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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.44 no.80 São Paulo jun. 2011

 

ARTIGOS NÃO TEMÁTICOS

 

Do retiro na tricotilomania ao mundo das trocas objetais

 

From the psychic retreat in trichotillomania to the world of object relations

 

Del retiro en la tricotilomanía hacia el mundo de las trocas objetuales

 

 

Alessandra Ricciardi Gordon1

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo - SBPSP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Através deste trabalho gostaria de dar seguimento a algumas reflexões que se originaram a partir do atendimento psicanalítico a uma mulher de 34 anos, no seu sétimo ano em análise, que ainda hoje tem uma sintomatologia compulsiva, mais especificamente a tricotilomania. Esse quadro compulsivo é parte integrante de um desenvolvimento emocional bastante precário, que descrevi em um trabalho anterior (Gordon, 2009). Observei que havia uma dinâmica entre os aspectos compulsivos e os investimentos narcísicos e objetais. Neste trabalho procurarei fazer uma breve recapitulação dessas conclusões, que incluem algumas considerações sobre a tricotilomania, tal como é descrita na literatura psiquiátrica e psicanalítica, e então acrescentarei novos desdobramentos.

Palavras-chave: Autoerotismo, Compulsão, Tricotilomania, Narcisismo, Retiro psíquico.


ABSTRACT

Through this paper I would like to give segment to a few thoughts which originated from the psychoanalytic treatment of a woman of 34 years old in its seventh year, with a compulsive symptomatology, specifically trichotillomania. This compulsive symptomatology is part of an emotional development rather poor, which was described in a previous work (Gordon, 2009). A dynamic between the compulsive aspects and narcissistic and object investments was observed and described. The aim of this present paper is to make a brief recapitulation of these conclusions, which include some considerations about trichotillomania, as described in the psychiatric and psychoanalytic literature, and further developments will be added.

Keywords: Self eroticism, Compulsion, Trichotillomania, Narcissism, Psychic retreat.


RESUMEN

A través de este trabajo me gustaría dar segmento a algunas reflexiones que se originaron a partir del atendimiento psicoanalítico a una mujer de 34 años, en su séptimo año de análisis, que aún hoy tiene una sintomatología compulsiva, más específicamente la tricotilomanía. Ese cuadro compulsivo es parte integrante de un desarrollo emocional bastante precario, que describí en un trabajo anterior (Gordon, 2009). Observé que había una dinámica entre los aspectos compulsivos y las investiduras narcísicas y objetuales. En este trabajo busqué hacer una breve recapitulación de esas conclusiones, que incluyen algunas consideraciones sobre la tricotilomanía, tal como es descrita en la literatura psiquiátrica y psicoanalítica, y entonces añadiré nuevos desdoblamientos.

Palabras clave: Auto erotismo, Compulsión, La tricotilomanía, El narcisismo, Retiro psiquico.


 

 

Introdução

Através deste trabalho gostaria de dar seguimento a algumas reflexões que se originaram a partir do atendimento psicanalítico a uma mulher de 34 anos, no seu sétimo ano em análise, que ainda hoje tem uma sintomatologia compulsiva, mais especificamente a tricotilomania. Esse quadro compulsivo é parte integrante de um desenvolvimento emocional bastante precário, que descrevi em um trabalho anterior (Gordon, 2009). Observei que havia uma dinâmica entre os aspectos compulsivos e os investimentos narcísicos e objetais. Neste trabalho procurarei fazer uma breve recapitulação dessas conclusões, que incluem algumas considerações sobre a tricotilomania, tal como é descrita na literatura psiquiátrica e psicanalítica, e então acrescentarei novos desdobramentos.

 

Breve revisão bibliográfica

Na nosologia psiquiátrica o arrancar cabelos recebe o diagnóstico de tricotilomania, termo criado por Hallopeau em 1889, derivado do grego que significa arrancar, criar claros, com referência à alopecia consequente. Integra o grupo de síndromes que compõem o transtorno obsessivo-compulsivo, juntamente com a anorexia e bulimia, o jogo e o comportamento sexual compulsivo, as preocupações tidas como exageradas com aspectos anatômicos e com o funcionamento corporal. Em todos esses quadros se observa perda da capacidade do indivíduo controlar seus impulsos; mesmo com a plena consciência do exagero ou da irracionalidade do ato, a execução é peremptória. Os sintomas tendem a se agravar e, com isso, o isolamento social. Esses quadros respondem parcialmente à administração de antidepressivos tricíclicos e aos inibidores seletivos da recaptação de serotonina, como a sertralina.

Um aspecto notável é que, apesar da singularidade de cada indivíduo e das particularidades do ambiente, o arrancar cabelos surge de forma muito semelhante em muitas culturas. É parte de um ritual em que a pessoa afaga os cabelos por algum tempo, escolhe por fim um deles, que não parece bem ao tato por alguma razão, e o arranca; brinca com ele por tempo variável e depois o joga fora, o, em alguns casos, o ingere. De modo que, longe de ser um ato desesperado, produto de uma situação de extrema angústia em que a pessoa é levada a "arrancar os cabelos" de forma desenfreada e constante, esse ato é antes parte de um ritual praticado secretamente, por meio do qual se obtém alívio de tensão e gratificação.

