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Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.44 no.81 São Paulo Dec. 2011

 

REFLEXÕES SOBRE O TEMA

 

Sobre a transitoriedade: a seta do tempo

 

On transience: the arrow of time

 

Sobre la transitoriedad: la flecha del tiempo

 

 

Paulo Cesar Sandler1

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo - SBPSP
Accademia Lancisiana de Medicina, Roma

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O método crítico (criticismo), que isola e descreve metodologias de estudo, formulado por Kant, foi uma raiz da psicanálise de Freud – e de toda ciência moderna. Senso comum, formulado por Locke, base da ciência moderna e da psicanálise, difere de lugar comum, ambas as concepções popularizadas e banalizadas no meio leigo, propagando-se nos movimentos de origem científica por dificuldades de aprendizado das contribuições de autores clássicos. O presente estudo examina criticamente, segundo o vértice psicanalítico e a formulação da história das ideias (Vico e Berlin), a concepção de tempo enquanto verdade absoluta, independente de espaço.

Palavras-chave: Pre-concepções, Posição esquizoparanoide, Alucinose, Teoria da relatividade, Espaco-tempo.


ABSTRACT

Kant's criticism, a critic description of methodologies, was one of the roots which gave birth to Freud's psycho-analysis as well as of all modern science. Common sense, as formulated by John Locke, is the main bearing of modern science as well as of psycho-analysis. It differs from common place, the popularized concepts obtained by banality which permeate the laymen's environment and, alas, propagated to movements whose origin was scientific, due to difficulties of learning what the classical authors wrote. The present study scrutinizes critically, under a twofold method, the psycho-analytic vertex and the history of idea's vertex (Vico and Berlin), the concept of "Time", specially when it is regarded as an absolute truth, quite independent of "Space".

Keywords: Preconceptions, Paranoid squizoid position, Hallucinoses, Theory of relativity, Space-time.


RESUMEN

El método crítico ("criticismo") que aísla y describe metodologías de estudio formulado por Kant, fue una raíz del psicoanálisis de Freud – y de toda ciencia moderna. Sentido común, formulado por Locke, base de la ciencia moderna y del psicoanálisis, difiere de lugar común, concepción popularizada y banalizada en el medio lego, propagándose en los movimientos de origen científico, por dificultades de aprendizaje de las contribuciones de autores clásicos. El presente estudio examina críticamente, según el vértice psicoanalítico y la formulación de la historia de las ideas (Vico y Berlin), y concepción de "Tiempo", como verdad absoluta, independiente de "Espacio".

Palabras clave: Preconcepciones, Posición esquizoparanoide, Alucinosis, Teoría de la relatividad, Espacio-tiempo.


 

 

Termos científicos

Definir precisamente termos difere de definir a realidade aos quais os termos tentam se aplicar. Trata-se de atividade básica (fundamental) para a comunicação entre cientistas e com leigos interessados, feita geralmente em linguagem técnica de significado amplamente conhecido na área específica; por exemplo, psicanálise. Reflexo da mesma precisão necessária em quase todo tipo de comunicação no cotidiano humano, pela linguagem coloquial. Exceções: por vezes, é necessário prover penumbras de significados, o que pode ser destrutivo na ciência mas construtivo na arte. Por exemplo, o uso controlado e preciso, por eficácia, de metáforas e metonímias na comunicação escrita, auditiva e visual das tradições míticas, da poesia e da literatura. E em todas as suas descendências: pintura, escultura, teatro, música, especialmente impressionistas e expressionistas; no seu ramo mais atual, cinema.

Por ciência, entendo um modo de aproximação a fatos reais, compartilhável por senso comum – cuja definição original, formulada por John Locke (1690/1988) é o uso de dois ou mais sentidos humanos (visão, audição etc.) ou vértices de observação através de experiência. Em psicanálise: a clínica.2

Consigna básica dos editores deste periódico: eventuais colaboradores devem discorrer sobre "tempo e psicanálise". Talvez movidos pelas intenções dos fundadores, incluíram no chamamento algumas descobertas de Freud a respeito dotema – acrescidas de on transience (Freud, 1918/1958f).

 

Kant e Física

O advento do Iluminismo desmontou boa parte do ensinamento dogmático, reimplantando a ciência. Mas não terminou com a influência do establishment religioso. Fenômenos óbvios, como a morte, ou a transitoriedade de tudo, permaneceram alvo de negação irrealística.

