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Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.43 no.78 São Paulo June 2010

 

REFLEXÕES SOBRE O TEMA

 

Bion e poesia

 

Bion and poetry

 

Bion y poesía

 

 

Paulo Cesar Sandler1

Analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP
Sócio Honorário da Accademia Lancisiana (Roma)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Um índice analítico comentado, compactado e compreensivo, talvez completo, das inspirações ditas poéticas e literárias detectáveis implícita ou explicitamente nas contribuições de Wilfred Ruprecht Bion, conforme formuladas em algumas de suas teorias e tecnicas em psicanálise e observação psicanalítica. Inclui-se no estudo mais amplo iniciado na descrição e delimitação das origens psicanaliticas e da teoria do conhecimento, inclusive de filosofia matemática, detectáveis na obra do mesmo autor, publicadas anteriormente.

Palavras-chave: Psicanálise, Apreensão da realidade, Verdade, Teoria do conhecimento, Ciência, Literatura, Poesia.


ABSTRACT

This study offers a possibly complete, commented and comprehensive analytical index, as far as the intentions and information of this author were available to him, out from Wilfred Ruprecht Bion’s poetical and literary inspirations that were used in his theoretical and technical contributions both to psycho-analysis and observation of the psychoanalytic act. Those inspirations were explicitly and implicitly used by him. The paper follows the lead initiated by previous studies, available in book form, about psycho-analytical roots, and inspirations stemming theories of knowledge, including philosophy of mathematics used by the same author.

Keywords: Psycho-analysis, Apprehension of reality, Truth, Theory of knowledge, Science, Literature, Poetry.


RESUMEN

Un índice analítico comentado, compactado y también comprehensivo, tal vez completo, de las inspiraciones usualmente consideradas como poéticas y también literarias que son detectables implícita o explícitamente en las contribuciones de Wilfred Ruprecht Bion según fueron formuladas en algunas de sus teorías y técnica en psicoanálisis y observación psicoanalítica. Este pequeño trabajo se ubica en el ciclo más amplio de las descripciones y delimitaciones de los orígenes psicoanalíticos y de la teoría del conocimiento, incluso de la filosofía de la matemática, detectables en la obra del mismo autor, objeto de publicación anterior. El redactor de este texto agradece anticipadamente las contribuciones tendientes a complementar el índice, debido al fracaso involuntario o a la inevitable ignorancia.

Palabras clave: Psicoanálisis, Aprehensión de la realidad, Verdad, Teoría del conoscimiento, Cienca, Literatura, Poesia.


 

 

Pouco saber é algo perigoso
Beba das profundezas,
ou o aroma de Pieria ficará perigoso
Suas gotas ralas intoxicam a mente
Mas seu pleno sorver nos faz sóbrios novamente.2
(Alexander Pope, Essays on Criticism, em Chalton, p. 53, 1994)

 

Wilfred R. Bion planejava escrever uma coletânea de poesias para ser utilizada por psicanalistas, segundo Francesca Bion e Parthenope Bion-Tálamo, com quem tivemos projetos em comum: um deles, iniciar esta obra. Um desastre trágico e precoce retirou-lhe a de Parthenope; e dos amigos, o convívio estimulante. Por doze anos, pareceu-me inadequado retomar tal projeto. Um gentil convite das atuais Editoras deste jornal, Cândida Sé Holovko e Mirian Malzyner, deu nova feição às minhas intenções iniciais. Souberam pelo Dr. Antonio Sapienza do enorme interesse de Bion sobre literatura e poesia; agradeço aos três pela oportunidade, até então inexistente. Tentar escrever estudos para compartilhar encontros que parecem fundamentais para quem escreve é algo semelhante a tentar fazer uma psicanálise – e viver. Existem pelo menos duas formas: uma tentativa interior, que nasce solitária e depois encontra pares e tentativas cujo estímulo vem de fora e solicita pares. Um ato tão análogo à vida mesma e à possibilidade de amor apaixonado, que parece estar ligado ao intuito de quem tenta fazer poesia. Compartilhar demanda um par; poesia implica uma cria.

Tenho observado de que a apreensão da realidade psíquica, concepção baseada no conceito de Freud (1900/1958b) mostrou-se frutífera e permite muitas análises. Do ponto de vista histórico, tentativas de apreensão da realidade psíquica utilizaram métodos que podem ser colocados como formando um espectro. De um lado, a primitividade; no polo oposto, por crescente complexidade, métodos e descobertas sofisticadas (sempre em termos de primitivoadesenvolvido). Espectro imaginário abrangendo algo em torno de 15.000 anos da civilização ocidental. Poderíamos, em termos de história das ideias (Berlin, 1956/1984, 1968), imaginar um início, justamente onde a mente realiza imagens. Assim, a manifestação mais primitiva para se apreender a realidade psíquica pode ter sido o que hoje se chama de Arte. Em minha investigação, começou pela música (minha fábula pessoal: o choro de uma criança e outros ruídos da Natureza). Depois vieram as artes visuais e plásticas. O espectro foi se completando: vieram os Mitos, expressos institucionalmente por Religião, que também resultaram em formas artísticas mais elaboradas, como o Teatro, diretamente ligado ao Mito. Poucos milênios depois, a Literatura e, finalmente, a Poesia e a Filosofia. Ao longo dos últimos 2.000 anos, surgiu outro método de apreensão da realidade psíquica: a Ciência. Inicialmente como forma de apreensão da psicose, surgiram: Matemática (inicialmente, Aritmética), Física, Química, Engenharia e Medicina. Desenvolvimentos recentíssimos, integração dos anteriores e de certa forma, feitos às suas custas: Ópera, Fotografia, Psicanálise e Cinema. Apenas por brevidade, falamos em desenvolvimento, sendo necessário enfatizar interrupções e contramarchas, caracterizando movimentos entre posições esquizoparanoide e depressiva, se essa história das ideias puder ser enfocada pelo olhar psicanalítico.

Este sumário de uma investigação publicada em livros (Sandler, 1997-2008) possibilita um Índice para enumerar algo sobre “Bion e Poesia”. Índice inclusivo e abrangente, mas não total. Baseado em minha memória – coisa falha – obtido por estudo das obras de Bion e de seus inspiradores, em parte originado por suas próprias citações e usos, e nutrido por experiência psicanalítica (leia-se, ou seja, da vida, tal como ela é). Como em estudo anterior sobre origens científicas da obra de Bion (Sandler, 2006) é alicerçado em exame de sua biblioteca particular, conservada e gentilmente oferecida para consulta por sua dedicada esposa. Como Bion cita claramente alguns autores, o cotejamento foi facilitado, mas em alguns casos a origem implícita, inferida pelo leitor, a partir da ethos da leitura e cotejadas anotações à margem que Bion tinha o costume de fazer sobre as páginas de seus livros.

