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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. v.40 n.73 São Paulo dic. 2007

 

TRADUÇÃO

 

Introdução1 (à edição argentina)2 de Clínica Psicanalítica: a arte da interpretação de Fabio Herrmann

 

Introduction (to the Argentinean edition) from Fabio Herrmann’s book Clínica psicanalítica: a arte da interpretação

 

Introducción (a la edición argentina) de Clínica psicoanalítica: el arte de la interpretación de Fabio Herrmann

 

 

R. Horacio Etchegoyen*

Membro da APdeBA (Associação Psicanalítica de Buenos Aires)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Nesta introdução à edição argentina do livro de Fabio Herrmann Clínica psicanalítica: a arte da interpretação o autor trata dos principais temas aí desenvolvidos, apresentando-os como um pensamento psicanalítico original. Em síntese afirma que: “Para Herrmann, a arte de interpretar consiste em uma correta aplicação do método, este sempre antecedendo as teorias. Em outras palavras, a interpretação psicanalítica busca elucidar a lógica das emoções sem cuidar, em princípio, das teorias da psicanálise nem da história infantil — o que lhe será dado por acréscimo”.

Palavras-chave: Arte da interpretação, Método psicanalítico, Desejo, Fabio Herrmann.


ABSTRACT

In this introduction to Fabio Herrmann’s Argentinean edition of Clínica psicanalítica: a arte da interpretação, the author deals with the chief issues developed in the book, presenting then as an original psychoanalytical thinking. In a brief summary the author states: “To Herrmann, the art of interpreting consists in a proper application of the psychoanalytic method that always comes previously to theories. In other words, the psychoanalytic interpretation aims to clarify the emotions logic. The psychoanalytical theories and the patient infant history will come in addition”.

Keywords: Art of interpretation, Psychoanalytic method, Desire, Fabio Herrmann.


RESUMEN

En esta introducción a la edición argentina del libro de Fabio Herrmann, Clínica psicoanalítica: el arte de la interpretación, el autor trata de los principales temas ahí desarrollados, presentándolos como un pensamiento psicoanalítico original. En resumen el autor afirma que: “El arte de interpretar consiste, para Herrmann, en una recta aplicación del método, que siempre estará antes que las teorías. En otras palabras, la interpretación psicoanalítica busca elucidar la lógica de las emociones sin cuidarse en principio de las teorías del psicoanálisis ni de la historia infantil, que le serán dadas por añadidura”.

Palabras clave: Arte de la interpretación, Método psicoanalítico, Deseo, Fabio Herrmann.


 

 

Celebramos a presença em espanhol de Fabio Herrmann, um dos autores mais originais e rigorosos da psicanálise contemporânea de língua portuguesa. Desde a publicação do primeiro volume de Andaimes do real em 1979, há já mais de quinze anos, Herrmann vem realizando uma revisão crítica da psicanálise, na busca de suas raízes, de sua unidade essencial. Freud definiu a psicanálise como um método de investigação, uma teoria da personalidade e uma psicoterapia aplicada aos transtornos neuróticos. A revisão a que se propõe Herrmann toma a psicanálise como método, do qual se derivam a teoria e a terapia. Este pensamento, como ele mesmo afirmou em 1979, vai ser o fio condutor de toda sua obra. Podemos encontrá-lo sem dificuldades no segundo volume dos Andaimes, escrito em 1985, também em O divã a passeio, publicado em 1992, e no que agora comentamos, aparecido um ano antes.

Creio ter sido um acerto das Ediciones Nueva Visión escolher Clínica psicanalítica: a arte da interpretação para apresentar a obra de Herrmann aos psicanalistas de língua espanhola. É um livro breve e conciso que expõe um pensamento maduro, permitindo ao leitor compreendê-lo e avaliá-lo, apreciá-lo e criticá-lo.

O método é comum a todas as teorias. Por isso, a arte de interpretar interessa-se antes de tudo por como se interpreta, deixando às diversas teorias a eleição do que se vai interpretar. Para Herrmann, a arte de interpretar consiste em uma correta aplicação do método, este sempre antecedendo as teorias. Em outras palavras, a interpretação psicanalítica busca elucidar a lógica das emoções sem cuidar, em princípio, das teorias da psicanálise nem da história infantil — o que lhe será dado por acréscimo.

O livro que tenho o prazer de prefaciar dirige-se primordialmente ao psicanalista principiante, ao que ainda não se decidiu por uma teoria, mas também tem quer ser escutado por quem já encontrou sua identidade profissional. Aspira a que este possa revisar seus pressupostos teóricos, ganhando assim uma nova frescura em seu trabalho cotidiano. Ao iniciante, que evite atar-se prematuramente a uma doutrina, que mantenha sua ingenuidade original, mesmo tendo que pagar o preço da confusão e da angústia. O preço é alto, mas vale a pena: a angústia, bem dizia Sartre, é a vertigem da liberdade. Não se propõe, pois, uma nova teoria a competir com as de Hartmann, Melanie Klein ou Lacan, mais apropriadamente propõe uma metateoria, a serviço da clínica, que pode abarcar as demais teorias.

