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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.48 no.89 São Paulo dez. 2015

 

MANIFESTAÇÕES

 

Eugenia: a mente sob os desígnios da hereditariedade1

 

Eugenics: the mind under the designs of heredity

 

Eugenesia: la mente bajo los designios de la herencia

 

Eugénique: l'esprit sous les désignes de l'hérédité

 

 

Tamara Prior

Historiadora, mestranda pelo Departamento de Medicina Preventiva da FM-USP. tamara_prior@yahoo.com.br

 

 


RESUMO

Ao longo da história o tema da hereditariedade apresentou-se sob interpretações variadas. O desenvolvimento das ciências biológicas permitiu, por um lado, maior conhecimento sobre seus mecanismos; por outro, tornou imprescindível a reflexão a respeito de determinismos teóricos, que parecem recair, principalmente, sobre o campo dos estudos da mente. Para tal reflexão o presente artigo propõe um olhar para a origem e postulados da eugenia, concebendo-a como um movimento social, político e científico que propunha o melhoramento do patrimônio biológico como solução contra a degeneração mental e decadência da humanidade.

Palavras-chave: hereditariedade, eugenia, História, determinismo biológico


ABSTRACT

Throughout History, heredity as a subject has been found under several interpretations. On the one hand, the development of biological sciences has allowed a greater (or better) knowledge about its mechanisms; on the other hand, it has made the thought on theoretical determinisms be indispensable. These theoretical determinisms seem to rest especially on the field of the studies of mind. This paper proposes an examination of the origins and postulates of Eugenics, which is conceived as a social, political and scientific movement that intended to improve the biological heritage in order to solve mankind's mental degeneration and decay.

Keywords: heredity, Eugenics, History, biological determinism


RESUMEN

A lo largo de la historia el tema de la herencia ha sido interpretado de diversas maneras. El desarrollo de las ciencias biológicas ha permitido, por un lado, un mayor conocimiento sobre sus mecanismos y, por otro, hizo imprescindible reflexionar sobre el determinismo teórico que recae principalmente en el campo de los estudios de la mente. Este artículo dedica una mirada a los orígenes y principios de la eugenesia, concibiéndola como un movimiento social, político y científico que proponía el mejoramiento del patrimonio biológico como solución contra la degeneración mental y la decadencia de la humanidad.

Palabras clave: herencia, eugenesia, historia, determinismo biológico


RÉSUMÉ

Tout au long de l'histoire, le sujet de l'hérédité s'est présenté sous des interprétations variées. Le développement des sciences biologiques a permis, d'un côté, une plus grande connaissance sur ses mécanismes ; d'autre côte, il a rendu indispensable la réflexion sur les déterminismes théoriques qui semblent retomber surtout sur le domaine des études de l'esprit. Pour une telle réflexion, cet article propose un regard vers l'origine et les postulés de l'eugénique, en la concevant comme un mouvement social, politique et scientifique qui a proposé d'améliorer le patrimoine biologique comme une solution contre la dégénération mentale et la décadence de l'humanité.

Mots-clés: hérédité, eugénique, Histoire, déterminisme biologique


 

 

Dimensões do passado remoto

O fenômeno da formação do semelhante por descendência foi objeto de intepretações e explorações ao longo da história. Atualmente, predomina o entendimento da hereditariedade como um programa de tradução de mensagens, códigos, instruções. Pelas palavras do biólogo francês - agraciado com o Nobel de Fisiologia em 1965 - François Jacob (1920-2013):

O que se transmite, de geração em geração, são as "instruções" que especificam as estruturas moleculares. São os planos arquitetônicos do futuro organismo. São também os meios para executar estes planos e coordenar as atividades do sistema... O organismo torna-se assim a realização de um programa prescrito pela hereditariedade. A intenção de uma Psyché foi substituída pela tradução de uma mensagem. O ser vivo representa certamente a execução de um projeto, mas que não foi concebido por inteligência alguma. Ele tende para um objetivo, mas que não foi escolhido por vontade alguma. Este objetivo é preparar para a geração seguinte um programa idêntico. É reproduzir-se. (Jacob, 1983, p. 10)

As considerações de Jacob, trabalhadas com maestria ao longo de sua obra A lógica da vida, atentam para perspectivas reducionistas acerca da hereditariedade e, em última instância, da Biologia, que para ele não se reduz ao molecular, e sim abrange os sistemas, que, cada um em seu todo, diferem das moléculas que os formam.

Tais questionamentos - que se atualizam ao longo das gerações - são de extrema pertinência para as reflexões presentes, sob pena de permitirmos que nossas teorias e práticas subjuguem-se ao determinismo, por vezes sedutor, derivado do olhar segmentado. Como objeto para reflexão propomos um retorno às origens do evento que levou as teorias acerca da hereditariedade aos extremos embaraçosos - porém, teoricamente persistentes - da intolerância: o movimento eugenista.