Tornaram-se senso comum no movimento psicanalítico as recomendações de Bion sobre a necessidade de acréscimo qualitativo no arsenal individual de cada analista, quanto a mitos e poesias. Embora não haja exclusividade em tal recomendação – outros analistas a fizeram, de outras formas – constitui-se como uma das poucas influências de Bion na prática psicanalítica mundial, em termos de número de adeptos. Bion iluminou que a própria psicanálise, desde Freud, foi descoberta por meio deste arsenal. Freud estava às voltas com um problema clínico e utilizou Édipo (cuja versão conheceu por coincidência) para tentar resolvê-lo. Com isso, “tropeçou” na psicanálise, descobrindo-a. (Bion, c.1960/1992a). Constituiria sério engano fantasiar que Bion tivesse qualquer preferência quanto a recomendações literárias ou poéticas. Seu interesse (e conhecimento) por música clássica e contemporânea e também por pintura eram públicos – nos clássicos, principalmente a obra de Brahms, síntese inigualada de Bach, Beethoven e Mozart. Depois de sua morte, tornou-se público seu talento como desenhista e sua prática na pintura: fazia pinturas impressionistas, jamais expressionistas.

Influências de Shakespeare, Goethe e Nietszche na obra escrita e no trabalho diuturno de Bion são tão extensamente profundas, que permitiriam abordagem apenas sob forma de livro, no momento apenas prenunciado. Os Drs. James Grotstein e José Américo Junqueira de Matos, que gozaram de análise com Bion, relataram sua solicitação de que tentassem falar certas poesias que eventualmente tivessem em mente, no aqui e agora da sessão. No segundo caso, a poesia era entoada em português, língua que Bion sequer entendia, mas apreendia o sentido. (Junqueira de Matos, comunicação pessoal; e também em seu primeiro trabalho escrito na SBPSP após sua volta, em 1980). Inspirações de poetas-soldados – Ernst Junger, Rudyard Kypling, Siegfried Sassoon e Robert Graves – são tão entranhadas em sua obra, e sem citações explícitas, que prenunciam ensaio. Formam várias partes da essência de Uma memória do futuro (Bion, 1975/1990, 1977/1996a, 1979/1996b). Muitos matemáticos, biólogos e físicos famosíssimos percebiam a existência de poesia em suas obras ou atividades, como Pascal, Einstein, Poincaré, Monod – tradição existente pelo menos desde Pitágoras. Pode-se dizer que há mais poesia na ciência, e vice-versa, mais ciência na poesia do que sugeriria “nossa vã filosofia”, se usarmos a expressão de um grande poeta, cientista e pré-psicanalista, Shakesperare. Alguma atenção é necessária para uma breve descrição de Uma memória do futuro, estudo tão científico quanto quase poético, mais do que precioso psicanaliticamente, proporcionalmente fadado a ser subvalorizado pelo movimento (ou establishment) psicanalítico.

 

Uma memória do futuro

Talvez se possa considerar a trilogia Uma memória do futuro como “contrapartida prática” de toda a obra anterior escrita por Bion, especialmente os desenvolvimentos expressos em Transformações e Atenção e interpretação, que podem ser vistos como exposições em termos quase teóricos. Trata-se de um dos escritos mais profundamente psicanalíticos jamais divulgados, antes ou depois. Elaborado com uma liberdade de associar livremente – a primeira “regra” psicanalítica, observada e enunciada por Freud – imbuído por amor à verdade e respeito pela vida, igualmente enunciados em contínuos alertas de Freud, tipificam a tarefa psicanalítica. Boa parte dos assuntos descobertos pela psicanálise, desde as teorias da transferência, resistência, identificação projetiva, fixação, movimentos e relações entre posição esquizoparanoide e depressiva, particularidades e usos destas posições, até então ainda não enfocadas, além de tentativas de integração entre estas duas contribuições (de Freud e Klein), Édipo, masculinidade, feminilidade, clivagem do ego, mecanismos de defesa, certas profundidades do Id e da origem da mente, particularidades práticas dos processos oníricos, tentativas de descrição do trabalho onírico, pretensões de satisfação de desejo, efeitos deletérios de memória e entendimento, além de fatores que expressam no grupo (ou sociais), como experiências mentais do indivíduo, como guerra, amor e ódio à violência, encontram-se vividamente expostas em linguagem coloquial.

Os métodos comunicacionais que Bion havia experimentado até então apresentavam-se, pelo menos na observação de Bion, como bastante limitados, por serem muito facilmente ossificados e institucionalizados. Estas observações e alertas estão claramente expressas (ou escritas) nesta Trilogia, e já haviam sido indicados em algumas obras anteriores, tanto em estudo classificados como “clínicos” (Uma teoria sobre a esquizofrenia, em Second Thoughts – Estudos psicanalíticos revisados, na versão brasileira, de W. Dantas) como, e de modo especial, em Cogitações, em Transformações e, ainda, em Atenção e intepretação. Eram métodos comunicacionais bastante calcados em linguagem mais aceita pelos psicanalistas. Tão aceita, que já era tradicional, já havia ficado “jargonificada”, se usarmos uma de suas expressões. Bion havia apelado para terminologias da teoria do conhecimento, e também filosófica, de modo geral. Em Transformações, eleva o apelo aos métodos comunicacionais inspirados em terminologia quase matemática. Quase tudo isso é abandonado; agora o recurso comunicacional – sempre verbal – torna-se um modo dialógico, quase teatral, quase Socrático. O recurso não é novo, pode ser encontrado em obras de grandes autores como Platão, Diderot, Shakespeare, Goethe e Nietszche, para citar algumas das influências implícitas e explicitas na obra de Bion. A partir de quem, e com quem, ocorre tal “modo dialógico”? Espera-se, como ocorre na obra de Machado de Assis (citado apenas como exemplo que deverá ser significativo ao leitor brasileiro), que o dialogo se dê com o leitor – novamente, nada de novo, pois isso ocorria com os escritos de Freud. Observa-se que o dialogo se inicia como sendo interno, ou seja, do autor consigo mesmo. Através da confecção (ou criação) de personagens imaginários, ficcionais, mas não fantasiosos, que abrangem boa parte da experiência de vida e psicanalítica de Bion – eventos, aliás, inseparáveis. Contribuições de grandes poetas e filósofos da civilização ocidental encontram-se aplicadas (mas não explicadas) nestes textos: organicamente e não eruditamente. Trata-se de uma espécie de coletânea – para alguns leitores, verdadeiros tesouros a serem descobertos ou redescobertos, de impactantes indicações clínicas de extrema utilidade para o analista praticante.

Não se trata de obra literária. Pelo menos um autor, Donald Meltzer, classificou-a, em 1979, de “novela mal-escrita”. Com o tempo, retificou tal idéia que, por apressada, tornou-se errônea.3

 

Bion e Poesia: Índice
Construído segundo a evolução do tempo e origem cultural dos autores.
Vai de 2.000 a.C. até 1970 d.C.

