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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. v.41 n.75 São Paulo dez. 2008

 

TRADUÇÕES

 

A transferência em sua perspectiva clínica

 

Transference in its clinical perspective

 

La transferencia en su perspectiva clínica

 

 

Virginia Ungar*

Asociación Psicoanalítica de Buenos Aires

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O artigo considera a transferência como um conceito essencial ao método psicanalítico, seu traço mais distintivo. Trata-se de uma categoria central da teoria e, ao mesmo tempo, uma ferramenta fundamental da prática. Por outro lado, a noção de transferência e o uso que lhe outorgue cada analista na prática da mesma serão determinantes de seu modo de trabalho. Brevemente, segue o percurso pelo roteiro freudiano sobre a transferência, para logo passar à visão kleiniana e pós-kleiniana do tema. Também reserva um espaço para o que poderia se considerar uma discussão atual sobre a questão na Argentina. A partir das idéias de Melanie Klein e das contribuições pós-kleinianas, a transferência postula-se mais como um processo de externalização das relações com os objetos internos, com uma presença e concretude no aqui e agora da sessão psicanalítica, que como uma reatualização do passado. Por isso, a fundamentação kleiniana da transferência encontra um obstáculo na idéia da repetição em termos do passado. Não se repetiria o passado, senão que se repete aquilo que não pôde ser passado. É no repetir mesmo em que isso repetido busca o enlace que lhe permita se converter em lembrança. Enquanto não se encontre esse enlace, continuará se externalizando como repetição transferencial.

Palavras-chave: Transferência, Repetição, Externalização. Passado, Lembrança.


ABSTRACT

The article considers transference to be an essential concept for the psychoanalytic method; indeed its most distinctive trait. Transference is at the same time a central category in the theory and a fundamental tool in the clinical practice of psychoanalysis. Moreover, the notion of transference and the use that each analyst confers on it in his clinical practice will go on to determine his very way of working. The paper takes a brief look through Freud’s essential ideas on the subject and then moves on to deal with those of Melanie Klein and postkleinian authors. Space is also given over to contemporary discussions on the issue, especially concerning Argentine authors. Starting form Kleinian and postkleinian ideas, transference is, therefore, closer to externalization in a new object, the analyst, of the same kind of relationship established with the introjected objects and has a presence and a concreteness, in the here and now of the psychoanalytic session. In this way, the Kleinian theoretical support for the transference concept encounters an obstacle in the idea of repetition in terms of the past. The hypothesis of the paper is that it is not the past that is repeated, but a present that has not been able to become past. As long as this linkage is not found, it will remain externalizing as a transferential repetition.

Keywords: Transference, Repetition, Externalization, Past, Memories.


RESUMEN

El artículo considera a la transferencia como un concepto esencial al método psicoanalítico, su rasgo más distintivo. Se trata de una categoría central de la teoría, y a la vez una herramienta fundamental de la práctica. Por otra parte, la noción de transferencia y el uso que le otorgue cada analista en la práctica a la misma, van a ser determinantes de su modo de trabajo. Sigue brevemente el recorrido por el derrotero freudiano sobre la transferencia para pasar luego a la visión kleiniana y postkleiniana sobre el tema y también reserva un espacio para lo que podría considerarse una discusión actual sobre la cuestión en la Argentina. A partir de las ideas de Melanie Klein y de los aportes postkleinianos la transferencia se postula mas como un proceso de externalización de las relaciones con los objetos internos con una presencia y concretud en el aquí y ahora de la sesión psicoanalítica que como una reactualización del pasado. Es entonces que la fundamentación kleiniana de la transferencia encuentra un obstáculo en la idea de la repetición en términos del pasado. No se repetiría el pasado, sino que se repite aquello que no ha podido ser pasado. Es en el repetir mismo donde eso repetido busca el enlace que le permita convertirse en recuerdo. Mientras no se encuentre ese enlace, se seguirá externalizando como repetición transferencial.

Palabras clave: Transferencia, Repetición, Externalización, Pasado, Recuerdo.


 

 

A transferência é um conceito comum a todos os analistas, seja qual for o background teórico com que se trabalha. É a essência do método psicanalítico, seu traço mais distintivo.

