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Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.42 no.77 São Paulo Dec. 2009

 

TRADUÇÕES

 

Cenários masculinos vulneráveis1

 

Vulnerable masculine scenarios

 

Escenarios masculinos vulnerables

 

 

Alcira Mariam Alizade*

Membro titular com função didática da Asociación Psicoanalítica Argentina

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho enfatiza os cenários vulneráveis na vida dos homens. Explora as desvantagens de gênero, a dependência, a submissão masculina e a dor de ser homem. Considera o pré-édipo nos homens e a inveja primária ao ventre gestante, o desejo de ser mulher e o temor à mulher. Ao examinar a inveja do pênis nos homens, o trabalho pormenoriza a complexidade da masculinidade. Descreve o espaço psíquico entre-homens e as defesas dos homens em suas relações amorosas, tais como a hipermasculinidade, o amor superficial (amores fóbicos e histéricos) e o papel que desempenha a aquisição e o cultivo de emblemas de poder.

Palavras-chave: Vulnerabilidade masculina, Espaço entre-homens, Inveja do pênis no homem, Desejo de ser mulher.


ABSTRACT

This paper points out some vulnerable scenarios in men’s life. It explores gender disadvantages, dependence, masculine submission and painful aspects of manhood. The paper considers the pre-oedipus and the primal womb envy in men. It also describes their wish of being a woman and their fear of women. When examining penis’ envy in men, the paper goes deep into the complexities of masculinity. It describes the psychic space between men and men’s defense mechanisms in thier erotic relationships, such as hipermasculinity, superficial love (phobic and hysterical love) and the roles played bythe acquisition and cultivation of power emblems..

Keywords: Masculine Vulnerability, Between-men psychic space, Peni´s envy in men, The wish of being a woman.


RESUMEN

Este trabajo destaca escenarios vulnerables en la vida de los hombres. Explora las desventajas de género, la dependencia, la sumisión masculina y el dolor de ser hombre. Considera el preedipo en los hombres y la envidia primaria al vientre gestante, el deseo de ser mujer y el temor a la mujer. Al examinar la envidia al pene en los hombres, el trabajo se adentra en la complejidad de la masculinidad. Describe el espacio psíquico entre-hombres y las defensas de los hombres en sus relaciones amorosas, tales como la hipermasculinidad, el amor superficial (amores fóbicos e histéricos) y el rol que juega la adquisición y el cultivo de emblemas de poder.

Palabras clave: Vulnerabilidad masculina, Espacio entre-hombres, Envidia al pene en el hombre, El deseo de ser mujer.


 

 

Este texto descreve alguns cenários vulneráveis na vida dos homens, especialmente em suas vinculações amorosas. Os homens são aqui pensados à luz de debilidades e carências, por força das hegemonias sociais patriarcais. O trabalho explora as desvantagens do gênero, as situações de dependência e de submissão masculina e a dor de ser homem. A observação da fragilidade dos homens requer uma visão que se distancie do estereótipo cultural do homem enquanto pessoa forte e dominadora.

Os estudos de gênero e os estudos que possibilitaram a reflexão referente à identidade de gênero e ressaltaram sua complexidade - a bissexualidade psíquica, a desconstrução da identidade humana em facetas mistas de homem-mulher, a assexualidade, as transexualidades transitórias e outras raridades e identidades parciais - configuram quadros psíquicos que escapam ao binarismo e à simplicidade.

Mesmo assim, as formas biológicas e naturais de base se reduzem a duas: homem e mulher - ainda quando sobre elas se instalem ficções de índoles diversas e coações culturais.

Ser homem não é uma questão tão natural como usualmente se supõe. Assinala Badinter (1992/1993) que para chegar a ser homem é necessário empreender toda uma tarefa. “A virilidade não é algo concedido, deve ser construída, fabricada” (p.17).

Anos atrás escrevemos (Alizade & Dupetit, 1997):

Não temos dúvidas: o heróico roteiro dos homens tem mudado. A transformação cultural, as reivindicações femininas produziram modificações no estereótipo masculino. A sociedade pós-industrial transformou o penetrante herói conquistador num homem- máquina ... houve uma certa quebra identificatória da figura masculina (p. 1).

Outrora, ser verdadeiramente homem não admitia fraquezas. O domínio sobre a natureza estendia-se, como que por tabela, ao domínio sobre as mulheres (Alizade, 1998).

A exigência, no despontar da humanidade, da intrépida hombridade, colocou em marcha o exercício da ferocidade. É provável que alguns resquícios não superados formem parte das raízes do comumente denominado “machismo” e ajudem a explicar a violência de muitos homens para com as mulheres (violência de gênero). O que em outros tempos fora um requisito de sobrevivência - o homem provedor do sustento e, em consequência, aguerrido e valente -, perdeu a vigência num mundo recheado de diversidades no que diz respeito às formas de ganhar a vida.

