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Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.43 no.79 São Paulo Dec. 2010

 

TRIBUTO A ODILON DE MELLO FRANCO FILHO

 

Em diálogo com Dr. Odilon de Mello Franco Filho - Mitos e religião: sugestões para uma eventual "Psicanálise da experiência religiosa"

 

In dialogue with Dr. Odilon de Mello Franco Filho - Myths and religion: suggestions for a possible "Psychoanalysis of the religious experience"

 

En diálogo con el Dr. Odilon de Mello Franco Filho - Mitos y religión: sugerencias para un eventual "Psicoanálisis de la experiencia religiosa"

 

 

Antonio Muniz de Rezende1

Membro efeitvo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP
Docente do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP

Endereço para correspondência

 

 

Introdução

Conheci Odilon há cinquenta anos, na década de 1960. Eu era assistente religioso de uma Equipe de Casais, da qual Odilon fazia parte juntamente com Maria Ignez sua esposa. Pouco tempo depois, deixei São Paulo para começar uma longa jornada por esse mundo afora. Só voltei vinte anos mais tarde. Quando ingressei na Sociedade de Psicanálise na condição de candidato, fui por ele acolhido de maneira extremamente amigável, a ponto de confiar-me a chave de uma sala no interior de seu consultório, à rua Sergipe, para ali eu poder estudar e eventualmente descansar. Durante meu período de formação, recebi supervisões do Odilon, tanto individualmente, em seu consultório, como no grupo de psicanalistas que se formava em Campinas. E quando, depois de formado, passei a dar meus cursos sobre Bion na sede da Sociedade, tive o prazer de contar com sua presença em várias ocasiões. Tínhamos em comum grande admiração pela obra de Bion, a cujo respeito trocamos inúmeros e-mails. Numa de nossas conversas, com humor e um pouco de ironia, ele me fez o seguinte comentário, posteriormente inserido num artigo seu.

"Imagine um analista que, quando o paciente lhe diz que não acredita em Deus, simplesmente convida-o a mudar de assunto para falar de outras coisas. Mas quando o paciente diz que continua acreditando, o analista se preocupa e convida o paciente a analisar a questão com maior profundidade". E concluía: "Para alguns analistas, não crer em Deus não é problema, mas crer em Deus lhes parece um problema muito sério, quem sabe mesmo patológico, a merecer tratamento mais cuidadoso".

Ouvi a anedota como um convite desafiador: seria possível desenvolvermos uma psicanálise da experiência religiosa, com uma reflexão mais profunda sobre o tema de Deus, eventualmente preparando o programa de um curso a ser oferecido aos interessados? Pessoalmente aceitei o convite do Odilon, e juntos começamos um diálogo em várias etapas. De maneira condensada, creio poder resumir nossa conversa numa frase de Bion falando de um movimento de K para O e outro de O para K, no uso adequado dos vários modelos: científico-filosófico, estético-artístico, mitopoético- religioso, e finalmente ético-místico. Antes, porém, de falar do aspecto metodológico e suas consequências, acho indispensável mencionar algumas situações pessoais em que pude sentir mais de perto as preocupações do Odilon.

 

I. Mise en question

1. No dia 15 de março de 1997, Odilon e Maria Ignez me deram de presente um livro cujo título é O desaparecimento de Deus, com a seguinte dedicatória: "As amizades nascidas em terreno sólido não desaparecem". (Oportunamente comentarei essa dedicatória). Esse livro, escrito por Richard Elliott Friedman (1997), tem por subtítulo "Um mistério divino". É como tal, isto é, como misterioso, que Deus pode desaparecer (remetendo o pesquisador a seu próprio Inconsciente, como lugar do Desconhecido – como veremos melhor no próximo parágrafo). No sumário desse livro encontramos três desdobramentos: "Primeiro mistério: o desaparecimento de Deus na Bíblia; Segundo mistério: Nietzsche em Turim; Terceiro mistério: O Big bang e a Cabala".