Trata-se de uma categoria central, o que não quer dizer que todos os psicanalistas compartilham uma teoria sobre a transferência. Constitui, ao mesmo tempo, uma ferramenta fundamental da prática, o que a privilegia para estudar o método psicanalítico – a tal ponto que a noção de transferência e o uso que lhe outorga cada analista na prática serão determinantes de seu modo de trabalho.

Minha intenção é fazer um breve resumo do percurso freudiano sobre o tema da transferência, para depois passar à visão kleiniana e pós-kleiniana, além de reservar um espaço para o que poderia se considerar uma discussão da questão na região a qual pertenço.

Como se sabe, o descobrimento central da clínica freudiana foi a transferência. Quando Freud encontrou-se com ela, não duvidou em pensá-la, no início, como um obstáculo à sua prática.

Em Estudos sobre a histeria (Freud, 1895), três parágrafos antes de mencionar pela primeira vez o termo transferência no sentido psicanalítico, e ao falar das resistências, mas dirigindo-se irremediavelmente ao conceito, diz Freud: “Este caso sobrevém quando o vínculo do doente com o médico vê-se perturbado e significa o mais aborrecedor dos obstáculos com que se pode tropeçar”.

Poucas linhas depois, explica sua hipótese a respeito do falso enlace que permitia a transferência, para a figura do médico, de conteúdos emergentes durante a análise.

Anos mais tarde, descobriu-se que o mencionado “obstáculo” podia conter uma valiosa informação: o paciente resistia, mas o fazia repetindo com seu analista clichês (imagos internas) construídos no seu passado. Freud, em 1912, já dizia o que permanecerá referendado, em 1914, em Recordar, repetir, elaborar:

...todo ser humano, por efeito conjugado de suas disposições inatas e dos influxos que recebe na sua infância, adquire uma especificidade determinada para o exercício da sua vida amorosa (...) Isto dará como resultado, por assim dizer, um clichê (ou vários) que se repete – é reimpresso – de maneira regular na trajetória da vida...

Ou seja, agora aparecem na visão de Freud duas formas de recordar: uma, pela rememoração do paciente a respeito do que aconteceu; outra, pela repetição, em sessão, do esquecido. Isto fica mais claro no famoso trabalho de 1914, Recordar, repetir, elaborar.

A partir de 1920, a teoria freudiana da transferência se enriquece e torna-se mais complexa. Freud postula em Além do princípio do prazer que aquilo que é convocado pela repetição não é somente o que se encontra sob a égide do Princípio do Prazer, mas também pelo que está além do mesmo. Repete-se o que se encontra dominado por tendências tanáticas.

Da perspectiva atual, podemos afirmar que tanto a resistência como a transferência, aqueles obstáculos iniciais, transformaram-se rapidamente em guias e ferramentas insubstituíveis e essenciais da clínica freudiana. Como dissera Freud, no epílogo de Dora (1905), e em Recordar, repetir, elaborar (1914), é através da repetição transferencial (que aparece no clímax da resistência) que emergem as lembranças mais reveladoras de uma análise.

Assim como para Freud a clínica com pacientes adultas, afetadas principalmente por quadros de histeria, o levou à idéia da transferência como resistência e evocação repetitiva do passado, para Melanie Klein foram outras experiências que determinaram o começo de sua prática. Suas conclusões, por isso, foram diferentes daquelas do criador da Psicanálise.

Como se sabe, Klein começou primeiramente observando crianças. Logo se atreveu, alentada por seu analista, a tratar seu primeiro paciente, a quem chamou Fritz (na realidade, seu filho Erich). Estimulada por suas descobertas e pela publicação de seus primeiros trabalhos, bem como pela repercussão dos mesmos, continuou analisando crianças de tenra idade.

A experiência da relação transferencial em seu trabalho diário na análise de crianças pequenas parece ter se imposto com tanta força que, tanto as modificações técnicas (por exemplo, seu descobrimento da técnica do brincar), como suas propostas teóricas surgiram de maneira natural para Klein.

Não parece arriscado supor que todo o edifício teórico kleiniano construiu-se a partir da experiência da transferência com seus pequenos pacientes.