Na literatura psicanalítica consultada, Galski (1983) faz uma revisão de artigos que, de forma geral, relacionam a tricotilomania a conflitos na área sexual. Dentre os artigos citados fez eco o de Masserman (1955, citado por Galski, 1983), que entende a tricotilomania como um ato compulsivo ritualístico e acredita que o arrancar cabelos é uma tentativa de se proteger de desejos eróticos. English (1949, citado por Galski, 1983) entende o arrancar cabelos como uma forma perversa de obter o alívio de tensão para aqueles que não puderam desenvolver formas mais maduras para obter gratificação emocional. Kanner (1950, citado por Galski, 1983) diferencia o puxar cabelos de outros tiques e o considera uma manipulação do corpo semelhante ao chupar o polegar, roer unhas ou cutucar o nariz. Nessa mesma linha, Buxbaum (1960) afirma que o arrancar cabelos não é apenas uma agressão contra si mesmo, mas também o resultado de sentir-se desolado e não amado, o paciente tenta segurar-se ao self quando os outros falham em prover suporte emocional.

Stadeli (1963, citado por Galski, 1983) afirma que esses pacientes não amadureceram para além da relação mãe-bebê; separados da mãe, sentem-se frustrados e solitários e se tornam incapazes de iniciar ou sustentar experiências significativas com outros. Sentimentos ternos ou agressivos pertinentes à fase oral associados à relação mãe-bebê são suprimidos e o desenvolvimento dos sentimentos corporais fica perturbado. O autor conclui que a criança procura autoamparar-se, ou busca sentir-se através desse puxar cabelos, que, embora possa ser nocivo, vai satisfazendo suas necessidades de ternura e contato de uma forma primitiva. Assim, sentimentos corporais perturbados, desapego à mãe e impulsos suprimidos são condições que levam ao desenvolvimento da tricotilomania.

Galzki acredita que as crianças que apresentam esse comportamento, que com frequência se inicia na puberdade, sofreram superproteção e intrusão por parte dos pais em função de uma relação com fortes traços fusionais. Como consequência há deficiências marcadas no desenvolvimento do ego, falhas na aquisição da constância objetal e grande dificuldade em relação à separabilidade. Afirma que não é casual que os pacientes geralmente arranquem os cabelos quando rejeição, perda ou abandono sejam eminentes, esperadas ou realmente experimentadas. Chama a atenção para o ritual completo que compreende brincar, arrancar e finalmente incorporar novamente o fio de cabelo, desta vez comendo-o, que poderia ser um substituto concreto e atuado de um processo que não aconteceu simbolicamente.

Abdalla (2009) chama a atenção para a condição mentalmente aprisionadora que cerca o indivíduo imerso no estado compulsivo. Seguindo a teorização de Bion, fala sobre o lugar que a droga (ou o substituto) ocupa na dinâmica do funcionamento da dependência compulsiva, em que a realização do desejo é peremptória. Quando busca a droga (objeto da compulsão), a pessoa fica reduzida a uma condição de coisa, submetida e sujeita a atender a seu próprio desejo, em um estado em que predominam ódio à falência da fantasia onipotente e intolerância à dor psíquica. No curto intervalo de tempo entre o desejo e o ato compulsivo, a mente já está paralisada, ou, como diz Bion, envenenada, não há espaço para o pensamento. O envenenamento mental decorre do fato de que, embora sendo um objeto falso, a droga é utilizada para estancar a dor, esta sim verdadeira. A utilização desse substituto é um ataque à mente e muitas vezes também um ataque à integridade corporal. Cito um trecho do seu artigo que alude ao falseamento.

Na compulsão, segundo Bion, o verdadeiro fica suplantado pelo falso, o central substituído pelo periférico, a dor aplacada pelo prazer e, para isso, a droga, que é vazia, fica travestida de preenchimento, de felicidade, de completude, de algo absoluto. O objeto, real ou fantasiado, fica alucinado como um alimento capaz de suprir o sentimento insuportável de falta, de vazio. Como distinguir o verdadeiro do falso travestido de verdadeiro? Essa (con) fusão é uma precondição para a compulsão se manter. Caso o indivíduo conseguisse alcançar a condição de sujeito e pudesse discriminar o verdadeiro do falso, talvez o objeto deixasse de ser uma droga necessária, mas passaria a ser uma opção consciente. (Abdala, 2009, p. 5)

 

O lugar da compulsão no funcionamento da paciente

Ao refletir sobre compulsão da paciente, penso em primeiro lugar sobre o estado mental que se instala e que tem como resposta a conduta compulsiva e a evocação do ritual. A presença de ansiedade parece ser um componente importante, como também a precária capacidade para contê-la. Podemos pensar em uma questão de economia libidinal: há um excesso de estímulos e um aparelho mental pouco desenvolvido e incapaz de contê-lo, ou, como diria Bion (1962/1991), uma mente muito pobremente desenvolvida para processar os estímulos que restam como elementos beta, e exercem uma pressão sentida sob a forma de agitação e ansiedade. Paralelamente temos o apelo ao ritual obsessivo de arrancar cabelos como uma defesa rigidamente estruturada.

