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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.46 no.85 São Paulo jun. 2013

 

ASSOCIAÇÃO DOS MEMBROS FILIADOS

 

Das vozes difusas dos corredores à potência de um discurso: a AMF como espaço intersticial

 

From corridor's rustling to the power of a speech: AMF as an interstitial space

 

Del murmullo de los pasillos a la potencia de un discurso: la AMF como espacio intersticial

 

 

Cláudia Amaral Mello Suannes; Mônica Fischbach Saliby; Rita Andrea Alcântara de Mello; Rodrigo Lage Leite

Membros filiados do Instituto de Psicanálise "Durval Marcondes" da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, SBPSP

 

 


RESUMO

O artigo discute a importância das associações de candidatos. Analisa que uma de suas funções é a de estimular a interlocução entre seus membros. Apoiado em Roussillon, propõe que tais associações sejam um espaço intersticial que oferece um continente à expressão e à elaboração de questões inerentes à formação psicanalítica.

Palavras-chave: formação psicanalítica, associação de candidatos, espaços intersticiais, instituição


ABSTRACT

The article discusses the importance of associations of candidates. Analyzes that one of their functions is to stimulate dialogue among its members. Supported in Roussillon, proposes that such associations are an interstitial space that offers a continent to the expression and elaboration of issues inherent in psychoanalytic training.

Keywords: psychoanalytic training, association of candidates, interstitial spaces, institution


RESUMEN

El artículo aborda la importancia de las asociaciones de candidatos. Analiza que una de sus funciones es la de estimular el diálogo entre sus miembros. Apoyado en el Roussillon, propone que este tipo de asociación es un espacio intersticial que ofrece un continente para la expresión y la elaboración de los temas inherentes a la formación psicoanalítica.

Palabras clave: formación psicoanalítica, asociación de candidatos, espacios intersticiales, institución


 

 

"Para que AMF"? Com este artigo publicado no último número do Jornal de Psicanálise, cinco membros filiados do Instituto de Psicanálise de São Paulo nos ofereceram, como bússola, algumas trilhas de reflexão acerca da formação psicanalítica e suas vicissitudes, e propuseram a ideia da Associação de Membros Filiados como um terceiro, capaz de mediar e intervir no pacto narcísico que se estabelece entre candidato e instituição.

O momento de ingresso de cada um na vida institucional remete ao movimento grupal natural de identificação com o outro e, conforme o mencionado artigo,

o que pode salvar alguém de um aprisionamento estático ao pacto narcísico é a terceiridade, um elemento que desloca o eixo da questão, abrindo uma terceira via, apontando para a incompletude do arranjo que se apresenta e abrindo a possibilidade da criação de um desejo próprio. (Azevedo, Peiter, Socha, Porto & Rosenzveig, 2013, p. 184)

Motivado pela consciência desta "terceiridade" fundamental, o trabalho da Associação dos Membros Filiados (AMF) tem se pautado pelo desejo de abrir espaço às difusas vozes dos membros filiados, numa tentativa de operar como esse catalizador-terceiro.

Imbuído destas ideias, o tema da jornada anual dos membros filiados "A Psicanálise na Rua" trouxe para dentro da instituição as vozes inquietas do país que habitamos, diminuindo a distância dos psicanalistas de seus pares e da cultura que constitui a todos nós. Debateram-se então questões como a sexualidade do analista, a necessidade de os psicanalistas interrogarem-se sobre as manifestações populares e outros assuntos. Depois, ainda na perspectiva de sair da periferia dos corredores para o diálogo maduro em constante (trans) formação, o simpósio "Escutando as vozes da casa" seguia o mesmo princípio de abrir espaço para que as inquietações de cada um, vividas muitas vezes de forma solitária, ou dispersa nos bastidores institucionais, pudessem ganhar a potência de um discurso oficial.

Com a intenção de dar continuidade à reflexão sobre a função da AMF, em particular, e das associações de candidatos em geral, reunimo-nos num grupo de quatro membros filiados para escrever um artigo para o Jornal de Psicanálise.

No primeiro encontro, deparamo-nos com a dificuldade de escrever a oito mãos e, depois de um provisório abandono da tarefa a que nos havíamos proposto, conversamos despretensiosamente sobre o nosso percurso na instituição. Nesta conversa aparentemente desvinculada da função de escrever, nos percebemos falando sobre as dificuldades e questionamentos relativos ao processo de formação de cada um de nós.