 

 

Motes, musas

Por desnorteio, encontra-se o Norte.4
(Shakespeare, Hamlet, II.i, 64)

A coisa mais certa deste mundo é que o afeto, somente,
torna o homem necessário. (Goethe, 1774, p. 63)

A maior proximidade de um “fato” que o casal psicanalítico
alcança é quando um de seus componentes tem um sentimento.
(Bion, 1979/1996b, p. 147)

Aponte-me um homem que, estando de mau humor, tenha a coragem de ocultá-lo, de sofrer sozinho, sem perturbar a alegria dos que o cercam? Mas o mau humor não seria antes uma irritação íntima devida ao sentimento da nossa própria insuficiência, um descontentamento em relação a nós mesmos, ao qual se junta sempre a inveja espicaçando uma vaidade idiota? Quando vemos algumas pessoas felizes, sem que para isso tenhamos concorrido, essa felicidade nos é insuportável. (Goethe, 1832/1981, p. 43)

Existem incontáveis pessoas civilizadas que se restringem de praticar o assassinato ou o incesto, mas não negam a si mesmas a satisfação de sua avareza, seus impulsos agressivos ou suas lascívias sexuais, e que não hesitam em machucar outras pessoas por meio de mentiras, fraude e calúnia, até o ponto que permaneçam livres de punição; e isto, não há dúvida, tem sido assim através de todas as épocas da civilização. (Freud, 1927/1961, p. 12)

Considero tão feliz quanto útil a exposição por meio de analogias; o caso análogo não se impõe, não demonstra nada; limita-se a se colocar frente ao outro sem ligar-se a ele. Muitos casos análogos não se reunem em uma série fechada: vem a ser como um tipo de boa sociedade, que sempre, além de dar, estimula.
(Goethe, Reflexões sobre a natureza, compilação de Assens, I. 243, p. 403, 1950)

O coração tem suas razões, que a própria razão desconhece.5
(Blaise Pascal, 1655, p. 222)

O procedimento psicanalítico pressupõe que o bem estar do paciente demanda inevitavelmente um suprimento constante de verdade, como sua sobrevivência física demanda alimento. Ele pressupõe, ainda, que a descoberta da verdade sobre si mesmo é uma pré-condição para aprender a verdade, ou pelo menos buscá-la em sua relação com ele mesmo e com outros. Supõe-se em princípio que ele não possa descobrir a verdade sobre si mesmo sem a assistência do analista e de outros.
(Bion, Verdade – necessidade dela, e necessidade de
manter seus desajustes sob reparo constante, (Bion, 1860/1992a, p. 99)

Mística é a obscura autopercepção do domínio fora do ego – do id.
(Freud, “Descobertas, ideias, problemas”, 1938, p. 299)

 

Defino “Bion” como...

Por “Bion” – defino contribuições para psicanalistas praticantes contidas na obra escrita por uma pessoa que se chamou, convencionalmente, Wilfred Ruprecht Bion. Ele mesmo, segundo um de seus escritos, aventou a possibilidade de poder ser chamado Rbidefilnorw (Bion, 1975/1990, p. 97). Com seu humor característico, indicou a arbitrariedade necessária contida em regras de comunicação verbal e de métodos advindos dessas regras, para nomear qualquer coisa, ideia ou pessoa. Wilfred Ruprecht Bion: nome que começa em alemão e termina em francês.

 

Defino Poesia como...

efinir “Poesia”… Ora, ouvir estrelas, sentir o “cheiro brilhante de uma pedra” (Melville, Moby Dick) e se emocionar com eflúvios, seja lá do que for. Definir poesia pode ser tarefa análoga a imaginar que música pode ser definida pelo pentagrama com sete marquinhas negras a ele apostos. Esta coisa “Poesia” propõe para eventuais definições complexidades maiores do que aquelas necessárias para definir a coisa “Bion”. Definição encontrável em inumeráveis obras de “prática prática” (poesia pròpriamente dita) e de “prática teórica”, dita, crítica, no sentido atemporal kantiano, apreciativo dos métodos. Não daquela mistura de erudição e pretensões fantasiosas “cri-críticas” sempre ao gosto da moda secular e temporal, que se arroga a dizer o que é bom e o que é mau, por meio de “engenhosas manipulações de símbolos” (Whitehead, 1911; Bion, 1975/1990). Por sorte dos brincalhões de poltrona e azar dos que buscam por verdade, a real obra crítica muitas vezes é construída com qualidades artísticas próprias da técnica poética, como a obra de Frank Kermode; ou artesanais, como as de Haroldo e Augusto de Campos.

Uma definição operacional que pretendo adotar para a coisa “Poesia”. Inclui um contraponto marcado por antiguidade, mas nada anacrônico, já percebido por Aristóteles: entre techné, técnica, uma habilidade do “fazedor” e poietiké, um hábito produtivo do “fazedor” na arte e disciplina da gramática (Aristóteles, 360 a.C., p. 388). Hábito produtivo que respeita simultaneamente dois fatos: “a realidade não precisa de nós”, e que “nós precisamos da realidade”.

Provavelmente todos os leitores deste periódico psicanalítico reconhecem a formulação de Álvaro de Campos em um dos heterônimos de Fernando Pessoa, que fazia uma certa troça com nomes. O leitor não precisa procurar quem é o autor da antítese apresentada, pois é sugestão de quem está escrevendo estas linhas. Trata-se de uma tentativa de respeitar o senso comum, o óbvio – geralmente o mais difícil de ser visto. Muitas vezes, no movimento psicanalítico, senso comum é confundido com lugar comum e o óbvio é desprezado como obviedade, por falta de erudição ou intelectualismo.

Por respeitar essas tendências que vemos com especial dor no movimento psicanalítico, tendências estas há muito instaladas na mente ocidental, acho necessário definir, com a ajuda de uma paráfrase a respeito de algo que Aristóteles observou. A paráfrase se formula dentro do contrário daquilo que Aristóteles enunciou. Talvez seria melhor colocar: a paráfrase se formula no negativo; ou no oposto. Defino assim o que este hábito produtivo não é:

Poietiké não é “engendrar” – “cuja origem estava no fazedor e não na coisa feita; pois a arte não se preocupa com as coisas que são, ou nascem por necessidade, nem com coisas que nascem de acordo com a natureza (já que estas tem sua origem nelas mesmas)”(Aristóteles, 360 a.C., p. 388).

Para fazer arte e ciência, modos diversos de se aproximar da realidade, o poeta real não submerge no hábito onipotente ou fantástico de mente. Percebe que não podemos “criar” algo a partir de nós mesmos, sem um par, a realidade mesma. A luz na caverna e as sombras de Platão são prévias a nós; a realidade existe, out there (lá fora), como expressou o estudioso e divulgador maior da matemático Martin Gardner (1991, p. VI).

Falando por analogias, segundo o mote de Goethe: a criação – poesis – como hematopoiese, a criação do sangue na medula óssea, por exemplo – não é uma criação alucinada individual. Tampouco é limitada ao sensório, embora seja inicialmente acessível por tal aparato, paradoxo inicial que poucos toleram.