Nos primeiros anos desta análise observamos: intenso desamparo diante da demanda pulsional que se fazia então violenta pela precariedade dos recursos do ego; medo da dependência em relação ao objeto; medo do desapontamento quando se arriscava a explicitar sua necessidade; o ódio à dependência; o recorrer a um refúgio psíquico (Steiner, 1997); a necessidade de se sentir muito apaixonada, que me parecia ser um apego à excitação; um ego muito fragilmente estruturado; uma concepção de si mesma desvalorizada e sem os recursos que, com a análise, foi descobrindo ter; presença de cisão de aspectos que pouco a pouco foram sendo integrados.

Ao longo de nosso convívio, com muita frequência ela vinha para as sessões em meio à agitação, falando sem parar, esfregando as mãos ou arrancando ferozmente o esmalte da unhas, e eu me percebia diante de uma tarefa quase hercúlea, como se tivesse um recipiente pequeno demais para conter água de chuva que fluía abundantemente.2 Sua situação de vida era muito precária no momento da busca da análise, a qual se deu quando sua antiga terapeuta faleceu. O mais fixo em sua vida era um emprego que lhe proporcionava sustento, uma rotina estruturada e o plano de saúde que lhe possibilitava a análise. Eu tinha claramente a vivência de estar acompanhando alguém muito necessitado, mas que não tinha noção precisa disso.

Após alguns encontros ela me contou que arrancava os cabelos, mas não se ocupava disso durante as sessões. Sua história, repleta de separações, perdas, desencontros e inúmeras dificuldades cotidianas e de relacionamento, era o objeto de nossa conversa. Sua vida era turbulenta, lançava-se fácil e frequentemente a condutas aditivas, tais como o próprio arrancar cabelos, mas também a outras atividades feitas de forma compulsiva. Vez por outra, e com muito constrangimento, referia-se à vontade de parar de arrancar cabelos.

À medida que ela foi passando a ter uma condição de maior integração e a falar dos seus estados mais desamparados, a dupla pôde perceber que o arrancar cabelos era apenas a conduta observável de um processo que começava com a desconexão entre ela e o objeto. Durante os encontros analíticos, estando minha mente voltada a observá-la, percebê-la, receber e transformar o que vinha dela em algo representável e comunicável, foi se construindo dentro dela um espaço mental propício a projeções e introjeções. Aos poucos ela foi se sentindo mais contida e reconhecendo o contato com um objeto continente como algo útil, que a tirava de um círculo vicioso de crescente agitação-excitação. Passou a procurar outras atividades que também lhe permitiam maior continência aos seus estados de mente e foi recuperando antigas amizades.

O arrancar cabelos também passou por transformações. No início de sua análise estava completamente desligado em termos de sentido, não havia associações em sua mente e não se constituía em algo a ser dito ou pensado, mas a ser vivido ou atuado, fruído solitariamente: aliviava-se, entretinha-se. Contava apenas que começou a arrancar cabelos na puberdade após um surto de piolhos na escola. Esse episódio dirigiu sua atenção para os cabelos, e mesmo após o extermínio dos piolhos continuou catando, mexendo e finalmente arrancando os fios. Por essa época passou férias na praia com a família e relaciona esse momento ao início do arrancar.

Demoramos alguns anos até que o arrancar cabelos pudesse ser abordado na análise e somente então pude ver uma ou outra vez, da minha poltrona, as falhas que se mostravam com algum movimento de cabeça. Suponho que existissem antes, mas eram cuidadosamente ocultadas. O sentido do arrancar cabelos foi sendo desvelado ou quiçá construído, e à medida que esse ato deixou de ser secreto, tem se tornado menos frequente. Minha hipótese é que, a partir do fortalecimento da nossa relação, que possibilitou uma mudança nos seus investimentos libidinais, ela tem se lançado com menos frequência a condutas compulsivas e finalmente passou por períodos em que conseguiu parar de arrancar cabelos. Com isso, as falhas começaram a ser preenchidas.

 

Sintoma ou passagem ao ato?

Podemos questionar se o arrancar cabelos é sintoma de um conflito subjacente entre um ato proibido e sua realização. Vamos atentar para o fato de que há prazer ao arrancar os fios e ainda vergonha e culpa depois do ato. Somado a isso, o ritual de arrancar os fios está situado no quadro das neuroses obsessivas que Freud denomina neurose de transferência. Essas neuroses têm como pressuposto que o sintoma é uma construção simbólica, e é uma solução de compromisso entre a realização do desejo e sua interdição.