Meu comentário é principalmente a respeito da palavra mistério, no subtítulo desse livro. Ela me faz pensar, espontaneamente, no símbolo "O" usado por Bion, para representar o "infinito, informe, inominável". Como falar do inominável? Como acessar o que não tem forma? Como definir o infinito? E finalmente, como conhecer o incognoscível? A psicanálise bioniana não tem dificuldade em admitir a presença de mistérios no universo mental. Aliás, em relação a eles, Bion é explícito em proclamar sua : "Creio na Realidade Última como fato primordial". A questão que se coloca inevitavelmente é a respeito da extensão do símbolo "O" empregado por Bion: seria ele identicamente símbolo da Realidade Última, do Infinito, de Deus? Seja qual for a resposta, o "mistério divino", em razão de sua natureza misteriosa, também se oculta, podendo mesmo ser ignorado, ou simplesmente permanecer escondido no Inconsciente, inclusive daqueles que tentam desvendá-lo. E assim surge também a questão a respeito da (proclamada por Bion): de que natureza é a fé do psicanalista? Muito provavelmente o correspondente de "O", enquanto mistério, e conotando capacidade negativa muito mais que simples tolerância à frustração. Muitas vezes repeti com o Odilon a frase inspirada em Nicolau de Cusa a respeito da docta ignorantia: "o verdadeiro sábio sabe que não sabe". Em outras palavras: uma fé além da ciência!

A respeito do desaparecimento de Deus na Bíblia, não deixei de mencionar ao Odilon o belíssimo livro de Jacques Miles (1997) intitulado Deus uma biografia. Nesse livro o autor considera a própria Bíblia como um texto literário, uma obra de arte, e Deus um personagem que entra em cena, no teatro da história, desempenhando vários papéis. Do ponto de vista psicanalítico, o maior interesse está na verificação do papel que cada Escritor atribui ao Personagem central, nas diversas situações descritas.

No tocante a Nietzsche temos o livro de Irvin D. Yalom (2009) intitulado Quando Nietzsche chorou, com o subtítulo "Cem anos após sua morte, Nietzsche é o principal personagem deste romance magnífico sobre o nascimento da psicanálise". Apesar do estilo romanceado adotado pelo autor, seu livro não deixa de estabelecer uma relação especial entre ateísmo e psicanálise. Por esse motivo, entre outros, Odilon aceitou participar de um grupo de estudos organizado por Karin Hellen Kepler Wondracek (2003), cujos trabalhos foram publicados com o título O futuro e a ilusão: um embate com Freud sobre Psicanálise e Religião. (Odilon ofereceu-me um exemplar desse livro no dia 14 de novembro de 2003).

2. Outro assunto que Odilon e eu discutimos foi trazido por Rodney Bomford e François Regnault, a respeito das relações entre o Inconsciente e Deus. No livro de Bomford (1999), intitulado The symmetry of God, o autor faz uma leitura psicanalítica do fato religioso cristão, e tenta mostrar como se constrói um "sistema" religioso com a ajuda do Inconsciente. Já o livro de Regnault (1985) parece ainda mais ousado ao afirmar que Deus é inconsciente (Dieu est inconscient). Nesse livro, o autor cita a seguinte frase de Lacan: La véritable formule de l’athéisme n’est pas que Dieu est mort, c’est que Dieu est inconscient.

No prolongamento de semelhante abordagem, temos o livro de Eric Rayner (1995) Unconscious Logic: An introduction to Matte Blanco’s bi-logic and its uses. A importância desse livro para os estudiosos da questão religiosa está no fato de que também os que crêem não se restringem aos limites impostos por uma lógica unívoca, do terceiro excluído, com alternativas limitadas a uma única opção racional. Sobre esse assunto, recebi preciosa colaboração do colega Ignácio Gerber, que escreveu o capítulo "Bion e Matte Blanco", em meu livro sobre A psicanálise "atual" na interface das "novas" ciências (Rezende, A.M & Gerber, I., 2001).

Tirando inevitável consequência de semelhante abordagem, Waldemar Falcão (2008) não hesitou em publicar um livro sobre O Deus de cada um: nove histórias reais, nove diferentes crenças, nove vidas transformadas. Na minha discussão com Odilon, sempre nos perguntávamos como era o deus do paciente em análise. Em muitos casos, não era de admirar que fosse concebido, inconscientemente, à imagem de algum personagem mais influente na vida do paciente – com intervenção do Id, por um lado, e do Superego por outro. Mais ainda, tanto Odilon como eu nos perguntávamos: e como será o Deus de cada analista? Que Deus é considerado na análise pessoal do analista, e na análise de seus pacientes? Indo mais longe ainda: como era o Deus de Freud? Faz pois muito sentido que Ana Maria Rizzuto (2001) tenha perguntado Por que Freud rejeitou a Deus? Nosso colega Gilberto Safra (2001) respondeu corajosamente – em um artigo intitulado "Fundamentos teológicos das teorias psicanalíticas : Freud e o judaismo" – com as seguintes palavras "Freud, judeu, ateu". No entanto, o texto mais importante cuja leitura sugeri ao Odilon foi escrito por Hans Kung (2005) com o título Freud e a questão da religião. Essa é uma leitura indispensável para os que estão interessados em saber como um teólogo analisa os meandros do pensamento (religioso) do fundador da psicanálise.

