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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.44 no.81 São Paulo dic. 2011

 

REFLEXÕES SOBRE O TEMA

 

O nascer do outro na mente <–> o nascer da própria mente: antes... Agora... E depois?

 

The birth of the other in one's mind <–> the birth of one's own mind: before… Now… And after?

 

El nacimiento del otro en la mente <–> el nacimiento de la propia mente: antes... Ahora... ¿Y después?

 

 

Cleuza Mara Lourenço Perrini1

Instituto de Psicanálise "Durval Marcondes" da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A autora relata uma experiência emocional vivida com sua paciente quando do desenvolvimento da percepção do nascer de sua própria mente e também a experiência sofrida por ela do reconhecimento da existência do outro. Observa um padrão de relacionamento ao longo do trabalho analítico onde a força da manutenção do vínculo na dupla ocorre através da oscilação presença<–>ausência abrupta e ameaçadora da paciente, tanto nas sessões como em suas relações. Utiliza vinhetas clínicas como estímulo à compreensão do que se propôs. A autora faz um convite à reflexão a respeito dos desdobramentos dessas descobertas sobre a questão da temporalidade proposta no título do: antes... do agora... e do depois...

Palavras-chave: Ataque ao vínculo, Desamparo, Mente própria, Separação-individuação, Temporalidade.


ABSTRACT

The author reports an emotional experience lived with her patient when developing the perception of the birth of her own mind and also the suffering experience of recognizing the existence of the other. It has been observed a relationship pattern throughout the analytic work in which the maintenance strength of the pair link occurs through the oscillation of the abrupt and threatening "presence<–>absence" of the patient, either in the sessions or in her relationships with other people. Clinical vignettes are used as a stimulus to understand what is being proposed. The author invites to and suggests a reflection concerning the breakdown of those findings about the temporality matter presented in the title: before… now… and after….

Keywords: Abandonment, Attacks on links, Own's mind, Separation-individuation, Temporality.


RESUMEN

La autora relata una experiencia emocional vivida con su paciente cuando estaba produciéndose el desarrollo de la percepción del nacimiento de su propia mente y también de la experiencia sufrida por ella al reconocer la existencia del otro. Observa un modelo de relacionamiento a lo largo del trabajo analítico donde la fuerza de manutención del vínculo de la dupla ocurre a través de la oscilación presencia-ausencia, abrupta y amenazadora de la paciente, tanto en las sesiones como en sus relacionamientos. Utiliza viñetas clínicas como estímulo a la comprensión de lo que se propone. La autora hace una invitación para reflexionar a respecto de los desdoblamientos de esos descubrimientos sobre la cuestión de la temporalidad propuesta en el título: del antes… del ahora y del después.

Palabras clave: Ataque al vínculo, Desamparo, Mente propia, Separación-individuación, Temporalidad.


 

 

Na prática clínica tenho me deparado com pacientes com um padrão de funcionamento onde sobressai uma precária e/ou quase ausência de vida psíquica própria, bem como uma estéril experiência da presença do outro. Estes costumam chegar à análise, com grande exigência, ansiosos e insatisfeitos com suas relações. E tudo isso permeado por um pensamento com funcionamento mágico que se alimenta de uma insuportável contrariedade frente às intempéries da vida. Apresento Petra (há seis anos em análise), por esta presentear a nós duas com esses vívidos momentos, alguns aqui relatados, como ilustração dessa dramática vivência de ser.

 

Antes: muitas procuras, poucos encontros e alguns abandonos apresentam Petra

Durante mais de um ano, Petra oscilou entre idas e vindas às sessões, sem conseguir deixar seus horários pré-agendados. Marcar horários significava vínculo e compromisso que ela refutava veementemente. Como houve em mim um espaço interno para essa experiência, as sessões foram marcadas, nesse período, semana a semana. Ela ausentava-se em função de "justificadas" viagens, sem perceber que era essa a sua forma de lidar também com sua família, quando se sentia cansada e contrariada: ela ignorava o significado que essas "viagens" tinham na sua vida e a que se referiam o "cansaço" e a insatisfação tão frequentes.