É ela mesma que assim se expressa em seu artigo “A técnica psicanalítica do brincar: sua história e significado” (1955), no qual afirma que toda sua contribuição à teoria psicanalítica deriva da técnica do brincar desenvolvida com crianças pequenas. Esse artigo, escrito cinco anos antes de sua morte, é uma espécie de autobiografia psicanalítica da autora e nos possibilita encontrar uma Klein já mais velha, que nos convida a percorrer sua própria história como psicanalista, nos apresenta fragmentos das análises de seus pequenos pacientes assinalando, em cada situação, aspectos de sua teoria que cada criança tratada lhe permitiu iluminar.

Nesse texto, esclarece que seu trabalho analítico com adultos não é uma aplicação da técnica do brincar, mas revela o quanto a tarefa com crianças a muniu de uma compreensão profunda do desenvolvimento precoce, dos processos inconscientes e da natureza das interpretações psicanalíticas.

Se seguirmos atentamente a leitura dos artigos – que contêm abundantes exemplos clínicos de sessões com seus pequenos pacientes, descritos de maneira muito detalhada –, podemos ver como Melanie Klein, ao se deparar com obstáculos na prática clínica, cria recursos técnicos que, por sua vez, a levam a novas inferências teóricas, numa contínua espiral que percorre sua obra do princípio ao fim.

Como ela própria diz, pode-se afirmar que as bases de todo o edifício teórico de Melanie Klein reside na análise de crianças. Suas afirmações a respeito do Édipo precoce, a intensidade da ação de um superego precoce, a possibilidade de estabelecer transferência na analise de crianças, a importância da detecção e interpretação da transferência negativa, o estabelecimento de situação analítica através da interpretação da transferência, a existência de mecanismos de defesa muito precoces e de grande intensidade, a importância crucial das ansiedades precoces, entre outras, surgem claramente da leitura de seus trabalhos marcados por uma profusão de exemplos provenientes de sessões com seus pequenos pacientes na década de 20. Rita, John, Pedro, Ruth, Trude, Erna, Dick, entre outras crianças, ofereceram a uma Melanie Klein receptiva, grande observadora e dona de uma admirável coragem, as evidências clínicas que constituíram os primeiros alicerces e, depois, a estrutura de uma obra muito sólida, que teve enorme repercussão na época e cuja influência permanece até nossos dias.

No artigo de 1955, anteriormente citado, Klein diz que já o trabalho analítico com seu primeiro caso permitiu-lhe reafirmar a convicção de que a psicanálise tem como tarefa principal explorar o inconsciente, e que o meio para conquistar este fim é a análise da transferência.

Melanie Klein escreveu somente um artigo dedicado especialmente ao tema da transferência – “As origens da transferência” (1952) –, embora ele já surgisse em todo seu trabalho teórico-clínico e em suas publicações dos anos 20. O texto de 1952 cobre, assim, um percurso de trinta anos de trabalho sobre o tema.

Neste, esclarecendo que o fenômeno da transferência tem um valor universal, uma vez que ocorre em todas as relações humanas e ao longo da vida toda, foca especificamente a transferência em Psicanálise.

Quando o processo analítico começa a abrir caminhos no inconsciente, há um aumento da necessidade do paciente de transferir experiências, relações de objeto e emoções primitivas, que se concentram na pessoa do analista. Dessa forma, o paciente maneja seus conflitos e ansiedades utilizando os mesmos mecanismos de defesa que usou na etapa precoce de seu desenvolvimento. A introjeção estabelece as bases para a relação com os objetos externos, num constante interjogo entre estes “...verdadeiros arquitetos da vida mental”, como Paula Heimann denominou os dois mecanismos em seu célebre trabalho de 1943.

Naquele mesmo artigo, Klein menciona o mecanismo de personificação, processo baseado na dissociação e na projeção, mediante o qual o ego consegue mitigar a ansiedade provocada pelo conflito interno entre os impulsos do id e as defesas do ego, ao colocar no personagem de uma brincadeira ou num brinquedo estas imagos internas ansiógenas. Klein afirma que, assim como este mecanismo opera na brincadeira das crianças, é também a base do fenômeno transferencial, ao xternalizar o conflito na pessoa do analista.

Assim é que o mecanismo de personificação, apresentado em 1929 (Klein, 1929), como operando uma função preponderante na brincadeira das crianças, e também como base do fenômeno da transferência, é retomado mais de duas décadas depois para reforçar a idéia da transferência como externalização do conflito na pessoa do analista.

