SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.43 número79Encontros reflexivos sobre formaçãoPara o gol: latência e identidade de gênero índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.43 no.79 São Paulo dez. 2010

 

DEBATE

 

Tendências da psicanálise contemporânea

 

Trends of contemporary psychoanalysis

 

Tendencias del psicoanálisis contemporáneo

 

 

O corpo editorial do Jornal de Psicanálise1 recebeu, em 3 de novembro de 2010, os colegas2 Elizabeth Lima da Rocha Barros, Homero Vettorazzo Filho, Luiz Carlos Uchôa Junqueira Filho e Rahel Boraks para debater o tema deste número. Nosso propósito era uma conversa em que cada um dos participantes estivesse representando uma forma do pensar psicanalítico de nossa Sociedade, não por sectarismo, mas por sabermos que cada um tem se dedicado especialmente ao estudo de determinados autores. O Homero e sua afinidade com Freud; a Elizabeth com os kleinianos; o Junqueira com a teoria de Bion e Rahel com seu longo estudo da obra de Winnicott. A troca de ideias foi regida pela cordialidade entre os interlocutores, e entre pontos de vistas tão variados foi possível abordar: as principais contribuições que tiveram em suas formações; os autores que estão despontando no cenário internacional da psicanálise; releituras de conceitos consagrados; a dimensão estética da psicanálise, entre outros.
As palavras de André Green em uma vídeo conferência proferida na SBPSP, em 2002, vem ao encontro desse debate profícuo:
"Talvez hoje tenhamos que nos apoiar em vários modelos de psicanálise que se constituíram a partir de considerações diferentes e que resultaram em estruturas diferentes. Essa é a tarefa sob a qual devemos nos debruçar atualmente. Acredito que todos os autores que representaram para mim um enriquecimento indiscutível: Freud, Klein, Lacan, Bion e Winnicott, não conseguiram renunciar ao modelo único, genérico. Ora, o modelo único é uma abstração, mas pensar vários modelos e pensar a interação entre os modelos é uma tarefa que complica muito o pensamento dos psicanalistas. Muitas vezes eles preferem as soluções mais simples".

JP – Agradecemos muito a presença de vocês aqui para este debate e iniciamos com a seguinte questão:

Em relação às teorias psicanalíticas que influenciaram a sua formação, quais as contribuições que se mantiveram e quais as transformações por quais passaram?

Elizabeth – Quero inicialmente comentar a citação feita pelo Jornal do André Green. O que mais ameaça a psicanálise na atualidade, ele não se cansa de acentuar isso, não são os ataques vindos de fora de nosso campo, mas uma tendência à simplificação do pensamento analítico, a adoção de fórmulas feitas, de estereótipos quando se olha para a teoria "do outro". É necessário colocar os diversos modelos em diálogo, esclarecê-los, inseri-los no contexto do pensamento de forma mais global, esta é de fato nossa tarefa atual. Fala-se hoje muito em pluralismo. Green tem criticado acerbamente esse conceito. Riccardo Steiner que é um profundo conhecedor da história da psicanálise, professor emérito da Universidade de Londres, concordando com Green, fala no "pluralismo líquido", na identidade "líquida" da psicanálise plural. O termo líquido é usado como empréstimo de Bauman para indicar a dissolução da identidade, dos conceitos. Isso ocorre devido ao uso excessivo do pensamento analógico que ao ser usado indica igualdades analógicas apenas. Não se trata de defender a intolerância. Riccardo cita Joseph Sandler que propunha em lugar de pluralismo a perspectiva de uma elasticidade de pontos de vista.

Voltando agora à pergunta. Vou partir da minha vivência do pensamento analítico e de sua evolução no processo de formação de minha identidade como clínica e de um certo arcabouço teórico que a acompanha. Parto, claro, de minha formação. As pessoas que me conhecem um pouco mais sabem que fiz minha formação na Inglaterra. Uma coisa que não sabia e hoje me dou conta é que aqueles anos que lá passei foram os anos dourados do debate psicanalítico, um momento do estabelecimento e da formulação teórica do que seria conhecido como a clínica kleiniana contemporânea. Nesse período também o grupo dos "freudianos contemporâneos"– – que naquela época eram conhecidos apenas como "freudianos" – em paralelo reformularam suas bases teóricas sobretudo a partir da contribuição de Anne Marie e Joseph Sandler e de um grupo de jovens analistas que gravitavam em torno deles, como Christopher Dare. Hoje essa tradição é continuada por Peter Fonagy e Mary Target, dentre outros.

De certo modo, sinto-me muito privilegiada de ter visto a história se desenrolar sob meus olhos. Tenho dito nesses últimos anos que gosto cada vez mais das minhas memórias analíticas. Por que isso? Rosenfeld,3 que talvez tenha sido o autor que propiciou uma significativa modificação da clínica kleiniana, com a sua reformulação e aprofundamento da noção de narcisismo, publicou o artigo sobre o Narcisismo Destrutivo em 1972. E esse artigo que primeiro foi apresentado na Sociedade Britânica estava produzindo uma atmosfera de efervescência intelectual. Nós (Elias e eu) chegamos em Londres em janeiro de 1977 e até nós voltarmos em meados de 86, todos os trabalhos principais da teoria da clínica kleiniana tinham sido apresentados nas reuniões científicas das quartas-feiras na Sociedade. Na época tudo era novidade, mas eu não me dava conta do significado que esses trabalhos iriam adquirir, da revolução na clínica que eles representariam. Foi uma experiência muito marcante ter tido uma formação com pessoas excepcionais no que tange à acuidade clínica e sua respectiva formulação teórica. Para ilustrar o que estou dizendo, nesse período foram apresentados os trabalhos "Transferência como situação total" de Betty Joseph,4 o trabalho da Irma Pick sobre o impacto da contratransferência, "O passado no presente" da Ruth Malcolm,5 "Organizações patológicas", de John Steiner,6 "Vício à quase morte" da Beth Joseph7, além de outros trabalhos de Edna O’Shaughnessy, Michael Feldman e Ron Britton. Esse período todo, evidentemente me marcou profundamente à medida que esses trabalhos eram bastante discutidos, criticados, justificados etc. Ao mesmo tempo em que eu fazia a formação na Sociedade Britânica também fiz o curso de formação em "Psicoterapia Psicanalítica de Crianças e Adolescentes" na Tavistock Clinic (um curso de 5 anos que acabou durando 9 anos), onde também de certo modo, viviam-se anos dourados pois ainda lá estavam as fundadoras desse curso que depois de mais alguns anos iriam se aposentar: Shirley Hoxter, Isca Wittenberg, Gianna Henry, Martha Harris, às vezes Francis Tustin e Donald Meltzer. Foi nesse período que conheci duas jovens professoras surpreendentes: Anne Alvarez e Margaret Rustin que se revelariam grandes pensadoras da teoria e da clínica na área de análise de crianças.

Essa foi também a época em que Meltzer e seu pensamento estavam em efervescência na Tavistock como reação à uma perda de espaço na Sociedade Britânica. Foram nesses anos que ministrou seu curso sobre Freud, Klein Bion, Developments of Psychoanalysis8 publicado em três volumes mais tarde. Nessa altura havia um grande antagonismo entre a Sociedade Britânica e a Tavistock. Essa rivalidade expressa por discussões críticas nem sempre amigáveis, teve um profundo impacto em minha formação como analista. Vivi esse período como uma imersão num debate entre posições muito consistentes, mas diferentes. Os momentos dos grandes debates psicanalíticos são também aqueles mais formadores de identidades e uma oportunidade frutífera de desenvolvimento do pensamento na área em questão.

Nessa época alguns analistas franceses, por exemplo, André Green e Joyce McDougall estavam presentes no debate psicanalítico. Em 1977 foi criada a primeira cátedra de Psicanálise no University College da Universidade de Londres, ocupada inicialmente por Hanna Segal, que foi sucedida por André Green no ano de 1978.

A Sociedade Britânica era dividida em três grupos (kleiniano, freudiano e independente, também conhecidos ironicamente como Middle Group). Havia nessa época seminários clínicos que eram dados por dois analistas didatas de grupos diferentes. Havia reuniões em que o material clínico do analista de uma escola era discutido pelo analista da outra orientação. Dentro do processo de passagem a didata na Sociedade Britânica você tinha que saber conversar com o seu material clínico dentro das várias orientações.

Tenho a impressão de que foram os anos mais produtivos que se seguiram às "Discussões sobre as controvérsias", posteriormente publicadas, inclusive em tradução brasileira por Riccardo Steiner e Pearl King.9 Penso que houve um período anterior mais hostil entre esses três grupos, mas acho que depois os três grupos sedimentaram-se, cada um, talvez fechados sobre si mesmos para definir, expandir e precisar a teoria subjacente às suas respectivas clínicas. Hoje não existe mais a divisão política que existiu antes e há maior interligação entre os vários grupos. Nos últimos anos, a Sociedade Britânica tem feito reuniões anuais com italianos, franceses, alemães, suíços e também participa da formação de grupos de estudo que estão sendo criados em outros países, tais como na Rússia, Turquia, Japão (Hiroshima), Dinamarca e Áustria.

Fiz muitos amigos em Londres, apesar do dito "fechamento" dos ingleses. É preciso notar que muitos, se não a maioria, dos analistas do grupo kleiniano são emigrados e creio que por isso são mais acolhedores. Tenho uma relação pessoal muito próxima com Hannah Segall, com Betty Joseph, Ruth Malcolm, John Steiner, Riccardo Steiner, Lyz Spillious, Anne Alvarez, Margareth e Michael Rustin. Hoje, somos muito próximos também de Thomas Ogden, uma relação que desenvolvemos nos últimos anos. (Ogden trabalhou um ano na Tavistock). Além de uma identidade pessoal que temos (Elias e eu) com ele, o considero um autor que mais contribui para aprofundar nossa reflexão sobre a técnica psicanalítica, tendo redimensionado o conceito de rêverie como parte da contratransferência e lançado novas luzes sobre a noção de simbolismo em psicanálise.

JP – Quais seriam os conceitos fundamentais presentes em sua clínica?

