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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.48 no.88 São Paulo dic. 2015

 

PSICANÁLISES POSSÍVEIS: GRUPOS

 

Grupos: uma questão viva em nossa Sociedade

 

 

Introdução

O volume 88 do Jornal de Psicanálise aborda a questão do trabalho psicanalítico com grupos. As pesquisas da equipe editorial encontraram poucos artigos sobre grupos na literatura. Se o espaço nas publicações científicas era pouco ocupado por textos sobre grupos em quaisquer de suas vertentes, a intuição da equipe editorial, aliada a conversas e informações de corredor, sugeria que ainda ocorre muito trabalho em grupo entre os membros da SBPSP.

Diante de tal situação, tivemos a ideia de consultar o grupo de membros da sbpsp diretamente, realizando uma pesquisa que pudesse nos oferecer informações mais consistentes sobre o tema.

Com base nos dados da pesquisa, convidamos os membros interessados a participar de um debate que pudesse ampliar e oficializar o espaço de discussão sobre grupos. Como veículo oficial do Instituto, o Jornal tem a função de caixa de ressonância do que acontece, assim como de manter a circulação e ventilação constante de ideias em nossa Instituição. Os dados da pesquisa revelaram que estávamos captando um forte aspecto da realidade institucional e que as ideias e trocas que giravam em torno do tema dos grupos e psicanálise estavam, sim, ocorrendo nos corredores.

Na década de 1960, e principalmente na década de 1970, observamos uma grande procura por atendimentos em grupo nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. São épocas também de grande procura por psicanálise e psicoterapia em geral.

Em meio às tensões e à censura do período militar, notamos, curiosamente, que muitas pessoas procuravam atendimentos em grupo. Não foram poucos os colegas que mantiveram atendimento em grupo nesse período, com "consultórios cheios". O trabalho de muitos analistas em Instituições também aconteceu em grupos.

Nessa mesma época temos a influência das ideias de Bion na Sociedade, embora seu trabalho com grupos nunca tenha obtido a mesma relevância que suas demais contribuições psicanalíticas.

A história dos atendimentos de grupo e os resultados da pesquisa realizada pelo Jornal revelaram a importância de se discutir questões relativas aos grupos e que estas podem contribuir para pensarmos a complexa subjetividade contemporânea. O fato de termos, atualmente, uma sensível diminuição na procura por atendimentos em grupo é uma delas, se pensarmos, por exemplo, que vivemos em tempos de liberdade democrática. O sujeito que procurava por atendimento em grupo na época de chumbo não o faz na época da Internet, o que podemos pensar a respeito?

Outra hipótese é a "falta de espaço" para a circulação do tema na Instituição. A ideia inicial era que a prática clínica, mesmo com as variações ao longo do tempo, continuava a acontecer, mas que provavelmente o espaço institucional para uma discussão científica e qualificada sobre a questão dos atendimentos psicanalíticos de grupo era ocupado muito timidamente.

Diante disso, surgiram algumas questões:

• Os psicanalistas realmente atendem grupos?

• E como atendem hoje em dia?

• Como se dá efetivamente a prática clínica psicanalítica no atendimento de grupos?

• Estaria essa prática ocorrendo nos consultórios ou nas instituições?

• De que referências se nutrem aqueles que continuam a realizar atendimentos em grupo?

• Como discutem sua prática?

• As pessoas organizam-se em instituições ou associações de grupo?

O surgimento dessas questões indicava a vivacidade do tema, pelo menos para os integrantes da equipe do Jornal.

 

A pesquisa

A equipe do Jornal elaborou uma survey1 para que pudesse obter dados acerca das questões levantadas em nossas reuniões. A ideia foi obter informações empíricas que pudessem dar subsídios ao que estávamos investigando, e a pesquisa nos pareceu um instrumento prático e efetivo para obter tais informações.

