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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. v.42 n.77 São Paulo dez. 2009

 

REFLEXÕES SOBRE O TEMA

 

O pai e a constituição da masculinidade

 

The father and the constitution of masculinity

 

El padre y la constitución de la masculinidad

 

 

Teresa Rocha Leite Haudenschild*

Docente do Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
Membro de ligação do Comitê Mulheres e Psicanálise da International Psychoanalytical Association (IPA) junto à Federação Brasileira de Psicanálise (Febrapsi)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Neste trabalho, a autora utiliza flashes de sessões com crianças e adolescentes para tentar retraçar a constituição e evolução da masculinidade, desde a predominância dos níveis pré-genitais à dos níveis genitais. Sua perspectiva é bifocal: diacrônica, visando contextualizar o desenvolvimento da masculinidade; e sincrônica, focando as estruturas mentais e suas interligações em cada momento observado. Momentos-chave para a constituição da masculinidade são as “duas ondas da sexualidade”, mencionadas por Freud (1905/1972): na primeira infância e na puberdade, correspondentes à primeira e segunda individuação (Blos, 1979/1996), sendo o pai (interno e externo) a figura central na elaboração das tarefas inerentes a cada uma dessas cesuras (Bion, 1975/1977).

Palavras-chave: Masculinidade, Função do pai, Primeira e segunda individuação, Bissexualidade psíquica, Recalque suficientemente bom, Pai suficientemente bom, Menino latente, Menino púbere, Adolescente masculino.


ABSTRACT

The author tries to retrace the constitution and evolution of masculinity, through vignettes of sessions with children and adolescents, from the predominance of pre-genital up to genital psychical levels. Her perspective is bifocal: diachronic, in order to contextualize the development of masculinity, and, synchronic, focusing on mental structures, and their links in each moment observed. Key moments for the constitution of masculinity are the “two waves of sexuality” described by Freud (1905/1972): in the early infancy and in puberty, corresponding to the first and second individuation (Blos, 1979/1996). In these individuations the father (internal and external) is the central figure in the elaboration of the inherent tasks in each caesura (Bion, 1975/1977).

Keywords: Masculinity, Function of the father, First and second individuation, Psychical bisexuality, Good enough repression, Good enough father, Latent boy, Puber boy, Masculine adolescent.


RESUMEN

La autora intenta trazar la constitución y evolución de la masculinidad a partir de flashes de sesiones con niños y adolescentes de varias edades, desde el predominio de los niveles pre-genitales hasta el de los niveles genitales. Su perspectiva es bifocal: diacrónica y sincrónica. Diacrónica: con el objetivo de contextualizar el desarrollo de la masculinidad. Sincrónica: enfocando las estructuras mentales y sus inter-ligaciones en cada momento observado.“Las dos ondas de la sexualidad” mencionadas por Freud (1905/1972) son momentos clave para la constitución de la masculinidad: en la primera infancia y en la pubertad, correspondientes a la primera y segunda individuación (Blos, 1979/1996). El padre (interno y externo) es la figura central en la elaboración de las tareas inherentes a cada una de esas cesuras (Bion, 1975/1977).

Palabras clave: Masculinidad, Función del padre, Primera y segunda individuación, Bisexualidad psíquica, Represión suficientemente buena, Padre suficientemente bueno, Latente, Púbere, Adolescente masculino.


 

 

Introdução

How many roads must a man walk down,
Before you call him a man?

Bob Dylan

 

Não podendo tomar um caso único, como o fiz quanto à feminilidade (Haudenschild, 2003), por meio de flashes de observações e sessões com crianças e adolescentes de várias idades, tentarei retraçar a constituição e evolução da masculinidade a partir de níveis pré-genitais até os genitais.

Minha perspectiva é bifocal: diacrônica, visando contextualizar o desenvolvimento da masculinidade; e sincrônica: focando as estruturas mentais e suas interligações em cada momento observado.

Momentos-chave para a constituição da masculinidade são as “duas ondas da sexualidade”, mencionadas por Freud (1905/1972): na primeira infância e na puberdade, correspondentes à primeira e segunda individuação (Blos, 1979/1996), sendo o pai (interno e externo) a figura central na elaboração das tarefas inerentes a cada uma dessas cesuras (Bion, 1975/1977).