3. Um terceiro presente que Odilon me deu foi Felicidade, uma história, escrito por Darrin M. McMahon (2006). Nesse livro podemos ver como uma das consequências do "desaparecimento de Deus" foi não apenas sua substituição pelo homem, mas uma significativa transformação na concepção da ética e da felicidade, encaradas não tanto em função do Bem Supremo, mas do Bem Comum, considerado como possível.

Desse ponto de vista, os principais interlocutores da psicanálise passaram a ser os representantes da Escola Crítica de Frankfurt, com a proposta de um terceiro princípio, o princípio esperança, além do princípio de prazer e realidade. Sem nenhum constrangimento, eles se declaravam freudo-marxistas, com ênfase especial no humano (demasiadamente humano!), na esteira de Nietzsche.

No entanto, foi com Emmanuel Lévinas (1980), que o tema do humano foi retomado numa dimensão maior, que não excluía nem mesmo a perspectiva da transcendência. Além do princípio esperança, passou-se a falar do princípio solidariedade, no reconhecimento de que a presença do Outro torna-se integrante da identidade de cada um. O outro me faz apelos, e eu mesmo me constituo como alguém que responde desta ou daquela forma aos apelos que me são feitos. Na linguagem de Bion, a respeito do sétimo elemento de psicanálise, pode assim haver uma passagem do narcisismo ao social/ismo. Mas Lévinas, seguindo a tradição judaica, não hesita em afirmar que esse outro finalmente é manifestação do Outro (com maiúscula): um Outro que me permite ser Eu-mesmo, na relação.

A respeito de Lévinas, pude contar com algumas informações de Frei Carlos Josaphat Pinto de Oliveira, dominicano, que foi seu colega na Universidade de Friburgo. Inspirando-se na tradição bíblico-judaica, Lévinas acabava adotando uma postura mística caracterizada pela impossibilidade de separar o humano e o divino, o outro e o Outro. E acabava falando do Rosto do outro, como prenúncio de uma visão Face a Face, como condição de uma verdadeira realização da personalidade de cada um – aqui mesmo, na terra! Surpreendentemente, Lévinas (1971) ajuda-nos a entender melhor a relação que se estabelece entre Totalidade e Infinito na expansão do universo mental segundo Bion, não apenas na passagem do narcisismo ao social/ ismo, mas no movimento de K para O – de acordo com O, em direção a O.

4. De minha parte, e no prolongamento de tal maneira de pensar, várias vezes sugeri ao Odilon a leitura de dois autores atuais que muito nos poderiam ajudar, Leonardo Boff e Dalai Lama, ambos permitindo um aprofundamento do que Bion considera como At-one-ment ou Comunhão com "O". Leonardo Boff, sabiamente, estabelece uma distinção importantíssima entre religião e espiritualidade, em sentido muito próximo ao adotado por Bion ao falar do Establishment, em seu artigo sobre "O místico e o Grupo". Segundo Leonardo Boff (2000), as religiões instituídas separam, enquanto a espiritualidade reúne, numa experiência mística que também possibilita uma experiência ecumênica da verdade, muito além dos diversos fundamentalismos. De Dalai Lama (2000), gosto de mencionar A arte da felicidade, no prolongamento de Felicidade, uma história, citado acima.

Em termos históricos, de uma história recente, André Comte-Sponville e Luc Férry (1999) estabeleceram importante diálogo a respeito da Sabedoria dos Modernos, no qual abordam as grandes linhas do pensamento contemporâneo, relativamente aos mais diversos setores da cultura com ênfase especial na questão religiosa.

