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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. v.41 n.74 São Paulo jun. 2008

 

EDITORIAL

 

Ninguém desconhece ou refuta o valor da análise pessoal na formação do analista, bem como a necessidade de que esse profissional retome vez por outra seu lugar no divã. O que suscita divergências é o modo como “a análise do analista”, propriamente, deve ser levada a efeito. Tal como vem sendo praticada, a análise de formação tem sofrido duras críticas, sob a argumentação maior de constituir um obstáculo à potência criativa e transformadora da análise.

Entre os aspectos referentes à formação do analista, a análise do analista desponta como um dos mais complexos e de difícil discussão. A despeito de tanto, justamente este é o tema do presente número do Jornal de Psicanálise, pois o consideramos de suma importância para todos aqueles engajados, de uma maneira ou de outra, na formação do analista. Ou, como o considera Luis Carlos Menezes, em trabalho aqui publicado, o mais essencial de todos, se de fato levamos a sério a psicanálise que praticamos e o nosso propósito de oferecer condições favoráveis para que novos analistas se desenvolvam junto a nós.

A questão além de complexa é também polêmica, e tende a provocar — quando colocada em debate —, no lugar do pensamento, paixão, opinião, recusa e negação. Felizmente, nem sempre é assim: há também os que podem e querem discuti-la, expondo-se e sustentando as próprias idéias. Belo exemplo disso foi o empenho com que a atual gestão da nossa Sociedade se dispôs a organizar um amplo espaço para essa discussão, a todos convidando, de candidatos a didatas, para uma reflexão sobre o tema durante um fim de semana em Atibaia. Outro exemplo similar: a adesão dos colaboradores deste número ao nosso chamado.

Acreditamos ser a tarefa de formação do analista um longo caminho visando à construção de uma genuína voz. Tarefa que demanda tempo e exige esforço. Talvez só a possamos trilhar se pudermos nos debruçar sem medo, com coragem e sem pejo, sobre as questões cruciais da constituição de um analista, o que sem dúvida coloca em foco pensar sobre a análise do analista.

As contribuições aportadas por diferentes trabalhos, ora divulgados, sobre a análise do analista oscilam em diferentes direções. De um lado, há aqueles que defendem a análise didática para o analista em formação, acreditando que apenas dessa maneira pode-se garantir minimamente a qualidade da formação. De outro, encontramos os que defendem a idéia de que uma análise realizada sob encomenda contrariaria o essencial de um trabalho analítico, e por isso constituiria obstáculo insuperável para o desenvolvimento de uma verdadeira análise. Nessa mesma direção é o argumento, apresentado em diferentes trabalhos, da necessidade da reanálise quando terminada a formalidade da análise didática — que, segundo tal ponto de vista, chega ao fim sem nunca ter de fato se instalado, uma vez que foi levada a cabo prioritariamente em cumprimento às exigências da formação e sem a motivação do desejo de análise. Ou aquele que apregoa ser a análise didática uma primeira análise que poderá ser seguida de uma análise de verdade — neste caso, de preferência, com um analista de fora da instituição.

Mais um veio de crítica se apóia no poder da Psicanálise. Poder não só da análise, como também do ensino da doutrina, uma vez que ambas as situações são perpassadas pela transferência e altamente sujeitas à sugestão. Há textos que examinam a questão sob o prisma dos diferentes momentos da análise do analista: a análise de formação, a reanálise e a auto-análise. Outro ainda tece interessante articulação entre a família pessoal e a família institucional do analista, destacando ressonâncias de uma sobre a outra.

Não cabe aqui explorar toda a riqueza e nuances apresentadas em tão diferentes contribuições, cada qual fala por si, mas reiterar nossa expectativa de que a pluralidade das propostas reunidas na presente edição possa contribuir para que cada um de nós possa falar em nome próprio.

 

 

Leda Maria Codeço Barone
Editora

Alice Paes de Barros Arruda
Co-editora

Alexandre Horta e Silva
Ana Maria Loffredo
Ana Maria Vieira Rosenzvaig
Beatriz Helena Stucchi
Iliana Horta Warchavchik
Marta Úrsula Lambrecht
Corpo Editorial

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