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Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.42 no.77 São Paulo Dec. 2009

 

REFLEXÕES SOBRE O TEMA

 

Masculino e feminino: vicissitudes e mistérios

 

Masculine and feminine: vicissitudes and mysteries

 

Masculino y femenino: vicisitudes y misterios

 

 

Ana Maria Stucchi Vannucchi*

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
Coordenadora do Laboratório de Adolescentes, da Secretaria de Psicanálise de Crianças e Adolescentes

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho teórico clínico acompanha o percurso psicanalítico de dois jovens rapazes às voltas com a constituição de sua identidade sexual. Procura desenvolver a idéia de que o acesso à masculinidade é difícil e penoso, diferentemente do que pensava Freud. Dialoga com as idéias de Freud (castração, inveja do pênis), Klein (inveja do seio e da capacidade de procriar), Ferrari (masculinidade e feminilidade de base), Winnicott (integração entre masculino e feminino intra psiquicos e criatividade), Stoller (ansiedade de simbiose, virilidade insegura), Breen (pênis como elo de ligação), Meltzer (identificação introjetiva com a dupla parental amorosa), Bion(continente/contido), e Bleichmar (introjeção do pênis paterno), procurando articulá-las com vários fragmentos clínicos. O trabalho propõe que a masculinidade pode ser vivida como uma conquista árdua, especialmente quando temos por base uma "virilidade insegura",caracterizada pela falta de integração entre masculino e feminino intrapsíquicos, tal como expressam os casos clínicos apresentados.

Palavras-chave: Masculinidade feroz, Virilidade insegura, Incorporação do pênis paterno, Pênis como elemento de ligação, Experiências homossexuais.


ABSTRACT

This theoretic and clinical study follows the psychoanalytical path of two young men struggling to build up their sexual identity. It aims to develop the idea that the access to masculinity is hard and tough, differently from what was believed by Freud. The current study dialogues with the ideas of Freud (castration, penis envy), Klein (breast and child-bearing ability envy), Ferrari (masculinity and femaleness basis), Winnicott (creativity and integration between masculine and feminine intra-psychic), Stoller (symbiosis anxiety, insecure virility) Breen (penis as a relationship link), Meltzer (introjective identification with an amorous parental couple), Bion (container/contained), and Bleichmar (paternal penis introjections), altogether articulated with clinical fragments. The study proposes that masculinity might be experienced as an arduous conquest, especially when it is grounded on an “insecure virility”, characterized by the lack of integration between masculine and feminine intra-psychic, as it is expressed in the clinical cases here presented.

Keywords: Fierce masculinity, Insecure virility, Paternal penis, Incorporation, Homosexual experiences, Penis as the basic link.


RESUMEN

Este trabajo teórico clínico acompaña el trayecto psicanalítico de dos jóvenes muchachos haciendo frente a la constitución de su identidad sexual. Trata de desarrollar la idea de que el acceso a la masculinidad es difícil y penoso, a diferencia de lo que pensaba Freud. Dialoga con las ideas de Freud (castración, envidia del pene), Klein (envidia del pecho y de la capacidad reproductora), Ferrari (masculinidad y femenidad/femenilidad de base), Winnicott (integración entre masculino y femenino intrapsíquicos y creatividad), Stoller (ansiedad de simbiosis, virilidad insegura), Breen (pene como eslabón de conexión), Meltzer (identificación introyectiva con la pareja parental amorosa), Bion(continente/contenido), y Bleichmar (introyección del pene paterno), tratando de articularlas con varios fragmentos clínicos. El trabajo propone que la masculinidad puede ser vivida como una conquista ardua, especialmente cuando tenemos por base una "virilidad insegura", caracterizada por la falta de integración entre masculino y femenino intrapsíquicos, tal como expresan los casos clínicos presentados.

Palabras clave: Masculinidad feroz, Virilidad insegura, Incorporación del pene paterno, Pene como eslabón de conexión, Experiencias homosexuales.


 

 

Quem foi, perguntou o Celo/ Que me desobedeceu?/ Quem foi que entrou no meu reino/ E em meu ouro remexeu?/ Quem foi que pulou meu muro/ E minhas rosas colheu?/ Quem foi, perguntou o Celo/ E a Flauta falou: Fui eu./ Mas quem foi, a Flauta disse/ Que no meu quarto surgiu?/ Quem foi que me deu um beijo/ E em minha cama dormiu?/ Quem foi que me fez perdida/ E que me desiludiu?/ Quem foi, perguntou a Flauta/ E o velho Celo sorriu.

Vinicius de Moraes

 

Nos últimos anos, ao acompanhar em análise alguns jovens às voltas com a constituição de sua identidade masculina, tenho observado que as dificuldades por eles vivenciadas são muito frequentes.

Vou partir de Freud, para melhor situar minhas reflexões. Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905/1972d), Freud propõe a noção de bissexualidade física e psíquica do ser humano, na qual baseia suas hipóteses sobre a constituição da identidade sexual,1 sugerindo que a diferenciação entre masculinidade e feminilidade se assenta no complexo de castração para os meninos e na inveja do pênis para as meninas. Diferenciação essa que só vai se tornar nítida na puberdade, quando a zona genital se tornar biologicamente desenvolvida.

Na puberdade, com o desenvolvimento do corpo sexuado, há uma explosão pulsional de caráter genital, calcada nas experiências pré-edípicas, encaminhando, por meio da situação edípica, a escolha de um novo objeto amoroso, que, como sabemos, é uma re-escolha. Agora, o objeto da sexualidade infantil é proibido pela barreira contra o incesto: surge o complexo edípico e reelabora-se também o superego. As fantasias incestuosas são superadas e, dessa forma, “completa-se a mais dolorosa experiência puberal: o desligamento da autoridade dos pais” (p. 234). Esse percurso, porém, ocorre de forma diferente para meninos e meninas.

Freud (1925/1972a) propõe que o desenvolvimento da masculinidade seja mais fácil e direto, já que o menino “retém o mesmo objeto que catexizou com sua libido - não ainda um objeto genital - durante o período precedente, enquanto estava sendo amamentado e cuidado” (p. 310).

Desenvolvo neste trabalho uma hipótese diferente da de Freud, pois suponho dificuldades no desenvolvimento da masculinidade, em função de observações clínicas e existenciais, especialmente no sentido de “como é difícil ser homem!” Para isso, encontro também ressonância nas ideias de vários autores, que procuro sintetizar em seguida.

É bem verdade que Freud (1925/1972a) tangencia essa questão, ao referir-se às consequências da angústia de castração para os meninos: “essa combinação de circunstâncias determinarão permanentemente as relações dos meninos com as mulheres: horror da criatura mutilada, ou desprezo triunfante por ela. Esses desfechos, contudo, pertencem ao futuro, embora não muito remoto” (p. 314).

Melanie Klein desloca a questão da inveja do pênis para a inveja do seio como uma característica feminina nutridora e amorosa, que se amplia depois para a capacidade de procriar e gerar bebês e que pode ser alvo de ataques violentos por parte de meninos ou meninas (1957/1984).

