanha foram os países que se destacaram com relação às publicações sobre a temática, sendo que o primeiro é responsável por 50% (14) dos estudos encontrados e o segundo por nove. Países como Holanda, Noruega, Reino Unido e China contabilizaram juntos apenas cinco artigos. Não foi encontrado estudo brasileiro. Com relação ao ano de publicação, observa-se que em 2010 e 2014 concentram-se o maior número de publicações (14), sete em cada ano, seguido de 2011, em que foram divulgados cinco artigos, e de 2009, 2012 e 2013 em que foram publicados nove artigos, três em cada ano, conforme tabela 1.

Com relação aos instrumentos, a maioria dos estudos utilizou a CTS2 para mensurar os níveis de violência conjugal, instrumento bastante utilizado internacionalmente. Para a investigação das características dos transtornos da personalidade, os estudos, em sua maioria, utilizaram o MCMI, baseado na teoria de Millon dos transtornos da personalidade, bem como a entrevista estruturada do DSM, ambos os instrumentos frequentemente utilizados pelos estudos internacionais.

Foi possível observar que a maioria dos estudos optou por empregar o termo características dos transtornos da personalidade por terem utilizado instrumentos que ofereciam esse resultado e não o diagnóstico em si. Com relação aos participantes das pesquisas, verificou-se que em 67,85% foram investigadas amostras de homens perpetradores (estudos 1, 2, 5, 6, 7, 8, 11, 12, 13, 16, 17, 19, 21, 22, 23, 24, 25, 26 e 27) e em uma pesquisa foi investigada amostra de mulheres vítimas (estudo 4). Entretanto, observou-se nesta revisão a iniciativa de alguns pesquisadores (21,42%), de investigar as características dos transtornos da personalidade e a perpetração da violência em amostras compostas por homens e mulheres (estudos 3, 9, 10, 14, 18 e 28). Além disso, nos estudos 10 e 28, foi avaliada a violência cometida e a violência sofrida na mesma amostra.

Entre todos os artigos analisados, apenas dois investigaram aspectos diádicos na associação entre as características dos transtornos da personalidade e a violência conjugal (estudos 15 e 20). Entretanto, apenas o estudo 20 teve amostra constituída por casais, enquanto no estudo 15 foram coletados dados do casal por meio de informações prestadas apenas pela mulher. No primeiro estudo (20), foi identificado que, nos homens, as características Borderline associaram-se tanto à perpetração quanto a sofrer a violência perpetrada pelas parceiras e, nas mulheres, associou-se apenas a sofrer a violência perpetrada pelos parceiros. No segundo estudo (15) foi identificado que a perpetração da violência física dos homens influenciou a das mulheres, mas a delas não influenciou a dos parceiros.

A metodologia empregada pelos estudos foi exclusivamente quantitativa e os delineamentos, em sua maioria, foram explicativos ou comparativos. Nesse sentido, os autores optaram por identificar o poder preditivo das características dos transtornos da personalidade para a violência conjugal, ou exploraram os diferentes grupos de agressores de acordo com suas características de personalidade. Os resultados dos artigos que constam na Tabela 1 estão apresentados por meio de quatro categorias que contemplam o foco dos estudos avaliados.

Transtornos da personalidade prevalentes na perpetração da violência

As características dos transtornos Borderline e Antissocial foram os que mais apresentaram associação com perpetração da violência. Entretanto, ressalta-se que 57,14% dos estudos utilizaram instrumentos para medir apenas esses dois transtornos (estudos 1, 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 15, 16, 18, 20, 21, 22, 27 e 28). Importante considerar que três desses estudos utilizaram medidas de psicopatia no lugar de medidas de personalidade antissocial e um deles utilizou tanto medida de psicopatia quanto de personalidade antissocial. Considerando outras características dos transtornos da personalidade associadas à perpetração de violência foi identificada a prevalência das características Narcisista, Obsessivo-Compulsiva, Histriônica, Paranoide, Esquizotípica e Passivo-agressiva (estudos 5, 7, 9, 13, 17, 19, 23 e 25).

