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Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.43 no.79 São Paulo Dec. 2010

 

REFLEXÕES SOBRE O TEMA

 

Espelhos, reflexos, reflexões (Parte I)

 

Mirrors, reflections, reflexions (Part I)

 

Espejos, reflejos, reflexiones (Parte I)

 

 

Luciano Marcondes Godoy1

Médico, psicanalista, membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Considero a estranheza que os espelhos são capazes de provocar em nós. Comparo o espelho frio de vidro com o espelho vivo do olhar das mães. Procuramos no espelho aquilo que não conseguimos encontrar no olhar das mães. A tônica das reflexões decorre dessa analogia. Destaco vivências de aprisionamento nessa procura. Vivências primitivas intrauterinas e do nascimento são cogitadas, como registros factíveis de procura no espaço virtual do espelho. Atribuo à memória a função psíquica de transformar estímulos físicos, como a luz, em libido, ocorrendome o caso de Schreber. Comento a importância de não podermos nos ver diretamente. A função simbólica é destacada como promovedora da possibilidade do desaprisionamento do espelho. Questiono também se o mundo interno reluz no espelho. Encontro em Guimarães Rosa e Valiéri Briússov um universo de sentimentos gerados pelo mirar-se no espelho.

Palavras-chave: Aprisionamento ao espelho, Autoimagem, Espaço virtual, Imagem especular, Memória inconsciente.


ABSTRACT

I consider the strangeness that mirrors are able to arouse in us. I compare the cold glass mirror with the living mirror of a mother’s look. In the mirror, we search for what we couldn’t find in our mother’s look. The basis for these reflections derives from this analogy and I underline the experiences of imprisonment throughout this searching. Primal intrauterine and birth experiences are also considered as possible registers of this search in the mirror’s virtual space. I attribute to memory the psychic function of transforming physical stimuli, such as light, in libido, and I allude to Schreber’s case for some considerations. I comment on the importance of the impossibility of seeing ourselves directly. The symbolic function is emphasized as the element that promotes the possibility of dis-imprisonment from the mirror. I also question whether the inner world glitters in the mirror. I find in Valiéri Briússov and Guimarães Rosa a universe of feelings aroused by the act of looking into the mirror.

Keywords: Mirror imprisonment, Self-image, Virtual space, Specular image, Unconscious memory.


RESUMEN

Considero la extrañeza que los espejos pueden provocar en nosotros. Comparo el frio espejo de vidrio con el espejo vivo de la mirada de las madres. La tónica de esas reflexiones resulta de esta analogía. Destaco vivencias de aprisionamiento en esta búsqueda. Vivencias primitivas intrauterinas y del nacimiento son pensadas como registros factibles de búsqueda en el espacio virtual del espejo. Atribuyo a la memoria la función psíquica de transformar estímulos físicos como la luz, en libido, ocurriéndoseme el caso de Schreber. Comento la importancia de no podernos ver directamente. La función simbólica es destacada como promovedora de la posibilidad de liberación del espejo. Cuestiono también si el mundo interno reluce en el espejo. Encuentro en Guimarães Rosa y Valiéri Briússov un universo de los sentimientos generados al mirar-se en el espejo.

Palabras clave: Aprisionamiento en el espejo, Autoimagen, Espacio virtual, Imagen especular, Memória inconsciente.


 

 

Vivemos num espelho. Dentro de um espelho. O que vemos, vemos com nossos olhos.
"São seus olhos", diz a sabedoria popular. Mas se vemos com nossos olhos, vemo-
nos mais a nós mesmos do que ao outro. Nosso narcisismo é inexorável. Estamos
presos à nossa imagem. O espelho é um disfarce. Tire-se o espelho e, ato contínuo,
nos iludimos, pois pensamos que já agora não estamos mais diante de nossa imagem.
Puro engano. Estamos irremediavelmente presos à nossa imagem. O espelho de vidro
apenas evidencia essa prisão e por isso é embaraçoso para os mais sensíveis. É que
esses, ao mirarem-se, se darão conta desse claustro com mais evidência, ainda que
através de um pequeno sentimento de incômodo ou estranheza. Paradoxalmente, no
entanto, é o espelho também que nos apontará a necessidade de libertação, inerente
à sensação aprisionante. Mais um dos tantos fenômenos que nos contam da grande
valia do desprendimento de nós mesmos, da transcendência que intuímos, conforme
avançamos na dissolução de nosso narcisismo, fenômeno tão conhecido há séculos
pelos grandes pensadores.

 

Introdução

Este trabalho relata vivências de aprisionamento ao espelho, sensação estranha que originou inúmeras reflexões não conclusivas. Destaco a ideia de mergulho em um espaço virtual, mergulho que suscitou uma cadeia de elos, no mínimo úteis, para facilitar o retorno à superfície.