Mas a dificuldade que vivemos ainda hoje em encontrar um sentido para tal ato nos deixa imaginando se o arrancar cabelos não acontece justamente por não haver se formado uma representação simbólica. O arrancar cabelos seria então como uma passagem ao ato, quando o corpo entra em cena por não haver se criado um invólucro simbólico que o protegesse. Sabemos que um símbolo é uma representação que se forma a partir da presença do objeto e de suas características sensoriais percebidas. O símbolo criado é então evocado a partir da ausência do objeto, e progressivamente dota de interesse e vida as ligações que o sujeito vai estabelecendo no mundo.

Penso que, ao lançar mão desse ritual de arrancar cabelos, minha paciente se envolve em uma condição mais ligada à sensorialidade. Ela experimenta e mantém uma situação de prazer dela para com ela própria, essencialmente autoerótica, pois prescinde de um objeto que não uma parte de seu próprio corpo. Penso então que o sentido do arrancar cabelos é manter uma atividade em que há uma desconexão entre ela e o objeto, a manutenção, portanto, de uma experiência autoerótica em detrimento da relação objetal.

Como afirmei anteriormente, percebemos ao longo de nossa experiência conjunta que outras atividades podiam ser usadas como um substituto ou droga. O trabalho foi uma delas. Ao aceitar trabalhos extras e dedicar noites e fins de semana a essa atividade, ela ficava quase que completamente isolada e isso favorecia a manutenção do estado defensivo. Um exemplo: nessa época conheceu um rapaz pela internet e passou a se comunicar virtualmente com ele. O contato, entretanto, era permeado por um sonhar e com um entreter fantasias prazerosas a seu respeito, e durante semanas não o conheceu pessoalmente. No meu entender, seus contatos virtuais se constituíam em uma atividade semelhante ao arrancar cabelos, pois tinha a ilusão de estar com alguém, mas estava de fato com uma criação feita por ela própria. Utilizava restos como imagens, frases e com elas forjava alguém para se entreter. Era a imagem que a entretinha! O mesmo movimento do afagar cuidadosamente um fio, e, depois de algum tempo, arrancá-lo e brincar com ele. O fio, como a criação de um namorado, é só seu; pode manipulá-lo como bem lhe convier. O que parecia ser um envolvimento e o início de um relacionamento foi se revelando como uma atividade solitária, autoerótica e masturbatória. No meu entender, esse funcionamento guarda uma semelhança significativa com a anorexia mental, na medida em que a meta é prescindir do objeto, abster-se do convívio e alimentarse do que ela própria produz.

 

O refúgio em um invólucro narcísico

O processo que começa com a desconexão entre ela e o objeto tem continuidade na execução de diversas manobras de passagem do mundo real para o alucinatório. Muitas dessas manobras são de caráter obsessivo, como o alheamento, que a leva a desligar-se progressivamente do que acontece ao seu redor e a procurar essa atividade, o arrancar cabelos, que lhe proporciona um prazer primitivo, sempre seguindo um ritual. Nessa manobra masturbatória vive a fantasia onipotente de gratificar-se e prescindir do objeto. O refúgio nesse invólucro narcísico a mantém à parte das frustrações, necessidades e desejos do mundo das relações objetais.

Com relação ao exemplo acima, quando pôde perceber que se ligava não a uma pessoa real, mas a uma criação sua, passou a notar também a falta que sentia de muitos itens em sua casa, itens básicos, como mesa e cadeiras para refeições ou trabalho, tapete, cortinas etc. Ao comprar e arrumar aqueles itens, então recém-adquiridos, pôde experimentar a satisfação de proporcionar a si mesma itens reais. Confessou que tinha certa noção de que precisava daquelas coisas, que afinal eram básicas, mas, como não encontrasse uma forma de obtêlas, achava que não precisava de nada.

Observo ainda uma semelhança com as perversões, na medida em que não há a renúncia a uma modalidade de obtenção de prazer autoerótica, muito primitiva. O circuito que produz satisfação tem de ser experimentado da mesma forma sempre, o que Freud (1905/1980) chamou de fixação da libido. E a única forma de experimentar uma satisfação idêntica à anterior é eliminando-se o outro, o objeto, que naturalmente traz o diferente, o não controlável, o imponderável. Assim, a questão do controle passa por caminhos curiosos, e penso nele como um paradoxo: por não conseguir tolerar qualquer alteração no circuito de prazer, ou seja, por ter de controlá-lo totalmente, se submetia, portanto, a uma condição de perda de controle.