Para nossa surpresa, e acompanhando o rumo das indagações, obtivemos um bom número de respostas. Foi enviado um e-mail para todos os membros do Instituto e da Sociedade com um link2 para que se respondesse à pesquisa. Foram elaboradas 10 questões, das quais selecionamos 6 para que fossem publicadas neste artigo. Como se tratou de uma iniciativa pioneira para o Jornal, a equipe julgou que algumas perguntas não ficaram bem formuladas, sendo, portanto, descartadas por terem gerado resultados confusos.

Os resultados da pesquisa são apresentados abaixo:

1. Sobre o resultado geral, 210 respostas:

2. Obtivemos 89 respostas sobre o tempo de prática clínica:

Até 2 anos: 17

Entre 3 e 5 anos: 28

Entre 6 e 10 anos: 26

Entre 11 e 15 anos: 6

Entre 16 e 20 anos: 6

Acima de 20 anos: 6

3. Sobre o local de atendimento:

4. Sobre a presença de coterapeutas:

5. Sobre a filiação ou participação em associações:

6. Pergunta sobre o interesse em participar de um debate sobre o tema:

Como parte do trabalho a equipe editorial elaborou e organizou uma atividade para discutir a questão proposta como tema - os grupos e a psicanálise. A ideia que ganhou força foi que pudéssemos experimentar a formação de um grupo para discutir as questões levantadas.

Se as intuições da equipe editorial estivessem farejando algo realmente importante, como pareceu se confirmar pelos dados da pesquisa, a atividade seria um acontecimento institucional, dada a falta de espaço em nossa instituição para que as discussões ganhassem corpo.

 

A discussão das experiências e ideias sobre grupos e psicanálise

Enviamos um convite a todos da Sociedade e do Instituto, e 23 pessoas compareceram à atividade. Fizemos uma gravação em áudio que foi posteriormente transcrita e editada. Traremos abaixo recortes da experiência, que pensamos ilustrar de maneira clara a dimensão das questões trabalhadas. Vale ressaltar que não temos ainda hipóteses sobre o que estamos evidenciando como "falta de espaço" e que é necessário sublinhar, como dito no próprio encontro, que iniciativas estão acontecendo em nossa Instituição, como a oferta de seminários sobre as ideias de Kaës, importante nome do campo.

Como decorrência natural de uma demanda reprimida, se assim podemos considerar, a atividade dividiu-se em dois momentos. Na abertura da atividade, tivemos uma apresentação do objetivo do Jornal com o Encontro e com um número especial sobre grupos, realizado pela editora, Marina Massi. O primeiro momento ocupou praticamente 2/3 do tempo com a apresentação dos participantes e pela descrição de seus interesses relacionados ao tema. A maior parte dos presentes trabalha ou já trabalhou com alguma modalidade de grupo, utilizando-se de referenciais psicanalíticos. O 1/3 restante do tempo foi usado para destrinchar um pouco mais as questões que foram captadas pelos coordenadores da atividade, Ricardo Trinca e Any Trajber Waisbich, membros da equipe editorial do Jornal.

Pensamos que justamente o tempo ocupado pelas apresentações e descrições das atividades das pessoas presentes refletiu a necessidade de compartilhar tais experiências. A vontade de dividir tais experiências revela que existem, ainda, analistas que atendem grupos e, por conseguinte, as questões que daí emanam: a necessidade de aprofundamento científico, de espaço para produção de conhecimento, de articulações coletivas para troca de experiências etc.

Optamos por listar abaixo, de forma sintética, como se apresentaram os integrantes da atividade, sem citar seus nomes e sem entrar em mais detalhes na intimidade da atividade que realizam:

• grupo interdisciplinar;

• grupos de orientação profissional de adolescentes;

• grupo de escuta e comunidade e projeto Anchieta;

• grupos de suporte em clínicas para pacientes psicóticos;

• pacientes esquizofrênicos japoneses, supervisão em grupo em clínica de pacientes borderline, grupos não temáticos de adultos e na maior diversidade possível, prefeitura numa ubs;

• grupo de adolescentes;

• grupos lá no Hospital das Clínicas por mais ou menos dez anos, também na periferia de São Paulo com mulheres dependentes de substâncias;