 

As expectativas parentais

A criança é marcada, mesmo antes do nascimento, pelas expectativas dos pais, inseridos numa determinada cultura e sociedade, valorizando o gênero masculino ou o feminino (Stoller, 1985/1993). Conscientes ou inconscientes, essas expectativas estão presentes na acolhida de um novo bebê, que chega com seus recursos biológicos e psíquicos inatos singulares. Cruzam-se, portanto, fatores constitucionais e ambientais explícitos (culturais e sociais) e implícitos (a partir das configurações psíquicas dos pais e de suas projeções inconscientes sobre a criança) na denominação de gênero.

Este primeiro tempo - no qual se marca o ‘que se é’ no núcleo mesmo do ego e se instalam os atributos que a cultura na qual será inserido o menino, considerados pertinentes para um ou outro sexo - coexiste com o polimorfismo perverso e é anterior ao reconhecimento da diferença anatômica (Bleichmar, 2007).

 

O olhar materno: o pai-na-mãe

Quando a mãe tem uma bissexualidade psíquica bem estruturada (Haudenschild, 2008b), com uma boa internalização de seu casal parental e de sua relação com cada um de seus pais, ela pode oferecer ao bebê um olhar que o acolhe em sua singularidade desde o nascimento.

Perelberg (2009) aponta, para uma maternagem saudável, “a relevância de ‘um recalque suficientemente bom’ das fantasias de assassinato e incesto presentes na mente da mãe” (p. 723).

Ogden (1991) diz que “a ausência de um pai objeto-interno firmemente instalado nas relações de objeto edípicas inconscientes da mãe, gera um vácuo emocional que rouba do menininho um ingrediente essencial para a elaboração psicológica e interpessoal do complexo de Édipo” (p. 42).

Diz ele que, “paradoxalmente, é através da relação com a mãe, uma fêmea, que o menininho adquire e atribui significados simbólicos a seu sentimento de si mesmo como macho em geral e para a representação psíquica de seu próprio pênis em particular” (p. 42) e, através do desenvolvimento dessa capacidade, torna-se habilitado sexualmente. O menininho encontra o terceiro fálico dentro da relação edípica transicional com a mãe, em que esta “é experimentada simultaneamente como o pai-na-mãe e a mãe-no-pai” (p. 42).

Tudo começa então numa simbiose saudável, em que a mãe, aceitando o diferente, pode ter um olhar valorizador para esse menininho que tem nos braços (Haudenschild, 2006, 2008b).

Na experiência de ser-um-com-a-mãe, em que esta é ainda um objeto-subjetivo, um objeto-eu (Winnicott, 1962), é que o bebê começa a experimentar e constituir o seu feminino, a sua capacidade de envolver, conter (Schneider, 2000). E, embora a apropriação do elemento masculino só se dê após essa primeira experiência de ser (Winnicott, 1966), nesta, o masculino já está presente, através da bissexualidade psíquica da mãe, no meu entender. Bion nos explicita isso através de sua teoria do continente-contido e do rêverie da mãe (Bion, 1962); este último, só podendo ser exercido se ela tiver amor pelo pai da criança. Para ele, a simbolização inicia-se aí, nas primeiras relações entre mãe-criança, quando os primeiros significados são apreendidos. Cabe à mãe receber o sofrimento e o mal-estar violentamente expulsados por seu bebê e lhes dar um sentido emocional, para que este os reintrojete de um modo tolerável. Essa capacidade materna de dar continência aos conteúdos expulsos por seu bebê e transformá-los, dando-lhes significado, é “um instrumento indispensável para que o infans utilize suas próprias pulsões tendo em vista a sua capacidade de simbolização e de comunicação interpessoal” (Guignard, 1988/2002, p. 137).

 

Vinheta clínica

Diego, oito meses, vem para a consulta com a mãe, que precisa retornar ao trabalho, após ter se dedicado exclusivamente ao filho desde seu nascimento.

Ela está muito ansiosa, pois está iniciando o desmame dele. Conta que tem uma empregada há anos e está pensando em transformá-la em babá.