Do ponto de vista psicanalítico, posso terminar este parágrafo com uma questão bem bioniana: será que o mistério, especialmente o mistério religioso, deve ser considerado apenas elemento beta (ou mesmo gamma), ou pode ser entendido como elemento alpha, (ou, quem sabe, elemento sigma) no mais alto nível de transação? Isto porque a experiência religiosa de fato pode acontecer nesses vários níveis – do mais baixo ao mais elevado – dependendo do grau de simbolização que tenhamos alcançado. Daí o próximo parágrafo.

 

II. Questões de método: de K para O e de O para K

1) Deus, ciência e religião

Em seu diálogo com as "novas ciências", o psicanalista "atual" não pode ignorar a posição de Richard Dawkins (2007) falando de "Deus: um delírio". Acostumado, porém, com uma escuta mais atenta, o psicanalista não deixa de perguntar: delírio de quem? E ao se informar, não deixa de reconhecer uma atitude surpreendente por parte daqueles, principalmente físicos, que se puseram à procura da partícula Deus!!! Com efeito, foi nestes termos que pudemos ler o noticiário a respeito do acelerador de partículas construído na Europa. Confundir Deus e a partícula inicial que explodiu no Big Bang, é cometer um erro ingênuo que Aristóteles já havia denunciado como "erro categorial", confundindo duas ordens de ser, num autêntico delírio!

Mais inteligente e mais científica parece-me a posição de Marcelo Gleiser, físico brasileiro que ensina nos Estados Unidos. Ao escrever sobre a impossibilidade de a física descobrir Deus, preferiu dizer-se a-gnóstico mais que propriamente a-teu. Tomando a palavra a-gnóstico ao pé da letra, um bom físico reconhece os limites de sua ciência, quando se trata de conhecer a Deus.

Isto sem desconhecer, por exemplo, a posição adotada por Francis Collins, diretor do Projeto Genoma, ao admitir pelo menos a possibilidade de uma linguagem divina a presidir a constituição do código genético, tanto do ponto de vista individual como na evolução das espécies. Aliás, desse ponto de vista, mesmo os físicos reconhecem que "Deus não joga dados". E Stephen Hawking não se acanha em reconhecer O fim da física e da teoria física (1998), permanecendo no âmbito do Universo numa casca de noz (2001), e limitando-se a considerações a respeito de Uma breve história do tempo (1994). Por seu lado Ilya Prigogine insiste em mostrar a diferença existente Entre o tempo e a eternidade e Jacques Monod, se pergunta a respeito do acaso e a necessidade, embora não hesitando em enaltecer a maravilhosa obra do acaso.

2) Deus, filosofia e religião

Respeitando a física, mas indo além dela, Espinosa chega a estabelecer uma equação entre a natureza e Deus na célebre frase: Deus sive natura. O psicanalista-filósofo, no entanto, não deixa de perguntar se não se trata de uma equação simbólica, com manutenção do mesmo sentido de um lado (natureza) e de outro (Deus). Desde o período clássico, mas principalmente com Tomás de Aquino, todos sabemos que a passagem da física para a meta-física só se dá com a ajuda e no prolongamento de um uso analógico dos conceitos, (entenda-se analogia de proporcionalidade própria), a começar pelo conceito de ser. Isso possibilitou a Dionísio Areopagita levantar a belíssima questão dos nomes divinos. (Vejam a interessante coleção publicada pela Unesp, com o título Nomes de Deuses). É verdade, no entanto, que os físicos atuais, mais talvez que os do passado, tendem a negar a própria metafísica.

Na história da filosofia contemporânea, um capítulo importante é a passagem do pensamento causal para uma filosofia do sentido. Em outras palavras, uma passagem da metafísica clássica para a fenomenologia e a filosofia da linguagem. Isto, no entanto, precisa ser bem entendido como um progresso em que a etapa posterior não elimina a contribuição precedente. O pensamento causal (na Antiguidade Clássica e na Idade Média) estabelecia e respeitava a anterioridade da causa sobre os efeitos, e mais que tudo a superioridade da Causa Última sobre as outras: a começar pela Causa Eficiente Primeira e a Causa Última Final, ou Bem Supremo. É em termos de pensamento causal que Tomás de Aquino, por exemplo, estabelece as cinco provas da existência de Deus (MECGG): pelo movimento, a eficiência, a contingência, os graus de ser, e o governo do mundo. A passagem do pensamento causal à filosofia do sentido nem por isso deixou de levantar a questão da "significação da existência", como muito bem foi apontado por Alphonse De Waelhens (1967). E todos continuam repetindo a bem conhecida exclamação de Leibniz: "O surpreendente é que haja alguma coisa e não apenas nada". O fato da existência (em termos objetivos, como na metafísica) ou subjetivos (como no existencialismo) não deixa de levantar a questão de um Existente Primeiro de cujo relacionamento deriva todo sentido. Soren Kierkegaard, em toda a sua obra, é um bom exemplo para falar da angústia existencial religiosa.

