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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.48 no.88 São Paulo dic. 2015

 

TEMA: ANÁLISE DE GRUPO E GRUPOS EM ANÁLISE

 

Grupos: o vértice psicanalítico

 

Groups: a psychoanalytic vertex

 

Grupos: el vértice psicoanalítico

 

 

Paulo Cesar Sandler

Analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, SBPSP; mestre em medicina, FMUSP; psiquiatra no Instituto de Reabilitação Física do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; sócio honorário da Accademia Lancisiana de Medicina, Roma; membro honorário da FAB. sandler@uol.com.br

 

 


RESUMO

Este texto, sob a forma de verbete, feito sob gentil solicitação dos editores deste periódico, enfoca agrupamentos de pessoas observadas segundo o vértice psicanalítico, que pode ser visto como integração transdisciplinar entre, pelo menos, dois âmbitos de observação. Para finalidades de comunicação, esses âmbitos são definíveis por "níveis" ou "dimensões": macro e micro. Mais especificamente, trata-se do estudo das experiências emocionais que podem ocorrer no inter-relacionamento de pessoas que compõem um determinado grupo e também, conjuntamente, das características conscientes e inconscientes que podem agir. O estudo ressalta alguns antecedentes históricos e consequências em termos de comportamento; tanto o comportamento concreto, aparente, expresso (fenomenologicamente observável), como o comportamento implícito, imaterial, sempre atuante (denominado por Bion como "ultra" e "infra" sensorial, que não pode ser totalmente apreendido pelo aparato sensorial humano). Este estudo sobre grupos de pessoas identifica duas fantasias inconscientes, de natureza onisciente e onipotente, que compartilham da mesma aparência - a de postulados autoritários. Essas fantasias, compondo ideologias (ou Weltanschauungen), postulam duas tendências no pensar, segundo um vértice da história das ideias (ou, mais precisamente, duas tendências em que ocorre ausência do pensar). Para fins didáticos e operacionais, denominaram-se essas tendências de "quantitativa" e "qualitativa"; a partir daí, sempre sob o vértice psicanalítico, descreve-se o conceito de grupos de trabalho, e especificam-se métodos de estudo para grupos de pessoas; o estudo se finaliza com um breve elenco de experiências práticas em clínica que embasam este texto.

Palavras-chave: dinâmica de grupo, análise institucional, grupos de trabalho, pressupostos básicos, clínica


ABSTRACT

Organized under the form of an entry of a dictionary, this paper was written in response to the kind invitation from the editors of this journal. It focuses on groupings of people, observed under the psychoanalytic vertex. This vertex can be seen as a transdisciplinary integration between, at least, two fields of observation. Roughly speaking, just for communicative purposes, one may define those fields according to their "levels" and/or "dimensions": macro and micro (levels). Being more specific, this is a study of emotional experiences, which may happen in certain human group, and of conscious and unconscious features that may act on interrelationships among individuals who are parts of a group. The study emphasizes some historical antecedents as well as some effects, in terms of group behavior - both the concrete, evident, express behavior (phenomenally observable), and the implicit, immaterial and ever present behavior (which Bion named "ultrasensuous" and "infrasensuous", and cannot be fully apprehended by human sense apparatus). This study about groups of people identifies two omnipotent and omniscient phantasies that share the same appearance - the appearance of an authoritarian postulate. Composing ideologies (or Weltanshauungen), those phantasies propose two tendencies of thinking, according to a vertex of the history of ideas (or, more precisely, two tendencies in which mindlessness - or lack of real thinking - does prevail). For didactic, operational purposes, the author names these tendencies "quantitative" and "qualitative". From this point, always under the psychoanalytic vertex, he describes the concept of working group and specifies few methods for the study of groups. The author finishes this study with a brief list of experiences in clinical practice (cases) that support his theory.

Keywords: group dynamics, institutional analysis, working group, basic assumptions, clinic


RESUMEN

Este texto en forma de nota fue elaborado para atender una gentil invitación de los editores del Jornal de Psicoanálisis y versa sobre agrupamientos de personas observados desde el vértice psicoanalítico. Puede ser visto como una integración transdisciplinaria entre, por lo menos, dos ambientes de observación definibles como "niveles" o "dimensiones": macro y micro. Más específicamente, se trata de un estudio de las experiencias emocionales que pueden suceder y de las características conscientes e inconscientes que pueden actuar en la interrelación de personas que componen un determinado grupo. El estudio resalta algunos antecedentes históricos y consecuencias comportamentales, tanto el comportamiento concreto, aparente, manifiesto (fenomenológicamente observable) cuanto el comportamiento implícito, inmaterial, siempre actuante (denominado por Bion "ultra" e "infra" sensorial, que no puede ser totalmente aprehendido por el aparato sensitivo humano). Este estudio sobre Grupos de Personas identifica dos fantasías inconscientes de naturaleza omnisciente y omnipotente, que comparten la misma apariencia de postulados autoritarios. Estas fantasías componiendo ideologías determinan dos tendencias en el pensar, según un vértice de la historia de las ideas o, más precisamente, dos tendencias cuando ocurre la ausencia del pensar, que se denominaron, didáctica y operacionalmente, "cuantitativa" y "cualitativa". Luego, se describe el concepto de Grupo de Trabajo y se especifican los métodos para estudiar Grupos de Personas. Finalmente, es citada una serie de experiencias clínicas que le dan embasamiento a este texto.