Se é que é possível sintetizar um período, onde a dinâmica da relação entre nós revelava um padrão de ameaças, controles, cobranças, procuras, abandonos e persistência, esse período evidencia o que Bion (1988) abordou em "Diferenciação entre a personalidade psicótica e a personalidade não-psicótica". Ele nos aponta os aspectos que têm a ver com relações de objeto prematura e precipitada aparecendo na transferência como um vínculo tenaz e tênue, como os vividos intensamente nesse período com Petra.

Petra demonstrava sua insatisfação e sua busca por métodos místicos e por pensamentos mágicos e onipotentes. Contou-me que a busca por análise era a sua nova tentativa para tratar essa insatisfação, já que tinha experimentado diversas terapias como de grupo, comportamental, cognitiva, psicodramática, além de vários tipos de religião, e toda sorte de terapias alternativas que apareciam ou que procurava na sua vida. Nessa época, seu funcionamento mental arcaico negava a realidade psíquica com fortes sentimentos de onipotência. Essa é uma das características, segundo Melanie Klein (2006), do funcionamento da mente primitiva. Essa onipotência denunciava o grau de desamparo e de desespero que fazia com que Petra buscasse soluções e objetos onipotentes.

Com essa apresentação, Petra me delineava o que iríamos viver, e o que nos esperava nos próximos anos: encontros e desencontros, abandonos e retornos e uma procura intensa por uma resposta que não a saciava. A persistência, a insatisfação e a vulnerabilidade reinavam absolutas.

 

Notícias de sua vida

Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer.
Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo, devia estar
sentindo que não pertencia a nada e a ninguém.
Nasci de graça... eu nasci e fiquei apenas nascida!

Clarice Lispector (1994, p. 110)

 

Noticiou-me que não tinha pai e que a mãe a tinha dado em adoção. Trazia esses fatos como dados aleatórios, frugais, sem dar a ênfase emocional que tais informações carregam em seu bojo. A sua resistência inicial, dando "notícias" sobre sua vida, sem emoção, acompanhada de feição carrancuda, desconfiada e pouco receptiva, não me desestimulou. Fui gradativamente procurando sensibilizá-la, trabalhando analiticamente, na busca de restaurar ou instalar o sentido emocional em sua vida.

"Não quero falar do meu passado!", dizia autoritária, resistente a qualquer tentativa de investigação através da busca de correlações. Ao reviver suas experiências na transferência, como uma nova oportunidade para entendimento e possível mudança, encontrava, nesse momento, uma forte resistência. (Steiner, 2009)

 

A oscilação entre presença <–> ausência, abrupta e ameaçadora, como vínculo

Nesse período inicial, observava a necessidade de Petra me comunicar que era ela quem tomava conta dela. Necessidade estendida quando me noticiava que iria viajar e se ausentar por vários períodos curtos ou longos e das formas mais inusitadas. A comunicação era fria e direta. Quando lhe dizia que urgia nela a demonstração de que ela "era livre", acrescentava: "Sou mesmo!" Começava, então, um discurso de que não tinha obrigação e que era sua opção e necessidade o ir e vir como lhe conviesse. Sua história, depois vimos, era composta do binômio manipular e ser objeto de manipulação, em quase todos os ambientes em que viveu. A palavra vínculo era sentida como prisão nessa ocasião, albergada que foi em lares provisórios, sob a tutela de seu "tio", que a visitava semanalmente e a provia de suas necessidades e desejos.

Sentia que precisava ainda guardar para mim as emoções vividas de desprezo e de desconsideração, provocadas pela sua arrogância e onipotência manifesta através do descaso às nossas sessões. Nesse primeiro ano, discordava, sem possibilidade de conversa, sobre o pagamento dessas sessões (a partir do segundo ano isso foi gradativamente incorporado). Paralelo a isso, comumente verbalizava sua insatisfação na "demora por resultados". Ainda não havia espaço mental para tal aproximação, ligada à desconsideração expressa dessa maneira.

Refletindo sobre essa forma habitual de relacionar-se, penso que Petra se ausentava, como diz Melanie Klein (2006), buscando uma forma de gratificação alucinatória em que a cisão do objeto, a negação e a perseguição são ativadas. Assim, o movimento impulsivo de evadir-se, separar-se, vem como uma tentativa de sobrevivência, ocasionando o seu reverso, o aniquilamento das relações, ao negar a realidade psíquica, expressa onipotentemente por esses afastamentos.