Talvez seja impossível escrever a respeito de concepções do que ainda hoje se chama tempo sem considerar a obra do maior sábio do Iluminismo: Kant. Isso seria incorrer no risco de desorientação: little learning is a dangerous thing3 (Pope, 1711, p. 25). Inestimável foi a contribuição de Kant para o surgimento da psicanálise, por ele antevista sob outro nome: "antropologia"(Kant, 1781/1994).4 Kant conseguiu utilizar-se de alertas de David Hume, que o "acordou do sono dogmático" (Kant, 1783/1980). Em função de seu temperamento timorato, Kant abandonou a carreira de físico prático, após contribuir para a história dos erros apressados de pseudocientistas impacientes. Parte de suas visões epistemológicas sofrem do mesmo engano. Kant criticou adequadamente o racionalismo de Descartes e o idealismo de Leibniz – mas seduziu-se pela perspectiva simplista de causas e efeitos: um algo que antecede outro algo deve ser considerado como causa; o outro algo, efeito. Estava inventada uma definição absoluta de tempo. Teoria de causalidade que impactou o leigo, ganhando lugar comum – diferente de senso comum – no sempre popular positivismo. Trezentos anos depois, foi reconhecida como falsa, principalmente pelas obras de Darwin, Freud, Planck e Einstein (Penrose, 1989/1991) ( Sandler, 1997, 2001a e 2001b).

Kant usou a noção de tempo para iluminar outra noção: o conceito a priori, muito polemizado em sua época. Séculos depois, graças à biologia darwiniana e à sua filha, a psicanálise, evidenciou-se que a natureza nos equipou, por herança filogenética, com muitos conceitos instintivos a priori. Que, para Kant, eram apenas três: tempo e espaço, descritos na Crítica da razão pura (Kant, 1781/1999), e o imperativo categórico, descrito na Crítica da razão prática (Kant, 1788/2011).

 

Os a priori tempo e espaço

Inspirado na definição de "conjunção constante" formulada por Hume (1788/1994), Kant postulou que o observador impõe sobre os fenômenos dimensões de espaço e tempo que pertencem a ele, observador, e não ao objeto. Isso indica a existência de um objeto que "já está lá" (Gardner, 1989). Kant (1781) intui que espaço é algo que as pessoas sabem que existe, mas não por experiências sensoriais, exteriores às pessoas. Haveria uma posse do espaço interna ao sujeito, como intuição ou categoria a priori, que o possibilita como que farejar, perceber e encontrar o espaço fora de si.

Espaço e tempo, por serem tomados como valores absolutos, tornaram-se divindades na obra de Kant (Sandler, 2000). Algumas ideias reconhecidamente falsas, caso sejam transcendidas, podem servir para uma maior aproximação à realidade, tal como ela é. Se estavam erradas – coisa comum em ciência – iluminaram uma realidade: a dos conceitos a priori. Sua importância transcende a falsidade contida nos exemplos tempo e espaço. Perceber erros não equivale a denegrir nem desprezar os acertos. Idolatrar ou idealizar, esclareceu Freud, difere de respeitar e considerar.

Fiz a hipótese (Sandler, 1997, 2000, 2001a, 2003) de que Freud e Klein, dispondo de instrumental clínico, apoiaram-se em Kant para formular a existência de algo que denominaram transferência, projeção e identificação projetiva. Permitindo-nos, então, afirmar que o observador não impõe, mas pensa poder impor. Kant reviveu Platão e anteviu a ciência moderna: o observador interfere no fenômeno observado na medida em que algo dessa observação depende do próprio observador. O ser humano não poderia sequer suspeitar da existência do objeto caso não existisse a intuição a priori. No modelo prototípico sugerido por Bion (1961/1998, 1962), hoje clássico em psicanálise, uma criança possui uma pré-concepção seio – na terminologia de Freud, protofantasia – necessária para que a criança possa procurar seio fora dela. Entrando em contato com um seio (oferecido, real), diferente de o seio (psicoticamente absoluto, idealizado, pré-concepção em estado bruto), poderá conhecer que existe seio (a qualidade, forma ideal, númena). Uma criança que não intui a existência do seio morre de inanição.

Winnicott (1969) observou que o seio é algo que já existe e simultaneamente é criado pelo bebê. Paradoxos, em análise e na vida, demandam ser tolerados, não resolvidos. Tenho proposto que a tolerância de paradoxos poderia ser considerada como terceira regra fundamental de psicanálise, após associações livres e apreensão do triângulo edipiano. A personalidade autoritária, plena de desejos, impõe a resolução – única e exclusiva.

Localizamos assim aspectos que limitaram o alcance da obra de Kant na apreensão humana da realidade – já apontados por seu mestre, Georg Hamann (1775/1988), autor hoje esquecido. Tais aspectos incluem a concretização e absolutização das noções de espaço e tempo, sem que se faça uso de analogias ou modelos. Impressiona que, dentro de todos os autores, bem aquele que observou a possibilidade de elaborar modelos, não pode usá-la neste assunto! Minha pesquisa demonstra que muitos autores reconhecidos notaram que espaço e tempo, para Kant, são medidas absolutas na lógica euclidiana: Ernst Cassirer (1907/1957); Bertrand Russell (1946); Max Planck (1949/1994); Stephen Hawking (1988); Roger Penrose (1988).