Ela postula (1945/1981) uma posição feminina estruturante do psiquismo, tanto de meninos como de meninas, resultante do contato inicial com o seio materno. Nos meninos, essa posição precisa ser vivida e elaborada para que ele possa atingir a posição masculina; isto é, a possibilidade de viver desejos genitais em relação à mãe e depois às outras mulheres. Esse momento supõe a elaboração do complexo edípico invertido (percepção do pênis paterno como objeto bom), bem como das angústias de castração, intensificadas pelas fantasias sádico-orais dirigidas ao seio e aos corpos materno e paterno, sob a égide de um superego cruel (pp. 477-480). Assim sendo, a identificação com um pai bom permite ao menino alcançar uma masculinidade reparadora e criativa. É interessante observar que Melanie Klein (1928/1981) supõe a possibilidade de o menino compensar suas angústias derivadas da posição feminina com excessivas manifestações de masculinidade, ideia que compartilho e procuro desenvolver posteriormente.

Peter Blos (1998) enfatiza a importância do aspecto negativo do complexo de Édipo, ao investigar as relações entre pai e filho. Para Blos, esse complexo negativo se refere ao pai pré-edípico, vivido pelo menino como protetor e carinhoso, que oferece uma sensação de segurança diante de um mundo hostil e perigoso; em resumo, o “bom pai”. A elaboração do complexo negativo seria lenta e progressiva, diferentemente do Édipo positivo, que implica uma transformação radical no menino. Para ele, a dificuldade de elaborar o Édipo negativo se traduz, muitas vezes, numa atividade heterossexual compulsiva e desregrada, ou numa passividade heterossexual, erroneamente confundida com homossexualidade:

o movimento rápido do rapaz adolescente em direção ao pai, manifestado defensivamente pela oposição e agressão, é geralmente coincidente com a intensidade e urgência por uma proximidade protetora em frente à mulher misteriosa e magnética por quem ele é irresistivelmente atraído ... é uma luta defensiva, duplamente facetada, contra a submissão e a passividade, bem como contra a autoafirmação e o parricídio (p. 62).

A importância do pai é sublinhada por Blos, amparando-se nos estudos de Mahler. Ele menciona que o pai pré-edipíco é aquele que “salva a criança” do engolfamento materno (pp. 63-64).

Além disso, Blos fala do perigo das emoções hostis que o nascimento de um filho causa no pai, que são normalmente contrabalanceadas com alegria e orgulho pela paternidade (p. 66). O autor menciona também que o ideal de ego é o herdeiro do complexo negativo, constituindo uma instância psíquica necessária para a vida adulta madura.

Associo esses elementos pré-edípicos, tanto maternos como paternos, à possibilidade da ternura no desenvolvimento da identidade sexual, tal como propôs Freud (1905/1972d), ao falar da confluência entre a corrente terna e a corrente erótica na escolha do objeto amoroso-sexual durante a adolescência.

Gomes e Tebaldi (1999) retomam o tema da ternura, colocando-a como elemento fundamental para uma adolescência saudável, para a manutenção de uma relação de objeto e da alteridade. A ternura, para os autores, estaria relacionada à possibilidade de sublimação dos impulsos sexuais e agressivos, estabelecendo dessa maneira uma qualidade psíquica humana. Para eles, a ternura seria proveniente basicamente da identificação primária com a mãe, e seria mais natural nas meninas, que suportam melhor a bissexualidade, enquanto nos meninos os processos sublimatórios se retardam, pois a ternura é vivida como algo “pouco viril” e como uma ameaça incestuosa. Quero sublinhar a ideia de que a ternura é também proveniente da relação amorosa com o pai pré-edípico, e é um elemento necessário e fundamental para o desenvolvimento da masculinidade, relacionando-se profundamente com a capacidade de suportar a dor mental e a alteridade.

Mas, apesar da importância cada vez maior dos aspectos pré-edípicos, o “Édipo maduro” ainda é “considerado como um aspecto fundamental da estruturação da sexualidade” (Breen, 1993/1998, p. 54). Para ela, um aspecto fundamental que amplia o complexo de Édipo “clássico”, tal como o concebeu Freud, se relaciona ao “reconhecimento do casal parental criativo, que produz o bebê, e os sentimentos de exclusão, ódio, ciúme e inveja que isso provoca” (p. 55). A triangularidade, diz ela, “depende da percepção do casal parental, e podem surgir manobras defensivas, se ela não puder ser tolerada” (p. 56).

Para Armando Ferrari (1996), o conflito edípico não se “resolve” nunca, mas a constelação edípica, como ele chamava, encontra um equilíbrio que se estabelece entre as imagos da mãe, do pai e da criança. Esse equilíbrio é dinâmico, e, ao longo da vida, a constelação edípica entra em crise, várias vezes abrindo a oportunidade para novas organizações.

O processo de percepção e significação de diferenças e semelhanças entre o eu, o pai e a mãe, vai assim constituindo as identificações que se organizam em busca de uma integração, que pode comportar harmonias e desarmonias, internas e externas. Aqui, entramos no campo da configuração egoica, tal como Ferrari “rebatiza” o Ego freudiano, para fazer justiça à sua complexidade e diversidade internas

As identificações masculinas e femininas com as figuras paterna e materna vão abrindo espaço interno e a possibilidade de o jovem construir sua identidade masculina de uma forma original e pessoal. Tenho observado inúmeros percalços nesse processo, em que a percepção e discriminação das diferenças transformam-se em confusão, e a constelação edípica se paralisa (claustrofobicamente) pelo uso de “artefatos” que pressionam como máscaras de uma identidade genuína, ainda sem rosto definido: refiro-me aqui, entre outros, ao uso da “homossexualidade” como defesa contra a angústia confusional entre masculino e feminino, ou ao uso de uma masculinidade estereotipada artificialmente “reforçada”, do tipo machão-conquistador-sedutor, para lidar de forma defensiva com identificações femininas dissociadas.

As noções de masculinidade e feminilidade de base, tão caras a Ferrari (1998), nos remetem ao corpo, como elemento filogenético que nos é dado e que temos que reconstruir ontogeneticamente. Para ele, a masculinidade e feminilidade de base seriam como pré-concepções filogenéticas à espera de uma realização, que se faria na dinâmica da constelação edípica e nas experiências vividas ou imaginadas, em busca de uma identidade. As relações possíveis entre o corpo, a masculinidade e/ou feminilidade de base, e as identificações que vão sendo elaboradas e trabalhadas podem resultar em harmonias e/ou desarmonias. O analista precisa estar muito atento a esse ponto, pois ele nos remete novamente à constelação edípica e à possibilidade de movimento e de liberdade, que cada um de nós precisa ter para se inventar, a partir desses elementos. Gostaria de lembrar que o corpo físico precisa ser representado, colocado em eclipse, para que constitua uma mente capaz de pensá-lo, e que é preciso considerar que os estudos sobre sexualidade expressam sempre a tensão entre o biológico e o psíquico e que esses dois elementos precisam ser levados em conta.

