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Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.42 no.76 São Paulo June 2009

 

TRADUÇÕES

 

O mistério da homossexualidade1

 

The mystery of homosexuality

 

El misterio de la homosexualidad

 

 

Ken Corbett*

Psicólogo, psicanalista e professor assistente do Programa de Pós-doutorado em Psicoterapia e Psicanálise da Universidade de Nova York
Editor do Studies in Gender and Sexuality
Editor associado do Psychoanalytic Dialogues

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Os psicanalistas têm repetidamente tentado (des)locar2 os homossexuais em uma teoria de gênero que repousa sobre distinções essenciais entre o que é feminino e o que é masculino. A melhor ilustração dessa (des)locação é a maneira pela qual o homossexual masculino tem sido considerado como feminino. Chamar os homens gays de femininos não problematiza suficientemente sua experiência de gênero, nem capta adequadamente as vicissitudes de gênero, uma vez que a homossexualidade masculina é uma masculinidade estruturada de modo diferente, não uma feminilidade simulada. Ainda que tanto os homens heterossexuais quanto os homossexuais prontamente se identifiquem como homens, a identidade de gênero do homem gay se distingue por sua experiência de passividade em relação a outro homem. Assegura o autor que um passo decisivo no tratamento de qualquer homem gay centra-se no reconhecimento de sua experiência inicial de gênero e de como essa experiência se entretece na trama da sua sexualidade.

Palavras-chave: Homossexualidade masculina, Identidade de gênero, Feminidade, Masculinidade, Heterossexualidade.


ABSTRACT

Psychoanalysts have repeatedly attempted to (dis)locate homosexuals within a theory of gender that rests on essential distinctions between what is feminine and what is masculine. The best illustration of this (dis)location is the manner in which the male homosexual has been regarded as feminine. Calling gay men feminine neither sufficiently problematizes their experience of gender nor adequately captures the vicissitudes of gender. I contend that male homosexuality is a differently structured masculinity, not a simulated femininity. Though both heterosexual and homosexual men readily identify themselves as men, the gay man’s gender identity is distinguished by his experience of passivity in relation to another man. I maintain that a crucial step in the treatment of any gay man is the recognition of his early gender experience and of how that experience is knit into the fabric of his sexuality.

Keywords: Masculin, Homossexuality, Gender identity, Feminity, Masculinity, Heterossexuality.


RESUMEN

Los psicoanalistas han tenido reiteradamente la tendencia de (des)vincular a los homosexuales en una teoría de género que reposa sobre la diferenciación esencial entre lo femenino y lo masculino. La mejor ilustración de esa (des)vinculación es la forma por la cual el homosexual masculino ha sido considerado como femenino. Denominar a los hombres gay de femeninos no problematiza suficientemente su experiencia de género, ni capta adecuadamente las vicisitudes de género. Argumento que la homosexualidad masculina es una masculinidad estructurada de modo diferente y no una femineidad simulada. Además tanto los hombres heterosexuales como los homosexuales rápidamente se identifican como hombres, la identidad de género del hombre gay se distingue por su experiencia de pasividad en relación a otro hombre. Afirmo que un paso decisivo en el tratamiento de cualquier hombre gay es el reconocimiento de su experiencia inicial de género y de cómo esa experiencia se entreteje en la trama de su sexualidad.

Palabras clave: Homosexualidad masculina, Identidad de género, Femineidad, Masculinidad, Heterosexualidad.


 

 

Após quinze anos de muitas reflexões acerca da homossexualidade, Freud (1920/1962) foi induzido a caracterizar a relação entre a atitude de gênero do homossexual e a forma de satisfação sexual (ativa ou passiva) como “o mistério da homossexualidade” (p. 170). Para os homossexuais, a natureza da masculinidade3 não correspondia necessariamente à atividade que Freud associava à masculinidade, e a natureza da feminilidade não necessariamente correspondia à passividade ligada à feminilidade. A experiência de gênero do homossexual foi vista por Freud como uma espécie de crise de classificação: que gênero deve ser atribuído a esses indivíduos misteriosos?

Em consonância com os atributos de um mistério, o gênero homossexual tem sido considerado como ameaça a uma certeza conhecida &– o arranjo da dualidade heterossexual de gênero (masculino-feminino). Por sua vez, as tentativas dos psicanalistas para decifrar o mistério refletem a maneira pela qual as soluções dos mistérios são frequentemente buscadas como tentativa de restaurar a certeza. Começando por Freud, os analistas tem repetidamente tentado (des)locar os homossexuais em uma teoria de gênero que repousa nas diferenças entre o que é feminino e o que é masculino.

A melhor ilustração dessa (des)locação é a maneira pela qual o homossexual masculino tem sido considerado como feminino.