O mistério mora muito próximo das zonas pavimentadas que tentamos manter pelas nossas teorias tão reducionistas. As incursões que tentarei oferecer, nesses retalhos, foram-me impostas pelas "forças desconhecidas e incontroláveis" que habitam o inconsciente. Caminhos solitários de silêncio e ausência de sentido. O medo presente nessas incursões é o humor e cheiro do inconsciente que não garante o caminho de volta. É a força do inconsciente proclamando, conforme Groddeck (apud Freud, 1923/1969a), que de fato somos vividos por forças desconhecidas e incontroláveis.

Não há cronologia nas vivências apresentadas pelo autor, estimuladas pelo reflexo dos espelhos. As tensões emocionais que preenchem as entrelinhas deste texto encontram semelhança com aquelas apresentadas nos contos "O espelho", de João Guimarães Rosa, e "Dentro de um espelho", de Valiéri Briússov.

 

Tentativas de resgate como fator aprisionante ao espaço virtual do espelho

Poe (citado por Borges, 1986, p. 35) fala-nos de gente na Região Antártica que se vê no espelho e desmaia. Em outro artigo, Borges (1986) diz como se deve decorar um quarto, com a disposição do espelho tal que uma pessoa sentada não se veja repetida. Entendo, refletida.

Há o espelho que nos ensina e nos integra, o espelho vivo dos olhos de nossas mães e de todos aqueles que os sucederão em nossas vidas, promovedores do rêverie, auxiliando-nos, assim, a compor nossa autoimagem. Espelho vivo é o olhar de todos aqueles com os quais convivemos e interagimos mais intensa e proximamente. Há de haver momentos graves nessa trajetória em que ficamos à espera de um retorno que não vem. Como se deixássemos, em momentos cruciais, um pedaço do nosso eu aprisionado em um espelho vivo, que não notou sua chegada e que por isso não o devolveu. O registro desse fenômeno desolador irá, então, repetir-se como vivência, ao configurar-se no espelho uma tentativa de resgate e não de aceitação "a fundo perdido". Procura-se não se sabe o quê, intuindo-se, no entanto, que a procura insana é necessária para a sanidade. O espelho ou qualquer superfície especular que não a humana poderá ser usado para se reencenar o trauma e o prejuízo acima descritos. Poderá essa memória do acontecido resgatar o que se perdeu?

Aquilo que foi e não voltou deixou uma marca, uma impressão. Creio que nossa mente sabida tira, antes, uma cópia daquilo que envia, pois, esperta, admite que poderá haver "extravio de correspondência". É essa cópia-memória que, agora, poderá ser enviada ao espelho de vidro. Mas com que razão? O que se pode esperar de um ser inanimado, além de seu espaço virtual? Essa projeção, acredito, há de ter uma função: repetir o fenômeno originário com a possibilidade de demoradas e frequentes tentativas de melhor entendimento daquilo que foi projetado e perdido. Pretende-se também, por meio desse registro, dessa cópia-memória, adquirir o entendimento necessário procurado pela projeção original, ocasião em que o objeto projetado perdeu-se no espaço virtual do objeto que se pretendia fosse continente, acolhedor e transformador.

Creio que vivências como essa devem ser muito frequentes e respondem por um bom contingente de situações em que se procura em devaneios, em silêncios prolongados e em frios espelhos os objetos "a fundo perdido". Nesses casos, a prisão é caracterizada pelo tempo gasto na procura. Procura-se como se procurou no início e repete-se a situação, porque se acredita na transformação. Penso que os rituais obsessivos seguem esse caminho e o aprisionamento deve-se à não desistência e à crença em melhor sorte. São vicissitudes inerentes ao crescimento do ego, acidentes que, embora frequentes, tornam-se muitas vezes relevantes e traumáticos.

 

Sequelas de vivências com os espelhos vivos

Talvez pudéssemos dizer que, no espaço virtual do espelho, são procurados os objetos perdidos que poderíamos chamar de "espaço dos achados e perdidos". Relatos de pessoas que evitam o espelho são tão comuns que não suscitam comentários ou estranheza.

Contou-me um paciente que sua namorada não entrava em elevadores que tivessem espelho. Na academia que frequento, uma das esteiras fica diante do espelho, e é sempre a última a ser escolhida. Muitas vezes, enquanto todas as demais estão ocupadas, essa fica vazia.

No documentário "O estranho mundo do esquizofrênico", as cenas mais horripilantes davam-se diante de um espelho. O paciente, ao mirar-se no espelho, via-se fragmentado em partes, como que esquartejado. Além disso, partes de seu corpo estabeleciam entre si relações que compunham um quadro caótico, em que o encadeamento e articulações naturais exibiam um total desmantelamento. Em momento tão ou mais apavorante, o paciente, ao olhar para o espelho, nada vê.