 

O difícil percurso em direção ao mundo das relações objetais

A luta entre a busca de um refúgio no funcionamento narcísico − com fantasias masturbatórias em que pode se prover totalmente − e a permanência em um mundo objetal − em que necessita, deseja e, algumas vezes, realiza ou obtém − é constante e diária. No trabalho anterior cito versos de uma música dos Titãs que me veio à mente durante uma sessão: "Só quero saber do que pode dar certo/ Não tenho tempo a perder". Esses versos sintetizaram uma fase da análise em que estávamos às voltas com sua imensa dificuldade em se arriscar à aventura, que a levaria a cruzar um longo percurso em direção ao investimento no objeto e às relações objetais. Compreendi que o percurso incerto e custoso era principalmente aquele que empreendeu em meio ao mundo narcísico, em direção a uma possível troca objetal. Nas palavras que usou para explicar o seu estado deixou transparecer uma descrença na utilidade daquela empreitada, como se isso significasse um trabalho momentoso que possivelmente não resultaria no desejado. Com isso, percebi que o conflito entre o narcísico versus o objetal era uma constante no seu dia a dia.

Uma indagação inevitável é: o que a levou a se isolar, a ficar em meio a objetos mortos ou inertes? Como chegou a isso? Por que a necessidade de substituir os afagos recebidos por alguém pelos afagos autopraticados que a mantinham (e ainda a mantém em determinados períodos) entretida consigo mesma? Pois toda essa manipulação que culminava em um arrancar frenético, nocivo e desesperado (sem esperanças) era iniciada por um afago. Um movimento ensimesmado que, em vez de gerar pensamento, se perderia no mundo sedutor, imediato e raso das sensações.

Refletindo sobre isso, penso que seu ato compulsivo recebeu uma considerável herança de fenômenos transicionais (Winnicott, 1953/1975) perturbados. De fato, ela conta que usou mamadeira e chupeta até os oito anos, e um travesseiro até poucos meses antes do arrancar cabelos ter início na puberdade. Minha hipótese é que atravessou com muitas dificuldades os fenômenos da transicionalidade e que no processo vivido por ela os objetos utilizados, em vez de conduzi-la de um estado em que estava fundida com a mãe a um estado em que passou a estar em relação com ela como algo externo e separado, constituíram- se em um fim em si mesmos. Quero dizer com isso que o uso desses objetos e posteriormente o uso de seus próprios cabelos estiveram fortemente influenciados pela negação da separação, ou negação da dependência em relação ao objeto. Espero ter a oportunidade de desenvolver melhor essa hipótese em um trabalho futuro. Encontrei em Kanner, Buxbaum e Stadeli ressonâncias nesse modo de entender a função da compulsão como um entreter-se consigo própria semelhante aos fenômenos autoeróticos infantis.

Ao longo de sua análise pudemos conhecer um pouco o seu terreno mental, um terreno que, à medida que ia sendo conhecido, podia ser ocupado, ou urbanizado. Tenho em mente não uma terra selvagem, mas um terreno mal utilizado, explorado, como se explora uma favela. Esse modelo me foi sugerido por ela própria em uma sessão. Muitas vezes encontramos nesses aglomerados humanos um modo de vida espoliativo em que o lixo predomina. Vive-se da coleta e da venda do lixo, mora-se em meio ao lixo. O que chamo de lixo aqui é o produto do falseamento, a criação fictícia e mal-ajambrada que visa à substituição de algo verdadeiro e valioso por algo forjado e barato. Penso que viveu em meio a objetos, se não mortos, coisificados, ou, como nos esclarece Bion (1968/2000), falseados. A gratificação obtida pelo entreter-se com a própria cabeleira é um substituto barato (ou muito caro!) da troca com um objeto vivo, separado e autônomo. Por isso tenho a imagem de um terreno que vem sendo urbanizado e humanizado como proposta de uma nova organização. O novo aqui é que estamos caminhando em meio a essa proposta há sete anos e ela está experimentando mudanças.

 

Construindo representações através dos sonhos

Pudemos compreender que o que mantém esse estado de coisas é a crença na fantasia onipotente de autossuficiência, que continua prevalecendo em um recanto de sua mente. Na nossa experiência conjunta esse complexo foi se revelando através de sonhos relatados, em especial nos últimos anos da análise. Apresento um recorte.

O meu cabelo tinha caído todo, era um cabelo cheio e comprido, como o da C (uma subordinada no trabalho que é mais jovem que ela, tem semelhanças na sua história de vida e uma vasta e bela cabeleira), estava em algum lugar, pode ser minha casa, e o meu cabelo caía em tufos, e o pior é que não ia nascer mais. Chamava por minha mãe e falava para ela "Olha mãe, vai cair tudo!".

Nesse sonho, a presença do objeto é evocada no momento de sofrimento e desvalia. Penso que se fortalece a ligação com a analista como um objeto separado, ausente e necessário, e com o mundo objetal.