• atendimento à comunidade;

• escola estadual e no clube de futebol Corinthians;

• grupo em instituição feminina psiquiátrica;

• grupos de enfermagem no HC-FMUSP;

• tribunal de justiça na vara de família;

• centro de saúde de Pinheiros que é referência para tratamento de adolescentes;

• associação que chama Associação Brasileira de Colite e Doença de Celíaca;

• grupo operativo na sbpsp (iniciativa da Diretoria de Atendimento à Comunidade-DAC), grupos de mães, grupos de crianças, sobre drogas, primeira infância e tempo da maturidade;

• grupo no consultório, grupos com pacientes psiquiátricos Santa Casa e Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e consultoria para empresas;

• lideranças de mulheres da periferia em grupo terapêutico

Nesse segundo tempo o grupo trabalhou para delinear as principais questões que envolvem o tema. Nossa opção aqui foi resgatar como os presentes se manifestaram no Encontro. Gostaríamos de retransmitir a atmosfera da atividade, bem como a cadeia de associações que surgiu entre os participantes do grupo. A seguir as falas transcritas (em itálico) mostram aquilo que contêm de mais essencial:

- Destaco o significativo número de pessoas que responderam à pesquisa e o número de pessoas que estão aqui hoje e que de verdade trabalham com grupos, e até agora a Sociedade deixa de fora esse instrumental. É uma técnica difícil. É mais barato para o paciente, e é uma ferramenta de formação incrível para quem está começando.

- Já vi coisas impressionantes acontecerem institucionalmente, e até numa instituição de psicanálise. Como eu costumo dizer no grupo, não tem nada morno, tudo é muito intenso.

- A articulação do trabalho de grupo com a psicanálise é uma das coisas que mais me chamam a atenção, se é só uma questão de técnica ou de método, da essência da psicanálise, se a questão de grupo é idêntica à psicanálise no sentido essencial do método.

- A questão política no grupo, não sei o que acontece, mas sempre assusta um pouco mais quando um grupo se reúne. Parece que os outros grupos se assustam. Uma das propostas aqui é termos grupos de ideias e, a partir deles, selecionar alguma coisa. Eu lembro que numa sociedade de grupo, ao estudar o trabalho de Freud sobre análise de grupo, nos surpreendemos de que aquele trabalho não era sobre grupo, era sobre a formação do ego. E alguém disse: "É a formação do ego, mas é sobre grupo". Se aquele trabalho fosse sobre formação do ego, então falaria sobre o indivíduo, mas, se ele fosse de formação de grupo, possibilitaria falar de análise de grupo. Há abertura para uma questão psicológica fundamentada em termos de formação: como um grupo funciona? O método é o mesmo com a dinâmica de grupo?

- Não dá para pensar no ego individual sem pensar no grupo. Quando falamos da terapia de grupo como uma coisa mais barata, me preocupa, porque é como se estivéssemos falando de dois psiquismos diferentes, isto é, como se a situação ideal fosse uma situação dual e como se a questão do grupo fosse uma alternativa mais barata possível, como se tivéssemos metapsicologias diferentes. É possível pensarmos numa relação dual que também não esteja atravessada pelo grupo?

- Análise de grupo e análise individual podem ter a mesma natureza psicanalítica ou devem ser consideradas práticas separadas? Porque, se análise de grupo e análise individual tiverem a mesma natureza, teremos que incluir, por exemplo, a noção de inconsciente e transferência. Estamos acostumados a pensar a psicanálise individual sob o vértice do interno. Se atendemos um grupo, focamos o quê? Qual é a transferência do grupo? Ou, desfocando um pouco, qual é o inconsciente do grupo? Um problema muito sério a se pensar é o deslocamento do inconsciente de dentro para fora. "O inferno que acontece na dupla ou o inferno que acontece no grupo?" Está acontecendo com todo o mundo, mas isso requer uma modificação na questão do manejo e da abordagem que fazemos com esse grupo.