Diego desde o início mostra-se muito receptivo aos nossos encontros. No primeiro, a mãe o mantém no colo, e ele me olha entusiasmado, como querendo participar do que conversamos; depois, vai se relaxando e adormece. Nos encontros seguintes, ele fica no chão, num edredom, com alguns brinquedos: às vezes traz algum para me mostrar algo, assim como os leva para a mãe.

Diego é um bebê feliz: quando a mãe uma vez o troca, em minha presença, saúda-a com uma urinada em chafariz, que diverte ambos. Diz ela que esse é um padrão que se repete desde que ele tinha dois meses.

A mãe conta que, estando com ele no colo, sonolento, embala-o e ele começa a cantar como ela fazia para adormecê-lo, surpreendendo-a muito.

A mãe de Diego mantém uma boa relação com o marido e com o pai dela, expressões de uma boa internalização da relação com os pais (como casal e, individualmente, com cada um) oferecendo ao bebê um psiquismo aberto para a constituição de sua masculinidade.

Diego, aos oito meses, parece já ter introjetado qualidades maternas, como o ambiente envolvente e acolhedor do canto que pode se proporcionar para adormecer. E parece estar muito feliz com seu pipi, saudando a mãe de um modo muito masculino.

 

O olhar da mãe para o pai

Quando o bebê-menino percebe que a mãe tem outro olhar, não maternal, para outro homem, ele descobre que há um outro tipo de investimento, de uma qualidade sexual diferente, para uma outra pessoa (Guignard, 1987a, 1987b).1

Dor (1989) diz que, para Lacan, o desejo da mãe pelo pai “faz referência à investidura do Pai simbólico, convocando a criança a assumir a castração”, que implica interdição, privação e frustração.2

Quando esse terceiro entra em cena destitui “sua majestade o bebê” de sua situação onipotente de todo-poderoso, de proprietário exclusivo de uma mãe todo-poderosa, que o protegeria absolutamente de qualquer frustração, satisfazendo sempre suas necessidades absolutamente.

Isso ocorre por volta dos três meses, quando o bebê já tem um funcionamento básico (Guignard, 1988/2002, p.137), que “pode ser descrito como um conjunto que compreende: a projeção e introjeção enquanto mecanismos psicofisiológicos provavelmente inatos, e a cisão e a identificação projetiva normal enquanto produtos das primeiras relações identificatórias pós-natais”.

É nesse instante que a decisão do bebê de suportar sua percepção da realidade de que não é o único pode se abrir ou não para instantes futuros, de desenvolvimento de sua psiquê. Esses instantes não são predeterminados, numa continuidade que adviria naturalmente com o tempo. São passos a serem dados, numa direção regressiva ou progressiva, pela criança, que conta com fatores constitucionais e ambientais pesando sobre sua escolha de enfrentar ou não a realidade, a cada instante.

É aí que se inicia o embate entre aceitar ou não que o outro existe, momento decisivo para os embates futuros, em torno do mesmo tema.

Klein situa aí nesse período pré-genital o início da elaboração edípica. Para ela, para o acesso ao nível genital, em vez de uma sequência linear, como em Freud, há uma interação de impulsos das várias zonas primárias (oral, anal, uretral, fálica), havendo um gradativo fortalecimento (ou não) dos impulsos genitais.

Psicanalista sensibilíssima, muito próxima de seus pequenos analisandos, ela vai se dando conta da concretude da linguagem deles (e do seu mundo interno), enraizada nos primitivos contatos corporais com a mãe e consigo próprios.

É assim que pode escutar os ataques sádicos que desferem em fantasia ao interior do corpo da mãe ao perceber que este não é propriedade deles, e que (por identificação projetiva) pode pertencer aos irmãos e ao pai (o qual, na fantasia deles, está dentro dela, como “figura combinada”).

Klein (1932/1981, pp. 317-318) vai dizer que

essas fantasias de posse do corpo da mãe formam a base das tentativas do menino de conquista do mundo externo e do domínio da angústia ao longo de linhas masculinas. Com referência [tanto] ao ato sexual quanto às sublimações, ele desloca suas situações de perigo ao mundo exterior, onde as supera através da onipotência do seu pênis.