Inegavelmente o fenômeno da secularização não aconteceu tão somente em função da evolução da filosofia, mas dependeu de muitos outros fatores culturais, a começar pela laicização do poder político (inclusive nas instituições religiosas). Em outras palavras, a crise religiosa no mundo moderno está em relação direta com outros fatores, de tal forma que também ela não se resolverá sozinha. E a questão se coloca igualmente em relação à psicanálise: que contribuição está ela dando ou poderá dar, para que surja um mundo melhor em todos os sentidos? Isto seja dito sem esquecer o desabafo de Freud (1930/1976) a respeito do Mal estar na Civilização!

Nesse contexto levanta-se a questão de uma teologia científica em diálogo com a psicanálise. Se, por um lado, é legítimo perguntar o que os teólogos conhecem de psicanálise, por outro é urgente perguntar o que os psicanalistas conhecem a respeito da teologia. A resposta não costuma ser muito brilhante, nem de um lado nem de outro. Muitos psicanalistas costumam limitar-se aos aspectos infantis da experiência religiosa, que eles mesmos examinaram em suas análises, e imaginam que devem examinar na análise de seus pacientes. Com isso deixam de lado as questões vividas e levantadas por teólogos mais sérios e competentes. Em todo caso, não é o que acontece com Bion, em diálogo com Mestre Eckhart e São João da Cruz, como veremos mais adiante.

3) Deus, arte e religião: o modelo estético-artístico

Muita gente acha que a religião é absolutamente contrária ao princípio do prazer. No entanto, a verdadeira experiência religiosa comporta uma dimensão estética, relativa ao bom e ao belo (kaloskaiagatos), em grande parte com a ajuda das várias artes. Frei Betto parece-me ter muita razão ao se referir à criação como A obra do artista. E a seu modo, Lacan também nos ajuda a entender esse aspecto da relação com Deus, ao distinguir entre o prazer, o gozo e a alegria. As celebrações religiosas, com sua liturgia, não são apenas ocasião, mas convite a uma expressão estético-artística que, em algumas culturas, chegam a elevado nível de beleza e espiritualidade. Por sua vez, Merleau-Ponty (2004), em seu livro O olho e o espírito, valoriza o papel do artista que nos ajuda a perceber o mundo de outra forma e com outra sensibilidade. Diz ele "o artista empresta-nos seus olhos, para vermos o que só ele vê, quando olha o que todo mundo olha". Todo mundo olha, ouve e toca os seres da natureza, mas o artista ajuda-nos a perceber sua beleza. Não só a perceber, mas a exprimi-la, numa tentativa de prolongar o gesto criador em sua grandeza admirável. Aliás, a própria palavra admirar refere-nos ao maravilhoso, como digno de contemplação. Já foi dito que a filosofia nasceu da admiração. A arte também. Assim como o filósofo pensa o admirável, o artista cria, numa experiência originalíssima, em que o criador humano entra em interação com o criador divino. Na Bíblia, nós lemos que, depois de ter criado, Deus viu que as coisas criadas eram boas e belas, num maravilho jardim paradisíaco. O artista, das diversas artes, também cria coisas belas para nossos cinco sentidos. Em termos técnicos, o estético (sensorial) prolonga-se no artístico (espiritual). Hoje em dia, a fotografia antecipa-se à pintura, e nós temos coleções de fotos realmente admiráveis. Recebi, recentemente, pela internet, fotos extraordinárias de paisagens das mais diversas regiões, da terra e do céu. Noites de luar, praias brasileiras, recantos selvagens, e até mesmo animais. E o que falar dos pintores e suas pinturas? A arte sacra, ao longo da história, tem sido uma das expressões mais ricas das diversas culturas, tanto em relação à pintura e à escultura como à própria música. Pessoalmente tive o privilégio de morar na França, no Convento Real de Saint Maximin, ao lado da Basílica de Santa Maria Madalena, em belíssimo estilo gótico, na qual também há um órgão famoso, no qual são executadas músicas de toda beleza, não só durante as cerimônias litúrgicas, mas por ocasião dos Festivais da Cultura, realizados anualmente (Quem quiser pode ver no Google nas palavras órgão e Saint Maximin). Escultura, fotografia, música… sem falar, last but not least, da literatura e especialmente da poesia, como direi no próximo parágrafo.