Essa convergência de gênero, homens homossexuais-mulheres heterossexuais, tem sido fundamentalmente baseada no que os analistas consideraram uma similaridade entre a forma passiva de satisfação sexual desejada tanto por homens homossexuais como por mulheres heterossexuais. Esse tipo de teorização levou à seguinte equação: homossexualidade masculina = passividade = feminilidade = trauma.4 Os homens homossexuais são assim removidos do território da masculinidade e reformulados como mulheres falsificadas. Como Freud (191/1957) afirmou ao descrever a homossexualidade de da Vinci, “[Leonardo] foi roubado de parte da sua masculinidade” (p. 117) e deixado “a desempenhar o papel de mulher” (p. 86).

Em vez de se apoiar na experiência do homossexual para desaferrolhar as classificações de gênero, os analistas restringiram as possibilidades de gênero à dualidade convencional heterossexual masculino-feminino. Por exemplo, Freud (1910/1957) classificou da Vinci como feminino (ainda que feminino simulado), opondo-se a considerar a experiência de gênero dele como vicissitude da masculinidade. Por meio desse tipo de classificação, os analistas sustentam os gêneros heterossexuais como a priori e naturais, além de apoiar a inevitabilidade de uma ordem cultural construída a partir desse modo de pensar. Mas tal qual exemplifica a experiência do homossexual, essa lógica resulta em uma ordem cultural sancionada, que não capta adequadamente a natureza ou problematiza suficientemente a experiência de gênero. Denominar femininos os homens gays não amplia muito a compreensão a respeito deles; simplesmente os desloca. Transformar os homossexuais masculinos em mulheres falsificadas obscurece as vicissitudes de gênero no lugar de abordar o modo pelo qual o gênero homossexual desafia a dualidade convencional masculino-feminino.

Consequentemente, proponho voltar ao mistério da homossexualidade de modo que possamos aprender mais não só acerca da homossexualidade, mas também acerca de gênero. Concentro-me, especificamente, na experiência de gênero do homem gay.5

Afirmo que a homossexualidade masculina é uma masculinidade diferentemente estruturada, não uma feminilidade simulada ou não masculinidade. Sugiro que embora tanto os homens homossexuais quanto os heterossexuais identifiquem-se prontamente como masculinos, a identidade de gênero do homem gay diferencia-se por sua experiência de passividade em relação a outro homem. Seguindo Isay (1986, 1989, 1991), e Lewes (1988), argumento que (na maioria das vezes) as dificuldades contratransferenciais do analista heterossexual masculino com a passividade masculina promoveram dificuldades de compreensão a respeito do desenvolvimento do homossexual masculino.

Acredito que na incapacidade de o analista tolerar a passividade masculina está embutida a incapacidade de compreender e tolerar a experiência de masculinidade do homem gay. Essa falta de compreensão, frequentemente acompanhada pela falta de uma visão empática positiva, define o cenário para o que denominamos “censura do pai”. O analista (como pai), por meio da exploração inconsciente de desejos transferenciais (o desejo do filho de ser como o pai e negar anseios passivos), busca junto com o paciente (como filho) subjugar e repudiar a experiência de gênero e de diferença sexual do paciente.

Argumento que a censura do pai e a repressão do filho repousam em uma teoria distorcida do desenvolvimento masculino, que ressalta a reprodução da paternidade, o repúdio da passividade e a supressão da variação edípica &– em especial, o desejo edípico do menino por seu pai. A reencenação transferencial do desejo do menino pelo pai foi trazida recentemente à nossa atenção por Isay (1989). Gostaria de me basear nessas observações ao abordar as dificuldades vividas pelo paciente gay masculino em permitir o surgimento dessa reencenação transferencial. Afirmo que é vitalmente importante reconhecer empaticamente, no tratamento de homens gays, tanto seu medo de vingança, pela sua experiência de diferença de gênero, quanto lhes fornecer ajuda para o esclarecimento de sua identidade diferente de gênero.

 

A dualidade ativo-passivo

Primeiramente, defino o que quero dizer com passividade. Como em todas as dualidades convencionais, a passividade só pode existir em referência ao seu oposto dialético, atividade. Dada a natureza dessa dialética, pode-se com razão se questionar se passividade de fato existe. No entanto, opostos que se mantêm em tensão dialética não são negados por intermédio dessa tensão. Podem, um ao outro se, contradizer. Podem se desdobrar um para dentro do outro, como a passividade pode se desdobrar em atividade e, dessa maneira, ser transformada. Mas contradição e transformação não neutralizam os polos dialéticos; antes, os mantém em tensão condicional. Na medida em que se tenha consciência da maneira pela qual atividade e passividade são condicionadas por meio dessa tensão dialética, acredito que desejos passivos e ativos possam ser identificados. Além disso, afirmo que identificar esses desejos é clinicamente relevante e significativo.6

Estou definindo a passividade homossexual masculina tal qual se manifesta por meio de diversos desejos e comportamentos, que variam desde o desejo referente à relação de objeto de receber cuidado de outro homem ao desejo sexual de ter as zonas erógenas tocadas ou satisfeitas por outro homem. Por outro lado, estou definindo a atividade homossexual masculina tal qual se manifesta por desejos e comportamentos, que variam desde o desejo de cuidar de outro homem ao desejo de tocar ou satisfazer as zonas erógenas de outro homem. Por exemplo, a passividade pode ser expressa por meio do desejo de ser sustentado por outro homem. Um paciente gay masculino fala do seu prazer de “dormir como namorados apaixonados”,7 aninhado nos braços do seu amado. Ele gosta especialmente da sensação de ser o seu amado “maior e mais forte, e capaz de envolvê-lo”.

