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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.48 no.89 São Paulo dez. 2015

 

PSICANÁLISES POSSÍVEIS

 

As contribuições das neuroses e das psicoses para a compreensão do processo de hominização e da história da espécie humana

 

Contributions of neuroses and psychoses to the understanding of the hominization process and the history of human species

 

Las contribuciones de las neurosis y psicosis para la comprensión del proceso de hominización y de la historia de la especie humana

 

Les contributions des névroses et des psychoses pour la compréhension du processus de l'hominisation et de l'histoire de l'espèce humaine

 

 

Fernanda Silveira Correa

Doutora e mestre em Filosofia pela Unicamp e graduada em Psicologia pela PUC-SP. Professora do curso de Psicologia da Universidade São Judas Tadeu. Psicanalista. fernandasilveiracorrea@gmail.com

 

 


RESUMO

De acordo com Freud, a psicanálise pode reivindicar uma posição de destaque entre as ciências que se esforçam por reconstruir as fases mais antigas e obscuras da humanidade, porque as neuroses e psicoses, seus objetos de estudo, conservam antiguidades da alma. As disposições para as neuroses permitiram a Freud fazer a genealogia da pulsão sexual: seu afastamento da função sexual biológica (histeria de angústia), sua capacidade de satisfação na fantasia (histeria de conversão) e de satisfação na ampliação do poder, na afirmação de si e no domínio sobre o mundo e sobre os outros (neurose obsessiva). As disposições para as psicoses possibilitaram fazer a genealogia da culpa e da vida social. O prazer na submissão à castração pela sexualização da dor (esquizofrenia), o prazer sexual com o igual apoiado no ódio ao diferente (paranoia) e o prazer no ódio contra si mesmo (mania/melancolia) compõem os elementos necessários para a vida social. Este artigo percorre as etapas dessa reconstrução.

Palavras-chave: Freud, Sigmund, filogênese, ontogênese, psicopatologia, pulsão sexual


SUMMARY

According to Freud, Psychoanalysis may claim a higher place among those sciences that make an effort to reconstruct the earliest and most obscure stages of mankind. The reason is that neuroses and psychoses, objects of the psychoanalytic study, have kept soul antiques. Dispositions to neuroses permitted Freud to conceive the genealogy of sexual instinct: its removal from the biological sexual function (anxiety hysteria), its satisfaction ability in fantasy (conversion hysteria) and its satisfaction ability in increasing power, self-assertion and dominion over the world and over others (obsessional neurosis). Dispositions to psychoses allowed Freud to conceive the genealogy of guilt and social life: the pleasure in the submission to castration by sexualizing the pain (schizophrenia), the sexual pleasure with the equal one and founded on the hatred towards the different one (paranoia), and the pleasure in the hatred of the self (mania/melancholy). In this paper, the author goes through all the stages of this reconstruction.

Keywords: Freud, Sigmund, phylogenesis, ontogenesis, psychopathology, sexual instinct


RESUMEN

Según Freud, el psicoanálisis puede reivindicar un lugar destacado entre las ciencias que se esfuerzan por reconstruir las fases más tempranas y más oscuras de la humanidad, porque las neurosis y psicosis, objeto de su estudio, conservan en sí antigüedades del alma. Las disposiciones relativas a las neurosis le permitieron a Freud caracterizar la genealogía de la pulsión sexual: su alejamiento de la función sexual biológica (histeria de angustia), su capacidad de satisfacción en la fantasía (histeria de conversión) y de satisfacción en la expansión del poder, la autoafirmación y la dominación sobre el mundo y los demás (neurosis obsesiva). Las disposiciones relativas a las psicosis permitieron trazar la genealogía de la culpa y de la vida social: el placer en la sumisión a la castración por la sexualización de dolor (esquizofrenia), el placer sexual con el igual apoyado en el odio al diferente (paranoia) y el placer en el odio contra sí mismo (manía/melancolía). Este artículo recorre las etapas de esa reconstrucción.

Palabras clave: Freud; filogénesis; ontogénesis; psicopatología; pulsión sexual


RÉSUMÉ

Selon Freud, la psychanalyse peut revendiquer une place remarquable parmi les sciences qui s'efforcent de reconstruire les phases les plus anciennes et obscures de l'humanité, car les névroses et psychoses, leurs objets d'étude, maintiennent l'antiquité de l'âme. Les dispositions pour les névroses ont permis à Freud de faire la généalogie de la pulsion sexuelle: son éloignement de la fonction sexuelle biologique (hystérie de l'angoisse), sa capacité de satisfaction dans l'augmentation du pouvoir, dans l'affirmation de soi et dans la maîtrise du monde et de l'autre (névrose obsessive). Les dispositions pour les psychoses permettent de faire la généalogie de la culpabilité et de la vie sociale. Le plaisir dans la soumission à la castration par la sexualisation de la douleur (schizophrénie), le plaisir sexuel avec son égal, appuyé sur la haie au différent (paranoïa) et le plaisir dans la haie contre soi-même (manie/mélancolie) composent les éléments nécessaires pour la vie social. Cet article parcourt les étapes de cette reconstruction.