Aqui, haveria predominância de um impulso fálico, mas este estaria em interação com impulsos orais, anais, uretrais, todos com a intenção de controlar, dominar, possuir.

Ao mesmo tempo em que tem que lidar com a percepção do objeto não-eu (seio separado da boca, mãe separada dele), o infans tem que lidar com suas pulsões. Freud situou a primeira onda da pulsão sexual genital em torno dos 2 anos (e a segunda na puberdade), o que hoje é confirmado pela neurologia, em nível físico (Volavka, 2002). Blos (1979/1996) diz que essas ondas correspondem, respectivamente, à primeira e segunda individuação.

Como pode a criança representar essa primeira onda pulsional?

 

Vinheta clínica

Diego tem agora 2 anos e meio e os pais me procuram contando que tem dado muito trabalho à noite, para dormir: eles não sabem o que fazer. A mãe diz que, quando vai acalmá-lo em seu quarto, é pior. Quando o pai vai atendê-lo, Diego lhe conta que tem medo do Fogo, um personagem de uma história em quadrinhos.

Pergunto a Diego:

T.: Você tem medo dele?

D.: Tenho.

T.: Quando?

D.: De noite. Quando a coruja3 faz barulho, ele vem. Ela susta e eu susto muito. Se ele entra, pode queimar tudo. A casa, meu cavalinho, tudo...

(Diz isso enquanto desenha para mim o Fogo: uma espiral vermelha que toma todo o papel, transbordando-o. Escolhe um lápis de cera forte e o manuseia firmemente, fazendo barulho.)

Penso que Diego representa através de seu desenho o incontrolável de suas pulsões genitais em direção à mãe (e ao casal). Esse fogo sem limites, que pode destruir tudo, inclusive ele como menino (“meu cavalinho”), seu espaço mental (“a casa”), pulsões coloridas ainda pelas pulsões primárias (voracidade, ataque, posse, etc.).

A coruja parece-me representar a “mãe estranha”, que assusta (Gadddini, 1976), que deseja o pai (o barulho que ela faz e ao qual ele responde), e quando esse “estranho” aparece, nele, no pai (Fogo), o menino teme que tudo (inclusive seu self) seja destruído, pois teme tanto a força de suas pulsões quanto a retaliação paterna.

Ogden (1991) diz que:

o perigo da entrada do menino no complexo de Édipo não está somente no fato de que a mãe e o pai edípicos sejam perigosamente externos (e, portanto, desconhecidos, imprevisíveis e incontroláveis). O que torna esta junção complexa, de uma maneira que é característica no menino, é o fato de que ele também precisa lutar para criar uma distância entre si próprio e a poderosa mãe pré-edípica, enquanto se apaixona pela mãe edípica (p. 41).

Acentua, ainda, que:

as versões mais primitivas da fantasia da cena primária, que constituem as fronteiras precoces da experiência edípica, estão dispostas de uma forma predominantemente esquizoparanoide. O menino é parte de um acontecimento agressivo/sexual que tem a qualidade de uma experiência sensorial intensa na qual ele está imerso (p. 41).

Acrescenta, por fim, que o trajeto entre a mãe pré-edípica onipotente e a mãe-objeto-externo-edípico é “em parte mediado pela força das fantasias da cena primária”, que “não são simplesmente uma combinação excitante dos pensamentos agressivos e sexuais sobre o coito parental; são mais exatamente organizadoras essenciais das relações de objeto internas e externas que irão constituir o complexo de Édipo maduro” (p. 41).

Penso que Diego se acalma com a presença do pai, pois este é antes de tudo um limite para a relação pré-edípica com a mãe. Esta não consegue acalmá-lo, enquanto o pai, não tão próximo, favorece a configuração de um espaço para pensar, conversar, constituir continência para seus conteúdos psíquicos (advindos da constatação de suas próprias pulsões e de fatos externos, entre esses, principalmente, a cena primária).

Esse espaço é ampliado na sessão de análise, em que Diego pode expressar claramente suas fantasias e vão estas ganhando significado, ampliando seus recursos para enfrentar novos conteúdos assustadores.