O desejo passivo também se exprime por intermédio do prazer que os homens gays experimentam no intercurso anal. Descrevendo uma fantasia de fusão amorosa, um paciente gay declarou: “Quando Alex está dentro de mim, é como se eu estivesse preenchido por ele. Como seu pinto chega até o meu, como se fôssemos um”. Esses dois exemplos servem para ilustrar uma característica central da passividade: uma temporária perda de vista do self por meio da rendição fusional ao outro. A fusão por meio da atividade, por outro lado, significaria perder de vista temporariamente o self por meio da inserção fusional no outro.

Os desejos passivos não negam a possibilidade de coexistência de desejos ativos. A maioria dos homens gays intercambia atividade e passividade nas relações sexuais. Além disso, certas práticas sexuais, tais como felação mútua, sugerem que um indivíduo pode experimentar simultaneamente atividade e passividade. Porém, é a fantasia que subjaz à prática que nos deveria guiar a esse respeito (Arlow, 1969; Freud, 1905/1953). Minhas afirmativas a respeito do papel da passividade na homossexualidade masculina não têm o intuito de negar o fato de que muitos homens gays mantêm um papel exclusivamente ativo na busca de objetos e nas relações sexuais.

A atividade homossexual fálica tem sido consistentemente ignorada ou interpretada em toda a literatura analítica como intrusão sádica, falta de amor objetal. A esfera do amor e a expressão de desejos de fusão amorosa por meio da atividade fálica têm sido reservadas para homens heterossexuais por intermédio da constante idealização da masculinidade heterossexual pelos analistas. Aguardo o reexame da atividade homossexual masculina. Mesmo assim, argumento que há um aspecto evidentemente passivo na homossexualidade masculina que, por sua vez, é relevante para a experiência de gênero dos homens gays.

Em concordância com as afirmativas de Isay (1989) relativas ao desenvolvimento homossexual masculino, descobri que os anseios passivos derivam do fato de que a escolha de objeto amoroso de um menino homossexual tem como modelo seu pai, levando ao desejo do menino de ter suas zonas erógenas tocadas ou satisfeitas pelo pai. A fantasia de ser amado pelo pai é essencialmente expressão de anseio passivo. Porém, como todo desejo sexual, esse anseio passivo é acoplado a um impulso ativo simultâneo e aparentemente contraditório de se apossar e se identificar com o pai. Em outras palavras, o menino, ao escolher seu pai como objeto, também se identifica com a atividade genital do pai. Nisto se assenta o cerne do mistério: homens gays se movimentam entre objetivos sexuais passivos e ativos que não refletem o tipo de tensão dual associada à atividade heterossexual masculina e a passividade feminina. Ao contrário, a atividade e passividade homossexuais derivam do desejo e identificação simultâneos com o pai. Além disso, a masculinidade homossexual não é estruturada segundo diferenças entre os sexos, e a experiência de gênero do homem gay não repousa na tensão dual que tem como modelo a masculinidade e a feminilidade heterossexual.

Finalmente, escolhi focar os anseios passivos do homem gay não porque esses anseios constituam exclusivamente o desejo homossexual. Antes, foco-me neles porque descobri que a integração de tais anseios do homem gay e o impacto que eles têm em sua experiência de gênero são fontes frequentes de muitos conflitos e defesas. Além disso, ainda que eu acredite que o gênero seja descoberto juntamente com a identidade sexual, a maioria dos homens gays relata uma percepção consciente inicial de diferença de gênero antes da percepção consciente da sua homossexualidade. Consequentemente, um passo decisivo no tratamento de qualquer homem gay é o reconhecimento dessa experiência inicial de gênero e de como essa experiência é articulada na trama da sua identidade sexual.

 

A censura do pai

Em lugar de esclarecer o desafio enfrentado no desenvolvimento pelo menino homossexual enquanto tenta integrar sua experiência de diferença de gênero, os analistas nivelaram advertências, tais como a proferida por Chasseguet-Smirgel (1976, p. 349), de que acesso excessivo à feminilidade pode levar o menino à “morte psíquica”. Na verdade, todas as “curas” psicanalíticas da homossexualidade baseiam-se na crença de que se pode ajudar o homem gay a recuperar sua masculinidade perdida e por esse meio devolvê-lo à sua heterossexualidade natural (Socarides, 1978). A hipótese subjacente é que a homossexualidade pode ser curada pela infusão de masculinidade normativa. Esse método mostra semelhança notável com o pai que acredita que o filho é homossexual e o leva ao quintal para jogar beisebol. O que o pai ansioso e os teóricos, como Socarides (1978) e, mais recentemente, Nicolosi (1991) tiveram dificuldade de apreender é que homossexualidade não é falta de masculinidade “é, antes, uma masculinidade estruturada de modo diferente”.