Mots-clés: Freud. Sigmund, phylogenèse, ontogenèse, psychopathologie, pulsion sexuelle


 

 

Segundo Freud, "o que são hoje neuroses foram fases de estado da humanidade" (1996, p. 129). No manuscrito que corresponde ao que seria o décimo segundo ensaio metapsicológico, "Visão geral das neuroses de transferência",1 enviado a Ferenczi em 1915, Freud formula uma história da espécie humana, ocorrida a partir dos tempos glaciais, com seis fases, nas quais teriam sido constituídas as disposições para as psiconeuroses (para as neuroses de transferência e para as neuroses narcísicas, quer dizer, para as neuroses e as psicoses). De acordo com Freud, cada disposição é acentuada em uma determinada psiconeurose, mas está presente em todos os seres humanos. Devemos ler a história filogenética, portanto, como uma gradual aquisição daquilo que Freud concebeu como constitucional no ser humano, ou melhor, daquilo que ele concebeu como as condições necessárias para o processo de hominização, para o processo de tornar-se humano. Como em outros momentos de sua obra, também nesse manuscrito, Freud pretende revelar o que é constitucional no ser humano com base em sua compreensão da patologia. Como escreveu na Conferência 31: "a patologia, à medida que aumenta e torna mais grosseiro, pode chamar a atenção para condições normais que de outra maneira não perceberíamos. ... os loucos podem nos revelar coisas que de outro modo nos seriam inacessíveis" (Freud, 1933/2010f, pp. 194-195). Neste sentido, a história filogenética é mais um recurso utilizado por Freud para alcançar seu objetivo de compreender os seres humanos com base nas patologias. A história filogenética funciona como uma genealogia dos elementos constitutivos do humano. Elementos conhecidos grosseiramente por meio da compreensão das patologias e lapidados com base na reflexão sobre suas origens, sobre suas genealogias.

Vejamos então quais são as disposições para as patologias, suas elucidações com base na reflexão sobre sua genealogia e o que disso podemos conceber como condição do ser humano em geral.

Na primeira fase filogenética, suposta por Freud nos tempos glaciais, teria sido constituída a disposição para a histeria de angústia. Essa disposição é a angústia de anseio (Sehnsuchtangst), quer dizer, a angústia que, em vez de estar ligada a um perigo real vindo do mundo externo, em vez de coincidir com um medo (Angst) perante o real, é a transformação da libido insatisfeita.

Conhecemos, desde as cartas escritas a Fliess (Masson, 1986) e do primeiro artigo sobre neuroses de angústia de Freud (Freud, 1894[1895]/1980b), essa origem da angústia. Na neurose de angústia, a transformação em angústia impede que a excitação sexual invista o grupo psíquico sexual, composto pelas sensações de desprazer e prazer do órgão genital, pela imagem do objeto sexual e pelas imagens de movimento de aproximação do objeto. A transformação em angústia propicia um decréscimo do desejo sexual, e aí está sua importância: a excitação sexual deixa de pressionar em direção à ação sexual, ao coito.

No caso de histeria de angústia mais amplamente analisado por Freud, no do pequeno Hans, também a transformação da excitação sexual em angústia, junto com forças repressoras, impediu que um determinado grupo psíquico fosse investido e pressionasse à ação sexual. Existiam alguns pensamentos, que "Hans apenas intuía vagamente", de algo que devia ter alguma coisa a ver com seu pênis excitado e que "devia ser um ato violento o que era praticado com a mãe, um destroçamento, um ato de abrir, de penetrar num espaço fechado, para cuja realização o garoto podia sentir dentro de si o impulso" (Freud, 1909/2015, p. 269). Embora Hans estivesse a caminho de postular a existência da vagina, uma força repressora, no caso, a teoria sexual infantil de que existe um único sexo, o impedia. Com a repressão, "impulsos ativos, ... [como] aquele sádico-afetuoso com a mãe, permaneceram sem aplicação" (Freud, 1909/2015, p. 270). Sendo transformados em angústia, os impulsos sádico-afetuosos dirigidos à mãe deixam de investir as imagens da vagina e do coito, eliminando assim sua capacidade de dar ímpeto à motilidade. Também na histeria de angústia, a transformação em angústia evita que a libido pressione em direção ao ato sexual.