Ao poder configurar e comunicar suas fantasias precoces, Diego vai conseguindo organizar as bases de seu desenvolvimento em direção a um Édipo maduro.

Assim, representações da figura combinada, bem como da relação com cada um dos pais em separado, culminam com a representação do casal (na qual os pais são vistos como diferentes e individuados).

 

O olhar paterno

Se o menino conta com um pai efetivamente presente psiquicamente, conta com um fator importante para seu crescimento, desde que esse pai tenha uma bissexualidade psíquica bem estruturada, assim como a mãe.

Blos (1993/1998) acentua o valor da relação do menino com o pai, desde os níveis iniciais. Para ele, a elaboração da primitiva relação diádica com o pai, que continua até a adolescência, é básica para uma estruturação psíquica madura. Ele diz que o Ideal de ego é o herdeiro do complexo de Édipo negativo, referindo-se não ao Édipo tardio, triádico, mas à relação diádica com o pai, chamada por ele de isogenérica.

Green (1967), ao dizer que tal identificação primordial ao pai é anterior a todo conflito, sendo o pai tido “como referência projetiva de engrandecimento para o sujeito” (p. 905), a relaciona a um “princípio de parentalidade”, que após a resolução edípica será transferido ao Ideal de ego por meio da sublimação.

Stoloff (2007) salienta que “a função paterna desempenha um papel fundamental na constituição dos ideais, desde que dissociada de sua encarnação na figura masculina e idealizada do pai” (p. 124).

Bleichmar (2007) diz que nas “nas correntes ternas e eróticas dirigidas ao pai se revela, desde o início, a questão que liga o menino com a homossexualidade” (p. 31) e que nesse desejo homossexual deve “ser percebido o desejo de masculinização implícito - que paradoxalmente abre o caminho para uma heterossexualidade possível” (p. 19).

Entretanto, Ogden (1991) enfatiza que “o pai efetivo só é secundariamente o portador do phalus com o qual o menininho vai se identificar no processo de desenvolver um significado fálico para si próprio” (p. 42), contando de um paciente adulto que, depois de muito tempo de análise, disse que “havia algo triste no seu relacionamento com seu pai: não era o caso de não ter tido um pai, mas o caso era de não ter reconhecido que ele tinha esse pai” (p. 46). Embora o pai fosse presente e adequado, a mãe, com a figura internalizada de seu próprio pai idealizado, mantendo uma relação simbiótica com o filho, o impedira de apreciar e fazer uso de seu pai real.

 

O pai suficientemente bom e o menino latente

Schalin (1983) define o “pai suficientemente bom” como aquele que ama seu filho; é presente psíquica e fisicamente;4 é experienciado como capaz por seu filho e assim pode ser admirado por este. É um período em que a afirmação fálica se consolida, integrando-se cada vez mais à genitalidade.

O menino latente tem uma atração marcante por seu pai, podendo-se “dizer que o período de latência constitui um período homoerótico normal para os meninos” (p. 28).

 

Vinheta clínica

Fernando tem um pai afetivo e presente que se separa da mãe quando ele tem 5 anos. A mãe, chocada com a separação repentina, permite que ele e a irmã durmam em sua cama todas as noites.

Fernando, a princípio, aprecia as idas à casa que o pai instituiu com a nova companheira, onde há um quarto para ele e a irmã e onde dormem uma vez por semana. No dia seguinte a uma dessas noites, ele chega para a sessão, senta-se no divã e começa a chorar desconsoladamente:

Meu pai trocou eu pela L.! Ele nunca mais vai voltar para casa! Vai ficar morando com ela para sempre!.

O Édipo negativo aparece claramente: a figura central é o pai e a rivalidade dele é com a L., companheira do pai.

A situação regressiva que naquele momento a mãe propõe viver com os filhos, apegando-se a eles, faz com que Fernando ainda mais se volte para o pai que, felizmente, é muito presente: o leva para a escola todos os dias, acompanha-o em brincadeiras e jogos, leva-o para pescar e conversa muito com ele.