A tarefa se centra, então, no campo transferencial, onde já não está mais presente a necessidade, senão o desejo, que Herrmann define como matriz interna das emoções, presentes na análise como fantasias. É isto que surge no processo analítico e se pode apreender com instrumentos de observação estritamente clínicos.

O campo transferencial é, para Herrmann, o responsável pelas regras do jogo que instituem analista e analisando em uma relação singular. Consiste o jogo na ruptura desse campo (ou, melhor dizendo, campos), por obra da interpretação. O vazio representacional que sobrevém na espera de uma nova representação, que Herrmann chama de expectativa de trânsito, constitui operacionalmente a matriz metodológica do processo analítico. Herrmann define engenhosamente o campo transferencial (ou campo psicanalítico) “como aquele que provoca a ruptura de todos os campos que nele ocorrem”. O campo psicanalítico abriga muitos campos entrelaçados, que só quando se separam e se rompem permitem ver a lógica das emoções, o desejo que as sustenta.

Em última instância, o desejo representa-se, no vetor interno, como identidade e, no externo, como realidade. O analisando luta por manter essas representações de si mesmo e do mundo, em que se cristalizou seu desejo, os quais aparecem no campo psicanalítico como crenças. A crença é a função psíquica que mantém vigentes para o sujeito as representações que seu desejo alimenta. A interpretação, por seu lado, vem questionar a crença e propõe alternativas ao paciente, que o levam do vazio representacional a novas representações, mais amplas e flexíveis.

É muito interessante a forma que Herrmann usa para redefinir neurose, perversão e psicose, a partir das formas particulares que a crença toma em cada caso. Na neurose, a crença reveste-se de suspeita, enquanto o perverso a desaloja porque “ele sabe”. Quando esse núcleo de certezas que mantém a identidade a todo custo é expulso, passamos ao campo da psicose, onde o real e o sujeito estão em perpétua confusão, como estiveram no caos original.

Como participante de um campo que por sua vez deve questionar, o analista terá de acompanhar o neurótico em suas suspeitas, respeitar a certeza do perverso (sem nela aprisionar-se) e deverá unir-se ao psicótico em uma espécie de delírio lúcido que torne crível ao paciente o que se interpreta. É neste ponto que Herrmann assinala o maior perigo para o analista que se deixa aprisionar por suas teorias. As teorias do analista são o lugar mais propício para que ele perca sua condição de analista e, arrastado por suas próprias crenças, deslize para o campo da neurose, da perversão e da psicose teóricas.

Se, de um lado, o livro de Fabio Herrmann adverte-nos continuamente sobre o perigo de nos fecharmos em uma teoria, por outro, assinala-nos, também, que “a teoria psicanalítica é bela e fundamental para o trabalho clínico”. Complemento natural do estudo do método psicanalítico, o acervo teórico da psicanálise só opera legitimamente quando nos deixamos penetrar por ele, quando o encontramos sem o propor, quando não o procuramos.

A psique e o método psicanalítico, diz Fabio ao terminar seu livro, estão feitos um para o outro, são duas faces da mesma moeda, um tesouro enterrado na clínica cotidiana, que só chegaremos a descobrir se levarmos em conta que, ao método da psicanálise, “lhe apraz ocultar sua mais que humana generosidade”.

Confie o leitor que encontrará neste livro muitos tesouros à sua espera. Lendo-o com atenção, terá a recompensa de se ver deveras enriquecido.

 

 

Endereço para correspondência
R. Horacio Etchegoyen
Posadas 1580, piso 13 C
(1112) Buenos Aires, Argentina
Teléfono y fax: (54 11) 4806-4373
E-mail: rhetche@arnet.com.ar

Recebido em: 20/10/2007
Aceito em: 27/11/2007

 

 

* Psicanalista. Membro da APdeBA (Associação Psicanalítica de Buenos Aires). Ex-presidente da Associação Psicanalítica Internacional.
1 Esta introdução foi publicada na terceira edição de Clínica psicanalítica: a arte da interpretação, 2003, pela Editora Casa do Psicólogo, a quem agradecemos a autorização para publicação neste Jornal. Tradução da “Introdução”, Leda Herrmann.
2 Prefácio de Horacio Etchegoyen à edição argentina, Clínica psicoanalítica: el arte de la interpretación, por Ediciones Nueva Visión, Buenos Aires, 1996.

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