No que a história filogenética nos auxilia a compreender essa disposição? De acordo com Freud, a angústia de anseio teria surgido nos tempos glaciais, porque, devido aos perigos envolvidos em buscar o objeto sexual, os seres humanos abstiveram-se de investir seus objetos sexuais. Desinvestidas as imagens do objeto sexual, cessaram os anseios libidinais em direção ao objeto na realidade. Utilizaram para isso uma disposição que os capacitava a transformar a libido, que permanecia insatisfeita, em angústia, evitando assim o investimento dos objetos sexuais. O que nos ensina então a histeria de angústia é que a libido, nos seres humanos, afasta-se do funcionamento sexual biológico. A primeira manifestação desse afastamento é, portanto, a sua transformação em angústia, um excesso de excitação que não pressiona a uma direção pré-determinada e que poderá ser utilizado de outras formas.

A presença da angústia de anseio em todas as crianças, caracterizando a angústia infantil, demonstra que ela é condição da constituição do humano, um quantum de energia sem emprego, uma pulsão que deixou de ter função biológica.

Na segunda fase filogenética teria sido então constituída a disposição para a histeria de conversão. Esta disposição é a sexualidade perversa, sexualidade que se satisfaz na fantasia, na recordação de uma vivência de prazer. Se a histeria de angústia ensina que a libido está desvinculada da função sexual biológica, a histeria de conversão nos ensina como a libido, nos seres humanos, se satisfaz: ela se satisfaz nas recordações, na fantasia, evitando assim a consequência do coito, a procriação. As recordações, as representações psíquicas ganham aqui nova característica: elas deixam de ser meios que auxiliam na realização de uma função e passam, elas mesmas, a satisfazer o desejo sexual. Trata-se da constituição do mundo da fantasia (da satisfação por meio das representações), que ganha autonomia em relação às funções biológicas.

A interpretação dos sintomas da histeria de conversão pôde revelá-los como expressão de fantasias sexuais, e com isso, então, pudemos apreender essa característica da sexualidade humana, sua capacidade de satisfazer-se na fantasia. Como são constituídas essas fantasias sexuais? Com experiências de prazer que são repetidas de forma inconsciente nos sintomas. Por exemplo, Dora lembra-se da sensação do pênis do sr. K. pressionando seu clitóris, por meio de uma sensação de aperto na região peitoral (Freud, 1905/1980a). Elisabeth von R. recorda-se da conversa, em uma caminhada, com o cunhado que amava por meio de uma paralisia das pernas (Breuer/Freud, 1895/1980). A fantasia também pode ser um prazer que não foi vivido, mas imaginado com base em outras vivências. Assim, a tosse de Dora corresponde à fantasia de satisfazer o pai como ouvira que a sra. K. o satisfazia. Dora identifica-se com a sra. K. (ambas desejam seu pai) e produz a fantasia de satisfazer o pai oralmente. Aqui os prazeres orais de Dora juntam-se com o desejo pelo pai (por seus genitais) e com a identificação com quem satisfaz o pai (sra. K.). A fantasia é construída com representações associadas pelo desejo. Que desejo é esse? O desejo de repetir um prazer já vivenciado ou de repetir em uma única cena várias vivências de satisfação anteriores (Freud, 1905/1980a).

De acordo com a história filogenética, as satisfações perversas teriam surgido para evitar a procriação (porque não havia alimento para todos). Assim como a transformação em angústia serviu para evitar a pressão em direção à aproximação do objeto sexual e ao coito, a satisfação perversa evita a procriação. A satisfação na fantasia, repetindo vivências de satisfação (de outras necessidades que não as sexuais), teve seu valor adaptativo, pois evitou a procriação. A sexualidade perversa, que visa a repetir prazeres e culmina na alucinação, foi uma disposição útil à espécie, à medida que evitou a procriação e, assim, possibilitou um maior cuidado com os filhos já nascidos.

O fato de a sexualidade infantil corresponder à sexualidade perversa demonstra sua universalidade, mostra-a como condição da constituição do ser humano.

A histeria de conversão, assim como o desenvolvimento na ontogênese das pulsões sexuais, mostra ainda outra característica: a sexualidade perversa pode apresentar-se como aversão à própria manifestação sexual, assim, o prazer oral pode se tornar repugnância, o prazer de ver, vergonha, o prazer de dominar, piedade (Freud, 1905/1980c). Estas forças contrárias fazem com que a satisfação perversa provoque além de prazer, desprazer (tensão) e a pulsão se desloque para outro tipo de satisfação. Esse deslocamento já aparece, em um primeiro nível, nas manifestações mais precoces da sexualidade, caracterizando-a não só como um movimento para eliminar o estímulo, mas também de autoestimulação. Por exemplo, o sugar estimula o dedo que estimula o manipular, que estimula o genital, que estimula a masturbação. Assim, a sexualidade perversa caracteriza-se não só pela busca da eliminação do desprazer, por meio da repetição da vivência de satisfação (na qual o desprazer foi eliminado), mas também pela autoestimulação, que busca novas zonas e novos movimentos. Num outro nível, este deslocamento possibilita o abandono da sexualidade perversa em direção à realização da função biológica procriativa. É necessário que um prazer local gere tensão (desprazer) para que a excitação conduza ao coito. Assim, o prazer de ver deve tornar-se desejo de aproximação do objeto, o prazer oral do beijo deve conduzir ao coito, e não satisfazer-se inteiramente na felação. São as contraforças que determinam essa passagem e que aproximam o sujeito da realização da função sexual biológica. Em outro nível ainda, ou melhor, como um desvio em relação à função sexual biológica, essas contraforças propiciam a sublimação e a realização cultural. É o que nos ensinará a neurose obsessiva. De toda forma, a histeria de conversão nos ensina que a sexualidade humana originalmente se satisfaz em suas representações, na fantasia, mas caracteriza-se também por uma mobilidade, por uma tensão que, mais intensa, determina a transformação da sexualidade perversa em função sexual biológica, procriadora (Freud, 1905/1980c). O que fora perdido, na filogênese, tem de ser recuperado, mesmo que nunca o seja inteiramente, na ontogênese.