Essa falta de empatia e de compreensão é ressaltada pela crença de que a masculinidade se segue à reprodução da paternidade que, por sua vez, repousa no repúdio da passividade. Deu-se voz a essa crença de diversas formas em todo o discurso psicanalítico sobre masculinidade, mas talvez não esteja ela mais evidente, em qualquer outro lugar, do que na descrição de Freud (1909/1955) sobre o desenvolvimento masculino do pequeno Hans. Em todo o estudo do caso, Freud faz referências de passagem ao “jeito agressivo, masculino e arrogante” de Hans (p. 16), ficando especialmente deliciado quando, “apesar de seus acessos de homossexualidade, o pequeno Hans portou-se como um verdadeiro homem” [itálicos meus] (p. 17). Essa passagem capta a maneira pela qual um filho é visto e refletido por meio dos olhos do pai. É bom lembrar que Freud empreendeu a “análise” de Hans falando por intermédio do pai do menino. Freud, como orgulhoso pai-sombra, ilustra sua crença de que a tarefa do filho, enquanto se empenha em direção à verdadeira masculinidade, é triunfar sobre a passividade para a agressividade confiante.

A começar por Freud, os analistas têm sustentado que identidade de gênero e sexualidade evoluem por meio da identificação com o genitor do mesmo sexo. O menino se identifica com a atividade fálica do pai e, assim, começa sua luta para representar o falo. A atividade deve ser conservada e a passividade repudiada. O desejo passivo por outro homem deve ser especialmente negado. De fato, Freud (1937/1964) sugeriu que a negação dos anseios passivos do homem por outro homem, que é parcialmente mantido por intermédio do “protesto masculino”, representa o “alicerce”8 da masculinidade (p. 252). Igualando biologia a alicerce, Freud (1937/1964) chegou a ponto de conjeturar que a biologia da masculinidade era expressa por meio desse protesto psicológico:

Temos frequentemente a impressão de que com (…) o protesto masculino penetramos através de todos os estratos psicológicos e alcançamos o alicerce e que, assim, nossas atividades chegam ao fim. Isso é provavelmente verdadeiro, já que, para o campo psíquico, o campo biológico desempenha na verdade o papel de alicerce subjacente (p. 252).

Em última análise, biologia é destino. E, segundo Freud (1909/1955), o pequeno Hans demonstrou seu destino masculino na medida em que triunfou sobre a passividade por meio do seu protesto masculino arrogante e agressivo. Esse feito foi saudado com muito prazer e reconhecimento pelo pai de Hans e por Freud. Hans juntou-se às fileiras da classe (Freud, 1909/1955, p. 89): Pai de Hans: Você gostaria de ser Papai? Hans: Oh, sim!

O objetivo final do desenvolvimento masculino é a sucessão ao papel de pai. O apogeu da biologia masculina é a reprodução. A masculinidade repousa, afinal, na reprodução pelo menino da paternidade heterossexual, revelando assim a confiança dos analistas em uma teleologia da função reprodutiva. Os analistas têm proposto consistentemente que o princípio da realidade coincide com o reconhecimento desse paternalismo e suas leis complementares de diferença sexual e geracional (Chasseguet-Smirgel, 1985; Erikson, 1950; Freud, 1911/1958; Winnicott, 1986). Por meio da sua teoria do desenvolvimento sexual, Freud (1911/1958) esboçou a luta entre prazer e realidade. Ao entretecer a “substituição do princípio do prazer pelo princípio da realidade” (p. 222) à sua teoria do desenvolvimento psicossexual, Freud uniu desejo e realidade. Ele e a maioria dos analistas que se seguiram supuseram uma correspondência entre realidade e uma forma de sexualidade subordinada à função reprodutiva.9

Porém, tem consistência lógica equacionar realidade com subordinação ao desejo de reprodução? Estruturar uma teoria do desenvolvimento humano ao redor do fenômeno nodal de procriação apreende adequadamente a natureza? Ou faz o normativo cair sobre o natural? Ligar o desenvolvimento sexual à procriação e chamá-lo realidade ignora outra realidade: as vicissitudes da resolução edípica juntamente com as variações em gênero e identidade sexual que evolvem dos diversos desejos e resultados edípicos. Evidentemente, a sexualidade surge de percursos diversos e sobredeterminados. Ao não levar em conta as vicissitudes naturais da resolução edípica, pensar acerca do desenvolvimento sexual tornou-se simplificado e esquematizado. Em lugar algum isso é mais evidente do que na literatura psicanalítica sobre a homossexualidade masculina. Por exemplo, até o trabalho recente de Isay (1989), ignorava-se ou se marginalizava a possibilidade de um menino tomar seu pai como objeto edípico. Como ressaltou Isay (1989), o fato de os pais não figurarem de modo mais proeminente nas teorias do desenvolvimento da homossexualidade masculina sublinha tanto o medo dos analistas de examinar o desejo pelo mesmo sexo quanto a relutância deles em cogitar acerca da variação e da ambiguidade inerentes na ontogenia da sexualidade masculina.