Winnicott (1971/1975, p. 109) também chama a atenção para o papel da bissexualidade e da necessidade de integração entre masculino e feminino intrapsíquicos, como base da criatividade humana e do que ele chama de viver criativo, sublinhando a existência dos processos de dissociação entre elementos masculinos e femininos, o que pode ser confundido com homossexualidade. Tanto o elemento feminino como o masculino podem ser dissociados e expelidos. O que me interessa, no presente trabalho, é a possibilidade de integrá-los como um todo, através da análise, constituindo uma identidade sexual mais complexa e criativa.

Winnicott aproxima o masculino ao instinto, ao fazer, e o feminino ao seio, ao ser, vivido na área de união entre sujeito e objeto, em que ambos são um só. O elemento masculino, para Winnicott, supõe separação e um processo de elaboração mais complexo e demorado do que o feminino, o que de certa forma coincide com as ideias que desenvolvo aqui, em torno das dificuldades do desenvolvimento da masculinidade.

As noções de harmonia entre mente e corpo, entre masculinidade e feminilidade de base, propostas por Ferrari, podem ser aproximadas às de Winnicott, de simetria e assimetria entre elementos masculinos e femininos intrapsíquicos, sendo que na assimetria pode haver uma dissociação entre o corpo, o aspecto biológico e os elementos psíquicos complementares e/ou opostos.

Mehra (Laufer, 1997, pp. 17-21) chama a atenção para o fato de que a dificuldade de integrar e controlar os impulsos sexuais e agressivos, no desenvolvimento de adolescentes do sexo masculino, pode ser muito intensificada não apenas por traumas vividos na infância, mas especialmente por eventos perturbadores vividos durante a própria adolescência, o que dificulta seu movimento em direção à maturidade.

Aleotti (2004), apoiando-se em diversos autores, destaca que a “dominação masculina” gera a “subserviência aos padrões culturais de virilidade: força, dureza, resistência, competência física, não apenas em mulheres, mas também em homens, criando assim terreno para vulnerabilidade e fragilidade” (pp. 41-42). A autora pensa o desenvolvimento do masculino como uma convicção construída na intersecção entre o corpo, o psiquismo e a cultura, salientando também as dificuldades envolvidas nesse processo.

Muskat (2006) denuncia a lógica vítima (feminino)/vilão (masculino), na abordagem de questões de violência familiar, propondo essa dinâmica como aprisionante, tanto para mulheres como para homens, submetidos a um referencial hegemônico de masculinidade (p. 162). A autora baseia-se em vários autores, e articula a fundação do psiquismo humano ao desejo do outro, ressaltando a impossibilidade de dissociação entre a constituição psíquica e a cultura (p. 165). Entende a violência, ditada pelas relações entre os sexos, como um resultado do desamparo “identitário”, na busca da manutenção de uma identidade masculina idealizada e hegemônica (p. 186).

Nesses termos, o feminino, que remete à possibilidade de gerar e criar, é transformado em falta e é vivido como um elemento altamente ameaçador, não podendo ser integrado como um aspecto necessário à identidade masculina: tanto o machismo como a homossexualidade podem ser pensados como defesas complementares e equivalentes, que negam a possibilidade de integração entre o masculino e o feminino em nível intrapsíquico, comprometendo muitas vezes a harmonia interna entre masculinidade/feminilidade e negando a incompletude e a dependência afetiva, próprias da condição humana.

Na sociedade contemporânea, o desenvolvimento profissional da mulher e sua retirada parcial das atividades domésticas tornaram mais confusa a discriminação entre os papéis masculino e feminino, materno e paterno. Nesse sentido, “não faz muita diferença” ser homem ou ser mulher, já que a ausência da castração simbólica nos facultaria a possibilidade de sermos bissexuais, como nas origens da ontogênese. Com essa confusão de identificações sexuais, surgem dificuldades na elaboração da identidade, bem como sistemas defensivos que, na verdade, têm como função negar essa situação confusional básica. Como acompanhar as transformações, permitindo a manutenção das invariâncias?

Observo que essa situação causa enorme dificuldade, especialmente nos jovens, que precisam completar a tarefa de escolher e construir a si próprios com responsabilidade e liberdade: como captar as invariâncias do masculino e do feminino, diante de tantas mudanças e alternativas?

Quem sou eu? Que homem sou eu? Que tipo de homem? Tais são as perguntas que se fazem os rapazes, angustiados diante da tarefa de se constituir como homem. Acredito que essas mudanças sociais e culturais na estrutura familiar atual, acrescidas da ausência paterna cada vez mais frequente, acarretem transtornos nas identificações femininas e masculinas e, consequentemente, na constituição da identidade sexual.

 

Flávio: um menino perdido em busca de si mesmo

Flávio, 17 anos, me procura para conversar, recém-saído de uma depressão, que me parece ter sido a forma com que ele conseguiu lidar com a perda da infância e da relação quase fusional que vivia com a mãe. Flávio era o caçula de cinco irmãos. Seus pais trabalhavam com importação de vinhos, juntamente com seus irmãos mais velhos.

Sentia-se muito angustiado diante do mundo adulto, desconhecido e vivido como hostil, e, sobretudo, era tomado por intensos conflitos identitários, em função de uma indiscriminação entre masculino e feminino e do surgimento de fantasias e experiências de caráter homossexual.

Desde pequeno, se identificara muito com as meninas e preferia a companhia delas, mantendo uma proximidade fusional com a mãe e a avó. Na puberdade, com o crescimento do corpo masculino, esse conflito se acentua e Flávio entra “em guerra com sua masculinidade”: surgem problemas digestivos e vômitos constantes. A mente observa, atônita, as transformações corporais.

Alternava períodos de isolamento depressivo e explosões de ódio contra si próprio e os pais, como forma de expressar sua impossibilidade de conter e transformar as angústias provenientes do corpo.

A crise gástrica tinha recebido do médico o diagnóstico de gastrite ulcerativa, que havia sido tratada com medicação e dieta, pouco antes de Flávio iniciar a análise.

Estaria ele tentando vomitar o masculino que surgia em seu corpo? Ou estaria ele buscando o masculino pelo avesso?

Tinha uma enorme dificuldade para aceitar a existência do tempo, geralmente chegava atrasado às sessões e tentava em vão manter a crença onipotente de que o tempo podia ser determinado por suas necessidades. No início, era muito difícil para ele falar das questões sexuais, mas aos poucos fomos abrindo esse espaço.

Expressava enorme desprezo pela figura do pai e pelo modelo “social” masculino: “Sabe o tipo homem que só quer saber de futebol e comer mulher, tipo cafajeste? Desde pequeno é muita pressão, se você não vai, você é logo tachado de bicha, viado...”. “Outro dia, eu estava conversando com duas amigas e elas chegaram à conclusão que, dos meninos da escola, a maioria era ou viria a ser gay no futuro. Sabe por quê? Porque são sensíveis, gostam de poesia, cinema, balé.”