A histeria de angústia e a histeria de conversão, por meio da suposição da constituição de suas disposições na história filogenética, nos possibilitam circunscrever três traços característicos dos seres humanos, a saber: 1) suas pulsões sexuais não visam a função sexual biológica; 2) suas pulsões sexuais satisfazem-se na fantasia, o que dá a esta autonomia em relação à função biológica do organismo; e 3) existem forças contrárias às satisfações das pulsões sexuais na fantasia, forças que visam a reestabelecer a função sexual biológica.

Na terceira fase filogenética teria sido constituída a disposição para a neurose obsessiva. Trata-se da intensificação das forças contrárias à satisfação na fantasia, que aqui não levam à realização da função sexual, mas, como forças inibitórias que atrasam a satisfação, possibilitam a expansão dos processos psíquicos. Trata-se da constituição do processo secundário (do pensar, da inteligência e da linguagem), que acaba sublimando a sexualidade perversa, transformando-a em vontade de poder (afirmação de si, domínio sobre o mundo e sobre os outros).

A neurose obsessiva enfatiza exageradamente o pensar, o processo secundário como um caminho alternativo e inibido da satisfação das pulsões sexuais perversas. Também o neurótico obsessivo apresenta uma enorme energia que retorna na forma de compulsão, a ação que fora enfraquecida na histeria é aqui retomada com muito mais potência, não mais voltada à satisfação sexual biológica, mas determinada pela fantasia.

Acompanhemos o estabelecimento dos processos secundários e da linguagem, na ontogênese, exposto por Freud em Projeto de uma psicologia, para compreender a relação entre a linguagem e a recuperação da energia para a ação, e esboçar algumas hipóteses sobre outra característica da neurose obsessiva, constituída na terceira fase filogenética: a onipotência dos pensamentos.

Em Projeto de uma psicologia (Freud, 1950/1995), as imagens de movimento linguísticas - aquelas que correspondem a uma imagem de movimento de emissão do som (da palavra) associada a outras imagens de objeto - servem, como todas as imagens de movimento, para transformar o mundo percebido no mundo desejado. Assim como mexer o pescoço pode transformar o seio materno lateral sem mamilo em um seio frontal com mamilo, passível de ser sugado, uma realidade sem objeto auxiliar (a mãe, por exemplo) pode tornar-se a realidade desejada, na qual o objeto auxiliar está presente, por meio da emissão de um som, um grito ou uma palavra que o chame. Trata-se da função comunicativa, que possibilita à realidade percebida tornar-se a realidade desejada. O pensar é encontrar um caminho entre a percepção e o objeto desiderativo (antes alucinado e agora ligeiramente investido, funcionando como meta dos deslocamentos das quantidades psíquicas). Quando este caminho é encontrado e nele existem imagens de movimentos, estas são investidas para que o movimento seja realizado. Desta forma aquele organismo primeiramente incapaz de realizar a ação específica recupera sua capacidade de agir, agora tendo como meta o objeto do desejo.

Por outro lado, as imagens de movimento servem, elas mesmas, como meta para as quantidades psíquicas provindas da percepção. Assim, a imagem do movimento da mão do outro associa-se com a imagem de movimento da minha mão, fazendo com que algo que é percebido seja reconhecido, mesmo que não esteja relacionado com objetos de satisfação ou de dor. Assim o eu pode representar os objetos do mundo com base em seus movimentos. Junto com esse reconhecimento, com essa capacidade de representação, encontramos a capacidade de imitação, a capacidade de imitar o movimento que o outro faz ou ainda a capacidade de imitar o efeito do movimento alheio. Com as imagens de movimento linguísticas amplia-se muito a capacidade de representar o mundo, os objetos e suas relações, pois a cada objeto ou relação associa-se um som e uma imagem de movimento necessário para emitir o som. As imagens de movimento, portanto, possibilitam a constituição do pensamento teórico, capaz de representar o mundo independentemente da satisfação que este traga. Podemos dizer que, com a suposição da sexualidade perversa, Freud pode justificar o prazer do movimento (do sugar, do manipular, do controlar...) tanto devido à proximidade do objeto de satisfação (sua proximidade com a eliminação do estímulo) como por sua característica de autoestimulação (de prazer na tensão). Podemos supor que a neurose obsessiva intensifica esse estado de tensão, assim como intensifica as contraforças, expandindo dessa forma o eu, mesmo que vise, em última instância, à eliminação.