Elizabeth – Eu diria que o conceito de narcisismo destrutivo do Rosenfeld é central além da noção de acting-in na transferência muito aprofundado e revolucionado por Betty Joseph. Incluiria também as contribuições mais recentes do Britton sobre crenças inconscientes, assim como o aprofundamento da discussão da questão dos conceitos clínicos de "narcisismo de pele fina e pele grossa" (inicialmente introduzidos por Rosenfeld). É difícil precisar quais os conceitos mais importantes. Estão presentes também toda a riqueza da conceituação oferecida por Segal sobre a presença das fantasias inconscientes na clínica, a teoria da função alfa desenvolvida por Bion, as descrições e elaborações teóricas sugeridas por Ron Britton referente às oscilações entre as posições esquizoparanoide e depressiva, seu trabalho sobre a elaboração do conflito edipiano como elo necessário para o desenvolvimento da atividade de pensamento. Também mencionaria John Steiner com a teoria das organizações patológicas. Entre os autores mais recentes, destaco André Green, Thomas Ogden e Stefano Bolognini. Gostei muito de ter vivido o que vivi em Londres e também gosto muito de não estar mais lá. Vivi numa sociedade que me propiciou uma imersão numa determinada visão teoricaclínica que era muito consistente, o que foi muito valioso para mim, e ao mesmo tempo adquiri ao voltar para São Paulo uma distância para estar aberta a outros autores e outras indagações e desenvolver um estilo próprio. É nesse sentido que essa aproximação e essa distância me parecem fundamentais.

JP – Quais os conceitos kleinianos que se transformaram ao longo do tempo e que conceitos você incorporou na sua prática vindos de outros enfoques?

Elizabeth – Principalmente a noção de rêverie de que falei antes a partir dos trabalhos do Ogden e do Antonino Ferro, no sentido da representação na mente do analista daquilo que a dupla está produzindo. Penso que o Bion explicitou, aprofundou, desenvolveu, revolucionou, muito daquilo que a Melanie Klein tinha apenas esboçado. Acho que o Ogden10 naquele artigo "A matriz da transferência" e depois no livro A matriz da mente11 descreve os pilares da teoria kleiniana melhor do que qualquer kleiniano inglês. Por sinal o livro do Luiz Claudio Figueiredo e Elisa de Ulhoa Cintra12 também se constitui numa das melhores reflexões sobre o pensamento de M. Klein que conheço. Acho que toda a discussão da figurabilidade do inconsciente, a noção de símbolo, são coisas que estão evoluindo. Diria também que a transferência passou a ser vista mais como processo do que como uma manifestação singularizada. Mudou também a análise dos sonhos que passam a ser vistos como formas de pensamento inconsciente e como manifestação de como opera o processo de elaboração (working through) no campo do simbolismo. De onde tudo isso veio? É difícil dizer. Veio do debate, das críticas, das reavaliações do sistema kleiniano, da crítica de André Green, das releituras de Winnicott elaboradas por Ogden, Antonino Ferro, Stefano Bolognini, V. Buonaminio. Das reflexões de Julia Kristeva, de minhas próprias experiências, de conversas com amigos aqui de São Paulo, de nosso contato frequente com Thomas Ogden, de debates em nossas sociedades, dos trabalhos de nossos colegas de Porto Alegre (Eizirik, Raul Hartke, Sergio Leukowics, Ruggero Levy) de conversas com Ricardo Bernardi, Riccardo Steiner, Antonino Ferro, Stefano Bolognini, Vicenzo Buonaminio e Glen Gabbard etc.

Com referência ao que mudou no pensamento kleiniano nos últimos anos e das influencias que recebi de outros enfoques, diria que antes de qualquer coisa necessitamos corrigir uma caricatura que se faz do pensamento kleiniano em São Paulo (e também em outras partes do mundo). O que está frequentemente presente na cabeça das pessoas quando se referem ao analista kleiniano, é uma caricatura deste como aquele que está nas sessões sempre atrás da agressividade, da inveja, da hostilidade do paciente, da interpretação da separação do fim de semana traduzido em "falta que o paciente sente do analista" etc. É uma caricatura baseada mais no que foi a escola kleiniana argentina no momento em que o pensamento kleiniano chegou ao Brasil via Buenos Aires, do que na escola inglesa dos anos 50. Acho que em termos de autores kleinianos contemporâneos na Inglaterra, o Britton representa a inovação. Ele compreende a transferência de uma maneira mais ampla, como um processo e não como manifestações isoladas na relação com o analista de figuras do mundo interno do paciente. O que vê na sessão são manifestações de "crenças inconscientes" e um reviver da atmosfera interna que colore as relações objetais. Em minha clínica ao longo dos anos, a maneira como encaro as manifestações transferenciais expandiuse muito além do "aqui e agora" do calor emocional. O que faço nada tem a ver com aquilo que chamo, usando um neologismo de "transferitite", ou seja, interpretações que focam sempre a figura do analista como causa de tudo que o paciente sente. Para mim (e para diversos autores contemporâneos – franceses, italianos, brasileiros como o Luiz Cláudio Figueiredo e a Eliza de Ulhoa Cintra – que estão reavaliando a teoria kleiniana, foi Klein quem introduziu a noção do exame microscópico da relação íntima (ou ausência desta) nas relações humanas e também uma preocupação com a "qualidade de vida" do paciente ao se concentrar na observação dos minúsculos movimentos que se dão na transferência, ou seja na relação analítica.

Praticamente depois de todos os seminários dados por mim ou pelo Elias, ouço de alguns candidatos: – "Puxa você é tão diferente do que eu esperava!!" Não imaginava uma kleiniana assim"!! Claro o que essas pessoas imaginavam está baseado em caricaturas, em pré-conceitos e não no conhecimento da nossa clínica e nem mesmo na leitura de livros publicados nos últimos anos. A frase tão ouvida entre nós, "o pensamento kleiniano acabou, já era, é ultrapassado" etc, não condiz com a quantidade de obras publicados nos últimos anos na França, Itália, Estados Unidos, Alemanha, Argentina e Brasil sobre este pensamento. O que deixou de existir, e isso é muito positivo, é uma adesão a uma autora, Melanie Klein, colocada à margem do movimento psicanalítico como um todo e chefe de escola. Ela sempre recusou essa posição. E agora, com os novos trabalhos que pipocam pelo mundo, Klein está tornando-se parte essencial do pensamento psicanalítico como um todo.

JP – Pensando nas teorias de Freud, de Melanie Klein, de Bion, de Winnicott, que modificações técnicas importantes podem ser observadas?

Elizabeth – Posso responder por mim. A minha técnica evoluiu no sentido de procurar uma maior sintonia com o timing em relação aquilo que quero comunicar a meu paciente, ou melhor dito, minha observação/interpretação para o analisando. Não gosto do termo "paciente", de forte conotação médica, prefiro referir-me a "analisando", porque acho que este termo corresponde melhor à descrição de um processo ativo para os dois lados. Muito de minha forma de compreender meu analisando deriva-se do conceito de fantasia inconsciente da maneira como aprendi a detectá-la e observá-la em meus cinco anos de supervisão com Hanna Segal e do conceito de act-in na transferência, a partir também de minhas supervisões de muitos anos com Betty Joseph. Contudo hoje sou mais cautelosa em comunicar aquilo que observo ou construo a partir da maneira de meu analisando se relacionar comigo e com o mundo. Digamos que hoje estou mais atenta ao que chamaria temperatura da relação transferencial. É muito útil descrever para o paciente como ele funciona com diferentes lógicas simultaneamente. Frequentemente é preciso descrever esse funcionamento antes de compreender processos identificatórios e inconscientes que estejam presentes. Diria também que minha maneira de encarar os sonhos se ampliou bastante. Tendo a vê-los como uma expressão do cenário que exemplifica a maneira como a mente funciona e pensa inconscientemente, uma mostra de como se dá o processo de elaboração no nível do simbolismo. Em decorrência disso minha visão dos processos simbólicos tornou-se mais complexa. Não acho que os pacientes ataquem simplesmente os elos (links), as cadeias conectivas existentes em sua relação com o analista. A mente humana ataca o símbolo no próprio processo de sua constituição.

JP – Respeitando a ordem alfabética vamos ouvir agora o Homero.

