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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.49 no.90 São Paulo jun. 2016

 

TRADUÇÃO

 

 

1985: luto e melancolia1

 

 

Marilene Carone; Sigmund Freud2

 

 

 

Apresentação

A ideia de apresentar uma amostra de tradução de Freud, aqui representada pelo texto "Luto e melancolia", responde a uma dupla finalidade: oferecer uma tradução deste texto a partir do original alemão - tradução que neste sentido é inédita em português (a versão da Editora Imago foi realizada a partir do inglês) - e abrir um espaço para a discussão da questão da tradução de Freud no Brasil.

Na literatura psicanalítica mais recente vem aumentando o número de trabalhos publicados sobre a vasta problemática que envolve a tradução de Freud. A maioria dos estudos publicados nos últimos anos tem se focalizado numa análise da versão inglesa (Standard Edition) mostrando, neste caso particular, o quanto ela foi norteada pela concepção pessoal de James Strachey a respeito da teoria psicanalítica, e trazendo à tona seus conceitos (e preconceitos) teóricos e seu gosto pessoal em matéria de estilo e linguagem científica.

A nosso ver, qualquer tradução - na medida em que, como análise, envolve também um trabalho de interpretação de texto - pode e deve almejar a neutralidade, embora seja claro que tanto uma quanto outra atividade jamais estará isenta de manifestar, pelo seu resultado concreto, a formação profissional, teórica e técnica e o estilo pessoal de quem a realiza. Esta relatividade, necessária e inevitável, não pode ser, no entanto, um impedimento para a crítica. Traduttore, tradittore, é verdade, mas há muitas formas de traduzir e de trair, algumas gravíssimas e de pesadas consequências. No caso particular de Freud acreditamos que a margem de liberdade do tradutor deve se deter diante de alguns limites: há no texto de Freud conceitos e formulações básicas que não prescindem de um tratamento rigoroso, preciso e homogêneo, sob pena de deturpar seriamente o pensamento do criador da psicanálise. É o caso, para dar um exemplo, do uso de sinônimos com relação a termos técnicos (V. na "Discussão..." os comentários sobre os termos "compromisso", "instância", "regredir" e "disposição").

O cotejo que apresentamos no final (sob o título "Discussão...") entre a nossa proposta de tradução, a versão brasileira (S.B.), a versão inglesa e o texto original de Freud (Gesammelte Werke - G.W.) visa proporcionar ao leitor uma ideia mais concreta dos nossos pontos de vista e, sobretudo, estimular a reflexão sobre esta problemática, ainda pouco debatida entre nós.3

 

Luto e melancolia (Sigmund Freud, 1917)

Depois de fazer uso do sonho como protótipo normal das perturbações psíquicas narcísicas, tentaremos esclarecer a essência da melancolia comparando-a com o afeto normal do luto.4 Mas desta vez precisamos antes fazer uma confissão, como advertência para que não se superestimem nossas conclusões. A melancolia, cuja definição conceitual é oscilante, mesmo na psiquiatria descritiva, apresenta-se sob várias formas clínicas, cuja síntese em uma unidade não parece assegurada, e dentre estas algumas sugerem afecções mais somáticas que psicógenas. Independentemente das impressões à disposição de qualquer observador, nosso material se limita a um pequeno número de casos, cuja natureza psicógena é indubitável. Por isso renunciamos de antemão a reivindicar validade universal para nossas conclusões e nos consolamos com a consideração de que, com nossos atuais meios de pesquisa, dificilmente descobriríamos algo que não fosse típico, se não para toda classe de afecções, pelo menos para um grupo menor destas.

A consideração conjunta de melancolia e luto parece justificada pelo quadro geral destes dois estados.5 As influências vitais que os ocasionam também coincidem, sempre que podemos discerni-las. O luto, via de regra, é a reação à perda de uma pessoa querida ou de uma abstração que esteja no lugar dela, como pátria, liberdade, ideal, etc. Sob as mesmas influências em muitas pessoas se observa em lugar do luto uma melancolia, o que nos leva a suspeitar nelas de uma disposição patológica. É também digno de nota que nunca nos ocorre considerar o luto como o estado patológico nem o encaminhar para tratamento médico, embora ele acarrete graves desvios da conduta normal na vida. Confiamos que será superado depois de algum tempo e consideramos inadequado e até mesmo prejudicial perturbá-lo.

A melancolia caracteriza-se psiquicamente por um desânimo profundamente doloroso, uma suspensão do interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar, inibição de toda atividade e um rebaixamento do sentimento de autoestima,6 que se expressa em autorrecriminações e autoinsultos, chegando até à expectativa delirante de punição. Este quadro se aproximará mais de nossa compreensão se considerarmos que o luto revela os mesmos traços, exceto um: falta nele a perturbação do sentimento de autoestima. No resto é a mesma coisa. O luto profundo, a reação à perda de uma pessoa amada, contém o mesmo estado de ânimo doloroso, a perda de interesse pelo mundo externo - na medida em que este não faz lembrar o morto -, a perda da capacidade de escolher um novo objeto de amor - em substituição ao pranteado - e o afastamento de toda e qualquer atividade que não tiver relação com a memória do morto. Facilmente compreendemos que esta inibição e estreitamento do ego é a expressão de uma dedicação exclusiva ao luto, na qual nada mais resta para outros propósitos e interesses. Na verdade, é só porque sabemos explicá-lo tão bem que este comportamento não nos parece patológico.