Poesis, trama delicada, não admite ser palpada nem tocada. Demanda ser acesa por quem têm ouvidos, ser audível a quem tem olhos, sentida por quem tem paladar e apreciada por quem pensa.

Poesis não cria nova matéria, mas antes a rearranja, na tentativa de se detectar padrão subjacente, constante e, acima de tudo, natural. Aparece naturalmente, extraído como o leite de u’a mama. Como a poesia buscada por Keats, caindo como caem folhas da árvore no outono, ou como as Freie einfallen descobertas por Freud. Como a conjunção constante de Hume, como a Invariância de Sylvester e Cayley, trazidas à psicanálise por Bion (Sandler, 2006). O que comumente se imagina como criação do artista em sua fantasia, ou seja, uma imagem visual ou de qualquer outra natureza – matemática, verbal, acústica – tem a característica aparente de ser uma imagem jamais antes percebida pelo artista ou por ninguém. Mas se atentarmos ao fato apontado por Bacon (1985a/1625) , que toda novidade não passa de esquecimento, o novo entrelaçamento, network, renovada constelação de Supernovas, dá qualidades formais, meramente! Bion usou o termo: transformações sobre alguma invariante.Eu poderia escrever, com o uso de artes gráficas, transformações ou ainda transformações, ou algo para assinalar algo nunca antes visto.

Poesis, criação, não é partenogenética, como é o caso da alucinação: trata-se de um casamento com a realidade, na acepção biológica de casamento masculino/feminino.

O artista deixa-se penetrar e inseminar tanto por sua intuição como pelos dados sensoriais que, simultaneamente, procura de modo intuitivo. Esses dados já lhe estão disponíveis, e então potentemente insemina de volta esta situação, e cria. (Sandler, 1999)

A Poesia revivida pela Renascença tardia inglesa, ou seja, John Milton e Shakespeare, ramificada na Alemanha de Goethe e Herder, frutos da Reforma de Lutero, mostrava, ainda que sem formular claramente – coisa que só emergiu de vez com a Psicanálise, por Freud – que tudo isso se dá inconscientemente.

O artista interno de cada um, o gerador de sonhos, o “tecelão de mitos”, no dizer de Sapienza e Junqueira Filho (1996), faz do mesmo modo: à espera de um psicanalista que ouça o sonho, se insemine com ele e, com associações livres, no sonho conjunto que hoje chamamos “sessão psicanalítica”, utilize-o para se aproximar da realidade psíquica de cada paciente. Trabalho muito semelhante faz a mãe com seu bebê. Freud viria a observar o rearranjo no pensamento onírico e no trabalho onírico. Pôde formular verbalmente, de um modo ainda mais preciso, a condição dessa discriminação: uma forma de existência da realidade psíquica diversa da realidade material. Ouviu Platão, e não Aristóteles – neste caso.

Os ingredientes fundamentais, de-sensorialização e intuição, mantiveram-se, através dos séculos, como invariantes nos detalhamentos posteriores de Freud, Klein e Bion. A ignição dos processos de pensar (incitados ou evocados pelas impressões sensoriais), conforme colocadas como funções da consciência por Freud no Projeto e, depois, nos Dois Princípios do Funcionamento Mental (Freud, 1910/1958a), sistematizados graficamente por Bion no instrumento “Grid” (1963).

Este âmbito novo, na formulação de um querido de Bion, William Wordsworth, geralmente considerado como o maior dentre os românticos ingleses, na Lyrical Ballads: “Meu tema: nenhum outro que não o coração do homem”.

Wordsworth era casado com mulher rara, Mary Hutchinson, e teve filhos com outras, mas do ponto de vista poético, fez casal com Coleridge, igualmente querido por Bion, que queria fazer com que “ficassem aceitáveis” certos “eventos misteriosos”, por carregarem conteúdos latentes “invisíveis ao olho mortal”, como disseram seu amigo Wordsworth e também John Milton, anos antes. A “linguagem do homem simples do campo”, procurada e cantada por Wordsworth, haveria de se revelar de vez, mais tarde, mas não muito tarde, com as observações de Melanie Klein e Donald Winnicott: a linguagem infantil; a vida instintual, o camponês em cada um de nós.

A concepção de “vontade” no sentido referido pela primeira vez por Tetens, ou seja, de um tipo de impulso instintivo interior, seria utilizada por Kant e mais extensamente por Schopenhauer, resultando na dos instintos de Freud, médico em que jamais faltou o “conhecimento empírico”. Será difícil, assim, subestimar a importância de Tetens para a psicanálise e para o avanço no conhecer:

As representações originais constituem a matéria de todas as outras, quer dizer, de todas as representações derivadas. A alma possui uma capacidade que lhe permite analisar, desintegrar e separar as representações, para voltar a mesclar, agrupar e combinar os diferentes elementos e partes integrantes. Revela-se aqui a capacidade poética da alma, sua força criadora e plasmadora, e se manifesta de formas tão diversas como a força criadora da natureza física, a qual, ainda que não possa fazer brotar uma nova matéria, novos elementos, pode representar-se e se representar, mediante uma dissolução dos corpos que vai mais adiante do que podem alcançar os nossos sentidos e mediante uma nova combinação destas partículas invisíveis, novos corpúsculos e novas criaturas, ainda simples aos olhos de nossos sentidos. (Tetens, 1777, citado por Cassirer, 1907/1957, p. 521)

A força criadora da capacidade poética, à qual Tetens chamava de “alma” – hábito humano, demasiadamente humano na formulação de Nietszche – de pespegar nomes para aquilo que não sabemos o que é. Hoje em dia, chamamos de “mente”, ou realidade psíquica, mas já se chamou espírito (geist), personalidade, caráter, um mundaréu de nomes. A um bebê se dá um nome antes de se saber sequer se ele vai existir. Nome que encontra, geralmente, desacordo de seu futuro dono, assim que o conheça. Sigamos com Tetens, uma espécie de bisavô da psicanálise: “a força criadora [Freud especificou: realidade psíquica] da natureza física [realidade material]… a qual… não possa fazer brotar uma nova matéria”. A ênfase é no sentido de diferenciar o que nós psicanalistas chamamos de trabalho onírico – na terminologia do pré-romantismo e do romantismo – “força poética” – de alucinação.