Eu estava sendo violentada pelo K (um antigo namorado com quem teve uma relação que provocou mágoa e frustração). Estava em um lugar escuro e ele estava por cima de mim e eu o afastava com a força do pensamento, porque ele era de fato muito mais forte. Ele tinha uma cara animalesca. E tudo que eu podia dizer era: "Saia daqui! Você não tem nada comigo, saia daqui!".

Na mesma semana ela produz esse sonho, em que o ato do estupro vem como uma representação para o apego à excitação e sensorialidade, que se constituem em um terreno fértil para o domínio do impulso irrefreável de arrancar cabelos. Esse impulso a invade violentamente e ela não tem como enfrentá-lo, a não ser com a possibilidade de usar sua capacidade de pensar.

Eu estava em um Gol daqueles antigos, quadradinhos, e estava sentada no banco de trás. Duas crianças estavam dirigindo e eu dizia: "Vocês estão sem cinto de segurança e está perto da cidade". Eles diziam: "Não! A gente sabe!", e não largavam a direção. Mas aí, em uma hora em que eles foram pôr o cinto de segurança, consegui tomar a direção. Mas então tinha que entrar no carro um monte de bagagem e ainda minha mãe, a S, a B (as irmãs), o M (namorado da adolescência), o B. Eu olhava e pensava que não ia conseguir, que não ia caber. Mas aí, com tudo e todos no carro, fomos indo por um caminho que ia para um lugar chamado Alto da Boa Vista e a estrada para esse lugar é muito íngreme, só dá para ir de caminhão. Fui até lá uma vez fazer uma trilha. Fui até certo ponto e então parei o carro e disse que ia ter que parar, que o motor não dava mais e iam ter que ir a pé.

Nesse sonho ela parece representar um momento de mudança, há um lado arrogante que sabe tudo e quer controlar a situação, representado pelas crianças. Mas vai sendo construído dentro dela alguém mais capaz de tomar as rédeas e conduzir aquele conglomerado de objetos e experiências que fazem parte de sua vida. No sonho representa o amontoado de pessoas e bagagens: está tudo compactado, tudo junto, apertado, todas essas figuras da sua infância e adolescência estão como em um armário velho em que as coisas socadas precisam ser revistas, escolhidas e arrumadas. Quer encaminhar uma integração, uma "boa vista" em sua vida, mas percebe que há uma precariedade dentro de si e que há muito trabalho pela frente.

Estava no seu consultório, mas não era aqui, era uma loja que vendia um monte de quinquilharia, sabe daquelas lojas que tem uma porta central e duas prateleiras laterais que ficam cheias de bugigangas? A loja da minha mãe é assim. O divã estava cheio de coisas e a loja cheia de gente, e não tinha lugar para mim, mas você me levava para uma sala nos fundos e me atendia ali. Era uma sala de madeira, eu achava aconchegante, mas tinha a minha filha pequenininha e a massagista lá. A minha filha ficava pulando de um lado para o outro, como as crianças fazem, e a M estava fazendo massagem, incomodava um pouco. Então a M enfiou a espátula na minha vagina e você falou "Isso não pode aqui!". Eu nem sentia, percebi quando você falou. Então eu falei para as duas que seria melhor que elas fossem embora.

Eu a consulto sobre a possibilidade de um adiantamento de dez minutos em um de seus horários. É um horário do início da manhã e preciso viabilizar o atendimento de outra pessoa no horário seguinte ao seu. Ela então sonha com esta loja lotada, que lembra a de sua mãe. Digo que poderíamos pensar que ela estava sinalizando que não tinha gostado do meu pedido para adiantar o seu horário. Mas, se em um nível edípico expressou seu descontentamento diante daquela sala cheia das irmãs que não lhe deixavam lugar, em um nível mais primitivo vai pondo em imagens e palavras o que aconteceu com o nascimento da irmã mais nova: perdeu o lugar junto à mãe! Aos dois anos sua mãe teve de ficar em repouso durante toda a gravidez de sua irmã. Na ocasião passou a rejeitar o contato físico com a mãe em especial e desenvolveu uma gagueira. Ela ficou aos cuidados do pai – a sala de madeira dos fundos, cheirosa e aconchegante. Mas lá se vê entregue à pressão que esse convívio lhe trouxe em termos de excitação, uma excitação difícil de metabolizar por sua mente infantil. E como faz sentido a necessidade de tem de uma afirmação organizadora: "Isso aqui não pode!".

Enquanto conversamos, ela se lembra de mais um pedaço do sonho.

Minha filha não morava comigo, mas num apartamento na avenida perto de casa e eu falava para ela que precisava tirar as coisas dela de lá para não precisar pagar mais dois aluguéis.

Ela está próxima de um âmago de si mesma e já pode prescindir um pouco das partes mais arcaicas e perversas de sua personalidade, a filha criança e a massagista que convidam para algo prazeroso e fora de hora. Na segunda parte do sonho penso que ela comunica que já pode dispensar o segundo apartamento porque está mais integrada.