Aprovaremos também a comparação que chama de "doloroso" o estado de ânimo do luto [a]. Sua justificação provavelmente ficará evidente quando estivermos em condições de caracterizar a dor do ponto de vista econômico.7

Então, em que consiste o trabalho realizado pelo luto? Creio que não é forçado descrevê-lo da seguinte maneira: a prova de realidade mostrou que o objeto amado já não existe mais e agora exige que toda a libido seja retirada de suas ligações com este objeto. Contra isto se levanta uma compreensível oposição; em geral se observa que o homem não abandona de bom grado uma posição da libido, nem mesmo quando um substituto já se lhe acena. Esta oposição pode ser tão intensa, que ocorrem um afastamento da realidade e uma adesão ao objeto por meio de uma psicose alucinatória de desejo (ver o artigo anterior a este).8 O normal é que vença o respeito à realidade. Mas sua incumbência não pode ser imediatamente atendida. Ela será cumprida pouco a pouco com grande dispêndio de tempo e de energia de investimento, e enquanto isso a existência do objeto perdido é psiquicamente prolongada. Uma a uma, as lembranças e expectativas pelas quais a libido se ligava ao objeto são focalizadas e superinvestidas, e nelas se realiza o desligamento da libido.9 Por que esta operação de compromisso [b],10 que consiste em executar, uma por uma, a ordem da realidade, é tão extraordinariamente dolorosa é algo que não fica facilmente indicado em uma fundamentação econômica. E o notável é que este doloroso desprazer nos parece natural. Mas de fato, uma vez concluído o trabalho de luto, o ego fica novamente livre e desinibido.11

Apliquemos agora à melancolia o que aprendemos sobre o luto. Em uma série de casos é evidente que ela também pode ser reação à perda de um objeto amado; quando os motivos que a ocasionam são outros, pode-se reconhecer que esta perda é de natureza mais ideal. O objeto não é algo que realmente morreu, mas que se perdeu como objeto de amor (por exemplo, o caso de uma noiva abandonada). Em outros casos ainda nos acreditamos autorizados a presumir uma perda deste tipo, mas não podemos discernir com clareza o que se perdeu e com razão podemos supor que o doente também não é capaz de compreender conscientemente o que ele perdeu. Poderia ser também este o caso de quando o doente conhece qual é a perda que ocasionou a melancolia, na medida em que de fato sabe que ele perdeu, mas não o que perdeu nele [no objeto]. Isto nos levaria a relacionar a melancolia com uma perda de objeto que foi retirada da consciência, à diferença do luto, no qual nada do que diz respeito à perda é inconsciente.

No luto achamos que a inibição e a falta de interesse ficaram inteiramente esclarecidas pelo trabalho de luto que absorvia o ego. Na melancolia um trabalho interno semelhante será a consequência da perda desconhecida e, portanto, será responsável pela inibição da melancolia. Só que a inibição melancólica nos dá uma impressão mais enigmática, porque não podemos ver o que absorve tão completamente os doentes. O melancólico nos mostra ainda algo que falta no luto: um rebaixamento extraordinário do seu sentimento de autoestima, um enorme empobrecimento do ego. No luto é o mundo que se tornou pobre e vazio; na melancolia é o próprio ego. O doente nos descreve seu ego como indigno, incapaz e moralmente desprezível; ele se recrimina, se insulta e espera ser rejeitado e castigado. Humilha-se perante os demais e tem pena dos seus por estarem eles ligados a uma pessoa tão indigna. Não julga que lhe aconteceu uma mudança, mas estende sua autocrítica ao passado: afirma que ele nunca foi melhor. O quadro deste delírio de inferioridade - predominantemente moral - se completa com insônia, recusa de alimento e uma superação - extremamente notável do ponto de vista psicológico - da pulsão que compele todo ser vivo a se apegar à vida.

Tanto do ponto de vista científico quanto do terapêutico seria igualmente infrutífero contradizer o doente que faz tais acusações contra o seu ego. De algum modo ele certamente precisa ter razão e descrever algo que se comporta tal como lhe parece. E, de fato, logo teremos que confirmar, sem restrições, algumas de suas afirmações. Ele realmente é tão carente de interesses, tão incapaz para o amor e para o trabalho como afirma. Mas isto, como sabemos, é secundário, é a consequência desse trabalho interior para nós desconhecido e comparável ao luto, que consome seu ego. Em outras de suas acusações ele nos parece igualmente ter razão e captar a verdade apenas com mais agudeza do que outros, não melancólicos. Quando, em uma exacerbada autocrítica ele se descreve como um homem mesquinho, egoísta, desonesto e dependente, que sempre só cuidou de ocultar as fraquezas do seu ser, talvez a nosso ver ele tenha se aproximado bastante do autoconhecimento, e só nos perguntamos por que é preciso adoecer para chegar a uma verdade como esta. Sem dúvida, quem pode chegar a uma tal autoapreciação e expressá-la diante dos outros - uma apreciação que o príncipe Hamlet faz sobre si mesmo e sobre todos os demais12- está doente, quer diga a verdade, quer seja mais ou menos injusto consigo próprio. Também não é difícil notar que a nosso ver não há qualquer correspondência entre o montante de autodegradação e sua real justificativa. A mulher antes boa, capaz e cônscia de seus deveres, na melancolia não dirá a seu próprio respeito nada melhor do que a mulher na verdade inútil, e talvez a primeira tenha mais possibilidades de adoecer de melancolia do que a outra, da qual não saberíamos dizer nada de bom. Por fim, devemos notar que o melancólico não se comporta inteiramente como alguém que faz contrição de remorso e autorrecriminação em condições normais. Falta a ele, ou pelo menos não aparece nele de um modo notável, a vergonha perante os outros, que seria sobretudo característica destas condições. No melancólico quase se poderia destacar o traço oposto, de uma premente tendência a se comunicar, que encontra satisfação no autodesnudamento.