- Um ponto fundamental na mudança do modo de pensar o grupo é metapsicológica. Na análise do discurso de Dostoievski, Kaës resgata a ideia da polifonia, não das vozes, mas do sonho. A emergência de diversas vozes e diversos tempos que acontecem simultaneamente e em tempos diferentes, é sincrônico e diacrônico. Surge outro modelo, que não é exclusivamente o modelo de desenvolvimento intrapsíquico. O sonho não acontece, apenas em termos intrapsíquicos, ele se constitui na relação com o outro.

- Bion traz toda a questão do grupo, de que cada criança que vem ao mundo já é sonhada anteriormente, não só pelos pais, como pelos avós, e também por toda uma comunidade.

- A questão do grupo hoje é um ponto fundamental, pois o assistimos no mundo de hoje ao esgarçamento dessa comunidade e instituição familiar. Alguns pacientes borderlines já não podem mais ser atendidos no consultório, porque demandam outro tipo de suporte.

- Vamos pensar na constituição do psiquismo em termos de grupos. Me interessei por um trabalho em grupo com crianças autistas. Era comum que a criança fosse atendida só pelo analista, os pais não entravam no consultório, como se o mundo mais importante fosse o intrapsíquico. Assim, qualquer manifestação dos pais era considerada uma interferência. A tendência no grupo dos autistas mudou consideravelmente, hoje é muito importante o trabalho familiar conjunto. Para as crianças autistas, há toda uma questão da constituição do psiquismo, e essa constituição se faz dentro do grupo. Isto é, para você internalizar um objeto, é preciso ter um psiquismo já constituído. É uma mudança metapsicológica, na qual o grupo começa a ser tomado como um ponto fundamental. Por exemplo, há uma paciente borderline que foi internada. Ela tem um cheiro que é quase insuportável para a psicóloga que vai atendê-la, mas aquele cheiro para a paciente é fundamental. Então é o cheiro, é o outro paciente que chega e brinca com ela. A equipe dentro da enfermaria a ajuda a criar um primeiro tecido mental. Essa é a importância do grupo. Quando Freud diz "O inconsciente é originalmente grupal", quer dizer, ele nasce do grupo. A questão metapsicológica do grupo é a base do nosso trabalho.

- Essa articulação dos conceitos básicos da psicanálise com o inconsciente e o não representado, que é outra maneira de ver o inconsciente, é a mesma que no não representado do grupo e equivale ao não dito. À medida que o grupo se estrutura, forma-se também uma área não dita e não representada. Isso pode ser analisado e é transferido, é uma transferência.

- O que acontece com a instituição, com a divulgação do conhecimento dentro de um grupo, dentro de uma sociedade e que tipo de processo se dá? No ano passado, quando discutimos o conceito de fantasia inconsciente, me surgiu na hora a ideia de conceitos derivados das funções, que teria havido ali uma recapitulação política. É evidente que fantasia inconsciente não é um derivado das pulsões, é um derivado do social. São relações introjetáveis.

- O grupo fica relegado a outro plano, quando ele tem uma força cognitiva forte, tanto é que nos sistemas totalitários as reuniões de grupos são proibidas. Há uma compreensão de que muitas vezes as forças que estão atuando no grupo, se não forem bem analisadas, podem levar esse grupo à falência.

- Há no HC um grupo de pacientes que passam por psiquiatras que fazem o diagnóstico. É muito interessante como o sintoma aparecia no grupo como uma forma de narrativa social, as associações surgiam livremente, uma paciente falava: "Eu me corto". Aquela era a hora de maior sofrimento do grupo, porque ela expressava a dor do grupo. Passei a entender essa comunicação do sintoma, o sintoma se socializando à medida que era construída uma narrativa social, o grupo possibilita isso. O indivíduo pode fazer uma narrativa, e no grupo isso fica muito claro. É um eu que fala com aquele sintoma, é um eu que começa a surgir, a se manifestar e a se costurar com os vários outros sintomas dos outros participantes do grupo, e isso se torna, me parece, algo curativo, porque em vez de ser um sintoma, é uma narrativa contextualizada que pode ser compreendida posteriormente no grupo que quer comunicar aquele sintoma aos outros. É uma narrativa grupal que inclui, ou não, o sintoma individual.