Palabras clave: dinámica de grupo, análisis institucional, grupo de trabajo, supuestos básicos, clínica


 

 

Estudos sobre grupos interessam a várias disciplinas e estamentos sociais: teologia, política, antropologia (incluindo sociologia), economia, propaganda, psicologia e psiquiatria (individual e social) e seus ativistas, incluindo o setor militar.

Estreitando nosso foco de observação, abordaremos os vértices sociológico-antropológico e psicanalítico (a própria dicotomia é discutível). Tentamos isolar experiências emocionais ocorridas nos relacionamentos das pessoas, os integrantes desses grupos, e também antecedentes históricos e consequências material e imateriais. Os antecedentes e consequências são fatores (nunca causais, mas intervenientes) no funcionar grupal e também na ausência desse funcionar. Tudo isso independe da quantidade de pessoas que formam o grupo - de duas até milhões. O vértice psicanalítico atual permite identificar, confinados na materialidade de um indivíduo, extensos grupos compostos de "objetos internos", imateriais, de modo último, inter-relacionados cateticamente (Freud, 1905/1958b, 1909/1956, 1910/1957, 1911/1958d; Klein, 1934/1950, 1946; Rickmann, 1950; Harrison, 2000; Bion, 1961).

Pode-se encontrar pelo menos duas ideologias gerais entre a verdadeira miríade de estudos teóricos e práticos de expressões visíveis do comportamento de pessoas quando reunidas em grupos - ou hordas, familiares por laços genéticos ou não. A possibilidade de haver vértices paradoxais de métodos de estudo sobre verdade em grupos tenta iluminar o que subjaz (ou "superjaz", com perdão pelo neologismo) à contradição, que pode ser vista como doença infantil do paradoxo (Sandler, 1997-2003, 2009-2011, 2015). O termo "ideologia" parece-nos impreciso: como velhas moedas, seu significado se desgasta, por uso contínuo. Seu campo semântico, demasiado alargado, significa muitas coisas e não serve mais para definições: fato notado por muitos, em muitas épocas, desde Platão, Nietzche, chegando até Bion. Para tentar contornar esse problema, apelo temporariamente para outra palavra, emprestada de outra língua, o alemão: Weltanschauung. Indico com essa palavra uma "apresentação única e totalizante", verdadeiro postulado autoritário que não admite críticas nem visões alternativas. Termo hoje internacionalizado em alguns países, foi usado por Freud (1933/1964a). Corro o risco de ser visto como esnobe ou pedante ao utilizá-lo em um texto em português, mas penso que oferece a vantagem de maior precisão, justamente por não ser muito utilizado. Encontro dificuldades de comunicação precisa caso utilize versões existentes desse termo em nossa língua: "cosmologia" ou "visão de mundo", que me parecem ainda mais imprecisas que "ideologia". Por questões éticas, não posso oferecer ainda outra versão, sempre dependente de habilidades retóricas para fazer formulações verbais. Prefiro não degradar uma condição científica de precisão comunicacional quando se trata de definições. Mais uma ou umas versões acrescentariam mais palavras ao já considerável excessivo arsenal delas. Assim, tento indicar a existência de duas Weltanschauungen, guiando, conscientemente ou não, uma clivagem entre duas tendências.1 Existência esta que demonstra mais uma, entre tantas, talvez demasiadas, importante cesura2 que tem impressionado - e impactado - todos nós, seres humanos. O vértice psicanalítico permite perceber que a impressionante cesura poderia não nublar as "formidáveis continuidades" entre as duas ideologias. Trata-se de uma clivagem na área do pensamento3 a respeito de grupos, tentando lidar, mas não conseguindo, com o paradoxo de que grupos são formados por indivíduos. À falta de nomenclatura mais adequada classicamente aceita, sugiro denominar as duas tendências ideológicas de:

"Quantitativa": atribui ao comportamento grupal qualidade apenas "social", "antropológica" ou "socializada"