O que revela a onipotência do pensamento. Uma mistura dessas duas funções da linguagem: comunicação e representação. Assim, na onipotência, a imagem de movimento que serve para representar o mundo é considerada uma ação sobre o mundo. Como na magia, em que se acredita que, ao imitar o movimento que produz o efeito da chuva, a realidade percebida, sem chuva, se tornará a realidade desejada, na qual chove. Outro exemplo é a crença de que, ao enunciar o nome de alguém ou de algum acontecimento, tal pessoa se faz presente ou tal acontecimento se realiza (Freud, 1913/2012), Essa mistura de ambas as funções mostra suas origens comuns: a sexualidade infantil, que, ao mesmo tempo que elimina os estímulos por meio da alucinação (e o movimento auxilia na alucinação), provoca novos estímulos que são por si mesmos prazerosos e terão uma nova utilidade, reconhecer o movimento alheio e começar o processo de representação do mundo em geral. A onipotência dos pensamentos e a compulsão (Zwang, obsessão), na neurose obsessiva, evidenciam-nos quão potente se torna a pulsão sexual quando inibida.

Na terceira fase filogenética, então, teriam surgido, da libido poupada, todos os elementos acentuados na neurose obsessiva: a inteligência, que por meio de invenções assegurou algum domínio sobre o mundo (a recuperação da ação), a linguagem e a onipotência do pensamento, atualizada na magia.

O desenvolvimento ontogenético do pensamento, dos processos secundários derivando dos processos primários, mostra-nos que a origem sexual do pensamento é universal (e não ocorre apenas nos neuróticos obsessivos); o desenvolvimento ontogenético do princípio da realidade, no qual se estabelece a ação sobre a realidade orientada pelo desejo, possibilitando um maior domínio sobre esta, e o desenvolvimento da capacidade de sublimação evidenciam-nos estes processos como condição da constituição do ser humano. A pulsão sexual, portanto, transforma-se em pensamento e em linguagem (que possibilitam a representação do mundo) e manifesta-se como ação de domínio sobre o mundo. A pulsão sexual potencializada pela fantasia e pela inibição desta, expressa-se como vontade de poder, como necessidade do eu de se afirmar e se expandir.

Se supusermos, de um lado, que a função sexual biológica tem de ser recuperada com base na sexualidade perversa e, de outro, que a sexualidade perversa deve tornar-se energia do eu, que o amplia e determina seu poder sobre o mundo, podemos compreender por que o conflito entre as pulsões do eu e as sexuais é um conflito entre a dupla existência do sujeito, entre a dupla função que a pulsão sexual tem no ser humano, cumprir uma função biológica (que nunca será alcançada, mas que dirige o desenvolvimento) e dominar o mundo por meio da sublimação. Ambos, a função sexual biológica e o eu, se fundam nas pulsões sexuais e nas inibições. Mas, quando a sexualidade dirige-se a um fim, tem de abandonar o outro. Neste sentido, as direções do desenvolvimento do eu e da libido (que tem de se tornar função biológica) não coincidem. O que é evolução em um sentido é regressão no outro.

A neurose obsessiva, portanto, nos possibilita apreender mais duas características do ser humano: 1) a capacidade de sublimação da pulsão sexual e, com isso, a expansão do poder do eu sobre o mundo (sua capacidade de representá-lo e transformá-lo), e 2) o conflito entre a expansão de seu poder e a tendência a recuperar a função sexual biológica.

Por último, ainda há uma característica da neurose obsessiva que se torna mais clara com a suposição de sua origem na história filogenética. Enquanto as histerias, de angústia e de conversão, defendem-se das exigências da função sexual biológica, transformando a libido em angústia ou satisfazendo-a de forma perversa, a neurose obsessiva defende-se de pulsões ambivalentes, por exemplo, defende-se da hostilidade dirigida ao objeto amado. Como estes aspectos hostis tão fortes, revelados na neurose obsessiva, surgiram nos tempos glaciais? O pai primitivo, livre, inteligente e poderoso formou as hordas primitivas e, devido à proteção que proporcionava aos membros mais fracos da horda (os filhos), afirmou seu direito à crueldade, seu direito de manifestar sua brutalidade sobre os outros. Essa brutalidade terá de ser reprimida para a constituição da comunidade de iguais, e as neuroses narcísicas nos mostrarão quais as disposições necessárias para isso. A disposição para a neurose obsessiva, no entanto, corresponde justamente a essa ambivalência das pulsões, que possibilita a expansão do eu (o pensamento e a linguagem), da vontade de poder e da crueldade.