Nomearei alguns elementos que podem ser potenciais fontes de conflito na mente dos homens e que são objetos de nosso trabalho analítico: a recusa da feminilidade (rocha viva do homem (Alizade, 1994; Freud, 1937/1968); o temor à imagem da mãe fálica devoradora; a desconfiança à falsa submissão de algumas mulheres; o perigo à contaminação da suposta vulnerabilidade das mulheres; o temor à hipercompensação viril; os aspectos masoquistas; o refúgio em atributos de poder.

Os cenários que apresento neste trabalho são, antes de mais nada, cenários neuróticos ou caracteropáticos. Estão baseados na consideração das invejas pré-edípicas e edípicas das crianças e suas consequências psíquicas patogênicas na idade adulta nos casos em que não puderam ser elaboradas de forma saudável.

Não posso deixar de mencionar cenários comuns a todos os seres humanos, construídos na trama das fantasias originárias: a sedução (na sua vertente histérica), a castração e, em primeira medida, a fantasia da exclusão da cena primária.

Essas imagos arcaicas, reeditadas em vivências infantis, deixam vulnerável o psiquismo através de sofrimentos recalcados que são ressignificados em etapas posteriores da vida. Por outro lado, seguindo os desenvolvimentos de Erikson (1982/1997) e de Stern (1985/1989), a psicanálise explora a produção de mudança psíquica e de traumatismos em qualquer idade da vida e não unicamente mediante a ressignificação das experiências da primeira infância. Tal perspectiva enriquece e expande a clínica.

 

O pré-edípico nos homens e a inveja primária ao ventre gestante

O pré-edípico do menino se organiza ao redor de experiências de íntimo contato com os seres primários, em especial, a mãe ou substituto materno. Manifesta-se através das identificações com a figura materna e a fantasia de ter um filho no ventre (Aberastury, 1959/1984, p. 89). Esta fantasia mimética com a maternidade é fonte de inveja e de frustração quando o pequeno toma consciência de que sua condição de menino o impedirá de gestar. A inveja ao ventre fértil da mulher explica parte dos conflitos de rivalidade entre os sexos. Lax (1997) enfatiza que existem poucos trabalhos sobre a inveja dos meninos ao ventre gestante e atribui essa carência a uma resistência comum a muitos analistas. Tal resistência interfere com o reconhecimento da inveja ao ventre (Lax,1997, pp.118-119). Mais adiante, no mesmo texto, dirá Lax:

o menino é ajudado na repressão de seus anseios e desejos femininos pelos estereótipos da masculinidade reforçados pela sociedade e pela influência patriarcal geral. Tanto a estimulada separação da órbita maternal como a socialmente aceita desvalorização das mulheres contribuem para que o menino se afaste, desvalorize e reprima seus desejos de possuir atributos femininos (pp. 134-135).2

Ross (2003, p.112) assinala também o papel desempenhado pela inveja ao ventre fértil e a inveja de dar à luz um bebê nos homens, pontuando o fato de não ser absolutamente uma ideia nova: ao contrário, repetidamente enunciada nos escritos psicanalíticos e posteriormente esquecida.

A inveja da mãe fértil tem raízes no desamparo primário e no superpoder atribuído à figura materna. Essas emoções se expressam de diferentes maneiras nas diversas etapas evolutivas. A inveja ao ventre fértil forma, assim mesmo, parte da constelação de carências e incompletudes que o incipiente ser humano deve enfrentar em seu percurso vital. Ao construírem sua identidade generativa (Raphael-Leff, 2001), o menino e a menina que previamente se imaginavam completos, sob os efeitos do narcisismo, devem se confrontar com restrições: somente um sexo, só uma maneira de participar da gestação. Tais restrições afrontam o sentimento de onipotência e provocam ciúmes dos adultos (inveja ao adulto), inveja ao pênis e ao ventre fértil. A resolução desses conflitos permite que o menino desenvolva suas próprias potencialidades, incorpore as riquezas psíquicas da bissexualidade e do gênero e, através da criatividade e sublimação, ascenda a novas e saudáveis organizações mentais.

A figura do homem-pai é fundamental no desenvolvimento incipiente do menino. O futuro menino masculino estabelece uma primitiva identidade genital (Aberastury, 1959/1984, p. 88) homologável ao conceito de identidade nuclear de gênero estabelecido anos mais tarde (Stoller, citado por Bleichmar, 1984, pp. 39-42).

No menino, coexistem as identificações com o pai em seu caminho na construção de sua masculinidade e a desidentificação (Greenson, 1968) com a mãe. Na primitiva terra dos homens, o corpo a corpo com o pai ou substitutos, e sua presença transmissora repercutem na formação psíquica do novo ser. O imprinting vincular numa espécie de “homossexualidade trófica”, espaço “entre-homens” outorga ao menino a possibilidade de incorporar, introjetar e se identificar com a masculinidade do pai. Retornarei a este ponto mais adiante, no espaço dedicado à problemática homossexual.

As complexas feridas pré-edípicas do menino, ressignificadas em etapas ulteriores da existência, assim como experiências juvenis desestabilizadoras, dão conta de interações patogênicas nos vínculos amorosos.