Homero – Agradeço a Cândida e o corpo editorial do Jornal de Psicanálise por este honroso convite que me deixou muito feliz. Iniciando pela questão da minha formação: ela se fez em um ambiente muito doméstico; em instituições aqui de São Paulo, Instituto Sedes Sapientiae e SBPSP, às quais devo bastante, mas também doméstico porque a origem de meu incessante interesse pela vida mental e pelo constituir-se sujeito se fez a partir de minha primeira análise pessoal. Minha decisão em procurar análise foi estritamente por angústia. Na ocasião, eu era recém-formado em medicina e meu direcionamento profissional, até então, não era ser psicanalista, tanto que não prestei residência para psiquiatria. Naquele momento não foi fácil conciliar a residência médica com a análise, que fazia quatro vezes por semana. Entretanto minha análise logo passou a ser um processo vivo em mim que me intrigava, me fazia companhia, e com o qual me identifiquei muito. Paralelamente, isso passou a interferir em minha forma de exercer a medicina, do que eu gostava muito e era reconhecido como bom clínico. Terminei minha residência em endocrinologia e em uma rápida sequência fiz meu mestrado e iniciei o doutorado. No doutorado trabalhei com questões relacionadas à puberdade e crescimento. Meu interesse pelos aspectos emocionais dos adolescentes, que faziam parte do protocolo de minha tese, cada vez mais ia se tornando alvo de minha atenção. Com isso sempre arranjava uma maneira de organizar grupos, dentro da endocrinologia. Formei grupos de diabéticos, grupo de adolescentes com problemas de crescimento, grupo das mães de diabéticos juvenis. Passei também a participar na psiquiatria da escola de grupos de estudos de Freud o que aumentou mais ainda meu interesse pela psicanálise. Essa forma de trabalhar começou a entrar em conflito com os meus interesses e com minha opção pela clínica médica e pela endocrinologia. Em minha análise pessoal cada vez mais a questão de minha passagem para a psicanálise era trabalhada em termos da sedução e das resistências ativadas por essa decisão. Foi um período longo e difícil em que experimentei a angústia dos rompimentos e dos lutos, a serem elaborados, envolvidos na tomada de uma decisão, mas também a alegria e o preço em ser livre para fazê-la. Assim, interrompi meu doutorado e resolvi que ia iniciar minha formação como analista. Em 1983 a SBPSP estava fechada para novos candidatos e um grande amigo de turma, o Francisco Algodoal que havia feito sua formação no Sedes Sapientiae incentivou-me a fazer minha formação lá. Realmente tive no Sedes, no curso que fiz de Formação em Psicanálise, um espaço de consolidação de conhecimentos, de amizades e de estímulo, fundamentais para minha formação. Naquela época o programa era estruturado basicamente no estudo de Freud e Melanie Klein. O estudo de Freud vinha marcado por uma forte influência argentina da maneira de se ler Freud já que grande parte dos professores era de refugiados políticos que abandonaram a Argentina em função da ditadura militar. Na leitura de Freud não se privilegiavam os textos de grandes sínteses freudianas, como, por exemplo, as Conferências Introdutórias e outros. A grande questão era ler Freud privilegiando seus pontos de ruptura presentes e mantidos em sua obra, ou seja, de estudar um autor em sua capacidade e liberdade de questionar-se em seus próprios desenvolvimentos, de propor reformulações e aberturas em novas teorizações sem que tenha que negar sua primeiras concepções. Isso sempre me instigou muito, a ideia de não se criar sistemas fechados de pensamentos e conceitos autoexplicativos. Penso que esta minha postura solidificou-se com minha nova experiência de análise pessoal que iniciei com a Sonia Azambuja por volta de 1984. Sem dúvida foram condições essenciais em minha formação por estimularem a manter livre e ativa minha curiosidade e minhas indagações. Sou muito grato por ter sido ensinado em minha leitura psicanalítica que formular questões era muito mais importante do que procurar respostas. Na leitura de um texto a grande questão era poder suscitar perguntas e pensamento próprio. A tentativa era de se tirar os autores psicanalíticos, fosse Freud ou Melanie Klein, do uso estereotipado de suas concepções e colocá-los expostos a uma leitura crítica e viva. Como diria Laplanche, colocá-los para trabalhar. Isso foi muito rico, tanto que, para mim, a questão do quarto pé da formação, o ambiente institucional, ficou uma coisa muito marcante, sempre achei importante pertencer a instituições. Terminado meus quatro anos de formação no Sedes prestei concurso e lá permaneci como monitor e depois como professor dando aulas, supervisão, e continuando minha formação. Fiz lá um grupo de amigos psicanalistas com quem mantenho até hoje uma interlocução muito produtiva.

Em relação a esta outra questão proposta, pelo Jornal, sobre as relações entre as teorias psicanalíticas, quais as reavaliações que essas teorias sofreram e se pensamos que elas ainda continuam valiosas? Penso que todas as contribuições dos grandes autores da psicanálise continuam valiosas, seguramente elas precisam ser revistas em seus conceitos à luz das novas formas que o sofrer contemporâneo assume em analisandos que chegam aos nossos consultórios. Precisamos pensá-las levantando novos interrogantes estando, entretanto, sempre atentos para evitar uma dissociação entre a teoria e a clínica. Acho que a maneira de evitarmos isso é estarmos submetendo nossa prática aos enunciados metapsicológicos, mas, principalmente, de estarmos sempre repensando a metapsicologia a partir da clínica. Nesse sentido, concordo com o pensamento de Silvia Bleichmar que propõe a clínica não como o lugar em que se produz a teoria, mas como espaço em que se formulam interrogantes questionando- se assim teorias sustentadas como convicções. Essa é uma maneira de separar elementos fecundos de uma teoria, a serem usados e pensados em nossas próprias teorizações, de conceitos repetidos como convicções que ficam estéreis pelo caráter dogmático e autoexplicativo.

Quanto à outra questão sobre autores contemporâneos que abriram para mim perspectivas novas em meu trabalho clínico e no meu pensar psicanalítico, eles são vários. O primeiro deles foi Laplanche. Comecei a lê-lo desde o início de minha formação. O que vejo de muito rico em sua obra são as discussões que ele propõe em seus seminários13 em interlocução sistemática com os textos freudianos e com outros autores. Isso foi essencial para aprender a questionar os conceitos e a desenvolver uma capacidade teorizante a partir de minha clínica. Fédida e Piera Aulagnier, também são dois autores que marcaram muito meu pensar e minha escuta analítica ainda na primeira década de minha formação quando comecei, com grupos de amigos psicanalistas de diferentes instituições, a estudar mais sistematicamente suas obras. Por exemplo, fiz supervisão com Claudio Rossi durante muitos anos, quando estava ainda em formação no Sedes, convidou-me a estudar Piera Aulagnier14 (1979b) com ele e um pequeno grupo de colegas, hoje grandes amigos. Piera é uma autora que nunca mais parei de consultar e de repensar seu pensamento motivado por questões da minha clínica. Sua concepção sobre sombra falada15 me traz elementos muito fecundos para repensar a questão dos sistemas de Ideais, sob o vértice da pulsão e de nossa condição primordial de objeto mesmo quando nos apresentamos como sujeitos. Essa concepção permitiu-me levantar e articular muitas questões sobre a função do narcisismo freudiano e sua derivação no sistema de Ideal, na constituição da subjetividade, tema que até hoje me intriga primordialmente a partir da clínica. Quanto ao Fédida comecei a interessar-me por seu pensamento desde quando ele vinha para São Paulo, basicamente todos os anos, quando ficava a semana inteira com uma intensa programação de seminários teóricos e clínicos. Eram semanas em que, tendo nos preparado anteriormente estudando sua obra, parávamos o consultório para fazer uma imersão no pensamento do Fédida e nas aberturas de escuta trazidas nas discussões clínicas com ele. Penso que com Fédida aprendi algo fundamental para minha postura clínica, a distinção entre familiaridade e intimidade. Entender que o familiar era o oposto ao íntimo na escuta das palavras como na relação com seu analisando, me permitiu ter uma visão mais viva do que é inconsciente em sua materialidade e íntimo. Para mim, na obra de Fédida,16 é fundamental sua proposta de que o analista tente desinvestir as palavras do sono que a fala familiar, cotidiana, mantêm para que possam ser escutadas em suas ressonâncias com o desenho interno da língua que trazemos no íntimo de nossas marcas mnêmicas, ou seja, aquilo que os poetas tentam resgatar na escritura das palavras. Outra questão, ainda na tentativa de acesso ao íntimo é o que Fédida17 postula como "sítio do estrangeiro" que se caracteriza muito mais pela ausência da presença familiar do analista do que por sua presença ausente no íntimo em jogo no encontro. Acho que é um contexto muito importante para se pensar metapsicologicamente a questão da neutralidade, do desejo do analista, sob o vértice do que é intimidade em um processo. Nesse sentido, me lembro de uma colocação de Fédida em suas supervisões em São Paulo que me fez refletir muito: a de que psicanálise não é humanismo. Não pode acontecer a não ser em um processo em que envolva dois indivíduos humanos, mas não é humanismo, nem um processo de trocas puramente intersubjetivas.

Outra autora contemporânea que marcou muito meu pensamento, já a partir da segunda década de minha formação, foi Silvia Bleichmar, uma psicanalista argentina que fez seu doutorado sob orientação do Laplanche, mas que sempre manteve um pensamento autônomo e questionador, com um posicionamento metapsicológico muito claro em suas discordâncias tanto com Laplanche como com outros autores com quem mantém interlocução em seus textos e livros. Minha relação com Silvia Bleichmar e sua obra vem desde 1994, quando ela começou a vir para São Paulo, cada dois ou três meses, a convite de um grupo de analistas de diferentes instituições, interessados em sua obra. Normalmente estudávamos previamente e depois discutíamos com ela questões levantadas nos Seminários que ministrava anualmente no Hospital de Niños de Buenos Aires. Durante todo esse tempo mantive também supervisões com ela até cerca de cinco anos atrás quando morreu precocemente. Minha iniciativa em começar a atender crianças veio de minha relação com Silvia. Sempre me impressionava a sua forma viva, direta e sincera que abordava as crianças em seu trabalho clínico. Conceitos muitas vezes abstratos ou mesmo tidos como míticos como recalque primário ganhavam corpo em sua escuta e em suas intervenções vivas na clínica. A leitura de seus seminários me ajudou muito a pensar a partir de referenciais diferentes, pois neles ela mantinha-se em interlocução direta e crítica com autores que admirava. Ela discutia com Melanie Klein, com Winnicott, com Dolto, com Lacan, com Bion, mas de uma forma em que seu pensamento não se tornava eclético e também desvalorizava a especificidade do pensamento dos outros autores. O pensamento pluralista e autônomo de Silvia desenvolvido a partir de sua crítica fundamentada, mas também de seu respeito pelas diferenças, constituíram minha base ética para eu pensar a psicanálise, a instituição e o trabalho analítico. Cheguei a traduzir, com duas outras amigas psicanalistas, um livro dela: Psicanálise e Neogênese.18 Foi uma experiência muito importante que marcou minha maneira de conceber a metapsicologia na teorização psicanalítica e no trabalho clínico.

Vim para a Sociedade já com esse espírito pluralista. Isso foi no primeiro ano que a Sociedade reabriu o processo de seleção e, infelizmente, anterior à reforma do currículo com a ampliação dos módulos eletivos e, portanto, de maior autonomia em poder traçar meu percurso. Mesmo assim, consegui escolher alguns coordenadores e supervisores que me interessavam conhecer por suas formas de pensar. Dentre eles ressaltaria minha experiência com o Sapienza com quem comecei a fazer seminários de Bion e me mantive discutindo psicanálise, enquanto fazíamos grupos de estudos de Bion. Sapienza sempre discutiu o pensamento de Bion como um sistema aberto levantando questões e estimulando o pensar. Fiz minha segunda supervisão oficial com ele e apesar de algumas diferenças em nossas formas de concepção de aparelho psíquico, nunca tive nenhum problema em minha supervisão que foi muito enriquecedora e ampliou minhas possibilidades de pensar e questionar meu trabalho clínico. Portanto, são vários os autores e psicanalistas contemporâneos que contribuíram, e que continuam contribuindo, na constituição do meu próprio pensamento psicanalítico. Entretanto, minha paixão pelo pensar desenvolveu-se em minha análise com Sônia Azambuja. Na relação com ela descobri o prazer e a autonomia dados pelo pensar. Não podia mais ficar sem pensar.