Carrie Elizabeth Buck (1906-1983) nasceu em Charlottesville, estado da Virgínia, Estados Unidos. Filha de Emma Buck e mãe de Vivian, Carrie poderia ter levado uma vida típica, não fosse uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que, em 1927, considerou seus genes hereditários perigosamente portadores da "imbecilidade". Assim, sob os auspícios do Ato de Integridade Racial promulgado em 1924, Carrie foi condenada à esterilização compulsória, a fim de evitar que sua imbecilidade - já comprovada na geração anterior pela história de vida de sua mãe, Emma - passasse aos descendentes e contribuísse para a decadência humana.

Médicos e juristas envolvidos no caso de Carrie Buck com muita clareza justificaram: sua mãe, Emma, havia sido internada na Colônia para Epiléticos e Débeis Mentais por apresentar comportamento imoral, prostituir-se e ter sífilis. Carrie, assim, foi tirada da mãe e dada em adoção para a família Doggs. No período em que frequentou a escola, obteve notas médias. No entanto, logo foi tirada dos estudos para auxiliar a família nas tarefas domésticas, tempo em que alegou ter sido estuprada por um dos sobrinhos dos Doggs. Aos 17, a gravidez em decorrência do estupro de Carrie foi vista pelos pais adotivos como sinal de mau comportamento e promiscuidade, o que os fez enviá-la à mesma instituição em que havia vivido a mãe, Emma. Após o nascimento da bebê Vivian, os Doggs a adotaram e com ela ficaram até o final de sua breve vida, que se deu aos 8 anos, devido a problemas no intestino.

O caso Buck foi visto como uma vitória dos eugenistas. O anátomo-passado e a hereditariedade, afinal, seriam a grande causa das degenerações mentais, e estas, por consequência imediata, da decadência da sociedade americana. Prevenir era preciso: Doris, irmã de Carrie, também foi esterilizada sob ordens especiais quando precisou ir ao hospital para uma cirurgia de apendicite. Segundo esse raciocínio, corrigia-se o passado, compensava-se o defeito humano de criar mecanismos artificiais de existência e salvava-se o futuro pela eliminação das mulheres Buck (Gould, 1999; Goliszek, 2004).

Não raro Sigmund Scholomo Freud (1856-1939) recorreu ao passado remoto para buscar o embasamento de suas reflexões. Leitor da obra do naturalista Charles Robert Darwin (1809-1882), sobretudo de um livro menos conhecido, A expressão das emoções nos homens e nos animais2 (1872), Freud citou-o consideráveis vezes e incorporou alguns de seus conceitos em suas construções teóricas. Recorreu aos princípios de Darwin ao tentar explicar, por exemplo, em seu Estudos sobre a histeria (Freud; Breuer, 1895/1976), algumas manifestações corporais da sra. Emmy von N. Afirmou, ao analisá-las, que estas poderiam remeter ao que Darwin, na referida obra, chamou de princípio de transbordamento da excitação, as quais seriam, sinteticamente, manifestações corporais involuntárias associadas à constituição adaptativa do sistema nervoso (Darwin, 1872/2009).

No entanto, em sua análise, Freud aponta essa hipótese por último, não sem antes dizer, categoricamente, que "não é possível atribuir a mesma origem a todos os sintomas somáticos desses pacientes" (Freud; Breuer, 1895/1976, p. 91). Essas manifestações, afirma, poderiam ter origens reumáticas, que, segundo o autor, causavam mais dor em neuróticos; poderiam, ainda, ser manifestos de lembranças de dores sentidas durante a vida da paciente ou, ainda, serem fruto do citado princípio de transbordamento da excitação nomeado por Darwin. De acordo com o entendimento de Freud sobre o tal princípio, este seria um mecanismo adaptativo que permitia exprimir emoções contidas com manifestações motoras involuntárias, tal como o abanar de rabo de um cão. Nota-se que este fenômeno teria, segundo Darwin, características evolutivas e hereditárias, e Freud, embora pareça reconhecê-las, não lhes confere poder determinante.

Sobre as diversas menções de Freud a Darwin, lê-se no artigo "A temática darwiniana em Freud: um exame das referências a Darwin na obra freudiana" que:

Pode-se afirmar com grande embasamento, ao menos desde os estudos já clássicos e de grande repercussão de Ritvo (1965, 1972, 1974, 1992) e Sulloway (1979/1992), que a presença de Charles Darwin (1809-1882) na vida e na obra de Sigmund Freud (1856-1939) é extraordinária. De um lado, uma consulta a dados acerca de sua vida acusa a posse de várias obras de Darwin e revela uma funda inserção, sobretudo durante sua formação acadêmica, na biologia darwinista. De outra parte, uma reflexão sobre os temas abordados em seus trabalhos, como o estudo da emoção, a sexologia, a psicologia infantil e a antropologia mostra que as ideias do célebre evolucionista inglês encontram intenso eco na obra freudiana. Assim, além de distinta, a influência de Darwin sobre Freud, como caracterizou Ellenberger (1970, p. 236) com precisão, "é múltipla". (Ferretti; Loffredo, 2013)

Dada a complexidade da análise freudiana, tais dimensões do passado - de inspiração darwinista ou definidas por conclusão própria - eram sempre contrapostas a outras possibilidades, outras nuances e singularidades do presente. É certo que partiu dos princípios de Darwin ao ponderar sobre os aspectos utilitários que certas características garantidas pela variabilidade e adaptação conferiram aos humanos. Mas tais investidas freudianas pelo universo evolucionista - típico de seu espaço e tempo - denotam o esboço de uma singular concepção do passado remoto e de suas inúmeras possibilidades.