Os analistas têm demonstrado igual relutância em examinar a experiência masculina de passividade ou, no que diz respeito a isso, até mesmo em examinar a passividade. A passividade masculina tem sido considerada como um desvio do destino/biologia masculino verdadeiro.10 A passividade masculina é vista como indicador de uma identificação feminina e a renúncia correspondente à masculinidade. Presume-se, além disso, que essa identificação feminina seja adquirida por meio da abdicação da atividade fálica, a encenação da castração e a experiência fantasiada do ânus como vagina. Durante minha experiência clínica e de pesquisa com mais de trinta homens gays, não verifiquei que essas suposições pudessem ser acuradas (Corbett, 1989).

Ainda que muitos homens gays exprimam certa identificação feminina, não encontrei qualquer paciente gay que fantasiasse que seu ânus fosse uma vagina ou que fixamente se imaginasse mulher. Similarmente, não constatei que a experiência passiva esteja ligada à encenação da castração. Na verdade, para a maioria dos homens gays a experiência de ser penetrado analmente resulta em excitação fálica e ereção (se já não tiver ocorrido nas preliminares). A ereção e o prazer fálico correspondente que levam ao orgasmo são focais, acentuados pelo prazer da penetração. O homem simultaneamente penetrado e em ereção, geralmente alcança o orgasmo depois da manipulação do seu pênis pelo parceiro. Esse comportamento é sublinhado pelo desejo de que o parceiro veja e manipule a ereção, não que a negue. Ainda que o orgasmo não seja atingido como resultado de penetração ativa, a ereção e a experiência de excitação fálica passiva são fundamentais tanto para o comportamento sexual quanto para a fantasia. Por meio da sua relutância em imaginar um corpo masculino simultaneamente penetrado e em ereção, os analistas misturaram excitação fálica passiva com castração.

Juntamente com as suposições relativas à fantasias e encenações de castração, supõe-se que a masculinidade seja abandonada por meio do desejo de erotismo anal do homem gay. Ser penetrado é abdicar da masculinidade e desistir da reprodução da paternidade. Como Foucault (1985) observou, em referência à história da sexualidade, o único comportamento sexual masculino “honroso” “consiste em ser ativo, em dominar, em penetrar, e assim exercer autoridade” (p. 154). Ser penetrado é renunciar ao poder. Desejar o prazer da passividade com outro homem é quebrar a patente e romper o “alicerce”11 da masculinidade. Segue-se que esse desejo fica sob o ataque do “protesto masculino.” Só é preciso observar a maneira pela qual os meninos atacam verbal e fisicamente um menino homossexual para reconhecer a necessidade deles de deslocar e subjugar sua própria passividade reprimida.

A passividade homossexual masculina subverte o absolutismo da atividade e autoridade heterossexual masculina. Sem esse absolutismo, as suposições da cultura acerca do gênero normativo são desestabilizadas. Como argumentou Bersani (1989), a passividade tem o “apelo terrificante de perda do ego” e esse “perder o self de vista” serve para confrontar não só noções normativas de gênero, mas também de teoria normativa do desenvolvimento (p. 220). De fato, o argumento teleológico dos Três ensaios (Freud, 1905/1953) e as teorias do desenvolvimento da maior parte dos seus seguidores repousa na necessidade da atividade para a exclusão das considerações de passividade no desenvolvimento. Essa história de negação do valor da passividade no desenvolvimento resultou em um cânone psicanalítico enviesado: o desenvolvimento dos homens heterossexuais é superestimado e supervalorizado. O desenvolvimento das mulheres heterossexuais e dos homens homossexuais é subestimado e subvalorizado, enquanto suas supostas patologias são superestimadas. E o desenvolvimento das mulheres homossexuais é notoriamente subestimado por meio da falta virtual de qualquer representação no cânone psicanalítico.

Essa representação tendenciosa é defendida por meio de suposições normativas acerca de biologia e psique, suposições que negam a grande variabilidade sexual da espécie humana. A veracidade e o valor da passividade para o desenvolvimento, especialmente a passividade homossexual masculina, continuarão a ser negados até os psicanalistas começarem a reconsiderar de modo responsável os constructos fundamentais em que basearam sua compreensão da biologia e da psique humanas.

 

A repressão do filho

Não só os psicanalistas ficam pouco à vontade com a homossexualidade masculina. Homens gays também frequentemente abrigam a crença de que sua experiência de masculinidade é imperfeita, especialmente em comparação com a masculinidade heterossexual normativa. Reconhecendo o dilema inerente em tal experiência, um paciente meu, gay masculino, comentou: “Há esse senso de alteridade. Sabe! Não ser a norma &– não ser um menino normal”. Cada vez mais frustrado com a dificuldade de descrever sua experiência, a não ser em referência ao que ele não era, exclamou: “Não sei! Sinto como se a civilização tivesse roubado de mim as palavras para descrever isso”.