 

O homem, seu desejo de ser mulher e seu temor às mulheres

Como bem destaca Horney (1932/1968, pp. 133-134), todo homem sentiu quando pequeno o desejo de ser mulher e sentiu-se ferido no seu narcisismo. Esse sofrimento narcisista posteriormente é compensado pela retirada da libido dos objetos externos e da sobrecarga libidinal dos genitais. Escreve Horney (p.132): “Segundo minha experiência, o temor a ser rejeitado e ridicularizado é um ingrediente típico na análise de todo homem, não importando qual seja sua mentalidade e a estrutura de sua neurose”. Encontramo-nos ante à vulnerabilidade masculina, em geral oculta sob o olhar ideológico, focalizada em direção à hegemonia patriarcal. Na clínica analítica, observa-se com frequência a timidez do homem escondida sob uma fachada de autossuficiência e poder.

O desejo de ser mulher por parte dos homens é mais frequente que o desejo de ser homem por parte das mulheres. Isso explica a superioridade numérica de transexuais e travestis homens que buscam criar corpo de mulher em seus próprios corpos.

Uma imagem paradoxal emerge quando se consideram os cenários psíquicos de alguns homens com respeito às mulheres: por um lado, temor e idealização diante do poder da imago da mãe fálica; por outro, temor à possível potencialidade feminilizante e enfraquecimento no contato com o sexo feminino. Nas mulheres, projetam-se, alternativamente, imagens de domínio e de força, e imagens de desvalimento e de debilidade.

Caplansky (2003) cita a seguinte frase de um paciente, a respeito desta temática: “Miguel diz numa sessão: ‘Se uma mulher que desperta meu interesse me dissesse que sou terno, ficaria muito preocupado’, aludindo, numa clara ‘exigência machista’ ao temor de castração fálica: não ter uma ereção ou possibilidade de ‘penetrar’” (p. 57).

A recusa da feminilidade, ao alcançar graus excessivos, dificulta o bom exercício da paternidade. A respeito disso, lucidamente, Nasio (1990/1991, pp. 33-34) escreve: “Acredito, com efeito, que o homem que com dor reconhece sua parte feminina tem mais possibilidades de assumir a difícil função de pai que aquele que não reconhece sua feminilidade”.

Mais adiante, brinda-nos ele com esta bela e profunda frase: “O homem que aceita sua parte feminina, contrariamente ao neurótico, pôde ultrapassar a prova da angústia, sendo assim possível compreender que, seja qual for o resultado dessa travessia, terá sempre lugar uma perda inevitável” (p.34).

O temor à carne feminina, à perigosa fenda vaginal, frequentemente acarreta transtornos na potência sexual com a consequente infelicidade. A fantasia da vagina dentada o (ou) da vulva como amostra de flagrante castração temível, assusta alguns homens no encontro sexual com as mulheres. Neste ponto, deveríamos desenvolver a diferença entre ansiedade de castração e ansiedade de finitude. Como expressara (Alizade, 2007, p. 3):

Castração está inscrita no nível de corpo da sexuação, finitude no nível do corpo da existência. A finitude constitui um ego corporal assexuado, um ego-corpo massa, cuja assexualidade expressa sua condição de totalidade mortal, de certo modo estrangeira para o psiquismo.

Outro elemento produtor de temores às mulheres é de origem cultural: reside no temor inconsciente à retaliação pela submissão milenar a que as mulheres estiveram expostas pelos poderes hegemônicos patriarcais e a potencial desforra ou vingança que puderem exercer contra o sexo dominante.

 

A inveja do pênis nos homens

A temática da inveja do pênis merece ser repensada no âmago de sua complexidade. Quando se menciona a inveja do pênis na vida psíquica das mulheres, a representação imaginária é a de um pênis potente, ereto, grande (inclusive) e doador de prazer sexual.

Enquanto primeiro elemento diferenciador dos sexos, o pênis encarna a presença do falo. O falo, por sua vez, representa um valor narcisista máximo. O investimento narcísico do pênis e seu advento psicocultural à categoria de falo transferem o objeto parcial do genital ao ser inteiro dos homens e os apresentam, comparativamente, num lugar de maior importância e idealização do que o das mulheres, cujos genitais seriam portadores imaginários de uma carência.

A primeira diferença “pênis/não-pênis” situa os humanos em duas categorias iniciais, homem-mulher, que serão assumidas e ressignificadas em movimentos complexos dependentes de múltiplas circunstâncias hereditárias, congênitas e, ambientais.

Nos homens, a carga narcisista do pênis é objeto tanto de orgulho viril como de angústia ante a exigência de cumprir com os requisitos funcionais de máximo rendimento. O temor ao fracasso da função sexual, aos tropeços, à emergência súbita de inibições imperdoáveis, o sentimento de vergonha ao sentir que possui um pênis “feio”, configuram afetos e representações que derrotam a ideia de pênis como perpétuo grande bem. Pelo contrário, em múltiplas ocasiões, ter pênis constitui um simulacro de órgão invejável quando, nas intimidades psíquicas, um homem sofre com seu pênis e se lamenta de seu pobre desempenho erótico.