Do ponto de vista da história da ciência, nos parece a mais antiga. Seus adeptos acreditam distinguir comportamentos autônomos do grupo - destrutivos ou construtivos - independentes dos comportamentos observáveis dos indivíduos que compõem esses mesmos grupos. Argumentam a favor da existência de um "grupo-em-si". Essa ideologia tem sido sintetizada verbalmente por frases tornadas bordões; e até mesmo jargão, ou lugar-comum (e não senso comum! Locke, 1690/1988): "um grupo é maior do que a soma de suas partes"; "espírito grupal", e outras, na tentativa de descrever interações grupais que resultariam em comportamentos únicos de e a grupos. Tendências de pretensão científica foram antecedidas por observações de literatos e sínteses filosóficas, que muitas vezes apontam os caminhos futuros da ciência (Kant, 1781/1994). Expressões literárias populares, à guisa de exemplos: "o homem é um animal político", observado, talvez pela primeira vez, por aquele que a enunciou, Aristóteles. "Uma andorinha não faz verão"; aliando o vértice religioso, inicialmente greco-romano, "a voz do povo é a voz de Deus"; e seu antecessor histórico-militar, tão antigo, cujo autor ou autores ficaram desconhecidos, perdidos no (e pelo) tempo: "a união faz a força", origem essencial dos clãs e dos estamentos militares, religiosos, políticos e máfias. Em grupos familiares, genéticos ou não, permanecem em frases infantis ou infantilizadas, mais enunciadas por enfrentamentos violentos entre machos: "você é grande, mas não é dois"; ou "a ocasião faz o ladrão". Alcançando status de postulados indiscutíveis, imunes, e desdenhando de análises críticas (ou criticismo), situam-se contribuições de alguns pesquisadores filiados a essa tendência ou crença, fundadores de disciplinas sociológicas e psicoterápicas. Será necessário citar alguns por constituírem bases fundamentais do trabalho prático e teórico da maior parte daqueles que se dedicam ao estudo e manejo do comportamento em grupos: Karl Marx, na propagação de ideia libertária grupal em relação a elites grupais minoritárias - independentemente de distorções políticas posteriores, feitas por ele mesmo e a maioria de seguidores; Gustave Le Bon, em suas observações de comportamento automatizado isento de pensar de grandes grupos humanos; Émile Durkheim, nos conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica; Kurt Lewin, na sua Teoria de Campo, verdadeira taxonomia de "comportamentos" fenomenologicamente observados de indivíduos, como os de evitação, fuga e consumação; Jacob Levy Moreno, no conceito de tele.4

"Qualitativa": acrescenta, em oposição dialética, à ideologia Quantitativa, qualidades individualizadas dos componentes do grupo; usualmente vista como crença "psicológica". Parece-nos tendência mais recente, datando, na história das ideias da civilização ocidental (Vico, 1744/1979; Berlin, 1968/1997), pelo menos desde o Iluminismo - caracterizado por defesa persistente, inconteste, do indivíduo; inicialmente, uma alternativa a dogmatismos religiosos e pseudo-científicos. Seus adeptos acreditam que "um grupo humano é apenas a soma de seus indivíduos", como expressou Winnicott (1986); diferenças quantitativas visíveis no comportamento das massas - tanto em pequenos grupos, com mais que três integrantes, como em grandes grupos, principalmente acima de duas centenas de integrantes, tendendo a milhões - devem-se apenas à quantidade de membros do grupo, mas à qualidade desses membros, já que são todos animais humanos. Do ponto de vista científico, a ideologia "Qualitativa" enfatiza comportamentos inatos, genética ou fenotipicamente adquiridos, expressos em psicanálise nos conceitos de narcisismo primário (Freud), inveja primária (Klein) e na diferenciação entre delinquência e personalidades psicopáticas (Sandler, 1969), permitindo transdisciplinaridade com disciplinas médicas e a genética. No senso comum, frases como "antes só do que mal acompanhado", ou "o bloco do eu sozinho", ou, de modo jocoso, "este é um Trio Espanhol, que vai interpretar um duo chamado 'Un Solo di Ninguno'" ilustram essa tendência. O vértice psicanalítico permite algumas correções em imprecisões superficiais - decorrentes do método de observação fenomenológica "externa" - daquilo que nos é dado diretamente a nossos órgãos dos sentidos - da tendência Quantitativa. A tendência Qualitativa permite descrição e investigação de relacionamentos entre fatores, de complexidade crescente, tanto externos como internos. Citando o último exemplo popular (lugar-comum) da página anterior sobre a ideologia Quantitativa: não seria o caso de "a ocasião faz o ladrão", mas "a ocasião revela o ladrão".

