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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.46 no.85 São Paulo jun. 2013

 

CARTA-CONVITE

 

 

Marina Massi, Editora; Abigail Betbedé; Alexandre Socha; Any Trajber Waisbich; Dora Tognolli; Gustavo Gil Alarcão; Heloisa Helena Sitrângulo Ditolvo; Maria do Carmo Meirelles Davids do Amaral; Suzana Kiefer Kruchin

Equipe Editorial

 

 

A transmissão da psicanálise e a prática analítica atual

Em novembro de 2013 ocorrerá em Buenos Aires o xvii Encontro de Institutos da fepal, cujo tema será "A transmissão da psicanálise e a prática analítica atual". Estimulados pela relevância do tema, consideramos ser esse um momento propício para uma reflexão sobre as aproximações entre a formação psicanalítica oferecida nos Institutos e as novas situações e modalidades de intervenção clínica realizadas por seus membros. Afinal, houve mudanças significativas na prática clínica atual que exigiriam também mudanças e adaptações no modo de transmissão da psicanálise?

Freud, em seus diversos esforços autobiográficos (Freud, 2006), nos relata a forte oposição enfrentada pela psicanálise desde seus primórdios. De fato, suas premissas estão fundadas em uma ruptura com a visão predominante do meio médico e científico de sua época, e a reação provocada não é incomum ao surgimento de todo pensamento considerado original e inovador. Por outro lado, é inegável também que o advento da psicanálise seja fruto de seu tempo, e seria difícil dissociar seu nascimento do espírito de uma efervescente Viena do fim do século.

A luta árdua de Freud pela consolidação e expansão da psicanálise como jovem ciência fica evidente ao longo de sua obra. A força instituinte de ruptura que marcou seu nascimento jamais cessou de prevalecer no decorrer de seu desenvolvimento, exigindo de Freud constantes reformulações e revisões teóricas até o fim de sua vida.

O legado que Freud deixou para as gerações seguintes não foi apenas de um corpo teórico consistente, de um método e um novo paradigma epistemológico. Talvez de igual importância tenha sido a compreensão de que para a sobrevivência da psicanálise seria preciso não assumir verdades absolutas, ideias que fossem imutáveis e preconcebidas. Seria preciso, enfim, mantê-la sempre próxima da experiência obtida pela prática clínica, respondendo às suas questões e às do mundo que nos rodeia, visto que psicanalista e paciente nunca deixam de estar imersos em uma determinada cultura, mediada pela linguagem (seja essa verbal ou não-verbal).

A psicanálise floresceu através do século XX, preservando tanto a essência das formulações freudianas quanto o seu caráter inovador e original. Seu desenvolvimento se deu no âmbito da metapsicologia e do método psicanalítico, de onde vimos surgir o trabalho com crianças, adolescentes, casais, famílias, grupos, psicóticos, autistas etc.

No século XXI assistimos a mudanças vertiginosas no plano das comunicações, na liquidez dos vínculos afetivos (Bauman, 2004), na cultura do excesso e do hiperconsumo, nos avanços tecnológicos e científicos, no acesso à informação e sua precariedade reflexiva entre outras. São mudanças que repercutem em nossa vida cotidiana, levando-nos a permanentes reacomodações do que era dado como estabelecido. Mais do que isso, repercutem em novos modos de subjetivação da experiência vivida, suscitando novas manifestações culturais e artísticas, assim como novas expressões do sofrimento psíquico. Afetam, portanto, direta ou indiretamente o trabalho analítico.

Se a clínica psicanalítica não escapa nem se dissocia da cultura na qual se insere, o que podemos dizer dos nossos institutos? Enquadres distintos do considerado "clássico" no trabalho psicanalítico são cada vez mais frequentes, embora nem sempre abertamente anunciados pelos analistas. Os institutos de formação, lugar em que se concentra a transmissão da psicanálise (via análise pessoal, supervisão e seminários), esforçam-se para promover uma escuta clínica em seus membros capaz de fazer frente às transformações dentro e fora dos consultórios.

Integrar novas experiências e manter certa porosidade ao mundo circundante, sem perder de vista aquilo que é imprescindível e essencial a uma formação analítica, é uma questão recorrente que nos remete ao esforço de manter a psicanálise como um pensamento vivo e atual.

A equipe editorial do Jornal de Psicanálise convida todos os membros da sbpsp, colaboradores de outras instituições e demais leitores a participarem deste número enviando suas contribuições sobre esse importante tema. Lembramos que o Jornal também está aberto ao envio de artigos não temáticos e de resenhas. Os trabalhos devem seguir a orientação editorial e normas para publicação que se encontram no final de cada número do Jornal de Psicanálise e devem ser enviados até o dia 20 de dezembro de 2013 pelo correio eletrônico jornaldepsicanalise@sbpsp.org.br.

 

Referências

Freud, S. (2006). Um estudo autobiográfico. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 20). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1925)         [ Links ]

Bauman, Z. (2004). Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.         [ Links ]