 

Metáfora, teu nome é Poesia

Imagino que uma boa maneira de falar sobre “Bion e Poesia” seja reproduzir expansões na obra escrita por Bion a respeito disso que tentei falar até agora – extratos de Uma memória do futuro:

P.A. – “Certeza”, assim como “incerteza”, é uma parte da vida. Não podemos evitar nenhuma das duas, são polos opostos do mesmo sentimento. Não sei que nome dar ao “mesmo sentimento”, ou seja, o sentimento cujos polos são opostos. Se eu fosse um poeta ou filósofo talvez pudesse. Não ajuda nada pensar que eu seja um psicanalista porque esta é a minha profissão.
P.A. – deveríamos respeitar a linguagem que usamos e ter cuidado para não desnaturá-la.
Robin – Existe algum fato que você conheça e considere com “temor reverencial”?
P.A. – Com certeza, conheço o temor reverencial, a devoção inspirado pelas cortinas de luz da Aurora, montanhas.
Roland – Por pessoas não?
Robin – Você faz alguma distinção entre indivíduos, homens e mulheres específicos e suas “mentes”?
P.A. – Às vezes esta distinção é relevante. Fico cada vez mais consciente de que há algo mais do que aquilo que se apresenta aos meus sentidos: som, visão, audição, tato. Tenho sentimentos despertados por algo que não cheiro, não toco, não ouço nem vejo. Minhas percepções não são suficientemente acuradas, desgastadas pelo bombardeio contínuo da realidade sensorial. Não vou viver o tempo necessário para alcançar aqueles fatos, exceto em um grau rudimentar.
Alice – Se é rudimentar, talvez seja algo que você pode experimentar, e experimentou quando era um caráter rudimentar: no útero. (Bion, 1979/1996b)

 

Falta de mote e de musas

Em toda a Europa durante as trevas da mente (a Santa Inquisição), a “mente” precisou voltar a se refugiar nos abrigos mais seguros da manifestação artística, expressa por poesia religioso-mística, como as obras de Dante Alighieri, Meister Ekhart, San Juan de la Cruz e John Mílton. Por outro lado, o autoritarismo, ou Dogmas, manifestou-se, na poesia, por exageros formais em métricas e rimas. Muita coisa foi tomando o lugar de onde a poesia poderia estar.

A linguagem comum do povo como algo mais próximo do que é Natural – e portanto real – foi explicitamente buscada por William Wordsworth (1770-1850), um dos autores mais queridos de Bion já em pleno movimento romântico, que floresceria na Alemanha como desenvolvimento dos esforços do Iluminismo: uma tentativa de nomear o mergulho poderoso e quase musical na real natureza humana, na realidade psíquica tal como ela é. Talvez possa se isolar três marcos na história que legou-nos apreensões realísticas, profundas e abrangentes da mente humana, constituindo moradas pregressas do pensamento-sem-pensador, “psicanálise”, todas elas inspiradoras de Freud, Klein e Bion: a obra de William Shakespeare; a obra musical de Johann Sebastian Bach e seus continuadores, Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven, coisa que vamos deixar de lado neste artigo; a história, cujo autor se perdeu no tempo, de Johann Faust, inspirador seminal de Freud e Bion, na versão de Goethe. Existe uma diferença absoluta entre inspiração poética e transplantes filhos de sedução de âmbitos extra-psicanalíticos como substituição de psicanálise.

A sedução de pessoas no movimento psicanalítico não se reduz a estes aspectos idealistas ou solipsistas, efeito da fantasia de que o mundo é apenas o que se quer ver, produto exclusivamente da mente. Existe a sedução do racionalismo e da lógica formal, expressa por pseudo-ciência. Uma das maiores inspirações poéticas de Bion veio dos autores do movimento romântico – acima de todos, John Keats. A lógica não é uma arma universal, depende do sentido que é usada, como observou Umberto Eco em O nome da rosa. O reducionismo, consequência da prisão na lógica, distancia-nos da realidade. Racionalismo foi o nome de Freud para produções delirantes, no caso Schreber. Wellek e Peckham fizeram estudos, hoje clássicos de 1949 e 1951 respectivamente, contidos no volume Romanticism, Points of View (Gleckner & Enscoe, 1975): o movimento romântico inclui imaginação, interesse na natureza (Wellek), símbolo (Wellek e Peckham), mito, mudança, crescimento, diversidade, inconsciente (Peckham) Que psicanalista negaria a seu próprio campo essas descrições do movimento romântico? Muitas das obras dos “românticos” – no que tange a observar os fatos da natureza humana tais como eles são – tinham e continuam tendo, à medida que o verdadeiro é eterno, transcende ao tempo – semelhanças com as obras dos sábios do Iluminismo.

Depois da “Primeira Guerra” no pensar ocidental, a clivagem entre Mente e Matéria, veio a “Segunda”, repetindo a mesma situação não observada: provar que existe uma clivagem entre Ciência e Arte. Fantasia-se e imagina-se que a obra de artistas como Goethe, Wordsworth eram menos científicas do que a obra de Newton. Ou, que a obra de Newton ou de Pascal seria menos artística em suas conquistas matemáticas do que Diderot em suas conquistas dialógicas. Os anjos da lógica e do conhecimento racional não ousam arriscar-se onde adentram intuição, domínio de livre trânsito entre feminilidade e masculinidade. “Racionalização” não tem um status muito definido dentro da teoria psicanalítica; não é considerada exatamente um mecanismo de defesa.

Contrasta com a Racionalidade a “Intuição” que designa o mais poderoso ingrediente necessário e não suficiente do processo de conhecer – embora não saibamos nem conheçamos nada sobre ela, a não ser que indica presença de contato com a realidade sem interveniência do pensamento racional.

Feminino, teu nome é intuição. E “Feminino” é o mais poderoso ingrediente necessário e paradoxalmente não suficiente para o processo da vida. O movimento romântico resgatou de modo mais amplo o respeito e consideração à função feminina, sem tanto medo à mulher, nem o ataque a ela que dele decorreu. Este medo e ataque à Mulher, considerado como um ataque à Feminilidade de onde emana e se conserva a própria vida, parece ter caracterizado “desenvolvimentos” bestiais naquilo que normalmente chamamos de civilização. Montesquieu já havia assinalado a necessidade deste resgate. Com o humor sério de Bion, em Uma memória do futuro, volume II:

Roland – Eu vi uma fotografia, horrível! Um duelo entre dois indivíduos armados de sabres, com um golpe, um deles havia decapitado seu oponente. Não era a respeito de uma separação tão radical assim entre eu e o meu sistema nervoso central, ou o lugar de minha inteligência, que eu estava falando.
Alice – Você vive dizendo que eu, por ser uma mulher, não poderia ter uma inteligência da qual pudesse me separar.
P.A. (Psicanalista) – Talvez isto ocorra porque ele nunca ficou completamente separado de sua mente primordial e continue dominado por uma crença, qual seja: já que a mulher não tem um pênis, ela não tem uma capacidade para o pensamento masculino.
Alice – A cesura conecta ou separa? Ele frequentemente se comporta como se não fosse um animal sexual macho…
Rosemary – Por acaso ouvi meu nome? (Um silêncio cai sobre o grupo)
Roland – (quebra o silêncio) Isto era um mundo de homens.
Alice – Um mundo de homens é, e sempre foi, um invento da imaginação. Amor e tudo mais – compare isto com o nascimento de nenês e a morte de uma mãe. Estupro, chantagem, roubo.
P.A. – Nem tudo é assassinato, morte e chantagem.
Alice – Eu não disse que era, mas acho que o mundo de uma mulher é muito mais sombrio, um mundo que o homem nem sequer remotamente poderia discernir.
Robin – Sem querer entrar nesta batalha de melancolia e tristeza, devo dizer que o mundo no qual vivemos apresenta muitas aparências factuais que são as mesmas para todos nós, embora nunca sejam as mesmas para quaisquer dois indivíduos que se considere. Não posso afirmar, pelo menos em termos de uma impressão imediata, que eu seja mais afortunado em ser eu, e não você. Abominei a maior parte da minha experiência na escola e quando saí de lá para ir ao exército, eu o temia tanto enquanto perspectiva quanto temo retrospectivamente; o temo durante todo o tempo. Nós fazemos nosso próprio mundo, vivemos nele e de acordo com nosso gosto amamos o que fazemos.” (Bion, 1977/1996a)