Flávio manifestava uma profunda confusão entre masculino e feminino, imaginando que a discriminação só seria possível por meio de extremos.

Winnicott (1971/1975) reflete também sobre a questão dos extremos relacionados à sexualidade, afirmando que, entre a onipotência sedutora e a impotência, “reside toda a gama de potência relativa misturada com dependência de diversos tipos e graus” (p. 111). Nessa gama, encontra-se a bissexualidade e os arranjos sexuais possíveis, ainda impossíveis para Flávio.

Tinha também ele uma impossibilidade de se aproximar e se identificar com esse modelo masculino e, por oposição, se deslocava para o grupo gay. Em que lugar inserir os aspectos femininos autênticos de sua identidade? E os masculinos? Essa tarefa de integração lhe parecia impossível, prevalecendo a ansiedade confusional e uma profunda desarmonia entre mente e corpo. Sensibilidade e capacidade de se emocionar eram percebidas como atributos femininos. Sexualidade e habilidade corporal eram qualidades masculinas.

Enfim, se estabelecia uma categorização rígida e preconceituosa do que é ser homem ou mulher em que ele não conseguia encontrar espaço para si próprio!

O conflito edípico, em vez de ser elaborado, era negado como forma de evitar a triangularidade. Seu pai era percebido de forma pejorativa e muito distante dele, um diferente que não servia para uma aproximação, mas apenas para afastamento: “Você vê o meu pai, ele não é cafajeste, mas só gosta de moto e futebol. Ele nunca se emociona, só quando a gente briga. Eu gosto de coisas que o meu pai detesta: filme meloso, romântico, poesia, cantar embaixo do chuveiro”. O pai pré-edípico, o bom pai, amoroso e confiável, parecia estar literalmente perdido para Flávio.

A figura feminina, especialmente a mãe, era percebida como muito poderosa e ameaçadora, geradora de medo e submissão. Também aqui as semelhanças e diferenças tinham um sentido de distância, sem troca ou diálogo, e a aproximação trazia o perigo de feridas narcísicas e angústias de aniquilamento.

“Paquerar as meninas é mais arriscado, a gente tem que tomar a iniciativa, eu sou mais passivo, fico esperando, a gente não corre o risco de levar um pontapé. No mundo gay você pode esperar, e aí eu me sinto mais desejado, amado, conquistado. Eu sempre falho mais com mulher do que com homem, levo fora, me sinto rejeitado. Mulher adora ser paquerada e escamar, eu me sinto mal... Você vê a minha mãe, ela faz o que quer com meu pai, tudo o que ela quer ela consegue, ela fala e ele obedece. Eu não me conformo de ver o meu pai aceitar tudo dela, calar a boca, ele até parece meio bobo... Mas às vezes fica violento!”.

Aqui, Flávio revela novamente a confusão entre o masculino e o feminino, identificando o aspecto narcísico na mulher (ser desejada, conquistada); a espera, que seria uma atribuição feminina ligada à gestação, ele atribui ao mundo gay. Identifica na figura feminina a arrogância, a intolerância, o poder, de maneira que também não se identifica com os aspectos femininos. É como se Flávio vivesse num limbo, condenado a não ter sexo, nem vida, pois no limbo, segundo a bíblia cristã, vivem as crianças que não nasceram. Flávio estava tentando nascer psiquicamente, existir como sujeito, e esse processo era doloroso e perigoso. Isso nos sugere a necessidade premente de elaborar o luto pela perda da bissexualidade, ainda impensável naquele momento.

Diante desse quadro assustador: uma mãe superpoderosa e amada, e um pai machão e desprezado, quase não sobra para Flávio outra alternativa que não seja a “homossexualidade”; que se caracteriza, aqui, como uma saída defensiva (diante da angústia confusional) cheia de medo e culpa. Tanto o masculino como o feminino ficam dissociados e são colocados fora de seu espaço psíquico; a “homossexualidade” aparece como uma alternativa por exclusão, como num teste de múltipla escolha. Vale a pena lembrar com Breen (1998, p. 44) que a identificação feminina, como elemento constituinte da identidade masculina, é bem diferente de homossexualidade. Mas Flávio não sabia disso.

Quanta dor e sofrimento Flávio estava tentando evitar dessa maneira. Não apenas o trabalho psíquico de se confrontar com os objetos primários em termos de semelhanças e diferenças, identificando-se e desidentificando-se, mas sobretudo o trabalho de integrar essas identificações num todo mais consistente. Isso implica perdas profundas e convivência com o conflito e a dor mental, que ele expressa num sonho, um pouco depois:

“Eu estava viajando num dirigível, e fui descendo aos poucos em cima de uma cidade muito movimentada, cheia de avenidas e luzes. Estava escuro, era noite. Eu não sei bem, acho que estava sozinho, caí numa ilha no meio da avenida e lá fiquei desesperado, preso, porque não dava para atravessar para nenhum dos dois lados. As pessoas tentavam me ajudar, mas não conseguiam, uns caras tentaram vir me buscar de helicóptero, mas não deu para pousar, porque a ilha era muito estreita para ele... o tempo foi passando, e eu só me acalmei um pouco quando pensei: ‘só vai dar mesmo para atravessar quando o trânsito diminuir, quando for alta madrugada, perto do sol nascer’”.

A analista menciona a existência de trânsito fora e dentro dele, e o sofrimento vivido diante do conflito e da solidão. Irrompem angústias claustrofóbicas e a constelação edípica se paralisa. Surgem comportamentos homossexuais, que funcionam como experiências e pesquisas que ele necessita fazer.

Lembro, com Ferrari, que o fazer, na adolescência, pode ser um caminho para o conhecer-se. Ferrari (2000) supõe também que as atividades homossexuais masculinas possam se basear numa falta de experiência da própria masculinidade, procurando fazê-la emergir através da feminilidade de base, “deixar-se penetrar para aprender a penetrar” (p. 74), ou, ainda, que a masculinidade seja vivida como violentamente conflituosa em relação à figura paterna, constituindo a feminilidade de base um refúgio (p. 76). Flávio começa a se colocar em “situações- limite” em casa, na família, e na escola, procurando ser rotulado como homossexual, ao se expor publicamente e, dessa forma, ser flagrado e definir-se de “fora para dentro”. Refiro-me a essa atitude como “terrorista”, colocador de bombas. Flávio assusta-se, mas consegue conversar e perceber que ele queria “abafar” seu conflito dessa maneira.

F.: Eu acho que o C. (amigo) tem um conflito, se ele é homo ou heterossexual, mas eu, não. Estou decidido: sou homo.

A.: Será? Fiquei pensando em você nessa ilha (do sonho) da avenida, não sabendo pra que lado podia atravessar.