Essa experiência de ser simultaneamente localizado e roubado por meio da masculinidade normativa foi ecoada por muitos pacientes gays masculinos meus. Descobri, em particular, que meus pacientes gays masculinos sentem que seus pais não compreenderam sua experiência inicial de gênero. Essa falta de compreensão é vivida pelo filho como sinalizadora da decepção do pai. Sem exceção, meus pacientes gays masculinos se apresentam como tivessem decepcionado seus genitores, com a ênfase maior colocada geralmente na decepção dos pais: não foram eles os filhos que os pais almejaram.

Em oposição ao tempestuoso orgulho partilhado pelo pequeno Hans e por seu pai, muitos meninos homossexuais sentem humilhação e culpa em serem observados por seus pais. Esse esfriamento das relações é composto, além disso, pela derrota que eles sentem diante da condenação e/ou protesto masculino de seus pares. Descobri que uma dinâmica similar de afastamento e retraimento pode colorir a transferência na fase inicial de terapia com pacientes gays masculinos. Reconhecer a expectativa de repúdio dos pacientes gays, à luz de sua experiência inicial, proporciona a oportunidade de começar examinando a natureza defensiva do seu retraimento. O reconhecimento do repúdio, devido à experiência inicial de gênero, faz voltar à evidência não só as adaptações defensivas, mas também o desejo reprimido pelo pai e os anseios passivos ligados a esse desejo. O curso do tratamento com um jovem gay ilustra como esse interjogo entre experiência inicial de gênero e desejo pelo pai pode ser expresso na transferência.

Luke começou a terapia queixando-se de ansiedade difusa, acoplada a sentimentos de solidão e desespero por não conseguir ter um relacionamento estável com outro homem. Ainda que exprimisse bastante raiva do que sentia ser falta de desejo dos homens por ele, contribuía secretamente para o que sentia como avaliação desfavorável deles em relação a ele. Ao dizer coisas como: “Tenho boas qualidades, mas não é suficiente”, ele exprimia consistentemente sua crença de não ser o homem que eles buscavam. Luke exprimia um intenso senso de isolamento, acreditando não poder ter a admiração dos pares nem dos genitores. Similarmente, no tratamento, Luke desconfiava que eu pudesse julgá-lo e considerá-lo deficitário. Ele especulava que eu fizesse parte de um grupo exclusivo de homens gays, que eram mais bem-sucedidos e atraentes do que ele. Observando, com inveja, ele imaginava que meus supostos amigos e eu não permitiríamos que ele se juntasse a nós. Luke sentia que não só eu o acharia pouco atraente, mas que até o humilharia &– especificamente, que eu o chamaria de “mocinha gorda.”12 A reflexão transferencial levou a considerável material acerca das vivências de humilhação e de rejeição de Luke por outros meninos, seus colegas, durante toda sua infância. Mas, talvez, ainda mais importante: Luke exprimia dolorosos sentimentos de insuficiência por se sentir pouco atraente para seu pai.

À medida que o tratamento progrediu e as defesas de Luke diminuíram, ele relatou um sonho em que estava dando banho em um menino pequeno. Ele e o menino estavam se divertindo muito, e Luke sentia muita ternura em relação à criança. Luke percebeu que a porta do banheiro estava aberta e que havia adultos na sala contígua. Temendo que os adultos pudessem pensar que ocorria algo ilícito entre ele e o menino, Luke fechou a porta. A cena mudou então para o dormitório dos pais. Já como adolescente, ele estava no dormitório com outro adolescente. O outro jovem começou a se despir, mas de repente parou. O sonho terminou com Luke se sentindo decepcionado e raivoso. Nas associações ao sonho, Luke falou de um paciente meu, criança, que ele vira uma vez na sala de espera. Luke se perguntou o que eu fazia com um menino tão pequeno e exprimiu sua crença de que eu teria que ser mais doador para uma criança, pois uma criança exige mais. Ele sentia que, possivelmente, eu até chegasse a abraçar esse menino. Ele se lembrou de ter visto a mesma criança com o pai, na rua, fora do meu consultório. Luke achou que o pai era bem-apessoado, bonito, e dava muita atenção ao menino. Prestando atenção em suas associações, Luke mencionou sentir que o menino pequeno, no sonho, era ele próprio, e que o sonho exprimia um desejo de ser cuidado, muito provavelmente por seu pai, mas também por mim.