Kant indicou a natureza negativa dos númena; mas só com a psicanálise foi possível finalmente perceber que seio – a concepção – surge se a pessoa percebe que um seio não é o seio. Ou seja, não é o seio que ela quer. O seio concreto externo, no embate que sofre com o seio interno a priori, intuído, resulta no seio real, que vai conferir validade empírica à intuição de seio (concepção). Mas nunca ao seio inventado e desejado. O resultado, seio real, é inevitavelmente frustrante, com componente negativo que possibilita o pensar e o surgimento da concepção seio. Kant, timorato, não entrou no mundo que abriu: o espaço interno ou a noção de espaço só podem surgir no momento que tornam-se atemporais, em que se percebe o não-espaço. Bion prossegue essa elaboração quanto "ao espaço em que o ponto estava", em Transformações (Bion, 1965, pp. 34-42). A pessoa percebe, por experiência temporal, que não tem o espaço concretamente considerado dentro de si, ao contrário da suposição de Kant. A intuição seria o sentido interno, e não concretizações de espaço (e tempo), internas ou externas. Kant, contraditoriamente, fenomenizou dois dentre os númena.

 

Como/onde: espaço/tempo

Consequentemente, não posso escrever apenas sobre tempo. Determinadas experiências clínicas e de formação pessoal, descritas em detalhe em outros estudos, resultaram em concepções a respeito da unidade tempo que determinam outros rumos. Não posso escrever sobre tempo sem escrever sobre espaço. Pode-se pensar em duas faces da mesma moeda. O que importa é a moeda; não as faces. A moeda, no caso, é incognoscível de modo último.

Utilizando-me das clássicas e bem conhecidas contribuições de Freud (1914/1958d) e Melanie Klein (1948) a respeito de narcisismo e posição esquizoparanoide, descreverei questões fundamentais ligadas à percepção e também à concepção do que tem sido considerado "tempo". O recurso gráfico aqui – aspas – indica o caráter provisório, incompleto e tosco, quase rude, do termo tempo. Por limites de espaço, já que nem os editores, nem os leitores têm todo o tempo do mundo para ficarem lendo isso aqui, limitar-me-ei ao que me parece mais básico que possibilite perceber que tempo e espaço são inexoravelmente e inextricavelmente vinculados.

 

A seta do tempo

A física antecede a psicanálise no tempo, e Freud se beneficiou de noções físicas ao acoplá-las àquilo que a observação de sua própria vida e de seus pacientes lhe mostrou. Pode-se evidenciar, pelos escritos de Freud, suas excelentes noções sobre a obra de Kant e a física de Newton. Outras mentes robustas, como a de Isaac Newton, também sucumbiram quando o assunto era examinar aquilo que se chamava de tempo: suas descobertas sobre movimento, no ramo da física que ele chamou de "Mecânica", algo bem conhecido pelos que cursaram a escola secundária, assim como cálculos matemáticos que permitiram a descoberta do que hoje se chama de funções, limites e derivadas, mais conhecidos pelos que cursaram engenharia, física e matemática, parecem tê-lo deixado assustado. Até o fim de sua vida imaginou que o tempo podia voltar para trás. Imaginava-se dispondo de provas matemáticas para evidenciar a reversibilidade de tudo quanto é coisa que pudesse existir . Influenciou três séculos de pouco saber popular, refletido em romances fantasiosos que falam de "máquinas do tempo" etc. Newton deixou muitos problemas a serem resolvidos pelos físicos, o que garantiu o progresso notável dessa disciplina – enquanto que o leigo docemente acomodou-se nas fantasias imaginativas esperançosas, negando a transitoriedade e a finitude da vida pessoal, imaginando-se patrocinado por erros de grandes mestres.

Apenas no final do século XIX, por meio dos progressos dos estudos de termodinâmica, também iniciados por Newton, os físicos enfrentaram o fato de que há fenômenos irreversíveis. Descobriu-se que o calor sempre passa de um corpo quente para um corpo mais frio; nunca vice-versa. Princípios da natureza voltaram a ser mais repeitados.

Em 1910, Freud formula empiricamente os "Dois princípios do funcionamento mental". Em 1920, formula os "instintos de vida, de morte e epistemofílicos". Em 1946, Klein formula as "posições esquizoparanoide e depressiva". A comunhão integrativa dessas descobertas aparecem na concepção de continente-contido (Bion, 1962). Segundo minha experiência clínica, concepções mais próximas da realidade tal como ela é5. Será difícil encontrar alguém que não tenha pelo menos constatado a realidade empírica daquilo que se convenciona chamar morte, se aguda, e frustração, se crônica. Já delineadas quando físicos, biólogos e psiquiatras descobriram a transitoriedade do tempo e a finitude da vida dentro do universo infinito. A noção de tempo depende de uma elaboração do narcisismo e da posição esquizoparanoide, de uma diminuição da onipotência infantil, permitindo o insight a respeito da unidade espaço-tempo. Esse insight, análogo ao da física de Minkowsky, Poincaré e Einstein, denomina-se na mente humana, coloquialmente, morte: alguns obtém indícios de que o espaço-tempo se extingue. Talvez a única certeza absoluta – verdade última, coisa-em-si – que é dada ao ser humano obter, é a da realidade da morte: do indivíduo, das sociedades e do grande universo.