O essencial, portanto, não é que o melancólico tenha razão em sua penosa autodepreciação [c], no sentido de que esta crítica coincida com o julgamento dos demais. O importante é que ele está fazendo uma descrição correta da sua situação psicológica. Perdeu o autorrespeito e deve ter boas razões para tanto. Isto nos põe diante de uma contradição que apresenta um enigma difícil de resolver. Segundo a analogia com o luto, deveríamos concluir que ele sofreu uma perda no objeto; de suas afirmações surge uma perda em seu ego.

Antes de tratar dessa contradição, detenhamo-nos um momento na visão da constituição do ego humano que nos é proporcionada pela afecção do melancólico. Vemos nele como uma parte do ego se contrapõe à outra, avalia-a criticamente, como que tomando-a por objeto. Nossa suspeita de que a instância crítica, aqui cindida do ego [d], poderia provar sua autonomia sob outras condições será confirmada por todas as observações ulteriores. Encontraremos realmente um fundamento para separar esta instância do resto do ego. O que ficamos conhecendo aqui é a instância habitualmente chamada de consciência moral13 [e]; junto com a censura da consciência14 e com a prova de realidade, vamos contá-la entre as grandes instituições do ego15 e em algum lugar encontraremos também provas de. que ela pode adoecer por si. O quadro clínico da melancolia põe em destaque o desagrado moral com o próprio ego, acima de outros defeitos. Defeito físico, feiura, fraqueza e inferioridade social, muito mais raramente são objeto da autoavaliação; só o empobrecimento assume um lugar preferencial entre seus temores ou afirmações.

Uma observação que nem é difícil de fazer nos conduz à explicação da contradição anteriormente apresentada [no final do penúltimo parágrafo]. Se se ouvirem com paciência as múltiplas autoacusações do melancólico, no fim não se deixará de ter a impressão de que as mais violentas dentre elas frequentemente se adaptam muito pouco à sua própria pessoa, mas que, com ligeiras modificações, adaptam-se a uma outra pessoa, a quem o doente ama, amou ou deveria amar. E, sempre que se examinar a questão, ele confirmará esta suposição. Deste modo, tem-se na mão a chave do quadro clínico, na medida em que se reconhecem as autorrecriminações como recriminações contra um objeto de amor, a partir do qual se voltaram sobre o próprio ego.

A mulher que ruidosamente se apieda do marido por estar ele ligado a uma mulher tão incapaz, na verdade, quer se queixar da incapacidade do marido, em qualquer sentido que esta possa ser entendida. Não se deve ficar muito surpreso com o fato de que há algumas autorrecriminações legítimas, dispersas entre as que são retornadas; elas podem se pôr à frente porque ajudam a ocultar as outras, e a impossibilitar o conhecimento da situação; na verdade, elas derivam também dos prós e contras da disputa amorosa que levou à perda amorosa. Também o comportamento dos doentes fica agora muito mais compreensível.

Para eles queixar-se é dar queixa16 [f] no velho sentido do termo; eles não se envergonham nem se escondem, porque tudo de depreciativo que dizem de si mesmos, no fundo, dizem de outrem. E estão bem longe de dar provas, perante os que os cercam, da humildade e submissão, que conviriam a pessoas tão indignas; pelo contrário, são extremamente incômodos, mostrando-se sempre como que ofendidos e como se uma grande injustiça tivesse sido cometida contra eles. Tudo isso só é possível porque as reações da sua conduta provêm sempre da constelação psíquica da revolta, que depois, em virtude de um certo processo, transportou-se para a contrição melancólica [g].

Portanto, não há dificuldade alguma em reconstruir este processo. Houve uma escolha de objeto, uma ligação da libido a uma pessoa determinada; graças à influência de uma ofensa real ou decepção por parte da pessoa amada, esta relação de objeto ficou abalada. O resultado não foi o normal, uma retirada da libido deste objeto e o seu deslocamento para um novo, mas foi outro, que parece requerer várias condições para sua consecução. O investimento de objeto provou ser pouco resistente, foi suspenso, mas a libido livre não se deslocou para um outro objeto, e sim se retirou para o ego. Lá, contudo, ela não encontrou um uso qualquer, mas serviu para produzir uma identificação do ego com o objeto abandonado. Deste modo, a sombra do objeto caiu sobre o ego, que então pôde ser julgado, por uma determinada17 instância, como um objeto, como o objeto abandonado. Deste modo, a perda do objeto transformou-se em perda do ego, e o conflito entre o ego e a pessoa amada, em uma bipartição entre a crítica do ego e o ego modificado pela identificação.