F.: (Silêncio grande.) É, isso é... tô com medo, eu preferia decidir agora, sou gay e pronto, do que ficar com essa dúvida, e depois descobrir que sou hetero e errei de caminho... eu não queria ficar em confusão, eu queria ter paz.

Nesse trecho, fica evidente a necessidade de Flávio fazer uma escolha apressada e estereotipada, aprisionar-se no grupo social (seja a família ou os amigos) “testemunhas” de sua homossexualidade “convicta”, para evitar as angústias decorrentes de uma investigação interna genuína. O sonho revela uma situação de bloqueio no percurso evolutivo da identidade. Poderia a análise trabalhar no sentido de um desbloqueio?

Nossa conversa continua, com Flávio retomando a referência à “terrorista”, que a analista lhe havia feito.

F.: É, você falou que eu estava jogando bombas!

A.: Acho que eu te assustei muito com essa fala das bombas, da sua violência, mas você conseguiu escutar e agora apareceu outra possibilidade, que é conversar.

F.: Ah! Eu não tinha ninguém para conversar nessa ilha do sonho!

A.: Naquele dia, eu tentei chegar de helicóptero, mas não consegui! Mas hoje deu para pousar, a gente está conversando...

Flávio dá risada e relaxa um pouco sua fisionomia. (Eu também me sinto mais confortável, percebo que estou em comunicação com ele nesse momento). Ficamos em silêncio por algum tempo.

Nesse momento, me lembro do Conto da ilha desconhecida, de Saramago (1998), que relata a história de um homem que queria procurar uma ilha desconhecida, pedindo ao rei uma embarcação para isso. O rei, embora diga que não existem mais ilhas desconhecidas naquela área, atende o pedido. Na hora de embarcar, o homem é procurado por uma mulher, que o convence a deixá-la ir junto para fazer a limpeza da embarcação. O homem reluta, acha desnecessário, mas acaba concordando. Depois de alguns dias navegando, os dois se aproximam, dormem e sonham juntos, e acordam abraçados. É uma alusão à ideia de homem-ilha, isolado, e sozinho, e à possibilidade de contato afetivo e comunicação entre os seres humanos, mais especificamente, entre homem e mulher. Penso que esse é um momento “mágico” de aproximação entre nós, e digo:

A.: Até parece que agora estamos numa outra ilha, diferente dessa do sonho.

Flávio estica as pernas (que estavam dobradas) e relaxa, fazendo um sinal de positivo com a cabeça.

Vemos como não se trata de revelar algo inconsciente, mas sobretudo de construir um “sonho”, por meio da função alfa (Bion, 1962/1991), que possa dar sentido a essa experiência emocional vivida pela dupla, e que parece colocar em movimento o processo de simbolização no que se refere à masculinidade e feminilidade de Flávio.

O clima transferencial era vivido por mim como ambivalente, nesse momento eu era um “outro” com quem Flávio podia conversar, dialogar e pensar; por outro lado, percebia a desconfiança e o medo que ele sentia de se submeter e ter sua “cabeça feita”; ao afirmar em seguida: “Minha amiga disse: cuidado com as psicólogas, que elas sempre querem convencer a gente da opinião delas!”.

O medo de ser penetrado e invadido pela analista e de ter sua “cabeça feita”, revela suas angústias em relação a um “masculino”, que ele imagina como poderoso e onipotente, contra o qual ele precisa lutar para poder existir. A possibilidade de uma conversa como essa permite aprender com a experiência emocional de complementaridade e integração entre os elementos masculinos e femininos da dupla. Não poderia ser esse o fundamento para uma vida amorosa suficientemente boa?

Associo esse momento ao trabalho de Paulo Sandler (1999), que situa a questão do masculino e feminino no âmbito da sessão analítica, sugerindo que a análise seja concebida como o exercício da masculinidade e feminilidade intra e interpsíquicas, em seu movimento na dupla analítica. Ele enfatiza a impossibilidade de separar masculino e feminino, material e psíquico, corpo e mente, dissociações comuns no cotidiano da nossa cultura, que a psicanálise procura reintegrar. Assim sendo, feminilidade e masculinidade podem ser consideradas como funções mentais, que se intercambiam intra e interpsiquicamente, na análise e na vida.

Aos poucos, a figura paterna vai adquirindo uma coloração mais próxima, amorosa e solidária, que se evidencia nos “passeios de bicicleta”. Flávio se surpreende com as qualidades de companheirismo e tolerância do pai, o que transforma o modelo masculino estereotipado num homem de verdade, sensível e amoroso. Isso pode organizar e colocar em movimento a constelação edípica. Ressignificá-la. Estava o elemento masculino (Winnicott, 1971/1975) podendo ser reintegrado? Estaria Flávio podendo suportar melhor sua masculinidade? Além disso, surgem as primeiras experiências sexuais com moças, e Flávio diz: “Será que eu não tenho mais medo de mulher?”.

Vemos que novas triangularidades se constituem, aumentando a liberdade e a possibilidade de movimento dentro da constelação edípica. Flávio continua angustiado, mas agora percebe isso claramente, sem precisar se paralisar. Suas experiências homossexuais persistem, porém com menos frequência.

Não sabemos que caminho tomará, mesmo porque há inúmeros aspectos desconhecidos e inconscientes nesse processo, o que nos sugere a inadequação da palavra escolha nesse contexto. Sabemos apenas que Flávio se conhece melhor, e que isso talvez possa ajudá-lo a tomar um caminho mais harmônico e consistente consigo próprio.

Surgem os filmes, como narrativas, que permitem uma transformação da experiência emocional, e uma ressignificação dos sonhos.

F.: Sabe o sonho da ilha no meio do trânsito? Eu pensei em fazer um filme com esse roteiro... eu nunca tinha pensado como sonho e cinema combinam tanto.

Se em Flávio a “homossexualidade” aparece como defesa diante das angústias identitárias, Adolfo parece esconder-se no papel de dom-juan para se proteger de sua fragilidade e desamparo

 

Adolfo: se acha, mas não se encontra2

Adolfo tem 21 anos e é filho único. Procura-me muito angustiado: “Eu tô com medo de não conseguir amar nenhuma mulher! Desse jeito eu não vou ser feliz nunca!”. Adolfo é um dom-juan inveterado. Cada moça por quem ele se apaixona e namora, imediatamente dá lugar a outra e mais outra, numa sucessão de conquistas, seduções, decepções e rompimentos. Nesses momentos, apresenta uma vivência de enorme sofrimento e esvaziamento. É fisioterapeuta e está se desenvolvendo bem profissionalmente, embora esperasse um sucesso rápido e “retumbante”, e isso lhe cause angústias e frustrações. Descreve com cuidado seu trabalho com os pacientes e os cursos e orientações que faz para melhor atendê-los.

Tem uma relação muito ambivalente com os pais. Admira muito a mãe; ao mesmo tempo, suas identificações com a figura feminina são muito conflitantes.

“Você sabe, mulher quer sempre explorar, tirar alguma coisa da gente.”

