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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.44 no.81 São Paulo dic. 2011

 

BREVES ESCRITOS

 

Reminiscências: 50 anos na SBPSP1

 

Reminiscences: 50 years in SBPSP

 

Recuerdos: 50 años en la SBPSP

 

 

Adele Pagni Lacotis2

Instituto de Psicanálise
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo - SBPSP

Endereço para correspondência

 

 

Agradeço a presença de todos, e, especialmente, as palavras de Maria Olympia França, D. Nilde Parada Franch, Dr. Antonio L. S. Pessanha e Dr. Plinio Montagna – apesar de achar uma covardia, pois Dr. Pessanha é um amigo de 49 anos, D. Nilde também é uma amiga de aproximadamente 20 anos (desde que começou a participar das Diretorias da Sociedade e do Instituto), Maria Olympia e o Dr. Plinio, também os conheço há muitos anos, e sei que eles têm uma relação comigo que já vem de uma herança de seu analista Dr. Gecel Szterling. Esses amigos só falaram das minhas qualidades. Deveriam fazer um contraponto falando dos meus defeitos, que são muitos. Minhas filhas, por exemplo, poderiam citá-los. Também agradeço à Diretoria da Sociedade e do Instituto, por todo o empenho para que tivéssemos esse encontro, e a todos que se manifestaram através de emails, telefonemas, flores e bombons.

Quero dizer que me sinto uma pessoa privilegiada, pois trabalhar na Sociedade foi um dos presentes que a vida me deu. Ter conhecido os pioneiros e ter convivido com eles foi extremamente gratificante. Com eles, participei da história desta Sociedade.

Agradeço também a todos os presidentes, diretores do Instituto e Diretorias que por aqui passaram, pela confiança e amizade.

Vocês conhecem a história da Sociedade, mas muitos, eu sei, não conhecem os bastidores, operados pelas formiguinhas que trabalham e conseguem fazer funcionar esta máquina tão complexa.

Em 1961, a Sociedade era constituída por 25 membros, sendo que seis já pertenciam à Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, e 19 candidatos.

Em 2011, a Sociedade é composta por 452 membros (efetivos e associados) e 323 membros filiados.

Quando começamos, a sede da Sociedade era na rua Araújo, 165, 5º andar, onde eram os consultórios do Dr. Durval Marcondes, Dra. Adelheid Koch, Mrs. Gill e D. Virgínia Bicudo. As aulas eram ministradas na rua Araújo e as reuniões da Sociedade eram realizadas em uma sala na Associação Paulista de Medicina. Os bens da Sociedade na época eram: uma mesa e quatro cadeiras, e em torno de 50 poltronas, na apm; na rua Araújo, tínhamos um armário de 2,20m de altura por 1,30m de largura que abrigava a pequena biblioteca, as pastas com todos os documentos da Sociedade e um mimeógrafo, um daqueles que para tirarmos as cópias tínhamos que datilografar em um estêncil com tinta azul. Esse mimeógrafo só podia ser usado às sextas-feiras, dias em que o Dr. Durval não ia ao consultório e os outros analistas trabalhavam só no período da manhã. Eu precisava usar um avental porque, quando terminava de fazer as cópias, eu também estava azul.

Em meados de 1963, a Sociedade muda para a rua Itacolomi, 601, em dois conjuntos do 8º andar, que constituíam: uma sala de reuniões, uma sala só para a biblioteca e uma para a Secretaria. Aqui veio o primeiro desafio: o Dr. Durval me pergunta "Você fica comigo ou vai para a Sociedade?", e eu, claro, escolhi a Sociedade. A aquisição da sede da rua Itacolomi foi tranquila.

Vários membros da Sociedade adquiriram conjuntos e estabeleceram seus consultórios na rua Itacolomi. Como não tínhamos telefone, descíamos para telefonar, a princípio no consultório do Dr. Miller de Paiva, no quinto andar, e depois no consultório do Dr. Heládio Capisano, no terceiro andar. Já imaginaram a Sociedade sem telefone?

Até o final de 1966, eu era a única secretária, com funções também de bibliotecária, recepcionista, office-boy, copeira, além de cuidar da tesouraria. Graças a essa experiência é que eu pude trabalhar por cinquenta anos com uma visão global do funcionamento das várias áreas da administração da Sociedade e do Instituto. E, se me for permitido, ficarei uns tantos mais.

No final de 1966, foi decidido que a Sociedade e o Instituto deveriam ter secretarias próprias, e então foi admitida outra secretária. Me foi dada a opção de escolha. Novo desafio! Sociedade ou Instituto? Como eu já trabalhava bastante bem com D. Virgínia, e o trabalho no Instituto sempre foi muito instigante, preferi ficar com o Instituto. No início de 1967, uma nova secretária foi contratada, Lourdes Polido, que passou a trabalhar 8 horas atendendo o Instituto e a Revista Brasileira de Psicanálise. Lourdes ficou conosco por 32 anos. A Revista, em 1972, foi doada à ABP, atual FEBRAPSI, e uma nova secretária foi contratada para atender somente à Revista: Virgínia Maria Silva, que também trabalhou vários anos na Revista.