4) Deus segundo o modelo mito-poético-religioso

Os escritores, em especial os poetas, sempre tiveram papel importante na história das culturas – a começar pelo que aconteceu com as Sagradas Escrituras. Mais do que metaforicamente, elas foram escritas num estilo mito-poético-religioso. E é importante entender como estas três palavras são inseparáveis, quando se trata dos livros sagrados ou simplesmente religiosos. Marcel Détienne (1981), em Os mestres da verdade na Grécia Arcaica, nos fala sobre o papel dos poetas na conservação da verdade, principalmente a respeito das origens – tal como descrita pelos mitos. O mito como linguagem tenta exprimir o mistério. Ambas as palavras começam com o radical my, do verbo myo que significa fechar. Mistério é o útero fechado, que o mito (palavra primitiva) tenta manifestar de forma correspondente, isto é, respeitosa do segredo. Ele diz, sem suprimir o segredo. Daí o mito servir-se espontaneamente da linguagem poética, principalmente em se tratando de mistérios religiosos. O exemplo mais espontâneo que nos vem à mente é o dos mitos relativos ao princípio e ao fim. Nem um nem outro pode ser propriamente descrito mediante observação: como falar do começo antes dele? Como falar do fim depois dele? Tanto o começo como o fim só podem ser referidos miticamente, poeticamente, o que não quer dizer que seja uma linguagem falsa. Não é científico, mas não é falso! René Girad escreveu um volume interessantíssimo sobre Des choses cachées depuis la fondation du monde. A seu respeito os editores escreveram:

Un ouvrage qui révolutionne les sciences humaines. Parallèlement à une analyse approfondie des mécanismes qui règlent la vie des sociétés, René Girad développe et commente magistralement ce qu’il estime être l´antidote contre la violence: la parole biblique. Une lecture et une réflexion stimulantes des grands mystères de notre monde. Le ‘système Girad’ ne laissera personne indiférent.

Bion cita frequentemente os poetas (Shakespere, Keats, Milton…) de quem toma emprestado frases famosas, como as seguintes: "Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode suspeitar a nossa vã filosofia", ou então "infinito, informe, inominável"… Os poetas conseguem dizer o que todo mundo quer dizer, mas nem sempre consegue.

Para nós, descendentes da civilização judeo-greco-latina, não é permitido ignorar por um lado a mitologia-religiosa da Bíblia, e por outro a mitologia grega, mais talvez que a latina. E como brasileiros, não deveríamos ser tão ignorantes da mitologia de nossos índios, à qual esteve muito atento um Darcy Ribeiro (1995) em O povo brasileiro e mesmo um Lévi-Strauss (1976) em Anthropologie Structurale. Pessoalmente, passei a me deliciar ainda mais com os textos bíblicos depois que entendi, com a ajuda da psicanálise bioniana, o sentido mito-poético das sagradas escrituras. Mas aprendi também a apreciar, com a mesma ajuda de Bion, as ricas narrativas de Mahabarata, especialmente em seu capítulo Bhagavad Gita, a Canção Sublime. No Antigo Testamento, além do belíssimo Livro do Gênesis, me delicio com os livros Sapienciais, admirando em especial a sabedoria de Salomão. E, no Novo Testamento, poeticamente chamado de Eu-angelion (Boa-Mensagem), as belas parábolas escritas pelos quatro evangelistas, inegavelmente misteriosamente admiráveis, criando um espaço e um clima que nos ajudam a entender melhor a ética e a mística.