Sobre a influência dos mecanismos de hereditariedade em si - assunto tão em voga à época quanto no tempo presente -, afirma Monah Winograd que para Freud a dualidade entre aquilo que é hereditário e o que é adquirido consistiu em um falso problema, diluindo-se ao ser compreendida como um interagir de fatores sempre dados no presente:

Em 1895 (Freud 1895), discutindo com quem situava a hereditariedade "no lugar do todo" e tratava as afecções neuróticas com base nisso, Freud introduziu uma expressão da qual jamais abriu mão: equação etiológica. Com ela, pretendia fazer entender, de uma vez por todas, que, na causação das neuroses, várias classes de causas estão inter-relacionadas quantitativamente. (Winograd, 2007)

Essas influências do passado na mente como coisa em si parecem, assim, limitar-se e subjugar-se, no pensamento freudiano, ao labirinto de relações dado no presente. Tal contenção e ponderação, porém, não foi - tampouco o é - comum no desenvolvimento teórico das várias áreas do amplo campo do conhecimento "psi".

Perante essa problematização, propõem-se, aqui, elementos para reflexão estabelecidos com base em um olhar para o passado que permite a identificação de noções deterministas da hereditariedade humana aplicadas aos estudos da mente. Afirma-se que tais noções permearam o desenvolvimento teórico de áreas diversas, conferindo ao anátomo-passado não apenas o papel de instrumento a serviço da compreensão da mente, mas, por vezes, o poder determinante sobre o fazer-se humano. Notamos também a extensão da hereditariedade da dimensão individual para a coletiva, atribuindo-se poderes explicativos às supostas leis de progresso ou decadência que regiam as sociedades. Leis de decadência, diga-se, pautadas majoritariamente pelas hipóteses de degeneração mental por caracteres herdados. Ao assumir aprioristicamente a correlação entre caracteres hereditários e supostos determinantes do modo de ser em suas leis fundamentais, as teorias alocam os mecanismos da hereditariedade no cerne de suas problematizações.

Esses métodos de correlação possuem história e História. Assim, vale deter-se nos aspectos biográficos e bibliográficos daquele a quem é atribuído o pioneirismo dos estudos das faculdades e capacidades da mente relacionando-as aos mecanismos de hereditariedade: Francis Galton (1822-1911), primo do famoso Charles Darwin e fundador do movimento eugenista.

Propor-se à tarefa de estudar a história da eugenia leva, inevitavelmente, aos desafios conceituais, dadas as especificidades que esse movimento social e científico possui, sendo apresentado ora como ciência - com hipóteses e leis específicas, extraídas por métodos estatísticos -, ora como técnicas ou conjunto de técnicas. Se as ideias eugenistas parecem ser tão antigas quanto a humanidade, é certo que o movimento constituiu-se em campo específico: configurou-se como uma forma de ciência, formou-se como disciplina a ser ministrada em todo o processo educacional (dividindo-se em temas eugenistas pertinentes a crianças, adolescentes e adultos), constituiu-se como fornecedora de técnicas a serviço da saúde pública e criou seus próprios eventos e publicações. Tais postulados, hipóteses, leis e técnicas seguem, no tempo presente, no cerne das problematizações cientificamente orientadas do campo "psi". O caso Buck, emblemático e de exagero elucidativo, em nada difere em teoria e método dos projetos de esterilização de detentas em voga no estado da Califórnia, Estados Unidos, ou dos projetos brasileiros que persistentemente propõem como solução para a criminalidade a esterilização ou o aborto eugênico. Diante da concretude das ideias a reflexão torna-se urgente.

 

Francis Galton: benesses e agravos da hereditariedade

Francis Galton (1822-1911) foi um polímata da Era Vitoriana. Viveu parte daquilo que o historiador Eric Hobsbawm (1962/2009) chamou de "Era das Revoluções" - compreendendo sobretudo os anos das revoluções Francesa, Industrial, os processos das independências latino-americanas e a reconstrução destas sociedades após tais importantes eventos.

Na Inglaterra, viveu entre a chamada Pax Britannica - vivenciada nos anos vitorianos, que oficialmente compreendem o período do reinado da rainha Vitória, entre 1837 e 1901 - e as turbulências sociais da sociedade que se configurava após essas chamadas revoluções.

