SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.39 issue70Men don’t want to recover: resistance in psychoanalysisResearch in psychoanalysis: some reflections author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.39 no.70 São Paulo June 2006

 

JORNADAS PESQUISA E UNIVERSIDADE — SBPSP

 

Apresentação

 

Presentation

 

Presentación

 

Luciana Saddi*

Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

 

 

A Comissão de Pesquisa e Intercâmbio com a Universidade, da SBPSP, promoveu no ano passado uma série de encontros com psicanalistas pesquisadores de Universidades e de Sociedades Psicanalíticas, dando continuidade à reflexão sobre a especificidade da pesquisa em psicanálise. Começamos a trabalhar sob a tutela da ABP, quando organizamos a Jornada — Pesquisando com o método psicanalítico, em maio de 2003. Depois, reunimos os trabalhos apresentados naquela Jornada e publicamos o livro, Pesquisando com o método psicanalítico1, em 2004. Nessa ocasião tivemos a oportunidade de estudar as diferenças entre o método psicanalítico e outros métodos de investigação, em mais de 30 pesquisas, realizadas por analistas de nossa Sociedade, ligados tanto a Universidade, como a outras instituições.

O tema pesquisa tem sido, há vários anos, foco de interesse da FEPAL, da IPA e de diversas instituições em várias partes do mundo. As discussões costumavam circular em torno de duas modalidades de pesquisa: conceitual e empírica. A Comissão, após a publicação do livro acima citado, introduziu em seu trabalho uma terceira modalidade: a pesquisa com o método psicanalítico, visando resgatar o modelo freudiano de aproximação ao objeto e, também, valorizar o conhecimento psicanalítico que vem sendo produzido por todos nós, em nosso trabalho diário.

Acreditamos que pesquisa é algo inerente à própria descoberta do método psicanalítico, com sua dimensão heurística e inovadora, algo que os analistas estão sempre a fazer, bastando apenas saber como transformar nosso trabalho diário em pesquisa comunicável e compartilhada por nossa comunidade. Assim, organizamos 3 reuniões para aprimorarmos nosso conhecimento sobre os fundamentos, os objetivos, os instrumentos e o modo de pesquisa em psicanálise, as diferenças e semelhanças quando realizadas na universidade e/ou nas sociedades de psicanálise, sempre debatendo os aspectos da pesquisa com o método psicanalítico e a formação necessária para tal empreitada.

O primeiro encontro procurou discutir qual o estatuto do conhecimento em psicanálise em relação ao seu método e seu objeto, mostrando a inovação epistemológica introduzida pela psicanálise em relação à noção clássica de ciência. Qual método de pesquisa pode dar conta de uma nova forma de produzir conhecimento? Como nos situarmos diante da comunidade científica? São algumas das perguntas que os trabalhos de Camila Pedral e Renato Mezan procuraram contemplar.

Aproximações e diferenças quanto ao formato, quanto ao estilo e, algumas vezes, quanto ao resultado, entre a pesquisa que vem sendo processada há anos na clínica psicanalítica e mais recentemente, no mundo acadêmico, foram o objeto do segundo encontro. Alfredo Naffah e Luis Claudio Figueiredo destacaram o que é específico da pesquisa com o método psicanalítico, independentemente do lugar onde a pesquisa foi originada. Os autores procuraram discriminar quais características são próprias ao trabalho acadêmico e quais são necessárias para que uma pesquisa possa ser elaborada pelo método psicanalítico.

No terceiro encontro, uma problematização entre formação e pesquisa nas sociedades de psicanálise e universidade foi desenvolvida por autores que transitam em ambas as instituições. Ana Loffredo e Bernardo Tanis abordaram os impasses, os conflitos, os interesses e as motivações nas relações entre as instituições de formação psicanalítica e o mundo acadêmico. Lançando mão da idéia de regiões de fronteira, Tanis aponta por onde o psicanalista de hoje pode caminhar, ampliar seus horizontes sem perder a singularidade e especificidade de seu ofício.

Não é à toa que a pesquisa com o método psicanalítico vem despertando as mesmas questões que a psicanálise procura elucidar há muitos anos. Os objetos, objetivos, pesquisadores, meios, conceitos e instrumentos se constituem e se transformam no decorrer de uma investigação sob a regência do método psicanalítico. Essa inovação metodológica no modo de produzir conhecimento foi atacada e desprestigiada ao não se adequar à pesquisa experimental ou mesmo, a nenhuma outra forma reconhecida de produção de conhecimento. Estamos, hoje, diante de alguns desafios: validar nosso método perante a comunidade científica, a acadêmica e perante nós mesmos, garantir a formação de profissionais responsáveis pela psicanálise, encontrar meios adequados e eficientes para comunicar nossa experiência e conhecimento e lidar com as novas relações que o mundo atual nos impõe.

 

 

* Membro Associado da SBPSP.
1 Herrmann, F. & Lowenkron, T. (Orgs.) (2004). Pesquisando com o método psicanalítico. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Creative Commons License