Poder-se-ia sintetizar a idéia kleiniana da transferência como centrada na relação com o objeto interno. A transferência é, então, a aplicação a um novo objeto, o analista, do modelo da relação estabelecida com os objetos introjetados.

Em 1952, Melanie Klein já tem noção de transferência solidamente construída e sustentada pelos conceitos de relação com objetos internos, de mundo interno, da externalização do conflito intrapsíquico, da teoria das posições, da ação constante da fantasia inconsciente e, obviamente, pela noção-chave de identificação projetiva. Essas idéias, cujos alicerces já se deixavam transparecer nos anos 20, provêm da sua clínica principalmente com crianças.

A partir da síntese postulada sobre as idéias kleinianas a respeito da transferência, facilmente se pode ver que a autora mostra um modelo teórico bem diferente do freudiano, no qual se privilegia a “geografia” da fantasia em termos de espaços na mente e nos objetos. Ao cindir-se e cindir seus objetos, um mundo de imagos que, com o desenvolvimento da teoria, tornar-se-ão objetos internos, conformarão o “mundo interno”, a partir de 1934. Esses objetos internos cumprem funções reguladoras de maneira concreta no dito mundo interno em que convivem, de acordo com o momento de desenvolvimento, com figuras sádicas, propiciando ao ego defesas de igual teor. Com o avanço de desenvolvimento, internalizar-se-ão bons objetos, com os quais o self manterá um vínculo de dependência de caráter introjetivo.

Donald Meltzer, um autor pós-kleiniano, clínico brilhante, que deixou uma obra extensa, na qual revisitou Freud, Melanie Klein e Bion, alertou-nos sobre as contribuições de Klein ao destacar que a grande analista mostrou-nos que nós, humanos, vivemos em dois mundos: o da realidade externa e, fundamentalmente, o da realidade psíquica.

A transferência, então, não pode ser entendida apenas como uma reatualização do passado, mas como a externalização das relações com os objetos internos, com presença e concretude no aqui e agora da sessão analítica.

É neste ponto que, no meu entender, caberia uma reflexão já formulada em trabalho anterior (Ungar, 2000).

Do meu ponto de vista, e à luz desta aproximação, a fundamentação kleiniana da transferência encontra um obstáculo na idéia da repetição em termos do passado. Se do que se trata é a externalização das relações com os objetos internos através do mecanismo de personificação, este movimento implica uma noção de temporalidade que não se restringe à cronologia clássica de passado-presente-futuro. No meu entender, não se repetiria o passado, mas o que se repete é aquilo que não pôde ser passado. É no repetir mesmo em que isso repetido busca o enlace que lhe permita se converter em lembrança. Enquanto não se encontre esse enlace, continuará se externalizando como repetição transferencial.

No trabalho antes mencionado (2000), postulei um possível modelo estético, baseando-me nas idéias de Donald Meltzer sobre o conflito estético. A proposta deste autor contrasta fortemente com os pressupostos filosóficos da Estética, na qual o tipo de experiência a que se refere corresponde a um dos níveis mais elevados a serem alcançados.

Pelo contrário, Meltzer (1988), a partir de seu trabalho com crianças autistas, propõe uma conjectura imaginativa na qual o encontro inicial do recém-nascido com o seio da mãe, enquanto representante da Beleza do mundo, o coloca de saída numa situação conflitante. A essência do conflito estético é que não existe impacto da beleza sem conflito e este acontece entre o que pode ser percebido, o exterior belo e o interior, que não é observável, é desconhecido, misterioso, somente conjecturável e converte-se, dali em diante, em fonte atormentadora de toda ansiedade.

O conflito estético faz surgir uma combinação conflitante de paixão e antipaixão, o que leva o autista a não poder tolerar a turbulência emocional, a desmantelar a integração da experiência emocional e, assim, se desmentalizar. Meltzer diz que a criança autista representa a tragédia do fracasso do espírito humano.

Se bem que o estudo de textos comuns à Psicanálise e à Estética possa conduzir a caminhos interessantes e de abertura a novos conhecimentos, para os psicanalistas, no contexto da prática cotidiana, o que importa é a idéia revelada no devido lugar. Esse lugar é o nosso consultório, onde as idéias são submetidas à consideração dos nossos pacientes.