Nossas conversas se prolongaram por três encontros, nos quais abordamos de maneira livre quatro pontos básicos: o currículo e a necessidade de compromisso com a qualidade da transmissão dos seminários obrigatórios de Freud; a situação infantilizada na qual o membro filiado se coloca para obter guarida da instituição; o preço da análise didática e seu viés elitizante; o empobrecimento da psicanálise decorrente do não ingresso de pessoas sensíveis e criativas, que não postulam participar da seleção em decorrência da questão econômica.

O conteúdo destas conversas foi bastante semelhante ao que se discute livremente nos cafés, nos bares e nas festas. Nestes encontros, assim como nos intervalos e no próprio interior dos seminários, há uma possibilidade de interlocução na qual os psicanalistas, sejam eles membros filiados, associados, efetivos ou didatas, podem falar de suas inquietações e de suas vivências singulares de uma forma viva e espontânea, compartilhando deste modo suas experiências com seus pares.

Porém foi aí que surgiram dificuldades: o que fazer com o conteúdo destas conversas?

Se, por um lado, trazer para este artigo um exercício de escuta acerca das inquietações de quatro membros filiados daria voz, à semelhança de um debate, àquilo que circulou nas conversas prévias à redação do artigo, por outro, oficializaria ou formalizaria aquilo que talvez só possa ser expresso nas conversas íntimas.

Porém, tratar o conteúdo dessas conversas como expressão de idiossincrasias dos membros filiados e, portanto, de pouca relevância para a instituição, seria uma forma de negar que há algo do mal-estar na formação que só encontra via de expressão neste lugar paradoxal, a um só tempo dentro e fora da instituição.

Neste sentido, a reflexão de Roussillon sobre a natureza e a função dos espaços intersticiais nas instituições nos pareceu uma importante contribuição para se compreender uma das possíveis funções das associações de candidatos.

Para o autor, espaços intersticiais são lugares de passagem, como cafés e corredores, brechas entre as atividades institucionais definidas ou mesmo reuniões oficiais que permitem a metabolização dos restos não elaborados do que se passa na instituição. Uma das possibilidades do espaço intersticial é o de "gestar" o que pode ser retomado futuramente e integrado no espaço oficial.

Assim sendo, mais do que abordar o conteúdo do que é dito nos encontros, interessou-nos discutir a importância de haver um espaço que cumpra a função de oferecer um continente à expressão e à elaboração das questões inerentes à formação.

Poderíamos, então, pensar as associações de candidatos como organizações com status de terceiro, mas funcionando como lugar onde se escutam as vozes do interstício? Seriam as vozes dos espaços intersticiais, transformadas em discurso organizado, forma possível dos membros filiados projetarem na esfera pública as questões da instituição como um todo?

Segundo Roussillon,

a análise dos processos grupais intersticiais não se separa dos processos grupais da instituição estruturada, quer o interstício e instituição estruturada estejam numa relação de co-apoio ou ao contrário, numa relação de clivagem. (Roussillon, 1991, p. 143)

Ser membro filiado é estar em um lugar de passagem. Um lugar com movimento e fluxo em direção à agregação, elaboração e integração de conhecimento e experiências que culminem em uma identidade única e particular.

A partir da congregação destes membros, inicialmente uma massa indiscriminada, as associações de candidatos, como a AMF, adquiriram identidade e oficializaram-se. Uma organização dentro de uma instituição que cumpre a função de promover trocas entre os pares e ser um suporte para que a massa venha a se tornar um grupo.

É dentro desta lógica que a AMF pode se constituir como um lugar a um só tempo dentro e fora da instituição. Fora o suficiente para fazer ecoar as vozes difusas que vêm de dentro; dentro o suficiente para poder articular estas vozes e projetá-las no espaço oficial.

Algumas das questões sobre a formação que ocupam os psicanalistas tocam mais diretamente os membros filiados, tal como a discussão sobre o currículo. Contudo, várias destas questões, como por exemplo, preço da análise didática e uma consequente seleção que exclui pela questão econômica, são questões relevantes para a psicanálise como um todo.

Assim sendo, mais do que abordar o conteúdo do que é dito nos encontros, interessa à AMF ser um espaço que cumpra a função de oferecer um continente à expressão e elaboração das mais variadas questões inerentes à formação.

 

Referências

Azevedo, B. H., Peiter, C., Socha, A., Porto, T. S. & Rosenzveig, A. M. V. (2013). Para que AMF? Jornal de Psicanálise, 46,181-189.         [ Links ]

Roussillon, R. (1991). Espaços e práticas institucionais. Quarto de despejo e o interstício. In R. Kaes (Org.), A instituição e as instituições (pp. 132-151). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

 

 

Recebido em: 12/12/2013
Aceito em: 18/12/2013

 

 

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