Agora, retomando a questão sobre a necessidade de reavaliação contínua das teorias psicanalíticas penso, sim, que precisamos revê-las e repensá-las para manter seus elementos férteis livres do ranço decorrente da repetição de alguns de seus conceitos sob a forma de convicções estéreis, seja na teoria kleiniana, freudiana, bioniana, lacaniana e outras.

JP – Quais seriam os ranços que você identifica?

Homero – Desde o "Freud explica", em que se satura sob uma perspectiva hermenêutica toda a abertura do pensar freudiano para o indizível do inconsciente, até a redução também explicativa do "complexo de Édipo" como sinônimo de sexualidade infantil, encobrindo todas as questões suscitadas pela problemática relacionada à pulsão e ao sexual infantil. Outro conceito a ser revisto e repensado é o conceito de narcisismo que, mesmo entre nós analistas, é usado de forma complacente e inespecífica. O próprio Freud mostra pontos de fratura em sua concepção de narcisismo. É diferente sua concepção sobre narcisismo em "Dois princípios do funcionamento mental" do que em "Introdução ao narcisismo". Penso que aí abre-se uma questão: a de se diferenciar o que é o narcisismo estruturante, fundante de subjetividade e o que é o narcisismo enquanto defesa ou como gozo, autoerótico. Sem considerar essas questões e diferenças o conceito de narcisismo pode degradar-se em uma estereotipia sem função no trabalho e na intervenção clínicos. O próprio conceito de Édipo proposto por Freud precisa ser revisto. Não é descartá-lo, mas repensá-lo tanto a partir de novos interrogantes, sejam eles decorrentes de transformações de valores e costumes em curso na cultura, como de fraturas implícitas no decorrer do desenvolvimento teórico do próprio Freud. Toda a questão pré-edípica, a relação primitiva com a mãe, deve ser repensada na obra freudiana para recuperar elementos fecundos propostos por Freud e descartar outros que não podem mais ser mantidos. As ampliações desenvolvidas por Freud devem contribuir na ressignificação de suas conceituações anteriores. Nesse sentido, repensar o Édipo à luz das relações pré-edípicas com a mãe primitiva ilumina, a meu ver, uma forma de se pensar as compulsões na clínica contemporânea. Não estaria presente em tais condições uma degradação regressiva do sentimento inconsciente de culpa, relacionado à resolução edípica, em formas pré-edípicas vivenciadas como o transformar-se em objeto de um ideal que consome? Freud se mantém em momentos de sua obra bastante fechado em um pensamento quase inativista, mas em grande parte dele pensa a constituição da subjetividade a partir de uma abertura para a cultura. Para mim a ideia do ser humano formando-se na relação com o outro, ou de tudo o que diz respeito à constituição do eu, é o que mais me fascina na psicanálise. Meu maior desafio na clínica continua sendo: pensar e intervir em um "eu" que se constitui e se apresenta no trabalho clínico em vários níveis de lógicas, concomitantes e diferentes, que se fazem presentes nas apresentações e representações subjetivas que este "eu" assume na relação transferencial. Como intervir, com que tipo de linguagem ou de ação? Acho que aí temos uma situação que põe em questão as estereotipias teóricas. Por exemplo, o que é muito surpreendente no meu trabalho com crianças, mas também com adultos, foi a efetividade clínica do conceito de recalque primário. O recalque passou de algo quase mítico para uma ação a ser constituída como ato analítico. Estou falando do recalque primário, e não do secundário, mais relacionado ao trabalho das resistências implicadas na formação de sintomas.

JP – Como você lida na clínica com essas diferenças do recalque primário e secundário?

Homero – Recalque primário está relacionado com recalque por autoerotismo, da pulsão parcial. É um recalque diferente daquele recalque de algo que já foi transcrito e articulado pelo ego. Lembro-me de um menininho de quase seis anos que quando fazia cocô não se limpava sozinho. Nas entrevistas com os pais, que eram separados, o pai, especialmente, passava algo de perverso em relação ao menino, pela forma com que exibia o filho e se exibia para o filho. Mesmo em relação à questão da criança limpar-se sozinha também havia uma visível ambivalência na atitude deste pai. Um dia, quando fui chamar o garoto para a sessão ele tinha ido fazer cocô. Fiquei esperando já prevendo que poderia ter ali instaurada uma situação que demandaria uma intervenção psicanalítica. Quando terminou de fazer cocô o garoto gritou pedindo para que o motorista o limpasse. Impedi que o motorista o obedecesse e falei: "Fulano, você vai se limpar sozinho, como qualquer amigo seu, como eu, como seu motorista. Cada um limpa sua própria bunda". Apesar da gritaria do garoto e de sua aflição em sujar as mãos, mantive minha negativa. Acrescentei que o ajudaria a lavar suas mãos e que depois conversaríamos na sessão sobre essa questão de não querer limpar-se sozinho. Passado o impasse o menino limpou-se aflito e pediu-me para ajudá-lo a lavar as mãos. O propósito subjacente à minha atitude não tinha a ver com uma questão psicopedagógica, mas com duas questões principais: chamá-lo pelo nome identificando-o em sua alteridade como um sujeito, ou seja, como um menino que já podia negar-se a ser mero objeto às suas pulsões parciais; e também de negar-me, e de impedir seu motorista, a ocuparmos esse lugar frente à sedução implícita em sua proposta. Depois disso, conversamos na sessão e eu reiterei que os homens, cada um, limpam suas próprias bundas. Esse assunto passou a ser falado em outras sessões. Ele espontaneamente falou que achava "gostoso" ser limpo no bumbum, mas que não ia mais pedir para seu pai fazer isso porque não era coisa de menino. Penso meu ato tanto como propiciador de recalque, que foi instaurando-se, como de uma função subjetivante.

JP – Vê-se mudanças na técnica também, aquela visão do Freud imparcial está longe disso.

Homero – Acho que Freud era menos imparcial, pelo menos da maneira como este imparcial é tratado. A neutralidade freudiana é você não se colocar como complementar, não se oferecer como objeto para o gozo, para o prazer parcial do paciente. Falar de neutralidade como regra técnica é um risco. Neutralidade, imparcialidade, deve ser mais pensada enquanto "sítio do estrangeiro", enquanto ausência de desejo do analista sobre o paciente, enquanto ausência de memória no sentido de excesso de interpretações que saturam o campo analítico e que estão mais a serviço da angústia do analista. Penso que a neutralidade deve ser pensada como propunha Piera Aulagnier mais dentro de uma metapsicologia da técnica. Na verdade a técnica consistiria em regras a serem concebidas como atos analíticos, com fundamentação metapsicológica, em cada relação analítica e em cada momento do processo analítico.

Luiz Carlos Junqueira – Agradeço o convite de estar aqui, é sempre importante ter essa oportunidade de fazer um esforço concentrado para refletir a atualidade da nossa clínica, da nossa teorização. Tentar fazer uma síntese também para nós mesmos e poder conviver e trocar ideias num quadro mais informal com os colegas. Diria que essa é uma das coisas boas da instituição. Outros falaram um pouco da sua formação. Vou falar bem sucintamente: eu fui para a medicina, mas tinha a absoluta certeza que a área que me interessava era a de vida mental. Eu não tinha a menor dúvida, como não tenho agora que essa escolha era por problemas pessoais meus nessa área. Não acho que foi uma boa escolha ter tentado atender a essa demanda pessoal minha por meio da medicina. Sempre penso que se tivesse estudado talvez literatura clássica, antropologia, mitologia, acho que teria sido mais útil. Mas por uma série de motivos acabei indo para a medicina. Aí eu tive um encontro com a psicanálise que acho que foi um pouco idiossincrático, à medida que, por circunstâncias pessoais, acabei encontrando pessoas que estavam ligadas à psicanálise. Pessoas que estavam muito ligadas às teorias do Bion, que naquela época estava chegando em São Paulo e causava grande interesse. Senti uma identificação muito grande no meu contato inicial com as teorias do Bion, apesar de ser muito difícil entender aquelas coisas. Tive o privilégio de conviver com pessoas que já naquela época tinham uma compreensão muito sensível dessas teorias e puderam de alguma maneira me abrir uma porta. Isso me direcionou teoricamente, na própria análise. Logo que me formei na faculdade de medicina, fui fazer a formação e foi onde praticamente tive o contato com Freud, Melanie Klein, Winnicott e todos foram autores que achei, e acho importantíssimos, a ponto de estar sempre recorrendo a eles. Sempre tive uma visão de vida mental ligada a vários campos: as artes, mitologia, antropologia, literatura. Acredito que sempre procurei ter essa visão que hoje me fascina e que eu chamaria de multiocular, aproveitando o conceito de uma visão unilateral. Esta última, é uma visão não só parcial, mas que privilegia o senso moral, à medida que define um objeto através de uma visão monocular, ao passo que uma visão binocular já estimula uma avaliação que é ética, que contrapõe possibilidades.