Nesse sentido, o vínculo analítico é um vínculo inédito no qual uma pessoa está disposta a compreender e a aceitar as próprias limitações ao conhecimento. A tolerância ao desconhecimento é um dos componentes da atitude analítica, juntamente com a capacidade de observação, a receptividade, a atenção interessada, a disponibilidade e disposição à conjetura imaginativa, tal como postulei numa oportunidade (Ungar, 2000a).

Para o paciente, por outro lado, essa experiência de análise pode ser a primeira e talvez única oportunidade de contar com alguém disponível, sem nenhum outro interesse ou meta para ele ou ela que o de aliviar seus sintomas e ajudar seu desenvolvimento.

Junto com seu par, a contratransferência, a transferência pode ser considerada, em termos de Bion, como uma das invariáveis do método analítico.

Como sabemos, Bion (1965) propôs a teoria das transformações para a prática e, sobretudo, para a observação psicanalítica e definiu como invariáveis os “...elementos que intervém para formar o aspecto inalterado da transformação”.

Este espaço não me parece apropriado para me aprofundar no estudo da teoria das transformações bionianas; contudo, seria pertinente tomá-la no que nos convoca, dado que foi Bion quem propôs que a Psicanálise pode ser incluída no grupo das transformações.

É justamente Bion que estuda e inclui Meltzer em seus desenvolvimentos clínico-teóricos.

Tal como foi lembrado, Meltzer retoma a idéia kleiniana da transferência no sentido de que, longe de ser uma evocação repetitiva do passado, é a externalização das relações com os objetos internos no aqui e agora da sessão analítica.

Numa conferência que esse autor proferiu em Buenos Aires sobre transferência (Meltzer, 1990), referiu-se à mesma como o descobrimento em torno do qual se organiza a psicanálise. Definiu Psicanálise como a arte e a ciência da interação entre transferência e contratransferência como um processo. Nessa mesma conferência, disse que o método psicanalítico tem uma qualidade estética, porque juntos, paciente e analista, constroem um objeto – o objeto psicanalítico – que não é apreensível pelos órgãos dos sentidos.

Na situação analítica, vemos permanentemente a interferência da antiemocionalidade com a emocionalidade, no contexto da flutuação entre as ansiedades esquizoparanóides e depressivas.

Na mesma oportunidade, Meltzer arriscou ao propor que a transferência não é um fato, mas uma construção na mente do analista. E foi mais longe ao dizer que, ao formular sua interpretação, o que o terapeuta faz é aproximar uma opinião para o paciente, e assim iluminar-lhe algo do que ocorre em sua mente, ajudando-o a continuar pensando.

Ainda nessa conferência, trouxe Meltzer a interessante idéia de que o analista pode ter a responsabilidade da transferência durante um tratamento analítico, e de que também o paciente pode depositar sua confiança nele, pois não é o analista que tem a responsabilidade em relação a seu paciente, mas seus objetos internos que “carregam” a transferência. Disso surgirá a inspiração para a construção da transferência. Esta postura outorga mais força à idéia kleiniana da prevalência da realidade psíquica.

Esta já é minha opinião. Daí a importância da análise didática, na qual o analista treinou sua capacidade de confiar em si mesmo, em seus objetos internos e tem de estar alerta às armadilhas que seu próprio narcisismo lhe oferece para abandonar essa confiança.

Antes de entrar no que poderia se considerar a polêmica atual sobre a transferência na região geográfica a qual pertenço, América Latina e, em especial, Argentina, desejo acrescentar duas contribuições fundamentais na minha atividade clínica.

A primeira corresponde à noção de transferência como situação total, trazida por Betty Joseph (1985), que sublinha uma frase de Melanie Klein no artigo sobre as origens da transferência. A citação de Klein diz: “Ao desentranhar os detalhes da transferência, segundo minha experiência, é essencial concebê-la em termos de situações totais que se transferem do passado para o presente, assim como as defesas emocionais e as relações ‘objetais’” (Klein, M. 1952).

Assim como, inicialmente, a transferência era entendida apenas quando apareciam, no discurso do paciente, referências diretas à pessoa do analista, tal idéia acabou mudando, na visão de Joseph, para uma noção que inclua tudo o que o paciente traz para a relação.