 

Alguns exemplos: poesia na obra de Bion

Homero, Horacio
Expressões poéticas e religiosas possibilitaram um grau de “publica-ação” à medida que conseguiram durabilidade e extensão. Dizendo a mesma coisa de modo diferente: a “força transportadora” do enunciado verbal estendeu-se tanto no espaço como no tempo. Expressões desta crença: Vixere Fortes ante Agamemnona mvlti (1); “Nem mármore, nem os monumentos dourados dos príncipes/a este poderoso poemas obreviverão” (2). São interpretações da experiência humana. Nesta esfera, a atenção do psicanalista é detida por uma experiência específica, a qual ele chamaria a atenção do analisando. Para tanto, o analista precisa utilizar a Linguagem de Consecução. Quer dizer, o analista precisa empregar métodos que tenham a contraparte de durabilidade ou extensão em um âmbito (3) onde inexiste tempo e espaço, conforme estes termos são utilizados no mundo dos sentidos (em Atenção e interpretação).

São João da Cruz
A primeira (noite da alma) tem a ver com o ponto a partir do qual a alma parte, pois ela tem que se privar gradualmente de desejo de todas as coisas terrenas que possuía, negando-as para si; negação e privação estas que são, por assim dizer, noite para todos os sentidos humanos. A segunda razão tem a ver com o meio, ou o caminho ao longo do qual a alma precisa viajar para esta união – ou seja, fé, que, para o entendimento, também é tão escura quanto a noite. A terceira tem a ver com o ponto para o qual viaja a alma – ou seja, Deus, que, igualmente, é noite de trevas para a alma nesta vida.
Uso estas formulações para expressar, de forma exagerada, a dor envolvida em obter o estado de ingenuidade inseparável de aglutinação ou definição….Toda nomeação de uma conjunção constante envolve admitir a dimensão negativa; a ela se opõe o medo à ignorância. Portanto, ao nascedouro, ocorre uma tendência à antecipação precoce … cuja intenção é negar ignorância – a noite de trevas dos sentidos. A relevância disso para os fenômenos psicológicos origina-se do fato deles não serem susceptíveis à apreensão através dos sentidos; isso tende a precipitar transformação para dentro de objetos tais como são e assim colabora para Transformação em hipocondria. (em Transformações)

Meister Eckhart, Dante Alighieri, John Ruysbroeck
O objeto representado pelo termo Forma Platônica também pode ser representado em termos místicos, como “um é um e totalmente solitário e assim sempre o será”;6 e naqueles termos do canto XXXIII do Paradiso:7
“Luz eterna, que a morada em ti somente tendo
Só te entendes, de ti sendo entendida!
E te amas e sorris só te entendendo!”
A ênfase é de tal modo alterada pelo Platonismo Cristão, que o equilíbrio entre os elementos da configuração fica alterado; pode se ver isso claramente expresso na doutrina da Encarnação. A representação específica que importa para a presente discussão foi formulada por Meister Ekhart e pelo Abençoado John Ruysbroeck, que distingue a Divindade de Deus. Assim, no Tratado XI, “Deus na Divindade é substância espiritual, tão elementar que não podemos falar nada sobre isto”. (em Transformações)

“a poesia é o inundar espontâneo de sentimentos poderosos; toma sua origem da emoção recolhida em tranquilidade” (Wordsworth, Prefácio de Lyrical Ballads; citado em Smith, 1921/1960, p. 171). O fulcro de Atenção e interpretação e sua aula prática, ou seja, todo o final da obra sobre as condições propícias à Linguagem de Consecução – denominação baseada nas considerações de Shelley e de Keats sobre Shakespeare – se faz da passagem do âmbito esquizoparanoide. Aquilo que tenho chamado de serenidade típica da posição depressiva, que na denominação de Bion são “paciência” e “segurança”, origina-se daqui:

Caso tenha seguido o que eu disse neste livro, em toda e qualquer sessão, o psicanalista precisaria ser capaz, especialmente no que se refere a memória e desejo, de estar consciente de aspectos do material relacionados àquilo que é desconhecido tanto para si como para o analisando, seja lá o quão familiar este material lhe pareça ser. É necessário que o analista resista a toda tentativa de se atrelar àquilo que já sabe, com o intuito de conseguir um estado de mente análogo à posição esquizoparanoide. Cunhei um termo para este estado, “paciência”, para distingui-lo de “posição esquizoparanoide”, que seria deixado para descrever o estado patológico para o qual Melanie Klein o utilizou. Tenho a intenção de que o termo retenha sua associação com sofrimento e tolerância de frustração.
Seria necessário manter “Paciência”, sem “busca irritável por fato e razão” até que um padrão “evolua”. Este estado é o análogo daquilo que Melanie Klein denominou, a posição depressiva. Uso o termo “segurança” para este estado. Quero que segurança e diminuição de ansiedade se mantenham associados a este estado. Considero que nenhum analista qualifica-se à crença de que executou o trabalho necessário para dar uma interpretação, a não ser que tenha passado pelas duas fases – “paciência” e “segurança”. A passagem de uma à outra pode ser de pouquíssima duração, como nas etapas finais de uma análise; ou pode tomar muito tempo. Poucos psicanalistas, se é que algum existe, acreditariam ter alguma chance de fugir aos sentimentos de perseguição e depressão comumente associados aos estados patológicos conhecidos como as posições esquizoparanoide e depressivas. Resumindo: a um sentido de ter se conseguido uma interpretação correta, frequentemente se segue, quase que de imediato, um sentido de depressão. Considero a experiência de oscilação entre “paciência” e “segurança” uma indicação de que está se conseguindo fazer um trabalho valioso.” (Bion, 1970, cap. 12, p. 124)

Através de românticos como Wordsworth e Keats, Bion (como Winnicott) salvou e então deu continuidade ao afastamento iniciado por Freud dos vários vícios que elencados no início deste artigo: positivistas, cartesianos (chamei isso de idealismo ingênuo), eruditos (Kant chamou isso de realismo ingênuo): “Mais uma vez devo a oportunidade de ter feito uma descoberta pelo fato de não ser um letrado” (Freud, 1957/1914, p. 62). Bion especificou que a questão se situa no submissão do indivíduo ao establishment, não só social nem linguístico, mas o establishment dos preconceitos da própria mente individual, “organizações defensivas” (Rivière, 1936); indicou a possibilidade prática desse “afastamento”: disciplina sobre memória e desejo.