Entretanto, não são apenas uma situação e um objeto que são negados e aniquilados – é uma relação de objeto que sofre esse destino, e, portanto uma parte do ego, da qual emanam sentimentos pelo objeto, é negada e aniquilada também. (Klein, p. 26)

Assim, Petra vem "sobrevivendo". Tem recebido como dividendos, em função dessa sua postura (oscilante entre viscosidade e afastamento, dos outros e de si própria), repúdio e isolamento.

Nesse momento da análise de Petra, me alio ao pensamento de Renata Gaddini (1978) que se reporta a Freud e a Winnicott. Em Freud, temos o modelo do carretel e seu neto, sob o vértice que o carretel serve para atar dois pontos distintos e separados entre si, no caso o neto e sua mãe. Esse paradoxo da criança comunicar-se com a mãe através da manifestação da negação da separação se intensifica em Petra: ela se afasta com o intuito oposto? O de criar laços? Freud nos alerta que o uso excessivo desse mecanismo pode estar relacionado a certa insegurança e a ideia de uma deficiência de comunicação. Quando a criança vê reduzida a esperança da presença materna, ou a perde por completo, e fica confirmada a ameaça de sua privação, ela recorre a um fenômeno que Winnicott menciona como renegação da separação (Gaddini, 1978, p 107). Petra se separa para unir? "Brincando de viajar" acredita-se atada a mim, negando e renegando as separações?

Petra usa e abusa desses expedientes de interromper, reatar, insistir, desistir, tanto nesses afastamentos, quanto nas sessões. Costuma "viajar", como diz, nos momentos em que seu pensamento voa por outras paragens, que não as nossas em andamento, nas sessões. Tálamo (1997) denomina esse processo, expresso por abundantes cesuras, (recorrentes em Petra com intensas ameaças de ruptura), como método de defesas/ataques, dentro de um conceito que vincula dois opostos aparentes, mas que são latentemente faces da mesma moeda. Manter os dois lados em mente tem sido necessário, na compreensão da dinâmica de funcionamento da vida psíquica e relacional de Petra. Como denuncia o poeta Fernando Pessoa (1978), "O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente". Partindo desse viés, reflito que: Petra, "finge" que não se importa com nosso trabalho, "finge" que é "livre", "finge" que "não precisa de ninguém"?

Já que a cesura tem um papel no manejo da ansiedade, e muitas vezes na supressão da percepção consciente da ansiedade (Tálamo, 1997), a atenção nos dois lados das mensagens na forma de interrupções e viagens em pensamentos tem corroborado para diminuir o disfarce que tem sido a vida de Petra. O vínculo na lacuna tem se tornado objeto analítico de busca e apreensão, nesse padrão compulsivo de repetição, atuante em Petra, em que as interrupções vêm com o intuito de criar vínculo.

 

Qual sua busca? Qual sua dor? Tem fome do quê?

A face carrancuda e fechada de Petra, presente e assídua nos três primeiros anos de análise, comum em sua vida e em suas relações, me convidou a enxergá-la como uma segunda pele protetora e defensiva. Isso foi corroborado pelos seus relatos de alguns relacionamentos intensos, adesivos e posteriormente descartados. Se pensarmos que essa formação se reporta a uma origem precoce de um período pré-verbal e que se grava muito fundo no inconsciente, Esther Bick (1986) considera não analisável na transferência. Sugere isso ser possível apenas quando o paciente se sente acolhido por uma boa continência na transferência, favorecendo que o material trazido pela paciente, através de associação livre, reflita os conflitos de separação de forma que esta possa ser investigada.

Eu ficava com a cara colada na janela, desde que amanhecia o dia, esperando pelo meu tio. Temia que ele não viesse. Ele chegava com a sacola na mão cheia de coisas para mim. Eu só via a sacola. Diziam-me que eu era interesseira. Tirava tudo de dentro, queria ver tudo e depois escondia para ninguém pegar. Os doces chegavam a estragar na gaveta do criado mudo. Só hoje sei que eu queria era sua presença. Quando ele mandava só a sacola, eu esperava na semana seguinte, mais aflita ainda. Não percebia que queria sua presença. Só vejo isso hoje, aqui com você. Me diziam que eu era má.