Boa parte dos pesquisadores apontados popularmente como pertencentes da ideologia "Qualitativa" concorda que mudanças em quantidade, acima de certo grau, por vezes implicam mudança em qualidade. Talvez suportem o paradoxo sem tentar resolvê-lo, mas apenas descrevê-lo: grupos são formados por indivíduos. Ilustrada pelo exemplo jocoso, popularizado entre escolares durante a infância, latência ou início de adolescência, que marca tanto questões de atenção (uma das funções de ego - Freud, 1910/1957) como daquilo que psicólogos preferem chamar de "inteligência", por meio de uma pergunta: "O que pesa mais, cem quilos de chumbo ou cem quilos de algodão?" Novamente, e como sempre, literatos e filósofos apontam, mesmo que inconscientemente, caminhos para a ciência: "um por todos, todos por um", imortalizada no imaginário popular por Alexandre Dumas, representando o romantismo francês. Investigadores ilustrativos dessa tendência que pode ser qualificada como transdisciplina:5 John Frazer, Max Weber, Wilfred Trotter, Sigmund Freud, Elias Cannetti, Edward Bernays, Wilfred Bion, Siegmund Heinrich Foulkes, Donald W. Winnicott, Enrique Pichon-Rivière.

Pode chamar nossa atenção o fato de que é mais factível encontrar manifestações literárias e populares tecendo verdadeiras loas a grupos (a ideologia Quantitativa) do que o contrário. Diz-se que um produto genuíno não demanda propaganda. Como na canção de Vinicius de Moraes e Baden Powel ("Canto de Ossanha"), "o homem que diz 'sou', não é". Se o produto precisa de muita propaganda (aqui medida pelo número de expressões populares), será mais seguro desconfiar de sua qualidade ou de seu valor-verdade. Do ponto de vista religioso e social, ocorrem ataques ao que se denomina "individualismo"; seres solitários são alvo de desconfiança; e de qualquer modo, sabe-se como o que psicanalistas denominam "mania" obtém locais mais seguros no tecido social.

A história das ideias na civilização ocidental demonstra ainda que vivemos uma época de intérpretes, não mais de descobridores (usualmente chamados "grandes autores" e até "gênios"), tornados clássicos. Focalizando novamente o assunto de grupos, há os que resgataram ou tentaram vínculos ou pontes transdisciplinares entre tendências a princípio e em princípio opostas, advindas dos grandes autores acima citados:6 Bronislaw Malinowsky, Claude Lévi-Strauss, John Rickmann, Erik Erikson, Elliott Jaques, Gregory Bateson, J. Miller (na teoria geral dos sistemas) e, no Brasil, Roger Bastide - que propôs uma "sociologia das doenças mentais" altamente inspirada na psicanálise; Ruy Coelho, que investigou a "dinâmica social" influindo na "estrutura da personalidade", e Dante Moreira Leite, uma espécie de introdutor da disciplina de "psicologia social". Na obra dessas pessoas, o que parecia ser contradição intransponível passou a se assemelhar mais a paradoxos que demandam tolerância - mas nunca resolução forçada, no sentido de se aproximar cientificamente de verdade (e não "da verdade"). Nessas obras, Quantidade e Qualidade parecem poder se integrar.

As orientações práticas no âmbito de terapia (psico ou socioterapia) advêm de observações e métodos de trabalho desenvolvidos por observação prática e expressos sob forma teórica por Wilfred Ruprecht Bion, S. H. Foulkes, Kurt Lewin, Elliot Jaques e Rocco Pisani. As observações de Lewin, Bion, Foulkes e Jaques têm sido denominadas técnicas de dinâmica de grupo.7

 

Grupos de trabalho

Nossa experiência, indicada no anexo a este verbete, permite indicar técnicas de dinâmica grupal para âmbitos profissionais em que grupos de trabalho não podem ser formados minimamente - e não plenamente, meta idealizada; a nosso ver, impossível. Isso ocorre por predominância de grupos em pressupostos básicos, claramente evidenciáveis no "aqui e agora" real - sempre mesclado de situações alucinatórias, ilusórias e delirantes - vivenciado em grupo. Do mesmo modo que ocorre em uma sessão de psicanálise. Uma condição necessária - mas não suficiente - para a observação desses movimentos será o treinamento psicanalítico.

Em âmbitos escolares de educação superior e em pós-graduação, metas pedagógicas parecem ter sido mais bem atingidas à custa de menos sofrimento, com a aplicação do método preconizado por Bion (Sandler, 2006). Em âmbitos profissionais, a identificação dos Grupos de Pressupostos Básicos, apontados durante as reuniões, permite o desenvolvimento de Grupos de Trabalho, ainda que a manutenção deles dependa de atenção contínua - algo já assimilado, de modo pioneiro, por praticantes de psicanálise e, mais recentemente, pelos adeptos de preparação "física" (ioga, exercícios aeróbicos, marciais e similares).

Esses métodos de dinâmica de grupo ainda não puderam ser aplicados em algumas instituições, principalmente naquelas em que persistem dificuldades, usualmente sérias e profundas, de integração entre meritocracia política e meritocracia técnica. Dispomos de estudos de "Análise Institucional", e escolas de administração de empresas têm continuamente se interessado, há quase meio século, em técnicas de dinâmica de grupo.