Para compreender a transferência, devemos estar atentos para o que ocorre no contexto da relação terapêutica, que supõe movimento, atividade e troca permanente. A autora sugere que a transferência só será compreendida se conseguirmos captar como os pacientes depositam seus sentimentos em nós – por meio da identificação projetiva – e como procuram nos atrair para seu sistema defensivo, ou seja, seu modo inconsciente de atuar na transferência (acting out). A isso se deve acrescentar a tentativa inconsciente de nos fazer atuar com eles (enactement). São experiências muito primitivas que, na maioria das vezes, não encontram na palavra o meio de transmissão adequado. É através da contratransferência do analista que encontram sua expressão.

Tais conceitos são de grande importância clínica. Betty Joseph enfatiza um fato que merece ser considerado em relação à técnica. As interpretações que se dirigem às associações verbais só abrangerão a parte adulta da personalidade do paciente. Aquela parte infantil, que é a que necessita ser compreendida naquele momento, é a que o paciente comunica mediante as pressões que exercem sobre o analista.

O segundo ponto refere-se à noção de transferência precoce, uma contribuição de R. Horacio Etchegoyen.

A noção de transferência precoce implica em nova ampliação do conceito de neuroses de transferência. É outra das formas especiais da transferência postuladas pelo autor, que não diz respeito à configuração psicopatológica em jogo, mas ao desenvolvimento, ou seja, refere-se a critérios evolutivos. Ao postular isso, Etchegoyen assume a posição, certamente controversa, de que essa transferência precoce existe e pode ser definida, caracterizada e estudada com o método psicanalítico.

Essa proposta se apóia nas idéias de Melanie Klein, que utiliza o conceito de desenvolvimento precoce, baseado em fatos empíricos, que nascem da sua prática na análise de crianças, iniciada nos anos 20 e desenvolvida e consolidada ao longo de toda sua vida.

Já vimos como Klein propôs, no seu artigo dedicado à transferência (1952), sua tese básica das etapas precoces do desenvolvimento surgidas na transferência e, assim, passíveis de serem captadas e reconstruídas.

Os eixos que ancoram o conceito de transferência precoce são: a existência de relações objetais do começo da vida (que implicam uma abolição da noção de narcisismo primário); a noção de fantasia inconsciente (que está em constante atividade em relação aos objetos primários, habilitando o analista a interpretar cada vez que se infira seu funcionamento), e a ênfase na interpretação da transferência negativa (eixo da polêmica M. Klein-Anna Freud, em 1927).

Recapitulando, a transferência origina-se nos mesmos processos que determinam a relação de objeto nos estádios precoces do desenvolvimento. A partir disso, Klein conclui que o fenômeno transferencial não deve ser entendido somente como referência direta ao analista no material do paciente, já que ao aprofundar suas raízes nos estratos mais profundos da mente o fenômeno transferencial aparece como mais amplo e abrangente.

Em relação ao manejo clínico da transferência, Etchegoyen lança uma proposta referida à validade da interpretação transferencial na reconstrução do desenvolvimento precoce. Sua posição se estabelece com rigor metodológico num trabalho apresentado no XXXII Congresso Internacional em Helsinque, em 1981, artigo que passou a constituir o capítulo XXVIIII de seu livro (Etchegoyen, 1986).

O autor parte do material clínico detalhado de sessões do tratamento analítico de um paciente de 35 anos de idade, a quem chama de Mr. Brown, para mostrar a maneira pela qual o desenvolvimento precoce está presente na personalidade e aparece na relação transferencial.

Sustentado nas inferências que obtém a partir do processo analítico do paciente, oferece uma série de propostas que, sucintamente, são as que seguem.

- O desenvolvimento precoce se expressa na transferência e pode ser reconstituído durante o processo analítico e testado pela resposta do analisando.

- O conflito precoce, correspondente ao período pré-verbal, se expressa na situação analítica através da linguagem pré e paraverbal, ou seja, a linguagem de ação, e corresponde aos mecanismos psicóticos.

- O conflito infantil – que corresponde ao período edípico, descrito por Freud – aparece sob a forma de representações verbais e lembranças encobridoras e corresponderia aos mecanismos da serie neurótica.

- Em algumas oportunidades, pode-se apreciar uma estratificação dos três pólos do conflito, o precoce, o infantil e o atual, incrustados na mesma estrutura.

- O método analítico revela a verdade histórica, ou seja, a maneira como o paciente processou os eventos de sua vida, constituindo as teorias que ele tem de si mesmo e não a verdade material em si mesma.