Se tomássemos a ideia de transformação projetiva do Bion, que é uma transformação que ocorre num espaço multidimensional, se aproximaria do que estou propondo. Tentando ser um pouco mais objetivo em relação a essas colocações que vocês fizeram, em relação a primeira questão: Quais teorias influenciaram a minha formação e que sofreram reavaliações? Diria que em primeiro lugar, sem dúvida, a teoria do complexo de Édipo, principalmente na vertente que essa teoria obriga a refletir sobre os mistérios e sobre as peripécias que estão sempre envolvidos na constituição da identidade. Isso que Homero falou, o interesse na constituição do eu é algo para o qual estou sempre voltado. Estou tentando levar adiante um projeto que tem mais de quinze anos, que é um livro sobre parcerias. Parcerias num sentido amplo, mas principalmente levando em conta que sempre o sujeito está tentando interagir com o outro no sentido da busca do próprio eu, da própria identidade. Esse é um projeto que está se concretizando e a minha ideia é enfocar parcerias entre pessoas fugindo do estereótipo homem e mulher, professor e aluno, apesar de que em algumas situações isso aparece. Por exemplo, um capítulo será sobre a relação D. Quixote e Sancho Pança, e está pronto. O segundo será sobre a relação de amor e ódio de inimigos íntimos, entre Picasso e Matisse. A ideia dessa parceria surgiu em função de uma exposição que vi no Grand Palais sobre a amizade dos dois, que me impressionou muitíssimo. Inclusive uma frase que estava escrita numa parede enorme que dizia assim: "Quando um de nós morrer, tenho certeza que haverá coisas sobre as quais o outro não terá com quem conversar". Achei isso uma coisa maravilhosa! Outro capítulo que já terminei o levantamento e preciso redigir, mas isso é uma tarefa daquelas, é sobre a relação Virgílio e Dante.

Outro ponto que para mim é muito importante é essa diferenciação que de uma forma o Bion estabeleceu entre identificação projetiva, como um processo evacuatório, e a identificação projetiva, como processo de comunicação. Isso é algo que eu uso muito.

Terceiro ponto que me interessa é a loucura, de maneira que as ideias do Bion sobre a diferenciação da personalidade psicótica e não psicótica também é algo que desde a época da psiquiatria, quando comecei a ter contato com a psicanálise, foi muito importante.

Tem os conceitos de rêverie e da função alfa, ambos ligados à teoria do pensar, mas particularmente tem outra questão que Bion desenvolve e que talvez não tem sido suficientemente aproveitada, que é a da "ideogramaticização", da transformação em imagem como continente para o pensar. Intuitivamente, sempre me interessei pela imagem. Quando eu era diretor cultural sempre procurava fazer as interlocuções da psicanálise com a arte e trazer a imagem plástica, que a partir de determinado momento comecei a chamar de representação plástica da experiência emocional. Achei que isso tinha a ver com a questão da imagem, mas mais recentemente dei-me conta que, na realidade, o que estava por trás de tudo não é exatamente a imagem, apesar de a imagem ter a ver com isso, mas é a questão da forma. Existe toda uma teorização filosófica da Susanne Langer19 sobre isso.

Em função dos modelos que Bion utiliza, fui aproximando-me dessa área da estética, com Adrian Stokes, Meltzer, Meg Harry Williams. Atualmente estou muito em contato com a Meg, pois quando ela esteve aqui tive a oportunidade de conhecêla pessoalmente: tenho resenhado seus livros e os aproveitado em grupos de estudo.

Para terminar, o quinto ponto de teorização que me interessa é também relacionado à estética, a questão da teoria das transformações do Bion, principalmente no que diz respeito à mudança catastrófica como sendo seu conceito estético principal. Isso foi desenvolvido pelo Meltzer e tem sido ampliado pela Meg pós-Meltzer20. Mas, o mais importante de tudo é saber o que é metapsicologia. Acho que isso está no cerne da psicanálise. Aí tenho escrito bastante, estudado bastante e estou convencido de que Freud, naturalmente, quando traz o nível psicodinâmico e o nível econômico, muito mais do que o nível estrutural, aí sim encontramos o cerne da metapsicologia. Penso que Freud, apesar da genialidade, no caso particularmente da metapsicologia, deixou-nos meio órfãos, porque gostaríamos que ele tivesse desenvolvido mais isso, à medida que reconhecemos que é o cerne de toda a psicanálise. Então acho que, para uso próprio, criei uma definição de que a metapsicologia "seria o conjunto dos esforços empreendidos pelo psiquismo, do ponto de vista econômico, para representar a experiência emocional por meio de um estranhamento estético". Um pouco para substanciar essa definição, voltei ao Freud e cheguei à conclusão de que seus dois artigos metapsicológicos essenciais teriam sido o artigo da sagacidade Witz, e o artigo sobre o Unheimlich: neles, vê-se o quanto Freud estava interessado em estética21. Mas realmente do meu ponto de vista quem está me ajudando muitíssimo é a Meg Harris.

Não quero estender-me muito mas, por exemplo, quanto ao conceito de identificação projetiva, comecei a estudar pelo Lacan a questão das especularidades. Comecei a desenvolver uma teorização sobre algo que, por enquanto estou chamando de identificação especular. Que seria uma modificação da identificação projetiva, talvez fosse um caso particular de identificação projetiva. O Estádio do espelho22 tem tudo a ver com a constituição do Eu.

Rahel – Vim da psicologia. Desde a adolescência tive vontade de ocupar-me com a mente humana e seus mistérios que muito cedo me interessavam e assombravam. Acho que questões absolutamente pessoais levaram-me a fazer essa escolha. Vinda de outro país me vi às voltas com questões ligadas ao fato de ser estrangeira. Surgiu a necessidade de realfabetização, de estabelecimento de novas parcerias para reencontrar as trocas perdidas e a recolocação do meu lugar no mundo. Na faculdade comecei uma psicoterapia de base analítica que durou alguns anos e aguçou minha curiosidade em relação à psicanálise. Nessa mesma época eu fazia supervisão com o Dr. Oswaldo Di Loreto que mantinha supervisões que duravam o dia inteiro. Iniciávamos nossas conversas no sábado e retomávamos no domingo tendo recebido um banho de raciocínio clínico, de indicações para leitura, além de indagações que surgiam, frutos da contratransferência. As possibilidades que a clínica oferecia em termos de encontro com o outro me fascinavam. Passados alguns anos, tendo desenvolvido minha própria clínica, procurei ter contato com pessoas que já conheciam bem Freud e Melanie Klein. Minha busca por análise sempre se deu em função das minhas angústias e foi somente depois de um tempo de análise que eu decidi entrar na instituição. No momento desta decisão, eu sentia que tinha noções muito frouxas, adquiridas em grupos de estudo. Meu interesse era saber mais, sentia que era pequena a apropriação que eu realizava em relação aos conceitos desses autores. Ter a possibilidade de aprofundar meu conhecimento sobre a obra de Freud, de Melanie Klein e poder ter colegas para trocar ideias, foi recebido por mim como um presente. No Instituto aprendi e tive contato com pessoas que conheciam bem e estavam bastante familiarizadas com a obra de Bion possibilitando que eu também expandisse meus conhecimentos e horizontes. Acontece que ao mesmo tempo em que eu prosseguia minha formação no Instituto eu dava supervisão na faculdade de psicologia e por uma questão da própria instituição à qual eu estava ligada, precisei mudar de área tendo que assumir a área de supervisão em psicossomática. Nessa época, eu conhecia melhor Freud, Melanie Klein e Bion, mas quando passei a ocupar-me dos pacientes que procuravam a clínica com questões somáticas e nenhuma capacidade de representação, percebi que os referenciais que eu tinha não eram suficientes. As relações que eram trazidas para a supervisão giravam em torno de queixas corporais, dos aspectos muito primitivos da mente, variações da "não representação’’, do "não ego" e basicamente muita concretude. Comecei a sentir necessidade de buscar uma teoria que me possibilitasse pensar de outro modo questões ligadas ao corpo, que incluísse o corpo de modo mais consistente no desenvolvimento emocional, que desse ao corpo o mesmo lugar importante que eu percebia que tinha na vida desses pacientes. Foi em Winnicott que encontrei essas novas possibilidades. Comecei a procurar grupos de estudos. No instituto, naquela época, pouquíssimas pessoas conheciam Winnicott, e acho que ninguém no instituto dava aulas sobre sua teoria, o que contribuiu para que eu fosse buscar esse conhecimento fora da instituição. O encontro com a teoria de Winnicott foi uma descoberta muito gratificante, esclarecedora e valiosa para mim em termos de clínica. Primeiro porque Winnicott tentou escapar da pretensão de colocar as coisas que ele pensava em linguagem "psicanalítica pura" evitando sempre que podia, usar os "clichês" psicanalíticos o que de cara se apresentou para mim como um desafio. Tentou escapar do estabelecido e deixar de modo mais aberto possível aquilo que ele tentava comunicar para que cada um usasse e encontrasse o seu modo de ser criador. Em um primeiro momento isso me atraiu porque me obrigava a criar, à minha maneira, aquilo que eu lia. Precisava transformar a linguagem de Winnicott no meu próprio idioma. Percebi que a minha atitude no decorrer da minha escuta e o que se passava no meu inconsciente, eram os aspectos essenciais da teoria winnicottiana que partia de uma atitude essencialmente antidogmática e colocava em destaque a objetivação da subjetividade. Nos escritos de Winnicott foi possível perceber que a realização do trabalho que ele propõe se dá pelo uso da paixão, acompanhada por intuição, empatia e intimidade. É possível ver como ele procura criar um lugar original para cada vínculo analista-analisando, procurando criar um ambiente facilitador para que surja o espaço potencial. Acho isso importantíssimo na clínica. O meu foco tem sido, criar a análise de cada um, encontrar um idioma para cada analisando, comunicar-me com cada um de uma maneira bastante singular. O que me parece ser uma contribuição importante, é o fato de que Winnicott mostrou que não era muito importante o que era dado e sim, o que cada um pode fazer com aquilo que encontra. A prioridade não é dada à interpretação que o analista oferece e sim ao uso que o analisando pode fazer.