Algumas oposições são: pênis ereto versus pênis flácido; pênis grande versus pênis pequeno; pênis potente versus pênis impotente, e pênis infantil versus pênis adulto.

A inveja do pênis, tão célebre em relação ao psiquismo das mulheres, somente está vinculada com um pênis que cumpra com os atributos de máxima valorização em sua aparência e em sua função de falo. Nesse ponto, não devemos descuidar do elemento que desempenha a infertilidade masculina como fonte de profunda inveja aos genitais férteis de outros homens.

Em suas considerações sobre a sexualidade masculina, Person salienta a função dessa inveja na psicopatologia do homem. Escreve (Person, 2000/2007, p. 179):

O temor ao pai e a ameaça de ser castrado por este não são os únicos fatores que levam o menino a renunciar à sua mãe. Em parte, o menino retira seu investimento libidinal da mãe, porque sente que não tem a dotação genital indispensável para competir com o pai. Percebe que, como tem o pênis demasiadamente pequeno, sua mãe o rejeita e prefere o pai. Muitos homens jamais recobram certo sentimento literal de inferioridade genital e, por conseguinte, estão destinados a padecer durante a vida toda, de inveja do pênis. De fato, o menino sofre da inveja do pênis com maior frequência do que a menina.

Assinalo esta última linha para destacar que, em psicanálise, ainda carecemos da ênfase clínica suficiente nestes íntimos sentimentos de masculinidade. O excesso de teoria sobre a inveja nas mulheres ocasionou uma opacidade e escondeu tal importante aspecto da psicologia masculina. Uma vez mais se observa como os condicionamentos de época e o entorno sociocultural influenciam e desviam o rigor e o peso das comunicações científicas.

 

A problemática homossexual (espaço entre-homens)

Para Freud, resolver no homem o Édipo negativo (amor e desejo pelo pai) é uma fundamental conquista na cura da neurose. A boa penetração psíquica paterna é condição necessária para a instalação de um superego habilitado tanto por proibições como por saudáveis permissões. Ter um bom pai implica ter uma identificação psicocorporal masculina valorizada, que lhe permita uma fértil exogamia. Essa noção de pai interior implica que, unicamente mediante uma homossexualização trófica - termo inventado -, o homem encontra no outro homem a transmissão transgeracional indispensável à sua estruturação masculina.

A problemática homossexual, escreve Bleichmar (2006), inscreve um paradoxo no psiquismo dos meninos: a identificação ao pai e ao superego portador da lei não se contradiz com a fantasia inconsciente ou consciente da incorporação do pênis paterno em nível carnal. Prevalece nesta observação o caráter estruturante de uma parte corporal narcisista privilegiada no universo psíquico dos homens. As contribuições antropológicas (Gilmore 1990/1994; Badinter, 1992/1993) prenunciaram esta assertiva, mediante a observação de práticas tribais nas quais a realidade da introjeção do pênis é um passo prévio à assunção da masculinidade positiva.

A “pedagogia homossexual”, como a denomina Badinter (1992/1993, p. 134 e segs.), se ocupa de transmitir o saber sobre a virilidade de homem para homem. A sucção oral do pênis constitui uma atividade ritual obrigatória mediante a qual o futuro homem incorpora junto com o sêmen as propriedades viris. Essa homossexualidade carnal dos povos primitivos desloca-se, nos povos civilizados, em ritos sublimados de contato psíquico pai-filho, ou em intercâmbios entre-homens de uma mesma geração. A deficiente homossexualidade sublimada manifesta-se em temores e prejulgamentos extremos contra a homossexualidade. Nessas circunstâncias, o homem pode temer o contato anal durante o coito, ou mostrar um superego excessivamente severo sob o qual subjaz o temor a um pai vivenciado como autoritário e pouco amoroso.

Os prazeres e ansiedades homossexuais acompanham-se de fantasias que outorgam a medida da virilidade ou feminilidade da relação carnal homossexual: um homem homossexual de aspecto viril deprecia um homossexual de aparência afeminada; um homem heterossexual penetrará, numa festa sexual, em uma ‘bicha’, em divertida manifestação de suas lúdicas qualidades másculas. Homossexual é o homem que, sendo penetrado, somente brinca com seu pênis potente ao exercer uma penetração com um homem homossexual. O cenário homossexual positivo instala uma virilidade sem maiores conflitos. Na representação do pênis se ativam e incorporam propriedades psíquicas de gênero masculino. O mesmo não acontece quando predomina o falicismo, que orienta o sujeito em direção à expressão de sentimentos de prepotência e de violência machista.