De tais considerações, depreende-se a proposta de que o conflito precoce é analisável, transação difícil pelo grande compromisso contratransferencial, mas possível.

Etchegoyen diz:

9) o manejo adequado e rigoroso da relação transferencial permite analisar o conflito precoce sem recorrer a nenhum tipo de terapia ativa nem regressão controlada, porque a análise não se propõe corrigir os fatos, mas sim conceituá-los novamente; 10) Se aceitarmos que existe uma transferência precoce, capaz de desenvolver-se plenamente no tratamento e suscetível de ser resolvida com métodos psicanalíticos, abrimos a possibilidade de usá-la como teoria e pressuposto para investigarmos o desenvolvimento precoce, e testarmos as teorias que procuram explicá-lo... (Etchegoyen, 1986:327).

Sua proposição, de que interpretação e reconstrução são fases complementares de um mesmo processo, é importante. Isso quer dizer que, ao pensar a transferência como uma suposição do passado e presente, não é possível sustentar que uma interpretação no aqui e agora possa se dar fora da perspectiva do passado. Da mesma forma, não se pode restaurar a história sem responder ao compromisso transferencial.

Tal como propus no início, quero agora apresentar um breve apanhado do que considero o estado atual da discussão sobre a transferência, centrado em alguns autores argentinos.

 

Estado atual da discussão sobre a transferência

Considero que um dos eixos de discussão neste momento é se a transferência é um fenômeno ligado à repetição, seguindo a clássica idéia apresentada por Freud (Freud, S. 1912) – em que na relação analítica repetem-se “clichês” direcionados sobre a figura do analista –, ou se na relação entre paciente e analista ocorrem fatos que evidenciariam a existência de fenômenos que não se limitam às repetições do passado, mas que, ainda assim, são de relevância na clínica psicanalítica. Os defensores desta linha (Berenstein, Moreno, Puget), sustentam que a interpretação desses emergentes novedosos1 ou inéditos em termos de repetição do passado poderia anular seu efeito possível no trabalho terapêutico.

Berenstein propõe, por exemplo, caracterizar “...a transferência analítica como um vínculo, uma estrutura onde se relacionam dois ou mais, neste caso, dois sujeitos do desejo, paciente e analista, que propõem, um ao outro, dois trabalhos a realizar simultânea e sucessivamente” (Berenstein, 2001). Logo, o autor especifica que a primeira tarefa será a de desenvolver as experiências infantis do paciente com a colocação em cena de suas relações de objeto. Isso implica uma sutil tarefa de articular determinações precoces de semelhanças e diferenças no transcorrer do tempo, ou seja, no funcionamento mental entre a percepção de novas experiências e a estrutura das que ocorreram na infância.

Outro trabalho será o que se dá em ambos os sujeitos no momento do encontro com o outro da relação, com ajenidad2 que não é atribuível a nenhuma experiência infantil, inaugurando um campo de novidade que Berenstein chamará novidade radical. O primeiro modelo enquadrar-se-ia no campo da relação de objeto e do outro como objeto, enquanto o segundo seria o da relação com o outro propriamente dito.

A emergência do novo pode se dar em três modalidades: no sentido de uma nova versão de um texto imutável; na modificação por agregados a um texto; ou um texto nunca produzido antes. Neste caso, seria “radicalmente novo”.

Julio Moreno (2002) propõe também considerar a transferência como um vínculo, em que duas vertentes podem se diferenciar: a associativa e a conectiva. A associativa remete à noção freudiana de deslocamento de imagos inconscientes sobre o analista, enquanto a conectiva relaciona-se à possibilidade de encontro com algo que não é associável; não consiste em algo previamente existente do ponto de vista associativo, mas que se produz no próprio encontro. É o encontro produtivo entre o alheio do próprio analista e o não representado (ou não inscrito) no acervo representacional do paciente.

Janine Puget (2001) trabalha com a idéia de que “...a situação analítica não é somente repetição de outra que já aconteceu, mas sim uma situação específica, que cria novos significados e uma nova história, que o paciente supõe já vivida mas que ainda falta viver”.

Para esta autora, há uma oposição entre a “transferência repetição” e a “transferência criativa”. Nesse sentido, o conhecido interfere ao outorgar significações prévias ao que está ocorrendo e pode mesmo impedir a emergência de significações que se produzem no novo encontro.