Essa noite tive um sonho muito estranho. Via uma moça de cabelo curtinho, uma moça bem andrógina, adolescente. Não dava para saber se era homem ou mulher. Ela estava grávida, o pai da moça era um ator. Então parecia um filme, não alguém que eu conhecia! E o desespero dela não era contar para o pai que estava grávida, era contar que, além de estar grávida, era hermafrodita! Ela queria mostrar que tinha um pinto e eu assistia à cena do desespero dela de querer mostrar aquilo! E de repente quem estava na sala de parto e tinha o pinto era eu! E o médico era o que fez o meu parto. Lembro que alguém estava do meu lado colocando o soro, talvez o E (ex-marido) e eu falava "Mas é você que vai pegar a minha veia?! Cadê o enfermeiro?". Era uma situação tão precária…, não parecia uma sala de parto, mas um açougue e tinha um banheiro aberto. Não estava me dando nojo, minha preocupação era o incômodo de ter o pinto ali, aquilo me dava um incômodo, doía. Era uma sensação física. Eu pensava, como é que vai fazer para tirar? É como se estivesse me apertando. Não era o incômodo de pensar: isso aqui não é meu, é coisa de homem, era a sensação física! Tinha um pouco de vergonha das pessoas descobrirem que eu tinha aquilo, um pouco de receio. Mas não estava assustada a ponto de querer fugir, o que pensava era que aquilo ia me atrapalhar no parto!

Nesse sonho, tido logo após as férias, ela representa uma situação interna em que nega a sexualidade e criatividade do par. A jovem hermafrodita do sonho é uma bela representação da fantasia onipotente de autossuficiência, em que é tudo: homem, mulher e tem o bebê dentro dela. Nessa condição ela não precisa de nada e duvida da possibilidade de ser ajudada por outra pessoa. É a falta da vagina que a aterroriza, a falta de uma abertura permeável por onde possam acontecer trocas com o mundo das relações objetais. A paciente representou nesse sonho o imenso incômodo em perceber que precisa e quer estar comigo e retomar sua análise após a interrupção das férias. Esse sonho é uma bela representação disso e, ao trabalhá-lo, podemos retomar as boas condições para prosseguir com sua análise e, ao mesmo tempo, nos aproximar dessa fantasia onipotente de autossuficiência.

Segue-se um período em que podemos explorar algumas das impressões de sua infância, em particular a época em torno dos dois anos de idade em que ficou privada dos cuidados maternos. É dessa época em diante que ela localiza um sentimento de não precisar de ninguém por meio de uma lembrança que lhe vem à mente em uma sessão recente.

Eu me lembrei da época em que tinha um poncho vermelho e colocava o poncho e ia para a casa da minha avó, que morava na mesma rua, acho que a uns duzentos metros de casa. Eu pegava o meu ponchinho, uma cesta e, como na história do Chapeuzinho Vermelho, dizia que ia levar bolo para a vovó e saía. Não sei como minha mãe permitia isso!

Penso que ela se vestia com a fantasia de uma menina grande e possuidora já daquilo que justamente estava precisando: alimento, carinho, conforto. Não é que precisasse, dava! Vemos aí mais uma edição da fantasia onipotente de prescindir do objeto, quando se encastela em uma posição narcísica em que pode contar apenas com ela mesma e seus parcos recursos. De certa forma, como a Rapunzel, ela joga suas tranças. Não sabemos se não há ninguém para pegá-las, mas é ela própria quem encontramos nesse ato de resgate. Por essa época ela também desenvolve uma gagueira. Suponho que a gagueira alude a algo que retém, que não consegue enunciar, e minha conjectura é que isso se relaciona ao ódio, mágoa e ressentimento em relação ao objeto. Um último sonho vem ilustrar essa questão.

Eu tive um sonho com a E (uma profissional que pertence a outro escritório com o qual tive um conflito que culminou no rompimento de um contrato). Meu diretor falou que iria almoçar hoje com ela para saber sua opinião sobre a questão do contrato. No meu sonho eu vinha ao seu consultório e meu horário era tarde, umas nove da noite. Você ainda não tinha chegado e a E estava na sala de espera. Eu olhava e perguntava o que ela estava fazendo aqui e ela dizia que vinha muito aqui, fazia análise com você há dezoito anos (quando ela conta isso nós duas rimos). Ela até mesmo dizia que já era até amiga sua. Você sabe, a E é uma pessoa que fez uma boa faculdade, ela parece ser competente, mas ao mesmo tempo parece não se comprometer com o que faz, não parece ter responsabilidade suficiente, e se veste daquele jeito, desleixada, não usa salto, só roupas largas, não pinta o cabelo. A gente fica sem saber se ela é uma pessoa de cinquenta anos malcuidada ou de setenta anos descolada! Eu gostaria de saber se ela tem a mesma posição do F porque estamos achando que ela aceitaria nossa proposta. Então no sonho você chegava e, quando eu ia entrar para a minha sessão, ela entrava junto comigo. Imagina! E ficava lá e só ia embora cinco minutos antes de terminar a sessão. Quando ela se foi você me perguntou por que eu havia permitido a entrada dela, você falou que cabia a mim deixá-la ou não entrar…

