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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.44 no.81 São Paulo dic. 2011

 

ARTIGOS NÃO TEMÁTICOS

 

Agruras1 na busca da experiência emocional da análise de uma criança

 

Bitterness in the search for emotional experience analysis of a child

 

Amarguras en la búsqueda de la experiencia emocional en el análisis de un niño

 

 

Anne Lise Sandoval Silveira Scappaticci2

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo - SBPSP
Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP-EPM

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O vértice principal deste trabalho está na busca do analista pela experiência emocional e pela comunicação da mesma. Trata-se de uma reflexão sobre as maneiras possíveis (ou não) de estar presente nas "agruras" do trabalho analítico com uma criança, na possibilidade de construir uma linguagem que estabeleça (ou restabeleça) o contato (elo) da dupla com a experiência emocional em curso e/ou o contato consigo mesma. Estabelecer ligações entre a análise da criança e o ambiente familiar pós-moderno ao qual ela pertence e do qual nós, analistas, também fazemos parte é um esforço contínuo do cotidiano da clínica atual e requer uma busca ativa do analista. As questões que têm mobilizado o presente trabalho partem da diferença (distância) entre os vértices no próprio indivíduo (intrapsíquicos) e relacionais do analista, da criança e de sua família.

Palavras-chave: Experiência emocional, Análise da criança, Relação analista-paciente.


ABSTRACT

The main vertex (Bion, 1970) of this work is the analyst's search for the emotional experience and for its communication. This is a reflection on the possible ways one may (or not) be present amidst the "bitterness" of the analytical work with a child, on the possibility of building a language that establishes (or reestablishes) the contact (link) of both analyst and patient with the ongoing emotional experience (Language of Achievement, Bion, 1970) and / or the contact with oneself. In everyday clinical practice, constant effort is made towards establishing links between the child and the post-modern family environment to which he or she belongs, an environment of which we analysts are also part. The issues that have prompted this study stems from difference (distance) between the vertices in the individual (intrapsychic vertices) and the relational vertices of the analyst, the child and his or her family (Bion, 1970).

Keywords: Emotional experience, Child analysis, Analyst-patient relationship.


RESUMEN

El vértice de este trabajo reside en la búsqueda del analista de la experiencia emocional y comunicación de la misma. Se trata de una reflexión sobre las formas posibles de estar presente (o no) en las "amarguras" del trabajo analítico con un niño, posibilidad de construir un lenguaje que establezca (o restablezca) el contacto de la dupla con la experiencia emocional en curso (Lenguaje de Éxito, Bion, 1970) y/o el contacto consigo misma. Establecer vinculaciones entre el análisis del niño y el ambiente familiar pos-moderno al cual pertenece y nosotros, analistas, también formamos parte como un esfuerzo continuo de lo cotidiano de la clínica actual requiriendo una activa búsqueda del analista. Las situaciones que movilizaron el presente trabajo parten de la diferencia (distancia) entre el vértice en el propio individuo (intra-psíquico) y relacionales del analista, del niño y de su familia (Bion, 1970).

Palabras clave: Experiencia emocional, Psicoanálisis infantil, Relación analista-pacient.


 

 

Flash sonoro e visual, recordação de minha infância:
João Gilberto fazendo uma parceria com sua filha Bebel. Eles cantam
"Chega de saudade" de Tom Jobim e Vinícius de Moraes (1958)

Chega de saudade, a realidade é que sem ela não há paz,
Não há beleza é só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai
Mas se ela voltar...

 

Introdução

O objetivo principal deste trabalho está em refletir a respeito da atividade do analista na busca da experiência emocional e de sua comunicação. Tratase de uma reflexão sobre as maneiras possíveis (ou não) de estar presente nas "agruras" do trabalho analítico com uma criança, na possibilidade de construir uma linguagem que estabeleça (ou restabeleça) o contato (elo) da dupla com a experiência emocional em curso (Bion, 1970) e/ou o contato consigo mesma.

Nesta reflexão, vou tentar estabelecer ligações entre a análise da criança e o contexto familiar da atualidade ao qual ela pertence e do qual nós, analistas, também fazemos parte. As questões que têm mobilizado o meu trabalho partem da diferença (distância) entre os vértices no próprio indivíduo (intrapsíquicos) e relacionais do analista, da criança e de sua família (Bion, 1970).