 

Os modelos sociais contemporâneos e o latente

João tem 7 anos e o pai o treina todos os dias num parque como um pequeno soldado. Como João é muito pequeno para sua idade, o pai diz que assim ele poderá ser mais forte para enfrentar a vida. Assim como é “treinado” fisicamente para ser um “machão”, João é muito valorizado pelas altas notas escolares, conseguidas por seu alto quociente intelectual. Os pais contam que ele consegue performar jogos de computador de nível muito mais alto dos que os para sua idade.

João atualmente conta com a companhia do pai, desempregado e estudante de pós-graduação de uma faculdade de ponta, sendo sua mãe uma alta executiva que o deixara em uma creche desde os quatro meses para retornar ao trabalho.

Os pais contam que as funcionárias da creche e depois do jardim de infância relatavam que João nunca reagia ao apanhar dos colegas, embora em casa contasse aos pais que sempre acabava vencendo nas brigas, inventando histórias. Contam também que ele tem muito amor pelo irmãozinho de 1 ano e seis meses, protegendo-o sempre.

Na análise, desde o início, João traz situações em que ataca sadicamente figuras femininas (corta os seios, fura a barriga) e masculinas (corta o pênis e os testículos), mas só após uma sessão em que diz que os bichos que atacam são o lado escuro, destruidor, assim como há bichos claros, que protegem, ele pode trazer a intensa destrutividade dirigida ao irmãozinho.

 

Vinheta clínica

J.: Este não é o Fábio (irmãozinho), é o Chilau, um bebê. (Pega a tesoura e começa a cortar o bebê.)

T.: Você não quer mais saber de bebês em casa.

J.: Só se for mulher, homem não!

T.: Está ouvindo, Chilau? Trate de não nascer na casa do João! Se aparecer lá, não sabe o que te espera...

J.: (Corta o pipi, o que é muito demorado, pois este é muito pequeno. Depois corta a cabeça e esvazia o corpinho de todo enchimento.)

T.: Isso é para esse bebê não chegar em casa e ir pegando tudo o que é seu: a mamãe, o papai...

J.: Agora não tem mais bebê. (Mostra-me a cabeça e o corpo esvaziados.) Pega um soldado de plástico que representa o pai quando treina com ele e o joga longe. Faz som de corneta militar, diz que é a música da “Tropa de elite” que pega bandidos, e enquanto canta vai buscar o pai debaixo do divã. (A letra salienta que essa tropa “é dura de roer”). Atira no pai e cai, mostrando como o pai caiu.

T.: Quando papai namora a mamãe e podem nascer bebês, ele vira bandido.

J.: (Pára, como que pensando.) Gosto muito de meu pai. Ele faz treinamento comigo todos os dias.

T.: Você gosta muito dele, mas também tem muita raiva quando ele namora a mamãe.

Digo-lhe que nossa hora terminou.

J.: (Pega o papai no chão e o coloca na caixa com cuidado.)

O amor pelo pai predomina, no meu entender, devido à introjeção dos cuidados de seu pai, reconhecidos por João.

Mas penso que a análise está sendo uma oportunidade para ele poder mostrar e elaborar o seu sadismo em relação à mãe e aos pais internalizados (a partir da reintrojeção de seus ataques a eles), ao casal e aos irmãozinhos (o presente e os futuros).

Ele não conta, como Fernando, no meu entender, com um pai que se disponibilize psiquicamente a ele, para escutar suas angústias. Embora admire seu pai e conte com ele para ajudá-lo na integração fálica à genitalidade, própria a essa idade, pois seu pai que lhe ensina a ser forte fisicamente e valoriza suas performances intelectuais, este permite que Fernando fique horas jogando no computador.

Florence Guignard (2008) diz que esses jogos, de uma lógica binária, contribuem na sociedade contemporânea, a par de outros fatores (como a excessiva presença da TV e a ausência de presença psíquica de pais e avós disponíveis), para a não formação de um recalque saudável, portanto, a falhas de estruturação psíquica.

Ao invés da constituição de uma simbolização própria, há a apropriação de imagens estereotipadas do virtual ou da TV. Ao invés de uma ação singular, resultante de uma decisão, há imitação e atuação.