Na história do vampiro, que tem horror ao espelho, o objeto é usado como arma contra ele mesmo. É que o vampiro não é refletido no espelho. E a madrasta de Branca de Neve consulta seu espelho mágico todo dia. Que imenso condensado de propostas traz essa história! A madrasta – a mãe má – precisa diuturnamente perguntar ao espelho se é uma pessoa boa. Perdera a oportunidade de formar bons objetos através de seu espelho vivo-mãe e procura obstinadamente, no espaço virtual do espelho mágico, o que foi perdido. E que foi achado em Branca de Neve. Matá-la seria uma forma mágica de sugá-la, para vir a adquirir esse bom objeto. A madrasta, a mãe má, é uma vítima, uma sequela de exposição a um espelho vivo que não possui a magia do rêverie. E Narciso se afoga no espaço virtual do espelho d’água à procura das partes perdidas que, possivelmente, nunca foram encontradas nos olhos-espelhos de sua mãe. Era tão premente essa procura, que pôs em risco sua vida, perdendo-a.

 

O trauma do nascimento como outro fator aprisionante presente no espaço virtual do espelho

O espelho nos coloca dentro de um espaço virtual. Como sair dele? Nossas fantasias são também espaços virtuais, herméticos. Como sair delas? Como foi sair do útero materno? O útero materno não foi um espaço virtual. Mas a dificuldade para dele sair poderá ter sido inscrita como uma fantasia e, como tal, hermética, virtual. Pouco ou nada sabemos dessa vivência. Talvez Otto Rank tenha tido muita razão ao dar tamanha relevância ao trauma do nascimento. As dificuldades de lidar com o espelho poderão expressar também essas dificuldades vividas na saída do útero – importante parâmetro para pensarmos a dificuldade de separação que nos acompanhará por toda a vida.

O hediondo crime do encarceramento, praticado pelos sequestradores e por nosso sistema penal, prima pela compulsão à repetição do trauma do encarceramento. Todos sabemos que, a partir de um determinado momento, o útero, de continente, passará a ser claustro. É quando se imporá o nascimento.

Imaginemos a situação do parto demorado, que se arrasta sem progressões. Esse debater-se sem sucesso, sem possível saída, caracteriza uma outra situação de aprisionamento, mais óbvia que a referida anteriormente, quando falamos em tentativas de resgate como fator aprisionante.

Esse claustro não seria a única vivência possível na relação com a vida intrauterina. Pensemos na situação contrária, na resistência à separação, no querer permanecer no útero. Essa permanência desejada, oponente à separação, poderá também ser vivida no espaço virtual do espelho. E então o aprisionamento ao espelho pode ser entendido como não querer abandonar esse espaço virtual, querer aí permanecer, como se quis permanecer no útero.

 

A impossibilidade de se ver

Destaque-se esse fato: não podemos nos ver. Somente os outros podem nos ver. Temos então que saber de nós pelos outros. A imagem que fazemos de nós mesmos tem como importante fator constitutivo a visão que o outro pode ter de nós. A imagem que nos é permitida pelo espelho há de ser muito diferente da imagem que teríamos, se pudéssemos nos ver diretamente. Ver a imagem especular de um objeto é diferente de ver um objeto. Precisamos do outro para formar uma imagem própria, uma autoimagem. Se isso não se fizer a contento, poderíamos nos ver aos pedaços ou mesmo não nos ver. Essa questão dimensiona o problema e a fobia consequente da procura, no espelho, daquilo que se perdeu no espelho vivo dos olhos daqueles que não tiveram olhos para ver. E, evidentemente, coloca em altíssimo relevo a importância dos olhos capazes de ver, únicos capazes de salvar a humanidade.

Dada a importância dos olhos a nos ver, pensemos um pouco na situação de luto, da perda dos objetos de amor, bem como na perda do amor desses objetos. Freud (1917[1915]/1969d) propõe o luto ou a situação de perda em que os atributos do objeto com o qual nos relacionamos retornam ao nosso ego, o que chama de narcisismo secundário. Pondera que é assim que crescemos e estruturamos nosso ego. O mesmo não se daria com o luto patológico ou melancolia, quando a sombra do objeto se derrama sobre o ego. No entanto, temos que pensar que o luto que chamamos de normal, o que faz crescer o ego, certamente estará mais ou menos pontilhado de fenômenos melancólicos. Assim, nosso crescimento se faz com sequelas. Não só pela melancolia2 que acompanhará os melhores lutos, mas porque os melhores lutos terão que lidar com a representação em nós do objeto da perda, bem como com a nossa representação, a nossa imagem no objeto que nos via e que perdemos (lembremonos que nós não nos vemos). Há como que uma verdadeira movimentação de placas tectônicas, na dinâmica do luto, o que se fará com perdas. A procura dessas perdas se dará também nos espelhos de vidro?