Luke prosseguiu dizendo que, enquanto a primeira metade do sonho era um desejo, a segunda metade era o medo de que se me deixasse saber que seu desejo era sexual e de proximidade, eu ficaria enojado e interromperia a terapia. Conforme fui investigando mais, Luke revelou, ansioso, que se percebia abrigando a fantasia de que eu o levaria para a sala de terapia de crianças, contígua à sala de adultos, e de que, ali, faríamos sexo. Com grande dificuldade e repugnância, ele exprimiu seu interesse em ser passivo &– seu desejo de que eu o segurasse, o desvestisse e chupasse seu pênis.13

Durante a sessão seguinte, Luke se lembrou de quando era pequeno e fora à festa de aniversário de uma prima. Em certo momento, sua prima subiu no colo do pai. Luke tentou se juntar a eles, mas foi empurrado para o lado por seu pai, que deu a entender que aquele tipo de comportamento era inadequado para um menino. Comentei que provavelmente Luke queria o que, segundo ele, só uma menina poderia ter. Ele exprimiu desconforto com essa ideia, mas reconheceu que sua repugnância na sessão anterior fora devida à sua associação com anseios passivos referente a “não ser suficientemente homem e ser parecido demais com uma mulher”. Por diversas sessões, a partir dali, Luke voltou ao tema da sua identificação com meninas na infância. Ele caracterizou suas amizades com meninas como “lealdades tensas”. Ainda que se lembrasse de um senso sincero de amizade, lembrou também o sentimento de estar distante delas. Deu risada enquanto dizia: “Eu não pertencia a nenhum dos lados!”. Mas o tom mudou para tristeza quando disse: “O mais estranho é como isso era sabido e nunca falado”.

O sentimento de Luke a esse respeito marca o que eu creio ser uma diferença bem importante &– não esclarecida na literatura a respeito da infância dos meninos homossexuais &– entre (a) a vivência de diferença de gênero nos meninos homossexuais e (b) distúrbio de identidade de gênero. A identificação feminina para os meninos homossexuais não é tanto a expressão de um desejo de ser menina, mas antes uma oportunidade para experiência passiva e realização de desejo. Anseios passivos e identificação feminina coexistem ao lado da identificação masculina, criando com frequência uma confusa experiência de gênero para o menino homossexual. Por exemplo, um paciente afirmou: “Sei que meu pai queria que eu fosse homem, e eu sabia que não estava sendo homem como ele. Eu não estava sendo mulher, mas não estava sendo homem, segundo a definição dele”. Esse paciente expressou com muita competência o paradoxo para a experiência de gênero do menino homossexual: ele não sentia que fosse mulher e, ainda assim, não sentia que fosse homem, conforme definia o pai. Ele não queria crescer para ser mulher nem negar seu corpo masculino. Ele tinha amigas e gostava de participar de jogos e passatempos com meninas, mais do que a maioria dos meninos. Porém, esse prazer não constituía uma preocupação com a feminilidade, e ele não tinha apenas atividades femininas de maneira estereotipada. Na verdade, ao contrário da caracterização de meninos homossexuais, que exibem feminilidade exacerbada, descobri que muitos meninos homossexuais tentam reprimir sua experiência de diferença de gênero. Depois dessa repressão, ocorre uma depressão na infância desses meninos, caracterizada por um fechamento parcial da vida afetiva e marcado isolamento interpessoal. Um paciente refletiu com competência esse retraimento como tentativa de se “neutralizar”.14

O trabalho com pacientes gays masculinos, na tentativa de ajudá-los a falar a respeito e esclarecer sua experiência de diferença de gênero, lhes proporciona um novo ponto de vista a partir do qual reavaliam e revalorizam seu desenvolvimento. A capacidade de Luke de ver seus desejos como masculinos, de um modo diferente, em lugar de femininos, outorgou nova possibilidade à sua identidade sexual.15 Ele começou a conectar seus desejos passivos com desejo erótico inicial por seu pai, e sua ansiedade acerca da sua masculinidade homossexual diminuiu. Ele conseguiu ter um relacionamento estável com outro jovem e começou a valorizar e resistir ao efeito da discriminação no desenvolvimento homossexual. Com tolerância maior para sua própria identidade, conseguiu restabelecer os laços com sua família e a trabalhar com eles para entender sua diferença sexual.

Assim como a psicoterapia pode promover a ampliação das fronteiras do ego e, desse modo, permitir ao paciente a estruturação de um sistema de valores e de ideais mais realisticamente modulados, nós, como psicólogos, precisamos também começar a formular uma teoria de gênero e de desenvolvimento sexual que lance uma rede mais ampla. Não estou propondo que necessitamos de uma teoria de gênero e de desenvolvimento sexual irrestrita ou que se nos ofereçam meios de raciocinar acerca de limites. Similarmente, seria ilusório ignorar a necessidade de uma ordem cultural dentro da qual qualquer sujeito é gerado. Mas é nossa incumbência distinguir o normativo do natural e começar a apresentar as vicissitudes de gênero. Igualmente, é nossa incumbência desenvolver uma teoria que respeite a diversidade, no desenvolvimento humano, mais do que o desejo de criar uma metafísica de gênero falsamente simétrica.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Ken Corbett
3 East 10th Street
New York, NY 10003
Fone: (212) 3532146
E-mail: kencorbett@earthlink.net

Recebido em: 14/07/2009
Aceito em: 13/08/2009

 

 