Instituições dedicadas ao estudo da psicanálise estão incluídas nesse grupo de organizações, que apresentam, com poucas exceções, resistências notáveis para a aplicação dos métodos de dinâmica de grupo, tanto na formação dos praticantes como na manutenção da instituição.8 Por exemplo, a Clínica Tavistock, em Londres, responsável pela investigação e desenvolvimento desses métodos - lá denominados "Grupos Bion" - e a Clínica Menninger, que inicialmente os "importou" para os Estados Unidos durante o final da Segunda Guerra Mundial. Bion, um dos pioneiros nessa técnica, deixou, em sua obra final, Uma memória do futuro, observações a respeito.

 

Métodos

Karl Popper sugeriu dois critérios para evidenciar se uma situação ou afirmação possui status científico, em termos de evidências de se aproximar da verdade. Um deles é a possibilidade de replicação dos experimentos.9 Postulou que experimentos teriam de ser feitos exatamente sob as mesmas condições e usando os mesmos objetos. Essa condição é impossível de ser obtida na prática, a não ser que os fatos e sujeitos, objetos e eventos experimentados pudessem ser sempre os mesmos, algo que nunca acontece. Nossa observação permite dizer, de modo expandido, aproveitando parte do critério: experimentos feitos em condições diversas, em locais e tempos diferentes e que chegam às mesmas conclusões incluem-se no mesmo critério de replicação. Realmente, as grandes descobertas científicas e tecnológicas foram feitas por pessoas que não se conheciam, separadas no tempo - por vezes, por séculos, como Aristarco e Copérnico. Dentro desse critério, fenômenos como transferência, identificação projetiva, falso self, objeto transicional, fenômenos de alucinose, aproximações à realidade psíquica, ainda que de modo transitório, foram replicados incontáveis vezes, nos últimos sessenta anos, mundialmente, em consultórios de psicanálise. Assim como a possibilidade de aplicação de técnicas grupais com objetivos de formação de grupos de trabalho em instituições.

O método sugerido por Foulkes, expandido por Patrick de Maré e Rocco Pisani para "grupos médios", formados por pelo menos doze pessoas, foi elaborado sob um quadro de referência interdisciplinar. Baseou-se simultaneamente na Escola da Gestalt e na psicanálise. Sua terminologia define "fenômenos inconscientes grupais", constituindo aquilo que Wertheimer definiu como "fundo"; e fenômenos conscientes grupais seriam a "figura" na terminologia de Wertheimer. Os primeiros demandam interpretação similar à feita em psicanálise propriamente dita. Esta, a inovação psicanalítica primeiro sugerida por Foulkes, pondo sua prática como expandindo métodos fenomenológicos de Joseph Pratt e Kurt Lewin. Foram feitas em 1943, de modo independente das observações de Bion e John Rickmann, em 1944.

Do mesmo modo, os pressupostos básicos observados por Bion em grupos - dependentes de imobilizações individuais naquilo que Klein descobriu como constituindo a posição esquizoparanoide, mas somadas em grupo - têm sido objeto de observação replicada mundialmente pelo menos desde 1961. A emergência dos pressupostos indica fragmentação do grupo (clivagem). Esses pressupostos impedem da consecução de um Grupo de Trabalho. Pertencentes ao sistema inconsciente, parecem ser originados por terror, intolerância à frustração e ao desconhecido. Sempre incluem fenômenos alucinatórios e estados de alucinose, de observação difícil, por estarem disfarçados por interesses do próprio grupo e prevalência da personalidade neurótica (Bion, 1957/1967), reproduzindo exatamente o que ocorre no convívio social considerado "normal". Pode ocorrer mistura dos três pressupostos básicos ou a alternância no predomínio de um ou dois deles, de modo variável no tempo. Os pressupostos emergem como fenômenos: (i) Grupos de Acasalamento: membros (nem todos) do grupo reúnem-se em pares instáveis, jamais formando casais, com interesses políticos ou comerciais; (ii) Grupo com Líder Messiânico: uma pessoa do grupo é auto ou heteroescolhida como líder, em função de fantasias onipotentes e oniscientes; a liderança origina-se de fatores políticos e comerciais; (iii) Grupos de Luta-Fuga: membros (nem todos) aglutinam-se de modo indiferenciado em sistema de violência, encoberto ou não, reproduzindo ambientes de guerra, por interesses políticos, religiosos ou comerciais, muitas vezes indiferenciados um do outro. Nossa experiência permitiu-nos acrescentar mais um pressuposto básico,10 que denominamos Alucinação de Pertinência e Não Pertinência (Exclusão).