Tal período contou com o processo de desenvolvimento e consolidação das nações e dos nacionalismos, enquanto projetos orientados para a unidade política e, pretensamente, também cultural. Refletir sobre o fazer científico de Galton e o movimento eugenista no âmbito dos projetos nacionalistas é crucial para a compreensão dos ímpetos políticos presentes em suas formulações teóricas. Ainda Hobsbawm, ao tratar das nações e nacionalismos, que tiveram seu desenvolvimento no século XIX - segundo o autor, sobretudo a partir de 1780 -, faz importantes considerações acerca desse processo:

não considero a "nação" como identidade social originária e imutável. A "nação" pertence exclusivamente a um período particular e historicamente recente. Ela é uma entidade social apenas quando relacionada a uma certa forma de estado territorial moderno, o "Estado-nação"; e não faz sentido discutir nação e nacionalidade fora desta relação ... As nações e seus fenômenos associados devem, portanto, ser analisados em termos das condições econômicas, administrativas, técnicas, políticas e outras exigências; por essa razão, as nações são, do meu ponto de vista, fenômenos duais, construídos essencialmente pelo alto, mas que, no entanto, não podem ser compreendidas sem ser analisadas de baixo, ou seja, em termos das suposições, esperanças, necessidades, aspirações e interesses das pessoas comuns, as quais não são necessariamente nacionais e menos ainda nacionalistas. (Hobsbawm, 2013, pp. 18-19)

Nesse emaranhado de instâncias que formam as nações e os mitos nacionalistas está em posição de destaque também o elemento étnico ou racial, configurando o chamado nacionalismo étnico, cujas teorias desenvolveram-se no mesmo campo contextual e, sobretudo, na Inglaterra. Afirma Hobsbawm:

Ao mesmo tempo - mais ou menos na segunda metade do século XIX -, o nacionalismo étnico recebeu reforços enormes; em termos práticos, através da crescente e maciça migração geográfica; na teoria, pela transformação da "raça" em conceito central das ciências sociais do século XIX ... Os liames entre o racismo e o nacionalismo são óbvios. A língua e a "raça" eram facilmente confundidas como no caso dos "arianos" e "semitas", para indignação de estudiosos escrupulosos como Max Muller, para quem a "raça', um conceito genético, não podia ser inferida da língua, que não era herdada. Além disso, há uma evidente analogia entre a insistência dos racistas na pureza racial e nos horrores da miscigenação, e também a insistência de tantas formas de nacionalismo linguístico - a maioria, talvez - sobre a necessidade de purificar a língua nacional de elementos estrangeiros ... o que trouxe a "raça" e a "nação" mais perto ainda foi a prática de usá-las como sinônimos possíveis, generalizando, de modo igualmente inexato, o caráter "racial/nacional". (Hobsbawm, 2013, pp. 150-151)

A era vitoriana foi, também, propícia ao desenvolvimento científico. Desenvolvimento este ligado ao campo social que o produziu. Vivia-se significativa prosperidade econômica conquistada com a expansão do império ultramarino e também pelas consequências das mudanças econômicas da Revolução Industrial: as novas fábricas implantavam novos sistemas de trabalho, aumentavam o número dos bens de consumo, as exportações e configuravam uma nova forma de economia.

Por um lado, crescimento econômico e a melhora das condições materiais - para alguns - fomentavam utopias de progresso; por outro, as desigualdades acentuavam-se e subjugavam, sobretudo, os trabalhadores das unidades fabris. Estes, novos moradores urbanos, oriundos do campo, desempenhavam trabalhos exaustivos, mas recompensados com vencimentos baixíssimos, o que gerava dos piores panoramas: miséria e doenças. Panorama, ainda segundo Hobsbawm, ofuscado pela opulência dos anos vitorianos.

Esse processo de industrialização pelo qual passava a Inglaterra no século XIX gerou, sobretudo nas cidades, um conturbado panorama: massas de operários advindos do campo, vivendo com remunerações miseráveis e condições precárias. Os modos de vida e as mazelas consequentes do baixo poder aquisitivo eram vistos, por alguns setores sociais, como exemplo da degeneração humana. A partir da segunda metade do século XIX, as teorias degeneracionistas ganharam força a ponto de configurar um movimento que abrangeu da filosofia à antropologia criminal. A degeneração como modelo de compreensão - fortemente influenciada pela tradição decadentista das sociedades ocidentais - é usualmente considerada um movimento de origem francesa, configurado como escola de pensamento que fornecia explicação para aquilo tido como socialmente perturbador - como a superpopulação gerada pela supracitada urbanização típica do século XIX, o estilo de vida dos operários, os protestos políticos, o alcoolismo, a prostituição e outros exemplos daquilo que era considerado subversivo da ordem.