Existe algo que se percebe imediatamente a partir dos pressupostos e dos resultados de um tal processo. Por um lado, deve ter havido uma forte fixação no objeto de amor, e, por outro, e em contradição com isto, uma pequena resistência do investimento objetal. De acordo com uma pertinente observação de O. Rank, esta contradição parece requerer que a escolha de objeto tenha sido feita sobre uma base narcísica, de modo que o investimento objetal possa regredir [h] para o narcisismo se defrontar com dificuldades. A identificação narcísica com o objeto torna-se então um substituto do investimento amoroso, e disto resulta que, apesar do conflito, a relação amorosa com a pessoa amada não precisa ser abandonada. Tal substituição do amor objetal por identificação [i] é um mecanismo importante para as afecções narcísicas; recentemente K. Landauer pôde descobri-la no processo de cura de uma esquizofrenia.18 Corresponde naturalmente à regressão de um tipo de escolha de objeto para o narcisismo originário.19 Em outro lugar mostramos que a identificação é a etapa preliminar da escolha de objeto, e é a primeira modalidade, ambivalente na sua expressão, pela qual o ego distingue20 um objeto. Ele gostaria de incorporá-lo, na verdade, devorando-o, de acordo com a fase oral ou canibalística do desenvolvimento libidinal.21 Abraham, com razão, remete a este contexto a recusa da alimentação que se apresenta na forma mais grave do estado melancólico.22

A conclusão requerida pela teoria, de que a disposição [j] à enfermidade melancólica ou parte dela baseia-se no predomínio do tipo narcísico de escolha do objeto, infelizmente ainda não foi confirmada pela investigação. Nas afirmações iniciais deste ensaio admiti que o material empírico em que se fundamenta este estudo não é suficiente para nossas exigências. Se pudéssemos supor uma coincidência da observação com nossas deduções, não hesitaríamos em incluir na caracterização da melancolia a regressão do investimento de objeto à fase oral da libido, que ainda pertence ao narcisismo. Também nas neuroses de transferência as identificações com o objeto não são de modo algum raras e constituem até mesmo um conhecido mecanismo da formação de sintomas, em especial na histeria. Mas podemos diferenciar a identificação narcísica da histérica pelo fato de que na primeira se abandona o investimento de objeto, ao passo que na segunda ele persiste e exterioriza um efeito que habitualmente se limita a certas ações e inervações isoladas. De qualquer modo, também nas neuroses de transferência a identificação é expressão de algo comum, que pode significar amor. A identificação narcísica é a mais arcaica e nos abre o acesso à compreensão da histérica, menos bem estudada.23

Uma parte das características da melancolia é tomada de empréstimo do luto e outra parte, do processo de regressão da escolha narcísica de objeto ao narcisismo. Por um lado, como o luto, ela é reação à perda real do objeto de amor, mas, além disso, está comprometida com uma condição de falta no luto normal ou, quando ocorre, converte-o em luto patológico. A perda do objeto de amor é uma oportunidade extraordinária para que entre em vigor e venha à luz a ambivalência das relações amorosas.24 Por isso, quando existe uma disposição à neurose obsessiva o conflito de ambivalência confere ao luto uma conformação patológica e o compele a expressar-se na forma de autorrecriminações, de ser culpado pela perda do objeto de amor, isto é, de tê-lo desejado. Nestas depressões de tipo obsessivo após a morte de pessoas amadas nos é apresentado aquilo que o conflito de ambivalência realiza por si só, quando não está presente também a retração regressiva da libido. Os motivos que ocasionam a melancolia ultrapassam na maioria das vezes o claro acontecimento da perda por morte e abrangem todas as situações de ofensa, desprezo e decepção através das quais pode penetrar na relação uma oposição de amor e ódio ou pode ser reforçada uma ambivalência já existente. Este conflito de ambivalência, de origem ora mais real, ora mais constitutiva, não deve ser desconsiderado entre os pressupostos da melancolia. Se o amor pelo objeto - um amor que não pode ser abandonado, ao mesmo tempo que o objeto o é - refugiou-se na identificação narcísica, o ódio entra em ação neste objeto substitutivo, insultando-o [k], humilhando-o, fazendo-o sofrer e ganhando neste sofrimento uma satisfação sádica. O autotormento, indubitavelmente deleitável, da melancolia significa, como o fenômeno correspondente da neurose obsessiva, a satisfação de tendências sádicas e de tendências ao ódio25 relativas a um objeto, que por esta via sofreram um retorno para a própria pessoa. Em ambas as afecções o doente ainda tenta conseguir, por meio do rodeio da autopunição, vingar-se dos objetos originários e atormentar seus seres amados por meio da condição de doente, depois de ter cedido à doença para não ter de mostrar diretamente a eles a sua hostilidade. E de fato a pessoa que provocou a perturbação afetiva do doente e para a qual está orientada a sua condição de enfermo deve ser encontrada habitualmente em seu ambiente mais próximo. Deste modo, o investimento amoroso do melancólico no seu objeto experimentou um duplo destino: por um lado, regrediu à identificação, mas, por outro, sob a influência do conflito de ambivalência, foi remetido de volta à etapa do sadismo, mais próxima deste conflito.