 

O erotismo: impotência psíquica e disfunções sexuais

Neste capítulo, me referirei ao erotismo enquanto experiência carnal. O erotismo não é unívoco. Apresenta muitas facetas e graus de sensibilização. A cópula não é sinônimo de erotismo: pode ter lugar com mínimo prazer e satisfação pontual. O erotismo implica o acréscimo da dimensão do gozo. Escorado na vivência prazerosa, o erotismo incursiona num território especial. A experiência erótica implica entrega, desapossamento, incluindo certa dose de perversão no sentido de fabricação de inventos fantasiosos que incrementam o montante pulsional erógeno. Nas vivências de prazer, pulsa a pulsão de vida, nas vivências do gozo, a pulsão de vida alia-se à pulsão de morte. O gozo outorga ao jogo sexual uma dimensão entre apaixonante e perigosa, ao aproximar os seres de um limite, o abismo desconhecido.

O erotismo é um campo privado, íntimo. Cada um, cada dupla, cada jogo entre-corpos dá conta em sua interioridade de intransmissíveis vivências. Como escreve Bataille (1957/1960): “O erotismo é a aprovação da vida até na morte”. Os fenômenos de despersonalização, de imersão no inconsciente, de transgressão infinita possibilitam o acesso a profundidades somatopsíquicas onde reside o esquecimento de si. Talvez seja a colocação em ato do erotismo o acontecimento que mais aproxima o ser de sua condição humana perecedoura, experiência na qual vibram as próprias entranhas sob o disfarce da paixão. O gozo se torna a medida e a testemunha viva de nossa inelutável caducidade.

O erotismo é morte psíquica positiva ao produzir o jogo sucessivo de desaparecimento e ressurreição. A ‘pequena morte’, do folclore popular, alude a essa perda de si que deixa inesquecíveis e vivificantes inscrições. Essa pequena morte é, assim mesmo, uma bela morte, uma queda ao abismo do não-representado e do impensável. Às vezes, tal como mencionara anteriormente, algum fetiche colabora como ajuda introdutória às regiões do erotismo. Outras vezes, a tormenta erótica se desencadeia no campo do mistério, sem permitir nenhuma explicação coerente, livre de todo raciocínio explicativo.

Ressoam os ecos da obra Thalassa de Ferenczi (1924/1983), em suas audaciosas elucubrações sobre as anfimixis dos erotismos e as projeções fantasmáticas sobre partes do corpo. Por anfimixis entendia este autor a fusão dos erotismos de partes do órgão em um campo de identificações e projeções fantásticas que revolucionam toda ideia linear fisiológica do intercâmbio amoroso humano.

O erotismo tem uma base incestuosa ao dissolver toda lei na totalidade de um corpo despojado de si, ao atirar-se ao abismo do não-ser. O outro, a outra se tornam, ao mesmo tempo, seres primários e seres fortuitos: as figuras se misturam e sobre o outro corpo com quem se realiza a experiência erótica se fundem mãe, pai, irmãos, estranhos, pedaços de fantasias... as multiplicidades propagam-se e fusionam-se num todo desejante, portador de uma completude inexistente. Ilusão maior, fantástica, em que se plasma o poder, resultante da fusão de representações e afetos, numa especial integração em que o nome se perde e um nada, fonte de delícia e perda, resplandece no campo da máxima sensorialidade. O erotismo possui uma função de aprendizado da finitude em sua amostra vivencial de uma abertura sem limites sobre a carne psíquica. Essa comovente dimensão do erotismo explica a rejeição ou a dificuldade que frequentemente provoca naqueles para quem uma tranquila vida erótica prazerosa é mais do que suficiente.

Na vida sexual dos homens, destaca-se uma dupla operação psicocorporal: por um lado, o desenvolvimento do potencial genital com a consequente ereção, penetração, ejaculação; por outro, a colocação em movimento do caudal feminizante da entrega graças ao apoio sensual da vida dos sentidos. Quero salientar que a sensualidade feminina comporta uma unidade sensorial receptiva, aberta às surpresas dos sentidos quando estes se fundem, misturam ou se projetam ilusoriamente nos órgãos corporais próprios ou alheios (os do companheiro-companheira da união sexual). Quando o funcionamento genital masculino está isento de inibições, ambos os movimentos (o do pênis e o da difusão do erotismo) combinam-se prazenteiramente e permitem que eles, os homens, também morram de êxtase tanto no auge do orgasmo como na suavidade dos prazeres preliminares.

Os homens, nesses casos - não demasiadamente frequentes -, aproximam-se à ampla circulação de pequenos orgasmos, à parte a penetração, em uma experiência parecida àquelas que usufruem as mulheres, isentas do alerta sexual ante a exigência de obter um adequado desempenho do pênis. A diferença orgástica instala-se, de todo modo, ancorada nos funcionamentos psicobiológicos diferentes. As mulheres (Alizade, 1992, pp.79-131) por não terem nem pênis, nem desempenho obrigatório a cumprir, quando conseguem entregar-se ao sonho do desapossamento conhecem experiências orgásticas múltiplas. Essa diferença fez com que dissesse outrora o sábio Tirésias que as mulheres gozam sete ou nove vezes mais do que os homens. Essa digressão mantém-se em aberto já que, um homem, na identificação projetiva, pode plenamente se identificar com o gozo de sua companheira e, juntos, levarem a cabo a imersão no inconsciente e a viagem dos sonhos da regressão thalássica (Ferenczi, 1924/1983).