Penso que meu interesse e o alicerce desses questionamentos e inquietudes se encontrem nos três anos de supervisão com a Dra. Gianna Polacco Williams, em Roma, no curso vinculado à clínica Tavistock (1990-1994), com uma criança psicótica, na atitude de respeito e ética frente a uma vida mental que, seja como for, sempre está presente (vir a ser). Outros fundamentos para estas reflexões são as contribuições a respeito dos estados mentais primitivos abordados por Frances Tustin, Meltzer, Klein, as ideias de Anne Alvarez (1992) de "reclamar", clamar, resgatando nossos pacientes "ausentes", e a preciosa oportunidade de observação de bebês, o que deixou em mim um registro permanente. Encontro também interlocução fértil nas ideias de autores italianos como Bolognini, Ferro e Bonaminio.

Nos últimos anos a investigação teórico-clínica sobre o vértice da observação da experiência emocional do analista, assim como sobre a rapidez com a qual novas configurações familiares se apresentam e se impõem no consultório foram estímulos decisivos para as indagações levantadas neste trabalho. Nele, a técnica é abordada em sua "noção ampliada, não ligada a formas pré-estruturadas do fazer analítico" (Mendes de Almeida, 2008, p. 171), mas à possibilidade de ser pensada, seja durante a sessão (quando é possível), seja a posteriori, em função do registro da experiência emocional.

Além disso, a psicanálise parece andar na "contramão" confrontando-se aos anseios da sociedade atual – e, muitas vezes, do próprio analista – que pressiona por um resultado rápido, quase gratuito, com pouco investimento em todos os sentidos. O analista está envolvido em questões próprias e do campo criado naquela experiência emocional. A demanda vai envolver a dupla com sua turbulência na sala de análise no período pré e pós-catastrófico (Bion, 1965). Portanto, devemos pensar em uma experiência a dois que deve levar em conta o grupo que a observa. A partir daí, o par e o grupo vão construir uma nova história: "o preço a ser pago pelo par no investimento numa atividade que é psicanálise – e não sobre psicanálise – evoca desejos de saber como o grupo está reagindo ao relacionamento do par. Este desejo muitas vezes mascara o anseio de validação, reputação popular ou aprovação em ambos integrantes do par." (Bion, 1970, pp. 7677). Assim, fica subentendido que, vice-versa, o par também, como sabemos, desencadeia desejo no grupo. Numa análise de criança, assim como em outras, a tarefa analítica acaba por estimular sentimentos intensos porque primitivos e básicos no analista, no analisando e no grupo. Remetendo-nos à experiência em grupos na qual Bion (1961) enfatiza como este tende a estimular "suas características 'pares', nascimento, dependência, formação de pares e guerras – estas são as situações básicas às quais correspondem os impulsos básicos" (Bion, 1970, p.72). Portanto, o analista vai precisar investir nesta mediação entre o interno – com disciplinada privação na intimidade do espaço analítico da dupla – e o externo – pois, antes de ele existir, já há um grupo familiar e social. Cabe ao analista a tarefa árdua de ir, sessão após sessão, construindo, criando um espaço (dentrofora, dentro e fora, só dentro/ fora), correspondendo àquela área intermediária descrita por Winnicott (1975) com função de sustentar o indivíduo em sua subjetivação. A falha deste elo corresponde, segundo Kaës (1998), às "novas formas de mal-estar da civilização atual" que perturbam a estruturação e o funcionamento da vida psíquica pelos efeitos da falha da intersubjetividade.

Não pretendo com estas indagações defender a ideia de que cabe ao analista resolver todas as questões, incluindo a análise da família da criança atendida por ele. Estou sugerindo, apenas, que ele deve estar atento e considerar o grupo familiar e as personalidades que o compõem, como estes reagem e provocam turbulência em relação à análise e vice-versa, e os efeitos que a análise tem sobre o grupo.

 

Construindo um espaço

Tom, um menino de quatro anos e meio

Sala de espera.

A mãe conta que ele tem feito muito xixi na cama. "Esta é a última calça que ele tem. Hoje não vai brincar com a cola!". Diz isto com aquele tom metódico e pragmático de sempre. Ao receber essa demanda de cumprir algo já estabelecido por ela, vou lidando com a situação que vai aos poucos se transformando em mim na questão de como lidar com uma mãe muito aflita e frustrada por ter de se haver com imprevistos. Fico pensando que ela, provavelmente, deixou de lado a questão do aprendizado do controle esfincteriano de Tom, que, como consequência, ficou atrasado (sem ter sido pensado). Vejo que ele permanece ativo dizendo no ouvido da mãe coisas que ela deve me dizer. Ele me diz para ficar parada, enquanto ele vai para a sala. Antes de ir para a sala a mãe acrescenta que Tom pede para ela ficar parada de costas enquanto ele tem duas tesouras na mão, "imagina, que susto!".