O historiador estadunidense Arthur Herman atenta para uma definição da degeneração como "um desvio mórbido de um modelo inicial" (Herman, 1999, p. 120). Partindo da reflexão sobre os trabalhos do médico italiano Cesare Lombroso - cujos estudos correlacionavam comportamentos desviantes e aspectos físicos -, afirma:

Lombroso estava convencido de que havia encontrado a chave para um problema que começava a atormentar outros membros da profissão médica: o medo da "degeneração", a possibilidade de que a população da Europa não fosse mais capaz de suportar as exigências da vida civilizada. (Herman, 1999, p. 120)

Nesse caso, a degeneração encontrava raiz comum: maus resíduos atávicos. Os portadores destes resíduos rumavam para a formação de uma nova subespécie. Segundo Herman:

Médicos, biólogos, zoólogos e antropólogos - os principais membros das novas profissões científicas - foram os primeiros a dar o alarme. Em 1890 havia um consenso crescente de que uma onda de degeneração varria a paisagem da Europa industrial, deixando em seu rastro desordens tais, que incluíam o aumento da pobreza, do crime, do alcoolismo, da perversão moral e da violência política. Os cientistas mais preocupados com a degeneração eram, com poucas exceções, fortemente progressistas e até mesmo socialistas em suas opiniões políticas. Estavam longe de serem os conservadores defensores do status quo, como costumam ser apresentados por alguns historiadores. Lombroso, por exemplo, era membro do Partido Socialista Italiano e construiu sua carreira combatendo a pobreza e a desnutrição entre os meeiros agrícolas mais pobres, o que fez com que ganhasse a antipatia da aristocracia e dos proprietários rurais. (Herman, 1999, p. 121)

Evidencia-se, assim, a dimensão e a complexidade da relação entre hereditariedade e degeneração, tema abraçado por movimentos intelectuais diversos.

Nesse campo insere-se, assim, a história de vida de Francis Galton. Para a contemplação de seus dados biográficos, orientamo-nos pelo historiador François Dosse, que propõe uma abordagem hermenêutica das biografias, à luz da reflexão sobre seus elementos heterogêneos, suas vicissitudes e singularidades, em relação dinâmica com o campo social. Em sua obra O desafio biográfico, o historiador restitui a importância da biografia, tão singular e histórica quanto abstrata e ficcional, constituindo um gênero híbrido, passível de permanente renovação. A biografia seria, principalmente, artifício que permite lembrar e fazer recordar uma vida (Dosse, 2009).

Comumente assim se apresentam sumarizados os principais dados biográficos de Francis Galton: médico, antropólogo, geógrafo, meteorologista, viajante explorador, fundador da psicologia da personalidade, inventor da identificação por impressão digital, criador da análise estatística correlacional e do conceito de regressão em direção à média, eugenista, protogeneticista, primo do naturalista Charles Darwin e autor de best-sellers sobre os principais assuntos aos quais se dedicou.3

Galton também se dedicou à escrita daquela que deveria ser sua própria história, usando como método a reconstituição de sua árvore genealógica. Em Memories of my life - obra publicada em 1908 - apresenta breves histórias de vida de seus ascendentes, construídas segundo o mesmo método que preconizava para a compreensão da sociedade: aquele da identificação dos talentos que seriam passados de geração para geração. Talentos estes presentes nos familiares e que supostamente também se manifestaram nos filhos e netos, enfatizando sucessos e apontando limitações. Assim fez em suas Memórias, em meio ao relato de anedotas e reflexões feitas sob a perspectiva de seus quase 90 anos de idade, quando as registrou.

Para Galton, na hereditariedade encontravam-se respostas. Esta era uma questão cara e essencial ao autor, daí o caráter perene no desenrolar de suas próprias memórias. Faz-se interessante notar que nelas estão presentes também as relações sociais das quais faziam parte seus entes. Sobre isso, é constante, até mesmo, a exaltação dos mais bem relacionados. Como exemplo, temos a menção à meia-irmã de sua avó, casada com Hudson Gurney, cuja virtude era justificada por ser amigo de Lord Aberdeen, conhecido personagem histórico. No entanto, jamais se atribui ao campo social ou às relações sociais a função de impulsionadores dos sucessos relatados. Como a lógica galtoniana procurava demonstrar, estes seriam baseados apenas em talentos individuais. Ou então, especificamente, talentos individuais herdados de pais com inclinações semelhantes.

No início de sua autobiografia, Galton já adverte sobre as dificuldades que encontram aqueles que optam pela empreitada No entanto, amparado pelas memórias privilegiadas de duas irmãs, pelas suas anotações, por alguma pesquisa e já sem a companhia dos rostos familiares - pois em sua nonagésima década de vida já havia presenciado a partida da maior parte dos amigos -, o esforço autobiográfico se concretiza.

Francis Galton nasceu em 1822, em Birmingham. Pelo lado paterno, foi filho de Samuel Tertius, neto de Samuel John Galton e bisneto de Samuel Galton. Em suas Memórias afirma ser comum aos membros Galton o gosto pela leitura e o talento para cálculos estatísticos, este último manifesto sobretudo em seu pai. Tais atributos teriam formado grandes homens de negócios, com destaque para seu avô, hábil comerciante de mosquetes. Havia, ainda, em seu tio Theodore Galton esplêndidas dádivas mentais e físicas que o faziam portador da mais alta reputação na família, já agraciada com interessantes talentos. Menciona que seus familiares paternos eram quakers4 havia muitas gerações. Com seu avô, existiam algumas semelhanças particulares:

Samuel John Galton gostava muito de animais. Ele mantinha muitos bloodhounds; amava os animais e escreveu um despretensioso pequeno livro sobre eles em três pequenos volumes, com ilustrações. Ele tem definitivamente uma inclinação para a Estatística, adorando arrumar todos os tipos de dados em linhas paralelas, frequentemente usando cores para distingui-las. (Galton, 1908, p. 3)5

Pelo lado materno, pertencia à família Darwin. Foi neto do segundo casamento do médico, poeta e filósofo Erasmus Darwin, sendo o famoso primo, Charles Darwin, neto do primeiro casamento. A influência hereditária do avô, afirma, teria sido muito forte, criando uma importante linhagem de médicos. De sua avó materna teria herdado a longevidade, já que tanto ela, quanto sua mãe e seus irmãos viveram até perto dos 90 ou mais anos de idade. Uma meia-irmã de sua mãe havia se casado com Lord Byron, primo do famoso poeta. Sobre sua mãe, A. Violetta Darwin, afirma não ter sido uma mulher convencional, principalmente por seu temperamento alegre, em oposição ao comportamento aquietado dos quakers. Além da alegria, destaca outra qualidade materna marcante: a habilidade para desenhar, reproduzindo vistas e interiores com maestria.

Ao fim de sua introdução, reconhece o que seria um débito para com seus progenitores, já que estes o agraciaram com um considerável gosto pela ciência, poesia e estatística. Reconhece, ainda, que teria herdado uma incomum capacidade física, o que o teria tornado apto a realizar fortes atividades sem sentir fadiga:

O resultado geral do exposto é que eu reconheço a dívida para com meus progenitores por ter um considerável gosto pela ciência, pela poesia e pela estatística; também porque parece que recebi, em parte através do sangue Barclay, um poder bastante incomum de suportar a fadiga física sem resultado nocivo, sobre o que havia muita evidência quando eu era jovem. Meu pai tinha esse poder em sua juventude e foi bem marcado em meu irmão mais velho e outros da família. (Galton, 1908, p. 11)

No entanto, lamenta sofrer de bronquite e asma quando da escrita de suas memórias. Estes males teriam sido herdados do bisavô, Samuel Galton. Seu pai também teria sofrido com asma durante a juventude. Já ele, Galton, teria sido vítima apenas perto dos 90 anos. No entanto, não à toa, já que agora passava tempo considerável em um quente cômodo acarpetado. O carpete, assim, poderia redimir os caracteres herdados de seu avô:

Eu sofro agora de bronquite, com ocasional asma, o que foi atribuído ao meu bisavô, Samuel Galton, e descendeu em maior ou menor grau por todas suas crianças. Meu pai tinha uma constituição forte, mas sofria terrivelmente de asma, que o atacou primeiramente na juventude. Eu bem escapei de qualquer forma disso até que tivesse aproximadamente 80 anos de idade; e não é o feno que traz isso agora, mas os quartos com carpetes. (Galton, 1908, p. 11)

O Gênio hereditário

O tema da hereditariedade foi, portanto, o propulsor de boa parte dos escritos galtonianos. Saindo de suas memórias para os estudos acadêmicos, destaca-se o especial interesse por estudos sobre as aptidões e sensações humanas - desde a capacidade de levantamento de peso até os testes de inteligência psicométricos. Sobre este assunto, acumulou dados desde a década de 1860, publicando artigos pontuais e, posteriormente, compilando suas conclusões no ano de 1883, com a obra Inquiries into human faculty and its development. Na longa extensão da obra, um marco: ali emprega a palavra "eugenia" pela primeira vez, cunhando o termo-conceito que originou um movimento e uma pretensa nova forma de ciência.6

Em 1869 Galton publicou uma importante obra na qual tratou especificamente dos talentos e capacidades intelectuais, com o intuito de fornecer embasamento científico que corroborasse a premissa de que as faculdades mentais poderiam ser mensuradas e administradas, e, uma vez definidas quais eram as desejadas para o futuro de uma sociedade, estas deveriam ser estimuladas por meio de casamentos específicos. Buscou, assim, demonstrar que as supostas boas qualidades tinham como lei fundamental a respectiva boa ascendência. Para tanto, Galton aplicou testes e analisou histórias de vida e árvores genealógicas - tal como fez consigo mesmo - de homens considerados eminentes. Analisou as reputações, talentos naturais e ascendência de juízes, literatos, cientistas, poetas, musicistas, membros notáveis de Cambridge, lutadores e, indo além, estabeleceu tabelas comparativas entre raças e nações. O objetivo maior seria a orientação científica para a produção de uma raça de humanos mais bem dotados, tal qual se fazia com cachorros e cavalos. No capítulo introdutório afirma que as evidências reunidas deveriam obter a aceitação do primo Darwin, com quem travou intenso debate (Galton, 1869/2000, p. 9).

Ainda no início de sua obra, Galton deixa claro que não tem "paciência" para o argumento de que os humanos nascem igualmente dotados. Não haveria, segundo o autor, equidade natural. Partindo dessa premissa, segue em direção à análise das autobiografias a fim de corroborar não só a hierarquização inata, como sua causa hereditária.