É no brincar que se dá entre analista e analisando que as facetas que participam da mutualidade e da intimidade do par são experienciadas. À medida que fui me inteirando das proposições de Winnicott, a análise passou a ganhar uma nova dimensão sendo então, também, a resultante da superposição entre duas áreas do brincar de duas pessoas que querem estar juntas. Dentro das minhas possibilidades de brincar com os conceitos winnicottianos descobri que o corpo é uma aquisição que tem início em um soma que terá que receber cuidados, para se transformar em corpo. O que de certa forma era um terreno deserto dentro dos meus recursos analíticos, transformou-se numa área de playground que possibilitou grande enriquecimento. As questões de separação que até aí ocupavam um grande lugar no conjunto de conhecimentos que eu tinha até então, passaram a ceder espaço ao brincar criativo, à ilusão que possibilita acesso a realidade e capacidade de estar só. Fui integrando ao que já conhecia, a experiência de que não era somente a interpretação que promovia o desenvolvimento e sim, tudo aquilo que não tivesse sido percebido até então e que fosse fruto do gesto pessoal, do anseio pela experiência e que pudesse ser utilizado no sentido que Winnicott dá ao uso do objeto. (Destruição do encontrado e recriação do atacado para integração e transformação em elemento pessoal). Percebi ser importante considerar a maneira com que Winnicott lida com o paradoxo, e me dar conta de que ele diz mais do que ele pôde escrever. É possível aprender muito sobre os paradoxos da vida e da morte. A dialética dos paradoxos que percorre quase toda a obra de Winnicott e se faz presente nas questões da ilusão-desilusão, mim e não-mim, masculino-feminino, dependência-independência, verdadeiro e falso-self, dentro e fora etc. A possibilidade de expressar na minha função analítica, aspectos da minha personalidade, foi tornando-se cada vez mais parte do que eu entendo hoje como relação analítica. Passei a valorizar muito mais do que fazia anteriormente, a confiança que deve se estabelecer e se desenvolver, principalmente, quando estão em jogo aspectos psicóticos que inevitavelmente suscitam aspectos similares em mim. Hoje em função dessa valorização parece-me que, se o analista e seu analisando conseguem desenvolver um estado de confiança básica, a loucura temida e vivida no passado pode ser experienciada na transferência e o analisando pode então colocar este evento sob o seu domínio pessoal, passando a enriquecer-se e recriar sua identidade. Assim a transferência não está mais reduzida aos impulsos libidinais e suas vicissitudes. A transferência, como a vejo hoje, é uma experiência de integração do ser, do ser mais do si mesmo, que se dá pela sustentação no tempo, da continuidade e do amadurecimento. Posso dizer que a fala de Winnicott transformou-se em rabisco dentro de mim, rabisco este, que busco até hoje, de modo contínuo, completar. Aprendi a estar preparada para o inesperado. Aprendi também que cada experiência é única, distinta, livre e completamente contrária a qualquer dogma. No início, à medida que eu ia me aprofundando no conhecimento da teoria winnicottiana, vi que existiam divergências e estas me afligiam como se eu devesse então fazer uma escolha entre Winnicott, Freud e Melanie Klein, mas hoje convivo com essas diferenças utilizando o que se tornou meu, buscando criar e enriquecer por meio das diferenças do meu próprio idioma. Aprecio muito as interlocuções possíveis entre Winnicott e outros autores. Gosto de ler Winnicott e refletir sobre as relações e ou pontes possíveis com Freud, com Melanie Klein, com Christopher Bollas e Roussillon, assim como outros autores. As construções que autores pós-winnicottianos apresentam parecem-me ser a resultante do brincar com Winnicott, brincadeira esta, para a qual sempre me sinto convidada a participar. É como ter uma boa conversa com alguém. Quando isso acontece, você esquece que está tendo uma conversa. Retomando um pouco o que o Junqueira colocou anteriormente, em termos de clínica, isso corresponde a poder perder-se nos pensamentos junto com alguém ou perder-se numa conversa, ou ainda, estar absorto no que está acontecendo com o par do qual estou fazendo parte. Atualmente penso que tudo que surge numa experiência desse tipo, pode ser elaborado e integrado com o tempo, um pouco depois ou nunca acontecer, mas existe algo mutativo, gerativo e enriquecedor na própria manutenção da conversa entre duas pessoas que querem envolver-se numa parceria. O interessante é que isso não pode ser alcançado por meio de técnica, nem ser estimulado ou produzido por nenhum refinamento da técnica analítica que em si não é suficiente para produzir uma boa conversa. Tem a ver com algo que acontece entre duas pessoas e que se torna algo que interessa aos dois. Pode ser chamado de comunicação inconsciente ou química, mas de fato são duas pessoas que estão perdidas no seu pensamento e chamamos isso de conversa. – Você mesmo, Junqueira, estava destacando a importância da função especular, de alguém que busca parceria. O Homero também estava colocando o estabelecimento do eu e a constituição do psiquismo, como questões fundamentais cada vez mais frequentes em nossa clínica. Esses fatos parecem-me estar contidos no que entendo que seja a busca por alguém com quem se possa ter de fato uma conversa. É dessa forma e nesses momentos que alguma coisa pode acontecer e que me parece fundamental o ponto de vista winnicottiano com a ênfase que dá à comunicação, à entrega e ao se perder a dois. Houve um momento de um afunilamento dentro da psicanálise, fazendo pensar que bastava entender transferência e contratransferência e tudo poderia ser compreendido. Winnicott me possibilitou ver que nem tudo estava contido aí. Mostrou que para ser capaz de estabelecer a transferência da maneira como Freud a preconizava, muito amadurecimento teria que ser alcançado. No entanto, como qualquer autor, Winnicott também tem suas limitações. A questão com a qual tenho maior dificuldade é a questão ligada à não aceitação do instinto de morte. Negar esse conceito parece-me um ponto de vista muito otimista que muitas vezes não se sustenta na clínica. Existem também as nossas limitações e uma com a qual deparo-me frequentemente diz respeito à má interpretação do conceito de holding, confundido com ser "bonzinho". Esta confusão que transforma o seu conceito em uma atitude carregada de sentimentalismo, aspecto que Winnicott alertava como um risco da relação analítica. O holding, como o entendo, diz respeito à possibilidade de ir ao encontro da necessidade do outro, identificar qual é o anseio, o que não pode acontecer e quais formas de comunicação podem sustentar aquilo que uma determinada pessoa necessita para "ser".

JP – Que outras contribuições, que conceitos ressaltaria ainda na teoria de Winnicott?

Rahel – Um conceito que foi fundamental e que marcou um ponto de virada em tudo que se colocava até então em termos de psicanálise, foi a questão de que não existe um bebê sem a mãe. Isso colocou o ambiente em um lugar nunca antes ocupado, já que a ênfase estava nas questões pulsionais. Outro conceito que, sem dúvida, é o mais difundido e o de maior alcance dentro da psicanálise, é o conceito de transicionalidade e desconstrução das fronteiras que ele implica. Ninguém, até aí, tinha tocado nessa questão do espaço que separa e une, que é dentro e fora, que é subjetivo e objetivo e que antecede a capacidade de separação. O paradoxo que não deve ser resolvido e sim tolerado possibilitou muitos avanços na clínica psicanalítica.

JP – Você acha que alguns dos conceitos dos primórdios de Winnicott se transformaram?

Rahel – Sim, porque os primeiros trabalhos de Winnicott têm uma forte influência de Melanie Klein. É possível observar questões ligadas à posição depressiva que se modificaram à medida que Winnicott foi separando-se dessa influência e constituindo sua própria maneira de pensar. Outro exemplo de mudança ocorrida ao longo da obra de Winnicott diz respeito ao conceito de narcisismo que nos trabalhos iniciais está presente, para depois ser completamente abandonado e substituído pela possibilidade de viver excitação e relaxamento e todos os desdobramentos decorrentes disso. Por outro lado penso que os conceitos que Winnicott criou foram transformando-se, deixados que foram como "obra aberta", possibilitando que muitos analistas fossem relendo, criando e expandindo seu trabalho. Começou com Masoud Kahn que foi seu analisando, discípulo e editor; Marion Milner; Christopher Bollas com os livros A sombra do objeto23 e O objeto transformacional24. André Green que faz uma ponte interessante entre questões do negativo e transicionalidade e René Roussillon, que esteve entre nós há pouco tempo e que propõe um conceito de transferência paradoxal. Estes são alguns dos autores que vêm ampliando os conceitos de Winnicott.

JP – Nota-se que essa noção do espaço transicional, uma das maiores contribuições da teoria de Winnicott, vem sendo utilizada na contemporaneidade por outros modelos teóricos em psicanálise. Entre os franceses parece ter sido o primeiro conceito mais amplamente aceito e incorporado nas reflexões teoricoclínicas. Parece ser um desses conceitos unânimes em psicanálise.

Elizabeth – Nessa rodada entre nós quatro, acho que de uma certa maneira estamos todos dizendo que há sempre uma releitura desses autores, que eles continuam muito vivos. É curioso que nós quatro tenhamos falado, como centro do pensamento atual, a constituição do sujeito, enquanto eu, enquanto objeto. Acho que se está também levando em conta esse espaço transicional do Winnicott e como isso se dá dentro do processo analítico. Penso que foi um ponto em comum entre nós e curiosamente cada um, do seu jeito ao falar, terminou o discurso mais ou menos no mesmo ponto. É interessante como produto do processo de pensamento em curso, quer seja individualmente, dentro de nós mesmos, quer seja como interlocutores, chegarmos a essas indagações.

JP – Acreditam que a ampliação dos conceitos em psicanálise ocorre atualmente mais em função da clínica do que por releituras e discussões teóricas, ou pensam que é na interação desses processos que a psicanálise vai transformando-se?

Homero – Pontalis25 tem um livro que se chama Entre o sonho e a dor em que discute o pensamento de Winnicott colocando-o em interlocução e contraponto com os principais conceitos propostos pela psicanálise francesa. Termina o livro com um artigo belíssimo, dizendo que as falhas teóricas que encontra no pensamento de Winnicott são aberturas para outros desenvolvimentos e crescimento. Não desmerece as concepções de Winnicott por essas "falhas".

JP – De alguma forma já estamos aqui respondendo essa questão, se identificam alguma tendência mais geral na psicanálise contemporânea e que autores estariam despontando no cenário internacional. Gostaríamos que vocês falassem um pouquinho mais de seus interesses, que autores ainda querem citar?