Só esse sadismo resolve para nós o enigma da tendência ao suicídio, pela qual a melancolia torna-se tão interessante - e tão perigosa. Reconhecemos como o estado primordial do qual parte a vida pulsional um amor a si próprio tão enorme, e vemos na angústia que sobrevém diante da ameaça à vida uma tão grande liberação de libido narcísica, que não entendemos como este ego pode consentir na sua própria destruição. Há muito tempo sabíamos que nenhum neurótico abriga propósitos de suicídio que não estejam voltados para si, a partir do impulso de matar os outros, mas não pudemos compreender o jogo de forças pelo qual uma intenção como esta pode se pôr em ação. Agora a análise da melancolia nos ensina que o ego só pode matar a si próprio se puder, por meio do retorno do investimento de objeto, tratar-se como um objeto, se puder dirigir contra si a hostilidade que vale para o objeto e que representa26 a reação primordial do ego contra os objetos do mundo externo.27. Assim, na regressão com base na escolha narcísica de objeto, o objeto foi de fato suprimido28 [1], mas provou ser mais poderoso que o próprio ego. Nas duas situações opostas, o mais extremado enamoramento e o enamoramento e o suicídio, embora por caminhos inteiramente diferentes, o ego é subjugado pelo objeto.29

Quanto a uma das características mais notáveis da melancolia, o surgimento da angústia de empobrecimento, é plausível admitir que ela origina-se do erotismo anal, retirado de suas conexões e regressivamente transformado.

A melancolia ainda nos põe diante de outras perguntas, cujas respostas em parte nos escapam. O fato de desaparecer depois de certo período de tempo, sem deixar grandes alterações demonstráveis, é uma característica que a melancolia compartilha com o luto. Constatamos que neste era preciso tempo para executar minuciosamente a ordem da prova de realidade [m], e que depois de realizado este trabalho o ego liberta sua libido do objeto perdido. Podemos pensar que o ego durante a melancolia ocupa-se de um trabalho análogo: tanto num como noutro falta a compreensão econômica do processo. A insônia da melancolia comprova a rigidez deste estado, a impossibilidade de cumprir a retirada geral dos investimentos, necessária para o sono. O complexo melancólico comporta-se como uma ferida aberta,30 atraindo para si, de toda parte, energias de investimento (que nas neuroses de transferência chamamos de "contrainvestimentos") e esvaziando o ego até o empobrecimento total; facilmente o complexo melancólico mostra-se resistente ao desejo de dormir do ego. Um fator provavelmente somático, que não deve ser explicado psicogenicamente, aparece na atenuação deste estado que via de regra se verifica neste estado, ao anoitecer. A estas discussões relaciona-se a questão de saber se uma perda do ego sem consideração pelo objeto (uma ofensa puramente narcísica ao ego) não basta para produzir o quadro da melancolia e se um empobrecimento da libido do ego, provocado diretamente por toxinas, não pode gerar certas formas desta afecção.

A peculiaridade mais notável da melancolia, a que mais requer esclarecimento, é sua tendência a transformar-se no estado sintomaticamente oposto da mania. Sabe-se que nem toda melancolia tem este destino. Muitos casos transcorrem com recidivas periódicas, em cujos intervalos observa-se muito pouca ou nenhuma tonalidade de mania. Outros mostram aquela alternância [n] regular de fases melancólicas e maníacas que encontrou expressão na configuração da loucura cíclica. Ficaríamos tentados a excluir estes casos da concepção psicógena se o trabalho psicanalítico justamente não tivesse permitido encontrar a solução e a influência terapêutica para muitos deles. Portanto, não apenas é lícito, como também imperioso estender também à mania a explicação analítica da melancolia.

Não posso prometer que essa tentativa venha a ser inteiramente satisfatória. Ela não vai muito além da possibilidade de uma primeira orientação. Temos aqui à nossa disposição dois pontos de apoio [o], o primeiro, uma impressão psicanalítica, o outro, poder-se-ia dizer, uma experiência econômica geral. A impressão que vários investigadores psicanalíticos já puseram em palavras é que a mania não tem um conteúdo diferente da melancolia, e que ambas as afecções lutam com o mesmo "complexo", ao qual provavelmente o ego sucumbe na melancolia, ao passo que na mania o ego o dominou ou o pôs de lado. O outro ponto de apoio é dado pela experiência segundo a qual em todos·os estados de alegria, júbilo e triunfo que o modelo normal da mania nos oferece podem ser reconhecidas as mesmas condições econômicas. Trata-se nestes estados de uma influência pela qual um grande dispêndio psíquico, mantido durante muito tempo ou produzido habitualmente, por fim se torna supérfluo, ficando assim disponível para múltiplas aplicações e possibilidades de descarga. Por exemplo: quando um pobre diabo fica subitamente liberado, por uma grande soma de dinheiro, da preocupação crônica com o pão de cada dia, quando uma longa e árdua luta finalmente se vê coroada de êxito, quando se chega a ter condições de poder se desfazer de um só golpe de uma coerção opressiva, ou de uma dissimulação que se prolongou por muito tempo etc. Todas estas situações caracterizam-se pelo estado de ânimo elevado, pelas marcas de descarga de um afeto de alegria e por uma maior prontidão [p] para todos os tipos de ação, como na mania, em completa oposição com a depressão e a inibição da melancolia. Podemos ousar afirmar que a mania nada mais é do que um triunfo como este, só que nela mais uma vez permanece oculto para o ego o que ele suplantou e sobre o que ele triunfa. A embriaguez alcoólica, que, contanto que seja alegre, pertence a esta mesma série de estados, pode ser explicada do mesmo modo; aqui se trata provavelmente da supressão, por via tóxica, dos gastos com a repressão. A opinião leiga tende a supor que nesta condição maníaca se está tão ativo e empreendedor porque se está "animado". Naturalmente é preciso desfazer esta falsa conexão. É porque foi preenchida a mencionada condição econômica na vida psíquica que se está tão bem-humorado, por um lado, e tão desinibido na ação, por outro.