E então, a partir do final de 1966, a cada início de gestão, a secretária da Sociedade era substituída. Assim, sucessivamente, quatro secretárias foram contratadas e depois desligadas. Primeira preocupação: pensou-se, nessa ocasião, em usar o mesmo sistema para o Instituto, o que ocasionaria nova substituição. Felizmente a voz da D. Virgínia falou mais alto! "Se elas saírem, eu também saio". Era impossível pensar a Sociedade sem D. Virgínia – então ficamos. Em 1973, Darci Lopes começou a trabalhar conosco fazendo parte da tesouraria do Instituto, pois a Sociedade já tinha um contador. Após as várias contratações e substituições, decidiu-se unir as secretarias. Lourdes e eu ficamos com a responsabilidade da Sociedade e do Instituto.

O Instituto foi exigindo cada vez maior atenção pelo volume de trabalho, dada a entrada de muitos novos candidatos. Foi contratada a Lourdes, esposa do Darci, para nos ajudar no Instituto; só que, em 82, tornando-se mãe, a Lourdes nos deixou. Tentamos novas secretárias, em vão. Lidar com o Instituto é complicado. Então, em 1982, a Suely, que já trabalhava com o Darci desde 1978, veio trabalhar na Secretaria e, pelo que vocês estão acompanhando, passará também pelos cinquenta anos como colaboradora da Sociedade, nessa complexa tarefa que é secretariar o Instituto e a Sociedade.

Em 1977, fomos para a Rua Sergipe, 441. Aquisição que exigiu muito trabalho e dedicação de todos nós. Foram realizados bingos, leilões, bazares com venda de artesanato e obras de arte para a Sociedade poder adquirir aqueles espaços. Após tantos esforços, a Sociedade finalmente foi para a Sergipe, sede que, se comparada à Itacolomi, era uma mansão, com oito salas de aula, um auditório com cem lugares e um conjunto para a parte administrativa – além de ser muito aconchegante.

Em 1999: aquisição de nova sede! Novos contratempos, novas preocupações. Permaneceríamos no cargo? Enfim, felizmente, apesar das sequelas, o Olimpic Tower resistiu e a Sergipe continuou, e nós também. Atualmente, apesar do grande espaço que temos, há dias em que faltam salas para abrigar as aulas e reuniões.

Em 2005, novo impacto. Na concepção de alguns, "a Adele não é mais necessária". Mas, novamente, ouviu-se a voz da maioria e estou aqui podendo comemorar os cinquenta anos de trabalho e dedicação.

Em um News Letter da IPA de 1980, uma secretária que já estava há um bom tempo na IPA deu uma declaração sobre o que ocorria com ela, e penso que também com as secretárias das Sociedades. Disse ela: "é difícil trabalhar num local em que há mudança de diretoria a cada dois ou quatro anos, porque temos que nos adaptar a diferentes personalidades, e precisamos nos adequar a cada nova mudança com toda a pluralidade e diversidade de pensamentos". Porém, ao mesmo tempo, é bastante gratificante conhecermos e convivermos com os vários psicanalistas que, através de nossas conversas ao longo de tantos anos, nos fazem usufruir de uma psicanálise despretensiosa e verdadeira, ainda que não tenhamos feito nenhum tratamento psicanalítico.

D. Virgínia me disse uma vez: "Adele, para você lidar com os candidatos é como se você estivesse lidando com um jardim da infância". Meu instinto maternal entendeu que, como com uma criança de quatro a cinco anos, você precisa colocar limites e precisa também dar muito carinho. E esse carinho tem sido a base de meus relacionamentos com todos vocês nesses cinquenta anos, porque apesar de atualmente muitos já serem membros efetivos, membros associados e analistas didatas, todos um dia foram candidatos, com raríssimas exceções. Portanto, só tenho a agradecer por tudo que eu recebi de bom durante esses anos.

Quero também agradecer, com muito carinho, a toda a equipe de excelentes colaboradores que participam, há muitos anos, do convívio de todos vocês. Eles muito contribuíram para que eu tivesse hoje esta grande alegria.

 

 

Endereço para correspondência
Adele Pagni Lacotis
Av. Dr. Cardoso de Melo, 1450, 9º andar | Vila Olímpia
04548-005 São Paulo, SP
Tel: 11 2125-3709
E-mail: adele@sbpsp.org.br

Recebido em: 5/10/2011
Aceito em: 27/10/2011

 

 

1 Evento comemorativo realizado em 1o. de outubro de 2011, em homenagem à Adele Pagni Lacotis, pelos 50 anos de trabalho como secretária à frente do Instituto de Psicanálise e SBPSP.
2 Instituto de Psicanálise e SBPSP.

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