A mulher surge como uma fada, por quem ele se apaixona, e uma bruxa da qual ele se afasta. Há um vínculo apaixonado, idealizado, que em seguida dá lugar à persecutoriedade e ao rompimento. A dificuldade está em criar um vínculo amoroso que possa reconhecer a alteridade e integrar amor e ódio. Esse vínculo, no entanto, supõe dependência, falta, necessidade, desejo, incompletude: elementos que Adolfo não pode reconhecer, pois isso implicaria compromisso e responsabilidade, além de muito sofrimento psíquico.

Winnicott (1971/1975) sugere que o “homem com um elemento feminino expelido, tem que satisfazer muitas mulheres, mesmo que assim procedendo se aniquile a si mesmo” (p. 112).

Dessa forma, a constelação edípica surge de maneira muito instável: Adolfo se identifica ora com a mãe, ora com o pai, saltando de um lado para o outro e de uma mulher para outra indefinidamente, como uma condenação.

“Eu sempre penso que a minha namorada vai engravidar de propósito, sem eu saber, para me prender.”

A relação com o pai é também ambivalente. Adolfo diz que a mãe ajuda o pai na firma de engenharia que ele tem. No entanto, isso é vivido como um abuso.

“Acho que o meu pai odeia essa ajuda da minha mãe.” “Eu não quero ser homem igual ao meu pai: ele não é sacana, sem-vergonha, mas, sabe, homem é assim mesmo, quer comer todas, só pensa em trepar... Acho o meu pai muito bruto, mas eu gosto dele.”

Que sofrimento Adolfo vive ao passar a perceber a situação claustrofóbica em que se encontra! Na verdade, a “constelação edípica” é vivida em muitos momentos como bidimensional: duas estrelas amadas e odiadas &— o pai e a mãe; sem espaço psíquico para ele próprio, para sua configuração egoica e para uma identidade masculina coesa e integrada com seus aspectos masculinos e femininos.

Adolfo expressa muito medo de seus aspectos femininos, de suas identificações com a figura materna. Sempre que algo toca esse ponto, ele diz: “Você não vai me convencer que eu sou viado, né?”. A associação que Adolfo faz a essa cena, marcada pela castração, é a lembrança de uma brincadeira que costuma fazer com seu grupo de amigos.

“Todos escondem o pinto no meio das pernas e a gente fica pelado, se fazendo de mulherzinha.”

Isso revela a presença da angústia de castração, o temor da feminilidade e o uso da brincadeira como forma de afastar a angústia por meio do humor. O horror a fantasias homossexuais é tal que não lhe permite considerar e desenvolver os aspectos femininos, como a ternura e a capacidade de tolerância e de espera, elementos fundamentais para o sentimento amoroso genuíno e para uma identidade masculina madura.

Observa-se que Adolfo não possui ainda uma mente capaz de lidar com a pulsionalidade que emana do corpo, necessita dissociar os elementos masculinos dos femininos e exacerbar sua “masculinidade”, seu dom-juanismo, como forma de se proteger dos aspectos femininos e da dependência afetiva. Acredito que sua “carreira” como conquistador e sedutor decorra disso, especialmente de um narcisismo frágil, que ele procura compensar com “formas de amor” que recebe e “cobra” dos outros.

“Não sei mesmo porque, mas eu percebo que em vez de me preocupar comigo, eu sempre penso no que os outros vão pensar, eu sempre quero agradar.”

Aos poucos, vai ficando claro para nós, na dupla analítica, que o seu modelo de relação entre homem e mulher é o de manipulação, de mútua exploração e traição, que surge em diferentes situações: no pagamento, na reposição de sessões, no tempo da sessão, etc. Adolfo sempre procura usar seus recursos sedutores para conseguir o que quer, em detrimento do outro, no caso da analista. Quando eu mantenho os limites mais firmemente, ele se sente enganado, traído, e fica com muita raiva.

A história dessa dupla é feita de momentos idílicos e explosões intensas, com ameaças de rompimento, mas que têm sido superadas suficientemente bem. Ao final de uma sessão tensa, Adolfo relaxa e diz: “Essa sessão valeu pelos quinze dias sem sessão (férias da analista)”. “Vou te dar um abraço na saída”. Ao sair, diz: “Fica com Deus. Espero que ele te dê muitos abraços”. Parece reconhecer aqui seus sentimentos amorosos, e, ao mesmo tempo, os limites da exclusão edípica.

Esse clima de traição mútua traz sempre muito ciúme, em relação à namorada, e também à analista, expresso na necessidade de controlar qualquer mudança ou transformação no consultório.

“Que cheiro é esse? Quem você atendeu antes? Quem mexeu nesse cinzeiro?” Ao encontrar o cinzeiro quebrado, dispôs-se a levá-lo para casa para consertar. Depois, desiste, reconhecendo que precisava apagar as “pegadas alheias”, que encontrava na sala. Ou que a ruptura edípica era inevitável? Qualquer presença humana ativa o mecanismo de “traição mútua” e Adolfo se sente roubado, enganado, excluído. Se esses sentimentos não puderem ser elaborados, eles dão lugar à necessidade de causar esses sentimentos no outro, criando assim um círculo vicioso contínuo, que surge em seus relacionamentos amorosos. A vivência de ser enganado e traído atinge seus pontos narcisicamente frágeis, que são compensados com sedução e manipulação.

Com o tempo, Adolfo foi percebendo que podia se responsabilizar pela própria vida e pelas próprias escolhas, que ele podia combinar algo comigo que fosse “do jeito dele” e que não precisava fazer tudo “igualzinho” ao pai.

Ao surgir uma situação de impasse entre nós, Adolfo se enfurece.

“Então, nada feito, eu não venho mais!”

Que sofrimento vivemos para trabalhar o sentimento de ser recusado, rejeitado e a dificuldade de perceber minhas necessidades e limites! Ao final de uma dessas conversas, ele parece poder vislumbrar o outro.

“Eu nunca quis te passar a perna!”

Adolfo se assusta; em princípio, nega e, depois, reconhece algumas situações em que tentou me “enrolar” com reposições, número de sessões para pagar, pedidos de alongamento das sessões, etc.

“É, eu vou ter que escolher, não suporto quando você faz as coisas do seu jeito!”

Ao mesmo tempo, pode reconhecer a utilidade do trabalho de análise.

“É mesmo, o nosso trabalho está bom, eu não quero parar!”

Talvez, nesse momento sincero, em que os limites mútuos são expressos e uma conversa verdadeira pode surgir, o círculo vicioso de traições e enganações se rompa; pode haver uma elaboração dos conflitos entre amor e ódio, masculino e feminino, e uma aproximação de Adolfo consigo próprio, com sua vulnerabilidade, incompletude e medo da dependência afetiva.

“É, acho que é isso que eu queria. Poder gostar de uma mulher, sem ficar tão desconfiado de que ela vai me enganar, e daí eu engano ela, fico culpado, é uma merda essa roda-viva!”