Víamo-nos nos espelhos vivos, nos objetos que perdemos, e as imagens que de nós foram construídas nesses objetos, nós as introjetamos em relacionamentos de qualidade enriquecedora. Com a perda desses objetos, diminui fatalmente o brilho das representações introjetadas, tanto as que diziam respeito ao objeto da perda quanto as das imagens constituídas nos objetos da perda. Creio que são representações diversas, a do não eu em mim representado e a representação da minha imagem no não eu constituída. O outro, os olhos do outro são a condição sine qua non para que eu faça dele uma imagem, bem como para que eu tenha de mim uma imagem.

 

Queda da função simbólica, uma possibilidade

O sujeito pode ser enfraquecido, tornar-se esquálido, e sua sombra (seu reflexo, sua imagem) tornar-se soberana. Isso está fartamente apresentado no conto de Briússov (1903). Diz sua personagem, em seu ataque ao espelho: "Quebrar o espelho, converter minha rival em nada … derrotá-la por meio de força bruta significará reconhecer sua superioridade sobre mim; isso seria humilhante" (p. 305). Mas se, de alguma forma que desconhecemos, tal força pode ser delegada à imagem, ao reflexo, nesse binômio objeto (sujeito) e seu reflexo, a maior força do reflexo poderá aprisionar o objeto (sujeito). Esse jogo de forças de atração e repulsão operará entre as estruturas componentes do self, comandando as vivências de separação e aprisionamento experimentadas diante do espelho.

De que natureza seriam essas forças psíquicas? Quando conjeturamos sobre a soltura da imagem e do objeto que gera a imagem, falamos de um terceiro elemento: a linguagem e a função simbólica que contrasta com esse jogo de forças que estamos referindo. Para Ferrari e Alcântara (2004, p. 13), a linguagem é a mediadora, como um terceiro que se interpõe entre o eu e o outro. Na função simbólica, teremos que considerar a qualidade da energia psíquica da libido e não a quantidade. É a função simbólica que permite a vivência da separação, que se daria também entre o objeto (sujeito) e sua imagem. A queda da mesma nos levaria à vivência de aprisionamento ou de fusão, conforme o grau de acometimento dessa função. Estamos familiarizados com a ideia de que, adquirida essa função, poderemos com ela contar em qualquer instante. Proponho, no entanto, que existem instantes mais ou menos prolongados em que isso não se dá. Então teríamos que viver o aprisionamento, em que o jogo de forças opera regido pela atração e repulsão entre as estruturas que se confrontam. Seriam momentos de blackout da função simbólica, esta primordialmente adquirida na interação com o espelho vivo-mãe suficientemente boa.

 

A memória como fator da função simbólica

Algo sutil e muito complexo, em termos de discriminação, coloca-se para a função mental, no que diz respeito à sua condição perceptiva. Trata-se de diferenciar a imagem especular não só da imagem do objeto que gera a imagem especular, mas também da imagem especular que surge na memória consciente do objeto que gerou a imagem especular. Acontece que a imagem que foi retida na memória inconsciente pode ser trazida à consciência pelo esforço da vontade de lembrar.

A memória é a vitória da separação, é a possibilidade da separação, é o que permite que se prescinda da imagem especular à qual o objeto estava preso, porque é capaz de assimilá-la. A memória permitirá lidar com a separação da imagem especular, viabilizará essa separação, pois gera uma situação em que a ausência não é falta, tal qual a função simbólica o permite. Estamos propondo a memória como representação simbólica, como expressão da função simbólica, o terceiro elemento, o que possibilita o desaprisionamento. Carlos Drummond de Andrade (1970) diz, em seu poema "Ausência":

Por muito tempo achei que a ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
… Porque a ausência, essa ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.

Nossa função mental sabe, consciente ou inconscientemente, que a nossa imagem de objeto postado diante do espelho será registrada por nossa memória inconsciente. Os pontos luminosos que partem do sujeito serão refletidos pelo espelho e, ao retornarem ao objeto (sujeito), comporão, com os estímulos internos deste, numa síntese projetiva, a imagem especular, bem como a memória desta, a memória inconsciente.