A fim de elucidar os métodos galtonianos, nos deteremos aqui em aspectos mais pormenorizados da obra Inquiries. Fazendo uso de técnicas variadas, diz Galton na introdução que seu objetivo maior, que resultou na obra, seria estudar as variações das faculdades entre diferentes indivíduos, entre diferentes famílias e raças, para entender o quanto, durante a história, foi demonstrado que grupos humanos ineficientes foram substituídos por melhores linhagens. E assim considerar se seria ou não nosso dever empreender esforços para que a evolução entre os humanos se desse mais rapidamente e sem atrasos do que se fosse deixada ao ritmo de seu próprio curso.

No breve prefácio à segunda edição, publicada em 1907, Galton afirma em duas ocasiões aquilo que para ele a obra havia se tornado, passados 24 anos de sua primeira publicação: ponto de partida - "starting point" - para uma profusão de estudos que se deram tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos. A obra teria, principalmente, sido o ponto de partida para o recente movimento em prol da eugenia nacional.

Não obstante eventual exagero que possa ter motivado a observação acerca da importância da obra, é evidente que o conteúdo ali compilado fundamentou o extenso movimento eugenista que se desenvolveu posteriormente em diferentes espaços. Tenham ou não sido elas pautadas por suas singularidades, é certo que a base teórica e as técnicas para identificação das melhores ou piores características hereditárias que constituíram a "ciência do melhoramento da espécie" estavam lançadas. Seguem-se os principais postulados.

 

Variabilidade e diferenciação humana

Galton alinhava-se com as ideias evolucionistas de seu primo Darwin e demais colegas7 ao afirmar que o mundo vivo não consiste em uma repetição de elementos semelhantes, mas sim em uma variedade interminável de características. A prevalência ou desaparecimentos destas características se daria pela ação da seleção adaptativa. Uma característica útil para determinado espaço e tempo poderia não ser útil para outros.

Com base nessa noção de variabilidade e diferenciação entre espécies e entre os seres de uma mesma espécie, admitia que:

i) a riqueza intelectual e moral de uma nação seria resultado da variação multifatorial dos talentos daqueles que a compunham, sendo o oposto do melhoramento considerar todos os membros de uma nação como pertencentes ao mesmo tipo;

ii) em todas as raças de animais domesticados, como os humanos - estes com a particularidade de sofrerem mudanças mais rapidamente -, há elementos de pouco ou nenhum valor, potencialmente danosos para a sociedade, seja por questões ancestrais ou por serem resultados de degenerações. Haveria possibilidade de erro nesse julgamento, fazendo com que mais tarde algumas dessas características consideradas danosas se demonstrassem boas para o bem público. Mas esses erros seriam poucos e, se cometidos com o intuito do melhoramento da espécie, seriam justificáveis;

iii) características morais inatas, faculdades intelectuais e formas físicas estariam fortemente ligadas umas às outras.

 

Os retratos compostos

Galton acreditava que a vastidão de variações presentes na espécie humana - que afirmava serem por vezes tão sutis quanto numerosas - derivava de traços comuns, daquela que seria a fisiognomia representativa de uma raça.

Essas variações não seriam, no entanto, isentas de significado, já que estariam relacionadas com características morais e intelectuais. A fim de auxiliar na procura por essas faces realmente representativas, o terceiro capítulo de sua obra é dedicado à explicação do método chamado composite portraiture - retratos compostos, em tradução livre. Tais seriam os princípios e passos do método:

i) Coleta de fotos de diferentes pessoas enfocadas de ângulos iguais, bem como com mesma condição de luz e sombra (por exemplo, com a luz vindo do lado direito);

ii) Redução dos retratos ao mesmo tamanho, usando escalas com base em pontos referenciais;

iii) Superposição dos retratos (como folhas de um livro), ordenando partes de um rosto com as respectivas partes de outro rosto (por exemplo, olhos com olhos, bocas com bocas). Após o devido ajuste, com auxílio da luz, duas bordas das páginas eram grudadas, tornando-se como um livro;

iv) Prendia o livro na parede de modo que pudesse mover as páginas e observar os rostos completamente;

v) Focava firmemente uma câmera no livro, com uma chapa fotossensível dentro dela;

vi) Começava a fotografar todas as páginas, sem mover a câmera, de modo que todas as fotos dos retratos fossem gravadas na mesma parte da chapa.

Esse método teria sofrido algumas modificações no futuro, mas com o mesmo objetivo de possibilitar o encontro de uma única figura com base em várias outras. Permitia-se, assim, concluir qual seria o rosto "comum" entre os homens eminentes, de notáveis talentos, bem como quais seriam os traços típicos dos criminosos, por exemplo.

Entre os objetos de seu estudo, estavam a fisionomia de Alexandre, o Grande, tal qual representada historicamente, as de membros de famílias aristocráticas, membros de famílias vitimadas pela tuberculose ou tipos criminosos.