O método sugerido por Bion difere, em parte, daquele de Foulkes, ao enfatizar a evolução de fenômenos inconscientes individuais espraiando-se automaticamente, nos termos já descritos por Le Bon e Freud, qual moléstia contagiosa, mas com base alucinatória e delirante, no grupo. Constituem evoluções ou involuções grupais baseadas em manifestações esquizoparanoides.11

Elliot Jaques expande a conceituação de Bion sobre pessoas tentando fazer Grupos de Trabalho observando vários níveis e "estratos" nesse tipo de grupo, formando algo denominado por ele como "retículo": "mangas" e "nós" inter-relacionados de complexidade crescente, ligados a assunção de responsabilidades pessoais, sobre postulados básicos de trabalho, específicos de cada organização. Expande vários outros conceitos: de "líder", por exemplo, em um hospital, o "líder" seria o paciente, o doente. Em empresas industriais, o consumidor etc. Além disso, aproveitando, como Bion havia feito, contribuições históricas de Arnold Toynbee, observa formação de elites minoritárias detendo poder de decisão à custa das bases. Como Bion, Jaques enfatiza interveniência de autoritarismos, na busca de implantar uma administração democrática de grupos. O termo "dinâmica de grupos" foi usado sem que esses investigadores se conheçam mutuamente, na mesma época histórica.

Este verbete não aborda vértices interessados em grupos que se situem em âmbitos eivados de julgamentos de valor ou tingidos por interesses destrutivos ou defensivos, como os político-militares, judiciais e socioeconômicos, até mesmo de propaganda. Parecem-nos independentes de práticas médicas e psicoterápicas, mesmo que, ao dominar o meio social circundante, possam pôr sérios impedimentos a elas; e, paradoxalmente, podem ser responsáveis pelo seu desenvolvimento tecnológico: por exemplo, Foulkes e Bion desenvolveram seus métodos em tempos de guerra. Muitos autores clássicos, como Platão, Sun Tzu, Maquiavel e Von Clausewitz dedicaram-se fundamentalmente a estudos de grupos e dos indivíduos que os formam. Séculos depois, personalidades famosas escreveram best-sellers que perduram por mais de meio século, como Dale Carneggie, autor de Como fazer amigos e influenciar pessoas, e políticos demagogos, como A. Hitler, apelando para os instintos (des)humanos mais destrutivos até agora conhecidos. Não surpreende que várias editoras e autores de formação universitária, membros de afamadíssimas faculdades, tenham seus livros relacionados a comportamento grupal, sempre ligados a modas recentes. Por exemplo, Neurolinguística, fenômeno editorial de uma grande casa publicadora mundializada; uma Economia comportamental, insinuando que alguma economia pudesse não o ser, incluindo pelo menos um outorgado com prêmios Nobel (Kahneman, 2011), desaguando em best-sellers, como manuais prometendo manipulações grupais, vestidos de linguajar científico. Não surpreende que os compradores desses livros, pelo menos na divulgação pela empresa Amazon, sejam os mesmos que adquirem a obra de Carneggie.

Também se evitou utilizar tipologias de personalidade humana, de alcance limitado a estudos fenomenológicos no âmbito do Sistema Consciente (utilizo a terminologia de Freud), mais usadas em empresas, como o indicador de tipos psicológicos Myers-Briggs (Myers & Myers, 2001). Aliados a uma miríade de propostas de jogos em grupo gráfico-visuais, sociodramas e similares, também nos parecem mais úteis para práticas de socialização, com diminuição catártica de tensões ligadas a questões econômicas. Rotulados como "psicologia social", não propõem nenhum aprofundamento nem apresentam interesse em aspectos dos sistemas inconsciente ou pré-consciente.

 

Experiência com grupos

Este verbete, colocando em termos teóricos e históricos, baseia-se em experiências práticas, observacionais, que perduram por mais de quarenta anos. Inicialmente, houve tentativas no ambiente hospitalar psiquiátrico privado: grupos terapêuticos sob inspiração psicanalítica com pacientes classificados como neuróticos e psicóticos, grupos de família e de casal. Foram introduzidos métodos de avaliação de resultados (Sandler, 1978; Sandler & Martins, 1980). Talvez por inabilidade pessoal, ou talvez por limitação do próprio médico, e mais provavelmente pela integração das duas, nossa conclusão, após cinco anos, foi que eventuais benefícios (medidos por técnica estatística de avaliação de resultados, no que tange às modificações de conduta e algum acesso a motivações inconscientes; um dos estudos teve grupo-controle) eram inferiores àqueles obtidos por técnicas psicoterapêuticas individuais, incluindo a psicanálise. Pareceu-nos que a maior indicação de grupo-terapia tinha base socioeconômica, alheia a objetivos científicos e terapêuticos. Isso era incrementado em iniciativas privadas.