Quando nos afastamos do espelho, ao acionarmos, na sequência, a nossa memória da imagem especular inconsciente, teremos apenas parcialmente a reprodução da imagem especular – memória consciente. O que nossos olhos puderam apreender, ao olhar para o espelho, é apenas uma parte do retido pelo inconsciente. Poderá ficar uma insatisfação que nos mobilizará para tentarmos resgatar um maior contingente da imagem, sem que o consigamos, por mais que tentemos. Quanto mais obstinadamente tentarmos, menos conseguiremos, pois nossa mente estará saturada por nosso desejo de memória e de compreensão. Esse procedimento fere a proposta de Freud, reforçada por Bion, de se permanecer "sem memória, sem desejo e sem necessidade de compreensão". O aprisionamento nessa tentativa seria o castigo pela inobservância da proposta referida.

Pensemos na impossibilidade criada pela pretensão de se ter in totum, em nosso consciente, através da memória consciente, a imagem registrada em nossa memória inconsciente. Caso não abdiquemos dessa impossibilidade, estaremos agindo de forma aprisionante. Para William James, citado por Horney (1966), nada poderá nos proporcionar maior alívio que o abdicar do impossível. E Horney dá ainda mais força à proposta, dizendo que esse alívio é de tal ordem que é maior que o alívio que seria proporcionado se conseguíssemos realizar o impossível.

Temos que considerar que esse exercício de memória, dentro de limites, poderá melhorá-la. No entanto, temos que perceber quando estamos sendo atraídos pelo impossível. E o espelho parece-me ser campo estimulante nesse sentido, a começar pelo fascinante espaço virtual infinito com o qual nos coloca cara a cara.

Ao nos libertarmos do ato de mirar nossa imagem no espelho, ficamos com a efêmera memória dessa imagem. Isso pode ser tormentoso, pois aquilo que foi memorizado poderá ter sido de uma substância sem alma, o que demandará a injeção de alma nessa memória, operação feita pela própria função da memória. Por que reter na memória a imagem recém- vivida, recém-percebida no espelho? Para que trazê-la e mantê-la na memória? Para trabalhar essa imagem dentro de si – espelho vivo –, digerindo, elaborando o que o espelho só foi capaz de mostrar e quiçá agravar.

 

Que importância tem o espelho em nossa autopercepção?

Incapazes de rêverie, os espelhos lançam-nos, no entanto, numa revolução de experiências afetivas. O espelho tem o poder de nos atrair, mais um fator de aprisionamento a ser considerado. E por quê? Talvez porque atraia para o seu espaço virtual alguma porção da miríade de reflexos e reflexões componentes de nossa autoimagem criada pelos aspectos vivos, nas nossas relações com nossos objetos primordiais. Soma-se, para reforçar essa atração, a tentativa de procura dos objetos perdidos que não foram acolhidos e transformados, nas vivências com os espelhos vivos, proposta já apontada anteriormente.

Com que entraria o espelho na síntese perceptiva, objeto de nossa consciência? De que é feita a síntese perceptiva do objeto postado diante do espelho? Que estímulos são acrescentados ao objeto observador? Estes estímulos, oriundos dele próprio, conferem-lhe uma percepção que sem o espelho não tinha, e que agora, com o espelho, é diferente daquela que possuía de si mesmo. Teria sentido falarmos de imagem não visual? A autoimagem é não visual?

Voltemos à questão dos estímulos que são acrescentados ao objeto observador que está diante de um espelho. Salta naturalmente à vista o concurso da imagem visual, que é algo a mais, somado a tudo aquilo que foi recebido por via dos espelhos vivos, de rêverie, e que só o espelho pode emprestar, pois nossa visão direta de nós mesmos está restrita ao nosso campo visual (não podemos, por exemplo, ver diretamente nosso rosto nem a face dorsal de nosso corpo).

Consideremos a visão dos cegos, especialmente dos cegos de nascença. Qual é a visão de mundo dos cegos? A eficácia do espelho vivo-mãe pode prescindir do aparelho visual de seus filhos? Sabemos que, nos primórdios da organização mental da criança, esta é principalmente sensível às manifestações afetivas da mãe, e não às formas e cores. Quais serão de fato os prejuízos dos cegos, referentes à sua vida mental?

Pensemos no fenômeno das miragens, este curiosamente determinado não pela reflexão, mas pela refração da luz. Como a visão, como as imagens ditadas pela luz nos iludem, nos enganam, nos aprisionam! Os cegos estariam livres disso? Que situação análoga ao aprisionamento no espelho se daria com os cegos?

 

O poder da imagem especular

O objeto postado diante do espelho emite estímulos para a superfície especular que são não somente os que recebe de uma fonte luminosa, mas estímulos próprios. O espelho também entrará com algo na constituição da imagem especular. Diferentes espelhos, de diferentes qualidades, constituirão diferentes imagens. A imagem do objeto, vista diretamente por um observador, é diferente da imagem desse objeto, vista no espelho. Muitas transformações se darão no percurso objeto-espelho-olho do observador. A imagem, uma vez produzida, passaria a ter vida própria?