- Vivemos um momento superindividualista, em que essas experiências de grupo, de grupo de adolescentes, possibilitam uma outra forma de tratar que precisa se desenvolver. Trazer essa discussão pode ser um salto muito grande de incluir quem já está trabalhando com isso e reconhecer o seu valor. Tem algo aí que podemos agregar, até mesmo para outras áreas de conhecimento e de atuação, na escola, na saúde, em que, às vezes, a psicanálise não está contribuindo como deveria. Não sei se vocês acham, mas eu sinto isso em todo tipo de agrupamento.

- A Inglaterra é um exemplo do reconhecimento da importância do trabalho psicanalítico em maternidades, hospitais, basicamente, no sistema de saúde. Esse reconhecimento muda a forma de atendimento ao paciente, a inclusão dos conhecimentos psicanalíticos agrega fatores positivos, é uma virada séria e de peso.

- A questão política levantada aqui é que, quando um grupo se forma, ele pode ser um grupo proveitoso, o terapeuta pode desenvolver outras formas de grupo, mas também pode ser um monte de bois juntos que estouram a boiada. Uma ideia, por exemplo, são os grupos não permitidos em regiões totalitárias, em que os grupos poderiam ter uma força motriz e também uma força de violência dentro deles, capaz então de produzir efeitos que podem ser devastadores, violentos mesmo.

- Pensando na formação desses perigos, os seminários clínicos têm um formato individual, uma pessoa supervisionando, e o resto assistindo. Essa modalidade não funciona como grupo, e seria interessante mudar isso para experiência grupal.

- É necessária uma mudança de cultura na questão de individualismo, narcisismo e defesas narcísicas, como um impedimento da divulgação da eficácia do trabalho do grupo.

- A questão ficou muito visível numa experiência de grupo, deu para ver que o grupo tinha uma potência e os indivíduos podiam articular sua presença dentro do grupo, ele existia mesmo, mas ficou muito visível uma contracorrente que empurrava o grupo para o narcisismo. Como se fosse uma reunião de avaliação, e quatro ou cinco pessoas deixaram o grupo por razões do tipo: umas sentiram-se criticadas, outras deram as costas para o grupo, várias experiências aconteceram, e o grupo se recusou a entrar em contato. O grupo tentou de qualquer maneira preservar a coordenação, manteve unidade que parecia ser de acampamento, adolescente, em que se canta em volta da fogueira, tudo lindo, maravilhoso, pessoas que se abraçavam. Então o motim ficou meio camuflado, às vezes, pelo estouro da boiada. Então é um estouro da boiada inverso: uma boiada que não anda. Isso me intrigou muito, porque era um grupo que não ameaçou nada, era um grupo operativo, sem função terapêutica.

- Vamos encerrar , a ideia para um segundo passo são os trabalhos que vão para o Jornal , como também que surja a partir deste Encontro a proposta de formação de um grupo de estudo sobre o tema Análise de grupos e grupos em análise, isso já seria alguma mudança concreta e oficial. Os dados foram lançados.

 

Reflexões

O faro inicial de que havia uma boa questão sobre os grupos mostrou-se verdadeiro. Os pensamentos elaborados no Encontro podem ser compreendidos como oriundos da própria experiência grupal, e não de um ou de outro participante. Como referencial teórico e técnico utilizaram-se conceitos de Bion, Kaës, Balint, Winnicott, Herrmann e Freud. Miller de Paiva e Odilon são citados como mestres. Os atendimentos desses colegas geralmente acontecem em instituições hospitalares, psiquiátricas, escolas, creches e centros comunitários. Em sua maioria, são grupos específicos, entre eles, para dependentes químicos, doentes psicossomáticos, psicóticos, de gravidez precoce, para inserção de jovens carentes em mercado de trabalho, com idosos, enfermeiros, residentes de psiquiatria e de intervenção em escolas. Também encontramos colegas realizando atendimento a famílias, adolescentes e a mulheres fragilizadas. Geralmente o trabalho é voluntário, não remunerado e feito com população carente. Mas o atendimento a família e casal, também tratado por alguns de nós como atendimento de grupo, não tem esse caráter assistencialista. Também surgiram relatos de análise organizacional e de supervisão institucional. Considerou-se ainda que o trabalho acadêmico e de formação em psicanálise, como aulas, supervisões, etc., também é trabalho em grupos, mas sem caráter terapêutico.