Se agora reunirmos as duas indicações,31 o resultado é o seguinte: na mania o ego precisa ter superado a perda do objeto (ou o luto pela perda, ou talvezo próprio objeto), e deste modo todo o montante de contrainvestimento que o doloroso sofrimento da melancolia atraíra do ego para si e ligara fica agora disponível. Na medida em que, como um faminto, o maníaco sai em busca de novos investimentos de objeto, ele nos demonstra de um modo inequívoco sua libertação do objeto que o fez sofrer.

Esse esclarecimento soa plausível, mas é, em primeiro lugar, ainda pouco definido e, em segundo, faz com que surjam mais questões novas do que podemos responder. Não queremos nos esquivar desta discussão, embora não possamos esperar encontrar através dela o caminho da clareza.

Em primeiro lugar, o luto normal também supera a perda do objeto e enquanto dura ele absorve igualmente todas as energias do ego. Por que, depois que passou, não há indícios de que se produziu nele a condição econômica para uma fase de triunfo? Acho impossível responder de imediato a esta objeção. Ela chama a nossa atenção para o fato de que nem sequer podemos dizer por que meios econômicos o luto realiza sua tarefa; mas talvez aqui possa ser útil uma conjectura. Em cada uma das recordações e situações de expectativa que mostram a libido ligada ao objeto perdido a realidade traz à tona seu veredicto de que o objeto não existe mais, e o ego, por assim dizer, indagado se quer compartilhar este destino, deixa-se determinar pela soma de satisfações narcísicas dadas pelo fato de estar vivo, e desfaz sua ligação com o objeto aniquilado. Podemos imaginar que este desligamento se dá tão lenta e gradualmente, que, ao terminar o trabalho, também se dissipou o gasto que ele requeria.32

É tentador buscar o caminho para expor o trabalho melancólico com base nesta conjectura sobre o trabalho do luto. Neste caminho defrontamo-nos de entrada com uma incerteza. Até agora mal consideramos o ponto de vista tópico no caso da melancolia e não nos perguntamos em e entre quais sistemas psíquicos processa-se o trabalho da melancolia. O que dos processos psíquicos desta afecção ainda se passa nos investimentos objetais inconscientes que foram abandonados e o que se passa em seu substituto por identificação, dentro do ego?

Fica fácil escrever e responder prontamente que "a representação inconsciente (de coisa) do objeto é abandonada pela libido". Mas na realidade esta representação está no lugar de incontáveis impressões singulares (seus traços inconscientes) e a execução desta retirada de libido não pode ser um fenômeno de um instante, mas, como no luto, certamente um processo moroso, que progride pouco a pouco. Não é fácil discernir se ele começa ao mesmo tempo em vários lugares ou se implica alguma sequência determinada; nas análises pode-se frequentemente constatar que ora uma, ora outra recordação é ativada e que estas queixas monocórdias, fatigantes por sua monotonia, provêm, no entanto, em cada caso de um fundamento inconsciente diferente. Se o objeto não tiver para o ego um significado tão grande, reforçado por milhares de laços, sua perda não se prestará a provocar um luto ou uma melancolia. Esta característica da execução minuciosa do desligamento da libido deve ser, portanto, atribuída do mesmo modo tanto à melancolia quanto ao luto, e provavelmente se apoia nas mesmas relações econômicas e serve às mesmas tendências.

Mas, como vimos, a melancolia tem por conteúdo algo mais que o luto normal. Nela a relação com o objeto não é nada simples e complica-se pelo conflito de ambivalência. A ambivalência é ou constitucional, isto é, inerente a cada uma das ligações amorosas deste ego, ou surge justamente das experiências acarretadas pela ameaça de perda do objeto. Por isso a melancolia pode, quanto aos motivos que a ocasionam, ir muito mais longe do que o luto, que via·de regra só é desencadeado pela perda real, a morte do objeto. Na melancolia tramam-se portanto em torno do objeto inúmeras batalhas isoladas, nas quais ódio e amor combatem entre si: um para desligar a libido do objeto, outro para defender contra o ataque esta posição da libido. Não podemos situar estas batalhas isoladas em outro sistema que não o sistema Inc, o reino dos laços mnêmicos de coisas (em oposição aos investimentos de palavra). É lá que se dão as tentativas de desligamento no luto, mas neste não há qualquer obstáculo a que estes processos prossigam pelo caminho normal que vai até a consciência, passando pelo Pcs. Este caminho está bloqueado para o trabalho melancólico, talvez em consequência de inúmeras causas ou de uma ação conjunta de causas. A ambivalência constitutiva pertence em si mesma ao reprimido, e as experiências traumáticas com o objeto podem ter ativado um outro material reprimido. Assim, destas lutas de ambivalência tudo permanece subtraído à consciência, enquanto não sobrevém o desenlace característico da melancolia. Este consiste, como sabemos, no fato de que o investimento libidinal ameaçado finalmente abandona o objeto, mas só para se retirar de volta ao lugar do ego do qual havia partido. Deste modo, o amor deixou de ser eliminado por sua fuga para o ego. Depois desta regressão da libido o processo pode se tomar consciente e se representa33 para a consciência como um conflito entre uma parte do ego e a instância crítica.