Nas transformações referidas, admito a possibilidade de a imagem especular dar relevo ou mesmo revelar o que a mirada direta no objeto possa não captar. E, ao fazê-lo, seduzir o objeto, captá-lo, prendê-lo, num exame e numa procura de entendimento daquilo que está sendo apresentado. Dentro dessas considerações, teremos que admitir que diferentes são os espelhos e, consequentemente, as revelações. Briússov (1903) descreve uma série de espelhos:

Mas notei que cada espelho tem seu mundo particular, próprio. Ponha dois espelhos num mesmo lugar, um depois do outro, e surgirão dois universos distintos. E em distintos espelhos à minha frente, surgiam espectros distintos, todos parecidos comigo, mas nunca idênticos entre si. No meu pequeno espelho de mão, vivia uma garota ingênua de olhos claros, que me trazia à memória os primeiros anos de mocidade. No redondo espelho do toucador, escondia-se uma mulher que havia experimentando as mais variadas doçuras das carícias, sem pudor, livre, bela, atrevida. Na porta espelhada retangular do armário, sempre aparecia uma figura severa, autoritária, fria, de olhar implacável. Eu conhecia ainda outras sósias – no meu espelho do aparador, no tríptico dourado de vidro, no espelho suspenso na moldura de carvalho, no espelho pendurado em meu pescoço e em muitos e muitos outros que tenho guardado comigo. A todas as criaturas que neles se escondem, eu dava o pretexto e a possibilidade de manifestarse. Devido às estranhas condições do seu mundo, tinham de assumir a imagem de quem se pusesse diante do vidro, mas, nessa aparência emprestada, conservavam seus traços pessoais. (pp. 302-303)

O que poderia afligir um observador sensível e atento à percepção de sua imagem no espelho? Essa aflição perceptiva, essa qualidade afetiva é uma aproximação ao que venho chamando de "vivência de aprisionamento ao espelho". Admito a possibilidade de correlacionar a referida aflição perceptiva com sedução. São, a meu ver, vivências cotejáveis. Há, na sedução, um incômodo disfarçado em prazer. Na dinâmica da sedução, decorre um grau acentuado de controle, de controlado e controlador. O espelho então afligiria e seduziria. Isso se dá na necessidade incontida de procura, em que não se sabe o que se procura, o que pode demandar tempo, demora vivida como aprisionamento.

 

A culpa na miragem especular

A imagem é uma ilusão de ótica, como o é a miragem dos desertos, que engana propondo um oásis. O emocional vigente no prisioneiro da imagem impede-lhe, naquele momento, de se aperceber que está diante de um universo de luzes e sombras. É importante considerar que, no caso das miragens dos desertos escaldantes, além do óbvio fenômeno descrito pela física óptica, fenômeno da refração da luz (que explica o surgimento de um miraculoso volume de água), há que se considerar o igualmente escaldante desejo de encontrar água. E esse desejo alucinado afasta a percepção realista do fenômeno explicado pela física óptica.

Qual o emocional que nos prende ao espelho? Qual a necessidade pungente possível naquele que se mira no espelho? Temos que considerar nossa companheira diuturna, a culpa, consciente e inconsciente. Lembremos que, em pleno século XXI, a cultura reinante em todo o nosso planeta pede punição para os crimes praticados e elege a prisão como seu universal instrumento. O espelho presta-se para isso com seu enigmático espaço virtual.

O espelho, objeto cunhado para a reflexão, seria um sorvedouro por excelência das projeções, sendo estas um mecanismo inerente às funções mentais. E se portaria como que a potencializá-las. Trata-se, portanto, do encontro da dinâmica mental projetiva com a superfície que se define pela dinâmica do refletir, que é o espelho. E quando recebe os projetados conteúdos esquizoparanoides, tem sua força sorvedoura redobrada, pois tais estruturas operam sangrando o eu, enfraquecendoo, dividindo-o. O espelho as estampa, ampliadas. Por isso dizemos, referindo-nos a atos que censuramos, que se os praticássemos, não poderíamos mais nos olhar no espelho.

Ao olharmo-nos no espelho, o difícil é libertarmo-nos da ilusão de que estamos diante de nós mesmos. A imagem é a síntese de estímulos luminosos e de estruturas psíquicas acionadas por estes e outros estímulos concomitantes. Quando nos aprisionamos à imagem é quando nos confundimos com ela. Quando se discrimina o sujeito de sua imagem especular, desfaz-se o aprisionamento, a ilusão. Nós nos aproximamos mais daquilo que somos, através de nossa autoimagem, mas novamente nos iludimos, posto que também não somos nossa autoimagem. O grau maior da libertação se dá com o desprendimento, fenômeno de transcendência ou do vir a ser "O" de Bion. Nossa autoimagem é também uma ilusão que pode nos levar a uma identificação restritiva e empobrecedora. Nossa autoimagem se transforma com as transformações de nosso mundo interior. A magia da ilusão confere à imagem especular seu poder aprisionante que poderá tornar-se assustador. E a força dessa magia é proporcional ao grau de narcisismo da estrutura mental operante.