Esses elementos buscam elaboração, por meio de sonhos traumáticos, nos quais Adolfo é invariavelmente traído pelas namoradas, pelos amigos, por mim.

“Sabe, eu sonhei que você tinha saído de férias, e ‘tudo bem’, eu fui embora, e fiquei sem as sessões. Como não fui viajar, um dia eu resolvi passar aqui para ver se estava ‘tudo bem’ e eu vi você entrando normalmente para trabalhar. Eu entrei atrás de você, porque eu tinha a chave, e comecei a pensar que você tinha mentido, que você não estava de férias, estava só sem me atender, você não queria mais me atender... os outros você atendia... Pensei que você não gostava mais de mim, e comecei a estragar o sofá da sala de espera com a chave do carro.”

Menciono o modelo da traição mútua que se repete em busca de elaboração e representabilidade, constituindo uma situação que parece ser aprisionante, sem saída: vivência de ter sido enganado e estar condenado a enganar, de ser traído e traidor ao mesmo tempo, os perigos envolvidos na dinâmica de amar e ser amado.

Esse círculo vicioso me fez lembrar Don Giovanni, de Mozart, na versão de Saramago. O que chama a atenção em Don Giovanni, não é sua capacidade de seduzir, mas sim sua vulnerabilidade às seduções femininas, que evidenciam seu desamparo, sua fragilidade, sua falta de amor-próprio. Nas palavras de Zerlina, podemos entrever esse aspecto:

Não vim para me rir de ti. Vim porque havias sido humilhado, vim porque estavas só, vim porque Don Giovanni se tinha tornado de repente num pobre homem a quem haviam roubado a vida, e em cujo coração não restaria senão a amargura de ter tido e não ter mais (Saramago, 2005, p. 85).

Assim sendo, a lista de conquistas, a masculinidade exacerbada de “comer todas”, pode ser pensada como uma busca desesperada por ser amado, por receber provas de amor que nunca são suficientes, porque a falta é incomensurável.

“Depois de ter duas mil e sessenta e cinco mulheres deitadas, quem seria capaz de se lembrar da primeira?” (Saramago, 2005, p. 27).

Que aconteceu? Que aconteceu? Para onde foram os nomes que aqui estavam escritos?. [As páginas estão brancas.] Algum resto deveria ter permanecido no papel, uma sombra, um vestígio, um nome que fosse, um simples nome... Laura, Beatriz, Heloísa, Julita, Helena, Margarida... (Saramago, 2005, p. 82).

Encontro respaldo também nas ideias de Stoller (1993), pois ele propõe que o desenvolvimento da masculinidade, diferentemente do que supunha Freud, não se faz de forma natural e sem dificuldades. Para ele, aproximando-se de Klein, o estágio inicial da masculinidade é a protofeminilidade, proporcionada pela simbiose mãe-bebê: “Essa fase de fusão deixará efeitos residuais que podem ser expressos como distúrbios da masculinidade (...) especialmente se essa fusão não puder ser interrompida pelo pai” (p. 35). Assim, a masculinidade precisa ser “encorajada”, para que o menino possa lutar contra seus próprios impulsos de se fundir com a mãe e ser como ela, o que Stoller chama de “ansiedade de simbiose”, que funciona como um escudo protetor.

Stoller chama a atenção para o fato de que o comportamento masculino é cheio de manobras defensivas que procuram negar o medo ao feminino, especialmente aos aspectos femininos intrapsíquicos (p. 143): “O primeiro regulamento da profissão de ser homem é: não seja uma mulher”. Stoller aponta também para a dificuldade de integração entre aspectos masculinos e femininos intrapsíquicos: “O mundo produz poucos homens que sejam, ao mesmo tempo, guerreiros selvagens e amantes amorosos (p. 252).

Baseado em estudos etnográficos anteriores, realizados em tribos de guerreiros da Nova Guiné (Zâmbia), Stoller traz muitas questões interessantes para pensar. Nessas tribos, os meninos precisam desenvolver uma masculinidade primordial, pois a única alternativa possível é transformar-se em um guerreiro fálico, já que a sobrevivência do grupo depende de guerras constantes com grupos inimigos.

Há, nessas sociedades, uma polaridade radical entre masculino e feminino, uma masculinidade “feroz”, e um desprezo pelas mulheres, que são consideradas perigosas, letais e esvaziadoras (Stoller p. 247). O sêmen é a matéria-prima da existência e da vitalidade, devendo, portanto, ser “economizado” e reservado apenas para aquilo que é fundamental: a procriação e o estímulo à masculinidade dos meninos da tribo. Por meio da iniciação secreta - práticas públicas de felação em ambientes masculinos -, os meninos ingerem o sêmen de adultos jovens, geralmente de tribos inimigas, e efetuam o sangramento nasal para se purificar das secreções femininas provenientes do corpo materno.

Sabemos que também entre os gregos as relações homossexuais eram uma prática bastante comum, que constituía um rito de passagem para a idade adulta, o que nos permite pensar em elementos invariantes na constituição da identidade sexual entre diferentes culturas.

O curioso está no fato de que, nesses povos, a conquista da masculinidade passa por experiências de caráter homossexual, o que, ao final do processo, reafirma a própria masculinidade, ao invés de enfraquecê-la.

Bleichmar (2006), ao estudar a questão da masculinidade, vai ao encontro desses achados antropológicos. Faz uma crítica aos conceitos psicanalíticos clássicos, repensando as noções de sexualidade e identidade sexual, afirmando que não podemos pensar numa evolução linear e simplista da masculinidade, nem que os fantasmas homossexuais sejam fruto da bissexualidade, pois se o inconsciente não comporta contradições, não se pode falar em homossexualidade inconsciente (p. 50). Ela realiza uma “reviravolta” conceitual e clínica semelhante à de Ferrari, com a proposta de compreender a constituição da identidade masculina supondo um desejo de masculinização por meio da incorporação do pênis paterno. Desse ponto de vista, uma experiência homossexual pode ser pensada como uma busca da masculinidade, podendo abrir caminho para uma heterossexualidade possível (p. 19). Assim sendo, a masculinidade é pensada como um ponto de chegada, como algo a ser conquistado na passagem de um pênis fálico para um pênis como objeto de completude e ligação.

Se considerarmos, do ponto de vista psicanalítico, essas experiências como representações mentais e não apenas como comportamentos, como tenho procurado fazer neste trabalho, podemos pensar no trajeto que Meltzer propõe do grupo homossexual em direção aos pares heterossexuais na adolescência, e na necessidade de integração intrapsíquica entre masculino e feminino, para uma identidade sexual madura (Meltzer & Harris, 1998).

Meltzer (1973/1979) lembra que a adolescência é caracterizada por profundos processos de divisão interna, e que o sentido de identidade requer diferenciação e integração, alcançadas pelo interjogo entre identificações introjetivas (com as imagos parentais) e projetivas (com o grupo). Por meio das parcerias heterossexuais, os adolescentes “fogem do Dilúvio” (p. 74) e lançam-se em busca do objeto ideal, que habita o ideal de ego, resultante das transformações sofridas pelo superego no jogo das identificações primárias e secundárias.