Tom diz que posso vir, corre e entra na sala me deixando perto da porta – que fica entreaberta – no corredor do lado de fora (coisa que tem feito com certa frequência). Ele vai selecionando objetos dentro da sala que vão sendo expulsos para fora. Dessa vez, não o faz de forma violenta. Aparece um pequeno carrinho vermelho de plástico. Eu digo "oi" e converso com o carrinho dizendo que sai lentamente, como a querer ver se está tudo bem, mas logo ele é atingido por um pequeno bloquinho de construção e por um dinossauro verde que urra "garganta para fora" da porta. Eu vou entrando na "brincadeira", narrando a selvageria daquela situação tão assustadora que é tentar sair de "dentro" à procura de um contato. Ele vai agora para dentro da sala e faz algo diferente. Ao escolher os objetos, percebo um cochicho, uma espécie de confabulação que, aos poucos, cria corpo. Vou comentando baixinho que ele está numa conversa com ele mesmo para saber o que mandar para fora da sala (seria para mim?).

Ele passa cola (tubo) na porta. A cola tem a função mais de um toque sensorial do que de colar (Bick, 1968). Ele introduz a cola dentro da fechadura e me pede para entrar e ver. O gesto com a mão me lembra aquele movimento das crianças para fazer tchau e ao mesmo tempo pegar algo, ficar com algo, alcançar (eu para dentro dele?).

Ele me diz para eu ficar com os pedacinhos da cola na mão que vai tirando com a tesoura. Depois me diz para cortar o pino que fica dentro da cola e que está atrapalhando. A cola acabou. Ele me pede para ir pegar guardanapos para limpar a minha mão. Acrescenta que já limpou sua mão na roupa. Penso que, para ele, ficar junto comigo é poder fazer as coisas que a mamãe não quer que ele faça: coisas proibidas (o vínculo de proximidade e a excitação que demanda). Parece que está sempre à espreita para ver como eu lido com ele ou ainda como eu faria com sua mãe. Neste sentido, ele me parece bastante perspicaz, o que me fez refletir inúmeras vezes sobre como vai lidar com sua mãe dentro dos seus quatro anos.

Vem-me subitamente um insight: a propaganda da menina da margarina Doriana. Tão bonitinha e pequenina, aparentemente frágil, mas que, de repente, abre um bocão e devora a torrada inteira. Sou "arrancada" deste insight por uma atitude sua sorrateira. Estou de costas para ele quando percebo a sua tentativa de cortar os meus cabelos. Lembro-me do que a mãe contou na sala e nós dois ouvimos. Quando me viro, ele tem um olhar divertido. Percebo a fantasia intrusiva, seu prazer com uma certa agressividade nada inocente, talvez com sentido mais perverso, e a sua estratégia para neutralizar a analista. Noto que ele consegue, pois permaneço surpresa e digo a ele que não dá para cortar meus cabelos, embora ele queira muito. Talvez o sentido não seja apenas cortar para tirar, mas também para possuir. Então ele fica "bravo", vira-se e cruza os braços. Vai para o armário, abre a porta com força e pega uma tesourinha rosa que alguém deve ter esquecido(!). Digo que ele quer entrar com tudo dentro de mim e se apropriar das minhas coisas, pois está muito zangado porque não o deixo fazer tudo o que quiser: "como é que tudo não é meu? Eu quero tudo, na hora que quiser e ponto! O armário é a Anne Lise!!". Peço para me devolver a tesoura (que não é nossa!). Ele se esconde atrás de um pé da mesa e fica me espiando. Penso numa situação de desarmamento, como é difícil este momento em que estamos sem saber o que fazer. Des-amar para não ficar exposto, na mão de alguém? E se estamos um na mão do outro? E agora? Para continuar, precisamos nos desarmar (que paradoxo!). Ele me devolve a tesoura (pega em resgate?).

Começa então a jogar com fúria pedacinhos de massinha e outras peças pequenas que vão voando, rente ao meu corpo. "Que bombardeio! Agora é guerra mesmo!" Comento e recolho os pedacinhos, colocando-os dentro da caixa que ficou entre nós. Quando um pedaço de massinha cai dentro da caixa e faz um barulho, ele ri divertido e me pede para passar os outros pedacinhos que vai mirando na caixa. Agora virou uma brincadeira entre nós.

No final da sessão, quando parecia haver se instaurado um clima de colaboração, para a minha surpresa, ele me pergunta da tesoura que falta. Digo a ele que eu a guardei. Ele então se levanta furioso e sai da sala sem me cumprimentar.

 

Era uma casa muito engraçada...