Para os que vivem em megalópoles, enfrentando a falta de trânsito nas ruas, onde 2 km podem significar uma hora, seria fácil demonstrar essa teoria de Einstein.

O fato do universo infinito ainda não ter morrido não implica que sempre tenha existido. O big-bang, o início de algo, baseia-se na teoria da relatividade geral, intuída e elucidada por Albert Einstein: o universo teria se formado de repente, de modo abrupto, após uma explosão gigantesca de algo dotado de massa infinita e energia infinita, há cerca de 15 bilhões de anos. Com isso, mostrou-se que questões do espaço não podem ser separadas das questões do tempo. Pensar em espaço e tempo separadamente, como se fossem absolutos, corresponde a primitivismo mental, algo reconhecido em psicanálise, após Klein e Bion, como expressão de um superego assassino. No caso, o assassinado é o conhecimento; tal primitivismo mental cria valores absolutos, de certo ou errado. Bion mostrou que a mente que não distingue o verdadeiro do falso recai nesse tipo de julgamento moral. Isso se liga à impossibilidade de se integrar o objeto total a partir do bom e do mau objeto (Bion, 1961/1988, p. 119). O matemático Whitehead (citado por Money-Kyrle, 1979), esclareceu, de modo bem-humorado, sobre uma origem mal-humorada de todas as guerras: o primitivo mental sociológico de clivar o mundo entre amigos e inimigos. Observou que Galileu e a Inquisição, como todos os briguentos, conseguiram concordar no único aspecto em que ambos estavam enganados. Acreditavam nos valores absolutos, a mesma falácia que havia iludido Kant. Para Galileu o centro do universo seria o sol; para a Inquisição, a Terra. Einstein esclareceu que o universo... Sequer tem centro.

Morte implica no surgimento de alguma concepção, na realidade mental, do sentido espacial do tempo, ou fluxo do tempo, chamado por Arthur Eddington6 de seta do tempo. (Eddington, 1933/1994). Constatouse que o universo infinito está repleto de processos irreversíveis. Uma estrela não brilha – mera sensação obtenível para quem tem retina–para sempre; ela desaparece. Os astrônomos, com a ajuda de físicos, constataram que o universo está se expandindo: não é estático nem eterno, como queriam as várias igrejas. Morte, enquanto sentido (vetorial), leva o pensar para uma concepção psíquica daquilo que se convencionou chamar – embora não se saiba o que é em seu âmago – paradoxalmente, vida. Ainda mais próxima da realidade última está a concepção dos instintos de vida e de morte, registro de fatos reais, empiricamente observáveis.

 

Unbewußt, o que não é conhecido: inconsciente

Obter alguma concepção do que vem a ser o fato denominado por morte implica em já ter obtido concepções mais primevas, observadas por Freud como os "Dois princípios do funcionamento mental" (Freud, 1910/1958b). Uma formulação de que poucos psicanalistas discordariam seria:

Ainda que nos sintamos inevitavelmente compelidos a postular a existência de um mundo real, no sentido absoluto, o fato de jamais podermos compreender totalmente sua natureza constitui o elemento irracional de que a ciência jamais poderá se livrar, e não se deveria permitir que este nome pleno de orgulho, "Ciência Exata", originasse qualquer subestimação da significância desse elemento de irracionalidade... Começamos nossas deliberações científicas de um ponto definitivamente ilusório. Procuramos um alicerce universal sobre o qual erigir o edifício da ciência exata, um alicerce de firmeza e segurança inquestionáveis – e fracassamos em encontrá-lo. Depois disso, sob a luz dos insights ganhos, reconhecemos que nossa busca estava fadada ao fracasso mesmo antes de ter começado. Pois, considerando de modo básico, nossa tentativa baseava-se na ideia de começar em nossa exploração científica a partir de algo irrevogavelmente real, e acabamos chegando a compreender que tal realidade última é de natureza metafísica e jamais pode ser conhecida de modo completo... Temos que nos satisfazer, entretanto, com um ponto de partida que seja de solidez inviolável, e mesmo assim de significância extremamente limitada, dado o fato de ser baseado apenas em dados individuais de experiência. É nesse modesto ponto que a pesquisa científica entra com seus métodos exatos, e trabalha, passo a passo, do específico para o geral. Para esse fim, ela precisa estabelecer e continuar mantendo em vista a realidade objetiva que persegue, e nesse sentido a ciência exata jamais pode dispensar a realidade, no sentido metafísico do termo... O asseguramento de toda nova descoberta e todo novo fato de conhecimento ganho a partir dela nos levará mais próximo de nosso objetivo, e deve compensar-nos dos inúmeros, certamente consideráveis, retrocessos que são necessariamente criados pelo contínuo embate contra o caráter intuitivo e facilidade de aplicação do retrato [sensorialmente apreensível] do mundo. Na verdade, o presente quadro científico do mundo, contrastado com o retrato original do mundo, ingênuo, mostra um aspecto ímpar, quase estranho. As impressões sensoriais experimentadas de modo direto, as fontes primordiais da atividade científica, ficaram totalmente fora do retrato do mundo, no qual a visão, audição e tato não mais tomam parte. (Planck, 1949, p. 99)7

A mecânica quântica iluminou que átomos e elétrons não existem na realidade. Como os belzebus da Idade Média e os jaguadartes de Lewis Carroll – na tradução em português de Augusto de Campos (Caroll, 1876/1980) – essas entidades só «existem» no campo da crença e das palavras que designam nossos enganos epistemológicos, alucinações e delírios.