Entre os estudos analisados oito (28,57%) investigaram diferenças entre os perfis de perpetradores de violência, buscando identificar uma tipologia (estudos 2, 5, 6, 10, 11, 13, 17 e 19). Alguns estudos identificaram dois subtipos de perpetradores e outros identificaram três. Os subtipos foram divididos considerando-se a gravidade da perpetração da violência e os transtornos predominantes, entretanto, no estudo 17, não foram identificadas diferenças entre os subtipos de perpetradores com relação aos níveis de severidade da violência física. Em todos os estudos desta revisão foram identificadas características da personalidade Antissocial ou psicopatia nos perpetradores de violência severa, e as características de personalidade Obsessivo-compulsiva, Histriônica e Narcisista nos perpetradores de violência menos severa. As características da personalidade Borderline foram identificadas compondo subtipos diversos, de menor gravidade da violência (estudo 11) até os de maior severidade (estudo 17), não havendo consenso na literatura. Além disso, as características da personalidade Paranoide, Esquizotípica e Passivo-agressiva, embora menos frequentes, também apareceram contemplando os subtipos de perpetradores mais violentos e intermediários.

Transtornos da personalidade mais prevalentes na vitimização da violência

Os estudos que investigaram a associação das características dos transtornos da personalidade com a vitimização da violência conjugal apareceram em menor número. Observa-se que em algumas pesquisas foi possível levantar esses dados através da perpetração da violência cometida pelo parceiro. Em quatro pesquisas foi investigada essa relação e identificadas associações positivas entre personalidade Antissocial e vitimização ou violência bidirecional (estudos 10 e 28) e personalidade Borderline e vitimização (estudos 4 e 20). Entretanto, é necessário considerar que, nesses estudos, foram utilizadas apenas medidas de personalidade Antissocial e Borderline.

Diferenças entre os sexos

As características de personalidade Antissocial e Borderline foram identificadas não somente em homens, mas também em mulheres perpetradoras (estudos 3, 9, 10 e 18). Entretanto, contrariando achados dessas pesquisas, no estudo 14 foi identificado que as razões para as mulheres perpetrarem violência contra o parceiro estiveram mais associadas à autodefesa, dominação, retaliação e desregulação emocional do que às características Borderline, enquanto que, nos homens, as razões estiveram mais associadas às características Borderline e Antissocial. Na mesma direção, no estudo 20 as características Borderline não estiveram associadas à perpetração nas mulheres, somente em seus parceiros. Esses resultados apontam para importantes diferenças entre os sexos, ainda controversas entre os estudos.

Outras variáveis investigadas

Destaca-se o abuso de substâncias psicoativas como importante variável identificada nos artigos desta revisão associada à perpetração de violência conjugal e às características dos transtornos da personalidade (estudos 1, 5, 7, 8, 19 e 21). A dificuldade no controle da raiva também foi referida como associada à perpetração da violência (estudos 5, 8 e 13), tendo sido identificada no grupo de perpetradores com características de personalidade Antissocial, Agressivo-sádica, Passivo-agressiva e Paranoide. Além disso, as variáveis agressividade e impulsividade foram destaque no estudo 12, e os autores identificaram que foi através dessas variáveis, em uma amostra de homens perpetradores de violência, que as características de personalidade Borderline e Antissocial associaram-se à perpetração de violência física.

 

Discussão

Por meio da avaliação dos 28 estudos que compõem esta revisão sistemática da literatura observa-se que as características dos transtornos da personalidade Borderline e Antissocial continuam sendo as principais associadas às situações de violência conjugal. Porém é importante considerar que a maioria das pesquisas utilizou instrumentos para medir apenas esses dois transtornos, conforme já vinha sendo feito em estudos anteriores (Holtzworth-Munroe et al., 2003; Pico-Alfonso et al., 2008). Essa decisão pode estar associada ao fato de as personalidades Borderline e Antissocial possuírem relação direta com o comportamento violento devido à natureza agressiva e impulsiva presente nesses casos (Liu et al., 2012).

Nas pesquisas que buscaram identificar subtipos de agressores conjugais, observou-se que a personalidade Borderline agrupou-se aos agressores antissociais em determinados estudos e foi identificada em grupo separado em outros, conforme sugerido pela literatura (Holtzworth-Munroe, & Stuart, 1994). Essas inconsistências podem estar associadas à dificuldade de diferenciação dessas características da personalidade (Babcock, Green, & Webb, 2008). Holtzworth-Munroe et al. (2003) não identificaram diferença significativa entre os agressores com personalidade Borderline e Antissocial nas medidas de comportamentos antissociais, enquanto que em outros estudos foi encontrada correlação significativa entre as duas medidas de personalidade (Mauricio, Tein, & Lopez, 2007; Waltz, Babcock, Jacobson, & Gottman, 2000).