Para encontrar os traços pertinentes à saúde, afirma ter combinado os retratos de doze oficiais da Royal Engineers, tirados especialmente para ele por aquele que chama de Lieutenant Darwin (patente equivalente à de tenente, provavelmente de um parente próximo). Afirma Galton que havia traços em comum nos retratos dos oficiais, mesmo eles sendo oriundos de lugares diferentes da Inglaterra. Para além dos traços em comum, as qualificações corporais e mentais requeridas no processo seletivo forneceriam dados demonstrativos das semelhanças físicas e aptidões mentais, fundamentando as correlações que justificariam a conclusão de que aqueles eram, portanto, os traços típicos dos portadores de boa saúde.

O mesmo método teria sido aplicado na análise de duas categorias de penitenciários, comprovando, para Galton, a veracidade da correlação. Abastecido com fotos de identificação fornecidas por Sir Edmund du Cane, diretor de prisões, afirma ter encontrado traços distintivos entre os prisioneiros, naquilo que seria "a mais triste desfiguração da civilização moderna". Prossegue afirmando que seria dificultoso, mas fazia-se necessário o esforço de superação para continuar a classificação dos criminosos, dada a aversão causada por seus rostos. Finaliza sua explanação sobre o método confessando o desejo de que fotógrafos amadores passassem a levar a tarefa de fotografar e classificar as variadas raças humanas seriamente. Não apenas por questões de curiosidade, mas por sua utilidade.

Nota-se que seus ímpetos investigativos não tinham fins meramente classificatórios e baseavam-se a priori na existência da hierarquia entre humanos decorrente da variabilidade de seus caracteres e sob influência da seleção adaptativa. Orientada, portanto, pelo paradigma evolucionista da hereditariedade, seus métodos e aplicações partiam de perguntas e problemas vinculados ao pensamento dicotômico que pressupunha a existência de caracteres biológicos condicionantes da mente e do modo de ser da humanidade, chegando, pelas faculdades mentais, às leis do progresso versus decadência. Uma pergunta que, por pouco questionada em si - não obstante a complexificação e questionamentos levantados pelo campo da psicanálise -, tornou-se insistente e inevitavelmente produziu respostas duvidosas que perduram até a atualidade.

 

Referências

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Recebido em: 25/5/2015
Aceito em: 2/6/2015

 

 

1 O presente artigo é parte da pesquisa de mestrado intitulada "Apontamento acerca da ideia de progresso e decadência no pensamento médico-eugenista de Renato Kehl", realizado no Departamento de Medicina Preventiva da USP, sob orientação do prof. dr. André Mota e apoiado pela FAPESP, aos quais agradeço.
2 Nessa obra Darwin tratou de demonstrar por meio da análise das expressões que tanto animais quanto humanos sentem medo, raiva, ciúme, explicando-as pelo prisma da funcionalidade adaptativa. Sustenta, ainda, que muitas das emoções são herdadas do passado chamado primitivo, as quais, sendo comuns aos humanos e animais, evidenciam-se como inatas, e não adquiridas.
3 O entusiasta galtoniano Gavan Tredoux assim o define em texto introdutório no sítio virtual que mantém dedicado a Francis Galton: "Victorian polymath: geographer, meteorologist, tropical explorer, founder of differential psychology, inventor of fingerprint identification, pioneer of statistical correlation and regression, convinced hereditarian, eugenicist, proto-geneticist, half-cousin of Charles Darwin and best-selling author". Disponível em: www.galton.org. Acesso em abril 2013.
4 Quaker é o nome dado a grupos religiosos originados de um movimento protestante britânico surgido durante o século XVII. Liderado inicialmente por George Fox, o movimento apresentava-se como reformista e em oposição aos anglicanos, alegando uma maior aproximação com a fé com base em inspirações diretamente divinas.
5 Tradução da autora.
6 Inquiries apresenta o estudo pormenorizado de determinadas capacidades mentais e características físicas humanas, sobretudo aquelas que, segundo o autor, eram configuradas por caracteres hereditários. Na obra, ao discorrer sobre as qualidades corporais, assim apresenta o termo: "That is, with questions bearing on what is termed in Greek, eugenes namely, good in stock, hereditarily endowed with noble qualities. This, and the allied words, eugeneia etc., are equally applicable to men, brutes, and plants. We greatly want a brief word to express the science of improving stock, which is by no means confined to questions of judicious mating, but which, especially in the case of man, takes cognisance of all influences that tend in however remote a degree to give to the more suitable races or strains of blood a better chance of prevailing speedily over the less suitable than they otherwise would have had. The word eugenics would sufficiently express the idea; it is at least a neater word and a more generalised one than viriculture which I once ventured to use". (Galton, 1883/2001, p. 17)
7 As teorias evolucionistas foram elaboradas por diversos autores, não se tratando de uma única obra autoral. O próprio Charles Darwin, autor sobre o qual quase todo o mérito recaiu, observou a existência de cerca de 20 estudiosos que, antes dele, dissertaram sobre a transmutação das espécies ao longo do tempo.

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