Tradução de Tania Mara Zalcberg
* Ken Corbett é psicólogo, psicanalista e professor assistente do Programa de Pós-doutorado em Psicoterapia e Psicanálise da Universidade de Nova York. Editor do tudies in Gender and Sexuality e editor associado do Psychoanalytic Dialogues, acaba de publicar Boyhoods: rethinking masculinities (Yale University Press).
1 Publicado originalmente em Psychoanalytic Psychology, 10:345-347 (copyrights by Taylors & Francis).
2 No original, (dis)located, cujo sentido é alocar de forma equivocada. Optamos pelo termo (des)locar. (N. do T.)
3 Para diferenciar os termos maleness e femaleness de masculinity e femininity, maleness foi traduzido como “natureza da masculinidade” e femaleness como “natureza da feminilidade”; masculinity como “masculinidade” e femininity como “feminilidade”. (N. do T.)
4 Deu-se voz a essa equação de trauma por intermédio de diversas escolas psicanalíticas, do classicismo de Freud até a teoria de separação e individuação de Socarides (1978), à teoria das relações de objeto de Winnicott (1971), ao classicismo moderno francês de Chasseguet-Smirgel (1984), para nomear algumas. Além do mais, essa equação de trauma ressalta a maneira pela qual a feminilidade é frequentemente uma categoria estigmatizada. Se um homem for considerado efeminado, a implicação é que ele é débil, letárgico e incorretamente frágil. Ao abordar esse fenômeno, Garber (1992) sugeriu recentemente que “a expressão de condenação de diversos tipos de homens deixa as mulheres sempre no papel de bode expiatório” (p. 138)
5 Reconheço que, ao me concentrar apenas na experiência do gay masculino, participo da superestimação do homossexual masculino na literatura psicanalítica, em contrapartida à subestimação da homossexual feminina. Reconheço a limitação inerente em focar apenas a homossexualidade masculina, além do que essa exclusividade pode ser vista como sintoma de falocentrismo ou, talvez, mais exatamente, de ginecofobia, que caracteriza grande parte da literatura psicanalítica do desenvolvimento. Mas devo também reconhecer os limites da minha própria experiência clínica que, no momento, não inclui tratamento extensivo de mulheres gays. Aguardo análises da homossexualidade que abordem as similaridades e diferenças entre a experiência gay masculina e a feminina.
6 Dada minha intenção expressa de examinar como o gênero homossexual confronta a dualidade convencional heterossexual, pode-se questionar o fato de eu confiar em um vocabulário mais empregado para exprimir uma diferença de gênero. Posso concordar com o desejo de me distanciar desse vocabulário, mas não posso plausivelmente confiar que um novo vocabulário não resulte nas mesmas hierarquias que este busca desconstruir. Como alternativa, escolhi permanecer no vocabulário contestado. Como Fuss (1991) sugeriu recentemente, “a mudança pode decorrer de trabalhar constantemente as entranhas dos nossos vocabulários sexuais herdados e transformá-los de dentro para fora, dando-lhes uma nova face” (p. 7).
7 No original, sleeping like spoons, cuja tradução literal seria “dormir encaixados como colheres”. (N. do T.)
8 No original, bedrock. (N. do T.)
9 Com esta afirmação, não estou deixando passar a contradição, na obra de Freud, entre a proposição de um curso para o desenvolvimento sexual normativo e as tentativas simultâneas de desconstruir esse curso. Também não estou desconsiderando os teóricos que retomaram o projeto freudiano de desconstrução. Mas, tudo considerado, o volume do coro de analistas que propõe um curso normativo mais do que supera os teóricos que buscam desconstruir o desenvolvimento sexual e a sexualidade normativa.
10 Christiansen (no prelo) reverte essa afirmativa psicanalítica fundamental, argumentando que “a masculinidade ativa se origina como defesa contra o prazer de uma feminilidade passiva e histericamente desprazerosa”.
11 No original, to break rank and crack the ‘bedrock’ of masculinity. (N. do T.)
12 No original: fat sissy (bicha gorda). (N. do T.)
13 Outro aspecto do sonho veio a ser tornar importante durante uma fase posterior da terapia: o sentimento de frustração e de raiva de Luke. Seus relacionamentos com homens eram frequentemente coloridos por consideráveis sentimentos de raiva e de frustração, o que ele vivenciava como inabilidade dos homens em entendê-lo e gostar dele. Identificar essa dinâmica na transferência e reconhecer como ela refletia os sentimentos de Luke em relação a seu pai foi decisivo para o tratamento. Por sua vez, reconhecer como ele recriava essa dinâmica com outros homens permitiu-lhe começar a desenvolver relações mais próximas com seus pares.
14 No original, neuter himself, que pode tanto significar “tornar-se neutro” quanto “assexuado”. (N. do T.)
15 Meus esforços a esse respeito não são uma tentativa de pôr as mulheres como bodes expiatórios ou sugerir que a masculinidade do gay masculino seja superior à feminilidade. Como espero ter deixado claro, sinto que é importante ajudar os homens gays a reconhecer como sua experiência de gênero pode ser similar, ainda que diferente da feminilidade. Além disso, não sinto que reconhecer diferenças entre identidades de gênero ou, mesmo, dentro das identidades de gênero, esteja necessariamente em desacordo com esforços de reconceituar o campo de gênero.

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