Pessoalmente, considero auspiciosa a aparição desse debate. Se bem que estes três últimos autores, passíveis de serem incluídos no que se poderia chamar desenvolvimento da “teoria vincular” em Psicanálise – com ampla repercussão na América Latina, que determina outro modelo de concepção da mente –, também são descendentes dos pioneiros da Psicanálise argentina em sua genealogia psicanalítica.

Do meu ponto de vista, a fundamentação kleiniana da transferência encontra um obstáculo na idéia da repetição em termos do passado. Se do que se trata é da externalização das relações com os objetos internos através do mecanismo de personificação, este movimento implica uma noção de temporalidade que não se restringe à cronologia clássica de passado-presente-futuro. No meu entender, não se repetiria o passado, mas sim o que não foi possível ser passado. É no próprio repetir que o repetido busca o enlace que lhe permita se converter em lembrança. Enquanto não encontra esse enlace, continuará se externalizando como repetição transferencial.

 

Conclusões

Um tema tão central para a Psicanálise, como o é o da transferência, requer um inevitável recorte na hora de apresentar as idéias de quem tenha feito contribuições fundamentais para a questão.

Como disse inicialmente, a concepção de transferência e, sobretudo, a maneira como se trabalha com ela na sessão analítica vai depender do modelo de mente que tem cada analista. Esse modelo se depreende de certos elementos que se conjugam de maneira constante e que se relacionam com a concepção de mente e da teoria do desenvolvimento emocional precoce que cada autor tem. Sendo assim, escolheu-se neste artigo uma determinada perspectiva que enfatiza os desenvolvimentos kleinianos e pós-kleinianos.

Percorremos o tema da transferência partindo de Freud, passando para a perspectiva kleiniana, em que tentamos sublinhar como hipótese a importância do trabalho psicanalítico desta autora ter se iniciado com crianças pequenas. Melanie Klein reconhece-o em seus escritos e, seguindo sua obra, podemos notar o quanto a noção de transferência com seus pequenos pacientes se lhe impôs com uma força irrefutável a partir da experiência empírica.

Melanie Klein além de reconhecê-la, interpretou-a em seus pequenos pacientes. Vale aqui lembrar uma frase sua, escrita já em 1926 (Klein, 1926), sobre como se estabelece a situação analítica: “...interpretações adequadas, resolução gradativa das resistências, e persistente descobrimento pela transferência de situações anteriores – isto constitui tanto nas crianças como nos adultos a situação analítica”.

Acredito ser fundamental, além de reconhecê-la, pensarmos o que nós, analistas, fazemos com a transferência, ou seja, o manejo clínico da mesma. Alguns de nós a interpretam, dentre eles há quem pense que nem todas as interpretações devem ser transferenciais e que, segundo nos relembra Etchegoyen, a interpretação “completa”, em termos de Pichon Rivière, deve considerar o conflito infantil, o conflito atual e a transferência. Se retomarmos a idéia da transferência precoce desenvolvida por Etchegoyen, poderíamos postulá-la como um quarto fator a considerar em relação à interpretação completa.

Há correntes psicanalíticas que preferem trabalhar “em transferência”, sem necessidade de formular a interpretação transferencial. Existe uma grande quantidade de matizes e terreno fértil para discussões frutíferas.

O debate persiste, prova disso está na constante publicação de expoentes e trabalhos sobre o tema da transferência em nossa região e no mundo inteiro. Creio que isso ocorre em grande parte porque a obra dos nossos mestres operou como modelo de fertilidade e abertura. Esse modelo pode continuar propiciando o crescimento da teoria e prática psicanalítica em futuras gerações de analistas comprometidos com a apaixonante tarefa de levar adiante um processo analítico.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Virginia Ungar
Rep. de la India 2921, piso 11
1425 Buenos Aires , Argentina
Fones: (54 11) 4807-5858 (home); (54 11) 4801-9312 (office)
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Recebido em: 10/11/2008
Aceito em: 20/12/2008

 

 

Tradução de Marta Úrsula Lambrecht
* Asociación Psicoanalítica de Buenos Aires.
1 No sentido de novidade, em português. (N. do T.)
2 No sentido de alheio, em português. (N. do T.).

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