5) Deus, a ética e a mística

Os estudiosos de Bion são unânimes em reconhecer sua preferência pelo modelo místico. Embora tendo começado pelo modelo científico-filosófico e continuado com o modelo estético-artístico, finalmente ele privilegia o modelo místico-religioso, em Transformações e mais ainda em Atenção e Interpretação. Numa frase que todos repetimos, Bion afirma que "Ser é mais importante que conhecer". E é por isso que, com muitos outros, eu prefiro falar de um modelo ético-místico de preferência a místico-religioso. E o faço considerando a palavra ética como derivada do verbo grego eimi, com o sentido de ser. Daí Bion falar também do analista que é, real, de verdade! E ele acrescenta que este analista de verdade é também um místico, numa relação muito especial com seu grupo. Por isso mesmo passa a falar do "indivíduo especialmente bem dotado", como gênio, messias e místico, num relacionamento nem sempre fácil com seu grupo. O gênio com ideias novas, o messias com ideias promissoras, o místico com ideias verdadeiras, não deixam de criar problemas para um grupo normalmente conservador. Mas se o místico cria problemas, é também ele que traz a solução, principalmente em nome da experiência que faz, uma experiência de At-one-ment, inicialmente com "O" e, em seguida, com todos aqueles que também querem ser verdadeiros.

Onde é que Bion foi buscar esse ideal de At-one-ment? Ele próprio responde dando o exemplo dos místicos das várias culturas. Em relação ao cristianismo é evidente sua preferência por Mestre Eckhart e São João da Cruz. O primeiro falando das transformações de K para O: de acordo com O, em direção a O; o segundo falando não apenas da Noite Escura mas também da Subida do Monte Carmelo.

Na linguagem da teologia mística cristã, é o tema da Koinonia ou Comunhão dos Santos. E na dos epistemólogos contemporâneos é o tema da verdade, principalmente nas ciências humanas e na psicanálise: uma verdade como consenso simbólico e concordância. "E Deus será tudo em todos".

Semelhante maneira de falar não deixa de lançar um outro olhar sobre a própria morte, encarada não tanto como termo-final, mas integração no Todo, infinito, informe, inominável. Nada existe fora do Todo, e nada pode ser tirado do Todo. De novo Emmanuel Lévinas, ajuda-nos a meditar sobre Totalidade e Infinito; assim como Krishna, e Bion depois dele, os três nos convidam a uma mudança de vértice para considerarmos tanto a vida com a morte.

6) Sobre viver e morrer com Deus

Surpreendentemente o pensamento religioso atual encontra na própria física um espaço para dizer (de maneira mito-poética) sua visão de conjunto do fenômeno existencial. Num primeiro momento, na linguagem bíblica, Deus soprou. Sopro em grego é Pneuma, em hebraico Ruah, em latim Spiritus. O primeiro momento na dinâmica do Infinito é o Sopro-Espiritual-Divino. Num segundo momento, na linguagem dos físicos atuais, depois de Einstein, o Espírito produz Energia (E=MC2). Ainda segundo os físicos, a Energia produz Matéria. E de acordo com os biólogos (a começar por Darwin) a Matéria evolui para a Vida. Finalmente a Vida transformase em Espírito. E o movimento continua infinitamente. Do Espírito para a Energia, da Energia para a Matéria, da Matéria para a Vida, da Vida para o Espírito… Nessa perspectiva, a morte não é propriamente o fim de tudo, mas um momento no mistério do infinito! E quem somos nós para desvendar o mistério? Bion fala portanto de capacidade negativa, não apenas como tolerância à frustração, mas como sinal de sabedoria – pois "o sábio sabe que não sabe"! E no espírito dos místicos orientais, ele acaba sugerindo: "Diante do mistério, fica em silêncio ou canta"!

Neste contexto lembro-me de um gesto extremamente delicado do Odilon. Nós estávamos assistindo a uma palestra da Alícia Lisondo a respeito de uma paciente terminal. A situação descrita era tal que eu mesmo não deixei de comover-me. O Odilon, sentado a meu lado, percebeu. E sem dizer nada, apenas colocou a mão em meu ombro. Um gesto apenas, mas em At-one-ment. Eu me senti compreendido. E logo em seguida compreendi também que o Odilon, já estando doente, tinha muitas condições para entender a mim e à paciente da Alícia. Odilon era assim, extremamente sensível, capaz de entender tanto as coisas da vida como as da morte. Não creio exagerar dizendo que Odilon foi certamente uma pessoa que soube viver e morrer com Deus. Por isso lhe sou grato. Muito grato. Fui e continuo. E não me esqueço da frase que escreveu como dedicatória do livro que me ofereceu: "as amizades nascidas em terreno sólido não desaparecem". Obrigado Odilon!