Petra, nos primeiro tempos de análise, frequentemente mencionava que ao sair das sessões vivia um estado de esquecimento de tudo e me cobrava por isso. Dizia: "Não fica nada, apaga tudo, isso me deixa irritada!" Penso que Petra intuía, mas não podia ainda perceber, que esses apagamentos lhe empobreciam, não pela simples falta da memória. Recentemente, após o período de férias de julho, chegou desta vez mais enfática, dizendo que precisava tratar de sua memória. Conta-me, então, que já havia ido ao médico e vários exames estavam em andamento. O teor era de que tinha uma doença a ser descoberta (não havia emoção e nem presença de angústia): "Estou sem memória!". Nesse retorno ficou evidenciado o quanto a sua memória afetiva ficava prejudicada, impedida, com os afastamentos físicos reais, de viver emocionalmente o abandono e o desamparo. Esquecia para não lembrar? Viajava na sala de análise ou para outros lugares para esquecer?

 

Dor a qualquer contato

Michael Eigen (1986b) aponta que qualquer tipo de exclusão social, que pode ser entendida tanto na forma de ataque, menosprezo, quanto de ser ignorado, provoca um sentimento de isolamento que termina com uma morte fora da própria pessoa. Que ausências Petra experienciou, que revive comigo refletida num sentimento de deficiência pessoal? Minha ausência, vivida como sinal de sua deficiência (falta de memória) a torna mais deficiente ainda? Ela se "esquece" do que sente com minha ausência para que minha ausência seja uma falta, uma perda, uma morte? Frequentemente dizia que não tinha mãe, ignorava-a. "Mãe? Essa palavra não tem sentido para mim!". Eigen confere que esses estados variam em graus e em qualidades de consciência, de uma maneira que a mente e aspectos do self organizados formam uma complexa e dinâmica rede em que a mente apresenta-se sobrecarregada ou esvaziada, agindo distintamente, dissociada.

O trauma cumulativo, segundo Masud R. Khan (1994), é traiçoeiro porque ele opera e se forma em silêncio. Os acontecimentos psicofísicos que ocorrem no estágio pré-verbal, a falha no escudo protetor da mãe às necessidades anaclíticas da criança, se manifestam nas suas relações futuras. Petra não foi protegida suficientemente? Seu relato de não ter tido casa, e nem as que ela construiu depois a fizeram sentir-se acolhida, confirma essa hipótese? "Nunca me senti em casa!", dizia. A experiência relatada é de privação máxima, quase insuportável. Só não foi total – o que seria a morte de sua vida psíquica – em função de seu espírito tenaz, desbravador e de busca ter sido preservado. A arte e a literatura contribuem, em suas descrições, com formas mais vívidas para expressar o que eu estou tentando descrever:

sentíamo-nos muito protegidos, ainda mais porque estava frio lá fora; na verdade até fora das cobertas também, já que não havia lareira no quarto. Ainda mais, digo, porque para se desfrutar de fato do calor do corpo é preciso que uma pequena parte sua ainda esteja fria, pois não há qualidade nesse mundo que não o seja por contraste. Nada existe em si mesmo. Quando você se gaba de se sentir bem confortável e fica assim por um longo tempo, então já não se pode dizer que você continua confortável do mesmo modo… se a ponta de seu nariz ou o topo de sua cabeça está com um pouquinho de frio, então na percepção geral você sente o mais delicioso e inequívoco calor. (Melville, 2008, p. 74.)

Petra tem como história, presente até hoje, o atendimento imediato de suas necessidades. Exige-a em plenitude, repudiando se a "ponta do nariz" estiver com "um pouquinho de frio". Viveu e ainda vive os dois polos com muita intensidade, e separadamente: ou estava com muito frio, ou estava com muito calor. Não conseguia, ou estava impossibilitada, de vivê-lo como no texto descrito por Melville. Assim, a condição de usufruir o "inequívoco calor" a partir da ausência deste, mesmo que em parte, ficava prejudicada. É semelhante ao sentimento de saudade, expressão da presença na ausência: ela "esquece" que estou ausente e queixa-se de falta de memória. Saudade é uma emoção, até então, totalmente estranha para ela. A cisão entre o objeto mau e o objeto bom contribuiu para a criação do vínculo na lacuna e propiciou um ganho secundário, o de ser prontamente atendida. Porém esse mecanismo não a abasteceu, motivo de sua busca intermitente por satisfação.