 

O sentimento de si e o adolescente

O adolescente, desde a puberdade, assolado com a segunda onda do recrudescimento pulsional, vai ter que fazer o trabalho de luto do corpo e das relações infantis; o trabalho da representação de um novo corpo e de novas relações, não protegidas, assumindo riscos e responsabilidades.

Na puberdade, desloca a relação idealizada com as figuras parentais para o amigo íntimo inseparável, numa relação homomental, simétrica. Na adolescência nuclear, substitui o grupo familiar pela “turma”, à qual adere, às vezes cegamente, progredindo para a exogamia no final da adolescência, quando escolhe uma namorada e pode com ela fazer um casal.

Freud (1905/1972) coloca como tarefa básica da adolescência a subordinação da pré-genitalidade à genitalidade. Blos (1962/1985, 1979/1998), na mesma linha, acentua que o complexo de Édipo é repassado na adolescência, época da “segunda individuação”. Ele diz que o adolescente “revisita” as imagos antigas, desde as representativas das relações com o pai diádico, para consolidar seu Ideal de Ego de jovem adulto e fortalecer-se para as tarefas futuras.

 

Vinheta clínica púbere

Mário, 12 anos, sonha: Tinha ido ao zoológico com minha mãe e meu irmãozinho, e lá havia muitos bichos estranhos, desconhecidos. Voltamos para casa tranquilamente e, quando saí do carro e fiquei em pé na rampa da entrada, vi um enorme lobo atrás do carro, do meu lado, dentro de casa! Minha mãe ainda estava na direção, escutou os meus berros, deu uma ré e acho que matou o lobo: não sei - acordei morrendo de medo. Meu pai ficou comigo até eu dormir de novo (Haudenschild, 2007).

Assim como Diego representara sua primeira onda pulsional como “Fogo”, Mário representa a segunda como “Lobo”: um bicho perigoso, dentro de sua própria casa (mental). A mãe poderia até matá-lo, se desse marcha a ré: se mantivesse com ele uma relação em que sua sexualidade genital fosse negada, como se ele fosse um menininho assexuado. Também, como em relação a Diego, é o pai quem acalma seu medo quando acordado. Após ser cuidado pelo pai, ele pode voltar a dormir, a tomar contato com seu inconsciente - e até sonhar.

 

Adolescente nuclear

Pedro, 15 anos, diz: No ano 2000, diz que a memória dos computadores vai apagar. Será que os técnicos não têm um jeito de guardar alguma memória para prevenir? (Pausa.) Sexta-feira, eu vinha da escola zoando com a turma e vi um cara, não lembrei quem era. Lembrei agora: era o guardinha da sua rua! Me lembrei agora, quando o outro guardinha me abriu o portão. O outro foi embora ou está de folga? (Haudenschild, 2004).

O adolescente nuclear teme perder tudo o que adquiriu no contato com a turma, e que pode vigorar a atuação e, portanto, o não pensar. Carvajal (1996/1998) diz que mesmo com uma estrutura psíquica bem estabelecida e uma boa rede familiar, o adolescente, nesse período, corre o risco de desestruturação psíquica e aquisição de hábitos patológicos que o afastariam de um crescimento saudável.

Penso que Pedro, na vinheta acima, está falando de seu “guardinha” interno, recalque saudável, que teme perder ao estar “zoando com a turma”.

Chasseguet-Smirgel (1986/1988) diz que, na análise, o setting e a atitude do analista podem ser introjetados como barreira contra o incesto, tendo a função de interdição paterna.

Na sociedade contemporânea, como enfatiza Guignard (2008), a ausência de pais psiquicamente presentes na vida dos filhos na adolescência nuclear pode desviá-los de um crescimento para atuações comuns à nossa cultura (consumo, ideologias religiosas, drogas, etc.), em que “seguir o bando” é mais importante do que parar para pensar e tomar decisões singulares e adequadas para si. Além disso, como bem lembram Verduzco y Lamarque (2009): “esta sociedade pós-moderna, que se distingue tanto pelos avanços tecnológicos como pela perda de referentes e significados, liberou o indivíduo à onipotência do desejo e ao caos pulsional, aproximando do ato nossas fantasias inconscientes mais arcaicas”.