Começa a surgir, sob essa roupagem, mais um lado seu que vem fazendo aparições aqui e ali. Trata-se de alguém desleixada, descomprometida, irresponsável, mas que, sobretudo, não quer se deixar pressionar, não se importa ou não pode ocultar o desleixo, o pouco-caso e a desconsideração que, no caso dessa profissional, levaram a um rompimento de contrato. De fato estamos falando de uma sobreposição de contratos e acordos. O acordo que moldou sua vida é, sobretudo, esse acordo tácito de não reclamar, não mostrar o desleixo, a preguiça, a sujeira, a raiva. Enfim, toda essa gama de emoções que possivelmente ficou truncada na fala gaga infantil. Ela parece estar certa de que não há como expressar esse nível de emoções. Possivelmente vem daí o ataque aos próprios cabelos, apenas com ela mesma podia expressar esse ódio mutilador.

 

Considerações finais

Gostaria de enfatizar que esses sonhos foram trabalhados nas sessões de uma forma mais abrangente que inclui o trabalho com a transferência. Esse recorte tão somente tem o objetivo de ilustrar a represe

Dos psicanalistas consultados encontro ressonâncias com a afirmação de English (1949, citado por Galski, 1983) de que o arrancar cabelos é uma forma perversa de obter o alívio de tensão e lidar com a frustração quando não foi possível desenvolver formas mais maduras de gratificação emocional. Concordo com Kanner (1950, citado por Galski, 1983), que o considera uma manipulação do corpo semelhante ao chupar o polegar. Penso como Buxbaum (1960) que não se trata apenas de uma agressão contra si mesmo, mas, sobretudo, do resultado de sentir-se desolado e não amado, um ato desesperado que pode acontecer quando o ambiente falha em prover suporte emocional. As afirmações de Stadeli (1963, citado por Galski, 1983) que relacionam o arrancar cabelos às vicissitudes da relação mãe-bebê fazem ressonância, quando ele afirma que os sentimentos ternos ou agressivos pertinentes à fase oral e associados à relação mãe-bebê são suprimidos, o desenvolvimento dos sentimentos corporais fica perturbado e o desenvolvimento das relações objetais, prejudicado. A criança procura autoamparar-se e sentir-se viva através desse puxar cabelos, que, embora possa ser nocivo, vai satisfazendo suas necessidades de ternura e contato de uma forma primitiva. Observo semelhanças com Galzki, que localiza o início desse comportamento na puberdade, em pessoas com desenvolvimento egoico bastante precário, falhas na aquisição da constância objetal e grande dificuldade em relação à separabilidade. O ritual completo: brincar, arrancar e finalmente incorporar novamente o fio, comendo-o, poderia ser um substituto concreto e atuado de um processo em relação ao objeto que não aconteceu simbolicamente.

Ao longo do processo de análise a paciente não apenas foi construindo uma mente capaz de processar as experiências sensoriais e transformá-las em elementos oníricos, mas foi prescindindo do uso pervertido, adicto e compulsivo que fazia de uma parte de si mesma. Penso que um elemento essencial foi a tolerância à necessidade do objeto. Em determinados momentos de sua análise travou-se uma verdadeira luta entre a tendência a permanecer no reduto narcísico e a busca do objetal. Tal luta deu-se em um cenário em que a presença da analista era naturalmente descontínua, mas efetiva. Quero dizer com isso que, se por um lado teve de se defrontar com a dor de precisar de um objeto que não estava continuamente disponível, ao menos podia contar com o vínculo analítico durante as sessões, que tiveram sua frequência semanal progressivamente aumentada. Numerosas foram as tentativas de desvalorização do vínculo analítico e podemos ver nos sonhos apresentados uma meia dúzia delas.

Tendo pavimentado de certa maneira o vínculo comigo, que ao mesmo tempo possibilitou a tolerância à separabilidade, passamos a observar que pôde admitir também todo um lado seu que havia ficado cindido, e estamos às voltas com questões ligadas à integração de um lado menos nobre de si mesma. Tenho em mente que este é um trabalho em andamento e espero que a possibilidade de continuar a pensar sobre a experiência vivida com essa paciente possa nos levar a novos desdobramentos.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Alessandra Ricciardi Gordon
Rua Pedroso Alvarenga, 1245, cj. 103
04531-004 São Paulo, SP
Fone: 11 3071-3757
E-mail: argordon@uol.com.br

Recebido em: 26/5/2011
Aceito em: 1/6/2011

 

 

1 Psicanalista, membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP e mestre em Psicologia na Saúde pelo Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da UNIFESP.
2 Agradeço a sugestão dessa metáfora à colega Cleusa Gouveia Nery.

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