Era uma família que precisava de regras muito rígidas e bastante claras para manter as fronteiras entre os pais e as crianças, como alguém que não pode deixar em momento algum a porta aberta. Eles eram, nas suas relações, assépticos e pragmáticos, dava-me a impressão de uma família de enfermeiros: o filho menor de um ano come com a babá, o maior – meu paciente – tinha três anos na época em que o conheci, come com a mãe, o marido come sozinho. As funções maternas e paternas eram também divididas como um ministro do interior e do exterior. A mãe sempre no comando acabava por excluir o pai, sempre trabalhando. Era essa a vida naquela casa muito engraçada, um ir e vir dividido apenas pelas exigências de um quotidiano superegoico, desprovido de significado.

E era uma família que trabalhava no ramo alimentício, leite, sorvete, lanches. Tom "resolve" então lançar mão de uma carta poderosa. Começa a selecionar minuciosamente o que vai comer. E, quando eu o recebo, ele já quase não come.3 Seleciona sua comida por cores e formas. Está com a altura e o peso muito abaixo de sua idade. Passa a maior parte da tarde dormindo (economizando energia?). Sua aparência é de um anjinho que acabou sua fase de bebê. Atrás da aparência angelical, existe um menino que não deixa os pais viajarem em paz e, socialmente, dá muito trabalho. Com o passar do tempo, entretanto, começa a comer e seu comportamento melhora muito.

Depois de menos de um ano, antes das férias, sua mãe quer que eu conclua sua análise em um ano e meio, como alguém que propõe um bom negócio: "Faça isto por mim!" ela insiste, "Você está pedindo o impossível", eu respondo. Fico com a identificação projetiva exitosa da mãe que me deixa bastante preocupada e com a sensação de não ter tido conversa, de não ter sido escutada. Ela volta das férias, senta no meu sofá contando tranquilamente ter decidido permanecer mais um ano. Dali a seis meses ela aparece de novo, desta vez com o marido, aparentemente reconhecendo o nosso trabalho através dos progressos do menino que agora come de tudo e é uma boa companhia. Mas que belo engano, quando eles questionam, diante desses progressos, a necessidade da análise e se ele não seria igual a qualquer outra criança! Desperta em mim a sensação de falar, até me esgotar, com um muro. Depois da nossa conversa, decidem permanecer por mais seis meses. Assim continuo na "corda bamba", comprimida no espaço, sem saber por quanto tempo ainda a nossa dupla sobrevive: agruras.

 

O criador literário (poeta) e a fantasia

Acaso não poderíamos dizer que, ao brincar, toda a criança se comporta como um escritor criativo (poeta), pois cria um mundo próprio, ou melhor, reajusta os elementos de seu mundo de uma nova forma que lhe agrade? Seria errado pressupor que a criança não leva esse mundo a sério; ao contrário, leva muito a sério a sua brincadeira e dispende na mesma muita emoção. A antítese do jogo não é o que é sério mas o que é real. (Freud, 1908/1976c, p. 149)

Às vezes sinto as famílias como verdadeiras Ilíadas, guerras sem sentido e fim, promovidas por feridas narcísicas de pais que desejam possuir o comando de situações desconhecidas, que poderiam se tornar descobertas únicas e em parceria! No lugar de aprender com a experiência emocional, ficam buracos, "tristeza e melancolia que não sai…". Desamparo. Seria necessário a priori um trabalho com a família, introduzindo um espaço mental para que a mente da criança e, consequentemente, a análise da criança pudessem ser consideradas. Mas o que fazer quando a família não é disponível?

A família de Tom parecia-me empobrecida, não entrando em contato, evitando o phantasiar (Isaacs, 1986)4 ou o "místico", isto é, aquilo que leva a uma expansão do continente, à criatividade no grupo e no interior do próprio indivíduo (Bion, 1970).

Neste sentido, podemos pensar que a análise seja sentida por esses pacientes como algo que, embora os beneficie justamente no instante em que parecem se dar conta disto, é contrária a sua própria vida ou ao sistema que eles mantêm para viver. Estamos diante de um verdadeiro paradoxo!

 

O apropriar-se da própria mente

Em seu texto apresentado no Congresso de Bion, em janeiro de 2008, em Roma, Antonio Sapienza pensa a função alfa estando presente desde o momento em que se instala a angústia catastrófica e como se manifestam os momentos de pânico que requerem fineza das funções de continência com rêverie. "Pensamentos selvagens, vindos da realidade última (O), bombardeiam a criança, que, sem conseguir pensá-los, permanece pega pela angústia de morte. Passa então a buscar quem possa pensá-los, demandando um funcionamento competente do continente com rêverie" (Sapienza, 2008, p. 2).