As neuroses narcísicas, isto é, as psicoses, nos ensinam quais são as disposições necessárias para a constituição da vida social. Como mostra a história filogenética, essas disposições constituem-se na relação com o pai poderoso e cruel, com aquilo que, de acordo com o Projeto de uma psicologia (Freud, 1995), podemos chamar de objeto hostil, objeto que causa dano e dor no sujeito. Assim, se as neuroses de transferência explicitaram as disposições humanas que estabelecem nossas relações com nossos objetos de satisfação, as psicoses explicitam as disposições que estabelecem nossas relações com os objetos hostis.

A disposição para a demência precoce (esquizofrenia ou, como prefere Freud, parafrenia) é o autoerotismo. Mas um autoerotismo diferente do da sexualidade perversa, que também é autoerótica. De acordo com o texto "Introdução ao narcisismo" (Freud, 1914/2010b), a parafrenia tenta dar conta não da angústia (da transformação da libido), como o fazem as neuroses de transferência, mas da hipocondria. A hipocondria, como a doença orgânica, remete à dor. A dor corresponde a uma ferida (ou alteração de órgão) que atrai para si toda a energia psíquica (o interesse e a libido). Em vez de pressionar em direção à satisfação, a dor exige cuidado, exige tomar o corpo como objeto, e é este cuidado que caracteriza o autoerotismo da demência precoce. Podemos diferenciar um narcisismo primário, semelhante ao narcisismo do pai primitivo, expresso na onipotência do pensamento, um narcisismo do sujeito, de um narcisismo secundário, que corresponde à posição de objeto do próprio eu, do próprio corpo, um narcisismo de objeto. O narcisismo que correspondente à hipocondria é o narcisismo secundário, de objeto, no qual todo o interesse e toda a libido deixam os objetos do mundo, não para substituí-los por sua representação na fantasia, mas para dirigi-los ao próprio corpo, à própria ferida que exige cuidados. Trata-se de um afastamento do mundo e de uma reconstrução do mundo com base na própria ferida. Não se trata de um mundo construído com base no próprio corpo, nos próprios movimentos, nas próprias pulsões, como o mundo representado pelo pai primitivo, mas reconstruído com base na própria ferida, nas marcas de uma destruição. Diferente das pulsões, a ferida que provoca dor é causada por um objeto externo, e por isso a reconstrução do mundo será feita com base em elementos do exterior (da ação do objeto externo e da linguagem aprendida de fora).

Em "O inconsciente" (Freud, 1918/2010a), analisando a linguagem hipocondríaca do esquizofrênico, Freud mostra que por meio da linguagem o paciente tenta recuperar seu próprio corpo (seu lugar, a inervação dos órgãos, os movimentos, os buracos), ele tenta recuperar seu corpo desde fora, do que os outros dizem sobre o corpo: por exemplo, o que dizem sobre o lugar daqueles que têm um determinado relacionamento, o que dizem sobre os órgãos (sobre os olhos virados pelo namorado), sobre a ejaculação (um jato que acarreta um buraco, o que também é dito sobre espremer um cravo), sobre a vagina (um buraco, o que também é dito de um cravo espremido ou do que se encontra no tecido estendido de uma meia). Faltam, ao esquizofrênico, imagens do próprio corpo no inconsciente (o que corresponderia a imagens do núcleo do seu próprio eu) e, por isso, ele tenta restabelecê-las com base na linguagem, desde fora. Esta falta corresponde a uma ferida, cuja dor só pode ser elaborada, compreendida, com base na ação de um objeto externo sobre o próprio corpo, em um sentido que vem de fora.

Em Schreber (Freud, 1911/2010g), a ação do objeto é mais explícita, sua hipocondria corresponde às manipulações de Deus (representante do médico e, em última instância, do pai) sobre seu corpo, manipulações que tinham como objetivo torná-lo mulher, emasculá-lo. Submeter-se docilmente a estas manipulações, à castração, significou para ele submeter-se à vontade de Deus, portanto, submeter-se à vontade do pai. Como se a castração ganhasse sentido ao ser considerada a realização da vontade do pai. Esta parece ser a explicação das autocastrações realizadas pelos dementes precoces. Trata-se de submeter-se à vontade do outro, trata-se, como ensina a hipocondria, de ter prazer na dor. Neste caso a hipocondria assemelha-se a uma posição passivo-masoquista diante do pai (Freud, 1918/2010c), diante de um objeto hostil.

Podemos então afirmar que o demente precoce que provoca em si mesmo dor e até autocastração e cujo sintoma delirante é uma tentativa de recuperar o eu com base na linguagem, desde fora, mostra-nos seu desejo da castração, seu prazer masoquista que o faz submeter-se prazerosamente ao ataque externo, e sua reorganização do eu com base na ação do objeto, desde fora, desde a própria dor, que é o efeito da ação do objeto.