Será que a função intuições a priori é um dos fatores constitutivos dos objetos internos naturais? Isso seria coerente com a conclusão de que intuições a priori não se referem a espaço e tempo. E serão os objetos internos alguns dos fatores que possibilitam a própria existência de intuição?

Fala-se a respeito de um espaço mental; muitos autores acreditam apenas na concretude concreta dos objetos internos. Não consideram o paradoxo matéria e energia – bem estudado na física relativística e quântica –, criando tendência irrealista para uma das naturezas, matéria ou energia. Recaem nos falsos dilemas filosóficos baseados em intolerância de paradoxos – matéria versus mente, matéria versus energia – em vez de captar o todo monístico, matéria/ mente (Sandler, 1997; 2000a; 2000b; 2003). A captação de fenômenos começa pela sua concretude: são sensações e sentimentos produzidos pelo aparato sensorial. Permanecer nesse nível caracteriza o pseudopensar psicótico. Cria confusão entre animado e inanimado (Bion, 1953, 1956, 1957, 1963; Segal, 1982). O que foi uma faison de parler,8 para introduzir o assunto, feito, por exemplo, por Klein (1934), acabou perdendo o caráter didático na mente de muitos leitores. O objeto internalizado, como símbolo interno, expressa o pensar emocional, e não coisas concretas. Objeto se refere a objetivo, movimento, e não a uma coisa. Não existe espaço mental como não existe tempo mental. Freud mostrou que tudo se integra, monisticamente, no inconsciente atemporal e anespacial – infinito como o é o universo que nos cerca. Intuição precoce de Freud, percebida no trabalho onírico (dream work), a inexistência de tempo absoluto e de espaço absoluto no inconsciente, que "é a verdadeira realidade psíquica" (Freud, 1900/1956), "sede atemporal" (espaço-tempo!) dos instintos (Freud, 1915/1958c). No setting analítico, ocorre o "aqui e agora", expressão paradoxal de Freud que traduz de modo direto a intrínseca unidade espaço-tempo, descoberta na mesma época por Einstein e correspondente à indivisibilidade de matéria e energia intuída por Planck. O termo cunhado por Freud, experiência emocional, descreve algo onde não há passado nem tampouco há futuro: há passado presentificado em memórias premonitórias do futuro, que será esquecido (Bion, 1975/1979). A vida só pode ser vivida naquele instante, naquele local. Carpe diem, dizia-se no senso comum da época clássica.

 

Espaço-tempo: movimentos entre posições descritas por Klein

Com finalidades didáticas, pode-se representar quase matematicamente o contínuo e vivo movimento de – para das posições descritas por Melanie Klein pelo signo PS<–>D. Em outros textos, inspirados nos métodos ontogenéticos de Vico (1744), revividos por Isaiah Berlin (1956), tentei mostrar este movimento em aquisições fundamentais na historia das ideias da civilização ocidental (Sandler, 1997/2003).

Evidências clínicas sugerem que a percepção do sentido interno, a um só tempo transcendente e imanente, constitui-se na realização do triângulo edipiano – algo possível em uma psicanálise; o que equivale dizer, na maturidade. Sentido interno é um termo de Kant, revisto e vivificado pela psicanálise. Kant o anteviu, mas no negativo – e como sendo perigoso para sua própria doutrina. Realmente o é, para qualquer racionalismo: doutrina autoritária que queira explicar ao invés de viver. Que prefira o falar sobre ao invés de ser. Kant criticou o racionalismo, mas não o ultrapassou de modo completo. Uma das contradições no que se refere a tempo aparece na certeza de Kant a respeito da impossibilidade de se adquirir alguma percepção interna a respeito do que ele chamava de alma, que jamais seria intuível; tampouco seria substância. Ao mesmo tempo, em uma de suas várias ambivalências temerosas, afirma que a intuição a priori do tempo é a única forma de sentido interno que existe.