Homero – Tenho grande prazer em ler Pontalis. Dizem que ele está escrevendo mais ficção do que psicanálise. Não sei, mas é um tipo de leitura em que cada palavra do texto vai depois motivar pensamentos, vai te motivar a fazer novas indagações, novas questões. É um autor que acredita que as ideias próprias sempre surgem da releitura de outros autores, ou de palavras que se ouvem de um paciente, ou de que se leu em um texto, em uma poesia. Ele acha que é nessa pluraridade que nos tornamos sujeitos e que constituímos nossas ideias por mais singulares que sejam. Chama atenção para o fato de que em nossa própria constituição, como sujeitos, temos mil maneiras tanto de nos recontarmos como de recontarmos os objetos de nossas relações. Essa pluraridade, esse conviver com a diversidade é para ele a forma de sermos singulares. É o único jeito de se descobrir singular. Portanto, não penso que ele virou ficcionista, penso que ele é uma pessoa que vem trabalhando com imagens íntimas oriundas de seu sonhar desperto ou não, e que está escrevendo sobre isso. Para mim um pensamento metapsicológico, em consonância com a definição de metapsicologia dada pelo Junqueira, está consistentemente presente em seus textos, mesmo que tenham uma embalagem ficcional.

Rahel – Acho que qualquer forma de leitura que se mantenha imutável, dogmática e insistente na busca de consenso ou mesmo de oposição, que também é consenso, acaba sendo empobrecedora. Hábitos de interpretação têm que mudar. O que está estabelecido, o já conhecido, de nós mesmos ou dos projetos que a metapsicologia propõe, tem que se estilhaçar para dar oportunidade ao surgimento do novo. Existem pessoas que acham a psicanálise interessante e útil e, apesar disso, mantêm-se em outras atividades. Tenho achado interessante buscar o que dizem. Um deles é Marc-Alain Ouaknin que tem livros interessantes sobre filosofia, linguística, tradição e psicanálise. Outro autor que gosto de ler, é um filósofo português chamado Agostinho Silva. Acho que essas pessoas que não são psicanalistas, têm muito a contribuir para a psicanálise. Com relação às questões ligadas diretamente à metapsicologia e aos conceitos de Winnicott, existe um grupo italiano pensando sobre quais outras possibilidades podem surgir da desconstrução ou de pontes criadas entre Winnicott e outros autores. Um psicanalista deste grupo é o Anthony Molino que colaborou com um livro chamado Squiggles and Spaces26 e Gemma Corradi Fiumara, autora italiana, que lançou recentemente um livro chamado Spontaneity.27 Na França tem gente muito interessada nisso, o Roussillon (nesta edição do Jornal, pp. 237-256). A Joyce Slochower nos Estados Unidos (nesta edição, pp. 217-235).

JP – São autores em psicanálise que não escutamos ou conhecemos pouco e estamos querendo compartilhar e divulgar entre os colegas.

Elizabeth – Acho que o caminho que a psicanálise contemporânea está trilhando é a de não ser só identificada como um processo do passado. Penso que vocês talvez concordariam comigo, que a psicanálise contemporânea acentua muito o presente. O futuro será o passado, se não houver o presente, para ser ressignificado, revivido, conhecido na sua profundidade. Acho que essa visão de algo transformador para o futuro e não algo que resolva os recalques, mas algo que ative o indivíduo para uma vida de profundidade, uma relação profunda com o mundo a sua volta, com as pessoas e que faça escolhas evitando aquilo que é tóxico para as nossas mentes, a mediocridade, a superficialidade. Não estou falando de uma maneira moral, mas uma relação profunda com a vida. Acho que é essa a psicanálise contemporânea, ela é desse jeito, acho que vocês concordariam comigo.

Junqueira – Bion fala muito nisso. O presente como esse lugar em que você vai gerar o seu futuro, e onde ocorre uma revivescência do passado.

JP – Pensamos que seria muito interessante saber o que vocês buscam para nutrir e manter a vitalidade da sua função analítica.

Junqueira – Civitarese28 disse que pensar psicanaliticamente é dar forma a um sentimento. A forma tem tudo a ver com a questão da estética e a estética está relacionada com o ritmo. A Suzane Langer acha que, sem dúvida, a música seria o campo por excelência da estética, do ponto de vista puro. Por exemplo, a fotografia é algo que me interessa muitíssimo, não tirar fotografia, mas entender o processo, o que a fotografia te permite refletir sobre a questão do que é o original e a questão da representação. Portanto, também tudo o que se refere à transformação e à questão da deturpação. No mundo todo atualmente, e aqui no Brasil também, há um interesse muito grande pela fotografia como arte. Temos as reflexões teóricas sobre a fotografia do Roland Barthes29 no livro A câmera clara e em outro livro fantástico: Sobre fotografia30 de Susan Sontag. A fotografia te coloca em contato com alguma coisa que não existe mais, que já morreu, mas que através da fotografia adquire uma certa vida e ao mesmo tempo é uma ilusão. Isso daí é uma coisa interessantíssima. Hoje em dia, há vários tipos de intervenção possíveis, por exemplo com Photoshop. Na hora que você tira a fotografia, depois na hora de revelá-la e depois editar a fotografia. (O enquadre da fotografia que Cartier Bresson pensava que era o mais importante no processo) e, finalmente, o tipo de visão que o observador vai ter da fotografia, o tipo de relação que ele vai estabelecer com aquele objeto.

JP – O artista, como o psicanalista, impactam o indivíduo ao habilitá-lo a ver uma verdade que nunca imaginara. Vocês estão o tempo todo falando aqui sobre a dimensão estética da psicanálise.

Elizabeth – Tendo a ver como domínio do estético, o inconsciente em processo de transformação. O que isso quer dizer? O domínio do estético é o símbolo em processo de criação ou transformação. Em trabalho recente, que foi apresentado em Londres (Dezembro de 2010), no simpósio Klein-Lacan (acreditem se quiserem, mas existe um imenso interesse pelo pensamento kleiniano atual nos países europeus!) Este simpósio dura três meses e as entradas esgotaram-se na primeira semana! Fazemos (Elias e eu) uma distinção entre o aspecto representativo e o aspecto expressivo do símbolo. É na EXPRESSIVIDADE que está contida a dimensão estética. O símbolo não articula apenas sentimentos individuais. Ele articula a vida do sentimento em si mesma, aquele princípio que subjaz à sua individuação. O símbolo nos conduz/ convida à contemplação ao articular experiências emocionais, tornando-as primeiro imagináveis e depois concebíveis e dessa forma geram novas experiências. O símbolo é um produto da imaginação inconsciente. É uma tentativa de comunicação com o não sabido (que não é o reprimido), é aquele movimento em direção à concepção do objeto; de certa forma sua criação. Ora, isso está presente na obra de arte, é isso que o artista tenta capturar através daquilo que Langer chama de forma significativa. Mas também penso que devemos ter muito cuidado com essas aproximações entre campos do conhecimento. Fazer psicanálise não é dizer o belo ou declamar poesia. É capturar a dicção poética do sonho na expressão de Ella Sharpe. Capturar o belo, conceber o belo é algo muito diferente de dizer o belo ou mesmo de produzir o belo. A dimensão estética da psicanálise é uma dimensão metapsicológica, não é um conceito clínico e muito menos uma proposta técnica.

Junqueira – A atual Bienal de Artes de São Paulo que, do meu ponto de vista não é uma Bienal de artes plásticas, é uma bienal de imagens, de vídeo-arte, de fotografia, e tem nessa área reflexões fantásticas. Por exemplo, o ano passado caiu um avião na Polônia com o presidente da República e com toda a elite governante desse país. Um artista que estava ali em Varsóvia, um vídeo artista, começou a filmar as pessoas e a entrevistar. É possível ver a ancestralidade atualizada em função de um choque nacional, o presidente nem era muito popular, mas é impressionante constatar como o psiquismo humano reage diante de mudanças catastróficas, vamos usar esse termo. Por exemplo, as teorias conspiratórias que surgiram ali no aqui e agora, "esse avião caiu porque os russos estão interessados em pegar nossos minerais, então botaram uma bomba…", chega num outro extremo alguém de dizer "isso é loucura, é paranoia, foi uma fatalidade". Esse tipo de coisa tem muito mais a ver com a antropologia, quer dizer, é muito atual, tem a ver com a imagem. Acho que estamos num momento, isso é mundial, não é só aqui não, de privilegiar-se a imagem nesse sentido da comunicação entre o observador e o objeto. Tem tudo a ver com a questão da especularidade.

Homero – Agora eu estava pensando sobre o que o Junqueira colocou no Congresso interno da SBPSP, sobre um cuidado a se ter nas supervisões. Fiquei impactado com sua colocação de que uma supervisão metaforicamente deveria ser comparada mais a "uma infusão do que a uma transfusão". Penso que isso serve para tudo na análise. Por exemplo, mesmo uma imagem estética que pode ser criada junto ao paciente, de acordo com o repertório individual de cada analista, quando colocada ao paciente deve ser feita como uma infusão, não adiantaria em nada transfundi-la no analisando. Pontalis31 tem uma frase que chega a ser engraçada e que diz mais ou menos isso: "ninguém cura ninguém, cada um é que se cura". Penso que essa ideia de infusão é, nesse sentido, muito pertinente. Assim, apesar do repertório do analista ser fundamental, é importante também encontrar analistas que possam abster-se da "transfusão" em função da demanda imediatista dos dias de hoje, essa demanda de resultado, de resposta, de êxito… Talvez a estética aproxime-se muito da psicanálise no sentido de não se propor a dar respostas. Nesse sentido ainda lembro outra colocação que chamou muito minha atenção. Foi uma colocação de Sônia Azambuja em uma entrevista que deu à biblioteca Mário de Andrade. Ela fala algo aparentemente óbvio, mas muito impactante. Diz que para ela a leitura era como o brincar, ou seja, uma atividade que sem objetivos pré-estabelecidos, mas pode ser o ato por meio do qual uma criança, ou um adulto, mais se desenvolve. O lúdico é isso e tem como contraponto o que toda criança detesta: os brinquedos psicopedagógicos. Pensar essa distinção em termos de trabalho analítico é uma coisa muito interessante. É importante que se possa criar espaço de ouvir o paciente e dele se ouvir. Freud usa a metáfora do playground para falar desse ambiente em que as transferências vão se criando e no qual a análise deve transcorrer.