 

Agora

O real não se encontra nem na partida nem na chegada,
ele se dispõe pra gente é no meio da travessia.
Guimarães Rosa (1986, p. 60)

 

Petra insaciável

A alta rotatividade presente na sua vida, na forma de muitos trabalhos (chegou a ter de seis a oito negócios montados por ela), mudanças de residências, e nas inúmeras terapias, nos fez conversar muito sobre seu estado habitual de não permanência. Passou a fazer parte de nosso vocabulário o ditado: "Pedra que muito rola não cria limo!" Vimos que sua insatisfação tinha como ponto de partida esse troca-troca psíquico arraigado, acompanhado de uma crença em um mundo idealizado, mágico e perfeito. Ou ela estava animada pelo novo, ou focada na conclusão. O meio do caminho foi sempre abortado por ela. Como consequência, a insatisfação reinante era registrada como fracasso e incapacidade tanto pessoal, quanto atribuído, acusatoriamente, às pessoas ao seu redor. Ela perdia a paciência assim que começava o dia a dia de um novo empreendimento. Assim, esse sentimento de insatisfação era a sua parceria. A crença num salvador, num objeto idealizado e fantástico era considerada por ela como real. E exigia isso em plenitude das pessoas de suas relações.

Bion escreve sobre esse expediente em que a destruição da capacidade do pensamento, necessária para tornar a frustração suportável, produz uma personalidade mais do que nunca sujeita à frustração:

Como consequência, o psicótico se torna mais do que nunca, intolerante a uma frustração que, mais do que nunca, é intolerável. E assim pela destruição da capacidade para sonhar, cria-se uma situação autoperpetuável, em que se produz cada vez mais frustração através do esforço cada vez maior devotado à sua evasão. Essa capacidade para sonhar, se mantida, poderia capacitá-lo a moderar a frustração. (Bion, 1992, p. 67)

Com o decorrer da análise e com a sua permanência nesta temos podido acolher e dar suporte às suas ansiedades mais primitivas, que agora têm aflorado com mais espontaneidade.

 

Pele nova: viver na própria pele

P: Então, vamos para o segundo round. Não vá me nocautear!

Surpreendida com essa colocação, logo na entrada, (após um intervalo de dez minutos de duas sessões geminadas, em função de uma viagem próxima), por não ser essa a emoção vivida por mim na hora, pergunto, depois de um espaço em silêncio:

A: Com quem você viveu esse sentimento de ser nocauteada?

P: (pensa e fala com a voz levemente embargada) Acho que a cada vez que era trocada de uma casa para outra!

Como Petra não se emociona e não chora, senti que estávamos partilhando uma experiência emocional importante!

A: Você está pensando em visitar sua mãe biológica, sua primeira morada! Como a seus parentes. (assunto da primeira sessão e que neste momento me vem vívido) Está fazendo as pazes com ela! (Nessa hora não percebi seu receio de ser "nocauteada" por tanta emoção, o que veio a acontecer após essa visita).

P: Tantas vezes fugi de ir lá, mesmo estando na cidade! E não é incrível que eu queira isso agora? E não me sinto forçada a fazer isso?!

A: São as relações primeiras da sua vida. E você está abrindo a possibilidade de entrar em contato com esse mundo íntimo. Contato. É como se você estivesse entrando em contato com a própria pele.

Silêncio...

P: Isso me faz lembrar a obra do Michelangelo, que ele fez na Capela Sistina. É uma pele, toda fora do corpo, pendurada. (Faz um gesto com a mão estendida, como que pendurando a pele num lugar...)

Como eu não conhecia a parte da obra de Michelangelo, por ela relatada, fiquei atenta e disse:

A: A pele fora de um corpo e o corpo em carne viva!

P: Isso me faz lembrar daquelas cenas do sertão, deles tirando a pele da pessoa viva. Que horror! Quando fui visitar a exposição do Corpo Humano, daquele alemão, sabe? Eu consegui vê-la toda. Em outra ocasião só ficaria horrorizada... Ficaria tomada, como você diz: paralisada! Claro que fiquei impressionadíssima, mas não horrorizada! Não foi fácil, mas olhava, olhava e ficava admirada. Dei conta, mesmo sendo pesado! Sabe, é como se o corpo humano fosse cortado em tiras (vai levantando as mãos e mostrando a forma) e sendo exposto de forma totalmente diferente para ser conhecido e explorado. É forte! Fantástico!