Após Freud e outros menos conhecidos, como Theodor Reik (1948), Bion, com mais sucesso, trouxe de volta a obra de Kant para a consciência de alguns psicanalistas. Ao formular o imaterial objeto psicanalítico e procurar transcendentais (isentos de espaço e tempo) elementos de psicanálise, iluminou que a interpretação psicanalítica precisa conter elementos suficientemente gerais, da dimensão dos mitos transcendentais, além da dimensão do sensório e da paixão, temporais-imanentes (Bion, 1962, 1963). A conjunção constante de níveis de observação muito diversos entre si possibilita o que Freud chamou de insight, a auto-apreensão do sentido interno, do contato com quem se é na realidade. Não é algo criado por partenogênese, nem imaginado – é atemporalmente e anespacialmente sonhado, via phantasia – abreviatura para "fantasia inconsciente", conceito fundamental de Freud (1909/1958e), criado para a versão inglesa das obras de Freud por John e Alix Strachey com Joan Riviere, para evitar nascentes confusões com a mera fantasia imaginativa consciente. O termo foi posteriormente expandido por Klein, principalmente, na clássica revisão de Isaacs (1946). Universalmente adotado, inclusive por Freud, caiu em desuso na virada do milênio – talvez não por acaso, junto com o descuido e diluição de definições no movimento psicanalítico.

Espaço-tempo, ou espaço-continente e tempo-contido, expressam-se em reverie, amor e capacidade de amar (Bion, 1962; revisão em Sandler, 2005, 2011). Prototipicamente: (i) a mãe que gera o filho; (ii) bissexualidade humana – aspectos femininos e masculinos tanto no homem como na mulher (Freud, 1905/1958g). A seta do tempo, expressa por autoamor ou auto-ódio, preservação da vida (compaixão) e consideração à verdade, percebendo a morte, depende dos objetos internalizados.

Qualquer lei, ou ditame autoritário, indica congelamento na posição esquizoparanoide, impossibilitando a passagem para a posição depressiva. Seu inverso: humildade frente aquilo que é como é, na realidade, independentemente de nossas leis, desejos, desígnios ou visões. Kant não praticava clínica: não tinha o material de observação e, portanto, metodologia que pudesse lhe dar a noção de que o seu impõe, como um poder da mente humana, é pertinente apenas ao terreno da fantasia. Valorizar as paixões costuma ser assunto explosivo. Era na época de Kant; ainda é para o psicanalista. Fácil e rápido, seu borramento com alucinação, alucinose e delírio. Kant explicitou claramente que os dois conceitos a priori, espaço e tempo, eram "condição de sua possibilidade" (Kant, 1783). Definição indistinguível daquela atribuível à divindade. "O tempo não pode ser intuído externamente, tampouco quanto o espaço como algo em nós. Que são, porém, espaço e tempo? São entes reais?" pergunta antes, para logo se embrenhar em racionalizações e contra-argumentos – coisa típica de sua obra, pontilhada por ambivalências (Kant, 1781/1994, p. 40) (Sandler, 2000). O sábio de Königsberg estava muito próximo da dura realidade – "dura" por transcendente; não por difícil ou insuportável: não se pode intuir o tempo pelo fato de que tempo não existe. Sir Isaac Newton também foi submetido a esse teste crucial, do qual saiu, segundo John Maynard Keynes, "um pouco gagá" (Keynes; citado por Bion, 1965, p. 96). Não podia tolerar as dúvidas demonstradas pelos seus próprios cálculos – que colocavam em cheque suas teorias sobre os fluxions. Nunca mais conseguiu fazer física: seu laboratório incendiou-se. Acabou seus dias como chefe da Casa da Moeda, sinecura provida pela Coroa britânica. Recusou-se a dar um passo que levou mais de duzentos anos para ser dado por Einstein, na Alemanha.

Há danos para o processo de pensar quando prevalece a incapacidade de se intuir, conceber, respeitar e considerar a suprema criatividade da dupla parental. Quem foram os pais de Deus? Na tradição judaica e seu resultado mais conhecido, o cristianismo, inexiste alguma Mãe para a Divindade. Se existisse, teria que conceber virgem – o que dá no mesmo. Algo que seja condição universal de sua possibilidade é algo que não tem Pai nem Mãe: veio de geração espontânea. O tempo de Kant (ou em Kant, na obra de Kant), em sua condição autogeradora universal de sua própria possibilidade equivale ao Deus judaico-cristão descrito no Gênesis. Talvez essa seja uma expressão sintética daquilo que a psicanálise viria a observar como sendo onipotência: momento que me parece tipificar PS.

 

Quanto tempo leva?

Ocupar a posição esquizoparanoide em dedicação exclusiva (espaço) e tempo integral acarreta situações onde a pessoa perde a noção de que o tempo passa também para ela. Os fenômenos descritos por Freud como regressão, fixação e transferência são expressões dessa tentativa de negar a seta do tempo, a segunda lei da termodinâmica, o envelhecimento. Falamos imprecisamente: o tempo passa, mas quem passa realmente somos nós, nossa concretude espaço-temporal.

O espaço-tempo que ocupamos será deixado, por assim dizer, vago de nós. "Tempo", ou tempo-em-si não existe – não pode ser percebido. Nossa passagem pelo espaço-tempo pode ser abstraída de experiência. A crítica magoada e odiosa cotidiana ao envelhecimento, à novidade, expressam que a mesma resistência kantiana prossegue, sem desenvolvimento, como lugar comum na espécie humana. Imortalidade: sempre popular.