É importante considerar que são constructos difíceis de mensurar e as semelhanças entre eles estão justamente na expressão do comportamento. Para resolver esse impasse, pesquisadores têm utilizado medidas de psicopatia no intuito de diferenciar melhor a personalidade Borderline da Antissocial, conforme observado nos estudos 6, 10 e 27 que compõem esta revisão sistemática. O que difere em ambos seriam os motivos que os levam a determinados comportamentos. Esse aspecto foi avaliado por Ross e Babcock (2009), identificando-se que os homens com TP Borderline utilizavam a violência de forma reativa, enquanto homens com TP Antissocial utilizavam a violência tanto de forma reativa quanto de forma proativa.

Embora essas características sejam as mais frequentes na associação com a violência conjugal, se investigadas outras características dos transtornos da personalidade que também podem estar relacionadas a essas situações, surgem as características de personalidade Narcisista, Obsessivo-compulsiva, Histriônica, Paranoide, Esquizotípica e Passivo-agressiva, referidas em estudos anteriores (Ehrensaft et al., 2006; Fernández-Montalvo, & Echeburúa, 2008). Essa diversidade de características nos perpetradores é um problema antigo que continua presente em estudos mais atuais sobre a temática, impossibilitando respostas mais conclusivas com relação a perfis específicos de agressores conjugais e à compreensão dos motivos que resultam na agressão contra o/a parceiro/a.

A comum sobreposição das características dos transtornos da personalidade e as comorbidades entre eles (APA, 2014) podem estar entre os principais entraves nesse tipo de investigação, além da dificuldade de mensurar os transtornos da personalidade. Um dos subtipos de agressores identificado nos estudos referia presença de personalidade Narcisista, Obsessivo-compulsiva e Histriônica, mas é importante considerar que essas escalas, MCMI-III, remetem à ausência de psicopatologia (Alencar, Sousa, Rocha, & Alchieri, 2012), por uma limitação do instrumento em medir aspectos patológicos dessas características. Dessa forma, é possível considerar que esse subtipo de agressor se aproxima daquele referido por Holtzworth e Stuart (1994), com ausência de psicopatologia.

Apenas quatro pesquisas, entre as que compõem essa revisão sistemática, avaliaram e identificaram a raiva, a agressividade e a impulsividade interferindo na relação entre TP e perpetração de violência conjugal (estudos 5, 8, 13 e 16). Por serem melhor conceituadas e mais facilmente mensuradas em comparação aos transtornos da personalidade, essas variáveis podem contribuir para uma melhor compreensão do fenômeno da violência entre os casais e das tipologias de agressores. Além disso, são características presentes em diversos transtornos da personalidade, de modo que precisam ser foco de maior atenção nos estudos que investigam os TP e a violência conjugal.

Com relação à vitimização da violência, foram identificados os transtornos Borderline e Antissocial (estudos 4, 10, 20 e 28). Esse é um resultado bastante interessante, pois aponta dois transtornos tradicionalmente associados à perpetração do comportamento violento na posição de vítimas da violência, ainda que a personalidade Borderline já tenha sido apontada em estudo anterior (Pico-Alfonso et al., 2008). Tal resultado permite supor, com relação aos aspectos interacionais da violência, que as características de personalidade do indivíduo relacionam-se ao comportamento violento praticado tanto por ele quanto pelo parceiro.

É importante ressaltar que são escassos os estudos que investigam a violência sofrida e sua relação com características dos TP. Ainda preponderam estudos com homens perpetradores, sendo negligenciados dados de violência sofrida e quanto às questões interacionais da violência no casal. Esse dado evidencia a perspectiva feminista predominante na compreensão da violência conjugal que entende o fenômeno como unidirecional, com homens agressores e mulheres vítimas, pontuando a violência como o resultado de um contexto patriarcal de opressão feminina. Mesmo em relação aos artigos publicados nos anos de 2013 e 2014, predominam os estudos realizados com homens perpetradores, embora se deva reconhecer que 21,4% das pesquisas avançaram no sentido de investigar a perpetração em amostras de homens e mulheres, o que talvez possa estar sinalizando o incremento de uma perspectiva relacional na compreensão do fenômeno.