Bolognini (2008a e 2008b) ressalta o quanto na clínica é necessário um longo trabalho introdutório para a constituição de um espaço intra e inter psíquico imprescindível para a elaboração representacional. Mais do que interpretações abstratas, está "no compartilhar a experiência, quando esta função não tenha sido realizada primariamente de maneira suficiente por quem criou e formou funcionalmente a criança". (Bolognini, 2008a e 2008b, p. 8). O autor cita autores como Käes (1998), que descreveu este disfuncionamento como uma modalidade de transmissão "transpsíquica" em que, faltando o espaço transicional, a mente não pode transformar e tornar próprio o que recebe do outro. A criança não vive na intersubjetividade, ou nos vínculos familiares, a possibilidade de uma experiência emocional de um espaço disponível para colocar o "criado-encontrado" (Winnicott, 1975). Essa experiência de fusão com o objeto permite fornecer ao indivíduo uma estabilidade, uma integração e a possibilidade de sustentar-se (Bonaminio, 2007).

A tarefa de sustentar, compartilhando à experiência emocional, era o que o meu trabalho com Tom demandava.5

 

E agora José? O que fazer na hora do "vamos ver"?

Aprendi com Tom a não me adiantar. Eu teria que deixar de lado as minhas próprias teorias ou o meu próprio senso comum com muita disciplina e paciência para não ir pulando degraus. "A busca do senso comum (de um O comum), a base da investigação, para quem acha que a análise vai tendo um sentido na experiência fugaz de cada momento" (Eva, 2008).

Disse que precisei pensar e refletir a respeito de um setting para uma criança tão tolhida de espaço emocional, de exploração em sua casa. Precisei, em algumas horas, ser mais elástica, por exemplo, quando Tom abria o armário onde estavam suas coisas, ou ainda algumas sessões em que levava algum brinquedo de sua caixa. Ele chegou a me dizer que eu ficaria sem nada e que aí teria que ir à casa dele. O ir e vir dos brinquedos e dele mesmo era trôpego, como um astronauta que pisa em solo lunar pela primeira vez. Esta era a imagem que me vinha algumas vezes no seu entrar na sala, parecia um bebê pisando o chão como para prová-lo. Andar do corredor entre a sala de espera (mãe) e a sala de atendimento (Anne Lise6) era extremamente difícil e entrecortado, mas desejoso. Eu teria que nutri-lo a conta-gotas, ficar próxima sem assustá-lo. O corredor tornou-se uma espécie de espaço expandido da sala de atendimento, como um lugar construído e necessitado por ele naquele atendimento. Era onde deixava "correr a dor" de estar juntos, fundidos ou separados, um lugar bastante explorado pelo meu pequeno paciente. Estávamos construindo um espaço transicional?

 

Pouca métrica para muita emoção!

Tom tem três anos
No início
E para a minha surpresa, ele entrou rapidamente
Abertamente, comigo na sala.
Até que um dia
Parou, olhou-me bem e quis sair.

Passamos algumas sessões num espaço intermediário. A janela de vidro da sala dá para um balcão com plantas num pequeno espaço fora da sala. Dali avistava o interior da sala, sua caixa de brinquedos. Esse espaço ultrassonográfico foi útil para um novo aprofundamento do nosso vínculo, menos maníaco, mais verdadeiro. Ele ia e vinha até que em uma sessão pôde retornar para dentro da sala.

Até que
Parecia mais à vontade.
Os nossos encontros fluíam bem.
Quando, de repente, ele parou.
Olhou-me, disse que queria sair.
Diante da minha explicação de que era impossível termos o nosso encontro se ele não ficasse na sala, ele se virou de costas, contra a parede. Pensei: será que está
vendo alguma coisa? Parecia encenar (sua mãe?) com uma carinha muito, muito zangada.
Nessa hora de "saia justa", sem saber que rumo tomar, veio-me a frase escrita no muro da PUC: "Vá dormir com este barulho!!!".
Ele começou a gritar. Seu corpo era teso, sem me olhar, dirigia-se ao muro.
Naquele instante de impasse, diante de uma escuta que me parecia possível apenas num nível sensorial, decidi então falar alto, tentei acompanhar sua entonação reproduzindo a sonoridade dele. Só que fui tentando colocar algumas palavras ou possíveis sentidos, buscando uma representação para aquilo que era, para mim, tão inusitado (talvez para ele também!).
Ele gritava, eu "gritava". Falei alto, contra a parede: "Alguém aí, pega este barulho que está saindo do Tom!". Depois: "Pega aí, ele não suporta mais!". Observei então sua reação. Era divertida, como alguém que já relaxou e grita ainda mais alto. Então continuei: "Anne Lise, pega este barulho do Tom para que ele possa ficar descansado!". Ele riu para mim e se deitou na almofada continuando a gritar tranquilamente. "É para eu pegar estes gritos, estes berros que saíram de dentro de você", acrescento. Não sei dizer como os berros foram se transformando em música e, no final da sessão, estávamos cantando "deixa o bebê dormir sossegado…".
Quando abrimos a porta, estavam as duas secretárias estateladas, estarrecidas e curiosas enquanto sua mãe continuava lendo o jornal; aparentemente não tinha ouvido nada na sala de espera! (fato impossível pela disposição do espaço do consultório).