Ao longo desse estudo, temos tentado mostrar algumas indicações sobre a necessidade de reflexão quanto àquilo que denominamos “imaginação” – principalmente quando falamos de poesia e ciência. Os pensamentos sem pensador que estão ali, como a ideia platônica, aguardando um pensador que os pense, ou uma realidade já dada podendo ser ou não percebida tal como ela é, no maior grau possível, limitam, já de saída, o valor que possamos dar à imaginação. Imaginamos o mundo? Ou a capacidade para o imaginário não passa de uma formulação particular que intuitivamente capta o que já existe? William Wordsworth era chamado de “Sacerdote da Natureza”, pois nunca se propôs a criá-la.

Por outro lado, podemos dizer que todo cientista e poeta (ou artista) são “Sacerdotes da Natureza”, incluindo no sacerdócio, acima de tudo, a generosidade e o cuidado. Wordsworth não era o “Criador da Natureza”.

Wordsworth (1798/1960) fala a respeito do Poeta, onde distinções entre alucinação e sonho, respeito à realidade aparecem:

O que é um Poeta?… É um homem falando para homens… dotado de sensibilidade mais vivaz, mais entusiasmo e mais ternura, que tem um conhecimento maior da natureza humana….tem uma disposição para ser afetado mais do que os outros homens por coisas ausentes do que se elas estivessem presentes; uma habilidade de conjurar em si mesmo paixões, que são realmente distantes daquelas que os eventos reais produziram, e mesmo assim relembram mais de perto as paixões produzidas pelos eventos reais do que qualquer coisa que, meramente dos movimentos de suas próprias mentes, outros homens estão acostumados a sentir em si mesmos: – daí, e da prática, adquiriu uma prontidão e força maiores para expressar o que ele pensa e sente, e especialmente aqueles pensamentos e sentimentos que, por sua própria escolha, ou da estrutura de sua própria mente, surgem-lhe sem excitação externa imediata….Mas seja qual for a exaltada noção do caráter de um Poeta que acariciemos, é óbvio, que enquanto ele descreve e imita paixões, seu emprego é em certo grau mecânico, comparado com a liberdade e força de ações e sofrimento reais e substanciais. Tanto é assim que o desejo do Poeta de levar seus sentimentos perto daqueles das pessoas cujos sentimentos descreve, pode, por curtos períodos de tempo talvez, deixar com que ele escorregue em um completo delírio, e mesmo confunda e identifique seus próprios sentimentos com os dele….Aqui, então, ele vai aplicar o princípio de seleção sobre o qual já insisti. O poeta vai depender de remover aquilo que de outro modo lhe seria doloroso ou desagradável na paixão; ele sentirá que não existe a menor necessidade de truques ou elevar a natureza; e, o quão mais industriosamente ele aplica o princípio, maior será sua fé que nenhuma palavra que sua fantasia ou imaginação possa sugerir, pode ser comparada com aquelas que são emanações da realidade e da verdade. (pp. 150-171)

Será isso muito diverso do que Francis Bacon e Samuel Johnson diziam?

A contemplação das coisas tais como elas são
Sem erro nem confusão
Sem impostura nem substituição
É em si algo mais nobre
Do que uma colheita inteira de invenção
(Bacon, 1625/1985a)

Dediquemo-nos a ver as coisas tais como elas são, e então questionar se temos algo a reclamar. Ignoro se ver a vida tal como ela é nos dá algum consolo; mas o consolo que deriva da verdade, se ela ocorre, é sólida e durável; aquela que possa ser derivada do engano precisa ser, como seu original, falaciosa e fugidia. (Samuel Johnson, 1758, em carta a Bennett Langton reproduzida em Life of Johnson, de Boswell (1791); citado por Bion em artigo de Cogitações, e usado em Atenção e interpretação).

Nos românticos ingleses, existe uma expressa valorização do que eles chamavam de feeling. Parece corresponder às paixões e emoções, aos primórdios da formação das fantasias inconscientes, os equivalentes psíquicos dos instintos biológicos. Wordsworth distancia-se do império das paixões advogado pelo “romantismo”. Muitos viam o seu “assunto”, a natureza, como sendo algo importante, mas não prevalente. A natureza é um, entre outros veículos formais para o poeta expressar aquilo que vê, como a religião havia sido para Mílton ou os reis ingleses ou romanos haviam sido para Shakespeare. Trata-se de não confundir meios com finalidades. O risco é perverter a finalidade precípua do meio, aliená-lo e travesti-lo de finalidade. Na formulação de Wordsworth:

Cada poema tem um objetivo válido. Não é que eu sempre comece a escrever com um objetivo distinto formalmente concebido; mas confio que hábitos de meditação regularam, e deixaram meus sentimentos em estado de alerta, que minha descrição de tais objetos excitam de tal modo estes sentimentos que, se verá, carreiam consigo um objetivo. Se esta opinião estiver errada, tenho pouco direito ao nome de Poeta. Pois toda boa poesia é o inundar espontâneo de sentimentos poderosos; e ainda que isto seja verdade, Poemas aos quais pode-se vincular algum valor nunca foram produzidos por nenhuma variedade de assuntos, mas sim por um homem que, possuído por algo mais do que sua sensibilidade orgânica, também meditou longa e profundamente. Pois nossos contínuos influxos de sentimentos são modificados e dirigidos pelos nossos pensamentos, que são, realmente, representantes de todos os nossos sentimentos passados; e, ao contemplar a mútua relação destes representantes gerais entre si, descobrimos aquilo que realmente importa aos homens, e destarte pela repetição e continuidade deste ato, nossos sentimentos conectar-se-ão a assuntos importantes, até que no final, caso sejamos originalmente dotados de muita sensibilidade, produzir-se-ão tais hábitos de mente, que, obedecendo cega e mecanicamente os impulsos destes hábitos, descreveremos objetos, e sentimentos profundíssimos de tal natureza, e em tal conexão uns com os outros, que a compreensão do Leitor precisa necessariamente ficar iluminada em algum grau, e seus afetos, fortalecidos e purificados….o sentimento desenvolvido confere importância à ação e à situação, e não a ação e situação ao sentimento. (Wordsworth, 1798/1960)

 

Silêncios

Na vida real, na psicanálise, o contraponto mais elementar que se conhece é o “Não”. Em música, as pausas no pentagrama. Na sessão de análise, o que não é falado mas demanda ser ouvido. Muitos analistas, desde Freud até Jose Bleger, passando por Bion, achavam inúteis a formulação de perguntas: procuravam pelas não-respostas. Estas subjazem ao que é falado mas é paradoxalmente escondido e apontado por ele. O desconhecido emerge naturalmente do aparentemente conhecido; o “conteúdo manifesto” e o “latente” na linguagem de Freud, o não-seio e outros aspectos do âmbito “minus” na linguagem de Bion, ou o “negativo” na linguagem de Green (Sandler, 2008). Sempre há pares antitético e paradoxais: alucinado e real.