O que a consciência apreende [q] do trabalho melancólico não é portanto sua parte principal, nem mesmo a parte à qual podemos atribuir uma influência sobre a resolução da doença. Vemos que o ego se degrada, se enfurece contra si mesmo e compreendemos tão pouco quanto o doente aonde isto leva e como pode mudar. Tal realização pode ser atribuída mais à parte inconsciente do trabalho, porque não é difícil descobrir uma analogia essencial entre o trabalho da melancolia e o do luto. Assim como o luto leva o ego a renunciar ao objeto, declarando-o morto e oferecendo-lhe como prêmio permanecer vivo, também cada uma das batalhas de ambivalência afrouxa a fixação da libido ao objeto, desvalorizando-o, rebaixando-o, como que também matando-o. É possível que o processo chegue ao fim dentro do sistema Inc, quer depois que a fúria se aplacou, quer depois que se desistiu do objeto por ser ele destituído de valor. Não vemos qual destas duas possibilidades põe um fim à melancolia regularmente ou com maior frequência, nem como este fim influencia o andamento ulterior do caso. Talvez o ego possa com isso desfrutar da satisfação de poder se reconhecer como o melhor, como superior ao objeto.

Mesmo que aceitemos essa concepção do trabalho melancólico, ela não nos fornece a explicação que procurávamos. Analogias extraídas de diversas outras áreas poderiam dar apoio à nossa expectativa de derivar da ambivalência, que domina esta afecção, a condição econômica para o surgimento da mania, uma vez passada a melancolia; mas há um fato perante o qual esta expectativa tem de se inclinar. Das três premissas da melancolia, perda do objeto, ambivalência e regressão da libido para o ego, reencontramos as duas primeiras nas recriminações obsessivas depois de casos de morte. Lá, sem dúvida, é a ambivalência que representa a mola do conflito; depois de passado este conflito, nada mais resta de parecido com o triunfo de uma condição maníaca. Somos então remetidos ao terceiro fator como o único eficaz. Aquele acúmulo de investimento a princípio ligado, que se libera com o término do trabalho melancólico, possibilitando a mania, deve estar relacionado com a regressão da libido ao narcisismo. O conflito no ego, que a melancolia troca pela luta em torno do objeto, tem de operar como uma ferida dolorosa, que exige um contrainvestimento extraordinariamente elevado. Mas aqui mais uma vez será oportuno determo-nos e adiar o ulterior esclarecimento da mania até que possamos compreender a natureza econômica da dor, em primeiro lugar a física e depois a anímica, análoga a esta.34 Já sabemos que a inter-relação dos intrincados problemas anímicos nos obriga a interromper sem concluir cada investigação, até que os resultados de outra possam vir em seu auxílio.35

 

 