 

Aumentando a métrica

Em seu artigo "Trabalho do negativo" André Green (1993), realizando
uma leitura atenta de Freud em "A negação" (1925/1976d), examina o destino das moções orais do comer e cuspir, ligando num nível primitivo o não ego (recalque) ao não id (moções pulsionais). Ele conclui que, na incorporação, assim como na excorporação (o mecanismo prévio da identificação projetiva), não existe, a princípio, um limite de dentro e fora e, ainda,

não supõe objeto algum no espaço que recolhe aquilo que é expulso. Nós podemos perguntar se, desta maneira, os produtos da expulsão não desapareceriam ... Só existiria uma ideia de uma expulsão para o mais longe possível. (Green, 1993, p. 2)

André Green (1993, 2000) ressalta ser essencial para que se construa o ego do bebê, o qual lhe permite dizer sim para si mesmo, que a mãe aceite que ele possa lhe dizer não, não somente sob forma do "você é má", mas também, em certas ocasiões, do "você não existe". "Isto se manifesta na análise não somente pelas projeções hostis sobre o analista, mas também pelo fato de colocá-lo distante, longe, e, em certos momentos, no extremo, devido à exclusão do objeto da transferência." (Green, 1993, p. 26)

Raquel Goldstein (2008) enfatiza que o pensar humano no começo da vida se dá

outorgando movimento e calor, numa feliz combinação de alucinação e percepção, trabalho que vai criando a ilusão de vida animada, levando a habitar gradualmente uma dimensão distinta do subjetivo e o real objetivo: a dimensão da cultura. (Goldstein, 2008, p. 1)

Ela continua:

Este algo familiar é o que permite à criança sustentar o estado psíquico mental de "é e não é" [ou seja] anuncia uma sinistra realidade, o objeto sonhado na experiência de satisfação esteve sempre perdido como tal, nunca foi de fato "este outro". (Goldstein, 2008, p. 3)

Essa autora enfatiza, nos casos difíceis da clínica atual – Bolognini (2008a e 2008b) acrescenta a análise de crianças aos casos graves –, como a esperança do analisando está colocada na aposta libidinal do analista7, capaz de desejá-lo e de suportar seus estados de ansiedade desintegrativos. A aposta libidinal estaria no lugar da transferência nas análises de neuróticos (Goldstein, 2008). Por outro lado, o sim do analista abre a possibilidade de tolerar um não, o que poderia conduzir ao ingresso no Processo Secundário.

Estas questões de sim/não na minha relação com Tom eram bastante delicadas. Parecia-me estar criando continuamente um novo espaço nosso, cuidadosamente, tentando não ser demasiadamente permissiva ou excessivamente restritiva (corre-dor). Isso exigia de mim muita vitalidade.

Para Tom as regras não estavam inseridas no vínculo e, ainda menos, na experiência emocional integrada, portando, eram apenas formatos. Parecia-me que o prazer vinha exclusivamente pelo prazer, sem a inserção e a continência num vínculo intrapsíquico e interpsíquico (Bion, 1970) ou num contexto real que pudesse proporcionar uma vivência mais estável e duradoura do que meramente a sensação perversa de estar usurpando, roubando, logrando a regra de alguém. Cabem aqui os conceitos de pulsão de morte e pulsão de vida equilibrando-se complementariamente, da Segunda Tópica de Freud (1923/1976b), no sentido de que se faz necessária a pulsão de morte para o registro dos traços mnêmicos, ou seja, da experiência emocional que se realiza na condição da presença do outro. Assim, várias vezes ele me pedia: "me dá um pouco de açúcar? A mamãe não precisa saber!".

Tom corre para a sala batendo a porta. Eu ouço a caixa caindo da mesa e comento: "Puxa! Fiquei aqui fora! Que barulhão você está fazendo!". Ele abre a porta calmamente, convidando-me a entrar. Entro num cenário onde os brinquedos estão todos espalhados no chão e penso que o nosso encontro suscita um grande barulho, talvez explosão de emoção – é função da dupla, como ressalta Bion (1970). Comento: "Olha só o cenário que você quer que eu veja!".