A função se complica quando um homem padece de impotência psíquica em qualquer de suas diversas formas: ereção incompleta, falta de ereção, ejaculação precoce, retardo da ejaculação ou outras. A imagem corporal do homem e sua imagem inconsciente são passiveis de inibições. Os corpos são autodepreciados em quaisquer de seus traços ou aspectos: corpo demasiadamente peludo, corpo imberbe, altura, peso, abdômen proeminente, nariz grande... Essas partes frágeis se convertem em lugares vulneráveis por onde se filtra o questionamento à masculinidade e a vergonha ante a “suposta falta de hombridade” ou déficit viril. Configuram-se quadros clínicos de inibição e neuroses, cujas consequências psíquicas se evidenciam em nossos consultórios.

A sexualidade limitada a um desempenho simplesmente adequado com rejeição aos jogos preliminares e à entrega converte muitos homens em maus amantes: esses homens descarregam sua tensão sexual e temem a produção de vínculo de gozo com sua companheira. Exercem uma sexualidade pontual, medrosa e prolixa. Eles também, assim como muitas mulheres, padecem de certa quantia de virgindade de gozo, figura que descrevi em detalhes, ao me referir à vida sexual das mulheres (Alizade, 1992, pp. 133-146). Menciono aqui, um brilhante trabalho de Cournut (1977/1991), no qual examina ele a relação do homem com o descomedimento orgástico da mulher, pontuando o temor do homem de que o orgasmo da mulher nunca termine, tornando-se infinito. Com frequência, esse temor é causa de ejaculação precoce e determina mesmo que algumas mulheres escondam seu caudal erógeno para não assustar o companheiro.

Freud (1910-1912/1948) descreve conflitos varonis, relacionados a fantasias projetadas na mulher escolhida, na qual refulge ora a mãe proibida, ora a prostituta que deve ser resgatada de sua denegrida condição. Leva vantagem aquele que puder unir as correntes eróticas, sensuais e ternas graças à ultrapassagem da barreira do incesto. O casal torna-se um grande espelho, onde se refletem alternadamente personagens proibidos e permitidos, que desfilam entre amores e ódios, encontros e desencontros. Devido ao fato de esse trabalho de exploração e descobertas não ter fim, a aventura da sexualidade e do erotismo - e sobretudo do amor - também não terá fim. O semelhante contribui no ato amoroso (Alizade, 1997) com um grande caudal de habitantes e fantasias em estado de espera. A tarefa de desvendar a esses personagens e de brincar com eles é tarefa que compete a ambos os participantes do encontro.

Estas observações não somente equiparam e aproximam os universos eróticos de ambos os gêneros, mas também desmistificam o pressuposto continente negro feminino, ao ressaltar que os homens também padecem de obscuridades e de mistérios.

 

Defesas psíquicas dos homens em suas vinculações erótico-amorosas

 

1. A hipermasculinidade

A hipermasculinidade é uma defesa que procura expulsar a debilidade (associada com feminilidade) e evitar qualquer possível contaminação com os líquidos femininos vulneráveis. Essas tarefas são prioritárias, de primeira necessidade (Badinter, 1992/1993, p.125).

Talvez subsistam inscrições genéticas de sobrevivência, que transmitam arquétipos ancestrais primitivos não superados, e a identidade do macho encontre nessas inscrições um lugar filogenético. Ainda assim, a excessiva virilidade do homem, na sua apresentação corporal e em seu discurso amoroso, costuma gerar, na atualidade, uma sensação de rejeição ou até parecer algo ridículo. A masculinidade hipertrofia-se reativamente.

O homem hipermasculino mantém, geralmente, vínculos amorosos em que predominam a sedução machista e a pulsão de domínio. A sexualidade é intensa, com a clara finalidade de dominar a presa conquistada, deixá-la inerme em sua entrega ao macho potente. Um homem pode chegar a experimentar um estranho gozo em gerar paixão e desejo na pessoa - talvez seja melhor dizer na vítima escolhida, para logo abandoná-la, de forma brusca ou através de pequenos golpes de despedida, precedida de intensificação de ilusões. A vingança alia-se à defesa.

Utilizar o pênis como instrumento de submissão e poder sobre o ser escolhido converte-se numa ação imperativa e reconfortante. Ao perder sua armação defensiva, esse homem expor-se-ia à angústia de castração e ao sofrimento das feridas narcisistas de sua masculinidade ferida. A hipermasculinidade costuma se associar a atitudes agressivas e até violentas.