A experiência com grupos de psicóticos permitiu-nos avaliar os impedimentos sérios à formação de grupos de trabalho; essas experiências pareceram-nos valiosas, aliadas à formação psicanalítica, para perceber o fato da existência da personalidade psicótica e fenômenos de alucinose (presença de alucinações em personalidades que, em outras áreas de ego, como atenção, notação, intelecção, podem permanecer no espectro da normalidade, do senso comum), reproduz os mesmos fenômenos observados em grupos de psicóticos. A aglutinação de pessoas em grupos facilita a emergência de traços da personalidade psicótica, sempre travestida, por assim dizer, pela personalidade neurótica (Bion, 1957/1967).

Por questões éticas, passamos a aplicar os métodos de dinâmica de grupo em instituições não psiquiátricas, voltadas à formação de grupos de trabalho em ambientes de trabalho social cotidiano, de sobrevivência física, e também em instituições de ensino superior; e como trabalho voluntário, em uma instituição militar que apresentava sérios problemas originados por violência e uso de drogas psicoativas.

Sugiro a nomenclatura "Sentido Positivo", implicando tentativas de seguir indicações teóricas e concordar com observações práticas. "Sentido Negativo" implica utilizar o que nos parece constituir engano para não cometê-lo. Se é verdade, como pensamos ser, o alerta de Goethe, citado por Freud, de que "O que recebeste de teus pais como herança, faça-o teu", "tornando proveitosa a má tarefa" (na citação de Bion sobre um provérbio popular europeu) do erro, Sentidos Negativos têm pelo menos tanta importância quanto Sentidos Positivos, além de sua condição de inescapabilidade pela espécie humana. Como observa Ester Hadassa Sandler, "podemos fazer nossos próprios erros, não repetindo aqueles de nossos pais" - intelectuais ou não. O aprendizado científico deve muito a erros de nossos predecessores. Apreciações científicas (e artísticas) diferem de julgamentos de valor; um enumerar de fontes "positivas" precisa ser acompanhada da enumeração de fontes "negativas". Portanto, evitou-se manejar os grupos sob método preconizado por Joseph Pratt - talvez o mais antigo, datando do início do século xx, feito em meio hospitalar. Neste, os grupos permanecem sob orientação pedagógico-autoritária, plenos de julgamentos de valor. Tecnicamente, são denominadas "técnicas de sugestão e reforço", guardando semelhanças com técnicas behavioristas de Skinner. Evitamos orientações advindas de Jacob Levy Moreno, ditas "psicodramáticas", que nos pareceram gerar excessivamente estímulos para acting-out (ou "atuação", na versão tradicional em nossa língua) no sentido dado por Freud ao termo, quando o impulso inconsciente entra direto na área da ação, quase sem interpolação de processos de pensar; estimulam ainda racionalizações (no sentido dado ao termo por Freud e Ernest Jones, primeiro utilizado no "Caso Schreber"). Nesse caso, tivemos experiência na condição de pacientes. Técnicas psicodramáticas nos parecem úteis apenas na áreas de diagnóstico e recreacionais.

 

Sumário da prática: dados empíricos, de observação e experiência de fatos que substanciou a teoria12

Grupos de estudantes de medicina e psicologia; de graduados em medicina e psicologia, em cursos de pós-graduação em saúde pública, psicologia e psicanálise; grupos de residentes em fisiatria em hospital público (1970-2015).

Grupos terapêuticos em ambiente hospitalar na área de psiquiatria, como pacientes classificados como neuróticos e psicóticos; terapias de casal e família. Como técnico em pesquisa estatística, do primeiro estudo sobre a personalidade de pacientes coronarianos submetidos a cirurgia e grupo-controle no primeiro centro de reabilitação para pacientes infartados instalado na América do Sul (1972-1979).

Grupos de orientação para equipes de saúde mental em dois centros de psiquiatria comunitária e preventiva: grupos de pais de crianças em terapia infantil, de equipe multidisciplinar em saúde publica, de pacientes diabéticos e de agentes-chave de saúde mental em comunidade - delegados de polícia (1974-1981).

Grupos profissionais na instituição militar, no comércio e em orquestra sinfônica. Nesse último, o trabalho foi interrompido ainda na fase de planejamento, tendo sido concluído apenas o estágio de observação para finalidade de reconhecimento da problemática emocional apresentada. A interrupção se deu pela saída do diretor musical (1999-2006).

Grupos de profissionais na área de reabilitação física de pacientes politraumatizados por lesão encefálica e medular, trabalhando com os setores administrativos e técnicos - fisiatras, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, monitores de pesquisa clínica, técnicos em radiologia (2012-2015).

Grupos de trabalho organizacional em instituição psicanalítica, de utilidade pública, nas áreas de associações de candidatos, publicações e de organização de eventos científicos (1982-2004).