Contrastando com tudo aquilo, Tom faz uma vozinha doce, quase de bebezinho, ele pede: "vai buscar um pouquinho de açúcar para mim, Annelise?". Digo que não posso, que sua mãe proibiu e tento conversar com ele sobre o sentido que aquilo tem. Digo que sinto ser penoso para ele sentir-se perseguido por formas achatadas, sem sentido nem cuidado.

Penso, num esforço para aproximar-me, que estou sendo "pedagógica" e, assim, permaneço neste momento como quem observa de fora, quase impotente, sua reação.

Ele então revida: "Vou amarrar o seu trem na mesa!". Verifica que embaixo do trem tem um pedaço de massinha que colocou no dia anterior. Pede que eu o ajude a dar o nó no barbante para poder amarrá-lo ao pé da mesa. Tento de novo aproximar-me nesta "dança". Vou fazendo o que ele me pede com extremo cuidado, pois entendo o quanto é importante, quase urgente, realizar do seu jeito, sem adiantar-me.

Enquanto o meu trem fica amarrado, o dele fica solto. Ele me convida para entrar embaixo da mesa, onde se desenvolve toda a brincadeira. Pede para alcançá-lo. Comento: "Ah, eu não consigo, estou aqui amarrado, enquanto você está solto andando por aí!". Ele sorri divertido. Então, vem com o seu trenzinho passando por cima do meu barbante e dizendo "o seu trem tem pipi, o meu não!". "Ah", eu respondo tentando entender, "o seu trem não tem pipi, por isso ele é mais poderoso e pode andar por aí?". Ele responde: "sim, o meu é o mais forte, o mais poderoso! E vou poder ir ao mercado comer todas as salsichas!!".

Penso nessa imagem tão poderosa. Sou pega pelas minhas teorias de castração, de objetos parciais, aquilo tudo é um "prato cheio"! Entretanto, decido "voar baixo", tentar permanecer próxima ao meu pequeno paciente, na personagem que ele me colocou e em como seria possível uma conversa.

"Vem você também Annelise!!", ele convida. Diante dos meus esforços e comentários a respeito da minha impotência, ele olha para mim de um jeito diferente. Seria compaixão? "Amarra o meu trem, 'Nelise', junto com o teu", propõe. Ficamos num fio só de barbante, a distância com o pé da mesa é sem dúvida maior. O trem dele chega ao mercado, embora o meu ainda não consiga alcançá-lo. Ele olha-me surpreso e divertido pela dificuldade inesperada que eu encontro. Comento tentando encontrar um tom para atribuir a emoção: "você consegue, mas eu ainda não!" Tom mantém sua exploração ativa o tempo todo, com o tom de "aqui quem manda sou eu" imperando. Vamos explorando as distâncias, a posse e a liberdade. No final da sessão, ele resolve cortar os barbantes, mas me deixará ligada "ao pé da mesa" ainda muitas vezes.

 

Cadê o toucinho que estava aqui?"

O chão da sala em que atendo é preto salpicado por pontinhos brancos, lembra-me às vezes o universo, seus buracos brancos, a escuridão da alma.

Algumas vezes, Tom quis colorir os brancos. Um dia me disse: "não está vazio, mas cheio!". Eu respondo, surpresa: "é mesmo, não precisa estar vazio, mas pode estar cheio." Ele respondeu: "se eu cair no buraco, você me segura?". Eu digo que "sim, tentarei" (fé!?), e ele então descobre um buraco e coloca uma caneta dizendo "aqui eu plantei uma árvore".

Refletindo sobre a função analítica como a busca de um espaço para pensar a experiência emocional, creio que, no início do relacionamento com nossos pacientes, é necessário construir o "corredor", uma expansão do conhecido, da nossa psicanálise. Talvez a fala do analista deva ter ingredientes como a Bossa Nova: algo novo "dissonante", que inclui os "desafinos" (e os desafios) e que não exclui a turbulência. Um convite para construir algo compartilhável, comum, que deve fazer sentido para a dupla. É, portanto, um investimento do analista que vai criando uma "conversa", propiciando (expandindo) atenção e notação, principais conquistas da função alfa para Bion (1965).