 

III. Conclusão: Deus e religião depois da psicanálise

Michel Foucault (2004) na História da loucura diz que estamos na era da psicanálise. Acho que isso é válido também para a religião ou mais precisamente para o mito-poético-religioso.

À pergunta "Por que Freud rejeitou Deus", não hesitamos em levantar a hipótese de que o próprio Freud não se tenha beneficiado de todas as contribuições do movimento psicanalítico, ou simplesmente do progresso das diversas ciências neste último século. E no tocante a Bion, parece-me que sua psicanálise ajudouo a reconhecer que há mesmo mais coisas entre o céu e a terra do que pode suspeitar a nossa vã… psicanálise. Por outro lado, as diversas religiões tornaram-se gratas à psicanálise por tudo que esta lhes permitiu reconhecer como procedendo de um Inconsciente não analisado, seja na forma da ideologia, seja dos diversos fundamentalismos, como manifestação de um dogmatismo moralista psicótico. Se podemos examinar os aspectos psicóticos do ateísmo, a psicanálise ajuda-nos também a examinar as diversas formas lamentáveis de uma patologia religiosa. De maneira condensada, podemos dizer que o grande desafio continua sendo, tanto para a psicanálise como para a teologia, o de uma reflexão aprofundada sobre a dialética da imanência com a transcendência, no "espaço" simbólico da totalidade e do infinito. E talvez consigamos ser mais verdadeiros ao repetir a frase de Bion: "Creio na Realidade Última como fato primordial". E assim sentimos também a necessidade maior de uma atividade simbólica, capaz de reconhecer que "há sentido, há sentidos e há mais sentido". E talvez possamos exclamar, com os mestres orientais: HÁ!OH!OM! A existência é mesmo um fato inegável… extraordinariamente admirável… que nos leva a exclamar: "Diante do mistério fica em silêncio ou canta".

Por isso mesmo, gostaria de terminar com um poema de Friedrich Nietzsche, traduzido por Leonardo Boff (2000), que o introduz com as seguintes palavras, em seu livro intitulado Tempo de transcendência:

Esse desesperado filósofo alemão que pregou a morte de Deus e fez a crítica mais violenta do cristianismo, o fez a partir de uma experiência radical do Deus vivo. Quando anuncia a morte de Deus, ele fala do Deus que tem de morrer mesmo, porque é o Deus de nossas cabeças, o Deus inventado, o Deus da metafísica, o Deus que não é vivo. Ele fez uma oração que traduzi, sem chegar a transmitir todo o seu teor poético. Ela tem por título Oração ao Deus Desconhecido. Ei-la:

Oração ao Deus desconhecido
Antes de prosseguir em meu caminho
E lançar meu olhar para a frente, uma vez mais
Elevo, sozinho, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem fujo
A Ti, das profundezas de meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que, em cada momento,
Tua voz me pudesse chamar.
Sobre esses altares,
Estão gravadas em fogo estas palavras:
"Ao Deus Desconhecido"
Teu, sou eu, embora até o presente
Tenha me associado aos sacrílegos.
Teu sou eu, não obstante os laços
Que me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servir-te
Quero Te conhecer, desconhecido
Tu que penetras a alma
E, qual turbilhão, invades minha vida.
Tu o incompreensível, mas meu semelhante
Quero te conhecer
Quero servir somente a Ti.
Ass. Friedrich Nietzsche

Como post-scriptum, quero retomar a frase com que Odilon me ofereceu O desaparecimento de Deus: "As amizades nascidas em terreno profundo não desaparecem". Gostaria de acrescentar: nem depois da morte. Continuo amigo do Odilon, e tenho imenso prazer em prestar-lhe esta homenagem. Quando João Baptista França me perguntou se aceitaria participar desta mesa, eu lhe respondi simplesmente, que "não me sentia no direito de recusar". Era para mim um dever prazeroso estar hoje aqui, participando desta justa homenagem à memória de um grande amigo. Obrigado, Odilon, amigo de sempre, e para sempre!

 

Referências

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Endereço para correspondência
Antônio Muniz de Rezende
Avenida Francisco Glicério, 1867/82 – Vila Itapura
13023-101 Campinas, SP
Tel: 19 3233-3601
E-mail: amurez@yahoo.com.br

 

 

1 Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP e docente do Instituto de Psicanálise da SBPSP.

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