Rosa (1964) fala-nos desse poder do espelho, que o torna assustador:

Temi-os, desde menino, por intuitiva suspeita. Também os animais negam-se a encará- los, salvo as críveis exceções. Sou do interior, o senhor também; na nossa terra, diz-se que nunca se deve olhar em espelho às horas mortas da noite, estando-se sozinho. Porque, neles, às vezes, em lugar de nossa imagem, assombra-nos alguma outra e medonha visão. (p. 73)

A ilusão pertence ao mundo da idealização, em que se cria um objeto (imagem) que é a continuação do desejo, sendo este, por sua vez, como que uma continuação do objeto (sujeito). É o objeto (sujeito), como consequência, aprisionado ao objeto (imagem). A força do aprisionamento é a força do desejo. Assim, o objeto criado é a extensão do desejo que, por sua vez, é a extensão do objeto criador.

O jogo caleidoscópico de luzes e sombras dá infinitas formas à imagem especular. Facetas de nosso mundo interno entram na sua constituição em diferentes sínteses. Sendo assim, criar-se-ia, num determinado momento, uma imagem aprisionante e, em outro momento não, pois será outra imagem especular, outra talvez por reluzir em menor intensidade as facetas aprisionantes de nosso mundo interior.

Rosa (1964) nos conta "sob segredo" e "sob palavra":

Mas, o senhor estará achando que desvario e desoriento-me, confundindo o físico, o hiperfísico e o transfísico, fora do menor equilíbrio de raciocínio ou alinhamento lógico – na conta agora caio. Estará pensando que, do que eu disse, nada se acerta, nada prova nada. Mesmo que tudo fosse verdade, não seria mais que reles obsessão autossugestiva, e o despropósito de pretender que psiquismo ou alma se retratassem em espelho… São sucessos muito de ordem íntima, de caráter assaz esquisito. Narroos, sob palavra, sob segredo. Pejo-me. Tenho de demais resumi-los.
Pois foi que, mais tarde, anos, ao fim de uma ocasião de sofrimentos grandes, de novo me defrontei – não rosto a rosto. O espelho mostrou-me. Ouça. Por certo tempo, nada enxerguei. Só então, só depois: o tênue começo de um quanto como uma luz, que se nublava, aos poucos tentando-se em débil cintilação, radiância. Seu mínimo ondear comovia-me, ou já estaria contido em minha emoção? Que luzinha, aquela, que de mim se emitia, para deter-se acolá, refletida, surpresa? Se quiser, infira o senhor mesmo. (p. 77)

 

O olhar indiferente do espelho

Estar diante de um espelho é ter realçada a vivência de solidão, de ausência de um interlocutor. O espelho, incapaz de rêverie, devolve-nos nossa superfície corporal, nossa silhueta, sem qualquer transformação afetiva e, certamente, com deformação maior ou menor, dependendo de sua qualidade de fidelidade. O espelho olha-nos com enorme desprezo, com indiferença, devolvendo-nos a luz refletida em nós que lhe enviamos. Essa luz irá interagir com nossas estruturas psíquicas para, numa síntese projetiva, formar nossa imagem especular. Apague-se a luz, postemonos defronte de um espelho e não teremos nossa imagem especular, o que nos ilude e nos faz pensar que já não estamos diante de nossa imagem.

Nossa luz própria, a que é emanada de nossa autoestima, tem no espelho um instrumento auxiliar, quando podemos contar com nossa sensibilidade. A visão sensorial pode nos inebriar, turvar nossa visão mental, ofuscar-nos, tal como os faróis de luz alta fazem com nossa visão sensorial, e esse ofuscamento pode nos prender nessa atmosfera, nesse fluxo de luz com o qual se envolve a visão sensorial. É quando nossa imagem especular tem o componente sensorial prevalecendo sobre nossa autoimagem.

Talvez o aprisionamento no espelho tenha esse componente como um fator importante: a rede criada pela luminosidade externa desorienta-nos, hipertrofiando a visão sensorial e inibindo a visão interna ou nosso órgão sensorial para as qualidades psíquicas, tal como Freud define a consciência. Os fotógrafos artistas sabem disso e por essa razão dosam as luzes com tamanha perspicácia e sensibilidade que são capazes de fotografar a alma de seus objetos, tal como os pintores.