A relação entre teoria psicanalítica intuitiva e a experiência clínica, que considero uma sua realização, representam conjuntamente uma progressão semelhante àquela contida na criação poética (emoção recordada com tranquilidade). (Bion, 1965)

 

Indagações

Em dez de julho de 1958 João Gilberto gravava o compacto Chega de saudade e Bim Bom. Nele, estava registrada a revolucionária batida de violão, o canto quase falado, livre de todos os excessos, a riqueza melódica que caracterizava a Bossa Nova. Esta música revolucionária nasceu de encontros na praia, da poesia, do samba, do jazz e da música clássica. (Exposição Bossa Nova na OCA, 2008)

Gostaria de "finalizar" este trabalho com algumas reflexões a respeito da experiência emocional com a qual se ocupa o analista. Ela não é algo "dado" a priori, intrínseco àquele encontro, mas sim algo a ser evoluído uma vez iniciado cada encontro. O interesse, explicitado no título deste trabalho, é a busca das emoções que surgem na sala de análise, na dupla, partindo das próprias agruras intrínsecas ao analista de captar a experiência, de comunicá-la, e de seu analisando, ampliando para o vértice extrínseco, o grupo de fora, a família, o contexto sociocultural e assim por diante. O analista precisa estar atento a esses dois campos. Para tolerar e suportar estados primitivos do não comunicável, da não integração, estados de catástrofe, vai ser necessário a construção de um espaço mental envolvendo a rêverie ativa do analista, com disponibilidade de estabelecer uma parceria para que se desenvolvam pensamentos. Neste caso, o analista teria que abdicar dos desejos de compreensão, de entendimento, de revelar o que está por trás de tal comportamento: "Chega de saudade!". Esta é uma dificuldade enorme: permanecer no desconhecido e participar daquela experiência emocional com a criança. A poesia do inefável seria suficiente diante dos momentos de "aperto" que encontramos na clínica?

 

Referências

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Endereço para correspondência
Anne Lise S Scappaticci
Rua Doutor Diogo de Faria, 1337 | Vila Clementino
04037-005 São Paulo, SP
Tel: 11 5571-5777
E-mail: annelisescappaticci@yahoo.it

Recebido em: 5/9/2011
Aceito em: 1/12/2011

 

 

1 Aqui o termo tem uma conotação de realidade, ou seja, de algo inerente ao trabalho do analista. De acordo com o Novo Dicionário Aurélio, "Agro: 1. Terra cultivada ou cultivável, campo; 2. duro, árduo, inclemente; 3. dificultoso, íngreme, escabroso" (Ferreira, 2002).
2 Membro efetivo Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP. Doutora em Saúde Mental de Psiquiatria UNIFESP-EPM. Psicóloga clínica com especialização pela Tavistock e pela Scuola Romana di psicoterapia familiare. Supervisora do AMBORDER do Departamento de Psiquiatria UNIFESP-EPM.
3 Williams (1994) descreveu a Síndrome de Proibição do Acesso (No Entry Syndrome) na vivência contratransferencial do analista com pacientes que sofrem de distúrbios alimentares:"é provável que uma criança se sinta mais porosa às projeções e deva proteger-se ainda mais..." (p. 152). "Em numerosas observações de recém-nascidos notam-se dificuldades na criança de se alimentar quando a mãe coloca dentro dele ansiedade não metabolizada junto com leite" (p. 148).
4 Neste artigo bastante conhecido "A natureza e a função da fantasia", Susan Isaacs parte do pressuposto que a "expressão mental do instinto é a fantasia inconsciente. A fantasia é o corolário mental, o representante psíquico do instinto". (Isaacs, 1986, p. 96).
5 A criança pequena parece possuir uma noção (contato) muito precisa da condição humana de solidão e de dependência, da escuridão da alma: "Eu acho que mesmo o recém-nascido – ainda que não possa verbalizá-lo – se sente dependente e se sente inteiramente só… (isto) é alguma coisa de que o analista deve tentar fazer o paciente se conscientizar. Porque é algo de que o paciente ou se esqueceu, ou nunca foi consciente." (Bion, 1978, p. 1). Observei que peixes e o mundo do fundo do mar parecem despertar o seu interesse. Certa vez um paciente de nove anos disse ter ido ao Museu Oceanográfico da USP. Lá havia um enorme caranguejo descoberto apenas porque boiava no oceano perto do Japão. O oceano era tão profundo que não permitia a investigação pelos mergulhadores, devido à forte pressão e à intensa escuridão. Meu paciente comentou que o caranguejo possuía as mesmas medidas da nossa mesa!
6 Era interessante a maneira como Tom dizia o meu nome, ora ele o emendava, ora tirava o início. Ás vezes o som parecia como se Tom o "sorvesse" realmente.
7 Aqui cabe a noção de "reclamação" de Anne Alvarez (1992) e também o trabalho de Celia Fix Korbitcher (2001) nos momentos de retirada autística em pacientes necessariamente não autistas.

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