 

Final da adolescência

Blos (1993/1998) diz que no estágio final da adolescência é a ligação diádica autêntica com o pai amado e amoroso que garante a esperança de um firme porvir, em que é possível “compartilhar da grandeza do pai” (p. 65).

Criado pelos avós maternos, dos 2 aos 13 anos, e vivendo agora em outra cidade, com a mãe e o padrasto, Paulo, 17 anos, diz:

Estou namorando menos e sonhando mais (...). Para mim, sonhar é como se abrisse uma esperança. Hoje eu sonhei que estava indo para Floresta.5 Tinha comprado uma moto e ia me casar: eu tinha feito uma casa para mim na fazenda do meu avô.

Ele sonha formar um casal e ter uma casa, para isso conta com um terreno mental firme: a relação diádica com o avô (pai) que o criara desde pequeno (Haudenschild, 2002).

Pachet (2008) diz que o “o pai que conhecemos ou que havíamos conhecido, assume uma função na qual se unem a herança do passado e o enigma do futuro” (p. 25), passando sua marca aos filhos que virão.

 

Palavras finais

Nos propusemos, como quanto à evolução da feminilidade (Haudenschild, 2003), a trazer momentos da evolução da masculinidade desde o nascimento até a adolescência.

Ao rever o material clínico apresentado, notei que foquei momentos-dobradiça (Ferro, 2006) da evolução do masculino: momentos em que há uma cesura (Bion, 1975/1977), como que um abismo e a necessidade de se construir uma ponte em direção a uma outra etapa evolutiva, portanto, momentos de mudança catastrófica (Bion, 1965/1994, 1970/1973), momentos de intensa elaboração psíquica, em que a análise e a presença do analista seriam muito propícios.

Daí a importância de uma bissexualidade psíquica bem estruturada do analista (Haudenschild, 2008b), de um casal interno saudável, a partir do qual o analisando possa se sentir razoavelmente cuidado, para prosseguir nesse processo des-contínuo que é a vida, com passos e decisões a serem dados a cada instante (Bachelard, 1932), singulares.

Passos regressivos ou progressivos: em direção à crescimento psíquico, ou à reversão deste; seguindo mecanicamente hábitos culturais ou pensando-os vivamente. Passos que irão delineando o perfil de cada personalidade, a cada decisão tomada, num processo que se encaminha em direção à nossa finitude, como seres mortais que, por definição, somos.

Este trabalho é um convite a pensar no quanto um homem precisa caminhar para poder assim ser chamado...

 

Referências

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Endereço para correspondência
Teresa Rocha Leite Haudenschild
R. Tomé de Souza, 1.029
05079-200 São Paulo, SP
Fone: (11) 3834-9428
E-mail: haudenschild@sti.com.br

Recebido em: 06/10/2009
Aceito em: 04/11/2009

 

 

* Membro efetivo e Analista didata. Analista de crianças e adolescentes. Docente do Instituto da SBPSP e membro de ligação do Comitê Mulheres e Psicanálise da IPA junto à Febrapsi.
1 Guignard (cf. Klein) chama de “feminino primário” esse período em que a criança se dá conta da sexualidade feminina da mãe, dando-se conta da sua própria sexualidade genital. O período anterior seria o “materno primário”.
2 A criança descobre que a mãe é dependente do desejo do pai, que o desejo de cada um é sempre submetido à lei do desejo do outro ... . Lacan nos mostra como a criança vai, a partir daí, se constituir mediante essa operação inaugural a que ele chama de metáfora paterna, e, seu mecanismo correlativo, o recalque originário ... . Só este recalque originário é suscetível de provar que a criança renunciou ao objeto inaugural de seu desejo. E ela só pode renunciar a ele na medida em que aquilo que o significa tornou-se inconsciente para ela (Dor, 1989, pp. 50-51).
3 Diego mora numa chácara desde o nascimento, e tem contato com muitos animais.
4 Essa é a época do homo faber, segundo Schalin (1983), em que o menino gosta de fazer coisas com seu pai e este precisa estar disponível.
5 Cidade onde vivem os avós maternos.

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