Estudo histórico do movimento psicanalítico mundial, com especial ênfase para a história do movimento psicanalítico no Brasil, acoplada de pesquisa de campo.

Nos itens 2, 3 e 4 acima, o trabalho se deu por sugestão do autor deste estudo, acoplada à decidida e decisiva iniciativa individual da chefia máxima envolvida; em dois casos, no ambiente de hospital psiquiátrico privado e no de negócio comercial privado, pelos proprietários, que acumulavam função de chefia máxima.

 

Referências

Bastide, R. (1967). Sociologia das doenças mentais. São Paulo: Companhia Editora Nacional.         [ Links ]

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Recebido em: 23/6/2015
Aceito em: 30/6/2015

 

 

1 Pelo menos desde 1981, ao fazer a revisão técnica de um dicionário de psiquiatria (Campbell, 1981/1986), e poucos anos depois, ao iniciar trabalhos de versões portuguesas de contribuições de autores famosos, concluí que termos consagrados pelo uso comum não precisam e não devem ser alterados, por maiores que possam ser nossas críticas (no sentido do "criticismo" definido por Immanuel Kant (1781/1994) em relação a eles. O risco é incrementar um grau já consideravelmente nocivo de confusão, descrito em muitos mitos, como o da Torre de Babel. Mesmo o criticismo kantiano tem sido presa fácil de racionalizações e "manipulações engenhosas de símbolos" (Whitehead, 1911/1994; Bion, 1975/1988). Em minha experiência, indicam a existência de fantasias onipotentes de natureza paranoide; delírios de fama secular e importância auto-outorgada de natureza vaidosa.
2 Concepção inicialmente ligada ao nascimento de bebês, emprestada de Freud para ser desenvolvida como conceito por Bion (1977).
3 Portanto, âmbito de Ego; "clivagem" é um conceito definido por Freud e expandido por Klein: o único efeito real, nada fantasioso, de identificação projetiva (Freud, 1938/1964b; Klein, 1946/1952).
4 Sínteses destinadas a psiquiatras e psicanalistas podem ser vistas em Sandler (1982), Marx, (1867/1994); Le Bon (1895/1996); Durkheim, (1897/2002); Rainio (2009); Moreno (1953).
5 Frazer (1894/2012), Weber (1904/1974), Freud (1922/1958c), Elias Cannetti, Edward Bernays, Wilfred Bion, Siegmund Heinrich Foulkes, Donald W. Winnicott, Enrique Pichón-Rivière.
6 Malinowsky, B. (1929/1971); Lévi-Strauss & Rickmann (1950); Erikson (1959); Jaques (1986); Bateson, Jackson, Haley & Weakland (1956); Bastide (1967); Coelho (1969); Leite (1983); Miller (1965).
7 Bion (1961), Foulkes (1948/1990), Lewin & Jaques (1986), Pisani (2000).
8 Sobre a definição de meritocracia e sua taxonomia (política e técnica), cf. Sandler (2012, 2015).
9 Popper (1963/1974), autor que forneceu contribuições válidas à teoria da ciência, principalmente alertas quanto à falácia de hipóteses ad hoc. Adstrito a métodos positivistas ou crenças em causalidade, limitados à realidade material, ignorou âmbitos onde a clivagem entre matéria e energia prova ser falácia. Por exemplo, os âmbitos imateriais da realidade psíquica ou de realidades gravitacionais das micropartículas quânticas, observados inicialmente por Freud, Einstein, Planck, Bohr, Dirac e Heisenberg. Em consequência, Popper não podia expandir seus dois critérios de cientificidade; o segundo, de falseabilidade, continua altamente questionável.
10 Embora haja relatos sobre pelo menos dois outros pressupostos básicos, nossa experiência não permitiu sua confirmação. Pareceu-nos que os fenômenos indicados estavam adequadamente cobertos pelos três pressupostos básicos observados por Bion (Sandler, 1999 e 2013).
11 Bion utilizou observações e métodos iniciados por Melanie Klein - a Teoria das Posições -, acoplados às descobertas de Freud sobre processos inconscientes.
12 Nas seguintes instituições: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (curso de graduação em Medicina Preventiva, prof. Guilherme Rodrigues da Silva), Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (departamento de Prática de Saúde Pública - Convênio de Saúde Mental com a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, drs. Ruy Laurenti, Cid Guimaraes e Francisco Bernardini Tancredi); Setor de Reabilitação Psicossocial do Instituto de Cardiologia "Dante Pazzanezze", serviço do dr. Jayme Sandler; Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (curso de pós-graduação lato senso organizado pelo prof. Ryad Simon, 1998-2006), Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, iv Comando Aéreo do Ministério da Aeronáutica, São Paulo, Vocal Comércio e Importação de Automóveis; Instituto de Reabilitação Física do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, serviço da profª Linamara Rizzo Battistella.

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