Além disso, os estudos 15 e 20 merecem destaque por terem avançado metodologicamente por meio da utilização de análises mais sofisticadas, como as técnicas diádicas e a modelagem de equações estruturais, contribuindo com importantes resultados sobre os processos diádicos nas situações de violência. Apenas esses dois estudos investigaram aspectos interacionais na relação entre TP e violência conjugal, evidenciando que, apesar de existirem propostas atuais de compreensão dos aspectos relacionais nas situações de violência (Bouchard et al., 2009; Langhinrichsen-Rohling, 2010), a análise da temática continua semelhante a décadas anteriores, mesmo podendo contar com maior sofisticação metodológica e estatística.

 

Considerações finais

A investigação dos transtornos da personalidade associados à violência conjugal visa identificar fatores de risco que contribuem para a ocorrência da violência e possui implicações no tratamento desses indivíduos. Diante dos resultados deste estudo, foi possível perceber que, embora se identifiquem alguns progressos em termos metodológicos, poucos estudos investigaram a temática em amostras de homens e mulheres ou de casais. Ainda assim, os estudos que avançaram nesse sentido identificaram resultados capazes de ampliar as possibilidades de compreensão do fenômeno.

Observou-se também que um número reduzido de estudos avaliou outros transtornos associados à violência conjugal além daqueles tradicionalmente investigados. As pesquisas que se propuseram avançar nesse sentido identificaram diversidade de perfis nas amostras de agressores. Este resultado complexifica ainda mais o fenômeno, pois dificulta tanto a identificação de um perfil específico de pessoas envolvidas em relações violentas, quanto de uma resposta à pergunta "o que leva um indivíduo a agredir o (a) parceiro (a)?". No entanto, é necessário investigar esses outros TP, além do Borderline e do Antissocial, a fim de compreender como ocorrem essas associações.

Sabe-se que mensurar transtornos da personalidade é uma tarefa desafiadora, pois se trata de um constructo complexo que possui sobreposições e comorbidades. Muitas vezes é difícil distinguir, por exemplo, os transtornos da personalidade Borderline e Antissocial, conforme apontaram alguns estudos. Nesse sentido, pesquisar a temática por meio das características dos TP pode ser uma alternativa de investigação e de compreensão do fenômeno da violência nos casais. As características em si, mesmo correspondendo a diferentes transtornos da personalidade, são mais específicas e passíveis de mensuração.

Com relação aos países de realização das pesquisas, Estados Unidos foi o local com o maior número de publicações, observando-se o potencial do contexto norte-americano em termos de pesquisa científica. Espanha foi o segundo país com mais publicações nessa temática, resultado que pode estar relacionado aos graves problemas decorrentes dos altos índices de violência conjugal no país (Vives‐Cases, Álvarez‐Dardet, & Caballero, 2003).

Chama atenção a ausência de estudos brasileiros envolvendo a associação entre a violência conjugal e os transtornos da personalidade, enquanto internacionalmente esse tema já vem sendo debatido há décadas, surgindo, inclusive, questionamentos e a possibilidade de mudança na compreensão do fenômeno. Considerando que se trata de um problema de saúde pública e sob o qual há carência em termos de direcionamentos técnicos aos profissionais que atuam na área, essa é, sem dúvida, uma lacuna na literatura científica brasileira.

Cabe ressaltar que esta revisão sistemática possui limitações, entre elas o número restrito de bases de dados consultadas para a realização da pesquisa, bem como ter priorizado a amostra e os principais resultados dos estudos. A discussão sobre os instrumentos utilizados e os procedimentos de análise dos dados nos estudos possibilitaria uma visão ampliada sobre os resultados encontrados, indicando-se que outros estudos de revisão atentem para tais análises. Acredita-se que este artigo contribui para a literatura ao apresentar e discutir alguns dos parâmetros que precisam ser considerados em outras pesquisas quanto à associação entre os transtornos da personalidade e a violência conjugal, especialmente no contexto brasileiro, que precisa avançar no estudo da temática.

 

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Recebido em 20 de novembro de 2015
Aceito para publicação em 18 de agosto de 2017

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