A quarta fase filogenética mostra então a origem da disposição passivo-masoquista. O pai primitivo, que garantiu uma certa proteção, devido a sua inteligência aos filhos, submeteu-os à castração, e aos filhos, inebriados de dor, restou sexualizar a própria ferida, desejar mais dor como expressão de sua submissão à vontade do pai superpoderoso. Desenvolveram assim a capacidade do eu de gozar da posição de objeto de um Outro e de organizar-se com base na ação do Outro. O que é sexualizado, nesta disposição, é o ataque do outro sobre si. Trata-se da constituição de uma relação direta com o objeto que age sobre o eu, e não de uma relação indireta, mediada pelas pulsões, como são as relações com os objetos de satisfação, constituídas na primeira parte da história filogenética.

Essa disposição também é universal: está presente não só nos esquizofrênicos, mas em todos os indivíduos. Seria mais uma condição para a constituição do ser humano, para o processo de hominização, de tornar-se humano. Como Freud mostra em "Totem e tabu" (Freud, 1913/2012), a obediência adiada ao pai é fundamental para a manutenção do pacto social, para os indivíduos que vivem em sociedade. Também na criança o desejo de submeter-se aos pais, de ser objeto do amor deles, é constitutivo em seu desenvolvimento. Além disso, a supervalorização do objeto, que ocorre, nas crianças, diante dos pais, no enamoramento, diante do objeto amado e, na massa, diante do líder, mostra também a universalidade dessa disposição (Freud, 1921/2011).

A disposição para a paranoia teria sido constituída na quinta fase filogenética. Qual é a disposição? As satisfações homossexuais, que sublimadas correspondem aos sentimentos sociais. Em primeiro lugar, devemos distinguir essas satisfações homossexuais, relacionadas com os iguais, do homossexualismo em relação ao pai, que corresponde à disposição para a demência precoce, da posição passivo-masoquista, que implica a submissão incondicional a um Outro superpoderoso. A disposição para a paranoia corresponde ao amor pelo igual, por aquele que é igualmente fraco. Em vez de submeter-se ao forte, amar o fraco. As satisfações homossexuais também devem ser distinguidas das satisfações perversas. Não se trata de uma satisfação que substitui a função sexual biológica, mas de uma transformação do ódio. Como nos aponta a paranoia, trata-se de defender-se de um objeto perseguidor, o amor pelos iguais é uma transformação do ódio pelo diferente, do ódio pelo perseguidor. Em vários exemplos, Freud explicita a gênese do amor pelo igual, base dos sentimentos sociais. Em "Psicologia das massas e análise do eu" (Freud, 1921/2011), afirma que o amor pelo líder e a ilusão de que ele ama a todos de modo igual e justo são remodelações das relações da horda primitiva, na qual todos os filhos sabiam-se igualmente perseguidos pelo pai. Portanto, a sentimento de igualdade no grupo remete à sensação de ser igualmente perseguido. Em Projeto de uma psicologia (Freud, 1950/1995), o sentimento de igualdade (no caso, de compaixão) remete ao reconhecimento, por meio da associação entre as imagens de movimentos defensivos do outro e as imagens dos próprios movimentos defensivos (por exemplo, de um grito), de que o outro está submetido a uma vivência de dor ou de ameaça de dor (submetido a um afeto) provocada por um objeto hostil. Na criança (também em "Psicologia das massas", Freud, 1913/2012), a identificação com os irmãos deve-se à percepção de que eles também têm seus desejos, dirigidos aos pais, insatisfeitos. Se os irmãos primeiramente são rivais, eles se tornam amados quando se percebe que eles também sofrem por não ter privilégios no amor dos pais. As reivindicações de igualdade e justiça são expressas nesta ideia: já que não tenho privilégios, que ninguém os tenha. Se substituirmos não ter privilégio por não ser satisfeito, podemos dizer que é o desejo insatisfeito que provoca a identificação com o igual. Se o desejo é satisfeito, finda a identificação; para ela existir, é necessária a manutenção do desejo insatisfeito. Amor pelos iguais, na verdade, é exigência de igualdade, exigência de que ninguém seja satisfeito e de que ninguém se diferencie. Também o narcisismo das pequenas diferenças (em "Mal-estar na cultura", Freud, 1930/2010e) nos mostra que o amor pelos iguais se constitui à custa do ódio comum a um diferente, externo ao grupo. Os delírios do paranoico, portanto, explicitam algo presente em todos esses exemplos de amor: trata-se de um amor derivado do ódio ao diferente, exigindo que ninguém se diferencie.

O que ocorreu então na quinta fase foi que, diante da ameaça de castração do pai primitivo, os filhos fugiram da horda, identificaram-se entre si e desenvolveram as satisfações homossexuais. Diferentemente da submissão, que revela a demência precoce, os filhos na quinta fase transformaram os sentimentos hostis para com o objeto poderoso e perseguidor em amor pelos igualmente perseguidos e fracos.