Quero assinalar, neste ponto, uma especial atitude viril que disfarça a impotência sexual latente: a penetração visual. O homem a que estou me referindo perfura as mulheres com o olhar. A força e intensidade da mesma é um substituto do pênis, cujo desempenho é deficiente. A penetração restringe-se ao potencial visual, mediante o qual procura ele suprir a dolorosa carência.

 

2. O amor superficial (amores fóbicos e histéricos)

As relações amorosas transcorrem com uma entrega parcial, com frequentes infidelidades e atitudes fugidias para com as mulheres. A dissociação da vida erótica antes mencionada por Freud (1910-1912/1948), que consiste no amor terno à esposa-mãe e sexualidade direta com a mulher (denegrida-prostituta) colabora em sustentar a superficialidade dos vínculos nos casos em que os homens não puderam projetar a figura da mãe em outras mulheres. Todas, então, conservarão um caráter entre perigoso e denegrido... A posse sexual da mulher (fazê-la minha) converte-se num troféu que reassegura a potência. Mediante o ato de abandono ou menosprezo, reafirmam sua virilidade deficiente. Os mal-entendidos vinculares neuróticos de gênero costumam enunciar um “não preciso de você”, por parte do homem, e um “não posso viver sem você”, provindo da mulher.

Quando predomina a histeria masculina, o homem arma um jogo sucessivo de idealização amorosa e denegridora. A mulher escolhida sobe num pedestal do qual cai estrepitosamente. O gozo sádico encobre profundas ansiedades relacionadas com a dificuldade de amar, o temor às mulheres e o vínculo intimo afetivo. Num vínculo de comprometimento, o homem desnudaria suas carências e temeria ser ridicularizado. Nas análises, frequentemente se detectam traços depressivos subjacentes a essas superficialidades neuróticas.

 

3. A aquisição e o cultivo de emblemas de poder

A função pública tem sido durante muitos séculos patrimônio dos homens. Nesse terreno, circulam as estratégias dos poderes, entre os quais assomam os aspectos fálicos. O acesso à estrutura de poder outorga, a quem obtém o mesmo, gratificações narcísicas que acalmam ansiedades tanto de castração como de finitude. O poder ou sua ilusória tendência convertem-se num refúgio psíquico.

Na vida amorosa de muitos homens, o desenvolvimento de seu patrimônio (dinheiro, encargos públicos de importância, objetos valiosos, excelência) funciona como um reasseguramento contra possível rejeição afetiva - ao tempo que reduz a exigência de um desempenho brilhante na intimidade da relação sexual, ao lhe garantir a condição de senhor não da produção de prazer e desejo na companheira, mas ao menos de tangíveis bens materiais para deslumbrá-la e dominá-la.

O poder como veículo de amor costuma aumentar seu papel na idade adulta ou na terceira idade da vida dos homens, quando experimentam eles a diminuição da potência erétil e de suas forças. Recorrem, então, comumente, a próteses paliativas, através das quais compensam as debilidades com recursos artificiais: medicamentos para aumentar a potência, manobras estéticas dissimuladoras da idade ou aquisição de mulheres-bonecas, nas quais projetam juventude e potência diante de si mesmos e de seus congêneres.

O ambiente que envolve o poder é propenso à busca da hipermasculinidade paliativa. O poder comporta-se como afrodisíaco, que ajuda a escamotear os obstáculos eróticos inibitórios. O poder se adere à imagem inconsciente do corpo e ao esquema corporal, encorajando o homem sem graça, de pouca libido, e dissimulando sua dificuldade de se expor por meio de enfeitados atributos de valor que outorgam fama, dinheiro, posições de influência, etc. As disfunções sexuais, os complexos de inferioridade e a irritabilidade narcísica mantêm-se ocultos por trás dessas “cortinas de fumaça”.

 

Observações de Franco

Franco é um jovem profissional, de boa aparência, divorciado há poucos anos. Consulta-se por querer se sentir mais seguro de sua masculinidade e poder encontrar estabilidade afetiva em sua vida amorosa.

Suas numerosas conquistas femininas fracassam seja porque ele se cansa rapidamente delas ou porque é abandonado logo no início de uma relação. A escolha de objeto é conflitante: escolhe moças bem jovens e seu desempenho sexual é deficitário. Franco adora jogos preliminares, em que se sente experiente - no entanto, logo que penetra a parceira sente uma imperiosa urgência em sair, seja com ou sem ejaculação. Derrotado, finge não necessitar de mulher alguma. Alimentando ilusões, se apressa em comprar um luxuoso presente para uma amada imaginária, mas que não soube da demanda de seu amor. Sempre existe alguém que o ridiculariza pela precipitação e excesso. Abatido, Franco inveja seus amigos por terem um pai forte e protetor de quem puderam incorporar a virilidade.

Criado entre mulheres (seus pais se separaram quando ele era pequeno ainda e se mudaram para outras cidades, deixando-o aos cuidados de várias tias), na identificação à feminilidade da mulher, internalizou uma imagem débil de si mesmo, de menino-menina abandonado, ainda que exitosamente sobreadaptado.