O problema parece ser pensar o grupo, pois estamos sempre fazendo um grupo, nas mais diversas modalidades. O que acontece no grupo parece ter uma relação também com o que se exclui e o que se inclui no grupo; ou seja, a formação de um grupo relaciona-se com aquilo que o grupo aceita instituído e o que recusa em seu interior, como os não-ditos e até mesmo o não pensado.

Para finalizar, podemos afirmar que o Encontro ressaltou a importância do tema dos Grupos ser incluído como uma das questões de interesse para os membros da SBPSP, como também a necessidade da formação considerar que muitos analistas estão envolvidos com a prática psicanalítica clínica com grupos e que o espaço societário e de formação não tem dado o devido suporte teórico e técnico que essas práticas requerem do psicanalista contemporâneo.

Ficou clara, para os que participaram do Encontro, a urgência de vir a ser dito e ouvido em nossa instituição, como a experiência com grupos pode ser um instrumento de potência para o analista contemporâneo. Muitas vozes estão pedindo a palavra!

 

Participaram do encontro

Abigail Betbedé, Adriana Cruz S. Pollara, Any T. Waisbich, Berta H. Azevedo, Claudia Suannes, Denise A. Steinwurz, Elizabeth Antonelli, Eunice Nishikawa, Evelyn Pryzant, Heloisa H. S. Ditolvo, Josefa Trento, Juliana Picado, Jurenice P. S. dos Santos, Leda Herrmann, Lidia Maria Chacon, Marcus S. Abrantes, Maria do Carmo D. Amaral, Maria Stela R. S. Leite, Marina Massi, Michael Achatz, Ricardo Trinca, Suzana K. Kruchin, Wilma M. Coelho.

 

Lista dos colegas que queriam participar do encontro (via Internet ou não)

Alan Meyer, Emilia Afrange, Luciana Curatella, Regina Maria Rahmi, Rejane Cutrim, Stephania A. R. Batista Geraldini, Talita Azambuja Nacif, Vania Maria Martins Lopes, Walter de Assis, Ymara Lúcia Camargo.

 

 

1 O site Survio (www.survio.com) é o responsável pela geração da pesquisa. É possível acessá-lo por meio de cadastro e pagamento de taxa para que se tenha acesso a algumas modalidades de questionário. As respostas são anônimas e estão armazenadas pela equipe editorial do Jornal, podendo ser consultadas por qualquer membro da Instituição. Para nós o interesse foi poder contar com uma ferramenta prática, rápida e útil para realizar efetivamente uma consulta com o corpo societário.
2 O link da pesquisa pode ser acessado pelo endereço: https://www.survio.com/survey/d/U9L1T8F3M9C9C4I2A.
3. As Instituições citadas foram: spagesp (Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo), nesme (Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações Vinculares), cesir (Centro de Estudo Simonne Ramain), Associação Paulista de Psicoterapia Analítica de Grupo, Psicoterapia Grupal Analítica, Associação Internacional de Psicanálise de Casal e Família, abramd (Associação Brasileira Multidisciplinar sobre Drogas), Sedes Sapientiai, Sociedade Brasileira de Psicodrama, Sociedade de Psicoterapia Analítica de Grupo de Campinas, sbprp (Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto), Sociedade Canadense de Psicanálise, spag rj (Sociedade Psicanalítica Gradiva), sbpsp do Grupo de Estudos cowap (Woman and Psychoanalysis Committee) e do Grupo cowap Latinoamérica.

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