Um evento liderado por Sir Leonard Wooley, do British Museum, em conjunto com a Universidade da Pennsylvania, no início do século XX, impressionou a civilização ocidental: as escavações nas tumbas do rei Meskalam Du, em Ur, onde a corte inteira, inclusive a rainha Shub-Ad, se suicidou, pensando obter assim a vida eterna, sob o comando de sacerdotes. Que parecem não ter se suicidado voluntariamente (Wooley, 1961). Popularmente, no imaginário da sociedade, "maldições dos faraós" que "passeavam no tempo" tomaram conta da literatura, espraiando-se no teatro e no cinema. Bion trouxe o fato para o movimento psicanalítico várias vezes (1967a e 1967b), considerando que os cientistas primevos, ancestrais dos modernos cientistas, teriam sido os profanadores de túmulos, ao desafiar as trevas da ignorância advinda de autoritarismo religioso, das proibições e tabus. Em Medicina, os primeiros anatomistas e cirurgiões eram açougueiros. Os profanadores de túmulos seriam predecessores dos homens do Iluminismo, portadores do "espírito científico", de acordo com o instinto epistemofílico natural, eu acrescentaria. Bion questiona: "o que seria dos ladrões de túmulos se não existissem antes deles os construtores de túmulos?" (Bion, 1967a)

A noção do absoluto, do autosuficiente, autogerador, é possível apenas em estados autísticos e esquizoparanoides, expressos na área do pensamento como alguém que pensa in abstractio, independente da realidade tal como ela é. Em filosofia, tem várias denominações: idealismo, subjetivismo, solipsismo, desaguando nos relativismos de todo tipo. Vitimados por isso, imaginam que a própria realidade é fabricada pela mente ou pelo ser.

Freud manteve sérias restrições ao conceito de tempo em Kant como intuição a priori. Isso o permitiu observar a existência da atemporalidade do inconsciente – uma de suas características mais fundamentais. Kant teria provido o negativo, o degrau para o passo de Freud. Tenho a impressão de que a conjunção destas reservas que ele mantinha permitiram-no adentrar no terreno delineado por Kant, tanto quanto ao sentido interno, como quanto à atemporalidade do inconsciente, que desafia o tempo como um a priori e valor absoluto.

Submeter-se a uma psicanálise implica num tempo usualmente visto como "muito tempo". Em 1905, algo em torno de 2 anos. No final da vida de Freud, acima de 5 anos, exigindo o que se chamou reanálises. Hoje, não é raro encontrar relatos de algumas décadas; "interminável", escreveu Freud (1937/1964a) após quase meio século de investigação. Percepções a respeito do insight psicanalítico indicam que boa parte dos espaços-tempos – o como-onde em que ocorre uma psicanálise – são fugazes, transitórios, parciais. Pode também haver totalidades avassaladoras, que muitas vezes são submetidas à resistências – no sentido indicado por Freud – e esquecimento. Pode haver repressão e lançamento ao inconsciente de algo que foi visto pelo par, apreendido e percebido, mas submetido a ódio assassino. A "aurora do esquecimento", como a classificou Bion (1996), geralmente é posterior e dependente de ter havido insight. Que, por sua vez, pode ser momentâneo: como se a vida durasse um segundo. O insight pode se estabelecer por elaboração, após muitos anos, quando o convívio do par não mais existe. "Só agora vejo o que mamãe ou papai diziam": expressão disto no senso comum.

Houve outras influências de Kant: a formulação da instância do superego, o desenvolvimento da observação da compulsão à repetição, todos já embrionariamente esboçados por Immanuel Kant. Tentou ultrapassar o racionalismo lógico e os problemas advindos da dedução de modo geral, sem consegui-lo; mas abriu o caminho para a ciência moderna, vindicado por Darwin, Freud, Planck e Einstein, que livraram-se do racionalismo euclidiano da filosofia do consciente. Este teria limitado a obra de Kant, condenando-o a postular algumas verdades absolutas e exclusivas, ainda que criticamente. As bases visuais da lógica racional euclidiana, sensorialmente apreensíveis, concretas, mostraram-se insuficientes quando o intuito é tentar alcançar o espectro de abrangência da mente, do micromundo atômico, do grande universo relativístico-quântico.

Delineamos o que nos parecem ser enganos, utilizando o método crítico estabelecido pelo próprio Kant, acrescido do método de estudo de história das ideias de Vico, revivido por Freud, Berlin e Bion. Enganos ou limitações intrínsecas à condição humana de nossos pais podem se constituir numa importante fonte de aprendizado para nós, filhos, que ficamos livres para a alternativa, ao observá-los sem idealização. Obteremos, pelo menos, alguma originalidade em nossos próprios enganos.