(Fui sentindo como se ela estivesse descrevendo a nossa experiência em análise)

A: Está vestindo a própria pele e se adaptando a ela.

P: Ah! Agora estou lembrando! Na exposição, no alto tem uma dupla de atletas jogando. Fantástico!

A: Nós duas!?

 

O Juízo Final: afresco de Michelangelo

Impressionada pelas associações de Petra, fui em busca da pintura de Michelangelo. O que encontrei me causou profundas reflexões que passo a relatá-las. A parte da obra chamada de Juízo Final, mencionada por Petra, restaura muito mais do que julga os feitos por Deus no final dos tempos. Os santos martirizados aparecem íntegros diante de Deus, com o flagelo, origem da tortura, em suas mãos. São Bartolomeu é o santo mencionado por Petra. Ele foi escalpelado e aparece, logo à frente de Deus, com toda a sua pele acumulada nas mãos. O que é interessante é que Michelangelo, não afeito a assinar suas obras, coloca sua face impressa na pele que São Bartolomeu segura. Alguns estudiosos de arte sugerem que esta foi a sua assinatura! (ver figuras 1 e 2).

 

 

 

No detalhe, a pele que foi arrancada de São Bartolomeu; na pele deste mártir é que Michelangelo "assinou" o trabalho, pois a pele da face do santo reproduz a cara feia de Michelangelo (com seu característico nariz quebrado). Comentário de Décio Cassiani Altimari (Geneticista e estudioso de arte e música).

Petra nos sugere que a sua segunda pele, de mal humorada, que a vestiu tanto tempo, tenha sido a sua assinatura, fruto de sua martirização, como defesa a esse escalpelamento? E que esta a transformou numa arredia e fugidia pessoa, com dor a qualquer contato? E a face de Michelangelo, é feia ou foi assim retratada como protesto pela enorme exigência feita pelo Papa, como aparece tão bem no filme Agonia e êxtase (Reed, 1965). Assim, associando, avento a possibilidade de que a forma de expressão encontrada por Petra (cara de braba e birrenta) poderia ser a sua forma de protesto, a sua assinatura!

Essa experiência nova, vivida com Petra, de associar através de imagens visuais, me reporta a Bion (1992), que considera a capacidade de ter imagens visuais como um dos fatores da função alfa. Acrescenta ser esse um fator importante de armazenamento, por serem as imagens visuais um tipo de notação, que, juntamente com o fato selecionado, são necessários para iniciar o interjogo entre a posição esquizoparanoide e a depressiva. Penso que Petra começa e ser capaz, através de associação livre com imagens visuais, de formar algumas representações ou ideias. Acompanha esse movimento, a dinâmica dos elementos alfa que juntam-se, separam-se, juntam-se novamente, separam-se novamente, convergem, divergem e assim por diante. Passarei a relatar mais claramente esse movimento através do vivido por Petra após a visita à sua mãe.

 

O encontro com a mãe – com o outro.

Petra viaja confiante ao encontro da mãe, com seu passado afetivo, e retorna demonstrando satisfação com a experiência. Chega animada trazendo suas impressões, dando ênfase no relato da relação da mãe com um novo companheiro.

As sessões que ocorreram, após sua volta, continham um discurso articulado. No entanto percebia que a música da sua fala denunciava algo que teimava em não se apresentar. Aparecia, ainda que timidamente, uma recusa às minhas colocações. O diálogo estava comprometido. Era já final do ano, véspera de minhas férias.

Retornamos, pós período de férias, e Petra se apresenta recusando quase todas as minhas intervenções. Retoma a desconfiança, tão comum nos primeiros tempos da análise, se evadindo muitas vezes da sessão. Falo isso para ela e ela se manifesta irritada e repudia minhas observações. Digo que ela está braba. Diz que sim e que eu era uma incompetente! Fala isso gritando e me ameaçando dizendo: "Agora você vai saber quem eu sou de verdade!" O repúdio e a violência, até então camuflados, agora são publicados! O clima de ataque ao vínculo e da capacidade de pensar, que já se esboçava antes dessa ausência, se instala fortemente.