1 Apresentação, tradução do original alemão, notas de tradução e discussão de Marilene Carone. (1942-1987)
2 Observação preliminar: As notas de rodapé entre colchetes são de James Strachey, as sem colchetes são de S. Freud. As outras (N. T.) são notas da tradutora. As letras entre colchetes se referem a termos que são comentados mais extensamente na "Discussão..." final.
3 N. T. Agradecemos à colega Maria Elena Salles as sugestões e colaboração no cotejo com a versão inglesa.
4 [O termo alemão Trauer, como o inglês mourning, pode significar tanto o afeto da dor como sua manifestação externa.]
N. T. Trauer significa tristeza profunda pela perda de alguém e luto, no sentido das marcas externas deste estado (vestir-se de luto, a duração do luto). A proximidade do conceito de luto com o de tristeza é em alemão mais evidente do que em outras línguas: vem de Trauer o adjetivo traurig (triste).
5 Abraham (1912), a quem devemos o mais importante dos poucos estudos analíticos sobre este tema, também tomou esta comparação como ponto de partida. [O próprio Freud o fizera em 1910 e até mesmo antes. V. Nota introdutória.]
6 N. T. Selbstgefühl (autoestima) literalmente significa sentimento de si, convicção do próprio valor e poder. Com Selbstgefühl começa neste texto toda uma série de termos com prefixo selbst, em geral traduzidos pelo prefixo "auto", em português. Assim, por exemplo: Selbstvorwurf (autorrecriminação), Selbstherabsetzung (autodepreciação), Selbsteinschatzung (autoavaliação), Selbstanklage (autoacusação), Selbstqualerei (autotormento), Selbstbestrafung (autopunição) e, finalmente, Selbstmord (suicídio, literalmente autoassassinato). Esta profusão de termos contendo selbst certamente encontra seu sentido mais profundo na articulação teórica do próprio texto e reflete a importância deste movimento de retorno à própria pessoa, descrito em "Pulsões e seus destinos" ("Triebe und Triebschicksale", 1915c) como o segundo destino pulsional. Mais precisamente, o tempo selbst é aí descrito como o tempo da transformação da voz ativa, "não numa voz passiva, mas numa voz reflexiva média". Neste sentido, o prefixo selbst corresponderia em português à partícula apassivadora "se": torturar-se, punir-se etc.
7 [Cf. "A repressão" (1915d).]
8 N. T. "Complemento metapsicológico à doutrina dos sonhos" (1917d).
9 [Esta ideia parece já ter sido expressa em "Estudos sobre a histeria" (1895d); Freud descreve um processo semelhante em sua "Discussão" da história clínica de Elisabeth von R.]
10 N. T. Kompromissleistung (operação de compromisso) remete a Kompromissbildung (formação de compromisso).
11 [Ver mais adiante um exame da economia deste processo.]
12 "Use every man after his desert, and who should scape whipping?" (Hamlet, II, 2). [Dê a cada homem o que merece, e quem se salvará de apanhar?]
13 N. T. Gewissen (consciência moral), como Bewusstsein (consciência), tem sua origem em wissen (saber). Mas Gewissen refere-se especificamente à consciência do bem e do mal na própria conduta, ou seja, à chamada consciência moral.
14 N. T. Bewusstseinzensur.
15 [Cf. "Complemento metapsicológico à doutrina dos sonhos" (1917d).]
16 N. T. Ihre Klage sind Anklagen... (literalmente, suas queixas são acusações). Há aqui um jogo de palavras que procuramos conservar: Klage significa queixa, no sentido genérico, e Anklage significa queixa no sentido jurídico-policial (dar queixa, por exemplo), ou seja, no sentido de acusação pública.
17 [Esta palavra não aparece só na primeira edição (1917)].
18 Intern. Zeitsch. fur arztl. Psychoanalyse, II, 1914.
19 N. T. Na maioria das vezes em que Freud refere-se a este estado originário do narcisismo, utiliza a expressão primarer Narzissmus (em "Totem e tabu", por exemplo). Aqui usa o adjetivo ursprünglich, mas isto não implica necessariamente uma diferença conceitual, pois ursprünglich e primar são sinônimos, havendo apenas no primeiro uma referência mais nítida à questão daorigem.
20 N. T. Auszeichnet, do verbo auszeichnen (distinguir). O sentido de distinguir aqui é o de diferenciar entre muitos, destacar, mostrar preferência por.
21 [Cf. "Pulsões e seus destinos" (1915c). Cf. também a "Nota introdutória" a este trabalho.]
22 [Abraham chamou a atenção de Freud pela primeira vez a este respeito numa carta que dirigiu a ele a 31 de março de 1915.]
23 [O tema da identificação foi abordado mais tarde por Freud em "Psicologia das massas" (1921c). Sobre a identificação histérica há uma primeira descrição na "Interpretação dos sonhos" (1900a).]
24 [Grande parte do que se segue é examinada mais pormenorizadamente no Cap. V de "O ego eo id" (1923b).]
25 Sobre distinção entre as duas, ver meu ensaio "Pulsões e seus destinos" (1915c).
26 N. T. Vertritt, do verbo vertreten (representar), no sentido de estar no lugar de, substituir, agir em lugar de outro. Não tem a ver com vorstellen, que também significa representar, no sentido de tornar presente uma imagem, uma ideia etc.
27 Cf. ibidem ("Pulsões e seus destinos", 1915c).
28 N. T. Aufgehoben, do verbo aufheben (suprimir, eliminar, cancelar). O leitor da versão inglesa de Freud não deve confundir este suprimir com o to suppress com que J. Strachey traduz o verbo unterdrücken (reprimir), de Freud. Tampouco deve fazer uma aproximação com o termo Aufhebung (superação) da filosofia de Hegel, pois o uso aqui é o mais comum do termo.
29 [Outras considerações sobre o suicídio serão encontradas no Cap. V de "O ego e o id"' (1923b) e nas últimas páginas de "O problema econômico do masoquismo" (1924c).]
30 [Esta analogia com a ferida aberta já aparece (ilustrada por dois diagramas) na abertura da Seção VI da primeira nota de Freud sobre a melancolia (Freud 1950a, Manuscrito 6) escrita provavelmente em janeiro de 1895. Cf. Nota introdutória do presente artigo.]
31 [A "impressão psicanalítica" e a "experiência econômica geral".]
32 O ponto de vista econômico recebeu até agora pouca consideração nos trabalhos psicanalíticos. Como exceção mencione-se o artigo de V. Tausk sobre a desvalorização, por recompensa, dos motivos da repressão (lntern. Zeitsch. für arztl. Psychoanalyse, 1, 1915).
33 N. T. Repräsentiert sich, do verbo sich repräsentieren. Nem vertreten nem vorstellen, os termos freudianos mais comumente traduzidos por representar. Sich repräsentieren tem aqui um sentido mais próximo de apresentar-se, tornar-se presente perante algo ou alguém.
34 [Cf. "A repressão" (1915d).]
35 [Nota acrescentada em 1925]. Cf. uma continuação do problema da mania em "Psicologia das massas e análise do ego" (1921c).

 

 


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