Esses processos de dissociação interna podem intensificar a angústia confusional (pp. 73-129), como vemos em Flávio, especialmente com relação às polaridades adulto/infantil, masculino/feminino, interno/externo, bom/mau. Os aspectos projetivos podem ser usados para sustentar uma pseudopotência, como forma de se defender da impotência infantil, da dependência, como vemos em Adolfo. Em ambos, a potência real ainda não pode ser alcançada.

A base de uma identidade sexual madura estaria, então, na identificação introjetiva com a dupla parental amorosa e criativa, o que proporcionaria uma bissexualidade integrada. Nesse caso, os aspectos projetivos seriam utilizados para comunicação com o parceiro, em lugar de servir à parte psicótica da personalidade, por meio do controle, domínio, etc. Em Adolfo, observamos que a dupla parental introjetada está em guerra, necessitando ser dissociada e projetada em outras mulheres, permanecendo indiscriminada e confusa para Flávio. Em ambos, podemos observar uma enorme dificuldade de viver o luto inerente à posição depressiva, à dor pela perda da infância, da bissexualidade, da onipotência.

Poderíamos aproximar os estados mentais masculino e feminino aos movimentos psíquicos de projeção e introjeção, tal como fez (Meltzer, 1973/1979) com a dupla contido/continente (Bion, 1962). Acredito, aqui, que cada termo da dupla se define através do outro, num movimento dialético: fora/dentro, penetrar/abrir, dar/receber, ter/oferecer. As transformações são possíveis graças ao movimento pendular e criativo da dupla, ou, como diz Bion, dependendo do vínculo: comensal, simbiótico ou parasitário (1962/1991, p. 126).

Diz Bion (1973): “O continente extrai tanto do contido, que o contido fica sem substância ... o continente espreme tudo para fora do contido, ou a pressão é exercida pelo contido de modo que o continente se desintegra” (p. 118). Penso que as relações entre masculino e feminino intrapsíquicos, entre emoções e pensamentos envolvem essas dinâmicas, que também se estendem, como sugere Bion, às relações institucionalizadas.

Como alcançar a comensalidade? Com que dança? Com que música, como sugere a epígrafe? Em Flávio, o continente não suporta a presença do contido e o expulsa (vomita sua masculinidade?); em Adolfo, o contido explode o continente, surgindo uma dinâmica persecutória de ataques mútuos (casal parental interno em relação sadomasoquista).

Breen (1993) nos adverte de que o estudo das questões ligadas à masculinidade e feminilidade implica tolerar a falta de foco (p. 46), ou, como dizia Bion, a visão binocular. Ela equipara o aspecto feminino intrapsíquico à representação inconsciente da falta (p. 46), o que, evidentemente, faz parte tanto da identidade masculina como da feminina, e instaura a possibilidade de transitar da onipotência para a potência. Supõe uma “fragilidade da identidade masculina” (p. 44), especialmente calcada no “medo à feminilidade”, sugerindo um recuo à bissexualidade psíquica como ferramenta de trabalho, propiciadora do equilíbrio psíquico de identificações, necessário para a integração sexual e psíquica (p. 42).

Em outro artigo, Breen (1996) diferencia a noção de phallus da noção de pênis como elemento de ligação, distinção que me parece útil e interessante e que se aproxima da visão de Bleichmar, embora ambas tenham pressupostos teóricos bastante diferentes. Para ela, o phallus pertence à “configuração mental que permite apenas uma distinção ‘tudo ou nada’, sendo esse o domínio da onipotência, completude e ausência de necessidade, e um distanciamento da triangularidade” (p. 105). O pênis como ligação seria uma

função simbólica, que tem caráter estruturante - ao mesmo tempo de separação e ligação -, que representa a relação entre os pais, sustentando o funcionamento mental edípico e bissexual, permitindo a triangularidade, o espaço mental e a capacidade de pensar (pp. 103-105).

Acredito que a masculinidade seja uma conquista que se torna mais difícil e, às vezes, impossível, quando temos por base uma “virilidade insegura” (Stoller, 1993, p. 38). Penso também que a “virilidade insegura” seja caracterizada por essa dinâmica de falta de integração entre o masculino e o feminino intrapsíquicos, tal como expressam os casos clínicos que apresentei aqui.

Tais reflexões, embora preliminares, me permitam dizer que Flávio e Adolfo expressam de formas radicalmente diferentes suas dificuldades no desenvolvimento da masculinidade. Por meio da “homossexualidade” e do “dom-juanismo”, Flávio e Adolfo expressam a dissociação entre masculino e feminino, construindo caricaturas de masculino e feminino, que precisariam ser “descontruídas”, para serem depois reconstruídas e ressignificadas, pois acredito que a masculinidade comporte uma integração criativa entre esses aspectos ao mesmo tempo complementares e ambivalentes.

Para terminar, associo a noção de pênis como ligação a uma ponte que pode ligar corpos, mentes, emoções e pensamentos. As pontes vencem vãos, atravessam rios, comunicam terras, países e cidades distantes. E penso: não estaria a fragilidade do masculino sediada exatamente ali onde a crença popular a acredita forte e poderosa, ou seja, na (psico)lógica do phallus?

Este lugar é uma maravilha/ Mas como é que faz pra sair da ilha?/ Pela ponte, pela ponte/ A ponte não é de concreto, não é de ferro/ Não é de cimento/ A ponte é até onde vai o meu pensamento/ A ponte não é para ir nem pra voltar/ A ponte é somente pra atravessar/ Caminhar sobre as águas desse momento/ A ponte nem tem que sair do lugar/ Aponte pra onde quiser/ A ponte é o abraço do braço do mar/ Com a mão da maré/ A ponte não é para ir nem pra voltar/ A ponte é somente pra atravessar/ Caminhar sobre as águas desse momento.

Lenine e Lula Queiroga

 

Referências

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Endereço para correspondência
Ana Maria Stucchi Vannucchi
R. Urussuí, 71/51
04542-050 São Paulo, SP
Fone: (11) 3071-2456
E-mail: anavannucchi@gmail.com

Recebido em: 24/06/2009
Aceito em: 15/12/2009

 

 

* Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Mestre em Psicologia Social pela USP. Docente do Instituto de Psicanálise da SBPSP. Coordenadora do Laboratório de Adolescentes, da Secretaria de Psicanálise de Crianças e Adolescentes e membro da Comissão de Ensino do Instituto de Psicanálise da SBPSP.
1 Decidi não utilizar o termo identidade de gênero, pois cheguei à conclusão de que ele privilegia aspectos culturais, e quero salientar especialmente os aspectos psíquicos, inconscientes e identificatórios.
2 Se acha! A expressão pode significar tanto encontrar, descobrir, como certo orgulho e presunção em relação a si próprio.

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