 

Os raios luminosos de Schreber

Quais "luzes", "sombras", "reflexos" e formas outras primitivas terão sido impressas na vida intrauterina – e quiçá mais intensamente no período expulsivo, contribuindo com o trauma do nascimento – para serem posteriormente repetidas pela memória? As tentativas de reencontro com essas impressões determinam exposições em diferentes ângulos nas miradas diante do espelho, tentativas de evoluí-las com as condições de desenvolvimento ora presentes. Nessas exposições, procuram-se os melhores ângulos, os mais marcantes, aqueles mais representativos das transformações evolutivas dos referidos registros sensoriais primitivos. Esse compulsivo trabalho exige tempo de exposição ao espelho, que pode ser vivenciado como aprisionamento. Na verdade, porém, é uma procura de aprimoramento evolutivo, de maior conscientização da autoimagem, aquisição que demanda tempo, coragem, paciência e exercitação da memória – destaque que se faz necessário. É como se a memória, ao tentar captar sombras, luzes e formas, após a exposição ao espelho, se esmerasse na função de transformação, assimilação e arquivamento.

Penso que, em sua dinâmica e em seu propósito, essa memória-arquivo faz analogia com o que Freud (1923) chama de narcisismo secundário, em que a libido dirigida ao objeto, ao retornar ao ego, traz consigo atributos do objeto, realizando o fenômeno de identificação introjetiva, responsável pela estruturação e crescimento evolutivo do ego. Trata-se de uma complementação do trabalho de rêverie feito pelos espelhos vivos, como já referimos, ao propormos o resgate. Mas aqui estamos falando de resgate de impressões mais arcaicas, mais primitivas, que chamamos luzes, sombras, reflexos inconscientes. Façamos um paralelo entre luzes (energia) e libido (energia psíquica).

Quando Freud falou-nos em sentimento de culpa inconsciente, autorizou-nos a falar em sentimentos inconscientes, como, por exemplo, ciúmes inconscientes, inveja inconsciente. Poderíamos falar em impressões sensoriais inconscientes? Luzes, sombras, reflexos inconscientes? Essas impressões sensoriais inconscientes podem tornar-se conscientes com o desenvolvimento do aparelho mental. Mais que isso, sugiro que essas impressões sensoriais, trabalhadas pelo aparelho mental, transformemse em libido. Estou destacando, entre as inumeráveis e desconhecidas atribuições da memória, a de transformar impressão sensorial luminosa em libido. Lembremo-nos do caso de Schreber, que surpreendeu Freud (1911), dada a semelhança da teoria montada por Schreber, que falava em raios de luz, com sua teoria da libido. Freud valorizou essa semelhança e consta que teria até assinalado que sua teoria da libido é anterior à teoria feita por Schreber, com os raios luminosos. Diz Freud (1911):

Posso, não obstante, invocar um amigo e colega especialista para testemunhar que desenvolvi minha teoria da paranoia antes de me familiarizar com o conteúdo do livro de Schreber. Compete ao futuro decidir se existe mais delírio em minha teoria do que eu gostaria de admitir, ou se há mais verdade no delírio de Schreber do que outras pessoas estão, por enquanto, preparadas para acreditar. (p. 104)

O trabalho de arquivamento da memória seria metabolizador fundamental para a transformação das luzes, sombras e formas sensoriais conscientes em libido. Isto não ocorreu com os raios luminosos de Schreber?

Faz-se oportuno lembrar o que diz LeGaufey (apud Gueller, 2006): "O eu não vem da imagem, nem do indivíduo, mas da tensão instalada entre os dois pela identificação" (p. 76). Creio que essa proposta tem proximidade com a transformação que estou especulando, da luz em libido, em energia psíquica.

Se a luz que percebo é a síntese do estímulo sensorial que adentra meu órgão sensorial com a minha energia psíquica – minha libido –, o ato seguinte de acionar a memória, ao reproduzir no meu imaginário a luz – a imagem luminosa que percebi – enriquecê-la-á com mais libido, pois memorizar é ato essencialmente psíquico, portanto feito com energia psíquica.

E essa libidinização refinará minha percepção, tornando-a factível de arquivamento e de assimilação, com enriquecimento do ego. Isso se dará com a restituição, ainda que parcial, dos prejuízos referidos dentro do modelo proposto. Aqui estamos propondo fenômenos mais primitivos. Percebo o quanto de imaginário ressalta nessas propostas que faço. Mas deve-se inibir o imaginário por não estar o mesmo autorizado pelas teorias respeitáveis vigentes? Penso que não.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Luciano Marcondes Godoy
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Recebido em: 16/04/2010
Aceito em: 5/5/2010

 

 

1 Médico, psicanalista, membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP.
2 As perdas não se fazem a contento como se pretenderia. Todo luto normal é pontilhado de luto patológico, de sombras de objeto derramadas sobre o ego.

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