Sapienza (2009) escreveu e pôs em evidência fatores que acionam núcleos terroríficos nas partes psicóticas da personalidade, "iluminando as condições ambientais que dão origem ao superego assassino do ego: esta configuração é resultante do fracasso nas interações projetivas e introjetivas entre mãe e bebê em face de angústias primitivas que ocorrem nos períodos iniciais da vida". Este "objeto obstrutor" está impregnado de violência moralista e visa "tudo julgar, tudo controlar e nada compreender". Está internalizado como agente destruidor da vida mental, pelos ataques ao desenvolvimento do sentir, do pensar e do verbalizar. Dessa configuração emanam forças "ocultas" que tiranicamente envenenam vivências por meio de contínua inoculação tóxica, que chega a destruir a "capacidade de pensar".

Petra efetivou seu isolamento através do afastamento de seus atuais e agora habituais meios de comunicação comigo: parava para pensar, só que não dava retorno de suas reflexões; sorria sozinha e não partilhava comigo o que estava se passando com ela. Esses ataques tiveram como efeito a destruição da identificação projetiva, ausência das imagens visuais e do som (através da ausência das palavras que produzem a música). Bion (1992) atesta que essas formas de ataque contêm um ataque às posições, que são vitais para o diálogo entre o conhecido e o desconhecido:

A capacidade de aprendizado do indivíduo, no decorrer de sua vida, depende de sua capacidade para tolerar a posição esquizoparanoide, a posição depressiva e a interação contínua e dinâmica entre as duas. (p. 208)

Como Petra não adquiriu essa condição na infância, e essa interação começa timidamente a se instalar agora, na vida adulta e em análise, a precariedade de seu início se manifesta neste episódio, intenso de significados, que foi o encontro com a mãe e com a sua história real. Convém ressaltar que este ainda foi reforçado pela minha ausência nesse período.

O encontro com a MÃE, com vida própria, com sexualidade própria, faz deparar-se com o OUTRO, tão temido, tão desejado e tão negado? M-other – Other, como sugere Bion (1993), se apresentou fragilizado, em função de ainda não ter sido possível diminuir o impulso para inibir, que é fundamentalmente inveja dos objetos estimulantes de crescimento, femininos, criativos, ainda sem condições de digestão.

Com a possibilidade da retomada da parceria, Petra trouxe uma profusão de sonhos recheados de conteúdos sexuais. No mito de Édipo, na encruzilhada, qual o enigma proposto pela Esfinge? O mito edipiano encarna o problema do conhecimento com que Petra e eu nos temos deparado nesse momento: a perda do paraíso e o encontro com nossa humanidade.

 

A condição humana, o perdão e a irreversibilidade

A resposta ao mito de Édipo proposto pela Esfinge é o Homem que nasce, vive, envelhece... e depois? Morre. Depararmos com o outro é depararmos com nós mesmos. É depararmos com nossa humanidade, com a nossa mortalidade e com a irreversibilidade da vida. Na humanidade existe o outro.

Petra começa a perdoar sua mãe por ter dado a ela tão pouco! Tão pouco? Começa a nos perdoar, a nós duas, por fazermos tão pouco! Se ainda pudermos alcançar o suficiente! A esse respeito Sapienza escreve que a reelaboração através de uma releitura

reconfortante e compreensiva dessa violência ameaçadora, poderá permitir desarmes de intensa culpa persecutória e de compulsão-à-repetição, levando a refrescante revitalização. (Sapienza, 2009, p. 54)

Estamos investindo nessa empreitada.

Hannah Arendt (2004) aponta que o único recurso contra a irreversibilidade – a impossibilidade de se desfazer o que se fez, embora não se soubesse nem se pudesse saber o que se fazia – é a faculdade de perdoar. Com o perdão, reitera, acrescenta-se a possibilidade do desfazimento dos atos do passado, promovendo novos caminhos. Caso contrário o agir ficaria, por assim dizer, limitado a um único ato do qual jamais nos recuperaríamos. Acrescento que sem a aproximação emocional dessa experiência, como mencionado acima no apontamento do Sapienza, esse perdão fica inviabilizado.