A universalidade das exigências de igualdade nas crianças e nos grupos mostra que essa disposição não está presente apenas nos paranoicos ou homossexuais; é mais uma condição do tornar-se humano.

Por fim, as disposições para a mania/melancolia teriam sido constituídas na sexta fase filogenética. Que disposições são estas? A disposição para a mania corresponde à possibilidade de suspender a opressão interna existente no eu, a sensão temporária das exigências feitas ao eu de que ele corresponda ao ideal do eu. O ideal do eu representa para o sujeito os ideais coletivos, a realização das exigências de justiça e igualdade que vimos anteriormente. Diante deste ideal, o eu atual está sempre a dever. A mania seria uma disposição que interrompe essa tensão interna do eu, que resgata de alguma forma o eu anterior às exigências coletivas (Freud, 1921/2011). Na história filogenética corresponde à identificação de cada um dos filhos com o pai primitivo, por meio de sua devoração, o que ocorreu logo depois do parricídio. No caso, remete ao fim da opressão realizada pelo pai primitivo, quando os filhos oprimidos se livram da opressão e se identificam com o opressor (Freud, 1913/2012). O que na filogênese significou o fim da opressão do objeto hostil, na patologia significa o fim das exigências da organização social. Isso nos mostra que a hostilidade interna do eu contra si mesmo (pela consciência moral, que compara o eu atual com o ideal) é da ordem da hostilidade do objeto externo hostil. Mostra também que a submissão do eu aos ideais da coletividade é da ordem da submissão passivo-masoquista, diante do opressor poderoso. Ambas as características estão na disposição à melancolia, que é o oposto da mania. Trata-se da intensificação da pressão interna exercida pelos ideais coletivos internalizados (na forma de ideal do eu e consciência moral) sobre uma parte do eu que é oprimida, uma parte que se identifica com o pai primitivo, mas que acaba por se submeter à parte opressora.

Como é possível a constituição dessa tensão? É o que nos mostra a análise de Freud da melancolia, em "Luto e melancolia" (Freud, 1917/2010d). A melancolia parte de um luto que terminou com a identificação do eu com o objeto. Neste sentido, podemos dizer que a melancolia parte da mania, parte da identificação do eu com o objeto poderoso, que visa a satisfazer suas pulsões e seus desejos. O que faz a melancolia? Volta à crueldade resgatada nessa identificação contra a própria identificação. A melancolia dá um novo destino à crueldade readquirida com a identificação, ela se volta contra a própria pessoa, como antes se voltou contra o objeto hostil. Assim a melancolia possibilita a criação de um arranjo psíquico que satisfaz, ao mesmo tempo, as pulsões agressivas, os ideais coletivos e o masoquismo. Satisfaz a agressividade, pois a volta contra parte do próprio eu, satisfaz os ideais coletivos, primeiro, porque o ódio contra si mesmo impede o ódio contra os iguais e, segundo, porque, odiando o que tenta se diferenciar (no caso, odiando si mesmo), intensifica o amor pelo igual. Satisfaz o masoquismo porque parte do eu (aquela que se identifica com o objeto poderoso) submete-se aos ideais coletivos (agora opressores). O eu que visa a satisfação das pulsões (que corresponde à introjeção do pai), mesclado com o masoquismo, torna-se objeto do próprio ódio. Aqui compreendemos a função do masoquismo na organização social: receber o ódio que se volta contra a própria pessoa.

A disposição para a melancolia teria sido adquirida na história filogenética quando, depois de os filhos devorarem o pai e se identificarem com ele, resgatando a psicologia do indivíduo (disposição para a mania), eles se culparam por isso, quer dizer, voltaram a agressividade, que fora resgatada, contra si mesmos. Salvaram assim os ideais coletivos de igualdade à custa da repressão do próprio desejo de se diferenciar, à custa da repressão da própria vontade de poder.

Assim, tanto na melancolia como na sexta fase constituiu-se um arranjo psíquico capaz de garantir a organização social e a parcial manifestação das pulsões sexuais humanas. As pulsões sexuais readquiridas puderam garantir a sublimação, agora dirigida pelos ideais coletivos que usam a força da própria pulsão para submetê-la. A necessidade desse arranjo psíquico para a manutenção da organização social mostra-nos então sua universalidade, ou melhor, sua estabilidade. Arranjo de forças que permitiu o pacto social e permite ainda hoje as condições para a vida em sociedade.

 

Referências

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Recebido em: 3/9/2014
Aceito em: 10/3/2015

 

 

1 Este texto foi publicado na Alemanha em 1985 com o título Übersicht der Übertragungsneurosen e no Brasil, pela editora Imago em 1987, com o título Neuroses de transferência: uma síntese.

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