Tempo e espaço tem sido uma das mais duráveis falácias do pseudo-pensar humano, ligados a núcleos onipotentes que nos fazem negar o efêmero, nossa imensa ignorância e a falta de controle sobre a vida e o mundo. Tempo e espaço considerados de modo absoluto, clivados um do outro, são reais enquanto palavras que expressam apenas uma realidade: a capacidade humana de alucinar e delirar. A discriminação entre alucinar e delirar, de um lado, e os processos oníricos, de outro, tem se revelado difícil, tanto na clínica com na teoria – desde Freud. Por vezes, a invocação às bruxas, na citação de Goethe em Construções em análise (1937/1964b) demonstra-se perigosa.

A divindade da tradição judaico-cristã mandou fazer a luz, os mares, o ser humano etc. O idealismo/subjetivismo diz, explicitamente: os fatos, o mundo, são o que a mente acha que eles são, o que a mente cria. Nesse sentido, a tradição judaico-cristã pode ser vista como um passo mais desenvolvido da mente humana, que tira do indivíduo tais poderes, ainda que de modo ineficaz – fato observado por Freud, em Totem e tabu (1913/1965) e Moisés e o monoteísmo (1938/1964c). A resposta inicial-final a tudo "extingue" a dúvida. Negando o processo de conhecer, legalizando a opinião individual, acena e propagandeia a posse de O: o idealismo acima descrito. O inverso desses idealismos é perceber que o inconsciente formulado por Freud é o depósito vivo dos vários númena, ou na linguagem de Bion, O da espécie humana. Caberia à psicanálise aproximar-se, como diz Bion (1975, p. 8), o máximo que puder destes "O"s: o triângulo edipiano, PS<–>D, os dois princípios do funcionamento mental, os instintos de vida e de morte. "O cerne de nosso ser, então, é formado pelo obscuro id, que não tem a menor comunicação direta com o mundo externo, e mesmo ao nosso conhecimento, só é acessível pela intermediação de uma outra agência. Dentro do id operam os instintos orgânicos, que são compostos de fusões de duas forças primais (eros e destrutividade) em proporções variáveis" (Freud, 1920/1958a; 1938/1964c, pp. 197-198). Com base nessas observações, pode-se afirmar que os instintos "conhecem" o espaço-tempo, e que estes não são sua criação individual; algumas pessoas sabem a respeito de sua morte, quando ela está próxima, no espaço e no tempo.

Dúvida é intrínseca ao processo de conhecer: diverge do conhecimento. Necessária para tentar estar o mais próximo possível de O, sem nunca alcançá-lo. Acaba sendo niilisticamente rejeitada, em aguda negação da experiência. A dúvida filosófica e a dúvida científica se substituem por voluntarismos desejosos, "leis do mais forte", ordenando concretude das imposições. Não espanta que movimentos religiosos e políticos resultem invariavelmente em autoritarismos e ideologias. A descoberta da memória filogenética e os avanços da genética provêm um útil esclarecimento transdisciplinar à questão da intuição a priori, que fica, assim, indissoluvelmente ligada à experiência. É impossível não fazer a hipótese de que todos os mamíferos, hoje em dia, possuam uma memória filogenética do seio, que constitui sua pré-concepção do seio. Ressaltemos que Immanuel Kant não negou a natureza, frente a qual, segundo ele, "a razão se dobrava" (Kant, 1783/1980). A obra de Kant contém, em uma analogia biológica, vários esporos, locus que podem ser germinados e efetivamente o foram.

Talvez o leitor benevolente possa aceitar minha declaração inicial: "não posso escrever apenas sobre tempo".

 

Referências

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Endereço para correspondência
Paulo Cesar Sandler
Rua Gomes de Carvalho, 892/31 | Vila Olímpia
04547-003 São Paulo, SP
Tel: 11 3045-0115
E-mail: dr.pcsandler@gmail.com

Recebido em: 16/10/2011
Aceito em: 1/12/2011

 

 

1 Membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP. Mestre em Medicina usp, membro honorário da Accademia Lancisiana de Medicina, Roma.
2 O leitor interessado em se aprofundar em definição de termos e suas vicissitudes no movimento psicanalítico poderá consultar The Language of Bion, a dictionary of concepts (Karnac Books, 2005).
3 Pouco saber é algo perigoso , observou o sábio do Iluminismo inglês, Alexander Pope.
4 Há poucos textos específicos para uso de psicanalistas versando sobre sua obra; em português, apenas a série A apreensão da realidade psíquica. O texto acima resume o volume II.
5 O termo, "realidade tal como ela é" tem sido utilizado pelo menos desde a época de Francis Bacon; repetido por Immanuel Kant, e, na psicanálise, por Freud, Klein, Winnicott e Bion. Expandido em Sandler, 1997, 2001a.
6 Um dos primeiros físicos práticos que confirmaram empiricamente a teoria da relatividade específica formulada por Einstein – por coincidência, no Brasil (Recife). Para descrição detalhada, ver Eddington, 1933 e Sandler, 1997).
7 Tradução livre e grifos do autor. Entre colchetes, o sentido do conceito "retrato do mundo".
8 Modo de falar.

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