Perdoar, mais que um ato religioso, é um ato humano. Aceitamos nossa condição humana perdoando, e perdoar liberta tanto quem perdoa, como quem é perdoado. É um ato que precisa da existência do outro. E penso que, aqui, o outro pode ser a existência deste dentro da própria pessoa:

Ninguém pode perdoar-se a si próprio; no perdão, como na ação e no discurso, dependemos dos outros, aos quais aparecemos numa forma distinta que nós mesmos somos incapazes de perceber. (Arendt, 2004, p 252)

Petra tem "aparecido", tem usado menos os recursos de "viagens em pensamentos" ou "fugas" em formas de viagens. Como Grotstein (1999) descreve sua experiência com Bion, penso que Petra tem se manifestado mais às respostas às minhas interpretações do que tem estado preocupada em entendê-las. Tem abandonado gradativamente sua forma mais petrificada, para outra mais humana, afeita as intempéries da vida.

Eu também!

 

E depois?

O depois pode ter sido o antes, que se tornou depois, depois do agora.

E depois? Pode ser o agora. Que se tornará em antes para se atualizar num durante para se transformar num depois.

O nascer do outro na mente é um trabalho reflexivo eterno, terno, na clareira e na escuridão do conhecido e do desconhecido, da descrença e da fé, tão presente na vida:

porque homem nenhum pode sentir plenamente sua identidade se não estiver de olhos fechados; como se a escuridão fosse mesmo o elemento apropriado da nossa essência, ainda que a luz seja mais propícia ao barro de nossa natureza. (Melville, 2008, p 75)

Há alguns anos atrás, condoída que estava pela perda de um parente amado, caminhava pelas dependências do Cemitério Municipal de Curitiba, onde ficam as capelas mortuárias. Nestas, mais especificamente em suas paredes internas e nos seus corredores externos, estão diversas inscrições azulejadas de poetas e pensadores. Estas inscrições nos convidam, pela sua beleza e pelo espírito acolhedor de suas frases, a um movimento introspectivo, reflexivo e íntimo. Deparei-me então com uma frase de São João da Cruz, Frei Carmelita Descalço, (considerado pelo Papa Pio XI como Doutor da Igreja), e me detive refletidamente sobre esta, sabedora do quanto este inspirou pensadores nos séculos seguintes, inclusive Bion. Aqui a transcrevo:

A fé é luz
A razão é noite.
O entendimento racional é noite.
Uma fé verdadeira, pura, não deve ser manchada por nenhum elemento de memória ou de desejo.
Nosso ser vive entre a saudade – desejo do passado – e a esperança – memória do futuro.
Só descansaremos quando virmos que, sem passado, nem futuro, de Eternidade em Eternidade, Tu és Deus.
São João da Cruz (Sec. XVI)

Para Bion (citado por Eigen, 1986a) a fé se converte na qualidade emocional da atitude psicanalítica, constituindo simultaneamente o método psicanalítico. Vê ainda que a fé transcende nossas necessidades de controle, permitindo experimentar o impacto da realidade emocional de forma tal que esta se desenvolva de maneira autêntica.

A realidade emocional do momento, a realidade essencial, a coisa em si, é o O que para Bion é o incognoscível, que, porém, para o analista, confiante que a encontrará, esta pode se abrir. A Fé em O, assim, se constitui numa atitude de receptividade com uma disposição vigilante de espera e atenção. Esta nos habilita a tolerarmos o funcionamento da posição oscilante PS <–> D, sem dar a primazia de uma frente à outra.

Bion (2007) finaliza seu livro Atenção e interpretação com a seguinte frase:

O que se precisa procurar é uma atividade que seja simultaneamente a restauração de deus (a Mãe) e a evolução de deus (aquilo que é desprovido de forma, infinito, inefável, não-existente); essa atividade só pode ser encontrada em um estado em que não haja nenhuma memória, desejo, entendimento. (p. 134)

O Nascer do outro na mente, o nascer da própria mente, neste trabalho e na vida em si, nos coloca em contato com nossa humanidade. Para Bion a Fé não nos "protege" dessa humanidade, ela nos serve de apoio para nos aproximarmos de nós mesmos, e do outro, com tolerância e compaixão.

E depois...

 

Referências

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Endereço para correspondência
Cleuza Mara Lourenço Perrini
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Tel: 41 3336-0201
E-mail: perrini@onda.com.br

Recebido em: 20/10/2011
Aceito em: 3/11/2011

 

 

1 Membro filiado do Instituto de Psicanálise "Durval Marcondes" da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP.

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