Tanto na “música da mente” que nos cabe tentar tornar audível, como na música tal como ela é classicamente concebida, como na poesia, há algo vinculado às pausas. Pelo menos tão importantes quanto as notas, no “Silêncio eleito, cante-me. Açoite meu ouvido enrodilhado. Esfumace-me às imóveis pastagens e seja a Música que preciso ouvir”8. Esta poesia de Gerard Manley Hopkins era tão querida por Bion, que ele a citou em dois livros: Transformações e O sonho (a primeira parte de Uma memória do futuro). (Bion, 1970, 1975/1990, 1977/1996a; Hopkins, 1870/1994)

Bion – Não entendo
Myself – Talvez eu possa ilustrar por um exemplo de algo que você conheça. Imagine uma peça de escultura que é mais fácil de compreender se intenta-se que a estrutura aja como uma armadilha para a luz. O significado é revelado pelo padrão assim formado pela luz assim aprisionada – não pela estrutura, pelo próprio trabalho escavado. Sugiro que se puder aprender como falar a você de tal modo que minhas palavras “armadilhassem” o significado que elas não expressariam nem poderiam expressar, eu poderia comunicar-me com você de um modo que presentemente é impossível.
Bion – Como as pausas em uma composição musical?
Myself – Um músico com certeza não negaria a importância destas partes de uma composição na qual não houvesse nenhuma nota soando, mas algo tem que ser feito na arte existente e no procedimento já bem firmado de silêncios, pausas, espaços em branco, descansos. A “arte da conversação, tal como levada a cabo como parte do intercurso conversacional da psicanálise, requer demanda uma extensão no domínio da não conversação” (Bion, 1975/1996a, pp. 202-203)

A Poesia, destinada sempre a grupos, apresenta um perigo similar de formalismos, ou formolismos. Asfixiada na fórmula como um ser vivo no formol, sofre a tendência do impoeta (ou não poeta) de privilegiar o exoesqueleto; mais do que a música, similar à psicanálise, degenera desenvolvimento em prol de crescimento canceroso. Contra tal psicoma revoltaram-se os românticos. Poesia, música e psicanálise real (como a chamou Bion) não privilegia nem a realidade psíquica nem a realidade material, mas apenas realidade. Todas dependem, como porto (ou porta) de entrada, das impressões sensorialmente apreensíveis. Todas precisam (e não devem) transcender tal nível primário ou primitivo (onto e filogeneticamente). Talvez estejamos às voltas com algo tão impossível de ser nomeado e compreendido, mas passível de ser intuído e experimentado, que a analogia pode ser feita com a energia transcendendo, relacionada à velocidade da luz, o seu estado de matéria, coisa que os físicos, estes poetas científicos, fizeram. Nesta transcendência, adentram a algo do desconhecido que provavelmente se relaciona ao próprio desconhecido da vida.

Hegel, na Estética, atribuiu à música a função de “tornar a interioridade inteligível a si mesma”. A mesma atribuição pode ser dada à poesia e à psicanálise; graças aos românticos literários ou musicais, e dedicada ao indivíduo que sofre, a psicanálise, podemos hoje apreender o “inteligível” e o “si mesma” como algo fora do espectro abrangido pelos poderes racionais da mente. A circularidade desta inteligibilidade se dá no inconsciente, então não podemos realmente entender o que ocorre quando nos expomos à música, poesia e psicanálise, mas algo real ocorre. Mais recentemente, Theodor Wiesegrund Adorno alertou que a música é uma espécie de alternativa à “tentativa humana, sempre malsucedida, de enunciar o próprio nome, e não seus múltiplos significados”. Bion pode usar o recurso das Invariâncias, a serem procuradas em meio a múltiplas, complexas e interprenetrantes Tranformações. Tudo isso pode ser dito a respeito da poesia, onde é enorme o risco dos múltiplos significados – ou falsa poesia formolizada nas formas.

A experiência clínica psicanalítica parece-me prover uma oportunidade única de enunciar um próprio nome, justamente quando nos defrontamos com pacientes silenciosos verbalmente. Não são silêncios com interpretações ou múltiplos significados; são situações particularíssimas cujos sentidos podem ser apreendidos, ainda que parcialmente, no aqui e agora da sessão. Há silêncios ensurdecedores, cuja aparência sensorialmente apreensível denota esse sentido de alarido; há silêncios grávidos; há silêncios desconfiados, perscrutativos, irresponsáveis, provocadores, deprimidos, estimulantes, curiosos… E misturas de todos esses.

Se o estudo servir de aperitivo e evocação – talvez provocação – para algum pensar e investigar, algum objetivo terá sido alcançado e algum objeto, nutrido.

 

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Paulo Cesar Sandler
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Recebido em: 22/05/2010
Aceito em: 07/06/2010

 

 

1 Médico, psiquiatra (AMB), analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP. Mestre em Medicina (USP) e Sócio Honorário da Accademia Lancisiana (Roma).
2 A little learning is a dangerous thing;/Drink deep, or taste not the Pierian spring:/There shallow draughts intoxicate the brain,/And drinking largely sobers us again.
3 As versões brasileiras do autor de Memória para o futuro são: Bion, Volume I: O sonho (Martins Fontes, 1988); Vol. II: O passado apresentado; Vol. III: A aurora do esquecimento (Imago, 1996). Existe apenas uma introdução a esses livros (Imago, 1989); há uma tradução em italiano; em inglês, foram publicados pela Imago (1975, 1977), Clunie Press (Vol. III, 1979) e também pela Karnac, reunidos, em 1998. Existe também uma “chave”, elaborada por Paulo Cesar Sandler e Ester Hadassa Sandler, publicada na versão reunida.
4 By indirections, find the directions out.
5 Le coeur a ses raisons que la raison ne connaît pas.
6 One is one and all alone and ever more shall be so. De uma antiga música religiosa popular, Green grow the rushes-O.
7 Em inglês, no original (versão de Bárbara Reynolds): Eternal Light, that in Thyself alone/ Dwelling, alone dost know Thyself, and smile/On Thy self-love, so knowing and known. O verso escrito por Dante Alighieri é: O luce etterna che sola in te sidi,/ sola t’intendi, e da te intelletta/ e intendente te ami e arridi! Versão Brasileira (1946) de José Pedro Xavier Pinheiro, modificada. A divina comédia. São Paulo: Edigraf Ltada, vol. III, p.221.
8 Elected Silence, sing to me. And beat upon my whorlèd ear. Pipe me to pastures still and be. The music that I care to hear.

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