Interessa-me enfatizar o cenário de um belo rapaz enredado entre a histeria e a fobia que arremeda uma neurose de abandono solapada. Seus emblemas de poder pouco lhe servem na hora de sustentar uma relação vincular estável e, no entanto, sustentam seu narcisismo. Desfalecem seus vínculos amorosos ante o teimoso infantilismo (ao menor desejo, deve ser atendido e servido por suas tias, para compensar o afastamento de seus pais); a idealização das jovens belas, pelas quais aspira a ser amado, e a depreciação defensiva das mulheres que aceitariam empreender uma relação amorosa com ele. Somente ama a quem o abandonará, fixado ao padrão vincular dos objetos primários de sua infância. Abandonar e ser abandonado: tal a polaridade na qual se inscrevem suas pulsões. Franco padece da falta de uma boa homossexualidade estrutural.

A transferência é complexa, denegridora, demandante. Na atmosfera do campo analítico predomina a evitação fóbica. A analista é menosprezada enquanto mãe insuficiente com a qual reedita o abandono originário e a quem ameaça abandonar, no exercício de uma peremptória repetição imaginária. A tarefa de se fazer homem viril converte-se no cerne da análise.

 

Comentários à moda de conclusão

Assinalei alguns sentimentos e ansiedades nos homens neuróticos, fonte de atribulação e angústia na suas vidas amorosas. Esses fatores conflitantes baseiam-se tanto no temor às mulheres como à feminilidade das que são, supostamente, portadoras. Outra das áreas problemáticas é a relação com seus próprios corpos e a adequada valorização do próprio pênis. A comparação com outros pênis de maior potência, as inibições sexuais e disfunções penianas e a infantil rivalidade com o pai possuidor do corpo da mãe constituem cenários de mal-estar e de sofrimento que, durante a travessia vital, incidem nos intercâmbios e relações erótico-amorosas.

A escolha de personagens com quem viver amores está predeterminada, além de eminentemente variável e complexa. Em psicanálise, estamos familiarizados com os disfarces tanto das pulsões como dos afetos e das escolhas objetais. Zombar e menosprezar as mulheres pode encobrir profundos sentimentos invejosos e ciumentos; uma escolha sexual homossexual viril, com um companheiro de fortes traços masculinos ou uma escolha heterossexual com uma mulher que exerça funções imaginariamente masculinas pode mascarar ansiedades de feminilização ou de castração.

A inveja da mãe triunfante, poderosa, pode emergir por trás da pessoa da esposa amada que deu à luz um filho. Regressão mediante esse acontecimento reaviva antigos sentimentos dolorosos de exclusão e dependência infantis, originando atuações de infidelidade ou afastamento afetivo, com o consequente decréscimo no exercício de uma paternidade salutar.

A luta entre os gêneros instala, às vezes, cenários masoquistas nos quais se expressa o ódio a si mesmo e o consequente gozo. Esse ódio pode nascer de um sentimento de alteração da capacidade amorosa e da intensa inibição em frente a uma mulher. O homem odeia sua parte feminina, odeia seu corpo desvalorizado e odeia seu pênis, do qual se envergonha em seu empreendimento sexual.

Os espaços masculinos vulneráveis descrevem áreas psíquicas doentes que impedem que alguns homens alcancem a maturidade necessária para se entregar a uma experiência profunda de amor. O amor sexual maduro é uma mistura de ternura e idealização, a par de um profundo compromisso com o outro (Kernberg, 1995).

O amor eleva a pessoa escolhida a um espaço psíquico que supera o ato carnal e as miragens da sedução e do namoro. Esse espaço psíquico se afina ao conceito de “erotismo sagrado” de Bataille (1957/1960) e à ideia de sublimação e ética desenvolvida por numerosos autores.

Os espaços masculinos vulneráveis aqui descritos somente resumem alguns cenários conflitantes ou traumáticos. Não são os únicos. O homem também pode temer a exigência do exercício da agressão e da violência: emblemas, contudo, da virilidade (Ross, 2003, p. 113).

Ante tal profusão de variáveis e circunstâncias relativas às ansiedades de masculinização e às vicissitudes dos encontros e desencontros amorosos, o mais acertado é manter uma atitude alerta e aberta aos novos aspectos da vida psíquica dos homens que a investigação clinica promoverá no futuro.

 

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Endereço para correspondência
Alcira Mariam Alizade
Ortiz De Ocampo 2.561/2L
C1425DSA Buenos Aires, Argentina
Fone: (54 11) 4804-0151
E-mail: mariamalizade@fibertel.com.ar

Recebido em: 10/02/2009
Aceito em: 05/03/2009

 

 

Tradução de Marta Úrsula Lambrecht
* Médica, psiquiatra e psicanalista. Membro titular com função didática da Asociación Psicoanalítica Argentina.
1 Publicado originalmente na revista Psicoanálisis, 5, 25-39, 2007, da Sociedad Peruana de Psicoanálisis.
2 Tradução da autora.

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