Certa vez atendi um adolescente que ficava muito quieto nas sessões revelando que a distância entre nós era imensa. Percebi, nas poucas trocas verbais que conseguimos, que este adolescente tinha uma linguagem fotográfica. Ele me contava cenas: "ele de skate, uma ladeira, em um lado da calçada uma mulher com uma úlcera na perna"; "ele passando com o olhar fixo naquela perna", ao mesmo tempo, "ele com o olhar fixo em sua perna que surfava em seu skate". Ao ouvi-lo as imagens iam se compondo para mim. Falei sobre isso e perguntei-lhe se ele gostava de tirar fotografias? Ele disse que não, mas a partir de certo tempo começou a fotografar. Trazia então as fotos nas sessões e a partir delas, narrava as cenas fotografadas de um jeito em que afetos começavam a ganhar palavras. Isso me fez pensar muito sobre o tipo de linguagem presente em uma sessão. Ele a princípio descrevia cenas e na minha cabeça vinham fotos a partir de detalhes, para mim, emocionantes. Entretanto, naquela ocasião, o sentido daquilo estava perdido para ele, pois ele precisava ter primeiro a forma para depois significá-la. Foi assim que pôde, depois, começar a narrá-las trazendo palavras ao afeto. Apesar da densidade das sessões a experiência lúdica estava lá.

Rahel – Acho importante que cada um que queira ser analista siga sua própria curiosidade. Em alguns momentos é curiosidade a respeito de mim, em outros momentos a respeito da ciência e em outros ainda, curiosidade a respeito de alguma manifestação artística particular ou em relação à cultura em geral ou ao cotidiano. A teoria, que por alguma razão venha a ser escolhida por um psicanalista, teria, a meu ver, que ser encarada como algo relativamente distante da prática da psicanálise.

Digo isso porque a preocupação excessiva com a conexão entre teoria e prática pode conter o risco de transformar-se em um "como fazer". Penso que a legitimidade de qualquer teoria, está na sua função de ser uma forma de percepção às vezes mais, outras menos, profunda, por mais ou por menos tempo. Isso envolve o analista e o que ele percebe de sua própria mente. Neste sentido a arte, a "questão estética" e o sonho, tornam-se muito importantes. Emprestam forma ao que de outra maneira, não poderia ser expresso, ao que está dissociado, ao que é inaceitável, ao que não tem forma. É dessa maneira que fica revelado, o que de outra forma não se vê.

JP – Tem toda uma questão ética também em relação à percepção.

Rahel – Sim, toda percepção envolve uma questão ética.

JP– Queremos agradecer muito esta oportunidade de estar com vocês nesse diálogo cordial, respeitoso das diferenças, desse momento íntimo que compartilhamos. Foi muito interessante constatar como na realidade esses modelos em psicanálise tão diferentes dialogam enriquecendo-se mutuamente. Acreditamos que a SBPSP é privilegiada nesse sentido e que compartilhamos essa atmosfera do panorama internacional contemporâneo, de uma abertura e uma liberdade maior de intercâmbio entre psicanalistas de diferentes correntes.

 

 

1 Presentes, representando o corpo editorial, Cândida Sé Holovko, Mirian Malzyner, Marta Úrsula Lambrecht e Yeda Alcide Saigh.
2 Elizabeth Lima da Rocha Barros é analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP, fellow da British Society of Psychoanalysis, analista de crianças pelo British Society e pela Tavistock Clinic, DER pela Sorbone na disciplina de Psychopatologie.
Homero Vettorazzo Filho é médico, formado na UNIFESP, mestre em Endocrinologia Clínica pela UNIFESP. Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP e coordenador de Seminários Teóricos do Instituto Durval Marcondes da SBPSP. Professor e supervisor do curso"Formação em Psicanálise" do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
Luiz Carlos Uchôa Junqueira Filho é médico, formado na FMUSP. Especialista em Psiquiatria pela ABP. Membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP, da qual foi Presidente. Organizador dos Encontros Bienais da SBPSP e editor das publicações correspondentes. Autor de Sismos e acomodações: a clínica psicanalítica como usina de idéias (Ed. Rosari, 2003).
Rahel Boraks é membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP, membro do Corpo docente do Instituto, membro do Conselho Consultivo.
3 Rosenfeld, H. (1988). Narcisismo destrutivo e a pulsão de morte. In H. Rosenfeld, Impasse e interpretação: fatores terapêuticos no tratamento psicanalítico de pacientes neuróticos, psicóticos e fronteiriços (pp. 139-166). Rio de Janeiro: Imago.
4 Joseph, B. (1992a). Transferência: situação total. In M. Feldman & E. Spillius (Orgs), Equilíbrio psíquico e mudança psíquica: artigos selecionados de Betty Joseph (pp. 161-172). Rio de Janeiro: Imago.
5 Malcolm, R.R. (1989). Interpretação: o passado no presente. In E.M. da Rocha Barros (Org.), Melanie Klein: evoluções (pp. 101-123). São Paulo: Escuta. (também publicado em: Spillius, Elizabeth Bott, ed. Melanie Klein hoje, desenvolvimentos da teoria e da técnica. Vol. 2: Artigos predominanemente técnicos (Vol. 2, pp. 89-105). Rio de Janeiro: Imago, 1990. (E Jornal de Psicanálise, 19, (40), 39-54, 1987)
6 Steiner, J. (1991). O interjogo entre organizações patológicas e as posições esquizoparanoide e depressiva. In E. B. Spillius (Ed.), Melanie Klein hoje, desenvolvimentos da teoria e da técnica. Vol. 1: Artigos predominantemente teóricos (pp. 329-347). Rio de Janeiro: Imago.
7 Joseph, B. (1992b). O vício pela quase-morte. In M. Feldman & E. B. Spillius (Orgs.), Equilíbrio psíquico e mudança psíquica: artigos selecionados de Betty Joseph (pp. 133-143). Rio de Janeiro: Imago.
8 Meltzer, D. (1978). The kleinian development. Pertshire: Clunie Press.
9 King, P. & Steiner, R. (Eds.) (1991). The Freud-Klein controversies: 1941-45. London: Tavistock.
10 Ogden, T.H. (1991). Analysing the matrix of transference. International Journal of Psychoanalysis, 72, 593-605.
11 Ogden, T.H. (1989). La matriz de la mente: las relaciones de objeto y el diálogo psicoanalítico. Madrid: Tecnipublicaciones. (Trabalho original publicado em 1986).
12 Cintra, E.M.U. & Figueiredo, L.C. (2004). Melanie Klein: estilo e pensamento. São Paulo: Escuta.
13 Laplanche, J. (1987). Problemáticas 1: a angústia. São Paulo: Martins Fontes.
Laplanche, J. (1988). Problemáticas 2: castração, simbolizações. São Paulo: Martins Fontes.
Laplanche, J. (1989). Problemáticas 3: a sublimação. São Paulo: Martins Fontes.
Laplanche, J. (1992a). Novos fundamentos para a psicanálise. São Paulo: Martins Fontes
Laplanche, J. (1992b). Problemáticas 4: O inconsciente e o id. O inconsciente: um estudo psicanalítico, por Jean Laplanche e Serge Leclaire. São Paulo: Martins Fontes.
Laplanche, J. (1993). Problemáticas 5: a tina – a transcendência da transferência. São Paulo: Martins Fontes.
14 Aulagnier, P. (1979b). A violência da interpretação: do pictograma ao enunciado. Rio de Janeiro: Imago.
15 Aulagnier, P. (1979a). Os destinos do prazer. Rio de Janeiro: Imago.
16 Fédida, P. (1992b). Do sonho à linguagem. In P. Fédida, Nome, figura e memória (pp. 16-59). São Paulo: Escuta.
17 Fédida, P. (1992a). O sítio do estrangeiro. In P. Fédida, Nome, figura, memória. São Paulo: Escuta.
18 Bleichmar, S. (2005). Clínica psicanalítica e neogênese. São Paulo: Annablume.
19 Langer, S.K. (2004). Filosofia em nova chave. São Paulo: Perspectiva.
20 Williams, M.H. (2010a). The aesthetic development: The poetic spirit of psychoanalysis: Essays on Bion, Meltzer, Keats. London: Karnac. Williams, M.H. (2010b). Bion’s dream: A reading of the autobiographies. London: Karnac.
21 Freud, S. (1962a). Jokes and their relation to the unconscious. In S. Freud, The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud (Vol. 8). London: Hogarth Press. (Trabalho original publicado em 1905)
Freud, S. (1962b). The uncanny. In S. Freud, The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud (Vol. 17, pp. 217-252). London: Hogarth Press. (Trabalho original publicado em 1919)
22 Lacan, J. (1998). Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
23 Bollas, C. (1992). A sombra do objeto: psicanálise do conhecido não-pensado. Rio de Janeiro: Imago.
24 Bollas, C. (1994). O objeto transformacional. In G. Kohon (Org.), A escola britânica de psicanálise: The Middle Group, a tradição independente (pp. 63-75). Porto Alegre: Artes Médicas.
25 Pontalis, J.-B. (2005). Entre o sonho e a dor. Aparecida, SP: Idéias e Letras.
26 Bertolini, M. et. cols. (Eds.) (2001). Squiggles and spaces: revisiting the work of D.W. Winnicott. London and Philadelphia: Whurr.
27 Fiumara, G.C. (2009). Spontaneity: A psychoanalytic inquiry. New York: Routledge.
28 Civitarese, G. (2008). Caesura as Bion’s discourse on method. International Journal of Psychoanalysis, 89 (6), 1123-1143.
29 Barthes, R. (1984). A câmara clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
30 Sontag, S. (2006). Sobre fotografia. São Paulo: Companhia das Letras.
31 Pontalis, J-B. (2003). O laboratório central. In Green, A. (Org.), Psicanálise contemporânea (pp. 371-378). Rio de Janeiro: Imago, 2003.

Creative Commons License